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EXCLUSIVO Nas favelas entre polícias, paramilitares e narcotraficantes                   COLEC
                                                                                     J O R N A L I ST O
                                                                                                   ÇÃ

RIO, CIDADE DE DEUS E DO DIABO                                                       ESCRITOREAS
                                                                                      ¤3,90 S




v
                                                                                                     (CONT.)
                                                                                     PEÇA NA BA
                                                                                               NCA




  www.visao.pt          Nº 871 • 12 a 18 de Novembro 2009
  Continente e ilhas: ¤ 2,85




 ‘FACE OCULTA’

MANUAL
  da
CORRUPÇÃO                                                                                                        TROCA
                                                                                                               FAVORES-SE
                                                                                                                DINHEIRPOR
                                                                                                                       O

OS ESQUEMAS POR DETRÁS DOS ESCÂNDALOS
QUE ESTÃO A SER INVESTIGADOS PELA JUSTIÇA
Como se obtém dinheiro para subornos
Como se fazem sacos azuis
Como se escondem lucros
Como se atrasam processos
ENTREVISTA: Teresa Almeida, a magistrada que
tem em mãos os principais crimes económicos




 R E P O RTAGEM NO VALE DO AVE

NA TERRA DA MISÉRIA...
                                                            ESCOL AS P Ú B L I CAS

                                                            ENSINO BILINGUE
                                                                                        GRÁTIS
                                                                                     ARY DOS SANTOS
E DOS PORSCHES                                              NO PRÓXIMO ANO?          CD SINGLE DE TRIBUTO
SOCIEDADE
 EDUCAÇÃO




     ‘In
   English,
   please’
O Governo mandou estudar a viabilidade
do ensino bilingue nas escolas públicas
portuguesas. Para aplicar já no próximo
  ano lectivo. Especialistas em línguas
  gostam da medida, mas os pais são
    contra. A polémica é já a seguir
                POR ISABEL NERY*




O
                 quadro é de ardósia, como no pas-
                 sado. A escola é pública, como a
                 maioria. Os alunos são de classe
                 média-baixa, como de costume, nos
                 subúrbios. Mas acabam aqui as coin-
                 cidências com uma escola banal.
  Nos corredores, não há pedaço de parede livre
de trabalhos – as estações do ano, a roupa, o corpo
humano, a geografia, tudo serve para passar a men-
sagem. Em Inglês. Dentro das salas, há professoras
louras e sardentas. Vieram do Reino Unido para en-
sinar matérias do currículo espanhol em Inglês.
  Estamos na escola Alba Plata, em Cáceres, não
muito longe da fronteira que separa Portugal de
Espanha. Mas, muito em breve, poderemos estar
a descrever uma escola nacional. O British Coun-
cil (Instituto Britânico) propôs a ideia à Câmara
Municipal de Lisboa. A autarquia gostou tanto que
chamou o Ministério da Educação e este já pôs em
marcha um estudo de viabilidade. Se a investigação
concluir que a ideia é positiva, o projecto arranca no
próximo ano lectivo. As escolas até já estão escolhi-
das (ver caixa).
  Quando se fala de ensino bilingue, a preposição
explica tudo. Não se quer apenas que os alunos
aprendam o Inglês, isso fica para a aula da discipli-
na; espera-se que aprendam ciências, geografia ou
artes, em Inglês.
  O trajecto da aprendizagem multilingue parece
inevitável, mas nem por isso livre de controvérsia.
Os pais estão contra e os sindicatos dos professoras
                                                         JOSÉ CARIA




96 v 12 DE NOVEMBRO DE 2009
CÁCERES A professora Emma
     Peters ensina as matérias do
     currículo espanhol em Inglês.
     São 45 minutos por dia,
     em todas as turmas

