SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 3
DIAS, Cícero (1908). Nascido em Jundiá (PE). Em 1925 achava-se no Rio de Janeiro,
matriculado no curso de Arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes, que cedo trocou pelo
de Pintura. Inconformado porém com o tipo de ensinamento acadêmico ali ministrado,
abandonou em 1928 a Escola. Nesse mesmo ano, realizou sua primeira individual, não sem
superar diversas dificuldades:

- Fui procurar o Graça, e o Graça me disse que eu fosse, com uma carta dele, procurar o
Moura Brasil, que havia um salão da Policlínica defronte da Galeria Cruzeiro. Não encontrava o
Moura Brasil, aí o Graça conhecia muito bem o Juliano Moreira, psiquiatra muito importante, e
fui procurar Juliano Moreira lá no hospital, mostrei o desenho e ele me disse: "Está muito bem,
porque lá no hospício está havendo um congresso de Psiquiatria mundial"... Fiz a exposição no
salão da Politécnica, quando houve esse congresso. Foi um escândalo. Até consegui vender
quadros. O público não aceitava aquilo de maneira nenhuma, só professores alemães,
franceses, estrangeiros que naturalmente já estavam senhores de tudo aquilo.

Interrompido o curso de Belas Artes, Cícero partiu de volta ao Nordeste, expondo em 1928 em
Recife e logo depois em três cidades do interior de Pernambuco:

- Em 1928, fiz uma exposição em Recife, depois fiz três exposições no interior do Estado, para
justamente sentir a receptividade do povo para a pintura moderna, diante da expressão
moderna. O povo não estranha; quem estranha o novo é o mal instruído, o burguês, mas o
povo não. Em Recife, a repercussão foi horrível, fui perseguido pelo ambiente cultural, apesar
da apresentação de Gilberto Freire.

Nessa apresentação, o grande sociólogo dizia, entre outras coisas:

- Das novas relações e proporções é que sai avivado pelo mais brasileiro dos azuis, pelo mais
pernambucano dos encarnados, o lirismo profundo como em nenhum outro pintor que eu
conheço, de Cícero Santos Dias. Esse pintor não tem requintes de colorido nem luxos, mas
quase só azul e encarnado como os pintorezinhos pobres - de barcaças e de ex-votos e de
casas de porta e janela.

Esse lirismo de base popular e autenticamente brasileiro nutriria de então por diante as
melhores obras de Cícero, ao tempo em que praticava uma pintura ingenuamente surrealista,
quando, rústico Chagall dos Trópicos, externava com simploriedade suas reminiscências e
sensações de menino de engenho impregnado de fortes odores de frutas e do colorido dos
canaviais, com medo de assombração e despertando para a sexualidade. "Pintura é poesia,
qual técnica!" costumava dizer então aos que lhe censuravam o desleixo no acabamento das
aquarelas e dos óleos. Desleixo que aliás não passou desapercebido a um crítico como Rubem
Navarra, o qual assim caracterizou sua produção entre 1928 e 1937:

- Ele se dava a todas as liberdades no terreno da técnica. Tinha horror à virtuosidade linear e à
lógica do espaço natural - a composição era uma montagem de símbolos e imagens - poemas
e não arquiteturas. De maneira que não havia questão de exercitar nem forma nem matéria: o
que importava era figurar um determinado sentido de evocação, por meio de imagens em geral
soltas e mal construídas, onde tudo se encontrava na idéia de produzir um choque poético,
através de uma linguagem como a dos primitivos ou a das crianças.

Esse desleixado, muito mais artista do que artesão, paradoxalmente chegaria a lecionar
Técnica da Pintura em 1935, do mesmo modo como, desorganizado sempre, foi um dos
organizadores do Congresso Afro-Brasileiro de Recife, em 1929...

Em 1931, no Salão Nacional de Belas Artes que Lúcio Costa pela primeira vez franqueava a
artistas de orientação não-acadêmica, Cícero expôs um enorme quadro, Eu vi o mundo, ele
começava no Recife, que causaria sensação:
- Eu expus um quadro enorme, esse meu quadro hoje tem 15 metros por dois metros e pouco.
Mas ele era maior, ele devia ter mais ou menos vinte e tantos metros, e toda parte do quadro
que tinha cenas eróticas desapareceu. Rasgaram o quadro, tiraram tudo isso, desapareceu...

