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1 - PRIMEIRO ENCONTRO
- Maria, vou sair e dar uma volta, não me
espere ”pra janta”, deixa que eu me viro quando chegar. -
Disse Francisco já na porta pronto para sair, todos os dias
ele comia um lanche rápido saia e voltava logo para o
jantar, mas as quartas feiras eram preocupantes para
Maria, era sempre madrugada quando escutava o patrão
chegando.
- Toda vez é a mesma coisa "seu Chico", o
senhor sai e parece que não volta nunca. O senhor sabe
que eu não durmo enquanto o senhor não volta.
A preocupação de Maria tinha fundamento. A
chácara onde moravam ela e o patrão situava-se em local
muito isolado e afastado da cidade. Nunca presenciaram
nada suspeito, mas os rumores eram muito fortes.
Principalmente as histórias de almas penadas que ouvia, e
Maria se impressionava demais com os relatos de
fantasmas que frenquentavam a região. Alguns que
arriscaram andar pelas estradinhas à noite juravam ter
ouvido vozes que partiam do meio da mata e das poucas
clareiras que existiam por ali. Ficava verdadeiramente
petrificada a cada historia contada, indo imediatamente
falar com o patrão sobre o assunto. Francisco divertia-se
com os relatos e limitava-se a tentar acalmar a secretaria
e amiga. Fazia questão de chamá-la de secretária ao invés
de doméstica, pois não gostava deste termo, e procurava
sempre tratar todas as pessoas com toda igualdade
possível. De tanto ouvir os medos de Maria um dia
resolveu tentar esclarecer o assunto.
- Fantasmas e alma penada como as pessoas
imaginam não existem, Maria, o que existe são pessoas
como nós, mas que vivem em uma dimensão diferente.
- Algumas poucas pessoas conseguem vê-los e
ouvi-los, mas a grande maioria não. Tá entendendo?
- Uhum... Dizia Maria, boca aberta, parecendo
meio abestalhada. - Outra dimensão!?!...
- Sim, outra dimensão, mas não se preocupe
com isso agora, depois te explico isso melhor. Por agora
quero que saiba que não precisa se preocupar com essas
histórias. Esses ”fantasmas” não vão lhe causar mal
algum. Tudo bem?
- Tudo bem...- E saia Maria, tão incrédula
quanto antes.
Enquanto andava, Francisco relembrava dessas
conversas que tinha com sua secretária e ria sozinho de
suas reações. Precisava explicar melhor essas coisas a
ela, mas não sabia como. Maria era católica fervorosa e
não compreendia nunca as coisas que o patrão dizia. -
Essas coisas não existem ”seu Chico”, são crendices do
povo... O senhor não devia dar ouvidos ao falatório do
povo. - Dizia sempre ela.
- Vou pedir ajuda aos meus amigos. - Disse em
voz alta como se precisasse que eles ouvissem o que
pensava. A caminhada até o seu objetivo não era longa,
mas gostava de andar devagar enquanto pensava em
todos os encontros, desde os dois primeiros. Foram os
mais emocionantes e mais marcantes de todos, por tudo
que viu e o que sentiu naquelas noites. Não esperava
presenciar tudo aquilo, mesmo intuindo que todas as
coisas do universo poderiam ser daquela forma, que a
evolução seria mais ou menos da forma como sempre
imaginou. O espiritismo o ensinou que a evolução é
contínua e que a distância que nos separa da morada do
Pai é infinitamente grande. Ensinou que são muitos os
mundos habitados, e que são muitos também os mundos
que habitaremos. O que vinha conhecendo desde aquelas
noites até hoje era muito mais do que poderia supor. Se
contasse ninguém acreditaria, e era justamente o que não
conseguia fazer. Havia sido instruído a guardar segredo
por enquanto, e seguia fielmente como se fosse um
segredo muito importante que não devesse ser revelado.
A primeira experiência vinha-lhe novamente à
lembrança. Era uma noite de caminhada como todas as
outras, e apesar de ser sempre igual, o prazer que sentia
era sempre diferente. Cada detalhe no céu estrelado, cada
pedra no caminho, cada ramo de vegetação, cada ruído
dos animais e insetos noturnos formavam uma sinfonia
diferente a cada dia. Não se cansava de observar, de
contemplar, de agradecer ao Pai maior a oportunidade de
fazer parte daquele concerto. Caminhava sempre
calmamente sem preocupação e sem pressa, pois tinha
plena certeza da proteção e companhia de entidades
superiores ao seu lado. Não sabia de onde vinha essa
certeza, sabia apenas que estavam sempre ali. Houve
muitas situações difíceis durante a vida em que tivera
essa mesma certeza, e aprendera a acreditar na proteção e
na providencia divina. Naquela noite porém algo novo
acontecia, uma energia nova que nunca sentira, presenças
que de tão marcantes provocavam sensações
desconhecidas, emoções jamais descritas. Uma certeza:
nada daí em diante seria igual como antes. Era como
pressentir o rumo novo que a vida tomaria. Porém,
confundiu essa sensação com um pressentimento ruim e
um calafrio percorreu seu corpo inteiro.
- Tem alguém aí?... A voz saíra com um misto
de medo e vergonha pela reação impensada. - Não tenho
nenhum tipo de arma, valor ou documento!!! - Silêncio.
Continuou caminhando, agora mais cauteloso. Voltar!!!
Não conseguia.
- Melhor continuar até o lugar de sempre!- A
idéia veio como que soprada em seu ouvido, já que não
concatenava com nada. Riu da infantilidade de seu medo.
Sua intuição dizia para não ter medo, que a imaginação é
que estava lhe pregando uma peça, afinal de contas quem
iria aparecer naquele fim de mundo onde não tinha nada
de valor que se aproveitasse. Continuou seu caminho um
pouco mais rápido, inconscientemente, chegando logo ao
seu destino.
A clareira que visitava sempre não era grande, e
podia ser acessada por uma pequena trilha escondida na
mata, que vinha da estrada que dava acesso à sua
chacrinha. Era coberta de grama e tinha um tronco de
árvore enorme em um dos lados, e nos outros lados
pequenos montes, também gramados, parecendo tudo ter
sido feito de propósito para reuniões privadas. - Se eu
fosse construir isso não ficaria tão bom. Pensou
Francisco admirando o local. - Isso tem a mão de vocês,
não é? Pensava ele sempre sem receber resposta. - Não
importa, o que importa é que estamos aqui todas as
quartas, como foi pedido.
No local já estavam Júlio e Mario,
concentrados, já em meditação. Acomodou-se no lugar
de sempre e, em silêncio, pôs-se a meditar. Uma das
condições para que a reunião se concretizasse é que os
três deveriam desligar-se totalmente do mundo externo,
suas mentes deveriam formar uma só interagindo com o
local e o momento. No começo foi muito difícil.
Francisco lembrava o primeiro dia enquanto se
concentrava na reunião.
Nenhum dos três se conhecia, nunca tinham se
visto antes ou trocado mensagens ou combinado qualquer
coisa que fosse. E no entanto, naquele dia os três
chegaram ao local exatamente no mesmo momento, com
a mesma intenção e movidos pelo mesmo estranho
chamado que ecoava em suas mentes. Sendo todos
espíritas, logo concluíram ser instrução dos mentores e
imaginavam o que poderiam querer os espíritos com
alguém tão sem importância como eles. - Estranho -
diziam eles - como pensamos todos exatamente a mesma
coisa. Mesmo não sendo médiuns ostensivos recebemos
instruções específicas, tão nítidas que era como se
alguém falasse ao nosso lado.- Essa era a experiência
mais magnífica que alguém poderia passar, e os três a
estavam passando. Estavam assim trocando impressões
quando foram chamados e convidados a sentar.
- Irmãos Francisco, Julio e Mario, sejam bem
vindos. Que a paz esteja com todos nos aqui e sempre.
Por favor, vamos nos acomodar.
Ainda surpresos com a chegada inesperada
daquele homem sentaram-se cada um em um lado do
círculo. Ele era bem alto de porte físico atlético, cabelos
e olhos bem claros e vestia-se como um religioso, sua
roupa parecendo mais um manto enorme cobrindo o
corpo e arrastando pelo chão, deixando aparecer apenas a
cabeça, e uma silhueta mal definida mostrava outro tipo
de vestimenta por baixo do manto. Francisco foi o
primeiro a falar.
- Nos assustou... Não esperávamos mais
ninguém... Não o vimos chegar, por onde o Sr veio?-
Francisco falava com um pouco de dificuldade mas era
objetivo. - O Sr é padre?
- Não sou padre, sou um amigo de longo tempo,
embora não lembrem, logo entenderão tudo o que está
acontecendo. Por enquanto peço que fechem os olhos,
façam uma oração particular invocando a espiritualidade
superior, se desliguem do mundo e concentrem-se apenas
o local que estamos agora. Isso é extremamente
importante para o início de nossa reunião, e deverá ser
feito sempre.
Pedir era uma coisa, mas conseguir era outra
bem diferente. O receio e a curiosidade extrema
torturavam os três recém conhecidos, que não alinhavam
os pensamentos e não encontravam respostas para as
milhares de perguntas que se acumulavam na cabeça. Ao
invés de se concentrarem, olhavam de um para o outro
tentando encontrar um ponto de apoio que os
convencesse a ficar ali. Tentando aquietar o grupo recém
formado o estranho visitante disse:
- Não tenham nenhum receio por estarem aqui
neste local afastado e deserto. Posso assegurar-lhes que
aqui jamais alguém poderá fazer mal a vocês ou a quem
quer que seja, nem eu se quisesse nem ninguém, repito.
Esse momento vem sendo preparado há muito tempo,
mais do que vocês podem imaginar, asseguro-lhes, e os
três já tiveram participação nesta preparação. Apenas não
conhecem a profundidade da tarefa nem seu conteúdo
nem objetivo. Apaziguem seus corações e entrem em
sintonia com o Mais Alto para que se inicie a mais bela
revelação jamais feita neste mundo.
Passou-se ainda mais de meia hora para que a
entidade se desse por satisfeita e desse início à tarefa.
Neste momento então era como se tudo tivesse tomado
um formato diferente, como se a noite tivesse
desaparecido apesar de o céu apresentar o maior
espetáculo jamais visto, como se todos os astros, toda a
natureza toda a humanidade tivesse parado e se reunido
para assisti-los, como se a vida se tornasse música para
celebrar aquele momento e todos os outros que estavam
por vir. Tudo era belo, tudo era mágico, tudo era divino.
- Irmãos! Alegrem-se pois é chegado uma nova
era. Eis o momento aguardado por muitos, e temido por
outros tantos. Eis o momento de a humanidade terrena
entrever o que aguarda aqueles que seguem os conselhos
sutis do Divino Mestre. Eis o momento de conhecer o
destino do joio e do trigo. - As palavras daquele homem
tinham uma profundidade tão grande quem ninguém se
atrevia a interromper. O momento era tão grandioso que
de repente tudo que era conhecido deixou de fazer
sentido e o novo se tornou a estrela guia daqueles
homens.
- Não pensem jamais em eleitos enviados do
Pai, pois aqui não há mais do que iguais na atual jornada
que se segue, somos como irmãos de uma mesma família
em que um inicia as primeiras letras e o outro ensaia o
primeiro namoro com a escolhida de seu coração. Abaixo
e acima ainda existe uma infinidade de outros irmãos
igualmente estradeiros da mesma jornada.
Essas palavras encerraram aquele momento de
ostentação e como por milagre, todo o ambiente tornou-
se como um só organismo, sem desvios, sem barreiras,
sem distúrbios. Como um mecanismo perfeito pronto
para funcionar quando preciso. Logo o estranho amigo
começou a falar, iniciando as apresentações.
- Meus amigos, nesta noite se inicia uma nova
página nos livros da evolução da humanidade terrestre.
Como membros da corte universal que ainda engatinham
rumo ao topo da árvore da vida, terão a partir deste
momento um novo motivador para que essa evolução
possa se acelerar. O Pai Maior, na grandiosidade de sua
bondade, permitiu que lhes fosse dado um novo
conhecimento, uma nova oportunidade de visualizarem o
verdadeiro caminho que já foi mostrado inúmeras vezes,
e que foi iniciado por nobilíssimo irmão, conhecido entre
vós por Jesus o Cristo. Com o passar dos tempos,
inúmeros lembretes lhes foram dados por irmãos que
reencarnaram entre vós com a nobre missão de renovar o
conhecimento dos segredos da vida eterna, e dos
caminhos necessários para que todos possam alcançá-la.
Mas os trabalhadores das trevas quando não desvirtuam
as palavras, os fazem com os seguidores do cordeiro
aproveitando-se da inocência de sua fé. Como sabem a
separação do joio e do trigo já esta sendo concretizada, e
aos cegos e surdos será dado o choro e o ranger de
dentes, e aos que têm olhos de ver e ouvidos de ouvir,
leite e mel os esperam na mesa divina.
Neste momento nosso amigo estava com os
olhos voltados ao alto, como se todo seu ser estivesse
ligado a todo aquele grandioso e iluminado céu, que mais
parecia um enorme refletor formado de milhares de
milhões de lâmpadas. A beleza era de tirar o fôlego. Os
três convidados estavam estáticos, não se atreviam a
fazer um movimento sequer, nenhum comentário lhes
vinha à cabeça, as verdades ouvidas eram tão profundas
que não era preciso. Limitavam-se a esperar pela
continuidade da oratória. Depois de alguns instantes
continuou nosso amigo.
- Primeiro é necessário que nos apresentemos.
Não sou conhecido entre vós, apesar de ter já
reencarnado muitas vezes em seu mundo, todas elas sem
que fosse necessário guardar nome à posteridade, mas as
últimas me deram a grata alegria de ascender a mundos
um pouco melhores, e o prazer de servir em missões
como essa que agora espero cumprir conforme a vontade
do Pai. Podem me chamar de José, sem com isso associar
esse nome a qualquer personagem da sua história, pois é
um nome fácil de lembrar já que o nome pelo qual sou
conhecido em meu meio não é importante, e além disso
dificilmente poderá ser associado a outro qualquer do
mundo invisível. Em resumo, prefiro ficar incógnito.
Resolvido este ponto, continuemos pois o tempo é curto e
a tarefa nos espera.
Antes que José pudesse continuar, Francisco
não se conteve e quis saber de do novo amigo porque
justamente ele estava ali, já que haviam tantas pessoas
mais gabaritadas do que ele para receberem as novas
mensagens.
- Não quero parecer ingrato mas me parece que
há no mundo pessoas mais qualificadas do que eu para
estarem aqui!
- Também acho.- Responderam Júlio e Mário
quase ao mesmo tempo.
- Já lhes disse, há muito tempo este momento
vem sendo preparado pelo Mais Alto, e todos nós
tivemos participação ativa nesta preparação, inclusive
vós que estais aqui agora. Não teria sentido trazer outros
que não tivessem participação nesta preparação, apesar
de haver muitos merecedores, mas cada coisa tem que vir
a seu tempo. Agora, continuemos.
José ficou um tempo muito curto observando os
três e continuou.
- Minha apresentação de vós que estais aqui
agora poderá justificar a escolha que se efetiva neste
momento, era de se esperar esta reação que apresentastes,
meus amigos Francisco, Júlio e Mário. Era esperado que
vós cumprísseis as promessas de outrora na presente
encarnação, mesmo porque eram tarefas simples mas
recheadas de armadilhas, tão simples quanto o contar dos
dedos e tão traiçoeiras quanto o olhar da medusa. Júlio
durante sua vida atual esteve cercado de poder e sedução
que o mundo pode oferecer. Na formação escolar abriu
mão do sucesso em favor de amiga necessitada, à qual
restaria somente dor e humilhação de família ingrata caso
não conquistasse sucesso escolar, fato que resultou na
preservação da auto estima da companheira, que se
tornou extremamente grata até os dias de hoje. No início
da profissão engajou-se na tarefa de preservar a ética e a
moral conquistando aliados de calibre na construção de
normas infalíveis na rotina trabalhista com objetivo de
preservar os direitos dos trabalhadores. Não só batalhou a
vida toda em prol dos que estavam à sua volta, como
levou a muitos a seguir a mesma trilha, espelhando-se em
suas atitudes firmes e virtuosas. Principalmente a
companheira do ginásio, que se tornou por toda a vida a
companheira de todos os momentos. Naquele tempo, se
tivesse tomado uma atitude diferente, teríamos perdido
uma alma e várias outras para as fileiras do orgulho e do
egoísmo.
No pequeno intervalo que se fez todos podiam
sentir a emoção que tomava conta de Júlio. Não tinha
noção de que essas coisas poderiam ser levadas tão em
conta.
- Mario, companheiro já de várias lutas, como
mestre na ciência de administrar cumpriu com perfeição
a missão, fazendo da arte de ensinar um canal para que
todos os seus pupilos conhecessem a fundo o poder da
ética, da moral, da humildade e do altruísmo não somente
no exercício da profissão, mas também em toda a vida na
relação com o ser humano. Seu exemplo será seguido por
toda a posteridade e abrirá caminho para a nova forma de
dirigir o ensino em todos os estabelecimentos. Não só na
profissão mas também na intimidade teve o prazer de ver
seu exemplo sendo seguido. Esposa e filhos se antes
eram desconfiados, arredios, e avessos ao mundo, agora
seguem o exemplo do pai e esposo.
Mario também ficou emocionado e meio
confuso com a exposição que acabara de ouvir. Não se
lembrava de o seu ensino ter sido tão diferente assim,
apenas tentou passar a todos o que aprendera desde
criança.
- Finalmente Francisco, meu caríssimo irmão,
amigo e companheiro de muitas lutas. Tive o prazer de
vê-lo colocar em prática tudo aquilo que acumulamos em
todas as jornadas em que batalhamos juntos ou em
separado. Acompanhei-o durante muitas delas e o plantio
foi difícil e trabalhoso, porém, a colheita está sendo farta.
No decurso desta longa jornada em que nos engajamos
agora, tive a felicidade de vê-lo trazer para junto de si
muitos irmãos ainda em início de labuta, perdidos que
estavam no alinhamento de suas diretrizes e facilmente
impressionáveis com as seduções perniciosas que a vida
fácil pode oferecer. A consideração, o respeito, a
amizade, a igualdade e a alegria de viver foram
fundamentais para conquistar a confiança desses
pequenos irmãos, os quais, por não ficarem largados, não
se perderam nas teias traiçoeiras da iniquidade.
José fez um pequeníssimo intervalo e
continuou.
- Desapego, altruísmo, desejo de servir à justiça
e à verdade, respeito à vida e aos companheiros de
jornada e o amor ao próximo são o resumo do que se
apresenta aqui agora. Essas são virtudes esperadas a
muito na conduta da humanidade, mas as dificuldades na
jornada levou o homem a buscar a alegria transitória em
detrimento da felicidade celeste. Não há momento na
curta vida deste mundo em que faltou a intervenção
divina para que o homem acordasse da treva e buscasse a
luz, mas para sua infelicidade não soube enxergá-la e
segue precipitado rumo ao precipício. Mas o Pai que é
hábil a recolher todas as suas ovelhas perdidas, não
perderá uma só delas. Essa é uma verdade que está
escrita no livro da vida, e não há ser no universo que
possa apagá-la. Agradeçamos ao Pai pela oportunidade
do trabalho realizado com êxito até agora, pois a jornada
ainda é longa e muito ainda há a ser feito para que
possamos cumprir a tarefa programada com êxito.