12 DE NOVEMBRO DE 2009 v 97
SOCIEDADE
 EDUCAÇÃO




                                                                                                                                                  JOSÉ CARIA
BIBLIOTECA EM INGLÊS Na escola Alba Plata, Cáceres, há um espaço só para livros britânicos. Para Gema (à direita), de apenas 7 anos,
a vantagem de aprender outra língua é óbvia: «Podes ir trabalhar para outros países»

recusaram-se a tomar posição por des-              O sucesso é tal que, agora, até os pais         tos de línguas, gastando do nosso bolso.
conhecerem o projecto.                           pedem aulas de Inglês. E a escola acedeu.         A nossa experiência é toda positiva», ar-
                                                 Em horário pós-laboral, ensinou a lín-            gumenta um pai, José Iglesias, 39 anos.
DO MEDO AO SUCESSO                               gua do Reino Unido, durante dois anos,              Para transformar assim uma escola
«Think of words beginning with 'e'.» Os alu-     aos encarregados de educação. «Graças             foi preciso repensar a própria forma de
nos têm apenas 9 anos, mas respondem             a este projecto, o Inglês já faz parte da         ensinar. Métodos mais participativos e
prontamente, com pronúncia irrepre-              educação dos miúdos, não vamos preci-             dispensa dos manuais escolares, em favor
ensível – elephant, equal, e por aí adiante.     sar de pô-los em explicações ou institu-          de matérias seleccionadas pelos profes-
A professora Emma Peters, inglesa de                                                               sores são alguns dos segredos do sucesso.
nascença, vai percorrer as várias turmas                                                           «Tentamos inovar em educação, deixar
da escola Alba Plata com o mesmo méto-              Números Espanha                                de lado a ideia de que o professor é que diz
do. Bilingue, porque ensina matérias em             ‘versus’ Portugal                              tudo e os alunos ouvem. As crianças têm
duas línguas.                                       O país vizinho começou a experimentar          de procurar as ferramentas para aprende-
   Mais do que mudar os alunos, mudou               o ensino bilingue nas escolas públicas         rem por elas», resume Angela Egido.
a escola toda. «Quando começámos, em                há já 14 anos. O que se faz lá e o que se        Nesta escola há professores bilingues
2005, ninguém queria vir para aqui, por-            faz cá:                                        para dar os 45 minutos diários de maté-
que havia muitos problemas. Na altura,                                                             ria em Inglês, mas não em todos os casos.
                                                    FRANCÊS
tínhamos 93 alunos, agora temos 176 e                                                              Na maior parte dos estabelecimentos
                                                    Espanha: 300 escolas/20 mil alunos
já somos obrigados a recusar matrículas,            Portugal: 21 escolas/750 alunos
                                                                                                   de ensino castelhanos, são os próprios
por falta de vagas», garante Angela Egido,                                                         professores espanhóis que leccionam
44 anos, coordenadora do Programa Bi-               INGLÊS                                         algumas horas noutra língua. Satisfeita
lingue, na escola Alba Plata.                       Espanha: 144 escolas/28 mil alunos             com os resultados, a direcção da escola
   Apesar dos seus escassos 7 anos, as              Portugal: o projecto ainda está em es-         pensa já introduzir também o ensino do
crianças estão já consciencializadas                tudo mas, se for para a frente, prevê-se       Português.
para a necessidade de uma mente global,             que comece nas seguintes escolas-pilo-
                                                    to: EB Bartolomeu de Gusmão, EB Vasco
numa sociedade global: «Se sabes Inglês,
                                                    da Gama, EB Santa Maria dos Olivais, EB
                                                                                                   NÓS E NOZES
podes ir trabalhar para outros países»,             Pedro de Santarém, todas em Lisboa             O que os miúdos apenas intuem – que fa-
nota a pequena Gema. «E também ir de                                                               lar várias línguas é uma forma de poder –,
férias», acrescenta o colega Pablo.                                                                os graúdos já estudaram e comprovaram.

98 v 12 DE NOVEMBRO DE 2009
JOSÉ CARIA




             ENSINAR EM INGLÊS A coordenadora do Programa Bilingue da Escola Alba Plata, Angela Egido, agarrou este projecto para recuperar uma escola que
             tinha caído em desgraça. «Tínhamos 93 alunos e ninguém queria vir para cá. Agora são 176 e somos obrigados a recusar matrículas»

