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UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE – UNIVILLE
PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA DA ARTE – TURMA II
CLASSICISMO NA ARTE – PROFESSORA NADJA CARVALHO LAMAS

A construção do ideal de beleza feminino através da pintura no Período
Clássico1
Daniela Pereira 2

RESUMO: Este artigo visa discutir como o perído clássico trouxe uma nova concepção de
beleza da mulher, baseado nos ideais neoplatônicos de equílibrio, serenidade e harmonia,
influenciado pela sociedade da época. Como algumas pinturas do perído Renascentista,
podem ser analisadas através de seus elementos representativos do corpo e como a
sociedade da época mantinha em seu imaginário popular a questão da mulher, quais as
mudanças do perído medieval para a Renascença.

Palavras-Chave: Renacimento, Mulher, Ideal de Beleza.

1

Artigo apresentado como trabalho de conclusão de módulo de Classicismo na Arte, na Especialização em
História da Arte, na UNIVILLE, com a professora Nadja Carvalho Lamas.
2
Graduada em História pela UNIVILLE. Aluna do curso de Especialização em História da Arte na UNIVILLE.
A construção do ideal de beleza feminino através da pintura no Período
Clássico

Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa
No doce balanço, a caminho do mar
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar […]
(Tom Jobim – Garota de Ipanema)

A música de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, em sua melodia suave, e uma
letra poética, demonstra a paixão ao ver uma simples garota com uma imensa
beleza inesplicável. O próprio Vinicius expressava em suas poesias “Receita de
Mulher”, falando “As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”3,
essas palavras, assim como muitas outros elementos presentes na sociedade, nos
trazem um questionamento fundamental, como surgiu na Sociedade Moderna o ideal
de beleza? Essera ideal tão cultuado socialmente, que nos faz presenciar hoje a
ditadura da beleza. Como surgiram esses parâmetros femininos e qual sua relação
com a Arte.
As produções artísticas podem estar vinculadas tanto em um ideal de
invenção, quanto em uma execução mecânica, mas são as culturas que
estabelecem o que é arte ou não, independente de técnicas ou produções
gigantescas. Pois como reflete Argan e Fagiolo (p. 14)
“O conceito de arte não define, pois, categorias de coisas, mas um tipo de
valor […] O valor artístico […] é aquele que evidencia na sua configuração
visível […] o que está em relação com maior ou menor importância atribuída
a experiência do real, conseguida mediante a percepção e a representação.
[…] As formas valem como significantes somente na medida em que uma
consciência lhes colhe o significado.”

Cada artista é filho de seu tempo, não existe artista sem qualquer tipo de
influência ou troca cultural em sua época. A arte também estabelece formas de
poder, pois quando institucionalizadas, define padrões, moldes e categorias a serem
3

MORAES, Vinicius. Receita de Mulher. Disponível em < http://www.jornaldepoesia.jor.br/vm4.html>. Acesso
em: 23 jul 2012.
enquadradas, mas define ainda um valor. Valor esse que na época Renascentista (a
partir do século XV, principlamente am regiões da Itália, Bélgica e Sudeste da
França) era imensurável, pois a pintura e escultra eram as formas de representação
do real.
O Renascimento surge como retomada ou resignificação dos valores
clássicos gregos, e a negação do que estava dado ou revelado, no caso do
cristianismo. Na cultura grega havia um ideal de beleza, retomado pelo perído
renascentista, com uma visão antropocêntrica, pois interessava a perfeita beleza, o
equilíbrio, a serenidade e a harmonia absoluta, baseado na razão, ou seja, em um
príncipio de perfeição, em um padrão.
A partir do século XV e XVI, Segundo Humaberto Eco (p.176) a mulher que
antes era representada de forma angelical, como damas e pastrinhas, passa nesse
período a ser representada e inventada pela imitação da natureza. A técnica
desenvolvida na Itália da perspectiva, as novas técnicas pictóricas em Flanders, o
influxo do Neoplatonismo, além do clima de misticismo, a pintura a óleo entre os
flamencos, gera a beleza como imitação da natureza, através de regras
cientificamente estabelecidas, com uma perfeição imensurável, como afirma
Leonardo da Vinci (1498), em “O poder do Pintor”:
“O pintor é o senhor de todas as coisas que possam vir ao pensamento do
homem, porque, se tem desejo de ver belezas que o apaixonem, ele é
senhor de gerá-las, e se quer ver coisas monstruosas que o assustem, ou
que sejam cômicas e risíveis, ou verdadeiramente comiserativas, delas ele
é senhor e criador” (VINCI In ECO, 2010)

