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Débora Pequito 11 I


      Numa terça-feira de Abril o dia acordava com a agitação típica do meio
urbano, mas era um dia vulgarmente especial: os transportes públicos, à
excepção do metropolitano e de alguns autocarros, estavam em greve estéril e
a previsão meteorológica aludia para um dia de muito calor. Assim, começava
a revelar-se aquele que iria ser o pior dia da minha vida!
      O ideal seria hibernar em dias como este, em que Portugal, imbuído no
asco decide parar os meios necessários para levar todo o tipo de pessoas ao
seu destino. Já que não sabem fazer greves e que todos são imunes ao
espírito revolucionário, com medo de serem prejudicados pela PIDE
Socratesiana, ficavam quietos e poupava-se reboliço. Porém, tive que fazer o
sacrifício suicida de sair à rua e ver mais uma vez, no que este país, de
achados magnificentes, se tornou.
Estava pronta para me ir embora, quando voltei a sentir uma vontade
irresistível de ficar em casa, mas sabia que tinha de fugir à atitude mais
sensata. Então, corri rapidamente para a porta, saí calmamente e entrei no
elevador. Desci oito andares dentro de quatro paredes de madeira de mogno;
envolvida num ambiente pachorrento e ávido; o chão era em alcatifa embebida
de um verde requintado; havia duas portas: uma exterior, de branco mal
pintado, e outra interior, leve e gradeada de metal polido para se mover tanto
para a esquerda como para a direita; um odor refrescante, que entrava pelas
fissuras do tecto corroído pelo tempo, congelava o coração padecido,
provocando dores no peito a cada momento de inspiração, como se estivesse a
levar facadinhas; a luz era amarelada e incidia sobre um espelho sujo de
dedadas, partido do lado direito; havia uma música suave, que provocava
irritação; os botões já velhos, que piscavam consoante o andar escolhido,
permaneciam encantadores, com o seu contorno dourado faiscante; é um bom
espaço para permanecer sem companhia e reflectir sob a lentidão com que se
movimenta o mecanismo. Este espaço é muito mais do que um lugar de
melancolia, às vezes consegue ser aborrecido e inoportuno quando há partilha
de recinto e se sucedem as típicas conversas de elevador. Mas é um luxo, uma
verdadeira dádiva possuir uma antiguidade de épocas anteriores, sem qualquer
vandalismo, em pleno século XXI.

                                                                               1
Tinha chegado ao andar térreo. Abri brutalmente a porta interior e de
seguida empurrei a porta exterior, saindo a correr desalmadamente.
      Abri imediatamente a porta do prédio e mal passei o pé direito para o
lado de fora, afoguei-me naquela maré de bafo cálido. Estava um dia de Verão,
num mês de “águas mil”. Nas paragens dos autocarros, um aroma quente
abraçava todas aquelas criaturas inertes; havia pessoas na rua de um lado
para o outro, numa correria surpreendente para chegarem o mais rápido
possível às suas viaturas; ao mesmo tempo, cheirava ao escape dos carros e
os seus pneus rugiam no alcatrão monótono; o ruído das buzinas era cada vez
maior; por causa da greve avistavam-se, ao longe, filas de tecnologia poluente;
defrontava-me constantemente com idosos a passar com os seus animais de
estimação vagarosamente e com pessoas de ar pesado e carrancudo andando
muito depressa; as ondas de calor embaciavam a paisagem iluminada pelo Sol;
o céu estava carregado de azul límpido.
      Agora que estava na rua, com todo o caos instalado na capital, o tempo
voava velozmente agarrando as horas e levando-as consigo, como as águias
de rapina quando caçam as suas presas.
      Continuando o meu caminho apressadamente, deparava-me com todo o
tipo de raças racionais, uma verdadeira salada russa de cores; via-se gente
suada e ofegante como se estivesse prestes a derreter. Vivia-se nesse dia um
verdadeiro Inferno. Só me lembrava da frase que a minha avó me dizia – Há
males que vêm por bem!
      As horas pareciam contagiadas por todo aquele ambiente de correria; eu
com mais celeridade estava cansada e muito vermelha, todo o meu corpo se
incendiava numa chama inapagável; queria abrandar, parar e descansar por
uns instantes, mas não podia. A estação do metropolitano ainda estava longe.
O dia estava a ser desastroso!