A pausa que se fez deu a cada um dos presentes
a oportunidade fortalecer a ligação com O Mais Alto em
agradecimento pela nova oportunidade de ser útil.
Nenhum deles sabia bem porque estava ali. Sabiam, no
entanto, que algo grandioso os esperava, que uma nova
estrada se abriria à frente para conduzir a todos os que
fossem determinados e firmes na fé, a todos os que não
se deixassem abater nas armadilhas mundanas. Mario
deixou escapar um suspiro e uma colocação.
- Na verdade toda a humanidade espera
alcançar a divindade, a felicidade suprema, o mais alto
dos céus, sei que já passamos todos pelos mesmos
momentos dolorosos da queda e sei que somos ainda
bebês engatinhando rumo à realização suprema. Não
consigo entender porém porque tantos relutam tanto em
aceitar a verdade e abandonar o poço fundo em que se
colocaram?
- Aquele que não derrama suor e lágrimas no
arado não sabe o valor do pão que come. Quem quer
saciar a fome na ociosidade perece no peso da
inutilidade.
Esta advertência resumia bem a situação em
que se encontrava o homem. Não há dificuldade em sair
da lama e sim, de reconhecer que estamos nela. Francisco
também fez sua colocação.
- Parece difícil visualizar um mundo livre das
sombras que empanam a luz divina.
- Exatamente meu amigo, essa situação parece
distante mas o homem a verá. É certo que ainda passará
por muitas experiências, mas a verá.
- Algumas vezes vinha-me a impressão de
trabalho perdido.- Disse Júlio - Foram muitas as vezes
que ouvi de conhecidos que estava perdendo meu tempo
com pessoas que não mereciam um centavo de
consideração. Confesso que algumas vezes vinha-me o
pensamento de cuidar somente da minha vida.
- E sabiamente resistiu às insinuações de
espíritos ainda resistentes ao bem. Saibam que foram
constantemente assediados pelas sobras, assim como
acontece com toda a humanidade. Pena que são poucos
os que se dão conta disso, e mantêm a ligação sadia com
o Mais Alto.
- Sim, sabemos. - Concordaram os três.
- Também sentia constantemente essas
aproximações. - Disse Mario - E como Júlio, também tive
vontade de esquecer todos e tocar minha vida para frente.
- Mas o pior é que muitos dos que nos
assediam, muitas vezes são pessoas ou de nosso meio de
amizade ou de reconhecida formação espiritual. O que
faz com que muitos os sigam e poucos fiquem firmes na
fé. E raríssimas vezes conseguimos objetar e rebater estas
investidas.
- Dois pontos aqui devem ficar claros. -Disse
José- Primeiro, o mal procura sempre posições mais
elevadas, íntimas, ou de aparente moral elevada para
aliciar seguidores. Segundo, a melhor forma de rebater a
insinuação do mal é o exemplo e o trabalho firme no
bem. Algumas vezes perde-se a batalha, mas nunca a
luta. É importante deixar claro que o assédio contra o
bem existe em todos os níveis, não existe, no mundo
físico, um porto seguro livre das malhas trevosas, já que
nem o Mestre ficou livre da tentação. Por isso repito, o
trabalho é o antídoto contra a ociosidade do corpo e da
mente. Agora dando continuidade, encerraremos nossos
trabalhos por esta noite. Hoje tivemos oportunidade de
nos conhecermos e de palestrarmos um pouco a respeito
da vida. Nossas próximas reuniões acontecerão sempre
no mesmo dia e mesmo horário. Nem preciso dizer que é
imprescindível o rigor na presença e no nível moral
principalmente enquanto durar esta tarefa. Na próxima
reunião saberemos um pouco mais sobre ela. Não
encerraremos com oração pois a vida deve ser uma
constante oração, no pensamento, na atitude, na relação
com a vida e a natureza. Não deixem que a dúvida e os
sentidos mundanos traiam sua filosofia e suas diretrizes,
sejam sempre bons pela simples beleza de o ser. Vamos
em paz, e que Deus e o Divino Mestre nos acompanhem
sempre.
Enquanto José fazia a despedida um jato de luz
descia do céu e envolvia o círculo onde estavam os
quatro. Ao mesmo tempo José parecia desintegrar-se em
meio àquela luz. Tudo era silêncio à volta, e o silêncio
parecia cantar aos ouvidos dos que estavam presentes.
Nada se comparava a experiência que viviam naquele
momento, nem em sonhos, nem na realidade, nem nas
literaturas e nem nos casos que se contava nos centros
espíritas. Até o ar parecia parar para não obscurecer
aquele momento. Aquela música que não se ouvia mas
que penetrava em cada poro, marcou de tal forma a vida
daqueles personagens que se tornou presença constante,
como o ar para a vida, como Deus para os homens.
Durante um bom tempo os três ficaram ali absorvendo
cada detalhe daquele momento, para não perder nenhum
ponto por menos importante que fosse, para não escapar
nenhum gesto, para gravar em todos os conscientes e
inconscientes cada segundo daquele encontro, cada
palavra dita, cada olhar, cada suspiro, cada sorriso e cada
lágrima de compreensão e agradecimento.
2 - NA CASA DE FRANCISCO
Aos poucos tudo foi se aquietando, tudo foi
voltando ao seu normal, com o céu limpo e brilhante, o ar
voltando a circular com uma brisa fresca e agradável, os
sons da mata, o cricrilar dos grilos, algazarra dos bichos,
a melancolia dos pássaros noturnos, tudo parecia acordar
de um pequeno repouso proposital a respeitar a presença
daqueles seres superiores cuja aparição trouxe consigo
equilíbrio e paz à floresta. Nem de longe poderia supor a
importância daquele espetáculo, qualquer estranho que
ali aparecesse naquele momento.
O mais estranho é que realmente ninguém
percebeu a menor interferência durante o tempo em
estavam ali. Era engraçado pois sempre tinha alguém
passando por aquela estrada, e com certeza ouviria as
vozes vindas do meio da mata. Francisco levantou-se e,
acompanhado pelos outros dois, afastou-se da clareira
caminhando devagar rumo à estrada. Os três limitaram-se
a ficar observando o céu pensando, cada um a sua
maneira, o que os reservava as potências celestes. Não
tinham a menor idéia de o porquê estar ali, apenas sabiam
que algo importante iria acontecer. Francisco foi o
primeiro a interromper os pensamentos.
- Estava pensando, o que será que nos espera no
futuro, não consigo parar de pensar nisso.
- Acho que nos será revelado alguma coisa
muito importante, segundo o que entendi.- Disse Mário.
- Também acho.- Completou Júlio - Você o que
acha Francisco?
- É, José comentou que conheceremos o futuro
daqueles que seguem os ensinamentos de Jesus.
- E dos que não seguem também.
- Exato, e isso me deixa meio incomodado. Não
gosto de saber dessas coisas de catástrofe, de fim de
mundo, etc.
- Não acho que ele se referia ao fim do mundo.
- Disse Júlio - Pra mim é mais o destino dos que
insistem no mal do que outra coisa. Afinal, como
sabemos já, nosso mundo está em vias de se tornar um
mundo de regeneração, apenas acho que isso ainda
demora um pouco.
- Você tem razão. - Emendou Francisco - Mas
eu acho que não demora, lembro e José também
comentou, que a separação já começou. Muitos espíritos
já nos comunicaram que o destino da humanidade já está
traçado, existe muita literatura sobre esse assunto.
- É verdade. - Mário concordou - Mas o que
estou querendo saber agora é como estamos os três aqui,
e nunca nos vimos antes dessa noite? Costumo sempre
andar por aqui e nunca os vi!
- É, também estou curioso pra saber. Acho que
deveríamos nos encontrar para conhecermos um pouco
sobre nós mesmos. - Disse Francisco - Tenho uma
pequena chácara no final da estrada à esquerda, minha
secretária esta de folga no final de semana. Poderemos
nos encontrar no sábado para conversarmos. Ela é
católica fervorosa e não quero confundi-la com assuntos
espíritas.
- Também tenho uma chacrinha no final dessa
estrada! - disse Júlio.
- Eu também! - Completou Mário - Não é
possível! Moramos um do lado do outro e não nos
conhecemos! Isso é que é ser bom visinho, não é
Francisco?
- É, acho que temos muito que conversar...
Rapidamente chegaram a suas casas.
Combinaram de se encontrar no sábado na hora do
almoço e despediram-se. Francisco ficou parado na
entrada de sua chácara observado enquanto seus dois
novos amigos se distanciavam. Realmente eram visinhos,
pois logo viu que cada um entrava em um portão, um
bem próximo de sua cerca e o outro em frente mais pro
final da estrada. Não era muito de sair a não ser quando
ia para a cidade rever alguns amigos ou parentes. Talvez
por isso não conhecesse ninguém por ali, além do fato de
morar na chácara há pouco tempo. Olhou no relógio e se
espantou pois pensava ser bem mais tarde. Engraçado
isso, jurava ter ficado a noite toda fora, com certeza
Maria ainda estava acordada. Ficou ainda um pouco fora
de casa sentado em um banco de madeira apreciando a
noite, uma vez que não sentia sono. Não conseguia dar
um rumo aos pensamentos. Sempre se considerou senhor
de si em tudo o que se referia à espiritualização e destino
da humanidade, porém agora novas idéias jorravam,
muitas suposições e nenhuma resposta lhe vinham à
cabeça. Respirou fundo e tentou acalmar o espírito
formatando em sua mente os preparativos para o
encontro de sábado. Tinha certeza que seria agradável ter
amigos novos em casa, já que há muito tempo não se
dedicava a reunir pessoas na intimidade. E assim ficou
perdido em seus pensamentos por um bom tempo até que
Maria veio chamá-lo.
- Seu Francisco, o senhor não vai entrar, tá
muito tarde e o senhor ainda nem jantou... A comida já
esfriou e vou ter que esquentar tudo de novo!
- Não se preocupe, Maria, pode ir dormir que
depois eu faço um lanche, boa noite.
- O senhor é quem sabe, eu vou dormir, boa
noite pro senhor também.
Um tempo depois Francisco resolveu se
recolher. Os novos amigos e os acontecimentos da noite
não lhe saiam da cabeça, e com esse pensamento
Francisco foi dormir.
Os dias seguintes passaram-se normalmente e
chegou o sábado. Francisco resolveu preparar alguns
petiscos acompanhados de suco e vinho, e depois que
estivessem reunidos prepararia um almoço leve enquanto
conversassem. Logo chegaram Júlio e Mário, e para
surpresa de Francisco, cada um trazia um pacote com
apetrechos já prontos para o almoço. Houve um misto de
surpresa e alegria entre os três pois aquela atitude
mostrava bem o valor que era dado àquela pequena
reunião. Sim pois quando há desinteresse valorizamos
pequenas coisas, pequenas atitudes. Logo estavam todos
acomodados e conversando pequenas banalidades
enquanto Francisco preparava os petiscos, suco e vinho.
Não demorou muito estavam os três sentados, ouvindo
música enquanto beliscavam prazerosamente sem
preocupação com o mundo lá fora. Então Júlio
perguntou:
- Está me dizendo que você não recebe visitas
aqui? Mas por quê?
- Maria reclama sempre: - Seu Chico, o senhor
esta sempre sozinho, não recebe visita nem de amigo
nem de parente, não é possível que uma pessoa viva
desse jeito.
- Eu tenho sim muitos parentes e amigos, mas
nenhum deles compartilha de meus ideais, nenhum tem a
mesma linha de pensamento, eu não suporto como se
referem às pessoas e à vida. Poderia até acompanhar
eventualmente alguns comentários, mais daí passar um
dia inteiro ouvindo reclamações e revoltas de toda sorte é
outra história. Eu não tenho aquele poder que muitos têm
de rebater idéias contraditórias, o pensamento grita a
discordância mas não sei iniciar uma polêmica.
- Mas é tão difícil assim encontrar pessoas que
trilhem os mesmos pensamentos?- Perguntou Mário.
- Não! Não é difícil, mas quando encontramos
ou é a falta de tempo para um diálogo construtivo, ou
mesmo a velha e ingrata desconfiança que habita os
espíritos cansados de levar paulada. Ninguém sequer
pensa na possibilidade de servir de ovelha em mãos de
lobos.
- Mas me diga uma coisa Francisco, como é que
você veio parar num lugar desses? - perguntou Júlio
querendo mudar o rumo da conversa para que se
conhecessem melhor.
- Bem, não foi tão fácil. De repente veio uma
necessidade muito grande de me afastar da agitação da
cidade, apesar de estar quase sempre lá. Afinal tudo que
tenho que fazer, é na cidade, mas é muito bom saber que
sempre que quiser posso fugir para cá, para um lugar de
paz. É bom que fique claro que não estou fugindo do
mundo. Acho que todo mundo tem necessidade de se
isolar de vez em quando.
- Você tem família na cidade? - perguntou
Mário.
- Tenho alguns parentes distantes. Meus
familiares mais próximos vivem no sul do país. Vou
visitá-los de vez em quando. Quanto aos parentes da
cidade, vejo-os sempre, mas estou mais com os amigos
que sempre fazem com que eu vá a casa deles para trocar
idéias, roubar alguns conselhos, ou falar sobre coisas
espirituais. Muitos ao saberem que sou espírita, ficam
curiosos para conhecer. Então aí sim o assunto fica
agradável.
Lembrando que o almoço estava no fogo,
Francisco convidou os amigos para ir à cozinha. Tinham
ainda bastante tempo antes de almoçar, então podiam
conversar mais a vontade perto do fogão sem correr o
perigo de queimar algo. Francisco resolveu fazer um
refogadão de legumes com arroz e feijão branco, e
gostava sempre que tudo cozinhasse bem devagar em seu
fogão à lenha. Nada se comparava a um almoço feito em
fogão à lenha e Francisco não abria mão disso. Mário não
demorou a comentar.
- Nossa, o cheiro está muito bom Francisco, o
que você esta fazendo aí?
- Realmente. - emendou Júlio - Apesar de ter
beliscado uns petiscos, isso está me dando muita fome.
Acho que vou tomar um pouco de vinho e apurar o
paladar. Hoje terei que cometer um pecado, sinto muito.
- Nada demais senhores, somente um refogadão
e feijão branco que aprendi com Maria, acompanhado de
arroz e alguns molhos que são segredo da minha
secretária. E acho que vou acompanhar no vinho, sinto
hoje uma alegria especial, como se uma nova página
estivesse sendo escrita nos livros de nossa vida.
- Tem razão, Francisco. - tornou Júlio - Estava
comentado com Mário exatamente sobre isso quando
vínhamos para cá. É como se um novo fôlego, especial,
fosse dado a nós para a continuidade de nossas vidas,
sinto que viveremos coisas importantíssimas por esses
dias.
- É, não vejo a hora de chegar a próxima quarta
para nos reunirmos novamente com José. Então
saberemos o que nos aguarda. Pelo tom que ele nos falou
acho que é algo da maior importância para a humanidade.
Não sei o que vocês pensam, mas não me reconheço
como uma pessoa capacitada para ser o portador desse
conhecimento. Sei de pessoas que, em minha opinião,
estariam mais à altura de uma responsabilidade deste
quilate.
- Acho que devemos deixar as coisas
acontecerem, se José acha que tem que sermos nós, ele
não deve estar enganado, ou não seria o portador de O
Mais Alto para esta tarefa. - opinou Mário.
- Acho que Mário tem razão Francisco, vamos
deixar as coisas acontecerem. Agora acho que devemos
parar de nos preocuparmos com isso e falar de coisas
mais alegres, sabemos que de qualquer forma acontecerá
o que tiver de acontecer. - completou Júlio.
Tomando um ar mais jovial que escondia bem a
idade, Júlio começou a falar de assuntos mais
descontraídos e pitorescos, sempre tentando conhecer um
pouco mais do anfitrião. Ficaram sabendo por exemplo
que eram quase da mesma idade, sendo Francisco o mais
velho e Júlio o mais novo. Os três já estavam
aposentados porém, não abriam mão de qualquer
atividade que os tornasse úteis. Invariavelmente esta
atividade estava ligada a algo social, o que os tornava
muito conhecidos e queridos na cidade onde também
tinham residência fixa, porém, como sabemos, preferiam
o campo. Francisco não abria mão da companhia de
Maria, sua secretária do lar como costumava se referir, o
que aguçou a curiosidade dos dois amigos.
- Esta me parecendo que Maria é mais do que a
doméstica, não acha Mário? - Júlio deu uma piscada
maliciosa tentando provocar Francisco.
- Realmente. Francisco tem um carinho especial
por Maria, tanto que não fala de um assunto sem falar
dela. Acho que você gosta mais dela do que imagina,
Francisco.
- Acho que respeito é bom e agradeço. - falou
em tom de brincadeira, depois tomando um ar mais sério
continuou - Maria realmente é especial, é bonita,
atraente, um pouco mais jovem que eu e está sempre do
meu lado me ajudando e cuidando de mim e de minhas
coisas. Mas isso nunca passou de uma boa amizade e
acho que ela também pensa assim. Para falar a verdade
nunca pensei de outra forma. Sempre fui sozinho, tive
claro algumas namoradas mas a idéia de ter uma
companhia constante nunca me passou pela cabeça.
Engraçado, falar disso agora torna as coisas diferentes.
- Posso falar por mim e acho que por Júlio
também, pelo pouco que o conheço nesses quatro dias.
Somos casados e vivemos com nossas esposas. Da minha
parte te digo que o casamento é muito bom, mas não é
um eterno paraíso, e creio que isso possa servir para
qualquer um. Todo relacionamento tem altos e baixos,
tem briga e paz, tem amor e ódio, tem dia e tem noite,
tem céu e tem inferno. O grande segredo é como nos
comportamos nos dias bons e como nos equilibramos nos
dias ruins. Tem uma história de um homem que foi
chamado a atravessar um deserto e vencer as tentações
que viriam dos habitantes do deserto, o segredo é que nos
dias ruins dentro do deserto ele acreditou em si e
continuou, e nos dias ruins, quando vieram seduzi-lo e
oferecer-lhe riquezas, poder e fartura, por saberem-no
enviado do Rei, não tombou, e confiou em seu soberano
pois sabia que um Pai jamais abandona seu filho. Essa
história é de Jesus quando foi tentado no deserto, mas
também é a história de qualquer um de nós quando
somos chamados a atravessar nosso deserto pessoal.
Sempre aparecerão as facilidades do mundo, o medo de
atravessar barreiras, uma situação mais confortável ou
simplesmente a confortável posição de espectador, onde
preferimos observar o mundo crescer e tentar a
compaixão de alguém quando o fundo do poço se
aproxima.
Quando Mário parou de falar, seus dois amigos
estavam estáticos, pareciam hipnotizados. Um pouco
confuso perguntou o que estava acontecendo. Francisco
respondeu que jamais ouvira uma definição tão perfeita
de como atravessar as dificuldades da vida. Tinham um
exemplo tão perfeito e, confessavam, jamais se
lembravam disso.
- O mundo está sempre a cobrar tanto de nós
que acabamos esquecendo que somos capazes de
atravessá-lo apenas confiando em nós mesmos. - disse
Francisco.