A imagem da Vênus é o inicio do simbolismo neoplatônico de beleza, com
raízes na mitologia, a deusa mulher emerge do mar em uma conha, como mulher
adulta, sendo empurrada pelo Vento do Oeste e recebendo um manto bordado de
flores da deusa da estação Hora. Essa pintura torna-se um marco, pois a mulher
surge como representação de uma divindade, no centro do quadro, com corpo nu
escultoricamente pintado com traços harmoniosos. Esses traços ainda não são
anatomicamente perfeitos como as obras de Leonardo da Vinci, pois seu pescoço é
mais longo e seu ombro esquerdo tem a representação anatômica incorreta. Esse
trabalho integra-se nos ideais estéticos que marcaram a requintada e ilustrada
escola pictórica florentina do primeiro renascimento. A pintura procura captar, com
requintado lirismo, a altura do nascimento da deusa, momento que simboliza
igualmente o surgir dos ideiais platônicos de beleza e de verdade. A serenidade da
imagem e a luminosidade da paisagem traduzem um duplo sentido, por um lado
apontam para as técnicas claramente renascentistas de derivação clássica, onde
podemos

notar

BOTTICELLI, Sandro. O nascimento de Vênus. Têmpera sobre tela. 172.5 cm × 278.5 cm.
Galleria degli Uffizi, Florença, 1483. Disponível em < http://www.infoescola.com/pintura/onascimento-de-venus/ >. Acesso em 23 jul de 2012.

a influência da escultura grega na definição da figura central, junto ao tema
mitológico da pintura; assim como muitos elementos da tela recordam as
representações cristãs do batismo de Cristo, como a concha, a água e os anjos, aqui
incarnadas pelos dois ventos. A própria Vênus, nos faz lembrar pelo seu movimento
sinuoso, uma madona medieval. A nudez de Vênus não busca aqui representar um
ideia de erotismo, pela presença do longo cabelo que lhe cobre suas intimidades ou
a mão que esconde os seios. Botticelli aqui recusou a imitação direta e naturalista do
mundo real, criando, dentro da tradição tardo-medieval, um espaço e um conjunto de
figuras idealizados.
Esses ideais estarão presentes em outras pinturas que representam a Vênus,
onde pode-se perceber que em torno do corpo feminino desnudo, se desenrola um
discurso. Nesta época, a mulher decidiu sair da obscuridade e revelar-se mais,
comparada a Idade Média, agora aparecia com novas exigências, principalmente a
nível do seu aspecto. O Renascimento italiano foi um dos principais responsáveis
pela divulgação em toda a Europa, dos ideais clássicos de perfeição física e
espiritual, assim como de uma reabilitação neoplatônica do amor e da beleza.

BALDUNG – GRIEN, Hans. As três idades da mulher e a morte. Têmpera sobre tela.
Kunsthistorishes
Museum,
Viena,
1510.
Disponível
em
<http://viticodevagamundo.blogspot.com.br/2011/02/death-by-hans-baldung-hans-baldunge.html>. Acesso em 23 jul de 2012.

A Vênus de Baldung-Grien, como afirma Umberto Eco (2010, p.193)
[…] com sua carnação branca e sensual, que se destaca na obscuridade do
fundo, alude de forma evidente a uma beleza física e material, que a
imperfeição das formas (em relação aos cânones clássicos) torna ainda
mais realista. Mesmo sistiada pela morte a suas costas, essa Vênus
anuncia uma muher renascentista que sabe cuidar e mostrar sem
reticências o próprio corpo.