      Finalmente tinha chegado e num suspiro descansado, olhei para o meu
relógio de gerações, oferecido pela minha mãe quando eu era mais nova;
dentro de uma caixa redonda de prata lustrosa, estavam os ponteiros sábios, já
perros e teimosos; ao abrir, escapava lá de dentro um cheiro a mofo
encurralado durante séculos; o fio de prata que o segurava, muito delicado e
fino, era colocado ao meu pescoço todos os dias antes de sair de casa, para

                                                                             2
uma correria confortante: apenas quinze minutos atrasada… Como diria a
minha prezada amiga Anne Marie – ce n’est pas grave, juste à temps!
         Pouco tempo depois, sentei-me vagarosamente na esplanada do café da
Graça, diante de um quadro urbano-naturalista. Era um verdadeiro refúgio
campestre com vista para a cidade! As árvores dançavam com a brisa fresca e
suave; a sombra derrotava o calor áspero; os passarinhos cantavam
subtilmente; aquele repouso solitário num dia de greve, vinha mesmo a calhar;
o panorama dos prédios e telhados cansados era esplêndido; ao longe, do lado
esquerdo, via-se o Castelo de S. Jorge sempre com a elegância majestosa de
um cavaleiro; uma porção de Tejo sorria e brilhava como se se quisesse
designar no meio do urbanismo lisboeta; a ponte Vinte Cinco de Abril, a
escassos metros, suplementava a paisagem… Foi das mais importantes obras
feitas em Portugal, um verdadeiro investimento pago. As pontes de agora são
os estadiosinhos de futebol, um péssimo investimento não pago, que entretém
os nauseabundos dos portugueses que passam a vida a queixar-se que lhes
pagam salários de pechincha.
         De repente apareceu um belo garçon muito alto, todo apertado na sua
libré preta e elegante, uma face apetecível, com os seus olhos verdes,
redondos e simpáticos, sorriu-me e numa voz plácida disse:
         – Bom-dia, menina, o que vai desejar?
         Era jeitosinho, uma novidade naquele lugar. Então, com um olhar lotado,
respondi-lhe amavelmente:
         – A xícara de chá preto e o croissant de chocolate do costume!
         Era um consolo, um refrigério, um gozo estar ali. Viajava até àquele
miradouro todas as manhãs, alguns dias a horas, outros um pouco atrasada.
Era o meu compromisso mais importante do dia.
         O jovem empregado, com os seus esplêndidos caracóis de ouro,
regressou à mesa onde eu estava, mas agora com o meu pedido em cima de
um tabuleiro de plástico verde-escuro. Colocando delicadamente a xícara de
chá preto e o prato com o meu delicioso vício, olhou para mim novamente e
disse:
         – Aqui tem o seu pequeno-almoço. Bom apetite!




                                                                              3
Agradeci, consolada. Era muito prestável e simpático… Não podia
desejar melhor coisa do que aquela em que estava metida, depois de ter quase
morrido num ardor sufocante no dia dos amuos dos funcionários públicos.
      Por instantes, interrompi o meu pensamento para me lançar ao delicioso
croissant. Por fora era de uma massa estaladiça; os pequenos pedaços de
revestimento crocante caíam para a roupa a cada dentada extaseante; o miolo
muito mole recheado de um cremoso chocolate de leite, com um intenso aroma
adocicado; a cada apertadela, deslizavam pelos cantos, açucarados e finos fios
castanhos-claros. O odor quente do croissant acabado de sair do forno
misturava-se com o cheirinho perfumado do chá preto, servido numa chávena e
pires de Vista Alegre.
      Rodeada de toda aquela calmaria, decidi retirar da mala o meu diário
gráfico onde poderia registar aquele dia que começou desastroso, mas não…
Não queria desenhar, antes preferi pegar no meu bloco de notas e ler poemas
de Florbela Espanca, cheios de palavras inconstantes.
      Com algumas interrupções do garçonzinho permaneci naquela cadeira
de ferro trabalhado.


      O antigo relógio sonolento já dava seis horas da tarde. Já era tempo de
regressar a casa! Como a greve duraria as vinte e quatro horas, depois do
eléctrico teria que apanhar o metropolitano. Só pensar nisso deixou-me logo
mal disposta.
      Todavia era a única solução visitar aquele degredozinho, onde as
pessoas esfomeadas pelos lugares entram a empurrar o meio mundo que está
à sua frente; esborrachados uns nos outros, a levar com o cheiro suado de
algumas criaturas; mesmo no meio da confusão empilhada de gente, há uns
que atendem os seus telemóveis aos gritos, como se alguém quisesse saber
da conversa; é um verdadeiro quadro de Picasso, mas sem a beleza da sua
pintura; as faces da multidão, que dificilmente se vêem devido ao aperto, estão
frustradas e chateadas; quando as portas antipáticas do metropolitano lisboeta
se abrem, a multidão parece uma praga de formigas andando tão ferozmente
como se estivessem a fugir de um gigante.




