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Metáfora 
da condição humana 
Universidade Federal 
Rural do Rio de Janeiro 
Adaptação 
do livro de 
Leonardo Boff 
Produção: 
PPGEA/NUCAV/UFRRJ 
para fins educativos 
Imagens da internet 
Música: Missa Luba 
Nilson Brito de Carvalho 
Leandro Pimentel Borges
Essa história será lida e 
compreendida como uma 
metáfora da condição humana. 
Cada um lerá e relerá conforme 
forem seus olhos. 
Compreenderá e interpretará 
conforme for o chão que seus 
pés pisam
Uma história que vem da 
África
Era uma vez um político, também 
educador popular, chamado James 
Aggrey. 
Ele era natural de Gana, pequeno país 
da África Ocidental.
Gana está situado no Golfo da Guiné, entre a Costa 
do Marfim e o Togo. Sua longa história vem do 
século IV.
No século XVI 
foi feita colônia 
pelos 
portugueses. E 
por causa do 
ouro abundante 
chamaram-na 
de Costa do 
Ouro.
Em 1874, a Inglaterra 
ocupou a costa e, 
em seguida, em 1895, 
invadiu todo o território.
Gana perdeu assim a liberdade, 
tornando-se apenas mais uma colônia inglesa.
James Aggrey, para libertar o país - pensava 
ele à semelhança de Paulo Freire - precisamos, 
antes de tudo, libertar a consciência do povo.
Ela vem sendo escravizada por idéias e valores 
antipopulares, introjetados pelos 
colonizadores.
Com efeito, os colonizadores, para ocultar a 
violência de sua conquista, impiedosamente 
desmoralizavam os colonizados.
Afirmavam, por exemplo, 
que os habitantes da Costa do 
Ouro e de toda a África eram 
seres inferiores, incultos e bárbaros.
Por isso mesmo deviam ser colonizados. De outra forma, 
jamais seriam civilizados e inseridos na dimensão 
do espírito universal.
Os ingleses reproduziam tais 
difamações em livros. Difundiam-nas 
nas escolas. Pregavam-nas em todos os atos oficiais.
O martelamento era tanto 
que muitos colonizados 
acabaram hospedando 
dentro de si os 
colonizadores com seus 
preconceitos.
Acreditaram que de 
fato nada valiam.
Que eram realmente bárbaros, suas 
línguas, rudes e suas tradições 
ridículas, suas divindades, falsas, sua 
história, sem heróis autênticos, todos 
efetivamente ignorantes e bárbaros.
Outros se 
conformavam com a 
colonização à qual 
toda a África estava 
submetida.
E havia também aqueles que se deixavam seduzir pela 
retórica dos ingleses. Eram favoráveis à presença inglesa 
como forma de modernização e de inserção no grande 
mundo tido como civilizado e moderno.
Em meados de 1925, James Aggrey havia 
participado de uma reunião de lideranças 
populares
na qual se discutiam os caminhos da 
libertação do domínio colonial inglês. 
As opiniões se dividiam.
Alguns queriam o 
caminho armado. 
Outros, o caminho 
da organização 
política do povo, 
caminho que 
efetivamente 
triunfou sob a 
liderança de 
Kwame N’Krumah.
James Aggrey, como fino educador, acompanhava 
atentamente cada intervenção.
Num dado 
momento, porém, 
viu que líderes 
importantes 
apoiavam 
a causa inglesa.
Faziam letra morta de toda a história passada 
e renunciavam aos sonhos de libertação. 
Ergueu então a mão e pediu a palavra.
Com grande calma, própria de um sábio, e com certa 
solenidade, contou a seguinte história:
Era uma vez um camponês que foi a floresta vizinha 
apanhar um pássaro para mantê-lo em sua casa e 
conseguiu pegar um filhote de águia.
Colocou-o no galinheiro 
junto com as galinhas. 
Comia milho e ração 
própria para galinhas. 
Embora a águia 
fosse a rainha 
de todos os pássaros.
Depois de cinco anos, este homem recebeu 
em sua casa a visita de um naturalista. 
Enquanto passeavam pelo jardim, disse o 
naturalista:
Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia. 
De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. 
Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as 
outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. 
Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia 
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Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais 
voará como águia.
Então decidiram fazer uma 
prova. O naturalista tomou 
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e desafiando-a disse:
Já que você de fato é uma águia, já que 
você pertence ao céu e não a terra, então 
abra suas asas e voe!
A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. 
Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, 
ciscando grãos. E pulou para junto delas.
O camponês comentou: 
Eu lhe disse, ela virou uma 
simples galinha! 
Não – tornou a insistir o 
naturalista. Ela é uma 
águia. 
E uma águia será 
sempre uma águia. 
Vamos experimentar 
novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista 
subiu com a águia no teto da 
casa. Sussurrou-lhe: - Águia, 
já que você é uma águia, abra 
as suas asas e voe! 
Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, 
ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.
O camponês sorriu e 
voltou à carga: 
Eu lhe havia dito, ela 
virou galinha!
Não – respondeu firmemente o naturalista. 
Ela é águia, possuirá sempre 
um coração de águia. 
Vamos experimentar ainda 
uma ultima vez. 
Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. 
Pegaram a águia, levaram para fora da cidade, longe das casas dos 
homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das 
montanhas. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
Águia, já que você é uma águia, 
já que você pertence ao céu e não à terra, 
abra suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. 
Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou.