A mulher aqui, se olha no espelho, anseia pela beleza, ansiedade essa
proibida pela igreja no periodo medieval: a luxúria. Exercendo uma sensualidade
jovial. O Renascimento não foi só um período em que as mulheres das classes
dominantes se distinguiam das que lhes eram socialmente menosprezadas pelas
suas formas mais nutridas e pela brancura imaculada da roupa interior, mas também
um período em que se tornou mais importante que as mulheres fossem “diferentes”
dos homens, que se destacassem, a mulher começa a ter um espaço fundamental
nesse perído, que influencia todos os anos posteriores, tanto na forma de vestir
como na aparência e no comportamento.
As mulheres manifestaram uma tendência para se vestirem de forma mais
luxuosa, ao mesmo tempo recatada com seus vestidos compridos e volumosos,
revelavam uma cintura torneada, bem marcada, pelo uso do espartilho, e, quando os
costumes mais liberais o permitiam, podiam mesmo exibir um busto volupto. A
beleza já não é considerada um trunfo perigoso, mas antes um atributo necessário
do carácter moral e da posição social. Ser bela tornou-se uma obrigação, já que a
fidelidade era associada não só à participação social, mas também ao vício. O
revestimento exterior do corpo tornou-se um espelho no qual o íntimo de cada um
ficava visível para todos.
Nesta época, cânones da beleza feminina e o modelo ideal de mulher
sofreram várias transformações: de esbelta a roliça e de natural a pintada. A silhueta
e o rosto femininos foram correspondendo às diferentes condições de dieta, de
estatuto e de riqueza, dando origem a novos padrões de aparência e gosto, a novos
ideais de beleza e erotismo.
O ideal medieval da dama aristocrática graciosa, de silhueta estreita e de
seios pequenos, deu lugar nos finais do século XV e durante o século XVI, a um
modelo de beleza feminina mais roliça, de silhueta largas e seios generosos, que se
iria manter até finais do século XVIII. O corpo e a beleza física ganharam
importância histórica a partir do final da Idade Média com a Renascença.
O espelho representa essa valorização dos ideais femininos expostos tanto
na pintura como culturamelte na sociedade. A Vênus no Espelho de Velázquez e de
VELAZQUEZ, Diego. Vênus no Espelho. National Gallery, Londres, 1650.

RUBENS, Peter Paul . Vênus ao Espelho. Óleo sobre madeira, 198 x 124 cm. Coleção do
Príncipe de Liechtenstein, 1613/1614.
O corpo da mulher que se mostra, segundo Eco (2010), serve de contraponto
a expressão privada, intensa, misteriosa. A Vênus de Velázquez aparece de costas,
com o rosto entrevisto em um reflexo, pelo espelho. O espaço de modo artificial, e o
modo sensual do nu que é mostrado apenas em partes. Já a beleza de Rubens é
extremamente sensual, alegre em existir e mostrar-se. As duas obras mostram o
cupido segurando o espelho, demostrando a relação com o clássico misticismo, mas
ambas as formas e silhuetas femininas divergem uma da outra. Na obra de Rubens,
a silhueta arrendondada, mas ao mesmo tempo, musculosa, diverge da serenidade
da ninfeta de Velazquez. Em ambas a branquetude, seriedade no olhar, e
feminilidade são expostas.
A mulher renascentista usa muitos cosmésticos e dedica-se muito aos seus
cabelos, tingindo-o de um louro que tende ao ruivo. Seu corpo é para ser exaltado,
criados

segundo cânones de harmonia, proporção e decoro. Nesse período a

mulher passa a ter atividades ditadas pela corte, também cultivando a mente com
leituras, que eram consideradas essenciais e o conhecimento das belas artes com
capacidades discursivas, filosóficas e polêmicas.
Portanto, as pinturas aqui expostas são apenas algumas das representações
dos imaginário da época, pensando na perspectiva da História da Arte Social, onde
a construção do novo ideal de beleza ocidental surge, e influencia toda a geração
moderna e contemporânea. Mas ainda assim há muito outros elementos que podem
ser analisados para compreensão da sociedade na época e das formas artísticas. O
primeiro fato essencial para as novas técnicas de representação da mulher foi o
naturalismo, essa ligação entre natureza e ciência, estudos da natureza, que
proporcionaram um maior aproximação entre a pintura quase como fotografia, a
representação do corpo, real, não mais imaginário, mas com elementos desse
imaginário. As novas concepções de um mundo onde o homem passa a se o centro
do universo e o liberalismo filosofia de defesa das liberdades individuais, também
influenciam a sociedade e consequentemente a pintura da época, que passa a ter o
ser humano como foco, ligado a natureza, mas principalmente a mulher evidenciada,
de forma mais explicíta comparada a Idade Média.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ECO, Umberto (Organizador). História da beleza. Rio de Janeiro: Record, 2010.

HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.

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Artigo nadja

  • 1. UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE – UNIVILLE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA DA ARTE – TURMA II CLASSICISMO NA ARTE – PROFESSORA NADJA CARVALHO LAMAS A construção do ideal de beleza feminino através da pintura no Período Clássico1 Daniela Pereira 2 RESUMO: Este artigo visa discutir como o perído clássico trouxe uma nova concepção de beleza da mulher, baseado nos ideais neoplatônicos de equílibrio, serenidade e harmonia, influenciado pela sociedade da época. Como algumas pinturas do perído Renascentista, podem ser analisadas através de seus elementos representativos do corpo e como a sociedade da época mantinha em seu imaginário popular a questão da mulher, quais as mudanças do perído medieval para a Renascença. Palavras-Chave: Renacimento, Mulher, Ideal de Beleza. 1 Artigo apresentado como trabalho de conclusão de módulo de Classicismo na Arte, na Especialização em História da Arte, na UNIVILLE, com a professora Nadja Carvalho Lamas. 2 Graduada em História pela UNIVILLE. Aluna do curso de Especialização em História da Arte na UNIVILLE.
  • 2. A construção do ideal de beleza feminino através da pintura no Período Clássico Olha que coisa mais linda Mais cheia de graça É ela menina Que vem e que passa No doce balanço, a caminho do mar Moça do corpo dourado Do sol de Ipanema O seu balançado é mais que um poema É a coisa mais linda que eu já vi passar […] (Tom Jobim – Garota de Ipanema) A música de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, em sua melodia suave, e uma letra poética, demonstra a paixão ao ver uma simples garota com uma imensa beleza inesplicável. O próprio Vinicius expressava em suas poesias “Receita de Mulher”, falando “As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”3, essas palavras, assim como muitas outros elementos presentes na sociedade, nos trazem um questionamento fundamental, como surgiu na Sociedade Moderna o ideal de beleza? Essera ideal tão cultuado socialmente, que nos faz presenciar hoje a ditadura da beleza. Como surgiram esses parâmetros femininos e qual sua relação com a Arte. As produções artísticas podem estar vinculadas tanto em um ideal de invenção, quanto em uma execução mecânica, mas são as culturas que estabelecem o que é arte ou não, independente de técnicas ou produções gigantescas. Pois como reflete Argan e Fagiolo (p. 14) “O conceito de arte não define, pois, categorias de coisas, mas um tipo de valor […] O valor artístico […] é aquele que evidencia na sua configuração visível […] o que está em relação com maior ou menor importância atribuída a experiência do real, conseguida mediante a percepção e a representação. […] As formas valem como significantes somente na medida em que uma consciência lhes colhe o significado.” Cada artista é filho de seu tempo, não existe artista sem qualquer tipo de influência ou troca cultural em sua época. A arte também estabelece formas de poder, pois quando institucionalizadas, define padrões, moldes e categorias a serem 3 MORAES, Vinicius. Receita de Mulher. Disponível em < http://www.jornaldepoesia.jor.br/vm4.html>. Acesso em: 23 jul 2012.
  • 3. enquadradas, mas define ainda um valor. Valor esse que na época Renascentista (a partir do século XV, principlamente am regiões da Itália, Bélgica e Sudeste da França) era imensurável, pois a pintura e escultra eram as formas de representação do real. O Renascimento surge como retomada ou resignificação dos valores clássicos gregos, e a negação do que estava dado ou revelado, no caso do cristianismo. Na cultura grega havia um ideal de beleza, retomado pelo perído renascentista, com uma visão antropocêntrica, pois interessava a perfeita beleza, o equilíbrio, a serenidade e a harmonia absoluta, baseado na razão, ou seja, em um príncipio de perfeição, em um padrão. A partir do século XV e XVI, Segundo Humaberto Eco (p.176) a mulher que antes era representada de forma angelical, como damas e pastrinhas, passa nesse período a ser representada e inventada pela imitação da natureza. A técnica desenvolvida na Itália da perspectiva, as novas técnicas pictóricas em Flanders, o influxo do Neoplatonismo, além do clima de misticismo, a