Por algum tempo todos ficaram pensativos,
analisando o que acabara de ser dito. Aquilo era muito
profundo. Quem nesse mundo para pra respirar fundo e
dizer: sou forte, confio naquele que é o Pai Supremo e
que não me abandonará? Muitos dizem que Deus é fiel,
mas quantos são fiéis a Deus? Quantos podem dizer que
confiam plenamente no Criador? Quantos são capazes de
abandonar tudo pela caridade? Deduziram que nenhum
de nós é capaz do desapego total em benefício da
evolução espiritual, do crescimento moral.
- Mas eu acho que você deveria prestar mais
atenção em Maria, Francisco, aposto que tornaria sua
vida diferente. - Júlio insistiu no assunto pois estava certo
que o amigo era muito solitário.
- Se ela está sempre no seu pé, isso é uma
prova. Pelo menos se preocupa e cuida bem de você. -
comentou Mário.
- Na pior das hipóteses, fico sem a empregada. -
Arrematou Francisco.
- E ganha uma companheira. - completou Júlio.
- Ou não...
O dia seguiu tranquilo, com os amigos falando
sobre coisas amenas, engraçadas ou curiosas sobre o
lugar onde moravam, sobre a vida ou sobre eles mesmos
enquanto almoçavam, depois assistiram alguns
documentários na TV, tomaram um chá no final da tarde
e despediram-se. Francisco ficou ali sentado em frente
sua casa no toco de madeira que servia de banco,
observando o início da noite e pensando que realmente
precisava dar um rumo novo na vida. Mal se despedira
dos amigos e a solidão o torturava. Será que ... Maria?
Não conseguia encontrar coragem. Realmente gostava
dela de uma maneira diferente, fruto dos anos de
convivência. Tratava-a com dignidade e respeito como
tratava a todos. Mas o carinho entre os dois dava o toque
a mais. Ia amadurecer a idéia e dar um jeito de tocar no
assunto.
3 – PREPARATIVOS
Na segunda feira bem cedo Francisco teve que
ir à capital para acertar assuntos pessoais e teve que ficar
mais tempo do que queria. Na terça à noite estava ansioso
por medo de perder o encontro da quarta, mas daria um
jeito, nem que tivesse que adiar o término da solução do
compromisso. Felizmente tudo correu bem e conseguiu
chegar em casa bem a tempo. Ao chegar, Maria estava
com cara de reprovação, e foi logo reclamando.
- Senhor Francisco, precisamos ter uma
conversa!!!
- Xiii, Maria, você quando fala assim é porque
lá vem bomba. - Falou em tom divertido. - Mas vai ter
que ficar pra depois, pois está anoitecendo e tenho que
sair. Vou tomar banho e me arrumar. Amanhã
conversamos, tá bom?
- Tudo bem ”seu Francisco”.
Maria respondeu meio triste, muito
decepcionada, o que fez Francisco estranhar um pouco. -
Será que eu disse algo errado? - Porém logo lembrou do
compromisso e correu tomar banho, mas ficou pensando
o que teria chateado Maria. Enquanto isso Maria dizia
para si mesma: - Será que ele está saindo com alguém? -
Voltou a seus afazeres imaginando como seria a
escolhida de seu amor de tantos anos. Ele nunca se
interessou por ninguém! Logo agora que ela estava
tomando coragem acontece isso?... E Maria perdia-se em
seus pensamentos.
A noite estava ótima com a natureza
convidando para compartilhá-la qualquer um que
quisesse interagir com o belo e com o divino. Tudo
estava em perfeita harmonia e Francisco perdia-se
naquele maravilhoso cenário. Caminhava devagar já que
saíra cedo, mas logo chegou a seu destino. Foi o primeiro
a chegar dessa vez. Acomodou-se em seu lugar e,
seguindo as instruções de José, pôs-se a meditar entrando
em sintonia com o lugar e com a tarefa. Era incrível
como conseguia desligar-se de tudo tão facilmente,
esquecia completamente do mundo para concentrar-se
unicamente na espiritualidade que deveria estar ali,
preparando o ambiente, preparando os participantes da
tarefa e todas as coisas que devem ser atribuição dos
espíritos ligados à tarefa. Agradeceu a Deus pela
oportunidade dada, pelos novos amigos que conhecera e
pelas bênçãos recebidas. Pediu forças e sabedoria para
seguir na execução da tarefa com justiça e inteligência.
Francisco não soube dizer a quanto tempo
estava ali, quando deu por si ouvia a voz divertida de
José o chamando.
- ... Francisco! Francisco! Pode voltar agora!
Tudo bem? Ou você estava muito longe, ou estava muito
bom o sonho!!
- Na verdade estava conversando com Deus. -
disse José meio envergonhado.
- Sei disso, vejo com alegria que levaram a
sério a meditação. Fico muito contente com isso, pois
assim não teremos dificuldades no início da tarefa.
Também foi muito bom terem se reunido no final de
semana, deu chance para que se conhecessem melhor.
- Desculpe não termos convidado você, mas
decidimos de última hora e nem pensei que seria bom
você ter estado lá também. - disse Júlio.
- Mas eu estava lá! Vocês sentiram minha
presença inconscientemente e não a rejeitaram.
- Realmente o ambiente estava muito diferente,
harmônico, havia alegria no ar e senti que estávamos bem
acompanhados. Obrigado por ter estado lá. - disse
Francisco.
- Bem, dando início aos trabalhos de hoje.
Conheceremos o teor de nossa tarefa, e a forma como
será executada. Não somente nós quatro estamos
envolvidos nesta epopéia mas, muitos outros
trabalhadores da esfera invisível também. A seu tempo
terão contato com alguns deles, mas a grande maioria
ficará incógnita pois estarão presentes, mas em dimensão
diferente e não acessível a vós. Mas devo dar-lhes uma
advertência e é muito importante que seja observada.
Enquanto estivermos na tarefa propriamente dita, tudo
que houver de mais puro deve habitar vosso pensamento,
muito mais do que praticastes até agora, sob o risco de
comprometer o sucesso de nossa empreitada. Poderemos
debater, tecer observações e comentários, mas não
poderemos interagir, a não ser entre nós mesmos.
José fez uma pausa para que todos pudessem
absorver as informações e tirar alguma dúvida se fosse o
caso, depois continuou.
- Há muito tempo a vida material e espiritual
foram plantadas neste mundo para que a obra do Senhor
tivesse continuidade. Foi dado ao homem desse mundo,
como de todos os outros, meios para que progredisse
rumo aos céus e honrasse a oportunidade dada por Deus
para a sua ascensão. Nós temos utilizado nossa
inteligência para todo tipo de satisfação das prioridades
mundanas, mas a humanidade em geral fechou os olhos e
ouvidos para o pedido de nosso mestre Jesus, o ”vendei
tudo que tem e dai aos pobres e me segue”. Não há um só
momento que não tenha sido dada a oportunidade para
que o progresso moral do homem, visto que foram
enviados vários mensageiros com o intuito de acordar o
homem de sua inércia. Ainda hoje temos vários exemplos
vivos a ”pescarem homens”, mas a busca desenfreada
pelo mais fácil, pelo mais atraente e pelo ócio deixa
muitos filhos perdidos na lama da ilusão, plantada pelo
reino das sombras para que a obra do Senhor não se
cumpra. Assim, foi dado à humanidade mais uma prova
de que a recompensa aos justos está sempre à espera,
bastando apenas que cumpram com os desígnios do
Senhor para que possam habitar esferas mais elevadas e
contribuir para a obra universal, ou seja, o equilíbrio de
todo o conjunto que abrange toda a criação em cada
ponto do espaço, em cada átomo da matéria e em cada
sopro de vida.
Francisco, Júlio e Mário estavam atônitos com
a definição tão exata do que eles viam como o retrato
vivo da humanidade atual, não cabia ali qualquer
observação ou questão já que não se podia rebater
verdades tão profundas como aquelas feitas pelo Mentor.
Depois de algum tempo José continuou.
- É com emoção e honra que lhes revelo agora a
razão desta tarefa, pois quis o Senhor que fosse aqui,
neste tempo e conosco, que aqui estamos agora. -
novamente breve pausa e depois continuou - Nos
próximos encontros vós, meus amigos, conhecereis
novos mundos, novas formas de conduta e novas formas
de trilhar os caminhos do Senhor. Veremos o que espera
os justos e o que espera os ímpios, conheceremos um
mundo de verdadeira regeneração e justiça, e um mundo
de triste sofrimento e dor onde se quita cada centavo
devido na vinha do Pai. Foi dito ”Vá e pague o que deves
com a consciência limpa e amor no coração, pois do
contrário serás lançado à prisão, e de lá não sairás até
pagares o último ceitil”. Assim disse o Senhor, e assim
será cumprido.
- Perdoe a interrupção, nobre amigo, mas está
nos dizendo que conheceremos outros mundos diferentes
deste, ou um mundo invisível onde estagiam espíritos
desencarnados? - perguntou Mário. Diante desta questão,
seus companheiros olharam espantados, pois não lhes
tinha ocorrido a idéia de José estar falando em outros
mundos distantes do nosso.
- Não se espantem com essas coisas que vos
falo, pois falo de outros mundos tão distantes do vosso
que somente são possíveis na imaginação e nos potentes
telescópios da terra, já que somente é perceptível a
energia que emitem os astros aos quais giram ao redor, e
sua presença é dedutível da diferença de massa. Desses
milhões de bilhões de bilhões de mundos espalhados no
universo do Senhor, muitos tem vida abundante e destes,
os que pulsam a vida humana na dimensão física somente
Deus o pode dizer, pois sabemos que a vida humana em
outras dimensões pulsam em todo universo. Pois bem,
visitaremos dois destes mundos, tão distantes da terra
quanto entre si fisicamente falando, e tão próximo deste
mundo espiritualmente falando. Sim meus caros
companheiros, a distância espiritual de vosso mundo para
o mundo superior e o inferior é tão pequena que está ao
alcance das mãos. Se a humanidade terrena estendesse a
mão em benefício dos necessitados, abrisse mão do
orgulho, da cobiça e da vaidade em favor da justiça e
equidade, estariam já habitando um mundo melhor. Mas
a mão que se estende é para matar, destruir e usurpar. A
esses vos digo que o caminho ainda é longo mas um
mundo de dor e sofrimento está mais próximo do que
imaginam. Então, volto a afirmar, conheceremos sim
mundos diferentes do vosso. A forma que se dará isso é o
que veremos agora.
4 - ESTAÇÃO DE TRANSIÇÃO
Depois daquelas informações José fez um
intervalo longo enquanto observava seus três pupilos. Era
claro a confusão em que eles se encontravam. Aguardou
que as perguntas viessem mas parecia que não
conseguiam nem mesmo formular uma sequer. Até que
Francisco comentou:
- Parece que estou sonhando, ou participando
de um desses filmes de ficção, com todo respeito que o
momento merece. Não consigo imaginar como se dará
tudo isso que você nos fala!!
- Não se torture com isso, Francisco, aos
poucos ficarão familiarizados com todo o processo.
Então ficará mais fácil de entender. Verão que tudo é
muito simples pois para Deus nada é difícil, bastando
apenas boa vontade e um fim útil e nobre para toda a
humanidade terrestre.
- Sei que você está certo, apenas estou
tremendo por dentro em pensar o que nos espera. Mais
certo é dizer que a emoção é imensa.
- É verdade Francisco, também estou me
sentindo assim. Um misto de emoção e medo, só não sei
medo de que. Mas é medo. - falou Júlio.
- Emoção sim, mas medo? Não sei. Penso que
em mim prevalece a curiosidade, mas não a curiosidade
vazia e sim a sede de conhecimento. Sempre ficava
imaginando como seriam os mundos superiores, como
vivias as pessoas já libertas das malhas ilusórias da vida
em mundos como o nosso. - Mário também expressou
sua opinião, já antevendo a importância do grande evento
do qual participaria. Na verdade todos ali estavam
ansiosos para dar prosseguimento à tarefa e presenciar o
que, na opinião deles, seria a maior das experiências já
vividas por alguém. José não se fez esperar e continuou.
- Para a viagem que faremos, se fosse em
veículo físico e com o vosso corpo físico é evidente que
não sobreviveriam nem ao início da viagem, que seria a
saída de vosso orbe e em seguida de vosso sistema
planetário, processo que leva algum tempo para que seja
feita adequação físico-espiritual, ou seja, adequação do
perispírito. Esta adequação tem que ser feita sempre que
abandonamos um mundo para entrarmos em outro. Creio
que já ouviram falar deste processo, pois já foi descrito
em várias literaturas. Pois bem, este processo
evidentemente pode ser feito somente em espíritos
desencarnados mas, também pode ser feito em duplo
desdobramento onde, emancipa-se o espírito de seu corpo
físico, e na sequência há um novo desdobramento onde
fica liberto o ser inteligente. Este processo tem
similaridade com o que aconteceu com André Luiz no
livro Nosso Lar, quando foi visitar sua mãe em plano
superior ao seu. Alguma dúvida até aqui?
José aguardou alguns instantes para que seus
amigos pudessem assimilar bem as novas informações.
Na verdade nossos amigos, não se sabe como, enquanto
ouviam a explicação de José tinham a visão perfeita de
todo o processo acontecendo. Não havia como ter alguma
dúvida, estava tudo à suas vistas, como num vídeo que
passa enquanto se assiste a uma aula. Depois souberam
que era como as telas onde se passava a vida da pessoa
em um processo de revisão da vida passada, só que agora
tudo se passava na mente e era uma simulação do futuro,
ou seja, o que poderia acontecer a quem passa pelo
processo. Todos acenaram negativamente com a cabeça,
o que deixou o Mentor contente. Depois de algum tempo
continuou.
- Findo este processo inicia-se os preparativos
para a viagem até o primeiro dos mundos que
conheceremos, o que deverá acontecer no intervalo de
doze horas entre a ida e a volta. Para que isso aconteça
utilizaremos veículo apropriado da espiritualidade
superior, supervisionado e tripulado evidentemente por
entidades à altura. Como sois espíritos ainda encarnados,
é necessário o uso de veículo apropriado para vossa
proteção, já que existe forte e evidente ligação com o
corpo físico. Nossa tarefa deverá ser realizada em
ambiente devidamente preparado em dois finais de
semana em que não teremos interferência de nenhum
tipo. Este ambiente será a casa de Francisco e as
instruções para o preparativo serão dadas posteriormente,
pois devemos nos preocupar com cada coisa a seu tempo.
- Quer dizer que uma viagem pela galáxia ou
para outras galáxias é impossível para o homem
encarnado? Perguntou Francisco um pouco
decepcionado.
- Acontecerá um dia, mas esse dia está muito
distante ainda. Quando Deus julgar que é hora, então
acontecerá.
- E existe algum povo no universo que faz essas
viagens? Um povo com a constituição física como a
nossa?
- Existe sim. E estão constantemente vos
visitando.
- E porque Deus permite que eles invadam
nosso mundo, sem nosso conhecimento? - perguntou
Júlio calmamente.
- Para estudos de outros povos com objetivo de
enriquecimento do conhecimento, para colaborar na
evolução de um povo. E ademais Deus não precisa pedir
permissão para enviar seus obreiros. Existem muitos
relatos de extraterrestres que raptam pessoas, que fazem
experiências mas a maioria não passa de lenda. É claro
que já ouve contato direto mas com consentimento
mútuo.
- Como são essas viagens José, como são os
veículos e o combustível? - perguntou Francisco.
- É exatamente isso que conhecerão
posteriormente. Por hora posso adiantar-lhes que vossa
viagem será igual a de qualquer viajante do espaço,
encarnado ou desencarnado. Na próxima semana
conhecerão os detalhes. Mais alguma questão?
- Acho que por hora estamos satisfeitos. -
respondeu Francisco depois de olhar para Julio e Mário.
- Pois bem, preciso agora de vossa colaboração
para que possamos fazer o primeiro desdobramento, a
título de treinamento é claro, para quando estivermos em
tarefa já estarmos familiarizados com todo o processo.
Trabalhadores do invisível estão encarregados de toda a
ação, restando-nos apenas a responsabilidade de estarmos
devidamente prontos para tal realização. Como
similaridade, imaginem como um sonho em que sabe-se
que está dormindo, mas sabe-se também que podemos
estar em qualquer lugar que quiser. A diferença é que
realmente estaremos em um lugar pré definido, enquanto
vosso corpo estará como que dormindo.
José fez uma pausa proposital para que seus
amigos pudessem digerir adequadamente a informações
dadas. Depois continuou.
- Fechem agora vossos olhos. Peçam aos
espíritos presentes o apoio necessário e imaginem-se
flutuando pouco acima de nós. Concentrem-se
especificamente nisso, estarei esperando por vós.
José encerrou por um momento as instruções e
deixou os três companheiros sob os cuidados de espíritos
amigos. À medida que se elevava no espaço vigiava
também, pois apesar de saber que tudo sairia a contento
sabia também da delicadeza do trabalho a ser executado.
Nada poderia sair errado com aqueles três e ele sabia que
não sairia, mas seu senso de proteção falava mais alto.
Lá embaixo na pequena clareira, os três amigos
concentravam-se ao máximo pois sabiam da importância
da tarefa. Tinham aprendido a confiar em José e sabiam
que no que dependesse dele, tudo estaria sob absoluto
controle, não havia motivos para receio. Em instantes
então, jatos de luz brotavam do chão à maneira de pilares
com uns cinco metros de altura, em toda volta da clareira.
Entre os pilares paredes transparentes de matéria
desconhecida se formavam e, depois de completas, uma
abóbada fechava completamente o ambiente. Quem visse
do alto com os olhos espirituais veria um pequeno
castelo. Quem estivesse nas proximidades e olhasse com
os olhos físicos, veria uma clareira escura, vazia e
perigosa. Em poucos instantes nossos amigos começaram
a sentirem-se leves, parecia que estavam destituídos de
qualquer peso ou amarra, bastava um desejo para que se
transportassem para onde o pensamento os levasse.
Apesar de não conseguirem se localizar sentiam beleza e
a imensidão à sua volta, diferente das tarefas no centro
espírita onde tudo é controlado, é restrito e direcionado.
Aos poucos uma força os tirava daquele devaneio e trazia
à tona o senso de dever, e suavemente eram conduzidos
ao alto. Em volta tudo era escuro sem trevas, tudo era
brilho sem luz. De repente parava, ao mesmo tempo em
que se podia ouvir José chamando baixinho, calma e
firmemente. E enquanto ele chamava o brilho dos astros
calmamente se aproximava, tudo ia vagarosamente se
tornando imenso, semelhante à névoa que se dissipa e
revela a incrível selva de luz a nossa frente, não havia
como descrever o cenário. Nem as melhores imagens do
espaço feitas por potentes telescópios chegavam aos pés
do cenário que se descortinava à frente. Foi então que
com lágrimas nos olhos, nossos amigos perceberam à sua
frente todo o sistema solar com seus planetas e luas, tão
distintos grandes e belos como se estivesse diante de
imagem holográfica em três dimensões. Não havia como
descrever, definitivamente, o cenário à frente. A Terra,
Marte, Vênus, Saturno e os outros planetas como se
estivessem ao alcance da mão. A beleza era tamanha que
ofuscava o brilho das outras estrelas. A voz de Mário
tirou todos do devaneio.
- Vocês ... Já perceberam onde estamos ... -
disse Manoel um pouco indeciso.
- Acredito que estamos no espaço... - continuou
Francisco meio sem pensar, ainda hipnotizado com a
visão que tinha.
- Isso é evidente ... Mas aposto que você não
percebeu onde estamos realmente...