             «O domínio de várias línguas é hoje im-         dente da Confederação das Associações           ral muito forte. Enquanto os nossos alu-
             prescindível para a plena cidadania. Há         de Pais, receia pelo sucesso escolar dos        nos confundirem 'nós' com 'noz' recuso-
             projectos multilinguísticos que provam          filhos, se o projecto passar do papel à         -me a aceitar o ensino bilingue.»
             a utilidade deste tipo de aprendizagem.         prática. «Seremos contra. Isso está con-
             É mais importante saber um pouco de             denado ao fracasso. Não estamos a falar         AMARGOS DE LÍNGUA
             outras línguas do que ser poliglota, por-       de coisa pouca. É uma alteração estrutu-        Não se opondo com tanto vigor, Vasco
             que interessa mais falar com o outro do                                                         Graça Moura, 67 anos, tem muitas dú-
             que como o outro. Ou seja, não é preciso                                                        vidas sobre as vantagens do ensino bi-
             um conhecimento profundíssimo da lín-
             gua para que seja útil», lembra a directo-
             ra do Centro de Avaliação de Português
             como Língua Estrangeira e professora
                                                             ‘ O ensino de língua
                                                             estrangeira potencia
                                                             a materna. Com
                                                                                                             lingue, numa altura em que o Português
                                                                                                             «está pelas ruas da amargura». As filhas
                                                                                                             do escritor estudaram no Liceu Francês,
                                                                                                             sem qualquer prejuízo nas competên-
             da Faculdade de Letras de Lisboa, Maria         o bilinguismo tende-                            cias da língua materna. Mas: «Duvido
             José Grosso, 56 anos.
               Apesar das vantagens teóricas de
                                                             -se a um melhor                                 que haja condições para generalizar. Que
                                                                                                             eu saiba, não existem professores com
             aprender em mais do que uma língua, os          desempenho’                                     qualificações para isso. O risco é muito
             encarregados de educação, representa-           Paulo Feytor Pinto, presidente                  grande. Pode condenar-nos ao atraso,
             dos por Albino Almeida, 48 anos, presi-         da Associação de Professores de Português       por exigências estranhas de justiça so-
SOCIEDADE
 EDUCAÇÃO


                                                                                                         ‘ Enquanto os nossos
                                                                                                         alunos confundirem
                                                                                                         nós com noz recuso-
                                                                                                         -me a aceitar o ensino
                                                                                                         bilingue’
                                                                                                         Albino Almeida, presidente
                                                                                                         da Confederação das Associações de Pais


                                                                                                         línguas como outras matérias. Nestes ca-
                                                                                                         sos, tende-se a um melhor desempenho,
                                                                                                         na escolaridade», concluiu Paulo Feytor
                                                                                                         Pinto, 46 anos, presidente da Associação
                                                                                                         de Professores de Português, lembrando
                                                                                                         que, «daqui a dez anos, ninguém sobre-
                                                                                                         vive sem saber Inglês».
                                                                                                            Conscientes desta realidade, os res-
                                                                                                         ponsáveis do Ministério da Educação




                                                                                            JOSÉ CARIA
                                                                                                         têm dado apoio ao projecto do British
                                                                                                         Council. Fonte do gabinete da ministra
  Alternativa Também na língua de Molière                                                                Isabel Alçada garantiu à VISÃO que a
  Numa escola da Amadora, aprende-se Físico-Química em Francês
                                                                                                         investigação sobre a utilidade da apren-
                                                                                                         dizagem simultânea em Português e
  «Devoirs pour la prochaine semaine:         nham, quando é preciso responder às                        Inglês vai continuar. Mas a nova respon-
  exercise. Acabei a aula em Francês.         perguntas da professora em Francês,                        sável pela pasta não quer comprometer-
  Agora vamos continuar em Portu-             mas são os primeiros defensores do
                                                                                                         se, para já. Apesar de saber, pessoalmen-
  guês.» Gorete Jubilado, 38 anos, dá por     projecto. «É difícil, mas vale a pena.
  terminada a sessão bilingue da sua aula     Ficamos a saber outra língua para o caso                   te, o que é o ensino bilingue – foi aluna do
  de Físico-Química, na Escola Fernando       de querermos estudar no estrangeiro»,                      Liceu Francês – só tomará posição públi-
  Namora, na Amadora.                         argumenta Patrícia Santos, 14 anos.                        ca depois de conhecer os resultados do
  Como esta, há mais 20, em Portugal.         Normalmente, teriam duas aulas de                          estudo de viabilidade.
  Recebem apoio do Instituto Franco-          Francês por semana, com o projecto têm
  -Português, apresentam o projecto ao        três. «Nessa aula, tento dar vocabulário                   TODOS FALADORES, TODOS IGUAIS
  Ministério da Educação e escolhem           que possa ser útil para a Físico-Química.
                                                                                                         Introduzir o ensino bilingue nas escolas
  disciplinas que possam ser dadas nas        Ao nível da compreensão, estão muito
  duas línguas. Naquele caso, a professora    melhor do que os alunos sem o projecto
                                                                                                         públicas está longe de ser uma medida
  nasceu em França e é bilingue, mas não      bilingue», explica Lúcia Teixeira, 48 anos,                apenas educativa. Tem implicações polí-
  tem de ser assim. «O projecto adapta-       professora de Francês.                                     ticas, sociais e até diplomáticas.
  se aos alunos e aos professores. É isso     E se esta docente está satisfeita com o ní-                   Habituada a reacções diferentes a
  que lhe dá força. A palavra de ordem é a    vel atingido pelos alunos, a de Físico-Quí-                esta iniciativa, Teresa Reilly, consultora
  flexibilidade», diz Fabienne Lallement, 57   mica está mais ainda: «É uma das minhas                    do projecto bilingue do British Council,
  anos, adida de cooperação educativa da      melhores turmas. Ensinar em Francês                        acredita que o tempo e autonomia de cada
  Embaixada de França.                        até veio ajudar, porque estão muito mais
                                                                                                         escola é que devem indicar o caminho.
  Na sala de aula, os alunos – em abun-       atentos. Como professora, tive de actuali-
  dante adolescência – ainda se envergo-      zar-me», garante Gorete Jubilado.                          «Quando começámos em Espanha, há 14
                                                                                                         anos, não fomos muito bem aceites. Ago-
                                                                                                         ra, os pais protestam quando os filhos não

