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A evolução demografia moderna

Pelo espaço de um século, falta qualquer referência à população total do País. Um
cômputo datado de 1732 permite avaliá-la em 2 140 000 (24 hab./Km2). Se estes
números são exactos, ela duplicara em cerca de cem anos. Será lícito ver na difusão do
milho grosso, que pôs termo às crises de escassez de cereais na área mais povoada do
País, uma das causas essenciais desde incremento? Daí por diante, efectuaram-se
recenseamentos para vários fins, que todavia têm de ser utilizados com muita reserva.
Eliminados os números mais discrepantes, eles indicam, a partir do século XVIII, um
crescimento constante e bastante regular, vigorosamente acelerado nos meados do
século XIX. A partir de 1864 dispõe-se de recenseamentos elaborados segundo
preceitos estatísticos, decenais desde 1890, data que inicia também um apuramento
mais exacto. É possível, com base nos dados que eles ministram. Estudar em pormenor
a variação regional da população portuguesa, no período de cinquenta anos em que as
técnicas modernas e as novas tendências demográficas invadem as cidades e sacodem
a rotina da vida dos campos.

POPULAÇÃO NOS SÉCILOS XIX e XX

ANO                            POPULAÇÃO                      DENSIDADE (hab/km)
1841                           3397000                        38
1864                           3830000                        43
1890                           4660000                        52
1911                           5548000                        62
1920                           5622000                        63
1940                           7185000                        81
1950                           7857000                        88


A população duplicou em menos de cem anos, visto que aumentou 114 por cento entre 1841 e
1940;o crescimento foi menor na primeira metade desde período (37 por cento). A curva de
desenvolvimento é muito regular até 1911. No período que decorre até 1920 vários factores
perturbaram a sua marcha: a instabilidade política, a emigração em parte consequência dela,
que teve neste período contingentes elevadíssimos (305 000 emigrantes de 1911 a 1920, 77
000 em 1912, ano máximo), a doença e a grande mortandade causadas pela última pestilência
que assolou o mundo ocidental. A mortalidade subiu, em 1918, de 22 a 41 por mil e manteve-
se ainda bastante acima da média nos dois anos seguintes: imputando principalmente à
epidemia pneumónica esta diferença, pode calcular-se em perto de 120 000 o número das
suas vítimas. Por outro lado, a Primeira Guerra Mundial, embora fizesse diminuir os
contingentes emigratórios, afectou a parte mais robusta da população, destruindo vidas e
imobilizando muito tempo homens em idade de se reproduzirem. Mas estes anos foram
excepcionais. Saneadas as feridas da guerra e da peste, restabelecida a ordem e a
tranquilidade social, restringida a emigração pelas barreiras que mais ou menos por toda a
parte se levantam ao livre deslocamento dos homens no Mundo, a população não tardou a
retomar, com renovado vigor, um ritmo de crescimento ainda mais vivo: os aumentos decenais
são de 13 por cento de 1920 a 1940, contra 10 por cento no principio deste século. Os últimos
dez anos, porém, com um acréscimo de 9 por cento, mostram talvez o início de um
afrouxamento cujas consequências todavia ainda se não fazem sentir e muito menos se podem
prever. Sem embargo da grave crise apontada, a população aumentou 54 por cento de 1890 a
1940, isto é, numa percentagem mais elevada do que a do meio século anterior.

Este incremento deve-se apenas à fertilidade da população. De facto, a imigração é
insignificante, ao estrangeiros são somente 5 por mil, os naturais do Ultramar menos de
metade. Mais numerosos outrora, nunca estes contingentes influíram de maneira apreciável
no crescimento demográfico, que tem assim como causa a elevada natalidade. Portugal, como
outros países mediterrâneos, não acompanhou a evolução das demais nações do Ocidente,
onde a subida do nível de vida se traduziu por uma limitação voluntária dos nascimentos. Essa
tendência, que tardiamente vai penetrando nas cidades, mal se repercutiu ainda na massa da
população rural. A natalidade, elevada no fim do século XIX, manteve-se assim até acerca de
1930, baixando depois gradualmente. A mortalidade teve uma evolução no mesmo sentido,
mas mais acentuada: donde resulta que, se os nascimentos diminuíram, a melhoria das
condições de salubridade e higiene, a divulgação da profilaxia de certas doenças, a redução da
mortalidade infantil para cerca de metade, permitem aproveitar ainda maior número de vidas.