Com muito custo Francisco acordou do
devaneio e olhou à volta. Os três estavam atônitos com o
que viam. O salão onde estavam era enorme, mais
parecia um mirante, só que a metade onde estavam era
toda transparente, por isso pareciam estar suspensos no
espaço. Ao tocar aquelas paredes de cristal perceberam
que eram macias, mornas e incrivelmente transparentes.
A parede de trás parecia bem sólida, era enorme com
uma grande porta no meio e mais nada, aquele salão
enorme estava completamente vazio, somente nossos
quatro amigos se encontravam ali.
- Estamos em uma nave, veículo ou coisa do
tipo, amigo José? - perguntou Mário.
- Não, não estamos. Esta é o que se pode
chamar de Estação de Transição. É aqui que nos
preparamos para o estágio em outros mundos, assim
como entidades de outros mundos passam por aqui para
que possam visitar o vosso. Lembram do que foi
ensinado? O perispírito é constituído da matéria cósmica
do mundo ao qual pertence, sendo necessária a mudança
sempre que transita de um mundo a outro. A
individualidade reveste-se de matéria do meio onde está
para a composição de seu perispírito, para que possa se
expressar. Não preciso dizer-lhes pois já conhecem o
assunto muito bem. Como dizia, esta estação está bem
próximo da terra apesar de parecer estarmos distantes, e a
visão que tens agora é a real. O que melhorou e se
expandiu foi vossa capacidade de visão, que faz com que
vejam o espaço com uma perfeição vista somente em
imagens artísticas, concebidas para agradar os olhos. Este
primeiro desdobramento fez com que vossos sentidos se
multiplicassem, como sabem, pois não tem a
interferência do corpo físico. O segundo desdobramento
se dará da mesma forma, e terá uma repercussão
inimaginável em vosso ser. Mas não conhecerão agora,
pois deverá ser executada somente quando estivermos em
tarefa efetivamente. Não darei detalhes agora pois quero
que tenham uma surpresa agradável.
José parecia ter encerrado a palestra, mas
nossos amigos tinham ainda perguntas a fazer.
- Esta estação é grande? Poderíamos conhecer o
restante das dependências? - perguntou Francisco.
- Posso dizer que é do tamanho do estado do
Rio de Janeiro, mas não podeis transitar por outras
dependências a não ser aquelas destinadas ao povo da
terra. E ainda assim como seres ainda encarnados, estão
restritos a esse mirante e à ala de transportes que é o
lugar onde nos preparamos para as viagens. Mas não tem
muito o que ver, pois seria como se estivessem visitando
um hospital muito moderno. - José falou e pode perceber
a decepção dos seus amigos. - Não se perturbem com
isso, tereis motivos para muitas alegrias ainda durante a
viagem.
- José, estamos encarnados, certo? E temos o
cordão fluídico que nos liga ao corpo físico, certo? Como
faremos essa viagem sem prejudicar essa ligação? -
perguntou Júlio bastante preocupado.
- Esqueceste do que foi ensinado, que este
cordão pode se esticar ao infinito, que nada pode rompê-
lo se o Pai não quiser? Mesmo assim fique tranquilo pois
teremos muitos amigos cuidando de vocês.
- Parece-me que é uma mobilização muito
grande para que possamos participar desta tarefa. Não
seria mais fácil uma comunicação mediúnica, como foi
dada a Kardec e tantos outros médiuns, de entidades de
outros mundos? - perguntou Francisco.
- Deus tem motivos bons para que isso se
proceda desta forma. É necessária a participação dos
homens nesta empreitada! Qualquer comunicação séria é
muito válida, mas se tiver testemunho de seres
encarnados terá mais valor, ainda mais se forem três
testemunhos. Ninguém poderá dizer que foi sonho.
Nossos quatro amigos ficaram em silêncio por
longos instantes a contemplar a paisagem. Agora mais
tranquilos, podiam perceber a grandeza de tudo aquilo
que estava à sua frente, daquela obra sem igual que era
um tributo ao próprio criador. O sol pairava magnífico
com os planetas à sua volta formando uma ciranda
alegre, onde pareciam crianças felizes ao redor do
mestre. Dava a impressão de movimento, na verdade
todo o conjunto parecia mover-se num espetáculo jamais
visto. À volta a Via Láctea formava uma cortina com
bilhões de astros cintilantes a ofuscarem as vistas de tão
brilhante que era. Daquela posição em que estavam tudo
tomava um aspecto diferente, conglomerados e mais
conglomerados de estrelas davam a certeza de que a vida
pulsava, imensa, bela e vibrante naquele horizonte
infinito que todo ser sonha um dia explorar. Era uma
pena mas José tirou todos da contemplação para avisá-los
que era hora de voltar. Por alguns segundos pareciam não
ter ouvido, mas aos poucos voltaram-se para o Mentor
para aguardar as instruções.
- Para voltarmos desta vez será simples, pois
fizemos apenas uma excursão a esta estação. Como estão
em simples desdobramento, basta apenas o desejo de
voltar para que nos encontremos novamente em nosso
local de reunião. Peço agora que fechem os olhos e
concentrem-se no local de onde partimos para que fique
mais fácil desligarem-se de tudo o que presenciaram
durante nossa estada aqui.
A partir deste momento fez-se um silêncio tão
sagrado que nem a própria respiração ousava se
manifestar. Toda a música que era aquela orquestra
universal silenciou para que fosse dada a vez ao retorno
silencioso daqueles homens incumbidos de tarefa tão
singular. A oração silenciosa iniciava na estação e
terminava na pequena clareira. Ao abrirem os olhos,
nossos amigos tiveram a impressão de terem
estacionados em lugar errado.
- Não voltamos para a clareira? - perguntou
Francisco, no que foi respondido imediatamente por José.
- Voltaram sim. O que vêem aqui é uma cela de
proteção para vosso corpo físico, que ficou enquanto
excursionavam no espaço. Não poderíamos arriscar vossa
integridade enquanto em tarefa, como já vos disse
anteriormente. - enquanto falava, as paredes fluídicas e
luminosas iam desaparecendo e dando lugar à clareira e à
mata em volta. Depois que tudo estava terminado José
fez as despedidas.
- Meus amigos, peço que não esqueçam um só
detalhe de tudo que viram até agora. Guardem consigo a
importância da tarefa, procurem lembrar-se de tudo que
aprenderam em todos os anos de estudos espíritas, pois
tudo isso será importante para o sucesso de nossa tarefa.
Mais importante é a manutenção da conduta que tivestes
durante o correr de vossas vidas. Nada deve ofuscar a
beleza da jornada que cumpriremos daqui para frente,
nem mesmo um pensamento ou uma atitude. Pensem que
toda a humanidade tem a ganhar com o sucesso de nosso
trabalho. Vosso papel em tudo isso é apenas de
espectadores daquilo que já existe, mas que terá uma
repercussão sem precedentes na visão moderna da
conduta moral e ética do homem em relação à
humanidade. Essa visão abrira novos caminhos para que
cada um possa avaliar a si mesmo, e o seu papel na
construção de um novo mundo, mundo esse que espera
agonizante a redenção, a oportunidade e a verdadeira
felicidade. Vão em paz e com as bênçãos do Criador.
5 - MUDANÇA DE PLANOS
A caminhada até as residências de nossos
amigos levava mais ou menos uns quarenta minutos a
passos rápidos. Na forma como andavam levariam bem
umas duas horas, pois não tinham a menor preocupação
com tempo, distâncias ou lugares. Andavam como quem
procura guardar cada lembrança possível, cada detalhe do
caminho, cada palavra dita. Tudo era estranho agora, uma
vida, um lugar, um caminho, o mundo, o ser e todas as
coisas que se aprendera até o momento. O passado se
curva e o futuro se impõe com a mistura da experiência
com o novo, com a união da ciência com o divino, com a
paz entre o amor e a razão. Aquele caminhar lento e
profundo de nossos três amigos tinha mais história do
que a vida do comum e do indiferente e, coisa
interessante, toda a miséria humana ficou resumida a
apenas um jogo de palavras, de interesses, coisa que
qualquer mortal com boa vontade pode resolver. Boa
vontade de ambos os lados: o poder que corrompe e
desvia, e o submundo que dorme e mendiga. Um
meteorito risca o céu e tira os três de seus pensamentos
profundos, automaticamente viram-se para olhar, param e
ficam assim por breves segundos. Depois Mário quebra o
silêncio.
- Alguém pode, por favor, dizer que não estou
sonhando? - como ninguém respondeu, continuou - Tudo
isso é real?
- Mais do que podemos imaginar! - respondeu
logo Francisco - Tão real quanto este lugar que estamos
aqui agora!
- Às vezes duvido até disso. - tornou Mário
pensativo.
- O que devemos deixar claro... - Júlio começou
e pensou por instantes ... - é que tudo isso é a coisa mais
extraordinária, mais importante e... e... Vocês têm idéia
da importância de tudo isso?
- Claro que tenho idéia da importância disso
tudo, Júlio, e sei que Mário concorda, caso contrário não
haveria sucesso na tarefa que acabamos de realizar. Sei
que o que esperam de nós é o testemunho de algo
inusitado para o povo da terra, algo maravilhoso que para
espíritos bem acima de nós é já bem conhecido. Vocês
sabem que nos mundos superiores eles têm
conhecimentos e sentidos muito acima dos nossos? E isso
talvez faça com que eles já estejam esperando visitas
desse tipo. Então não podemos decepcionar nem José,
nem ninguém, e faremos o que nos cabe com perfeição e
atenção a tudo, porque estou certo de que teremos que
divulgar isso tudo depois.
- José disse para não falarmos a respeito da
tarefa com ninguém!!! - disparou Mário surpreso.
- Sei disso. Mas estou certo que é somente
enquanto durar a tarefa, para que não haja interrupções.
Maria fica cheia de perguntas dizendo que eu nunca saia,
e agora toda quarta fico fora até altas horas. Então digo
que estou participando de reunião espírita em casa de
amigos.
- Acho que ela está ficando com ciúmes,
Francisco! - cortou Júlio divertido - Já dissemos que é
certo que ela gosta de você.
- Deixem de bobagens, ela sempre foi muito
cuidadosa.
- Curioso. - disse Mário - Também falo a
mesma coisa lá em casa, só que digo que é na sua casa,
Francisco!
- Ah, fala? E se alguém bater lá em casa à sua
procura? Já pensou que pode comprometer tudo? -
Francisco estava preocupado.
- Não quero ser chato, mas eu disse exatamente
isso também. - Júlio completou.
- Não tem problema, - tornou Mário - José disse
que a próxima reunião será na casa de Francisco, e isso
resolve o problema.
- Vocês tem razão... - Francisco interrompeu o
que ia dizer pois José aparecera de repente assustando os
três. Estavam a meio caminho de casa.
- Amigos, por motivos que saberão depois e que
Deus achou justo, mudaremos os planos. Na próxima
quarta nos encontraremos ainda na clareira de sempre.
Peço-vos não comentarem o assunto e que não fiquem
decepcionados, pois é por uma boa causa. Fiquem em
paz. - disse e desapareceu da mesma forma que chegou,
deixando nossos amigos atônitos. Depois de alguns
minutos voltaram a caminhar. Mário quebrou o silêncio.
- Bom, continuando, acho que voltamos ao
problema. Diremos então que o local da reunião espírita
mudou para casa de amigo que não pode se deslocar.
Assim ninguém fará perguntas. - disse Mário.
- Resolvido. - Júlio parecia mais aliviado.
- Acho que assim está perfeito. - Francisco
completou e continuou caminhando sem falar, no que foi
seguido pelos dois amigos. Andavam tranquilos com os
pensamentos voltados à Estação de Transição. Uma brisa
agradável soprava naquela noite de verão, e apesar de
estar escuro e sem lua, o brilho das estrelas iluminava
bem a noite. Os bichos noturnos promoviam a algazarra
de sempre mas apesar disso tudo tinha uma tranquilidade
gratificante. Assim eram todas as noites daquele lugar
maravilhoso que parecia ter sido meticulosamente
preparado por Deus. Logo chegaram às suas casas e,
despedindo-se calorosamente, entraram para o descanso
merecido.
Francisco assim que entrou escutou Maria
lidando com alguma coisa na cozinha. Parou onde estava
e ficou pensando o poderia ela estar fazendo na cozinha a
essa hora. Resolveu verificar antes de tomar um banho.
- Maria? ... - Parecendo um pouco assustada ela
se virou. - O que faz a essa hora acordada? Já deveria
estar dormindo mulher?
- Ah seu Francisco! Nem bem chegou de
viagem e o senhor tomou um banho rápido e saiu. E está
até agora sem comer nada, então preparei algumas coisas
para o senhor comer antes de dormir! Coisinha leve não
se preocupe, pois sei que o senhor não gosta de comida
pesada antes de dormir, e também deixei tudo preparado
para que tome um banho bem relaxante, tudo bem?
- Maria, Maria, se fosse minha mulher não
cuidaria tão bem de mim, não é? - disse Francisco já
chegando ao banheiro.
- Mais do que o senhor pensa... - respondeu
Maria mais alto do que queria.
- O que você disse Maria? - gritou Francisco já
na porta do banheiro.
- Nada seu Francisco. - Maria sentou-se em
uma cadeira da cozinha meio chateada consigo mesma.
Poderia tomar coragem e se declarar ao seu amado. Mas
se tudo desse errado ela teria que ir embora, pois não
teria clima para continuar na casa. Não tinha a menor
chance, pensava ela, sendo uma simples empregada e
querendo o amor do patrão. Já estava naquela casa a mais
de vinte anos, mas isso não lhe dava o direito de uma
intimidade dessas. Melhor garantir o pouco do que não
ter nada. Depois de um tempo, Maria resolveu ir dormir.
Queria esperar o patrão e ficar com ele, mas lhe faltava a
coragem, já que não tinha mais o que fazer ali, e sua
presença insistente poderia denunciar seus sentimentos.
Melhor era não dar motivos.
Francisco tomava banho pensativo, o que seus
amigos diziam a respeito de Maria não lhe saia da
cabeça, e ele jurava tê-la ouvido dizer que cuidaria
melhor dele se fosse casados. Precisava dar um jeito
nessa situação. Desde que começou esse assunto que ele
percebeu que focava mais seu pensamento nela. Será que
estava interessado nela? Depois de tanto tempo iniciaria
um romance? Em todo caso decidiu que depois de
terminada a tarefa com José iria ter uma conversa com
Maria e decidir o futuro dos dois, mesmo que isso os
distanciasse ao invés de aproximar.
6 - TERCEIRO ENCONTRO
Todas essas lembranças passaram como um
raio na cabeça de Francisco. Era tudo muito estranho,
sempre tinha essa mesma impressão de que tudo era um
sonho, de que a qualquer momento voltaria à realidade e
que tudo que vivera nestes dias desapareceria, e então a
decepção não teria limites. De repente então sentiu a
presença de José. Aprendera rápido a saber quando ele
estava por perto.
- Boa noite, amigos. Que a paz esteja convosco.
Vejo que, no que depender de vos, nossa tarefa será
concluída com perfeição, pois vejo em vossa alma
empenho absoluto nos preparativos para o início dos
trabalhos. É certo que misturado com um pouco de
ansiedade e curiosidade, mas vejo que é tudo saudável.
Sabeis que por motivos justos e fora de nosso controle, a
continuidade de nossos trabalhos será interrompida, pois
existe uma pessoa de nosso meio que necessita de nosso
apoio, e que ira nos visitar esta noite.
Enquanto José falava a pouca distância dali um
vulto movia-se escondido em meio aos arbustos, tentando
entender o que falavam as pessoas naquela clareira.
Estava certa de ter visto a pessoa que seguia entrar ali,
mas estava meio longe e não conseguia distinguir rostos e
vozes. Sabia apenas que eram homens conversando e
suas suspeitas não se confirmaram, já que pensava que o
homem que seguia estava se encontrando as escondidas
com alguma mulher. José continuava falando com seus
amigos.
- Meu amigo Francisco, a pessoa que iremos
receber é muito conhecida sua. Tem alguns problemas
que a atormentam e como ela não tem coragem de falar,
está pensando em ir embora. Quis nosso Pai Maior que
isso não acontecesse pois é de conhecimento que vocês
dois podem se ajudar muito mais do que o fazem agora.
E aproveitando a oportunidade, ela também está pronta
para dar sua contribuição ao espiritismo, pelos anos de
convivência com a doutrina apesar de ser católica.
Francisco, peço, por favor, que chame Maria.
Francisco estava de boca aberta, tanto quanto
seus dois amigos, e não estavam entendendo nada. Maria
também teve a impressão de ter ouvido seu nome, o que
quase a fez sair dali correndo e ir embora.
- Chamar Maria? Lá em casa? Mas o que ela
tem a ver com isso?... Não é possível que Maria seja...
- Isso mesmo meu amigo. É Maria, sempre
Maria, doce mulher que sempre cuidou de ti como se
cuida do esposo, que abdicou da vida por vos, que foi fiel
mesmo sem retribuição. Ela que merece de nós todo
apoio, pois Deus lhe trouxe o prêmio dos céus àqueles
que se mantêm fiéis a promessa divina. Não é necessário
ir buscá-la, ela está perto, chame seu nome. - Francisco
olhou para todos muito emocionado e chamou pelo nome
da futura companheira.
- Maria... - depois de algum tempo um pouco
mais alto - Maria!!
Maria levou um susto tão grande que quase
desmaiou. Tinha ouvido o patrão chamar-lhe. Não era
possível, tinha sido descoberta, mas como? Todos iriam
saber de sua desconfiança e dos motivos, uma vergonha!
Estava se preparando para ir embora quando ouviu
novamente chamar seu nome. Não tinha jeito, não
adiantava ir embora. Ia encarar a humilhação e depois
iria embora para a casa dos parentes para não voltar mais.
Maria aproximou-se devagar da clareira e viu
que tinha quatro homens três sentados e um de pé. O
lugar estava estranhamente iluminado mas não havia
lanterna, e o homem de pé tinha uma aparência muito
estranha, como se não parecesse humano. Ao chegar,
aquele estranho dirigiu-se a ela.
- Maria, não tenha receio de nada, pois aqui
somos todos amigos. Peço por favor que você se sente
próximo de Francisco, pois tem alguém que quer muito
lhe falar. - Mal terminava de falar e a silhueta de uma
senhora idosa foi se formando. Maria não se conteve e
chorou muito ao mesmo tempo em que a chamava pelo
nome carinhoso que a conhecia.
- Vó Ana... Vó Ana... Vozinha, há quanto
tempo não lhe via, quase morri de saudades e de tristeza.
Me perdoa vozinha, me perdoa... - Maria repetia sem
parar enquanto todos estavam boquiabertos e
emocionados com a cena. Realmente o sofrimento ali era
grande. José lhe falou com carinho paterno.
- Maria, filha do coração, não sofra tanto assim,
todos aqui lhe querem muito bem, e aqui não há lugar
para cobranças ou condenações. Saiba que tudo tem a
mão amorosa do Pai, tudo se encaixa perfeitamente no
universo e, o que pode parecer um erro é na verdade um
adiamento das coisas. Se tudo tivesse sido diferente no
passado talvez tivéssemos perdido mais tempo e trabalho,
ao passo que agora com maturidade e equilíbrio tudo se
encaminhará com a perfeição necessária. - José fez uma
curta pausa para consultar as lembranças. Depois
continuou.