cial. Em vez de melhor aprendizagem,
pode levar a desaprendizagem, por inca-
pacidade de seguirem as matérias.»            A nova ministra
   Embora partilhada por muitos pais,
esta ansiedade é contrariada pelos estu-
                                              da Educação, Isabel
dos que se têm feito sobre os efeitos do      Alçada, só tomará
bilinguismo na aprendizagem. «Ao con-
trário do estereótipo, o ensino de língua
                                              posição pública
estrangeira potencia a materna. Está          depois de conhecer
provado que o bilinguismo obriga a uma        os resultados
ginástica cerebral que aumenta a flexibi-
lidade em relação a novas situações. Essa     do estudo
                                                                                                                                                        JOSÉ CARLOS CARVALHO




ginástica é tão importante para aprender      de viabilidade
100 v 12 DE NOVEMBRO DE 2009
conseguem entrar numa escola bilingue.
Inquérito Pergunte que eles respondem                                                Não há qualquer desvantagem em ser bi-
Especialistas, professores e alunos tiram todas as dúvidas sobre o ensino bilingue   lingue. Só vantagens: melhora a capaci-
                                                                                     dade analítica, a plasticidade cerebral, o
1  É mais fácil perder a concentração,
   ouvindo a matéria numa língua
estrangeira?
                                           «Os testes são sempre em Português.
                                           Só damos algumas fichas de trabalho
                                           em Francês.»
                                                                                     sentido crítico, a confiança.»
                                                                                        Richard Johnstone, responsável pelo
                                                                                     projecto do ensino bilingue em Ingla-
«Até ficamos mais atentos quando            GORETE JUBILADO, professora
                                                                                     terra, não tem dúvidas: «Aprender uma
é em Francês. Se nos distraímos,           de Físico-Química bilingue
                                                                                     nova língua significa aumentar a capaci-
perdemos o fio à meada.»                    (Português/Francês)
                                                                                     dade de aprendizagem em geral.»
RUTE CÂNDIDO, 14 anos, aluna
                                                                                        Para os defensores desta inovação pe-
da Escola Fernando Namora, Amadora
                                           5  Quanto custa?
                                              «Só demos apoio moral ao British
                                           Council. Até agora, o custo foi zero
                                                                                     dagógica, as vantagens não se ficam pela
                                                                                     aprendizagem. «Se a educação bilingue é
2    Quem dá as aulas?
     «Não é preciso ser bilingue, basta
ter um nível de Inglês razoável. Nalguns
                                           para Portugal.»
                                           CARLOS CATALÃO, ex-adjunto
                                                                                     um sucesso no ensino privado, o sistema
                                                                                     público também deve dar essas oportu-
casos, há professores de língua nativa,    do vereador da Educação e Cultura         nidades. A primeira coisa a interessar-
noutros, não. Cada país é diferente.»      da Câmara Municipal de Lisboa             -nos foi a possibilidade de proporcionar
TERESA REILLY, responsável pelo projecto                                             igualdade de oportunidades», adian-
bilingue do British Council
                                           6   Se os alunos portugueses já têm
                                               elevado nível de insucesso escolar
                                           a Inglês, um sistema bilingue não piora
                                                                                     ta Carlos Catalão, 52 anos, ex-adjunto
                                                                                     do vereador da Educação e Cultura da
3   É obrigatório?
    «São as escolas que se propõem.
Cada país está a desenvolver o projecto
                                           as notas?
                                           «O bilinguismo só trará vantagens
                                                                                     Câmara Municipal de Lisboa, que levou
                                                                                     a iniciativa à discussão na autarquia e
de acordo com as suas necessidades.»       neste aspecto. Ajuda a ter uma            depois ao ministério.
TERESA REILLY                              perspectiva mais global e reforça            De que o Inglês se tornou uma língua
                                           as competências na língua materna.»       franca já ninguém duvida. Que o ensino
                                           PAULO FEYTOR PINTO, presidente da         bilingue traz benefícios cognitivos, está
4   Como é que os alunos são avalia-
    dos? Não vão ficar prejudicados?        Associação de Professores de Português    comprovado. Mas estarão as escolas por-
                                                                                     tuguesas preparadas para o desafio?
                                                                                                                   * COM SARA SÁ