Movimento Fisiológico por 10 000 Habitantes ( em média anual)

                      1891-1900    1901-10    1911-20 1921-30 1931-40 1941-50

Nascimentos           303          310       323        318       274       245



Mortes                211          196       237        193       163       144



Excedente de vida     92           114       86         125       111       101




Comparando as médias do primeiro e do último decénio, vê-se que, enquanto a natalidade
baixou de 15 por cento, a mortalidade baixou de 27 por cento, aumentando o excedente de
vida. Antes da guerra, Portugal e a Holanda tinham, na Europa, a mesma posição quanto ao
excesso de nascimentos sobre mortes, aquele porque conservava a sua elevada natalidade,
esta porque reduziu a mortalidade. As condições actuais, muito longe ainda dos países de alto
nível de vida, parecem permitir uma melhor economia da população, que se traduz na figura
regular da sua pirâmide de idades.

Pobre em matérias-primas e escasso de energia, com uma economia austera baseada
essencialmente nos produtos da terra, Portugal reproduz, com um atraso de meio século, o
incremento demográfico das nações industriais da Europa Média e enfileira entre os principais
países produtores e exportadores de gente do Mediterrâneo. Em consequência da população
que aumenta, ao mesmo tempo que se continua a manifestar uma forte tendência para a
emigração, assiste-se ao crescimento de algumas velhas aglomerações, à gestação de outras e
vê-se ainda, como num mundo novo, avançar contra os areais, as charnecas e as montanhas,
as últimas frentes de colonização.

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A evolução demografia moderna