pintura a óleo entre os flamencos, gera a beleza como imitação da natureza, através de regras cientificamente estabelecidas, com uma perfeição imensurável, como afirma Leonardo da Vinci (1498), em “O poder do Pintor”: “O pintor é o senhor de todas as coisas que possam vir ao pensamento do homem, porque, se tem desejo de ver belezas que o apaixonem, ele é senhor de gerá-las, e se quer ver coisas monstruosas que o assustem, ou que sejam cômicas e risíveis, ou verdadeiramente comiserativas, delas ele é senhor e criador” (VINCI In ECO, 2010) A imagem da Vênus é o inicio do simbolismo neoplatônico de beleza, com raízes na mitologia, a deusa mulher emerge do mar em uma conha, como mulher adulta, sendo empurrada pelo Vento do Oeste e recebendo um manto bordado de flores da deusa da estação Hora. Essa pintura torna-se um marco, pois a mulher surge como representação de uma divindade, no centro do quadro, com corpo nu escultoricamente pintado com traços harmoniosos. Esses traços ainda não são anatomicamente perfeitos como as obras de Leonardo da Vinci, pois seu pescoço é mais longo e seu ombro esquerdo tem a representação anatômica incorreta. Esse trabalho integra-se nos ideais estéticos que marcaram a requintada e ilustrada escola pictórica florentina do primeiro renascimento. A pintura procura captar, com requintado lirismo, a altura do nascimento da deusa, momento que simboliza
  • 4. igualmente o surgir dos ideiais platônicos de beleza e de verdade. A serenidade da imagem e a luminosidade da paisagem traduzem um duplo sentido, por um lado apontam para as técnicas claramente renascentistas de derivação clássica, onde podemos notar BOTTICELLI, Sandro. O nascimento de Vênus. Têmpera sobre tela. 172.5 cm × 278.5 cm. Galleria degli Uffizi, Florença, 1483. Disponível em < http://www.infoescola.com/pintura/onascimento-de-venus/ >. Acesso em 23 jul de 2012. a influência da escultura grega na definição da figura central, junto ao tema mitológico da pintura; assim como muitos elementos da tela recordam as representações cristãs do batismo de Cristo, como a concha, a água e os anjos, aqui incarnadas pelos dois ventos. A própria Vênus, nos faz lembrar pelo seu movimento sinuoso, uma madona medieval. A nudez de Vênus não busca aqui representar um ideia de erotismo, pela presença do longo cabelo que lhe cobre suas intimidades ou a mão que esconde os seios. Botticelli aqui recusou a imitação direta e naturalista do mundo real, criando, dentro da tradição tardo-medieval, um espaço e um conjunto de figuras idealizados. Esses ideais estarão presentes em outras pinturas que representam a Vênus, onde pode-se perceber que em torno do corpo feminino desnudo, se desenrola um discurso. Nesta época, a mulher decidiu sair da obscuridade e revelar-se mais,
  • 5. comparada a Idade Média, agora aparecia com novas exigências, principalmente a nível do seu aspecto. O Renascimento italiano foi um dos principais responsáveis pela divulgação em toda a Europa, dos ideais clássicos de perfeição física e espiritual, assim como de uma reabilitação neoplatônica do amor e da beleza. BALDUNG – GRIEN, Hans. As três idades da mulher e a morte. Têmpera sobre tela. Kunsthistorishes Museum, Viena, 1510. Disponível em <http://viticodevagamundo.blogspot.com.br/2011/02/death-by-hans-baldung-hans-baldunge.html>. Acesso em 23 jul de 2012. A Vênus de Baldung-Grien, como afirma Umberto Eco (2010, p.193) […] com sua carnação branca e sensual, que se destaca na obscuridade do fundo, alude de forma evidente a uma beleza física e material, que a imperfeição das formas (em relação aos cânones clássicos) torna ainda
  • 6. mais realista. Mesmo sistiada pela morte a suas costas, essa Vênus anuncia uma muher renascentista que sabe cuidar e mostrar sem reticências o próprio corpo. A mulher aqui, se olha no espelho, anseia pela beleza, ansiedade essa proibida pela igreja no periodo medieval: a luxúria. Exercendo uma sensualidade jovial. O Renascimento não foi só um período em que as mulheres das classes dominantes se distinguiam das que lhes eram socialmente menosprezadas pelas suas formas mais nutridas e pela brancura imaculada da roupa interior, mas também um período em que se tornou mais importante que as mulheres fossem “diferentes” dos homens, que se destacassem, a mulher começa a ter um espaço