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Revista visao

  • 1. EXCLUSIVO Nas favelas entre polícias, paramilitares e narcotraficantes COLEC J O R N A L I ST O ÇÃ RIO, CIDADE DE DEUS E DO DIABO ESCRITOREAS ¤3,90 S v (CONT.) PEÇA NA BA NCA www.visao.pt Nº 871 • 12 a 18 de Novembro 2009 Continente e ilhas: ¤ 2,85 ‘FACE OCULTA’ MANUAL da CORRUPÇÃO TROCA FAVORES-SE DINHEIRPOR O OS ESQUEMAS POR DETRÁS DOS ESCÂNDALOS QUE ESTÃO A SER INVESTIGADOS PELA JUSTIÇA Como se obtém dinheiro para subornos Como se fazem sacos azuis Como se escondem lucros Como se atrasam processos ENTREVISTA: Teresa Almeida, a magistrada que tem em mãos os principais crimes económicos R E P O RTAGEM NO VALE DO AVE NA TERRA DA MISÉRIA... ESCOL AS P Ú B L I CAS ENSINO BILINGUE GRÁTIS ARY DOS SANTOS E DOS PORSCHES NO PRÓXIMO ANO? CD SINGLE DE TRIBUTO
  • 2. SOCIEDADE EDUCAÇÃO ‘In English, please’ O Governo mandou estudar a viabilidade do ensino bilingue nas escolas públicas portuguesas. Para aplicar já no próximo ano lectivo. Especialistas em línguas gostam da medida, mas os pais são contra. A polémica é já a seguir POR ISABEL NERY* O quadro é de ardósia, como no pas- sado. A escola é pública, como a maioria. Os alunos são de classe média-baixa, como de costume, nos subúrbios. Mas acabam aqui as coin- cidências com uma escola banal. Nos corredores, não há pedaço de parede livre de trabalhos – as estações do ano, a roupa, o corpo humano, a geografia, tudo serve para passar a men- sagem. Em Inglês. Dentro das salas, há professoras louras e sardentas. Vieram do Reino Unido para en- sinar matérias do currículo espanhol em Inglês. Estamos na escola Alba Plata, em Cáceres, não muito longe da fronteira que separa Portugal de Espanha. Mas, muito em breve, poderemos estar a descrever uma escola nacional. O British Coun- cil (Instituto Britânico) propôs a ideia à Câmara Municipal de Lisboa. A autarquia gostou tanto que chamou o Ministério da Educação e este já pôs em marcha um estudo de viabilidade. Se a investigação concluir que a ideia é positiva, o projecto arranca no próximo ano lectivo. As escolas até já estão escolhi- das (ver caixa). Quando se fala de ensino bilingue, a preposição explica tudo. Não se quer apenas que os alunos aprendam o Inglês, isso fica para a aula da discipli- na; espera-se que aprendam ciências, geografia ou artes, em Inglês. O trajecto da aprendizagem multilingue parece inevitável, mas nem por isso livre de controvérsia. Os pais estão contra e os sindicatos dos professoras JOSÉ CARIA 96 v 12 DE NOVEMBRO DE 2009
  • 3. CÁCERES A professora Emma Peters ensina as matérias do currículo espanhol em Inglês. São 45 minutos por dia, em todas as turmas 12 DE NOVEMBRO DE 2009 v 97
  • 4. SOCIEDADE EDUCAÇÃO JOSÉ CARIA BIBLIOTECA EM INGLÊS Na escola Alba Plata, Cáceres, há um espaço só para livros britânicos. Para Gema (à direita), de apenas 7 anos, a vantagem de aprender outra língua é óbvia: «Podes ir trabalhar para outros países» recusaram-se a tomar posição por des- O sucesso é tal que, agora, até os pais tos de línguas, gastando do nosso bolso. conhecerem o projecto. pedem aulas de Inglês. E a escola acedeu. A nossa experiência é toda positiva», ar- Em horário pós-laboral, ensinou a lín- gumenta um pai, José Iglesias, 39 anos. DO MEDO AO SUCESSO gua do Reino Unido, durante dois anos, Para transformar assim uma escola «Think of words beginning with 'e'.» Os alu- aos encarregados de educação. «Graças foi preciso repensar a própria forma de nos têm apenas 9 anos, mas respondem a este projecto, o Inglês já faz parte da ensinar. Métodos mais participativos e