- Maria quando criança tinha da avó o carinho
maior que de uma mãe, tamanha era a ligação entre as
duas. Porém o tempo de Vó Ana tinha chegado, e quis
Deus que ela fosse dar continuidade à vida. O sofrimento
de Maria foi muito grande. Parecia ter perdido a própria
vida e, então, ao mesmo tempo em que começava a
brotar sua bela mediunidade, sua querida vozinha vem
lhe ver e comunicar que dali para frente as duas seriam
companheiras inseparáveis. Mas na imaturidade de seus
doze anos, a dor de Maria era maior do que qualquer
possibilidade de entendimento que pudesse surgir entre
as duas. - antes que José pudesse continuar, Maria deu
continuidade à narrativa.
- A dor da perda era muito grande, eu não me
conformava de ter perdido a única pessoa que me amava
daquela forma. Fechei os olhos e ouvidos a todos não
dando oportunidade para que também me amassem. Não
queria a companhia de um fantasma, não era capaz de
entender como as coisas aconteciam, como minha vó
poderia ter me abandonado daquela forma? Entre ofensas
de todo tipo pedi que ela desaparecesse e que nunca mais
me procurasse, que nunca mais ninguém me procurasse. -
o choro e os soluços impediam que Maria continuasse.
José deu então continuidade.
- Como não havia possibilidade de dialogo
entre vó e neta ficou decidido que era necessário deixar o
tempo passar até que as coisas pudessem se resolver. E
com isso foi bloqueada a mediunidade e encerrado todo
contato com o espiritismo. O tempo passou e a tristeza
tomou conta de nossa amiga. Nada nem ninguém
conseguia tirá-la de seu mundo fechado até que
conseguiu um emprego de doméstica que a deixaria
longe das lembranças que a faziam sofrer. A Providencia
Divina é sábia e com o tempo, a convivência com o
patrão foi abrindo seu coração e o ressentimento foi
dando lugar à admiração e dedicação por aquele que
povoava seus sonhos de realização e felicidade. - um
pouco mais calma, Maria comentou interrompendo José.
- Desde criança eu não acreditava em amizade,
amor e carinho de mais ninguém, tinha medo da
aproximação e da perda. Achava que a vida seria melhor
se fosse vivida sozinha, então me afastei de todos. Para
não sofrer tanto procurei um emprego afastado de todos e
que tomasse todo o meu tempo e ainda, de preferência,
que não fosse família grande. O trabalho na casa do Sr
Francisco foi um presente dos céus. Me deu tudo que
queria e ainda me trouxe a chance de conhecer o que era
amar alguém. - Maria parou de falar com os olhos cheios
de lágrimas e o coração repleto de felicidade por ter tido
a coragem de dizer o que nunca conseguira antes. Já não
importava mais as consequências, tinha que aliviar sua
alma já tão dolorida de amar sem correspondência.
Extremamente envergonhada parou de falar e baixou a
cabeça aguardando os acontecimentos. José continuou
então.
- O respeito e o carinho do patrão não foram
por acaso, assim como o novo lar que foi um presente do
destino. Francisco sempre atencioso, justo e respeitador,
conquistou de pronto o coração da nova integrante de seu
lar. A forma como sempre tratava as pessoas foi
fundamental para a segurança de que necessitava nossa
companheira, o que fez com que retornasse o seu
equilibrio e auto estima. O tempo fez com que essa
ligação entre duas almas afins se concretizasse e, a
oportunidade agora fará com que agora todos os sonhos e
projetos se realizem, para a gloria do Pai que está nos
céus.
José encerrou sua narrativa dirigindo-se à Vó
Ana que estava a seu lado e fazendo sinal para que
falasse com Maria. A vovó muito emocionada por ter
finalmente a oportunidade de falar com a neta, a pessoa
mais querida que o mundo e os céus poderiam
proporcionar, dirigiu-se à neta para dizer-lhe finalmente
o que estava a tanto tempo escrito em seu coração.
- Minha pedra mais pura, meu anjo mais
precioso, durante todo o tempo que o Pai nos deu juntas
nos tornamos o exemplo da ligação mais maravilhosa que
o mundo pudesse testemunhar. Mais do que mãe, mais do
que filha, mais do que irmãs, mais do que pai. Pai sim,
pois um pai é a personificação da segurança, do amor e
do sacrifício. Mas o amor pede sacrifício, a dor pede
amor, a solidão pede alguém e todos pedimos perdão.
Quem pode pedir perdão senão aquele que já penetrou
nos segredos dos céus? E quem não precisa perdoar
senão aquele que não sabe o que é condenar? O segredo
da felicidade não é aquilo que podemos conquistar, mas
sim como ficamos sem aquilo que não podemos
conquistar. O mundo, filha, nos presenteia. Mas esse
mundo em que estagiamos agora, também nos cobra a
capacidade de sermos felizes quando nosso presente nos
é arrancado das mãos. Era necessário que passássemos
por esse entrave afim de que nos fosse testada a força e a
confiança em Deus. Falhamos desta vez mas o tempo nos
brinda com nova oportunidade que o dever nos obriga a
aproveitar. Agora é o novo tempo de novas
oportunidades que a providência nos trouxe. Vamos nos
dar as mãos e caminhar juntas para o destino que o Pai
amorosamente nos concedeu, pois o merecimento não é
conquistado assim tão facilmente e, quando vem,
somente o tolo deixa escapar. Vem filha, não deixemos
que as pedras do caminho nos impeça a caminhada,
juntas conquistaremos o salário precioso daqueles que
trabalham com alegria na vinha do senhor.
Maria muito emocionada e feliz aproximou-se
de sua vó e foi abraçada com um carinho tão grande, que
emocionou a todos também. Ficaram ali imóveis por
alguns minutos, Maria sem conseguir falar uma palavra,
vó Ana agradecendo aos céus pela dádiva do reencontro e
Francisco admirando a coragem e humildade de Maria.
Vó Ana afastou carinhosamente sua neta e se despediu.
- Filha querida agora preciso ir, pois outros
deveres me aguardam. Guarde a certeza que estaremos
sempre juntas, e nos veremos com frequência.
- Vovó, não quero ficar sozinha. A solidão me
acompanhou a vida toda e agora, queria tanto que ficasse
comigo. - Maria disse sentindo aquele medo de quando
era criança.
- Minha doce menina, não ficará solitária. Siga
o seu coração, pois ele te ajudará a ser muito feliz ainda.
Não tenha medo da felicidade quando ela te bater à porta.
- e depois se dirigindo a todos encerrou - Fiquem todos
com a paz de Deus. Obrigado nobre José por essa
oportunidade. Sou-lhe eternamente devedora.
Enquanto dizia foi suavemente desaparecendo.
O ambiente era de felicidade sem igual. Mas ainda falta
um detalhe, pensou José. Enquanto ele falava, Maria
sentou-se próxima de Francisco. Estava muito sensível e
trêmula, então, Francisco percebendo abraçou e trouxe-a
para seu ombro. Maria agora deixava lágrimas caírem,
mas não de tristeza. Estava imensamente feliz de estar ali
tão próxima daquele que sempre amou. A vida toda
sonhou em ser abraçada assim e agora esse sonho se
realizou. Pena que não gostava dela, seu coração devia
pertencer a outra, pensou triste. A palavra de José tirou-a
desses pensamentos.
- Meu amigo Francisco, o coração e a alma
dessa que está a seu lado sempre lhe pertenceu. - Maria
corou tímida ao seu lado. - Não deixe passar a
oportunidade de coroar essa união que já está abençoada.
O amor não é uma brincadeira passageira para distrair-
nos enquanto a vida passa, mas sim um dom precioso
que, quando chega, nos leva a realizações que só alcança
os que o conhecem. Abra seu coração e seja feliz.
- Meu coração já está aberto, nobre amigo, e já
sinto a felicidade invadindo todo meu ser. - Francisco
disse e apertou Maria contra si. Maria parecia que iria
explodir, tamanha a felicidade. Não acreditava no que
tinha ouvido. José então continuou.
- Daremos então por encerrada a reunião desta
noite. Meus caros irmãos, continuaremos com nossos
planos para esse final de semana, conforma havíamos
combinado. Sigam as instruções de antes para o sucesso
de nossa tarefa. Maria deverá visitar seus familiares a fim
de comunicar as novidades, nestes próximos fins de
semana. Vão em paz com as bênçãos de Deus
7 - MARIA E FRANCISCO
Júlio e Mario caminhavam na frente
conversando animadamente enquanto Francisco e Maria
vinham mais atrás, de mãos dadas e calados. Nenhum
dois sabia o que dizer. E nem precisavam dizer nada.
Tinham plena consciência da felicidade um do outro.
Júlio virou para traz e gritou bem alto.
- Nós não dissemos a você, Francisco, que ia
acabar em namoro? - E seguiram com a conversa
animada.
- Ainda bem que estavam certos! - Gritou
também Francisco. Maria aproveitando a quebra do
silêncio perguntou.
- Vocês comentavam sobre nós dois?
- Eles diziam que você cuidava muito bem de
mim, que parecia mais uma esposa do que empregada e
que isso já deveria ter dado em casamento.
- É verdade, também concordo...
- ... E quais os seus planos, senhor... é...
Francisco? - Perguntou um tempo depois, meio
desconcertada.
- Não tem mais que me chamar de senhor,
Maria. Nunca gostei mesmo deste tratamento. - Fez uma
pausa e continuou. - Depois que terminar esta tarefa
vamos nos casar. Já passou da hora de ficarmos
definitivamente juntos. - Fez nova pausa e depois
completou. - Você acha que precisamos de um tempo de
namoro?
- Apesar de achar que estou abusando, andando
de braços dados com o senhor, digo, com você, e te
chamando de você, não acho que precisamos de um
tempo. Nos conhecemos há tantos anos! Claro que nossa
relação era apenas de trabalho. Agora devemos nos
conhecer de forma diferente, como um casal. É, acho que
você tem razão, seria maravilhoso se namorássemos por
uns meses. - Quando parou de falar olhou para o lado.
Francisco a encarava sorridente. Baixou os olhos,
novamente envergonhada.
- Seu entusiasmo é contagiante, sabia? Vamos
namorar por um tempo, enquanto preparamos o
casamento e avisamos os familiares.
Continuaram andando em silêncio apreciando a
noite e as últimas novidades. Francisco agradecia aos
céus por essa oportunidade de ser feliz. Na verdade
sempre gostou de Maria, mas tinha medo que seus
sentimentos fossem confundidos com assédio, então
preferia ficar quieto. Não tinha ideia de que Maria
sentisse o mesmo. Se soubesse, tudo teria se resolvido
antes. Maria tinha o mesmo sentimento. Quantas vezes
ficava sondando as atitudes do patrão para ver se ele
deixava escapar um gesto ou uma palavra que o
denunciasse? Quando chegaram em frente à chácara,
Júlio e Mário os esperavam e foram logo perguntando.
- Queremos saber quando será a festa? Mal
posso esperar pelo casamento dos dois. Vai ter
casamento, não é? - Júlio estava muito empolgado e
Mário não menos.
- Decidimos que será daqui uns três meses.
Vamos terminar a tarefa, namorar um tempo e depois
casaremos. - Disse Francisco alegre.
- Daqui três meses? Vocês não acham que é
muito tempo pra quem já se conhece? - Disparou Mário.
- E onde fica o romantismo? - Maria retrucou já
bem desinibida. - Só nos conhecemos profissionalmente,
mas no campo pessoal temos muito a falar. Mas o mais
importante é fazer as coisas pensando nos familiares e
amigos, não acham?
- E dar tempo para a compra dos presentes! -
Francisco completou, e todos riram alegres. Os dois
amigos cumprimentaram o casal pelo final feliz, se
despediram e saíram tão animados quanto antes.
- Aí estão dois verdadeiros amigos, parecem
mais felizes do que nós dois com nossa união. -
Comentou Francisco com sua namorada. - É que desde o
começo apostaram alto em nossa união. Parece até que já
sabiam da nossa união.
- Com certeza já sabiam, mesmo que
inconscientemente.
- Por falar nisso. - Francisco cortou, os dois já
entrando em casa. - Sei que você é católica praticante,
que vai às missas todos os domingos e que não pode
ouvir falar de espíritos. Você sabe que José e Vó Ana são
espíritos? E que tudo que viu hoje foram manifestações
espíritas?
- Sei sim!
- Sabe?! E todos aqueles medos e broncas que
você dava quando se falava de fantasmas?
Sentaram-se no sofá e Maria começou a contar.
- Bem, na verdade, quando adolescente me
acostumei a ver espíritos até quando morreu vovó.
Depois disso não quis mais que eles aparecessem, por
mais que falassem, por mais que argumentassem. Proibi
qualquer um de se manifestar, principalmente vovó, a
quem eu culpava por minha infelicidade, triste ilusão.
Não mais as visitas dos amigos espirituais, não mais as
visões, não mais os conselhos, não mais as cartas aos
amigos, não mais os sonhos. Tudo virou um vazio maior
do que qualquer um pode suportar. Tem idéia do que é
perder tudo? Em pouco tempo percebi o grande erro que
tinha cometido, mas não adiantaram o arrependimento e
as súplicas. Percebi que tinham ido embora de vez, mas o
pior não foi isso. Quando vi que tinha perdido os amigos
do invisível, fiquei tão amargurada que me fechei para o
mundo. Não quis mais o amor de ninguém. Se não podia
ser amada pelo invisível, muito menos iria dar chance ao
visível, e então me tornei a pior das criaturas. Totalmente
alheia a tudo, culpava a todos por tudo, não tinha vida,
nem esperança nem vontade de viver. Comecei a sentir
repudio a tudo o que se referia a espiritismo e, então,
massacrava a tudo e a todos que se referissem ao assunto.
- Maria fez uma pausa em que Francisco aproveitou para
perguntar.
- E isso mudou alguma vez?
- Quando fiz dezoito anos, meu pai me deu duas
escolhas, ou eu voltava a viver normalmente, casava e
cumpria com minhas responsabilidades, ou seria
deserdada e estaria à própria sorte. Aquilo foi demais.
Entre casar por conveniência e ser excluída da família
preferi a segunda opção e saí de casa. Uma tia muito
caridosa me acolheu e estou com ela até hoje. Mas, não
deixei por menos e resolvi não ser o exemplo que todos
expunham. Imediatamente fui atrás de trabalho e minha
primeira oportunidade foi você. Quando te conheci, a
ligação foi instantânea. De lá para cá me dediquei,
durante esses vinte anos, somente a você. Quando soube
que era espírita, quase fui embora, mas uma coisa que
agora sei o que é não me deixou ir. Fiquei, mas não
deixei que o espiritismo me envolvesse. Para isso sempre
o combatia com todas as forças, ou pelo menos quis que
parecesse assim, pois no fundo, nunca deixei de acreditar
neles. Simplesmente por sentir-me abandonada por todos
é que não me deixava envolver. Com o tempo aprendi a
conviver com doutrina novamente, mas ainda assim não
abertamente, continuava a combatê-la até hoje
simplesmente para não dar o braço a torcer.
- Entendi, e você conhece bem o espiritismo,
então?
- Conheço bastante, não tanto quanto você é
claro. Só uma coisa me deixou curiosa. Como
conseguimos interagir tão bem com José e Vó Ana?
- É que você tanto quanto eu, Júlio e Mário
somos médiuns ostensivos, quer dizer, além de termos
contato direto com os espíritos, também somos capazes
de doar fluídos necessários á manipulação em conjunto
com os fluídos da natureza, para que nossos amigos
invisíveis possam se tornar visíveis. E esses fluídos são
manipulados por entidades amigas envolvidas com a
tarefa. Entendeu?
- Claro. Assim que puder quero ir a um centro
espírita para estudar e fazer os tratamentos necessários.
Quero participar ativamente dos trabalhos realizados, e
recuperar o tempo perdido.
- Fico muito contente com isso. Acho muito
bonito um casal que pensa, trabalha e realiza juntos.
- Também acho. Agora vai tomar banho
enquanto preparo algo para comermos, depois eu tomo
banho.
- Tudo bem senhorita! Já estou indo!
Maria ganhou um beijinho no rosto e ficou
olhando enquanto seu amado se dirigia ao banheiro. Não
se lembrava de ter sido feliz assim um dia. Tudo estava
completo e em breve ela seria uma mulher casada.
Preparou o lanche e foi tomar banho enquanto Francisco
bebericava um vinho e arrumava alguns papéis. Logo
terminaram de comer e se despediram com um beijo
suave, mas que tinha um valor imenso. Maria deu um
beijo no rosto de Francisco depois, e em seguida foi para
seu quarto. Nada disseram, não precisava, compreendiam
bem a lógica e a sequência das coisas.
No sábado seguinte, bem cedo Maria foi para a
casa dos tios, mas não de folga. Agora iria comunicar as
novidades e cuidar dos preparativos. Afinal três meses
passam muito rápido e ela estava ansiosíssima.
8 - PRIMEIRA VIAGEM
Francisco começou cedo os preparativos para a
reunião. Arrumou um cômodo isolado da casa que estava
vazio e lá colocou uma mesa com várias cadeiras. Ao
lado da parede colocou um buffet e em cima dele um
jarro com água, copos, dois vasos com flores e um
exemplar de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Achou
que já estava bom, porém alguém lhe soprou no ouvido
que colocasse ali também, três divãs que estavam
espalhados pela casa. - Já que pediram, assim será feito. -
Falou em tom alegre e alto. Durante todo o dia ficou nos
pequenos afazeres, tudo referente à tarefa e, com isso, o
tempo passou rapidamente. Quando deu por si Júlio e
Mário batiam à sua porta, eram cinco horas.
- Sejam muito bem vindos meus amigos, vamos
entrando e se acomodando aí na sala. O local da nossa
reunião já está preparado! - Francisco mostrava-se muito
alegre.
- Caramba Francisco! Não deixou nada para nós
fazermos? - Perguntou Mário.
- Exatamente, estávamos prontos para ajudá-lo
nos preparativos! - Completou Júlio. - Você viu Mário,
como ele está feliz? Será que é pela tarefa, ou pela nova
namorada?
- Pelas duas coisas. - Respondeu Francisco. -
Nunca pensei que pudesse me sentir assim um dia. A
felicidade ao meu lado e nunca percebi. Realmente devo
muito a José.
- Só a José, é? - Provocaram os dois.
- Tá bom, vai! A vocês também.
- Francisco, você acha que fica mal falarmos de
assuntos pessoais hoje? - Perguntou Mário.
- Do assunto que estamos falando, não. Afinal
de contas, nossa união teve a colaboração espiritualidade,
e tanto estamos tratando do assunto respeitosamente,
quanto nos comportando do mesmo jeito no período que
compreende a tarefa. Não vejo problema, então.
- E Maria, como está?
- Sabe que nunca tinha visto Maria assim antes,
Mário? Antes ele vivia triste, com o olhar distante. Só
percebia um sinal de vivacidade quando ela me dava
umas broncas, ou pelo horário, ou por causa da doutrina.
Agora parece que rejuvenesceu anos, tinham que vê-la
hoje cedo quando se arrumou para ir à casa dos tios.
- Pois é Francisco, o amor realmente faz
milagres, você também está com a aparência ótima!
- Muito melhor mesmo. - Concordou Júlio. -
Mas, mudando de assunto, que será que veremos hoje,
hein? Confesso que estou sentindo uma certa ansiedade.
