2. • A Psicopatologia do Desenvolvimento é uma
disciplina relativamente recente, teve início
em 1974, surgiu o primeiro Manual da autoria
de T. Achenbach, mais recentemente, Cichetti
e Cohen (1995a, b) editam dois volumes, um
deles centrado na teoria e nos métodos e um
segun-do dedicado ao estudo do risco,
perturbações e adaptação.
3. • Esta área foca a sua atenção nas origens e
curso (fases e sequelas) dos padrões
inadaptados de comportamento, alguns dos
quais se enquadram em perturbações
psiquiátricas tradicionais. Basicamente é feita
a comparação entre as trajetórias adaptadas e
inadaptadas. A este nível é importante
sublinhar o reconhecimento da dinâmica
entre o desenvolvimento normal e anormal,
adaptado e inadaptado dos processos
ontogênicos.
4. • O conhecimento do desenvolvimento
normativo é, obviamente, crítico para a
compreensão do desenvolvimento atípico,
mas, também, examinar o desenvolvimento
desviante é necessário para o avanço do
conhecimento do funcionamento adaptativo.
Nomeadamente, no que concerne ao
conhecimento dos processos adaptativos
biológicos, psicológicos e sociais, este é, de
fato, muito importante para a compreensão,
prevenção e tratamento da psicopatologia.
5. • Zigler e Glick (1986, p. xi) afirmam: “os indivíduos
movem-se entre formas patológicas e não patológicas
de funcionamento e, mesmo no seio da patologia, os
pacientes apresentam mecanismos adaptativos”. Já
Sroufe considera que a psicopatologia deve ser
concebida numa perspectiva organizacional e que deve
ser percepcionada como um desvio do
desenvolvimento normal o que obriga a que se
identifiquem e se interpretem os significados dos
padrões de funcionamento, tendo em atenção o
contexto em que se inserem.
• Como exemplo, pode-se citar um caso descrito por
Cichetti e Cohen em que “pode ser adaptativa a
inibição afetiva numa criança cujos pais a maltratam,
mas tal pode resultar em vitimização pelos pares”
(1995c), p. 8).
6. • Nos casos em que a patologia representa uma
distorção, perturbação ou exagero da condição do
funcionamento normal, o estudo do fenômeno
patológico pode, levar à compreensão dos processos
normais. Isto é, por vezes a patologia é melhor
compreendida quando analisada à luz da normalidade
(adaptado), outras, pelo contrário, é normalidade que
e melhor explicada quando em comparação com a
patologia.
• 1 Texto de Apoio expressamente elaborado para os
alunos da Universidade do Algarve (UAlg), Escola
Superior de Saúde de Faro (ESSaF), do Curso de
Terapêutica da Fala, 1º Ciclo, 2º Ano, 2º Semestre, ano
lectivo de 2004- 2005 (Maio, 2005).
7. Psicopatologia
• Psicopatologia é uma disciplina inter-científica
fundamental no estudo dos estados
psíquicos patológicos É considerada, a nível teórico
e clínico o coração da psiquiatria. É um campo de
saber, um conjunto de discursos com variados
objetos, métodos, questões. Por um lado
encontram-se em suas bases as disciplinas
biológicas, as neurociências, por outro, se faz ainda
com inúmeros saberes oriundos da psicologia,
antropologia, sociologia, filosofia, linguistica e
história.
8. • É campo de atuação principalmente de
psiquiatras e de psicólogos clínicos. De acordo
com o pesquisador Ceccarelli, "a palavra "Psico-
pato-logia" é composta de três palavras gregas:
"psychê", que produziu "psique", "psiquismo",
"psíquico", "alma"; "pathos", que resultou em
"paixão", "excesso", "passagem", "passividade",
"sofrimento", "assujeitamento", "patológico" e
"logos", que resultou em "lógica", "discurso",
"narrativa", "conhecimento". Psico-pato-logia
seria, então, um discurso, um saber, (logos) sobre
a paixão, (pathos) da mente, da alma (psiquê). Ou
seja, um discurso representativo a respeito do
pathos psíquico; um discurso sobre o sofrimento
psíquico; sobre o padecer psíquico."
9. • A psicopatologia enquanto estudo das
anormalidades da vida mental é às vezes
referida como psicopatologia geral, psicologia
anormal, psicologia da anormalidade e
psicologia do patológico. É uma visão das
patologias mentais fundamentada na
fenomenologia (no sentido de psicologia das
manifestações da consciência), em oposição a
uma abordagem estritamente médica de tais
patologias, buscando não reduzir o sujeito a
conceitos patológicos, enquadrando-o em
padrões baseados em pressupostos e
preconceitos.