Então o naturalista segurou-a 
firmemente,bem na direção do sol, 
para que seus olhos 
pudessem encher-se 
da claridade solar e da 
vastidão do horizonte.
Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, 
grasnou com o típico kau-kau das águias e 
ergue-se, soberana, sobre si mesma.
E começou a voar,
a voar para o alto,
a voar cada vez mais para o alto.
Voou... voou... 
até confundir-se 
com o azul do 
firmamento...
E Aggrey terminou conclamando: 
- Irmãos e irmãs, meus compatriotas! Nós fomos 
criados à imagem e semelhança de Deus! 
Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como 
galinhas. E muitos de nós ainda acham que somos 
efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. 
Por isso, companheiros e companheiras, abramos as 
asas e voemos . Voemos como as águias. 
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LLeeoonnaarrddoo BBooffff

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A águia e a galinha

  • 1. Metáfora da condição humana Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Adaptação do livro de Leonardo Boff Produção: PPGEA/NUCAV/UFRRJ para fins educativos Imagens da internet Música: Missa Luba Nilson Brito de Carvalho Leandro Pimentel Borges
  • 2. Essa história será lida e compreendida como uma metáfora da condição humana. Cada um lerá e relerá conforme forem seus olhos. Compreenderá e interpretará conforme for o chão que seus pés pisam
  • 3. Uma história que vem da África
  • 4. Era uma vez um político, também educador popular, chamado James Aggrey. Ele era natural de Gana, pequeno país da África Ocidental.
  • 5. Gana está situado no Golfo da Guiné, entre a Costa do Marfim e o Togo. Sua longa história vem do século IV.
  • 6. No século XVI foi feita colônia pelos portugueses. E por causa do ouro abundante chamaram-na de Costa do Ouro.
  • 7. Em 1874, a Inglaterra ocupou a costa e, em seguida, em 1895, invadiu todo o território.
  • 8. Gana perdeu assim a liberdade, tornando-se apenas mais uma colônia inglesa.
  • 9. James Aggrey, para libertar o país - pensava ele à semelhança de Paulo Freire - precisamos, antes de tudo, libertar a consciência do povo.
  • 10. Ela vem sendo escravizada por idéias e valores antipopulares, introjetados pelos colonizadores.
  • 11. Com efeito, os colonizadores, para ocultar a violência de sua conquista, impiedosamente desmoralizavam os colonizados.
  • 12. Afirmavam, por exemplo, que os habitantes da Costa do Ouro e de toda a África eram seres inferiores, incultos e bárbaros.
  • 13. Por isso mesmo deviam ser colonizados. De outra forma, jamais seriam civilizados e inseridos na dimensão do espírito universal.
  • 14. Os ingleses reproduziam tais difamações em livros. Difundiam-nas nas escolas. Pregavam-nas em todos os atos oficiais.
  • 15. O martelamento era tanto que muitos colonizados acabaram hospedando dentro de si os colonizadores com seus preconceitos.
  • 16. Acreditaram que de fato nada valiam.
  • 17. Que eram realmente bárbaros, suas línguas, rudes e suas tradições ridículas, suas divindades, falsas, sua história, sem heróis autênticos, todos efetivamente ignorantes e bárbaros.
  • 18. Outros se conformavam com a colonização à qual toda a África estava submetida.
  • 19. E havia também aqueles que se deixavam seduzir pela retórica dos ingleses. Eram favoráveis à presença inglesa como forma de modernização e de inserção no grande mundo tido como civilizado e moderno.
  • 20. Em meados de 1925, James Aggrey havia participado de uma reunião de lideranças populares
  • 21. na qual se discutiam os caminhos da libertação do domínio colonial inglês. As opiniões se dividiam.
  • 22. Alguns queriam o caminho armado. Outros, o caminho da organização política do povo, caminho que efetivamente triunfou sob a liderança de Kwame N’Krumah.
  • 23. James Aggrey, como fino educador, acompanhava atentamente cada intervenção.
  • 24. Num dado momento, porém, viu que líderes importantes apoiavam a causa inglesa.
  • 25. Faziam letra morta de toda a história passada e renunciavam aos sonhos de libertação. Ergueu então a mão e pediu a palavra.
  • 26. Com grande calma, própria de um sábio, e com certa solenidade, contou a seguinte história:
  • 27. Era uma vez um camponês que foi a floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo em sua casa e conseguiu pegar um filhote de águia.
  • 28. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse a rainha de todos os pássaros.
  • 29. Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
  • 30. Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia. De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
  • 31. Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas. Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
  • 32. Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
  • 33. Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não a terra, então abra suas asas e voe!
  • 34. A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.
  • 35. O camponês comentou: Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha! Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
  • 36. No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe: - Águia, já que você é uma águia, abra as suas asas e voe! Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.
  • 37. O camponês sorriu e voltou à carga: Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
  • 38. Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma ultima vez. Amanhã a farei voar.
  • 39. No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
  • 40. Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!
  • 41. A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou.
  • 42. Então o naturalista segurou-a firmemente,bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.
  • 43. Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergue-se, soberana, sobre si mesma.
  • 44. E começou a voar,
  • 45. a voar para o alto,
  • 46. a voar cada vez mais para o alto.
  • 47. Voou... voou... até confundir-se com o azul do firmamento...
  • 48. E Aggrey terminou conclamando: - Irmãos e irmãs, meus compatriotas! Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muitos de nós ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Por isso, companheiros e companheiras, abramos as asas e voemos . Voemos como as águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar.