O documento discute o crescimento do consumo de materiais de construção no Brasil, impulsionado por programas governamentais e disponibilidade de crédito. 22 milhões de famílias pretendem reformar ou construir até dezembro, gerando R$ 21,4 bilhões em vendas nos primeiros quatro meses do ano. No entanto, já há escassez de tijolos e cimento em algumas regiões devido à alta demanda, pressionando os preços para cima.
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DOMINGO, 13 DE JUNHO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO
Supercapitalização Tecnologia pesada Como uma religião
Se sobrar ação da Petrobrás, Frota de caminhões de luxo Consumidores fanáticos compram
governo diz que compra tudo ganha espaço no Brasil tudo o que a Apple, de Jobs, lança
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Economia
ROBERT GALBRAITH/REUTERS
estadão.com.br & NEGÓCIOS
Onda de consumo chega à reforma da
casa e mobiliza 22 milhões de famílias
O ‘consumo formiga’ movimentou R$ 21,4 bilhões nos primeiros quatro meses do ano e já há casos de falta de tijolo e cimento em algumas regiões
Márcia De Chiara
Faz oito meses que o pedreiro CASA NOVA Preço do tijolo
José Tertuliano da Silva cum-
pre dupla jornada. Entra às 7h l Distribuição das famílias,
aumentou 11,83%
CLASES A/B
na obra e sai às 17h. Depois se- por classe social, que em 12 meses
10%
gue para Paraisópolis, na peri- pretendem construir ou Taxa de crescimento real de
feria de São Paulo, onde cons- reformar a casa onde moram vendas no mercado interno de
TOTAL DE FAMÍLIAS*
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trói a terceira laje da sua casa. até dezembro de 2010 CLASSE C
materiais de construção ● Os preços dos materiais de
Lá, trabalha até meia-noite, 52% construção já começam a refletir
EM PORCENTAGEM
dando o acabamento nos qua- o aquecimento do setor, apesar
tro cômodos. A família Silva é INDÚSTRIA VAREJO de o custo da mão de obra ser o
uma das 22 milhões de famí-
CLASSES D/E
38% milhões 2008 14,04 9,0 principal responsável pela alta
lias que pretendem reformar 2009 -12,31 4,8 do Índice Nacional da Constru-
ou construir casa até dezem- 2010 20,31*** 9,5**** ção Civil da Fundação Getúlio
bro, revela pesquisa do institu- 2010***** 15 11 Vargas (FGV).
to Data Popular. Em 12 meses até maio, o pre-
Esse contingente equivale à ço do tijolo subiu 11,83%; a pe-
soma da população de quatro Maior alta de vendas no varejo dra, 8,08%; a areia, 4,37% e o ci-
países.Écomose todosos argen- em 12 meses até abril mento, 2,70%. De janeiro a maio,
tinos,chilenos, paraguaioseuru- o cimento subiu 3,81%. “Quase a
CENTRO-OESTE ITENS AUMENTO
guaios resolvessem reformar ou SUDESTE NORDESTE E NORTE** SUL totalidade da alta do cimento nes-
construirmoradiasatéo fimdes- Cimento 25%
8 milhões 6,9 milhões 4,3 milhões 2,8 milhões
te ano ocorreu entre abril e
te ano, compara Renato Meirel- Tintas 23% maio”, afirma o coordenador de
les, sócio-diretor do Data Popu- Revestimentos cerâmicos 19% Análises Econômicas da FGV,
A/B C D/E A/B C D/E **Base de dados A/B C D/E
lar. A enquete, que ouviu 2 mil insuficiente para
Argamassa 15% Salomão Quadros. Ele destaca
famíliasem 11regiões metropoli- 11% 55% 34% 5% 33% 62% distribuir por
10% 57% 33% Metais sanitários 12% que o preço do tijolo subiu 1 pon-
tanas e no Distrito Federal em classe social to ao mês desde abril de 2009.
*Famílias que moram em áreas urbanas ***Até abril ****Até maio *****Projeção para o ano
março, mostra que a maioria –
FONTES: DATA POPULAR; ABRAMAT E ANAMACO INFOGRÁFICO/AE
90% das famílias – são das clas-
ses de menor renda (C, D e E),
resultado que ganha relevância lhões. Já a receita total da indús- de Aceleração do Crescimento presidenteexecutivodo Sindica-
no Nordeste, beneficiado pelos tria cresceu 20,3% no período (PAC). Também já começaram to Nacional da Indústria do Ci-
programas sociais. em relação a 2009 e 5% ante as obras da Copa de 2014. mento (Snic), José Otavio Car-
“Com a redução do IPI (Im- 2008. Deve fechar o ano com al- Na Cerâmica Nobre, uma das valho. De janeiro a maio, foram
posto sobre Produtos Industria- ta de 15%, a maior desde o início maiores olarias do Centro-Oes- vendidas no mercado interno
lizados) para materiais de cons- da série, em 2004. te, há escassez de todo tipo de 22,9 milhões de toneladas de ci-
trução, a maior oferta de crédito Um sinal dessa explosão de bloco, diz o diretor comercial, mento, com alta de16,4% em re-
e o aumento da renda, o consu- vendas jáaparece na falta de tijo- Jonas Borges. “Antes tínhamos lação a igual período de 2009.