- Também estou um pouco ansioso. Na verdade
chego a tremer de emoção quando lembro o que nos
espera.
- Excursionar por outros mundos, conhecer
povos diferentes, novas formas de civilização, costumes
diferentes. Aprender novas formas de conduta, e como
vivem os seres abaixo e acima de nós! - Mário falava
como se estivesse vendo tudo aquilo.
- Acha mesmo que existem mundos inferiores
ao nosso, Francisco?
- Não sei, Júlio, acho que estamos numa das
posições mais baixas, mas não quero imaginar como seja
um mundo mais inferior que o nosso. Acho que a
humanidade já sofre tanto!
- Eu acho que existem mundos ainda na
infância da civilização, comparando com o nosso. - disse
Mário. - O que implica dizer que, intelectualmente e
moralmente, estejam ainda engatinhando. Mas ou menos
como a nossa antiguidade, na pré história ou na época
dos bárbaros.
- Tem razão. - Concordou Francisco. - Todos os
mundos para evoluir partem de um começo, e esse
começo sempre implica na infância moral e intelectual de
seus habitantes. Se analisarmos os primórdios da
humanidade terrestre veremos que o mesmo pode ser
aplicado a qualquer mundo. Não concordam?
- Plenamente. - Disse Júlio.
- É, também acho. - Concordou Mário.
A noite já chegava e o bate papo de nossos
amigos corria alegre e descontraído. Aos poucos
começaram a pensar que José havia desistido, pois o
tempo passava e a ansiedade aumentava. Resolveram
então ir para a sala reservada e se acomodarem nos divãs
já preparados. Ali então relaxaram e aos poucos as
conversas ficaram mais dispersas, até o ponto em que os
três cochilavam. A medida que anoitecia parecia que o
ambiente ficava mais iluminado e o real começou a
parecer imaginário. Francisco teve a impressão que o
ambiente mudava de forma e quis comentar com os
amigos, mas não conseguia, apenas via que tudo se
transformava e havia mais pessoas no ambiente. Viu que
continuavam deitados no divã, e de repente reconheceu
José à frente deles. Com muito esforço conseguiu falar
com o amigo.
- José, graças a Deus você chegou! Pensávamos
que havia desistido!
- Na verdade Francisco eu não cheguei. - E
antes que Francisco retrucasse - Vocês é que chegaram! -
Júlio e Mário já estavam conscientes de si.
- Já entendi! - Júlio foi se adiantando. - Fizemos
o primeiro desdobramento sozinhos até aqui, para te
encontrar. Perfeito.
- Sozinhos totalmente, não, pois haviam
trabalhadores no auxilio à tarefa como haverá sempre.
Lembram de que vos disse que há muitos amigos ligados
a essa tarefa que não conhecereis? Pois então, desde
manhã o trabalho no invisível segue a todo vapor.
- Mas não estamos no mesmo lugar de antes!
Ou estamos? - Mário perguntou olhando à volta.
- Estão em ambiente reservado a viajantes
terrestres, como vos disse antes. Como essa é a viagem
real, e não mais um treino, tudo tem que ser feito de
forma apropriada. Este ambiente é contíguo à sala de
observação que conheceram anteriormente.
- Então estamos na Estação de Transição?
- Sim Francisco, aqui é que daremos início à
nossa viagem pelo universo.
- E o que faremos agora?
- Ficarão na sala de observação até que estejam
prontos os preparativos para a nossa viagem. Podem se
levantar e ficar a vontade. Os ambientes que podem
transitar estarão de portas abertas, e sintam-se em casa.
Assim que tudo estiver pronto virei chamá-los.
José então se retirou e deixou-os ali sozinhos. A
princípio ficaram meio deslocados, mas Francisco tomou
a iniciativa e se dirigiu à sala de observação, no que foi
seguido pelos dois amigos. Assim que atravessou a porta
sentiu forte vertigem pois a sala era toda transparente,
dando a impressão de que estavam suspensos no espaço.
Mesmo já conhecendo o ambiente era como se fosse a
primeira visita. A sensação era magnífica, uma
experiência difícil de descrever, uma emoção que valia
por todas.
Alvorecer de um novo dia
Alvorecer de um novo dia
Alvorecer de um novo dia
Alvorecer de um novo dia
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METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
 

Alvorecer de um novo dia

  • 1. 1 - PRIMEIRO ENCONTRO - Maria, vou sair e dar uma volta, não me espere ”pra janta”, deixa que eu me viro quando chegar. - Disse Francisco já na porta pronto para sair, todos os dias ele comia um lanche rápido saia e voltava logo para o jantar, mas as quartas feiras eram preocupantes para Maria, era sempre madrugada quando escutava o patrão chegando. - Toda vez é a mesma coisa "seu Chico", o senhor sai e parece que não volta nunca. O senhor sabe que eu não durmo enquanto o senhor não volta. A preocupação de Maria tinha fundamento. A chácara onde moravam ela e o patrão situava-se em local muito isolado e afastado da cidade. Nunca presenciaram nada suspeito, mas os rumores eram muito fortes. Principalmente as histórias de almas penadas que ouvia, e Maria se impressionava demais com os relatos de fantasmas que frenquentavam a região. Alguns que arriscaram andar pelas estradinhas à noite juravam ter ouvido vozes que partiam do meio da mata e das poucas clareiras que existiam por ali. Ficava verdadeiramente petrificada a cada historia contada, indo imediatamente falar com o patrão sobre o assunto. Francisco divertia-se com os relatos e limitava-se a tentar acalmar a secretaria e amiga. Fazia questão de chamá-la de secretária ao invés de doméstica, pois não gostava deste termo, e procurava
  • 2. sempre tratar todas as pessoas com toda igualdade possível. De tanto ouvir os medos de Maria um dia resolveu tentar esclarecer o assunto. - Fantasmas e alma penada como as pessoas imaginam não existem, Maria, o que existe são pessoas como nós, mas que vivem em uma dimensão diferente. - Algumas poucas pessoas conseguem vê-los e ouvi-los, mas a grande maioria não. Tá entendendo? - Uhum... Dizia Maria, boca aberta, parecendo meio abestalhada. - Outra dimensão!?!... - Sim, outra dimensão, mas não se preocupe com isso agora, depois te explico isso melhor. Por agora quero que saiba que não precisa se preocupar com essas histórias. Esses ”fantasmas” não vão lhe causar mal algum. Tudo bem? - Tudo bem...- E saia Maria, tão incrédula quanto antes. Enquanto andava, Francisco relembrava dessas conversas que tinha com sua secretária e ria sozinho de suas reações. Precisava explicar melhor essas coisas a ela, mas não sabia como. Maria era católica fervorosa e não compreendia nunca as coisas que o patrão dizia. - Essas coisas não existem ”seu Chico”, são crendices do povo... O senhor não devia dar ouvidos ao falatório do povo. - Dizia sempre ela. - Vou pedir ajuda aos meus amigos. - Disse em voz alta como se precisasse que eles ouvissem o que
  • 3. pensava. A caminhada até o seu objetivo não era longa, mas gostava de andar devagar enquanto pensava em todos os encontros, desde os dois primeiros. Foram os mais emocionantes e mais marcantes de todos, por tudo que viu e o que sentiu naquelas noites. Não esperava presenciar tudo aquilo, mesmo intuindo que todas as coisas do universo poderiam ser daquela forma, que a evolução seria mais ou menos da forma como sempre imaginou. O espiritismo o ensinou que a evolução é contínua e que a distância que nos separa da morada do Pai é infinitamente grande. Ensinou que são muitos os mundos habitados, e que são muitos também os mundos que habitaremos. O que vinha conhecendo desde aquelas noites até hoje era muito mais do que poderia supor. Se contasse ninguém acreditaria, e era justamente o que não conseguia fazer. Havia sido instruído a guardar segredo por enquanto, e seguia fielmente como se fosse um segredo muito importante que não devesse ser revelado. A primeira experiência vinha-lhe novamente à lembrança. Era uma noite de caminhada como todas as outras, e apesar de ser sempre igual, o prazer que sentia era sempre diferente. Cada detalhe no céu estrelado, cada pedra no caminho, cada ramo de vegetação, cada ruído dos animais e insetos noturnos formavam uma sinfonia diferente a cada dia. Não se cansava de observar, de contemplar, de agradecer ao Pai maior a oportunidade de fazer parte daquele concerto. Caminhava sempre
  • 4. calmamente sem preocupação e sem pressa, pois tinha plena certeza da proteção e companhia de entidades superiores ao seu lado. Não sabia de onde vinha essa certeza, sabia apenas que estavam sempre ali. Houve muitas situações difíceis durante a vida em que tivera essa mesma certeza, e aprendera a acreditar na proteção e na providencia divina. Naquela noite porém algo novo acontecia, uma energia nova que nunca sentira, presenças que de tão marcantes provocavam sensações desconhecidas, emoções jamais descritas. Uma certeza: nada daí em diante seria igual como antes. Era como pressentir o rumo novo que a vida tomaria. Porém, confundiu essa sensação com um pressentimento ruim e um calafrio percorreu seu corpo inteiro. - Tem alguém aí?... A voz saíra com um misto de medo e vergonha pela reação impensada. - Não tenho nenhum tipo de arma, valor ou documento!!! - Silêncio. Continuou caminhando, agora mais cauteloso. Voltar!!! Não conseguia. - Melhor continuar até o lugar de sempre!- A idéia veio como que soprada em seu ouvido, já que não concatenava com nada. Riu da infantilidade de seu medo. Sua intuição dizia para não ter medo, que a imaginação é que estava lhe pregando uma peça, afinal de contas quem iria aparecer naquele fim de mundo onde não tinha nada de valor que se aproveitasse. Continuou seu caminho um
  • 5. pouco mais rápido, inconscientemente, chegando logo ao seu destino. A clareira que visitava sempre não era grande, e podia ser acessada por uma pequena trilha escondida na mata, que vinha da estrada que dava acesso à sua chacrinha. Era coberta de grama e tinha um tronco de árvore enorme em um dos lados, e nos outros lados pequenos montes, também gramados, parecendo tudo ter sido feito de propósito para reuniões privadas. - Se eu fosse construir isso não ficaria tão bom. Pensou Francisco admirando o local. - Isso tem a mão de vocês, não é? Pensava ele sempre sem receber resposta. - Não importa, o que importa é que estamos aqui todas as quartas, como foi pedido. No local já estavam Júlio e Mario, concentrados, já em meditação. Acomodou-se no lugar de sempre e, em silêncio, pôs-se a meditar. Uma das condições para que a reunião se concretizasse é que os três deveriam desligar-se totalmente do mundo externo, suas mentes deveriam formar uma só interagindo com o local e o momento. No começo foi muito difícil. Francisco lembrava o primeiro dia enquanto se concentrava na reunião. Nenhum dos três se conhecia, nunca tinham se visto antes ou trocado mensagens ou combinado qualquer coisa que fosse. E no entanto, naquele dia os três chegaram ao local exatamente no mesmo momento, com
  • 6. a mesma intenção e movidos pelo mesmo estranho chamado que ecoava em suas mentes. Sendo todos espíritas, logo concluíram ser instrução dos mentores e imaginavam o que poderiam querer os espíritos com alguém tão sem importância como eles. - Estranho - diziam eles - como pensamos todos exatamente a mesma coisa. Mesmo não sendo médiuns ostensivos recebemos instruções específicas, tão nítidas que era como se alguém falasse ao nosso lado.- Essa era a experiência mais magnífica que alguém poderia passar, e os três a estavam passando. Estavam assim trocando impressões quando foram chamados e convidados a sentar. - Irmãos Francisco, Julio e Mario, sejam bem vindos. Que a paz esteja com todos nos aqui e sempre. Por favor, vamos nos acomodar. Ainda surpresos com a chegada inesperada daquele homem sentaram-se cada um em um lado do círculo. Ele era bem alto de porte físico atlético, cabelos e olhos bem claros e vestia-se como um religioso, sua roupa parecendo mais um manto enorme cobrindo o corpo e arrastando pelo chão, deixando aparecer apenas a cabeça, e uma silhueta mal definida mostrava outro tipo de vestimenta por baixo do manto. Francisco foi o primeiro a falar. - Nos assustou... Não esperávamos mais ninguém... Não o vimos chegar, por onde o Sr veio?-
  • 7. Francisco falava com um pouco de dificuldade mas era objetivo. - O Sr é padre? - Não sou padre, sou um amigo de longo tempo, embora não lembrem, logo entenderão tudo o que está acontecendo. Por enquanto peço que fechem os olhos, façam uma oração particular invocando a espiritualidade superior, se desliguem do mundo e concentrem-se apenas o local que estamos agora. Isso é extremamente importante para o início de nossa reunião, e deverá ser feito sempre. Pedir era uma coisa, mas conseguir era outra bem diferente. O receio e a curiosidade extrema torturavam os três recém conhecidos, que não alinhavam os pensamentos e não encontravam respostas para as milhares de perguntas que se acumulavam na cabeça. Ao invés de se concentrarem, olhavam de um para o outro tentando encontrar um ponto de apoio que os convencesse a ficar ali. Tentando aquietar o grupo recém formado o estranho visitante disse: - Não tenham nenhum receio por estarem aqui neste local afastado e deserto. Posso assegurar-lhes que aqui jamais alguém poderá fazer mal a vocês ou a quem quer que seja, nem eu se quisesse nem ninguém, repito. Esse momento vem sendo preparado há muito tempo, mais do que vocês podem imaginar, asseguro-lhes, e os três já tiveram participação nesta preparação. Apenas não conhecem a profundidade da tarefa nem seu conteúdo
  • 8. nem objetivo. Apaziguem seus corações e entrem em sintonia com o Mais Alto para que se inicie a mais bela revelação jamais feita neste mundo. Passou-se ainda mais de meia hora para que a entidade se desse por satisfeita e desse início à tarefa. Neste momento então era como se tudo tivesse tomado um formato diferente, como se a noite tivesse desaparecido apesar de o céu apresentar o maior espetáculo jamais visto, como se todos os astros, toda a natureza toda a humanidade tivesse parado e se reunido para assisti-los, como se a vida se tornasse música para celebrar aquele momento e todos os outros que estavam por vir. Tudo era belo, tudo era mágico, tudo era divino. - Irmãos! Alegrem-se pois é chegado uma nova era. Eis o momento aguardado por muitos, e temido por outros tantos. Eis o momento de a humanidade terrena entrever o que aguarda aqueles que seguem os conselhos sutis do Divino Mestre. Eis o momento de conhecer o destino do joio e do trigo. - As palavras daquele homem tinham uma profundidade tão grande quem ninguém se atrevia a interromper. O momento era tão grandioso que de repente tudo que era conhecido deixou de fazer sentido e o novo se tornou a estrela guia daqueles homens. - Não pensem jamais em eleitos enviados do Pai, pois aqui não há mais do que iguais na atual jornada que se segue, somos como irmãos de uma mesma família
  • 9. em que um inicia as primeiras letras e o outro ensaia o primeiro namoro com a escolhida de seu coração. Abaixo e acima ainda existe uma infinidade de outros irmãos igualmente estradeiros da mesma jornada. Essas palavras encerraram aquele momento de ostentação e como por milagre, todo o ambiente tornou- se como um só organismo, sem desvios, sem barreiras, sem distúrbios. Como um mecanismo perfeito pronto para funcionar quando preciso. Logo o estranho amigo começou a falar, iniciando as apresentações. - Meus amigos, nesta noite se inicia uma nova página nos livros da evolução da humanidade terrestre. Como membros da corte universal que ainda engatinham rumo ao topo da árvore da vida, terão a partir deste momento um novo motivador para que essa evolução possa se acelerar. O Pai Maior, na grandiosidade de sua bondade, permitiu que lhes fosse dado um novo conhecimento, uma nova oportunidade de visualizarem o verdadeiro caminho que já foi mostrado inúmeras vezes, e que foi iniciado por nobilíssimo irmão, conhecido entre vós por Jesus o Cristo. Com o passar dos tempos, inúmeros lembretes lhes foram dados por irmãos que reencarnaram entre vós com a nobre missão de renovar o conhecimento dos segredos da vida eterna, e dos caminhos necessários para que todos possam alcançá-la. Mas os trabalhadores das trevas quando não desvirtuam as palavras, os fazem com os seguidores do cordeiro
  • 10. aproveitando-se da inocência de sua fé. Como sabem a separação do joio e do trigo já esta sendo concretizada, e aos cegos e surdos será dado o choro e o ranger de dentes, e aos que têm olhos de ver e ouvidos de ouvir, leite e mel os esperam na mesa divina. Neste momento nosso amigo estava com os olhos voltados ao alto, como se todo seu ser estivesse ligado a todo aquele grandioso e iluminado céu, que mais parecia um enorme refletor formado de milhares de milhões de lâmpadas. A beleza era de tirar o fôlego. Os três convidados estavam estáticos, não se atreviam a fazer um movimento sequer, nenhum comentário lhes vinha à cabeça, as verdades ouvidas eram tão profundas que não era preciso. Limitavam-se a esperar pela continuidade da oratória. Depois de alguns instantes continuou nosso amigo. - Primeiro é necessário que nos apresentemos. Não sou conhecido entre vós, apesar de ter já reencarnado muitas vezes em seu mundo, todas elas sem que fosse necessário guardar nome à posteridade, mas as últimas me deram a grata alegria de ascender a mundos um pouco melhores, e o prazer de servir em missões como essa que agora espero cumprir conforme a vontade do Pai. Podem me chamar de José, sem com isso associar esse nome a qualquer personagem da sua história, pois é um nome fácil de lembrar já que o nome pelo qual sou conhecido em meu meio não é importante, e além disso
  • 11. dificilmente poderá ser associado a outro qualquer do mundo invisível. Em resumo, prefiro ficar incógnito. Resolvido este ponto, continuemos pois o tempo é curto e a tarefa nos espera. Antes que José pudesse continuar, Francisco não se conteve e quis saber de do novo amigo porque justamente ele estava ali, já que haviam tantas pessoas mais gabaritadas do que ele para receberem as novas mensagens. - Não quero parecer ingrato mas me parece que há no mundo pessoas mais qualificadas do que eu para estarem aqui! - Também acho.- Responderam Júlio e Mário quase ao mesmo tempo. - Já lhes disse, há muito tempo este momento vem sendo preparado pelo Mais Alto, e todos nós tivemos participação ativa nesta preparação, inclusive vós que estais aqui agora. Não teria sentido trazer outros que não tivessem participação nesta preparação, apesar de haver muitos merecedores, mas cada coisa tem que vir a seu tempo. Agora, continuemos. José ficou um tempo muito curto observando os três e continuou. - Minha apresentação de vós que estais aqui agora poderá justificar a escolha que se efetiva neste momento, era de se esperar esta reação que apresentastes, meus amigos Francisco, Júlio e Mário. Era esperado que
  • 12. vós cumprísseis as promessas de outrora na presente encarnação, mesmo porque eram tarefas simples mas recheadas de armadilhas, tão simples quanto o contar dos dedos e tão traiçoeiras quanto o olhar da medusa. Júlio durante sua vida atual esteve cercado de poder e sedução que o mundo pode oferecer. Na formação escolar abriu mão do sucesso em favor de amiga necessitada, à qual restaria somente dor e humilhação de família ingrata caso não conquistasse sucesso escolar, fato que resultou na preservação da auto estima da companheira, que se tornou extremamente grata até os dias de hoje. No início da profissão engajou-se na tarefa de preservar a ética e a moral conquistando aliados de calibre na construção de normas infalíveis na rotina trabalhista com objetivo de preservar os direitos dos trabalhadores. Não só batalhou a vida toda em prol dos que estavam à sua volta, como levou a muitos a seguir a mesma trilha, espelhando-se em suas atitudes firmes e virtuosas. Principalmente a companheira do ginásio, que se tornou por toda a vida a companheira de todos os momentos. Naquele tempo, se tivesse tomado uma atitude diferente, teríamos perdido uma alma e várias outras para as fileiras do orgulho e do egoísmo. No pequeno intervalo que se fez todos podiam sentir a emoção que tomava conta de Júlio. Não tinha noção de que essas coisas poderiam ser levadas tão em conta.