O quadro, devidamente restaurado, e após ter integrado durante anos, em comodato, o acervo
do Museu Nacional de Belas Artes, pertence hoje a um colecionador de Rio de Janeiro. Em
1937, após executar décors para um balé de Villa-Lobos na versão de Serge Lifar, Cícero Dias
embarcou para Paris, pretendendo ali permanecer alguns meses, o suficiente para se esquecer
do Estado Novo recém-implantado por Getúlio Vargas. Terminaria por se radicar
definitivamente na capital francesa, da qual só se ausentou durante os anos da II Guerra
Mundial, entre 1939-45 (quando viveu em Lisboa), e nas rápidas escapadas ao Brasil, aliás
cada vez mais freqüentes para os últimos anos.

Pode-se imaginar o impacto da pintura de Cícero, tão logo chegado a Paris, sobre os
surrealistas aos quais logo se ligou! Não admira assim tivesse sido acolhido com efusão por
artistas e intelectuais do porte de Picasso e de Éluard. No ano seguinte ao da chegada, 1938,
efetua com sucesso duas exposições em Paris. Mas é tempo de guerra, e após curta prisão
sob os nazistas, nosso artista decide prudentemente fixar-se em Lisboa. Só retornará em 1945,
deixando para trás não apenas o doce exílio lisboeta como toda uma fase pictórica marcada
pelo improviso e pelo lirismo.

De fato, o Cícero de meados da década de 1940 não é mais o das imagens da infância, mas
alguém preocupado com problemas formais e de relacionamentos cromáticos. Um
abstracionista, em suma, que reduz o mundo a um conjunto de abstrações coloridas da
realidade, despreocupado com a duplicação das formas naturais e sobretudo com o conteúdo
anedótico ou literário ainda tão marcante em obras anteriores. Integrado, portanto, ao grupo
abstracionista, freqüentador da Galeria Denise René, membro do Grupo Espace em 1946,
Cícero deixa de ser um pintor regionalista e se insere na arte internacional de seu tempo.
Numa curta visita ao Brasil, em 1948, executa, em Recife, aquele que é geralmente tido como o
primeiro mural abstrato sul-americano. E em 1952 é um dos artistas selecionados por Leon
Degand para figurar em sua obra Temoignages pour l'Art Abstrait, ao lado de Arp, Calder,
Poliakoff, Magnelli e tantos outros. No mesmo ano sua exposição em São Paulo desperta em
Oswald de Andrade o seguinte comentário inesperado:

- Cícero acaba de expor em São Paulo e entusiasmou-me. Julgo-o o maior pintor brasileiro de
todos os tempos. Sim, o maior, digo e repito. E ninguém poderá imaginar que estou falando
isso por camaradagem, uma vez que as minhas relações com Cícero são geladas.

Se a temática regionalista do primeiro Cícero Dias esvaiu-se, substituída pelas relações
matemáticas entre formas e cores, não há como deixar de perceber, mesmo aí, uma atmosfera
que é Nordeste, Pernambuco, o Brasil: afinal, não escreveu com acuidade Gilberto Freyre, há
quase 60 anos, que Cícero usava em seus quadros "o mais brasileiro dos azuis, o mais
pernambucano dos encarnados"?

Cícero realizou diversas exposições individuais, não apenas no Rio de Janeiro e em Recife, em
São Paulo e Paris, como também em Lisboa (1942, com prefácio de Paul Eluard), Londres
(1945), Bruxelas (1966) etc; também participou de importantes coletivas, como a XXV Bienal de
Veneza (1950), o Salão de Maio, de Paris (1951, 1958), Jovens Pintores Abstratos da Escola
de Paris (Bruxelas, 1951), Klar Form (Dinamarca, Suécia e Finlândia, 1952), e um sem-número
de outras. Em 1965, a VIII Bienal de São Paulo dedicou-lhe uma sala retrospectiva, tornando a
fazê-lo em 1994, no âmbito da exposição "Brasil Bienal Século XX". Desde aquele ano tem
vindo assiduamente ao Brasil, para realizar individuais em São Paulo e Rio de Janeiro,
Salvador e Recife, sempre com grande sucesso de vendas. É bem verdade que os quadros
mais recentes, e que tentam reproduzir a antiga temática das evocações infantis em Jundiá, já
agora vazada num desenho e num colorido nada espontâneos, não sustentam o cotejo quer
com as aquarelas da primeira fase, quer com os grandes esquemas abstratos que se lhe
seguiram. Na verdade, o grande Cícero Dias, aquele que se incorporou em definitivo à história
da pintura brasileira, é o dos anos que medeiam entre a primeira individual e a partida para a
França - 1927 e 1937 -, quando dele podia dizer Mário de Andrade, num artigo escrito em
1929:

- Ele tem calungas que não são nem cachorro, nem boi, nem burro. Tem aves que não são
bem pombas, nem urubus, nem galinhas. É o Animal. É a Ave.

                              Mulher e soldado, guache, 1928;
                    0,31 X 0,30, Instituto de Estudos Brasileiros da USP.

                            Estátua e o monstro, guache, 1928;
                    0,55 X 0,38, Instituto de Estudos Brasileiros da USP.

              Eu vi o mundo, começava no Recife, detalhe, óleo s/ papel, 1929;
                                      2,50 X 1,50.

                         Moça com sombrinha, óleo s/ tela, s/ data;
                          0,74 X 0,61, Palácio Bandeirantes, SP.

                 Ilustração para o livro Ciclo da Moura, água-forte, 1966-67;
                            0,34 X 0,26, Museus Castro Maya, RJ.

                                Sem título, óleo s/ tela, 1951;
                    0,80 X 0,53, Museu de Arte Contemporânea da USP.

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Belmiro barbosa de almeida
Belmiro barbosa de almeidaBelmiro barbosa de almeida
Belmiro barbosa de almeida
deniselugli2
 
Almeida júnior, josé ferraz de
Almeida júnior, josé ferraz deAlmeida júnior, josé ferraz de
Almeida júnior, josé ferraz de
deniselugli2
 
Antecedentes E A Semana De Arte Moderna De 1210290778407615 8
Antecedentes E A Semana De Arte Moderna De 1210290778407615 8Antecedentes E A Semana De Arte Moderna De 1210290778407615 8
Antecedentes E A Semana De Arte Moderna De 1210290778407615 8
martinsramon
 
Arte moderna brasileira
Arte moderna brasileiraArte moderna brasileira
Arte moderna brasileira
Arte Educadora
 
Desenhos de tarsila do amaral para colorir
Desenhos de tarsila do amaral para colorirDesenhos de tarsila do amaral para colorir
Desenhos de tarsila do amaral para colorir
SimoneHelenDrumond
 
Imagens de tarsila do amaral
Imagens de tarsila do amaralImagens de tarsila do amaral
Imagens de tarsila do amaral
Nancihorta
 
Revisional de estilos de época 10, vanguardas europeias
Revisional de estilos de época 10, vanguardas europeiasRevisional de estilos de época 10, vanguardas europeias
Revisional de estilos de época 10, vanguardas europeias
ma.no.el.ne.ves
 

Was ist angesagt? (20)

Belmiro barbosa de almeida
Belmiro barbosa de almeidaBelmiro barbosa de almeida
Belmiro barbosa de almeida
 
História da Arte: O ambiente modernista
História da Arte: O ambiente modernistaHistória da Arte: O ambiente modernista
História da Arte: O ambiente modernista
 
Almeida júnior, josé ferraz de
Almeida júnior, josé ferraz deAlmeida júnior, josé ferraz de
Almeida júnior, josé ferraz de
 