                                                                             4
O fim da tarde estava quente, mas agora com uma leve brisa de ar
fresco. Já estava a chegar ao degredozinho, quando um carro vermelho onde a
luz da tarde incidia brilhante e faustosa parou ao meu lado. Por de trás de um
vidro luzidio meio aberto, ao som da Sinfonia quarenta de Mozart, uma voz
delicada soou:
        – Boa-tarde, menina, quer boleia?
        Continuei a andar sem dar ouvidos a tal ousadia. Mas um impulso
assustadoramente corajoso fez-me parar. Quando olhei para trás lá estava ele,
o garçon do café da Graça, com a sua cabecinha bordada de caracóis radiosos
de fora do vidro. Estava mais bonito que nunca, um verdadeiro deus Apolo;
com a beleza atordoadora e de uma perfeição artística e inspiradora;
atravessou por mim um desejo profundo de parar aquele momento
eternamente; a sua graciosidade era purificadora; o olhar verde penetrante
carregado de equilíbrio e harmonia; o ar místico acelerava o coração, fazia um
formigueiro apaixonado na barriga; era divino, com a sua facezinha soberana
de um príncipe da Renascença.
        Voltei atrás, até onde estava o carro vermelho formoso, alguma coisa me
dizia que podia agarrar-me à confiança que sentia naquele momento celestial.
        – Boa-tarde, garçon, se não lhe causasse grande incómodo…
        Soltando um sorriso encandeante:
        – Qual incómodo? Entre ou então vai perder uma grande oportunidade…
Em dias de greve, só com o metropolitano a funcionar, nunca mais chegará a
casa!


        Eram oito horas da noite quando o carro estacionou à porta do meu
prédio tipicamente do século XIX, com algumas reconstruções em cima. No
escuro suave, a luz das estrelas iluminava a noite!
        – Já chegámos. Boa-noite, menina!
        – Obrigada. Boa-noite, garçon.
        Saí calmamente da viatura, fechei a porta delicadamente. Andei uns
metros e voltei-me para trás… Acenei um “até à próxima”, deixando o carro
desaparecer pelas avenidas.




                                                                               5

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Um dia de greve na cidade de Lisboa