  • 1. A evolução demografia moderna Pelo espaço de um século, falta qualquer referência à população total do País. Um cômputo datado de 1732 permite avaliá-la em 2 140 000 (24 hab./Km2). Se estes números são exactos, ela duplicara em cerca de cem anos. Será lícito ver na difusão do milho grosso, que pôs termo às crises de escassez de cereais na área mais povoada do País, uma das causas essenciais desde incremento? Daí por diante, efectuaram-se recenseamentos para vários fins, que todavia têm de ser utilizados com muita reserva. Eliminados os números mais discrepantes, eles indicam, a partir do século XVIII, um crescimento constante e bastante regular, vigorosamente acelerado nos meados do século XIX. A partir de 1864 dispõe-se de recenseamentos elaborados segundo preceitos estatísticos, decenais desde 1890, data que inicia também um apuramento mais exacto. É possível, com base nos dados que eles ministram. Estudar em pormenor a variação regional da população portuguesa, no período de cinquenta anos em que as técnicas modernas e as novas tendências demográficas invadem as cidades e sacodem a rotina da vida dos campos. POPULAÇÃO NOS SÉCILOS XIX e XX ANO POPULAÇÃO DENSIDADE (hab/km) 1841 3397000 38 1864 3830000 43 1890 4660000 52 1911 5548000 62 1920 5622000 63 1940 7185000 81 1950 7857000 88 A população duplicou em menos de cem anos, visto que aumentou 114 por cento entre 1841 e 1940;o crescimento foi menor na primeira metade desde período (37 por cento). A curva de desenvolvimento é muito regular até 1911. No período que decorre até 1920 vários factores perturbaram a sua marcha: a instabilidade política, a emigração em parte consequência dela, que teve neste período contingentes elevadíssimos (305 000 emigrantes de 1911 a 1920, 77 000 em 1912, ano máximo), a doença e a grande mortandade causadas pela última pestilência que assolou o mundo ocidental. A mortalidade subiu, em 1918, de 22 a 41 por mil e manteve- se ainda bastante acima da média nos dois anos seguintes: imputando principalmente à epidemia pneumónica esta diferença, pode calcular-se em perto de 120 000 o número das suas vítimas. Por outro lado, a Primeira Guerra Mundial, embora fizesse diminuir os contingentes emigratórios, afectou a parte mais robusta da população, destruindo vidas e imobilizando muito tempo homens em idade de se reproduzirem. Mas estes anos foram excepcionais. Saneadas as feridas da guerra e da peste, restabelecida a ordem e a tranquilidade social, restringida a emigração pelas barreiras que mais ou menos por toda a parte se levantam ao livre deslocamento dos homens no Mundo, a população não tardou a retomar, com renovado vigor, um ritmo de crescimento ainda mais vivo: os aumentos decenais são de 13 por cento de 1920 a 1940, contra 10 por cento no principio deste século. Os últimos
  • 2. dez anos, porém, com um acréscimo de 9 por cento, mostram talvez o início de um afrouxamento cujas consequências todavia ainda se não fazem sentir e muito menos se podem prever. Sem embargo da grave crise apontada, a população aumentou 54 por cento de 1890 a 1940, isto é, numa percentagem mais elevada do que a do meio século anterior. Este incremento deve-se apenas à fertilidade da população. De facto, a imigração é insignificante, ao estrangeiros são somente 5 por mil, os naturais do Ultramar menos de metade. Mais numerosos outrora, nunca estes contingentes influíram de maneira apreciável no crescimento demográfico, que tem assim como causa a elevada natalidade. Portugal, como outros países mediterrâneos, não acompanhou a evolução das demais nações do Ocidente, onde a subida do nível de vida se traduziu por uma limitação voluntária dos nascimentos. Essa tendência, que tardiamente vai penetrando nas cidades, mal se repercutiu ainda na massa da população rural. A natalidade, elevada no fim do século XIX, manteve-se assim até acerca de 1930, baixando depois gradualmente. A mortalidade teve uma evolução no mesmo sentido, mas mais acentuada: donde resulta que, se os nascimentos diminuíram, a melhoria das condições de salubridade e higiene, a divulgação da profilaxia de certas doenças, a redução da mortalidade infantil para cerca de metade, permitem aproveitar ainda maior número de vidas. Movimento Fisiológico por 10 000 Habitantes ( em média anual) 1891-1900 1901-10 1911-20 1921-30 1931-40 1941-50 Nascimentos 303 310 323 318 274 245 Mortes 211 196 237 193 163 144 Excedente de vida 92 114 86 125 111 101 Comparando as médias do primeiro e do último decénio, vê-se que, enquanto a natalidade baixou de 15 por cento, a mortalidade baixou de 27 por cento, aumentando o excedente de vida. Antes da guerra, Portugal e a Holanda tinham, na Europa, a mesma posição quanto ao excesso de nascimentos sobre mortes, aquele porque conservava a sua elevada natalidade, esta porque reduziu a mortalidade. As condições actuais, muito longe ainda dos países de alto nível de vida, parecem permitir uma melhor economia da população, que se traduz na figura regular da sua pirâmide de idades. Pobre em matérias-primas e escasso de energia, com uma economia austera baseada essencialmente nos produtos da terra, Portugal reproduz, com um atraso de meio século, o incremento demográfico das nações industriais da Europa Média e enfileira entre os principais países produtores e exportadores de gente do Mediterrâneo. Em consequência da população
  • 3. que aumenta, ao mesmo tempo que se continua a manifestar uma forte tendência para a emigração, assiste-se ao crescimento de algumas velhas aglomerações, à gestação de outras e vê-se ainda, como num mundo novo, avançar contra os areais, as charnecas e as montanhas, as últimas frentes de colonização.