  • 13. - Mario, companheiro já de várias lutas, como mestre na ciência de administrar cumpriu com perfeição a missão, fazendo da arte de ensinar um canal para que todos os seus pupilos conhecessem a fundo o poder da ética, da moral, da humildade e do altruísmo não somente no exercício da profissão, mas também em toda a vida na relação com o ser humano. Seu exemplo será seguido por toda a posteridade e abrirá caminho para a nova forma de dirigir o ensino em todos os estabelecimentos. Não só na profissão mas também na intimidade teve o prazer de ver seu exemplo sendo seguido. Esposa e filhos se antes eram desconfiados, arredios, e avessos ao mundo, agora seguem o exemplo do pai e esposo. Mario também ficou emocionado e meio confuso com a exposição que acabara de ouvir. Não se lembrava de o seu ensino ter sido tão diferente assim, apenas tentou passar a todos o que aprendera desde criança. - Finalmente Francisco, meu caríssimo irmão, amigo e companheiro de muitas lutas. Tive o prazer de vê-lo colocar em prática tudo aquilo que acumulamos em todas as jornadas em que batalhamos juntos ou em separado. Acompanhei-o durante muitas delas e o plantio foi difícil e trabalhoso, porém, a colheita está sendo farta. No decurso desta longa jornada em que nos engajamos agora, tive a felicidade de vê-lo trazer para junto de si muitos irmãos ainda em início de labuta, perdidos que
  • 14. estavam no alinhamento de suas diretrizes e facilmente impressionáveis com as seduções perniciosas que a vida fácil pode oferecer. A consideração, o respeito, a amizade, a igualdade e a alegria de viver foram fundamentais para conquistar a confiança desses pequenos irmãos, os quais, por não ficarem largados, não se perderam nas teias traiçoeiras da iniquidade. José fez um pequeníssimo intervalo e continuou. - Desapego, altruísmo, desejo de servir à justiça e à verdade, respeito à vida e aos companheiros de jornada e o amor ao próximo são o resumo do que se apresenta aqui agora. Essas são virtudes esperadas a muito na conduta da humanidade, mas as dificuldades na jornada levou o homem a buscar a alegria transitória em detrimento da felicidade celeste. Não há momento na curta vida deste mundo em que faltou a intervenção divina para que o homem acordasse da treva e buscasse a luz, mas para sua infelicidade não soube enxergá-la e segue precipitado rumo ao precipício. Mas o Pai que é hábil a recolher todas as suas ovelhas perdidas, não perderá uma só delas. Essa é uma verdade que está escrita no livro da vida, e não há ser no universo que possa apagá-la. Agradeçamos ao Pai pela oportunidade do trabalho realizado com êxito até agora, pois a jornada ainda é longa e muito ainda há a ser feito para que possamos cumprir a tarefa programada com êxito.
  • 15. A pausa que se fez deu a cada um dos presentes a oportunidade fortalecer a ligação com O Mais Alto em agradecimento pela nova oportunidade de ser útil. Nenhum deles sabia bem porque estava ali. Sabiam, no entanto, que algo grandioso os esperava, que uma nova estrada se abriria à frente para conduzir a todos os que fossem determinados e firmes na fé, a todos os que não se deixassem abater nas armadilhas mundanas. Mario deixou escapar um suspiro e uma colocação. - Na verdade toda a humanidade espera alcançar a divindade, a felicidade suprema, o mais alto dos céus, sei que já passamos todos pelos mesmos momentos dolorosos da queda e sei que somos ainda bebês engatinhando rumo à realização suprema. Não consigo entender porém porque tantos relutam tanto em aceitar a verdade e abandonar o poço fundo em que se colocaram? - Aquele que não derrama suor e lágrimas no arado não sabe o valor do pão que come. Quem quer saciar a fome na ociosidade perece no peso da inutilidade. Esta advertência resumia bem a situação em que se encontrava o homem. Não há dificuldade em sair da lama e sim, de reconhecer que estamos nela. Francisco também fez sua colocação. - Parece difícil visualizar um mundo livre das sombras que empanam a luz divina.
  • 16. - Exatamente meu amigo, essa situação parece distante mas o homem a verá. É certo que ainda passará por muitas experiências, mas a verá. - Algumas vezes vinha-me a impressão de trabalho perdido.- Disse Júlio - Foram muitas as vezes que ouvi de conhecidos que estava perdendo meu tempo com pessoas que não mereciam um centavo de consideração. Confesso que algumas vezes vinha-me o pensamento de cuidar somente da minha vida. - E sabiamente resistiu às insinuações de espíritos ainda resistentes ao bem. Saibam que foram constantemente assediados pelas sobras, assim como acontece com toda a humanidade. Pena que são poucos os que se dão conta disso, e mantêm a ligação sadia com o Mais Alto. - Sim, sabemos. - Concordaram os três. - Também sentia constantemente essas aproximações. - Disse Mario - E como Júlio, também tive vontade de esquecer todos e tocar minha vida para frente. - Mas o pior é que muitos dos que nos assediam, muitas vezes são pessoas ou de nosso meio de amizade ou de reconhecida formação espiritual. O que faz com que muitos os sigam e poucos fiquem firmes na fé. E raríssimas vezes conseguimos objetar e rebater estas investidas. - Dois pontos aqui devem ficar claros. -Disse José- Primeiro, o mal procura sempre posições mais
  • 17. elevadas, íntimas, ou de aparente moral elevada para aliciar seguidores. Segundo, a melhor forma de rebater a insinuação do mal é o exemplo e o trabalho firme no bem. Algumas vezes perde-se a batalha, mas nunca a luta. É importante deixar claro que o assédio contra o bem existe em todos os níveis, não existe, no mundo físico, um porto seguro livre das malhas trevosas, já que nem o Mestre ficou livre da tentação. Por isso repito, o trabalho é o antídoto contra a ociosidade do corpo e da mente. Agora dando continuidade, encerraremos nossos trabalhos por esta noite. Hoje tivemos oportunidade de nos conhecermos e de palestrarmos um pouco a respeito da vida. Nossas próximas reuniões acontecerão sempre no mesmo dia e mesmo horário. Nem preciso dizer que é imprescindível o rigor na presença e no nível moral principalmente enquanto durar esta tarefa. Na próxima reunião saberemos um pouco mais sobre ela. Não encerraremos com oração pois a vida deve ser uma constante oração, no pensamento, na atitude, na relação com a vida e a natureza. Não deixem que a dúvida e os sentidos mundanos traiam sua filosofia e suas diretrizes, sejam sempre bons pela simples beleza de o ser. Vamos em paz, e que Deus e o Divino Mestre nos acompanhem sempre. Enquanto José fazia a despedida um jato de luz descia do céu e envolvia o círculo onde estavam os quatro. Ao mesmo tempo José parecia desintegrar-se em
  • 18. meio àquela luz. Tudo era silêncio à volta, e o silêncio parecia cantar aos ouvidos dos que estavam presentes. Nada se comparava a experiência que viviam naquele momento, nem em sonhos, nem na realidade, nem nas literaturas e nem nos casos que se contava nos centros espíritas. Até o ar parecia parar para não obscurecer aquele momento. Aquela música que não se ouvia mas que penetrava em cada poro, marcou de tal forma a vida daqueles personagens que se tornou presença constante, como o ar para a vida, como Deus para os homens. Durante um bom tempo os três ficaram ali absorvendo cada detalhe daquele momento, para não perder nenhum ponto por menos importante que fosse, para não escapar nenhum gesto, para gravar em todos os conscientes e inconscientes cada segundo daquele encontro, cada palavra dita, cada olhar, cada suspiro, cada sorriso e cada lágrima de compreensão e agradecimento.
  • 19. 2 - NA CASA DE FRANCISCO Aos poucos tudo foi se aquietando, tudo foi voltando ao seu normal, com o céu limpo e brilhante, o ar voltando a circular com uma brisa fresca e agradável, os sons da mata, o cricrilar dos grilos, algazarra dos bichos, a melancolia dos pássaros noturnos, tudo parecia acordar de um pequeno repouso proposital a respeitar a presença daqueles seres superiores cuja aparição trouxe consigo equilíbrio e paz à floresta. Nem de longe poderia supor a importância daquele espetáculo, qualquer estranho que ali aparecesse naquele momento. O mais estranho é que realmente ninguém percebeu a menor interferência durante o tempo em estavam ali. Era engraçado pois sempre tinha alguém passando por aquela estrada, e com certeza ouviria as vozes vindas do meio da mata. Francisco levantou-se e, acompanhado pelos outros dois, afastou-se da clareira caminhando devagar rumo à estrada. Os três limitaram-se a ficar observando o céu pensando, cada um a sua maneira, o que os reservava as potências celestes. Não tinham a menor idéia de o porquê estar ali, apenas sabiam que algo importante iria acontecer. Francisco foi o primeiro a interromper os pensamentos. - Estava pensando, o que será que nos espera no futuro, não consigo parar de pensar nisso.
  • 20. - Acho que nos será revelado alguma coisa muito importante, segundo o que entendi.- Disse Mário. - Também acho.- Completou Júlio - Você o que acha Francisco? - É, José comentou que conheceremos o futuro daqueles que seguem os ensinamentos de Jesus. - E dos que não seguem também. - Exato, e isso me deixa meio incomodado. Não gosto de saber dessas coisas de catástrofe, de fim de mundo, etc. - Não acho que ele se referia ao fim do mundo. - Disse Júlio - Pra mim é mais o destino dos que insistem no mal do que outra coisa. Afinal, como sabemos já, nosso mundo está em vias de se tornar um mundo de regeneração, apenas acho que isso ainda demora um pouco. - Você tem razão. - Emendou Francisco - Mas eu acho que não demora, lembro e José também comentou, que a separação já começou. Muitos espíritos já nos comunicaram que o destino da humanidade já está traçado, existe muita literatura sobre esse assunto. - É verdade. - Mário concordou - Mas o que estou querendo saber agora é como estamos os três aqui, e nunca nos vimos antes dessa noite? Costumo sempre andar por aqui e nunca os vi! - É, também estou curioso pra saber. Acho que deveríamos nos encontrar para conhecermos um pouco
  • 21. sobre nós mesmos. - Disse Francisco - Tenho uma pequena chácara no final da estrada à esquerda, minha secretária esta de folga no final de semana. Poderemos nos encontrar no sábado para conversarmos. Ela é católica fervorosa e não quero confundi-la com assuntos espíritas. - Também tenho uma chacrinha no final dessa estrada! - disse Júlio. - Eu também! - Completou Mário - Não é possível! Moramos um do lado do outro e não nos conhecemos! Isso é que é ser bom visinho, não é Francisco? - É, acho que temos muito que conversar... Rapidamente chegaram a suas casas. Combinaram de se encontrar no sábado na hora do almoço e despediram-se. Francisco ficou parado na entrada de sua chácara observado enquanto seus dois novos amigos se distanciavam. Realmente eram visinhos, pois logo viu que cada um entrava em um portão, um bem próximo de sua cerca e o outro em frente mais pro final da estrada. Não era muito de sair a não ser quando ia para a cidade rever alguns amigos ou parentes. Talvez por isso não conhecesse ninguém por ali, além do fato de morar na chácara há pouco tempo. Olhou no relógio e se espantou pois pensava ser bem mais tarde. Engraçado isso, jurava ter ficado a noite toda fora, com certeza Maria ainda estava acordada. Ficou ainda um pouco fora
  • 22. de casa sentado em um banco de madeira apreciando a noite, uma vez que não sentia sono. Não conseguia dar um rumo aos pensamentos. Sempre se considerou senhor de si em tudo o que se referia à espiritualização e destino da humanidade, porém agora novas idéias jorravam, muitas suposições e nenhuma resposta lhe vinham à cabeça. Respirou fundo e tentou acalmar o espírito formatando em sua mente os preparativos para o encontro de sábado. Tinha certeza que seria agradável ter amigos novos em casa, já que há muito tempo não se dedicava a reunir pessoas na intimidade. E assim ficou perdido em seus pensamentos por um bom tempo até que Maria veio chamá-lo. - Seu Francisco, o senhor não vai entrar, tá muito tarde e o senhor ainda nem jantou... A comida já esfriou e vou ter que esquentar tudo de novo! - Não se preocupe, Maria, pode ir dormir que depois eu faço um lanche, boa noite. - O senhor é quem sabe, eu vou dormir, boa noite pro senhor também. Um tempo depois Francisco resolveu se recolher. Os novos amigos e os acontecimentos da noite não lhe saiam da cabeça, e com esse pensamento Francisco foi dormir. Os dias seguintes passaram-se normalmente e chegou o sábado. Francisco resolveu preparar alguns petiscos acompanhados de suco e vinho, e depois que
  • 23. estivessem reunidos prepararia um almoço leve enquanto conversassem. Logo chegaram Júlio e Mário, e para surpresa de Francisco, cada um trazia um pacote com apetrechos já prontos para o almoço. Houve um misto de surpresa e alegria entre os três pois aquela atitude mostrava bem o valor que era dado àquela pequena reunião. Sim pois quando há desinteresse valorizamos pequenas coisas, pequenas atitudes. Logo estavam todos acomodados e conversando pequenas banalidades enquanto Francisco preparava os petiscos, suco e vinho. Não demorou muito estavam os três sentados, ouvindo música enquanto beliscavam prazerosamente sem preocupação com o mundo lá fora. Então Júlio perguntou: - Está me dizendo que você não recebe visitas aqui? Mas por quê? - Maria reclama sempre: - Seu Chico, o senhor esta sempre sozinho, não recebe visita nem de amigo nem de parente, não é possível que uma pessoa viva desse jeito. - Eu tenho sim muitos parentes e amigos, mas nenhum deles compartilha de meus ideais, nenhum tem a mesma linha de pensamento, eu não suporto como se referem às pessoas e à vida. Poderia até acompanhar eventualmente alguns comentários, mais daí passar um dia inteiro ouvindo reclamações e revoltas de toda sorte é outra história. Eu não tenho aquele poder que muitos têm
  • 24. de rebater idéias contraditórias, o pensamento grita a discordância mas não sei iniciar uma polêmica. - Mas é tão difícil assim encontrar pessoas que trilhem os mesmos pensamentos?- Perguntou Mário. - Não! Não é difícil, mas quando encontramos ou é a falta de tempo para um diálogo construtivo, ou mesmo a velha e ingrata desconfiança que habita os espíritos cansados de levar paulada. Ninguém sequer pensa na possibilidade de servir de ovelha em mãos de lobos. - Mas me diga uma coisa Francisco, como é que você veio parar num lugar desses? - perguntou Júlio querendo mudar o rumo da conversa para que se conhecessem melhor. - Bem, não foi tão fácil. De repente veio uma necessidade muito grande de me afastar da agitação da cidade, apesar de estar quase sempre lá. Afinal tudo que tenho que fazer, é na cidade, mas é muito bom saber que sempre que quiser posso fugir para cá, para um lugar de paz. É bom que fique claro que não estou fugindo do mundo. Acho que todo mundo tem necessidade de se isolar de vez em quando. - Você tem família na cidade? - perguntou Mário. - Tenho alguns parentes distantes. Meus familiares mais próximos vivem no sul do país. Vou visitá-los de vez em quando. Quanto aos parentes da
  • 25. cidade, vejo-os sempre, mas estou mais com os amigos que sempre fazem com que eu vá a casa deles para trocar idéias, roubar alguns conselhos, ou falar sobre coisas espirituais. Muitos ao saberem que sou espírita, ficam curiosos para conhecer. Então aí sim o assunto fica agradável. Lembrando que o almoço estava no fogo, Francisco convidou os amigos para ir à cozinha. Tinham ainda bastante tempo antes de almoçar, então podiam conversar mais a vontade perto do fogão sem correr o perigo de queimar algo. Francisco resolveu fazer um refogadão de legumes com arroz e feijão branco, e gostava sempre que tudo cozinhasse bem devagar em seu fogão à lenha. Nada se comparava a um almoço feito em fogão à lenha e Francisco não abria mão disso. Mário não demorou a comentar. - Nossa, o cheiro está muito bom Francisco, o que você esta fazendo aí? - Realmente. - emendou Júlio - Apesar de ter beliscado uns petiscos, isso está me dando muita fome. Acho que vou tomar um pouco de vinho e apurar o paladar. Hoje terei que cometer um pecado, sinto muito. - Nada demais senhores, somente um refogadão e feijão branco que aprendi com Maria, acompanhado de arroz e alguns molhos que são segredo da minha secretária. E acho que vou acompanhar no vinho, sinto
  • 26. hoje uma alegria especial, como se uma nova página estivesse sendo escrita nos livros de nossa vida. - Tem razão, Francisco. - tornou Júlio - Estava comentado com Mário exatamente sobre isso quando vínhamos para cá. É como se um novo fôlego, especial, fosse dado a nós para a continuidade de nossas vidas, sinto que viveremos coisas importantíssimas por esses dias. - É, não vejo a hora de chegar a próxima quarta para nos reunirmos novamente com José. Então saberemos o que nos aguarda. Pelo tom que ele nos falou acho que é algo da maior importância para a humanidade. Não sei o que vocês pensam, mas não me reconheço como uma pessoa capacitada para ser o portador desse conhecimento. Sei de pessoas que, em minha opinião, estariam mais à altura de uma responsabilidade deste quilate. - Acho que devemos deixar as coisas acontecerem, se José acha que tem que sermos nós, ele não deve estar enganado, ou não seria o portador de O Mais Alto para esta tarefa. - opinou Mário. - Acho que Mário tem razão Francisco, vamos deixar as coisas acontecerem. Agora acho que devemos parar de nos preocuparmos com isso e falar de coisas mais alegres, sabemos que de qualquer forma acontecerá o que tiver de acontecer. - completou Júlio.