Dias, antonio
Dias, antonioDias, antonio
Dias, antonio
 
Antecedentes E A Semana De Arte Moderna De 1210290778407615 8
Antecedentes E A Semana De Arte Moderna De 1210290778407615 8Antecedentes E A Semana De Arte Moderna De 1210290778407615 8
Antecedentes E A Semana De Arte Moderna De 1210290778407615 8
 
Arte moderna brasileira
Arte moderna brasileiraArte moderna brasileira
Arte moderna brasileira
 
Desenhos de tarsila do amaral para colorir
Desenhos de tarsila do amaral para colorirDesenhos de tarsila do amaral para colorir
Desenhos de tarsila do amaral para colorir
 
Mabe, manabu
Mabe, manabuMabe, manabu
Mabe, manabu
 
As raízes do modernismo brasileiro
As raízes do modernismo brasileiroAs raízes do modernismo brasileiro
As raízes do modernismo brasileiro
 
Modernismo Brasileiro
Modernismo BrasileiroModernismo Brasileiro
Modernismo Brasileiro
 
Tarsila do amaral pintora de sua terra e de seu tempo
Tarsila do amaral  pintora de sua terra e de seu tempoTarsila do amaral  pintora de sua terra e de seu tempo
Tarsila do amaral pintora de sua terra e de seu tempo
 
As mulheres e a arte.
As mulheres  e a arte.As mulheres  e a arte.
As mulheres e a arte.
 
Bonadei, aldo
Bonadei, aldoBonadei, aldo
Bonadei, aldo
 
Imagens de tarsila do amaral
Imagens de tarsila do amaralImagens de tarsila do amaral
Imagens de tarsila do amaral
 
Tarsila do amaral
Tarsila do amaralTarsila do amaral
Tarsila do amaral
 
Mulheres artistas
Mulheres artistasMulheres artistas
Mulheres artistas
 
Projeto tarsila
Projeto tarsilaProjeto tarsila
Projeto tarsila
 
Krajcberg, frans
Krajcberg, fransKrajcberg, frans
Krajcberg, frans
 
Modernismo em Portugal
Modernismo em PortugalModernismo em Portugal
Modernismo em Portugal
 
Revisional de estilos de época 10, vanguardas europeias
Revisional de estilos de época 10, vanguardas europeiasRevisional de estilos de época 10, vanguardas europeias
Revisional de estilos de época 10, vanguardas europeias
 

Andere mochten auch (7)

Surrealismo
SurrealismoSurrealismo
Surrealismo
 
Trabalho sobre o Surrealismo (Pesquisa)
Trabalho sobre o Surrealismo (Pesquisa)Trabalho sobre o Surrealismo (Pesquisa)
Trabalho sobre o Surrealismo (Pesquisa)
 
Surrealismo
SurrealismoSurrealismo
Surrealismo
 
Arte surrealista
Arte surrealistaArte surrealista
Arte surrealista
 
Surrealismo
SurrealismoSurrealismo
Surrealismo
 
Surrealismo
SurrealismoSurrealismo
Surrealismo
 
Surrealismo
SurrealismoSurrealismo
Surrealismo
 

Ähnlich wie Dias, cícero

Seelinger, helios aristides
Seelinger, helios aristidesSeelinger, helios aristides
Seelinger, helios aristides
deniselugli2
 
Cavalleiro, henrique campos
Cavalleiro, henrique camposCavalleiro, henrique campos
Cavalleiro, henrique campos
deniselugli2
 
O modernismo brasileiro
O modernismo brasileiroO modernismo brasileiro
O modernismo brasileiro
Junior Onildo
 
Vicente do rego monteiro
Vicente do rego monteiroVicente do rego monteiro
Vicente do rego monteiro
deniselugli2
 
Sigaud, eugênio de proença
Sigaud, eugênio de proençaSigaud, eugênio de proença
Sigaud, eugênio de proença
deniselugli2
 

Ähnlich wie Dias, cícero (20)

Nery, ismael
Nery, ismaelNery, ismael
Nery, ismael
 
Século xix no brasil a modernização da arte
Século xix no brasil  a modernização da arteSéculo xix no brasil  a modernização da arte
Século xix no brasil a modernização da arte
 