prontamente, com pronúncia irrepre- educação dos miúdos, não vamos preci- dispensa dos manuais escolares, em favor ensível – elephant, equal, e por aí adiante. sar de pô-los em explicações ou institu- de matérias seleccionadas pelos profes- A professora Emma Peters, inglesa de sores são alguns dos segredos do sucesso. nascença, vai percorrer as várias turmas «Tentamos inovar em educação, deixar da escola Alba Plata com o mesmo méto- Números Espanha de lado a ideia de que o professor é que diz do. Bilingue, porque ensina matérias em ‘versus’ Portugal tudo e os alunos ouvem. As crianças têm duas línguas. O país vizinho começou a experimentar de procurar as ferramentas para aprende- Mais do que mudar os alunos, mudou o ensino bilingue nas escolas públicas rem por elas», resume Angela Egido. a escola toda. «Quando começámos, em há já 14 anos. O que se faz lá e o que se Nesta escola há professores bilingues 2005, ninguém queria vir para aqui, por- faz cá: para dar os 45 minutos diários de maté- que havia muitos problemas. Na altura, ria em Inglês, mas não em todos os casos. FRANCÊS tínhamos 93 alunos, agora temos 176 e Na maior parte dos estabelecimentos Espanha: 300 escolas/20 mil alunos já somos obrigados a recusar matrículas, Portugal: 21 escolas/750 alunos de ensino castelhanos, são os próprios por falta de vagas», garante Angela Egido, professores espanhóis que leccionam 44 anos, coordenadora do Programa Bi- INGLÊS algumas horas noutra língua. Satisfeita lingue, na escola Alba Plata. Espanha: 144 escolas/28 mil alunos com os resultados, a direcção da escola Apesar dos seus escassos 7 anos, as Portugal: o projecto ainda está em es- pensa já introduzir também o ensino do crianças estão já consciencializadas tudo mas, se for para a frente, prevê-se Português. para a necessidade de uma mente global, que comece nas seguintes escolas-pilo- to: EB Bartolomeu de Gusmão, EB Vasco numa sociedade global: «Se sabes Inglês, da Gama, EB Santa Maria dos Olivais, EB NÓS E NOZES podes ir trabalhar para outros países», Pedro de Santarém, todas em Lisboa O que os miúdos apenas intuem – que fa- nota a pequena Gema. «E também ir de lar várias línguas é uma forma de poder –, férias», acrescenta o colega Pablo. os graúdos já estudaram e comprovaram. 98 v 12 DE NOVEMBRO DE 2009
  • 5. JOSÉ CARIA ENSINAR EM INGLÊS A coordenadora do Programa Bilingue da Escola Alba Plata, Angela Egido, agarrou este projecto para recuperar uma escola que tinha caído em desgraça. «Tínhamos 93 alunos e ninguém queria vir para cá. Agora são 176 e somos obrigados a recusar matrículas» «O domínio de várias línguas é hoje im- dente da Confederação das Associações ral muito forte. Enquanto os nossos alu- prescindível para a plena cidadania. Há de Pais, receia pelo sucesso escolar dos nos confundirem 'nós' com 'noz' recuso- projectos multilinguísticos que provam filhos, se o projecto passar do papel à -me a aceitar o ensino bilingue.» a utilidade deste tipo de aprendizagem. prática. «Seremos contra. Isso está con- É mais importante saber um pouco de denado ao fracasso. Não estamos a falar AMARGOS DE LÍNGUA outras línguas do que ser poliglota, por- de coisa pouca. É uma alteração estrutu- Não se opondo com tanto vigor, Vasco que interessa mais falar com o outro do Graça Moura, 67 anos, tem muitas dú- que como o outro. Ou seja, não é preciso vidas sobre as vantagens do ensino bi- um conhecimento profundíssimo da lín- gua para que seja útil», lembra a directo- ra do Centro de Avaliação de Português como Língua Estrangeira e professora ‘ O ensino de língua estrangeira potencia a materna. Com