  • 1. Débora Pequito 11 I Numa terça-feira de Abril o dia acordava com a agitação típica do meio urbano, mas era um dia vulgarmente especial: os transportes públicos, à excepção do metropolitano e de alguns autocarros, estavam em greve estéril e a previsão meteorológica aludia para um dia de muito calor. Assim, começava a revelar-se aquele que iria ser o pior dia da minha vida! O ideal seria hibernar em dias como este, em que Portugal, imbuído no asco decide parar os meios necessários para levar todo o tipo de pessoas ao seu destino. Já que não sabem fazer greves e que todos são imunes ao espírito revolucionário, com medo de serem prejudicados pela PIDE Socratesiana, ficavam quietos e poupava-se reboliço. Porém, tive que fazer o sacrifício suicida de sair à rua e ver mais uma vez, no que este país, de achados magnificentes, se tornou. Estava pronta para me ir embora, quando voltei a sentir uma vontade irresistível de ficar em casa, mas sabia que tinha de fugir à atitude mais sensata. Então, corri rapidamente para a porta, saí calmamente e entrei no elevador. Desci oito andares dentro de quatro paredes de madeira de mogno; envolvida num ambiente pachorrento e ávido; o chão era em alcatifa embebida de um verde requintado; havia duas portas: uma exterior, de branco mal pintado, e outra interior, leve e gradeada de metal polido para se mover tanto para a esquerda como para a direita; um odor refrescante, que entrava pelas fissuras do tecto corroído pelo tempo, congelava o coração padecido, provocando dores no peito a cada momento de inspiração, como se estivesse a levar facadinhas; a luz era amarelada e incidia sobre um espelho sujo de dedadas, partido do lado direito; havia uma música suave, que provocava irritação; os botões já velhos, que piscavam consoante o andar escolhido, permaneciam encantadores, com o seu contorno dourado faiscante; é um bom espaço para permanecer sem companhia e reflectir sob a lentidão com que se movimenta o mecanismo. Este espaço é muito mais do que um lugar de melancolia, às vezes consegue ser aborrecido e inoportuno quando há partilha de recinto e se sucedem as típicas conversas de elevador. Mas é um luxo, uma verdadeira dádiva possuir uma antiguidade de épocas anteriores, sem qualquer vandalismo, em pleno século XXI. 1
  • 2. Tinha chegado ao andar térreo. Abri brutalmente a porta interior e de seguida empurrei a porta exterior, saindo a correr desalmadamente. Abri imediatamente a porta do prédio e mal passei o pé direito para o lado de fora, afoguei-me naquela maré de bafo cálido. Estava um dia de Verão, num mês de “águas mil”. Nas paragens dos autocarros, um aroma quente abraçava todas aquelas criaturas inertes; havia pessoas na rua de um lado para o outro, numa correria surpreendente para chegarem o mais rápido possível às suas viaturas; ao mesmo tempo, cheirava ao escape dos carros e os seus pneus rugiam no alcatrão monótono; o ruído das buzinas era cada vez maior; por causa da greve avistavam-se, ao longe, filas de tecnologia poluente; defrontava-me constantemente com idosos a passar com os seus animais de estimação vagarosamente e com pessoas de ar pesado e carrancudo andando muito depressa; as ondas de calor embaciavam a paisagem iluminada pelo Sol; o céu estava carregado de azul límpido. Agora que estava na rua, com todo o caos instalado na capital, o tempo voava velozmente agarrando as horas e levando-as consigo, como as águias de rapina quando caçam as suas presas. Continuando o meu caminho apressadamente, deparava-me com todo o tipo de raças racionais, uma verdadeira salada russa de cores; via-se gente suada e ofegante como se estivesse prestes a derreter. Vivia-se nesse dia um verdadeiro Inferno. Só me lembrava da frase que a minha avó me dizia – Há males que vêm por bem! As horas pareciam contagiadas por todo aquele ambiente de correria; eu com mais celeridade estava cansada e muito vermelha, todo o meu corpo se incendiava numa chama inapagável; queria abrandar, parar e descansar por uns instantes, mas não podia. A estação do metropolitano ainda estava longe. O dia estava a ser desastroso! Finalmente tinha chegado e num suspiro descansado, olhei para o meu relógio de gerações, oferecido pela minha mãe quando eu era mais nova; dentro de uma caixa redonda de prata lustrosa, estavam os ponteiros sábios, já perros e teimosos; ao abrir, escapava lá de dentro um cheiro a mofo encurralado durante séculos; o fio de prata que o segurava, muito delicado e fino, era colocado ao meu pescoço todos os dias antes de sair de casa, para 2