10. • Karl Jaspers, o responsável por tornar a
psicopatologia uma ciência autônoma e
independente da psiquatria, afirmava que o
objetivo desta é "sentir, apreender e refletir
sobre o que realmente acontece na alma do
homem". No entanto, a psicopatologia é a
própria razão de existir da psiquiatria, sua
disciplina fundamental, básica, nuclear.
11. • Para Jaspers, a psicopatologia tem por objetivo
estudar descritivamente os fenômenos psíquicos
anormais, exatamente como se apresentam à
experiência imediata, buscando aquilo que
constitui a experiência vivida pelo enfermo.
• A psicopatologia se estabelece através da
observação e sistematização de fenômenos do
psiquismo humano e presta a sua indispensável
colaboração aos profissionais que trabalham com
saúde mental, em especial os psiquiatra, os
psicólogos, os médicos de família e os
neurologistas clínicos.
12. • Autores como Karl Jaspers (1883 - 1969)
("Psicopatologia geral", 1913) e Eugéne Minkowiski,
(1885 - 1972) ("Tratado de psicopatologia",1966) devem
nos inspirar ainda a que estabeleçamos uma ponte
possível entre a psicopatologia descritiva e a
fenomenológica. Diferentemente de outras
especialidades médicas, em que os sinais e sintomas
são ícones ou índices, a psiquiatria trabalha também
com símbolos. Posto isso, o pensamento, a
sensibilidade e a intuição ainda são, e sempre serão, o
instrumento propedêutico principal do psiquiatra, pois
que, sem a homogeneidade conceitual do que seja cada
fato psíquico não há, e não haverá, homogeneidade na
abordagem clínico-terapêutica do mesmo.
13. • Essa é a nossa tarefa: mergulhar nos
fenômenos que transitam entre duas
consciências, a nossa, a do psiquiatra/pessoa
e a do outro, a do paciente/pessoa. Deixar que
os fenômenos se fragmentem, que suas partes
confluam ou se esparjam, num movimento
próprio e intrínseco a eles. Cabe-nos a leitura
da configuração final desse jogo estrutural,
sem maiores pressupostos ou
intencionalidade, e com procedimentos
posteriores de verificação. Essa é a tarefa da
Fenomenologia.
14. Grupos ou categorias
• As manifestações psicopatológicas podem ser classificadas de diversas
maneiras, por etiologia a exemplo das orgânicas e psicológicas por tipo
de alteração a exemplo da neurose e psicose que considera a relação
com a consciência, perda de contato com a realidade na concepção
psicanalítica desta, etc.
• A categoria de classificação possui fins estatísticos ou seja de tabulação
de prontuários em serviços de saúde, atestados, declarações de óbito.
Entre as mais conhecidas estão a CID: Classificação Internacional das
Doenças e de Problemas relacionados à Saúde que está na 10ª revisão e
se inciou em 1893 e o DSM referente ao Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais, uma publicação da American
Psychiatric Association, Washington D.C., sendo a sua 4ª edição
conhecida pela designação “DSM IV”. A CID-10 é a classificação usada
no Brasil nos serviços de saúde para referenciar todos os quadros de
enfermidades e doenças, inclusive os transtornos mentais.
15. • O capítulo V da CID corresponde aos Transtornos Mentais e
Comportamentais e inclui as seguintes categorias de
classificação - que por sua vez são subdividios em sub-
categorias:
• F00-F09 - Transtornos mentais orgânicos, inclusive os
sintomáticos. ver F00-F03 Demência
• F10-F19 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao
uso de substâncias psicoativas.
• F20-F29 - Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e delirantes.
• F30-F48 – Transtorno do humor (afetivos).
• F40-F48 - Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com
o estresse e transtornos somatoformes. ver: F40-F41 Ansiedade
• F50-F59 - Síndromes comportamentais associadas com
distúrbios fisiológicos e a fatores físicos. ver: F50.0 Anorexia,
F50.2 Bulimia
16. • F60-F69 – Transtornos de personalidade e do
comportamento do adulto. ver: F60.2 Personalidade
dissocial
• F70-F79 – Retardo Mental. ver também: Oligofrenias
• F80-F89 - Transtornos do desenvolvimento psicológico ver:
F84.2 Síndrome de Rett
• F90-F98 - Transtornos do comportamento e transtornos
emocionais que aparecem habitualmente na infância e
adolescência. ver: F90 Transtorno do Déficite de Atenção
com Hiperatividade
• Observe-se que várias categorias de classificação podem
ser desenvolvidas a partir dos critérios fornecidos por
distintas teorias como por exemplo a fenomenologia que
propõem a descrição a partir das manifestações
observáveis ou a psicanálise que lida com modelos de
relação do ego com os mecanismos inconscientes do desejo
e a realidade.