lingue, numa altura em que o Português «está pelas ruas da amargura». As filhas do escritor estudaram no Liceu Francês, sem qualquer prejuízo nas competên- da Faculdade de Letras de Lisboa, Maria o bilinguismo tende- cias da língua materna. Mas: «Duvido José Grosso, 56 anos. Apesar das vantagens teóricas de -se a um melhor que haja condições para generalizar. Que eu saiba, não existem professores com aprender em mais do que uma língua, os desempenho’ qualificações para isso. O risco é muito encarregados de educação, representa- Paulo Feytor Pinto, presidente grande. Pode condenar-nos ao atraso, dos por Albino Almeida, 48 anos, presi- da Associação de Professores de Português por exigências estranhas de justiça so-
  • 6. SOCIEDADE EDUCAÇÃO ‘ Enquanto os nossos alunos confundirem nós com noz recuso- -me a aceitar o ensino bilingue’ Albino Almeida, presidente da Confederação das Associações de Pais línguas como outras matérias. Nestes ca- sos, tende-se a um melhor desempenho, na escolaridade», concluiu Paulo Feytor Pinto, 46 anos, presidente da Associação de Professores de Português, lembrando que, «daqui a dez anos, ninguém sobre- vive sem saber Inglês». Conscientes desta realidade, os res- ponsáveis do Ministério da Educação JOSÉ CARIA têm dado apoio ao projecto do British Council. Fonte do gabinete da ministra Alternativa Também na língua de Molière Isabel Alçada garantiu à VISÃO que a Numa escola da Amadora, aprende-se Físico-Química em Francês investigação sobre a utilidade da apren- dizagem simultânea em Português e «Devoirs pour la prochaine semaine: nham, quando é preciso responder às Inglês vai continuar. Mas a nova respon- exercise. Acabei a aula em Francês. perguntas da professora em Francês, sável pela pasta não quer comprometer- Agora vamos continuar em Portu- mas são os primeiros defensores do se, para já. Apesar de saber, pessoalmen- guês.» Gorete Jubilado, 38 anos, dá por projecto. «É difícil, mas vale a pena. terminada a sessão bilingue da sua aula Ficamos a saber outra língua para o caso te, o que é o ensino bilingue – foi aluna do de Físico-Química, na Escola Fernando de querermos estudar no estrangeiro», Liceu Francês – só tomará posição públi- Namora, na Amadora. argumenta Patrícia Santos, 14 anos. ca depois de conhecer os resultados do Como esta, há mais 20, em Portugal. Normalmente, teriam duas aulas de estudo de viabilidade. Recebem apoio do Instituto Franco- Francês por semana, com o projecto têm -Português, apresentam o projecto ao três. «Nessa aula, tento dar vocabulário TODOS FALADORES, TODOS IGUAIS Ministério da Educação e escolhem que possa ser útil para a Físico-Química. Introduzir o ensino bilingue nas escolas disciplinas que possam ser dadas nas Ao nível da compreensão, estão muito duas línguas. Naquele caso, a professora melhor do que os alunos sem o projecto públicas está longe de ser uma medida nasceu em França e é bilingue, mas não bilingue», explica Lúcia Teixeira, 48 anos, apenas educativa. Tem implicações polí- tem de ser assim. «O projecto adapta- professora de Francês. ticas, sociais e até diplomáticas. se aos alunos e aos professores. É isso E se esta docente está satisfeita com o ní- Habituada a reacções diferentes a que lhe dá força. A palavra de ordem é a vel atingido pelos alunos, a de Físico-Quí- esta iniciativa, Teresa Reilly, consultora flexibilidade», diz Fabienne Lallement, 57 mica está mais ainda: «É uma das minhas do projecto bilingue do British Council, anos, adida de cooperação educativa da melhores turmas. Ensinar em Francês acredita que o tempo e autonomia de cada Embaixada de França. até