4) século xx no brasil- o modernismo- emiliano di cavalcanti
4)  século xx no brasil- o modernismo- emiliano di cavalcanti4)  século xx no brasil- o modernismo- emiliano di cavalcanti
4) século xx no brasil- o modernismo- emiliano di cavalcanti
 
Arte moderna
Arte modernaArte moderna
Arte moderna
 
Centro de ensino edison lobão1
Centro de ensino edison lobão1Centro de ensino edison lobão1
Centro de ensino edison lobão1
 
A arte de Picasso
A arte de Picasso A arte de Picasso
A arte de Picasso
 
Seelinger, helios aristides
Seelinger, helios aristidesSeelinger, helios aristides
Seelinger, helios aristides
 
Centro de ensino sâmela
Centro de ensino   sâmelaCentro de ensino   sâmela
Centro de ensino sâmela
 
Cavalleiro, henrique campos
Cavalleiro, henrique camposCavalleiro, henrique campos
Cavalleiro, henrique campos
 
Galeria de Arte - Expressionismo e Surrealismo no Brasil
Galeria de Arte - Expressionismo e Surrealismo no BrasilGaleria de Arte - Expressionismo e Surrealismo no Brasil
Galeria de Arte - Expressionismo e Surrealismo no Brasil
 
Camargo, iberê
Camargo, iberêCamargo, iberê
Camargo, iberê
 
O modernismo brasileiro
O modernismo brasileiroO modernismo brasileiro
O modernismo brasileiro
 
Semana de arte moderna
Semana de arte modernaSemana de arte moderna
Semana de arte moderna
 
Thiago de carvalho caique xavier
Thiago de carvalho   caique xavierThiago de carvalho   caique xavier
Thiago de carvalho caique xavier
 
Semana de 22
Semana de 22Semana de 22
Semana de 22
 
Cubismo
CubismoCubismo
Cubismo
 
Expressionismo e surrealismo no brasil
Expressionismo e surrealismo no brasilExpressionismo e surrealismo no brasil
Expressionismo e surrealismo no brasil
 
Vicente do rego monteiro
Vicente do rego monteiroVicente do rego monteiro
Vicente do rego monteiro
 
Sigaud, eugênio de proença
Sigaud, eugênio de proençaSigaud, eugênio de proença
Sigaud, eugênio de proença
 
CUBISMO
CUBISMOCUBISMO
CUBISMO
 

Mehr von deniselugli2

Zeferino da costa, joão
Zeferino da costa, joãoZeferino da costa, joão
Zeferino da costa, joão
deniselugli2
 
Weingärtner, pedro
Weingärtner, pedroWeingärtner, pedro
Weingärtner, pedro
deniselugli2
 
Wakabayashi, kazuo
Wakabayashi, kazuoWakabayashi, kazuo
Wakabayashi, kazuo
deniselugli2
 
Vítor meireles de lima
Vítor meireles de limaVítor meireles de lima
Vítor meireles de lima
deniselugli2
 
Visconti, eliseu d'angelo
Visconti, eliseu d'angeloVisconti, eliseu d'angelo
Visconti, eliseu d'angelo
deniselugli2
 
Timóteo da costa, artur
Timóteo da costa, arturTimóteo da costa, artur
Timóteo da costa, artur
deniselugli2
 
Taunay, nicolas antoine
Taunay, nicolas antoineTaunay, nicolas antoine
Taunay, nicolas antoine
deniselugli2
 
Serpa, ivan ferreira
Serpa, ivan ferreiraSerpa, ivan ferreira
Serpa, ivan ferreira
deniselugli2
 
Schendel hergesheimer, mira
Schendel hergesheimer, miraSchendel hergesheimer, mira
Schendel hergesheimer, mira
deniselugli2
 
Rugendas, johann moritz
Rugendas, johann moritzRugendas, johann moritz
Rugendas, johann moritz
deniselugli2
 

Mehr von deniselugli2 (20)

Zeferino da costa, joão
Zeferino da costa, joãoZeferino da costa, joão
Zeferino da costa, joão
 