moformigademateriaisdecons- lo e cimento em regiões como o para pronta-entrega. Hoje, pedi- “Pode haver falta de cimento
trução vai explodir”, prevê Mei- Centro-Oeste. Faz três meses, mos dez dias úteis de prazo.” em alguma região. Mas meus
relles. O consumo formiga é co- por exemplo, que o depósito de Na Olaria São Sebastião, que clientesnãoestãosofrendodesa-
mo são chamadas as compras de cimento 13 de Maio, em Campo ficaemBarrado Piraí(RJ)eabas- bastecimento”, diz Humberto
pessoas físicas para construir ou Grande (MS), trabalha pratica- tece o sul do Estado do Rio, a Farias, diretor-superintendente
reformar a própria casa. mente sem estoque de tijolo e situação é parecida. “A espera da Camargo Corrêa Cimentos, a
Nos cálculos do presidente da cimento, conta o gerente João hoje é de 15 a 20 dias para tijolo terceira maior cimenteira do
ERNESTO RODRIGUES/AE
Associação Brasileira da Indús- Carlos Kohatsu. de alvenaria ou laje pré-molda- País. Ele atribui a escassez do
tria de Materiais de Construção Segundo ele, a demanda dos da”,dizo diretordaempresa,Ce- produto ao crescimento desi-
(Abramat),MelvynFox,oconsu- consumidores cresceu 10%. sar Vergilio Oliveira Gonçalves. gual do consumo entre as re-
mo formiga hoje corresponde a Mas,alémdo aumentodo consu- giões. De janeiro a maio, as ven-
65% da receita de R$ 33,3 bilhões mo formiga, estão em andamen- Cimento. O crescimento das das cresceram 26,5% no Nordes-
de janeiro a abril, ou R$ 21,4 bi- Formiga. José Tertuliano trabalha à noite na ampliação da casa to na região obras do Programa vendas é recorde, afirma o vice- te e 6,2% no Sul, ante 2009.
Com a redução do IPI para os
materiais (que vai até 31 de de-
✽ posto de líder de crescimento e deverá ser justa- les afetados pela alta do minério de ferro. Isso ● Pressão zembro),osprogramas dogover-
Análise: Sérgio Vale mente a construção. Todos os indicadores de não foi tão intenso no setor automobilístico, A maior nopara habitaçãoe infraestrutu-
atividade e inflação já sinalizam há algum tempo pois este passou por um boom de novos investi- pressão de ra e o crédito farto, a indústria e
queeste voltou aser um setorem forteexpansão. mentos durante a década de 90. preços da o varejo demateriais de constru-
Construção civil já De fato, a perspectiva é positiva quando se sabe Além disso, as grandes cidades sofrem com construção ção nunca tiveram um período
que a classe média terá uma demanda potencial falta de bons terrenos, o que tem encarecido os vem ainda da tão vigoroso de crescimento.
ameaça carros como de1,5milhão denovos imóveisporanonospróxi- imóveis sobremaneira em algumas áreas. Tudo mão de obra. “Esteanoestá sendoexcepcio-
mos 5 anos, sem considerar as outras classes de isso leva a crer que a inflação no segmento conti- Em 12 meses nalcomopoucos”, ressaltao pre-
líder do crescimento renda. Por outro lado, o setor de construção co- nuaráporumbomtempo.Masnãosedeveenten- até maio, o sidente da Associação Nacional
mercial e de infraestrutura tem potencial de ex- der por isso que o setor tenha algum gargalo defi- INCC subiu dos Comerciantes de Material
H
á setores que lideraram o crescimen- pansão no Sudeste, principalmente, que há mui- nitivo para seu crescimento. O crédito imobiliá- 6,07%; o custo de Construção (Anamaco),
to da economia antes dela de fato co- to tempo não se via. rio ainda é um irrisório 3% do PIB, não temos da mão de Claudio Conz.
meçar a se expandir mais fortemente. Com isso vêm os problemas. O elevado custo praticamente nada desenvolvido em derivativos obra, 9,32% e No mês passado, as vendas no
Osegmentoque vemamenteéoauto- de mão de obra no setor é fruto de um segmento para o setor e a renda deverá crescer nos próxi- os materiais, varejocresceram 12% na compa-
mobilístico, que cresceu durante anos a taxas que não investiu em capacitação durante déca- mos anos, garantida pela entrada de mais de 20 2,43%. ração com maio de 2009 e acu-
invariavelmente bem maiores que o PIB. Com a das. Tanto a falta de engenheiros quanto pedrei- milhões de pessoas na classe média até 2016. mulam alta de 9,5% no ano. Em
consolidação da estabilidade macroeconômica e ros devem continuar levando o setor a ter forte 2010, Conz não descarta crescer
uma perspectiva de juros baixos por muito tem- pressão de preços. Algo semelhante ocorre com ✽ até 12%, superando a taxa regis-
po, outro setor deverá tomar dos automóveis o os materiaisde construção, especialmente aque- É ECONOMISTA-CHEFE DA MB ASSOCIADOS trada em 1995, o primeiro ano do
Plano Real.
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