  • 3. uma correria confortante: apenas quinze minutos atrasada… Como diria a minha prezada amiga Anne Marie – ce n’est pas grave, juste à temps! Pouco tempo depois, sentei-me vagarosamente na esplanada do café da Graça, diante de um quadro urbano-naturalista. Era um verdadeiro refúgio campestre com vista para a cidade! As árvores dançavam com a brisa fresca e suave; a sombra derrotava o calor áspero; os passarinhos cantavam subtilmente; aquele repouso solitário num dia de greve, vinha mesmo a calhar; o panorama dos prédios e telhados cansados era esplêndido; ao longe, do lado esquerdo, via-se o Castelo de S. Jorge sempre com a elegância majestosa de um cavaleiro; uma porção de Tejo sorria e brilhava como se se quisesse designar no meio do urbanismo lisboeta; a ponte Vinte Cinco de Abril, a escassos metros, suplementava a paisagem… Foi das mais importantes obras feitas em Portugal, um verdadeiro investimento pago. As pontes de agora são os estadiosinhos de futebol, um péssimo investimento não pago, que entretém os nauseabundos dos portugueses que passam a vida a queixar-se que lhes pagam salários de pechincha. De repente apareceu um belo garçon muito alto, todo apertado na sua libré preta e elegante, uma face apetecível, com os seus olhos verdes, redondos e simpáticos, sorriu-me e numa voz plácida disse: – Bom-dia, menina, o que vai desejar? Era jeitosinho, uma novidade naquele lugar. Então, com um olhar lotado, respondi-lhe amavelmente: – A xícara de chá preto e o croissant de chocolate do costume! Era um consolo, um refrigério, um gozo estar ali. Viajava até àquele miradouro todas as manhãs, alguns dias a horas, outros um pouco atrasada. Era o meu compromisso mais importante do dia. O jovem empregado, com os seus esplêndidos caracóis de ouro, regressou à mesa onde eu estava, mas agora com o meu pedido em cima de um tabuleiro de plástico verde-escuro. Colocando delicadamente a xícara de chá preto e o prato com o meu delicioso vício, olhou para mim novamente e disse: – Aqui tem o seu pequeno-almoço. Bom apetite! 3
  • 4. Agradeci, consolada. Era muito prestável e simpático… Não podia desejar melhor coisa do que aquela em que estava metida, depois de ter quase morrido num ardor sufocante no dia dos amuos dos funcionários públicos. Por instantes, interrompi o meu pensamento para me lançar ao delicioso croissant. Por fora era de uma massa estaladiça; os pequenos pedaços de revestimento crocante caíam para a roupa a cada dentada extaseante; o miolo muito mole recheado de um cremoso chocolate de leite, com um intenso aroma adocicado; a cada apertadela, deslizavam pelos cantos, açucarados e finos fios castanhos-claros. O odor quente do croissant acabado de sair do forno misturava-se com o cheirinho perfumado do chá preto, servido numa chávena e pires de Vista Alegre. Rodeada de toda aquela calmaria, decidi retirar da mala o meu diário gráfico onde poderia registar aquele dia que começou desastroso, mas não… Não queria desenhar, antes preferi pegar no meu bloco de notas e ler poemas de Florbela Espanca, cheios de palavras inconstantes. Com algumas interrupções do garçonzinho permaneci naquela cadeira de ferro trabalhado. O antigo relógio sonolento já dava seis horas da tarde. Já era tempo de regressar a casa! Como a greve duraria as vinte e quatro horas, depois do eléctrico teria que apanhar o metropolitano. Só pensar nisso deixou-me logo mal disposta. Todavia era a única solução visitar aquele degredozinho, onde as pessoas esfomeadas pelos lugares entram a empurrar o meio mundo que está à sua frente; esborrachados uns nos outros, a levar com o cheiro suado de algumas criaturas; mesmo no meio da confusão empilhada de gente, há uns que atendem os seus telemóveis aos gritos, como se alguém quisesse saber da conversa; é um verdadeiro quadro de Picasso, mas sem a beleza da sua pintura; as faces da multidão, que dificilmente se vêem devido ao aperto, estão frustradas e chateadas; quando as portas antipáticas do metropolitano lisboeta se abrem, a multidão parece uma praga de formigas andando tão ferozmente como se estivessem a fugir de um gigante. 4
  • 5. O fim da tarde estava quente, mas agora com uma leve brisa de ar fresco. Já estava a chegar ao degredozinho, quando um carro vermelho onde a luz da tarde incidia brilhante e faustosa parou ao meu lado. Por de trás de um vidro luzidio meio aberto, ao som da Sinfonia quarenta de Mozart, uma voz delicada soou: – Boa-tarde, menina, quer boleia? Continuei a andar sem dar ouvidos a tal ousadia. Mas um impulso assustadoramente corajoso fez-me parar. Quando olhei para trás lá estava ele, o garçon do café da Graça, com a sua cabecinha bordada de caracóis radiosos de fora do vidro. Estava mais bonito que nunca, um verdadeiro deus Apolo; com a beleza atordoadora e de uma perfeição artística e inspiradora; atravessou por mim um desejo profundo de parar aquele momento eternamente; a sua graciosidade era purificadora; o olhar verde penetrante carregado de equilíbrio e harmonia; o ar místico acelerava o coração, fazia um formigueiro apaixonado na barriga; era divino, com a sua facezinha soberana de um príncipe da Renascença. Voltei atrás, até onde estava o carro vermelho formoso, alguma coisa me dizia que podia agarrar-me à confiança que sentia naquele momento celestial. – Boa-tarde, garçon, se não lhe causasse grande incómodo… Soltando um sorriso encandeante: – Qual incómodo? Entre ou então vai perder uma grande oportunidade… Em dias de greve, só com o metropolitano a funcionar, nunca mais chegará a casa! Eram oito horas da noite quando o carro estacionou à porta do meu prédio tipicamente do século XIX, com algumas reconstruções em cima. No escuro suave, a luz das estrelas iluminava a noite! – Já chegámos. Boa-noite, menina! – Obrigada. Boa-noite, garçon. Saí calmamente da viatura, fechei a porta delicadamente. Andei uns metros e voltei-me para trás… Acenei um “até à próxima”, deixando o carro desaparecer pelas avenidas. 5