Weingärtner, pedro
Weingärtner, pedroWeingärtner, pedro
Weingärtner, pedro
 
Wega nery
Wega neryWega nery
Wega nery
 
Wakabayashi, kazuo
Wakabayashi, kazuoWakabayashi, kazuo
Wakabayashi, kazuo
 
Vítor meireles de lima
Vítor meireles de limaVítor meireles de lima
Vítor meireles de lima
 
Visconti, eliseu d'angelo
Visconti, eliseu d'angeloVisconti, eliseu d'angelo
Visconti, eliseu d'angelo
 
Viaro, guido
Viaro, guidoViaro, guido
Viaro, guido
 
Valentim, rubem
Valentim, rubemValentim, rubem
Valentim, rubem
 
Tozzi, cláudio.
Tozzi, cláudio.Tozzi, cláudio.
Tozzi, cláudio.
 
Timóteo da costa, artur
Timóteo da costa, arturTimóteo da costa, artur
Timóteo da costa, artur
 
Taunay, nicolas antoine
Taunay, nicolas antoineTaunay, nicolas antoine
Taunay, nicolas antoine
 
Serpa, ivan ferreira
Serpa, ivan ferreiraSerpa, ivan ferreira
Serpa, ivan ferreira
 
Segall, lasar
Segall, lasarSegall, lasar
Segall, lasar
 
Scliar, carlos
Scliar, carlosScliar, carlos
Scliar, carlos
 
Schendel hergesheimer, mira
Schendel hergesheimer, miraSchendel hergesheimer, mira
Schendel hergesheimer, mira
 
Samico, gilvan
Samico, gilvanSamico, gilvan
Samico, gilvan
 
Sacilotto, luís
Sacilotto, luísSacilotto, luís
Sacilotto, luís
 
Rugendas, johann moritz
Rugendas, johann moritzRugendas, johann moritz
Rugendas, johann moritz
 
Rodrigues, glauco
Rodrigues, glaucoRodrigues, glauco
Rodrigues, glauco
 
Ramos, nuno
Ramos, nunoRamos, nuno
Ramos, nuno
 

Kürzlich hochgeladen

5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
LeloIurk1
 
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesRevolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
FabianeMartins35
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
HELENO FAVACHO
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
LeloIurk1
 
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
WagnerCamposCEA
 
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
marlene54545
 
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdfGEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
RavenaSales1
 
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTeoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
TailsonSantos1
 

Kürzlich hochgeladen (20)

PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
 
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesRevolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
 
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
 
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIXAula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
 
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdfGEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
 
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTeoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
 