fundamental nesse perído, que influencia todos os anos posteriores, tanto na forma de vestir como na aparência e no comportamento. As mulheres manifestaram uma tendência para se vestirem de forma mais luxuosa, ao mesmo tempo recatada com seus vestidos compridos e volumosos, revelavam uma cintura torneada, bem marcada, pelo uso do espartilho, e, quando os costumes mais liberais o permitiam, podiam mesmo exibir um busto volupto. A beleza já não é considerada um trunfo perigoso, mas antes um atributo necessário do carácter moral e da posição social. Ser bela tornou-se uma obrigação, já que a fidelidade era associada não só à participação social, mas também ao vício. O revestimento exterior do corpo tornou-se um espelho no qual o íntimo de cada um ficava visível para todos. Nesta época, cânones da beleza feminina e o modelo ideal de mulher sofreram várias transformações: de esbelta a roliça e de natural a pintada. A silhueta e o rosto femininos foram correspondendo às diferentes condições de dieta, de estatuto e de riqueza, dando origem a novos padrões de aparência e gosto, a novos ideais de beleza e erotismo. O ideal medieval da dama aristocrática graciosa, de silhueta estreita e de seios pequenos, deu lugar nos finais do século XV e durante o século XVI, a um modelo de beleza feminina mais roliça, de silhueta largas e seios generosos, que se iria manter até finais do século XVIII. O corpo e a beleza física ganharam importância histórica a partir do final da Idade Média com a Renascença. O espelho representa essa valorização dos ideais femininos expostos tanto na pintura como culturamelte na sociedade. A Vênus no Espelho de Velázquez e de
  • 7. VELAZQUEZ, Diego. Vênus no Espelho. National Gallery, Londres, 1650. RUBENS, Peter Paul . Vênus ao Espelho. Óleo sobre madeira, 198 x 124 cm. Coleção do Príncipe de Liechtenstein, 1613/1614.
  • 8. O corpo da mulher que se mostra, segundo Eco (2010), serve de contraponto a expressão privada, intensa, misteriosa. A Vênus de Velázquez aparece de costas, com o rosto entrevisto em um reflexo, pelo espelho. O espaço de modo artificial, e o modo sensual do nu que é mostrado apenas em partes. Já a beleza de Rubens é extremamente sensual, alegre em existir e mostrar-se. As duas obras mostram o cupido segurando o espelho, demostrando a relação com o clássico misticismo, mas ambas as formas e silhuetas femininas divergem uma da outra. Na obra de Rubens, a silhueta arrendondada, mas ao mesmo tempo, musculosa, diverge da serenidade da ninfeta de Velazquez. Em ambas a branquetude, seriedade no olhar, e feminilidade são expostas. A mulher renascentista usa muitos cosmésticos e dedica-se muito aos seus cabelos, tingindo-o de um louro que tende ao ruivo. Seu corpo é para ser exaltado, criados segundo cânones de harmonia, proporção e decoro. Nesse período a mulher passa a ter atividades ditadas pela corte, também cultivando a mente com leituras, que eram consideradas essenciais e o conhecimento das belas artes com capacidades discursivas, filosóficas e polêmicas. Portanto, as pinturas aqui expostas são apenas algumas das representações dos imaginário da época, pensando na perspectiva da História da Arte Social, onde a construção do novo ideal de beleza ocidental surge, e influencia toda a geração moderna e contemporânea. Mas ainda assim há muito outros elementos que podem ser analisados para compreensão da sociedade na época e das formas artísticas. O primeiro fato essencial para as novas técnicas de representação da mulher foi o naturalismo, essa ligação entre natureza e ciência, estudos da natureza, que proporcionaram um maior aproximação entre a pintura quase como fotografia, a representação do corpo, real, não mais imaginário, mas com elementos desse imaginário. As novas concepções de um mundo onde o homem passa a se o centro do universo e o liberalismo filosofia de defesa das liberdades individuais, também influenciam a sociedade e consequentemente a pintura da época, que passa a ter o ser humano como foco, ligado a natureza, mas principalmente a mulher evidenciada, de forma mais explicíta comparada a Idade Média.
  • 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ECO, Umberto (Organizador). História da beleza. Rio de Janeiro: Record, 2010. HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2000.