veio ajudar, porque estão muito mais escola é que devem indicar o caminho. Na sala de aula, os alunos – em abun- atentos. Como professora, tive de actuali- dante adolescência – ainda se envergo- zar-me», garante Gorete Jubilado. «Quando começámos em Espanha, há 14 anos, não fomos muito bem aceites. Ago- ra, os pais protestam quando os filhos não cial. Em vez de melhor aprendizagem, pode levar a desaprendizagem, por inca- pacidade de seguirem as matérias.» A nova ministra Embora partilhada por muitos pais, esta ansiedade é contrariada pelos estu- da Educação, Isabel dos que se têm feito sobre os efeitos do Alçada, só tomará bilinguismo na aprendizagem. «Ao con- trário do estereótipo, o ensino de língua posição pública estrangeira potencia a materna. Está depois de conhecer provado que o bilinguismo obriga a uma os resultados ginástica cerebral que aumenta a flexibi- lidade em relação a novas situações. Essa do estudo JOSÉ CARLOS CARVALHO ginástica é tão importante para aprender de viabilidade 100 v 12 DE NOVEMBRO DE 2009
  • 7. conseguem entrar numa escola bilingue. Inquérito Pergunte que eles respondem Não há qualquer desvantagem em ser bi- Especialistas, professores e alunos tiram todas as dúvidas sobre o ensino bilingue lingue. Só vantagens: melhora a capaci- dade analítica, a plasticidade cerebral, o 1 É mais fácil perder a concentração, ouvindo a matéria numa língua estrangeira? «Os testes são sempre em Português. Só damos algumas fichas de trabalho em Francês.» sentido crítico, a confiança.» Richard Johnstone, responsável pelo projecto do ensino bilingue em Ingla- «Até ficamos mais atentos quando GORETE JUBILADO, professora terra, não tem dúvidas: «Aprender uma é em Francês. Se nos distraímos, de Físico-Química bilingue nova língua significa aumentar a capaci- perdemos o fio à meada.» (Português/Francês) dade de aprendizagem em geral.» RUTE CÂNDIDO, 14 anos, aluna Para os defensores desta inovação pe- da Escola Fernando Namora, Amadora 5 Quanto custa? «Só demos apoio moral ao British Council. Até agora, o custo foi zero dagógica, as vantagens não se ficam pela aprendizagem. «Se a educação bilingue é 2 Quem dá as aulas? «Não é preciso ser bilingue, basta ter um nível de Inglês razoável. Nalguns para Portugal.» CARLOS CATALÃO, ex-adjunto um sucesso no ensino privado, o sistema público também deve dar essas oportu- casos, há professores de língua nativa, do vereador da Educação e Cultura nidades. A primeira coisa a interessar- noutros, não. Cada país é diferente.» da Câmara Municipal de Lisboa -nos foi a possibilidade de proporcionar TERESA REILLY, responsável pelo projecto igualdade de oportunidades», adian- bilingue do British Council 6 Se os alunos portugueses já têm elevado nível de insucesso escolar a Inglês, um sistema bilingue não piora ta Carlos Catalão, 52 anos, ex-adjunto do vereador da Educação e Cultura da 3 É obrigatório? «São as escolas que se propõem. Cada país está a desenvolver o projecto as notas? «O bilinguismo só trará vantagens Câmara Municipal de Lisboa, que levou a iniciativa à discussão na autarquia e de acordo com as suas necessidades.» neste aspecto. Ajuda a ter uma depois ao ministério. TERESA REILLY perspectiva mais global e reforça De que o Inglês se tornou uma língua as competências na língua materna.» franca já ninguém duvida. Que o ensino PAULO FEYTOR PINTO, presidente da bilingue traz benefícios cognitivos, está 4 Como é que os alunos são avalia- dos? Não vão ficar prejudicados? Associação de Professores de Português comprovado. Mas estarão as escolas por- tuguesas preparadas para o desafio? * COM SARA SÁ