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
 

Dias, cícero

  • 1. DIAS, Cícero (1908). Nascido em Jundiá (PE). Em 1925 achava-se no Rio de Janeiro, matriculado no curso de Arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes, que cedo trocou pelo de Pintura. Inconformado porém com o tipo de ensinamento acadêmico ali ministrado, abandonou em 1928 a Escola. Nesse mesmo ano, realizou sua primeira individual, não sem superar diversas dificuldades: - Fui procurar o Graça, e o Graça me disse que eu fosse, com uma carta dele, procurar o Moura Brasil, que havia um salão da Policlínica defronte da Galeria Cruzeiro. Não encontrava o Moura Brasil, aí o Graça conhecia muito bem o Juliano Moreira, psiquiatra muito importante, e fui procurar Juliano Moreira lá no hospital, mostrei o desenho e ele me disse: "Está muito bem, porque lá no hospício está havendo um congresso de Psiquiatria mundial"... Fiz a exposição no salão da Politécnica, quando houve esse congresso. Foi um escândalo. Até consegui vender quadros. O público não aceitava aquilo de maneira nenhuma, só professores alemães, franceses, estrangeiros que naturalmente já estavam senhores de tudo aquilo. Interrompido o curso de Belas Artes, Cícero partiu de volta ao Nordeste, expondo em 1928 em Recife e logo depois em três cidades do interior de Pernambuco: - Em 1928, fiz uma exposição em Recife, depois fiz três exposições no interior do Estado, para justamente sentir a receptividade do povo para a pintura moderna, diante da expressão moderna. O povo não estranha; quem estranha o novo é o mal instruído, o burguês, mas o povo não. Em Recife, a repercussão foi horrível, fui perseguido pelo ambiente cultural, apesar da apresentação de Gilberto Freire. Nessa apresentação, o grande sociólogo dizia, entre outras coisas: - Das novas relações e proporções é que sai avivado pelo mais brasileiro dos azuis, pelo mais pernambucano dos encarnados, o lirismo profundo como em nenhum outro pintor que eu conheço, de Cícero Santos Dias. Esse pintor não tem requintes de colorido nem luxos, mas quase só azul e encarnado como os pintorezinhos pobres - de barcaças e de ex-votos e de casas de porta e janela. Esse lirismo de base popular e autenticamente brasileiro nutriria de então por diante as melhores obras de Cícero, ao tempo em que praticava uma pintura ingenuamente surrealista, quando, rústico Chagall dos Trópicos, externava com simploriedade suas reminiscências e sensações de menino de engenho impregnado de fortes odores de frutas e do colorido dos canaviais, com medo de assombração e despertando para a sexualidade. "Pintura é poesia, qual técnica!" costumava dizer então aos que lhe censuravam o desleixo no acabamento das aquarelas e dos óleos. Desleixo que aliás não passou desapercebido a um crítico como Rubem Navarra, o qual assim caracterizou sua produção entre 1928 e 1937: - Ele se dava a todas as liberdades no terreno da técnica. Tinha horror à virtuosidade linear e à lógica do espaço natural - a composição era uma montagem de símbolos e imagens - poemas e não arquiteturas. De maneira que não havia questão de exercitar nem forma nem matéria: o que importava era figurar um determinado sentido de evocação, por meio de imagens em geral soltas e mal construídas, onde tudo se encontrava na idéia de produzir um choque poético, através de uma linguagem como a dos primitivos ou a das crianças. Esse desleixado, muito mais artista do que artesão, paradoxalmente chegaria a lecionar Técnica da Pintura em 1935, do mesmo modo como, desorganizado sempre, foi um dos organizadores do Congresso Afro-Brasileiro de Recife, em 1929... Em 1931, no Salão Nacional de Belas Artes que Lúcio Costa pela primeira vez franqueava a artistas de orientação não-acadêmica, Cícero expôs um enorme quadro, Eu vi o mundo, ele começava no Recife, que causaria sensação:
  • 2. - Eu expus um quadro enorme, esse meu quadro hoje tem 15 metros por dois metros e pouco. Mas ele era maior, ele devia ter mais ou menos vinte e tantos metros, e toda parte do quadro que tinha cenas eróticas desapareceu. Rasgaram o quadro, tiraram tudo isso, desapareceu... O quadro, devidamente restaurado, e após ter integrado durante anos, em comodato, o acervo do Museu Nacional de Belas Artes, pertence hoje a um colecionador de Rio de Janeiro. Em 1937, após executar décors para um balé de Villa-Lobos na versão de Serge Lifar, Cícero Dias embarcou para Paris, pretendendo ali permanecer alguns meses, o suficiente para se esquecer do Estado Novo recém-implantado por Getúlio Vargas. Terminaria por se radicar definitivamente na capital francesa, da qual só se ausentou durante os anos da II Guerra Mundial, entre 1939-45 (quando viveu em Lisboa), e nas rápidas escapadas ao Brasil, aliás cada vez mais freqüentes para os últimos anos. Pode-se imaginar o impacto da pintura de Cícero, tão logo chegado a Paris, sobre os surrealistas aos quais logo se ligou! Não admira assim tivesse sido acolhido com efusão por artistas e intelectuais do porte de Picasso e de Éluard. No ano seguinte ao da chegada, 1938, efetua com sucesso duas exposições em Paris. Mas é tempo de guerra, e após curta prisão sob os nazistas, nosso artista decide prudentemente fixar-se em Lisboa. Só retornará em 1945, deixando para trás não apenas o doce exílio lisboeta como toda uma fase pictórica marcada pelo improviso e pelo lirismo. De fato, o Cícero de meados da década de 1940 não é mais o das imagens da infância, mas alguém preocupado com problemas formais e de relacionamentos cromáticos. Um abstracionista, em suma, que reduz o mundo a um conjunto de abstrações coloridas da realidade, despreocupado com a duplicação das formas naturais e sobretudo com o conteúdo anedótico ou literário ainda tão marcante em obras anteriores. Integrado, portanto, ao grupo abstracionista, freqüentador da Galeria Denise René, membro do Grupo Espace em 1946, Cícero deixa de ser um pintor regionalista e se insere na arte internacional de seu tempo. Numa curta visita ao Brasil, em 1948, executa, em Recife, aquele que é geralmente tido como o primeiro mural abstrato sul-americano. E em 1952 é um dos artistas selecionados por Leon Degand para figurar em sua obra Temoignages pour l'Art Abstrait, ao lado de Arp, Calder, Poliakoff, Magnelli e tantos outros. No mesmo ano sua exposição em São Paulo desperta em Oswald de Andrade o seguinte comentário inesperado: - Cícero acaba de expor em São Paulo e entusiasmou-me. Julgo-o o maior pintor brasileiro de todos os tempos. Sim, o maior, digo e repito. E ninguém poderá imaginar que estou falando isso por camaradagem, uma vez que as minhas relações com Cícero são geladas. Se a temática regionalista do primeiro Cícero Dias esvaiu-se, substituída pelas relações matemáticas entre formas e cores, não há como deixar de perceber, mesmo aí, uma atmosfera que é Nordeste, Pernambuco, o Brasil: afinal, não escreveu com acuidade Gilberto Freyre, há quase 60 anos, que Cícero usava em seus quadros "o mais brasileiro dos azuis, o mais pernambucano dos encarnados"? Cícero realizou diversas exposições individuais, não apenas no Rio de Janeiro e em Recife, em São Paulo e Paris, como também em Lisboa (1942, com prefácio de Paul Eluard), Londres (1945), Bruxelas (1966) etc; também participou de importantes coletivas, como a XXV Bienal de Veneza (1950), o Salão de Maio, de Paris (1951, 1958), Jovens Pintores Abstratos da Escola de Paris (Bruxelas, 1951), Klar Form (Dinamarca, Suécia e Finlândia, 1952), e um sem-número de outras. Em 1965, a VIII Bienal de São Paulo dedicou-lhe uma sala retrospectiva, tornando a fazê-lo em 1994, no âmbito da exposição "Brasil Bienal Século XX". Desde aquele ano tem vindo assiduamente ao Brasil, para realizar individuais em São Paulo e Rio de Janeiro, Salvador e Recife, sempre com grande sucesso de vendas. É bem verdade que os quadros mais recentes, e que tentam reproduzir a antiga temática das evocações infantis em Jundiá, já agora vazada num desenho e num colorido nada espontâneos, não sustentam o cotejo quer com as aquarelas da primeira fase, quer com os grandes esquemas abstratos que se lhe seguiram. Na verdade, o grande Cícero Dias, aquele que se incorporou em definitivo à história da pintura brasileira, é o dos anos que medeiam entre a primeira individual e a partida para a
  • 3. França - 1927 e 1937 -, quando dele podia dizer Mário de Andrade, num artigo escrito em 1929: - Ele tem calungas que não são nem cachorro, nem boi, nem burro. Tem aves que não são bem pombas, nem urubus, nem galinhas. É o Animal. É a Ave. Mulher e soldado, guache, 1928; 0,31 X 0,30, Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Estátua e o monstro, guache, 1928; 0,55 X 0,38, Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Eu vi o mundo, começava no Recife, detalhe, óleo s/ papel, 1929; 2,50 X 1,50. Moça com sombrinha, óleo s/ tela, s/ data; 0,74 X 0,61, Palácio Bandeirantes, SP. Ilustração para o livro Ciclo da Moura, água-forte, 1966-67; 0,34 X 0,26, Museus Castro Maya, RJ. Sem título, óleo s/ tela, 1951; 0,80 X 0,53, Museu de Arte Contemporânea da USP.