  • 27. Tomando um ar mais jovial que escondia bem a idade, Júlio começou a falar de assuntos mais descontraídos e pitorescos, sempre tentando conhecer um pouco mais do anfitrião. Ficaram sabendo por exemplo que eram quase da mesma idade, sendo Francisco o mais velho e Júlio o mais novo. Os três já estavam aposentados porém, não abriam mão de qualquer atividade que os tornasse úteis. Invariavelmente esta atividade estava ligada a algo social, o que os tornava muito conhecidos e queridos na cidade onde também tinham residência fixa, porém, como sabemos, preferiam o campo. Francisco não abria mão da companhia de Maria, sua secretária do lar como costumava se referir, o que aguçou a curiosidade dos dois amigos. - Esta me parecendo que Maria é mais do que a doméstica, não acha Mário? - Júlio deu uma piscada maliciosa tentando provocar Francisco. - Realmente. Francisco tem um carinho especial por Maria, tanto que não fala de um assunto sem falar dela. Acho que você gosta mais dela do que imagina, Francisco. - Acho que respeito é bom e agradeço. - falou em tom de brincadeira, depois tomando um ar mais sério continuou - Maria realmente é especial, é bonita, atraente, um pouco mais jovem que eu e está sempre do meu lado me ajudando e cuidando de mim e de minhas coisas. Mas isso nunca passou de uma boa amizade e
  • 28. acho que ela também pensa assim. Para falar a verdade nunca pensei de outra forma. Sempre fui sozinho, tive claro algumas namoradas mas a idéia de ter uma companhia constante nunca me passou pela cabeça. Engraçado, falar disso agora torna as coisas diferentes. - Posso falar por mim e acho que por Júlio também, pelo pouco que o conheço nesses quatro dias. Somos casados e vivemos com nossas esposas. Da minha parte te digo que o casamento é muito bom, mas não é um eterno paraíso, e creio que isso possa servir para qualquer um. Todo relacionamento tem altos e baixos, tem briga e paz, tem amor e ódio, tem dia e tem noite, tem céu e tem inferno. O grande segredo é como nos comportamos nos dias bons e como nos equilibramos nos dias ruins. Tem uma história de um homem que foi chamado a atravessar um deserto e vencer as tentações que viriam dos habitantes do deserto, o segredo é que nos dias ruins dentro do deserto ele acreditou em si e continuou, e nos dias ruins, quando vieram seduzi-lo e oferecer-lhe riquezas, poder e fartura, por saberem-no enviado do Rei, não tombou, e confiou em seu soberano pois sabia que um Pai jamais abandona seu filho. Essa história é de Jesus quando foi tentado no deserto, mas também é a história de qualquer um de nós quando somos chamados a atravessar nosso deserto pessoal. Sempre aparecerão as facilidades do mundo, o medo de atravessar barreiras, uma situação mais confortável ou
  • 29. simplesmente a confortável posição de espectador, onde preferimos observar o mundo crescer e tentar a compaixão de alguém quando o fundo do poço se aproxima. Quando Mário parou de falar, seus dois amigos estavam estáticos, pareciam hipnotizados. Um pouco confuso perguntou o que estava acontecendo. Francisco respondeu que jamais ouvira uma definição tão perfeita de como atravessar as dificuldades da vida. Tinham um exemplo tão perfeito e, confessavam, jamais se lembravam disso. - O mundo está sempre a cobrar tanto de nós que acabamos esquecendo que somos capazes de atravessá-lo apenas confiando em nós mesmos. - disse Francisco. Por algum tempo todos ficaram pensativos, analisando o que acabara de ser dito. Aquilo era muito profundo. Quem nesse mundo para pra respirar fundo e dizer: sou forte, confio naquele que é o Pai Supremo e que não me abandonará? Muitos dizem que Deus é fiel, mas quantos são fiéis a Deus? Quantos podem dizer que confiam plenamente no Criador? Quantos são capazes de abandonar tudo pela caridade? Deduziram que nenhum de nós é capaz do desapego total em benefício da evolução espiritual, do crescimento moral. - Mas eu acho que você deveria prestar mais atenção em Maria, Francisco, aposto que tornaria sua
  • 30. vida diferente. - Júlio insistiu no assunto pois estava certo que o amigo era muito solitário. - Se ela está sempre no seu pé, isso é uma prova. Pelo menos se preocupa e cuida bem de você. - comentou Mário. - Na pior das hipóteses, fico sem a empregada. - Arrematou Francisco. - E ganha uma companheira. - completou Júlio. - Ou não... O dia seguiu tranquilo, com os amigos falando sobre coisas amenas, engraçadas ou curiosas sobre o lugar onde moravam, sobre a vida ou sobre eles mesmos enquanto almoçavam, depois assistiram alguns documentários na TV, tomaram um chá no final da tarde e despediram-se. Francisco ficou ali sentado em frente sua casa no toco de madeira que servia de banco, observando o início da noite e pensando que realmente precisava dar um rumo novo na vida. Mal se despedira dos amigos e a solidão o torturava. Será que ... Maria? Não conseguia encontrar coragem. Realmente gostava dela de uma maneira diferente, fruto dos anos de convivência. Tratava-a com dignidade e respeito como tratava a todos. Mas o carinho entre os dois dava o toque a mais. Ia amadurecer a idéia e dar um jeito de tocar no assunto.
  • 31. 3 – PREPARATIVOS Na segunda feira bem cedo Francisco teve que ir à capital para acertar assuntos pessoais e teve que ficar mais tempo do que queria. Na terça à noite estava ansioso por medo de perder o encontro da quarta, mas daria um jeito, nem que tivesse que adiar o término da solução do compromisso. Felizmente tudo correu bem e conseguiu chegar em casa bem a tempo. Ao chegar, Maria estava com cara de reprovação, e foi logo reclamando. - Senhor Francisco, precisamos ter uma conversa!!! - Xiii, Maria, você quando fala assim é porque lá vem bomba. - Falou em tom divertido. - Mas vai ter que ficar pra depois, pois está anoitecendo e tenho que sair. Vou tomar banho e me arrumar. Amanhã conversamos, tá bom? - Tudo bem ”seu Francisco”. Maria respondeu meio triste, muito decepcionada, o que fez Francisco estranhar um pouco. - Será que eu disse algo errado? - Porém logo lembrou do compromisso e correu tomar banho, mas ficou pensando o que teria chateado Maria. Enquanto isso Maria dizia para si mesma: - Será que ele está saindo com alguém? - Voltou a seus afazeres imaginando como seria a escolhida de seu amor de tantos anos. Ele nunca se interessou por ninguém! Logo agora que ela estava
  • 32. tomando coragem acontece isso?... E Maria perdia-se em seus pensamentos. A noite estava ótima com a natureza convidando para compartilhá-la qualquer um que quisesse interagir com o belo e com o divino. Tudo estava em perfeita harmonia e Francisco perdia-se naquele maravilhoso cenário. Caminhava devagar já que saíra cedo, mas logo chegou a seu destino. Foi o primeiro a chegar dessa vez. Acomodou-se em seu lugar e, seguindo as instruções de José, pôs-se a meditar entrando em sintonia com o lugar e com a tarefa. Era incrível como conseguia desligar-se de tudo tão facilmente, esquecia completamente do mundo para concentrar-se unicamente na espiritualidade que deveria estar ali, preparando o ambiente, preparando os participantes da tarefa e todas as coisas que devem ser atribuição dos espíritos ligados à tarefa. Agradeceu a Deus pela oportunidade dada, pelos novos amigos que conhecera e pelas bênçãos recebidas. Pediu forças e sabedoria para seguir na execução da tarefa com justiça e inteligência. Francisco não soube dizer a quanto tempo estava ali, quando deu por si ouvia a voz divertida de José o chamando. - ... Francisco! Francisco! Pode voltar agora! Tudo bem? Ou você estava muito longe, ou estava muito bom o sonho!!
  • 33. - Na verdade estava conversando com Deus. - disse José meio envergonhado. - Sei disso, vejo com alegria que levaram a sério a meditação. Fico muito contente com isso, pois assim não teremos dificuldades no início da tarefa. Também foi muito bom terem se reunido no final de semana, deu chance para que se conhecessem melhor. - Desculpe não termos convidado você, mas decidimos de última hora e nem pensei que seria bom você ter estado lá também. - disse Júlio. - Mas eu estava lá! Vocês sentiram minha presença inconscientemente e não a rejeitaram. - Realmente o ambiente estava muito diferente, harmônico, havia alegria no ar e senti que estávamos bem acompanhados. Obrigado por ter estado lá. - disse Francisco. - Bem, dando início aos trabalhos de hoje. Conheceremos o teor de nossa tarefa, e a forma como será executada. Não somente nós quatro estamos envolvidos nesta epopéia mas, muitos outros trabalhadores da esfera invisível também. A seu tempo terão contato com alguns deles, mas a grande maioria ficará incógnita pois estarão presentes, mas em dimensão diferente e não acessível a vós. Mas devo dar-lhes uma advertência e é muito importante que seja observada. Enquanto estivermos na tarefa propriamente dita, tudo que houver de mais puro deve habitar vosso pensamento,
  • 34. muito mais do que praticastes até agora, sob o risco de comprometer o sucesso de nossa empreitada. Poderemos debater, tecer observações e comentários, mas não poderemos interagir, a não ser entre nós mesmos. José fez uma pausa para que todos pudessem absorver as informações e tirar alguma dúvida se fosse o caso, depois continuou. - Há muito tempo a vida material e espiritual foram plantadas neste mundo para que a obra do Senhor tivesse continuidade. Foi dado ao homem desse mundo, como de todos os outros, meios para que progredisse rumo aos céus e honrasse a oportunidade dada por Deus para a sua ascensão. Nós temos utilizado nossa inteligência para todo tipo de satisfação das prioridades mundanas, mas a humanidade em geral fechou os olhos e ouvidos para o pedido de nosso mestre Jesus, o ”vendei tudo que tem e dai aos pobres e me segue”. Não há um só momento que não tenha sido dada a oportunidade para que o progresso moral do homem, visto que foram enviados vários mensageiros com o intuito de acordar o homem de sua inércia. Ainda hoje temos vários exemplos vivos a ”pescarem homens”, mas a busca desenfreada pelo mais fácil, pelo mais atraente e pelo ócio deixa muitos filhos perdidos na lama da ilusão, plantada pelo reino das sombras para que a obra do Senhor não se cumpra. Assim, foi dado à humanidade mais uma prova de que a recompensa aos justos está sempre à espera,
  • 35. bastando apenas que cumpram com os desígnios do Senhor para que possam habitar esferas mais elevadas e contribuir para a obra universal, ou seja, o equilíbrio de todo o conjunto que abrange toda a criação em cada ponto do espaço, em cada átomo da matéria e em cada sopro de vida. Francisco, Júlio e Mário estavam atônitos com a definição tão exata do que eles viam como o retrato vivo da humanidade atual, não cabia ali qualquer observação ou questão já que não se podia rebater verdades tão profundas como aquelas feitas pelo Mentor. Depois de algum tempo José continuou. - É com emoção e honra que lhes revelo agora a razão desta tarefa, pois quis o Senhor que fosse aqui, neste tempo e conosco, que aqui estamos agora. - novamente breve pausa e depois continuou - Nos próximos encontros vós, meus amigos, conhecereis novos mundos, novas formas de conduta e novas formas de trilhar os caminhos do Senhor. Veremos o que espera os justos e o que espera os ímpios, conheceremos um mundo de verdadeira regeneração e justiça, e um mundo de triste sofrimento e dor onde se quita cada centavo devido na vinha do Pai. Foi dito ”Vá e pague o que deves com a consciência limpa e amor no coração, pois do contrário serás lançado à prisão, e de lá não sairás até pagares o último ceitil”. Assim disse o Senhor, e assim será cumprido.
  • 36. - Perdoe a interrupção, nobre amigo, mas está nos dizendo que conheceremos outros mundos diferentes deste, ou um mundo invisível onde estagiam espíritos desencarnados? - perguntou Mário. Diante desta questão, seus companheiros olharam espantados, pois não lhes tinha ocorrido a idéia de José estar falando em outros mundos distantes do nosso. - Não se espantem com essas coisas que vos falo, pois falo de outros mundos tão distantes do vosso que somente são possíveis na imaginação e nos potentes telescópios da terra, já que somente é perceptível a energia que emitem os astros aos quais giram ao redor, e sua presença é dedutível da diferença de massa. Desses milhões de bilhões de bilhões de mundos espalhados no universo do Senhor, muitos tem vida abundante e destes, os que pulsam a vida humana na dimensão física somente Deus o pode dizer, pois sabemos que a vida humana em outras dimensões pulsam em todo universo. Pois bem, visitaremos dois destes mundos, tão distantes da terra quanto entre si fisicamente falando, e tão próximo deste mundo espiritualmente falando. Sim meus caros companheiros, a distância espiritual de vosso mundo para o mundo superior e o inferior é tão pequena que está ao alcance das mãos. Se a humanidade terrena estendesse a mão em benefício dos necessitados, abrisse mão do orgulho, da cobiça e da vaidade em favor da justiça e equidade, estariam já habitando um mundo melhor. Mas
  • 37. a mão que se estende é para matar, destruir e usurpar. A esses vos digo que o caminho ainda é longo mas um mundo de dor e sofrimento está mais próximo do que imaginam. Então, volto a afirmar, conheceremos sim mundos diferentes do vosso. A forma que se dará isso é o que veremos agora.
  • 38. 4 - ESTAÇÃO DE TRANSIÇÃO Depois daquelas informações José fez um intervalo longo enquanto observava seus três pupilos. Era claro a confusão em que eles se encontravam. Aguardou que as perguntas viessem mas parecia que não conseguiam nem mesmo formular uma sequer. Até que Francisco comentou: - Parece que estou sonhando, ou participando de um desses filmes de ficção, com todo respeito que o momento merece. Não consigo imaginar como se dará tudo isso que você nos fala!! - Não se torture com isso, Francisco, aos poucos ficarão familiarizados com todo o processo. Então ficará mais fácil de entender. Verão que tudo é muito simples pois para Deus nada é difícil, bastando apenas boa vontade e um fim útil e nobre para toda a humanidade terrestre. - Sei que você está certo, apenas estou tremendo por dentro em pensar o que nos espera. Mais certo é dizer que a emoção é imensa. - É verdade Francisco, também estou me sentindo assim. Um misto de emoção e medo, só não sei medo de que. Mas é medo. - falou Júlio. - Emoção sim, mas medo? Não sei. Penso que em mim prevalece a curiosidade, mas não a curiosidade vazia e sim a sede de conhecimento. Sempre ficava
  • 39. imaginando como seriam os mundos superiores, como vivias as pessoas já libertas das malhas ilusórias da vida em mundos como o nosso. - Mário também expressou sua opinião, já antevendo a importância do grande evento do qual participaria. Na verdade todos ali estavam ansiosos para dar prosseguimento à tarefa e presenciar o que, na opinião deles, seria a maior das experiências já vividas por alguém. José não se fez esperar e continuou. - Para a viagem que faremos, se fosse em veículo físico e com o vosso corpo físico é evidente que não sobreviveriam nem ao início da viagem, que seria a saída de vosso orbe e em seguida de vosso sistema planetário, processo que leva algum tempo para que seja feita adequação físico-espiritual, ou seja, adequação do perispírito. Esta adequação tem que ser feita sempre que abandonamos um mundo para entrarmos em outro. Creio que já ouviram falar deste processo, pois já foi descrito em várias literaturas. Pois bem, este processo evidentemente pode ser feito somente em espíritos desencarnados mas, também pode ser feito em duplo desdobramento onde, emancipa-se o espírito de seu corpo físico, e na sequência há um novo desdobramento onde fica liberto o ser inteligente. Este processo tem similaridade com o que aconteceu com André Luiz no livro Nosso Lar, quando foi visitar sua mãe em plano superior ao seu. Alguma dúvida até aqui?
  • 40. José aguardou alguns instantes para que seus amigos pudessem assimilar bem as novas informações. Na verdade nossos amigos, não se sabe como, enquanto ouviam a explicação de José tinham a visão perfeita de todo o processo acontecendo. Não havia como ter alguma dúvida, estava tudo à suas vistas, como num vídeo que passa enquanto se assiste a uma aula. Depois souberam que era como as telas onde se passava a vida da pessoa em um processo de revisão da vida passada, só que agora tudo se passava na mente e era uma simulação do futuro, ou seja, o que poderia acontecer a quem passa pelo processo. Todos acenaram negativamente com a cabeça, o que deixou o Mentor contente. Depois de algum tempo continuou. - Findo este processo inicia-se os preparativos para a viagem até o primeiro dos mundos que conheceremos, o que deverá acontecer no intervalo de doze horas entre a ida e a volta. Para que isso aconteça utilizaremos veículo apropriado da espiritualidade superior, supervisionado e tripulado evidentemente por entidades à altura. Como sois espíritos ainda encarnados, é necessário o uso de veículo apropriado para vossa proteção, já que existe forte e evidente ligação com o corpo físico. Nossa tarefa deverá ser realizada em ambiente devidamente preparado em dois finais de semana em que não teremos interferência de nenhum tipo. Este ambiente será a casa de Francisco e as
  • 41. instruções para o preparativo serão dadas posteriormente, pois devemos nos preocupar com cada coisa a seu tempo. - Quer dizer que uma viagem pela galáxia ou para outras galáxias é impossível para o homem encarnado? Perguntou Francisco um pouco decepcionado. - Acontecerá um dia, mas esse dia está muito distante ainda. Quando Deus julgar que é hora, então acontecerá. - E existe algum povo no universo que faz essas viagens? Um povo com a constituição física como a nossa? - Existe sim. E estão constantemente vos visitando. - E porque Deus permite que eles invadam nosso mundo, sem nosso conhecimento? - perguntou Júlio calmamente. - Para estudos de outros povos com objetivo de enriquecimento do conhecimento, para colaborar na evolução de um povo. E ademais Deus não precisa pedir permissão para enviar seus obreiros. Existem muitos relatos de extraterrestres que raptam pessoas, que fazem experiências mas a maioria não passa de lenda. É claro que já ouve contato direto mas com consentimento mútuo. - Como são essas viagens José, como são os veículos e o combustível? - perguntou Francisco.
  • 42. - É exatamente isso que conhecerão posteriormente. Por hora posso adiantar-lhes que vossa viagem será igual a de qualquer viajante do espaço, encarnado ou desencarnado. Na próxima semana conhecerão os detalhes. Mais alguma questão? - Acho que por hora estamos satisfeitos. - respondeu Francisco depois de olhar para Julio e Mário. - Pois bem, preciso agora de vossa colaboração para que possamos fazer o primeiro desdobramento, a título de treinamento é claro, para quando estivermos em tarefa já estarmos familiarizados com todo o processo. Trabalhadores do invisível estão encarregados de toda a ação, restando-nos apenas a responsabilidade de estarmos devidamente prontos para tal realização. Como similaridade, imaginem como um sonho em que sabe-se que está dormindo, mas sabe-se também que podemos estar em qualquer lugar que quiser. A diferença é que realmente estaremos em um lugar pré definido, enquanto vosso corpo estará como que dormindo. José fez uma pausa proposital para que seus amigos pudessem digerir adequadamente a informações dadas. Depois continuou. - Fechem agora vossos olhos. Peçam aos espíritos presentes o apoio necessário e imaginem-se flutuando pouco acima de nós. Concentrem-se especificamente nisso, estarei esperando por vós.
  • 43. José encerrou por um momento as instruções e deixou os três companheiros sob os cuidados de espíritos amigos. À medida que se elevava no espaço vigiava também, pois apesar de saber que tudo sairia a contento sabia também da delicadeza do trabalho a ser executado. Nada poderia sair errado com aqueles três e ele sabia que não sairia, mas seu senso de proteção falava mais alto. Lá embaixo na pequena clareira, os três amigos concentravam-se ao máximo pois sabiam da importância da tarefa. Tinham aprendido a confiar em José e sabiam que no que dependesse dele, tudo estaria sob absoluto controle, não havia motivos para receio. Em instantes então, jatos de luz brotavam do chão à maneira de pilares com uns cinco metros de altura, em toda volta da clareira. Entre os pilares paredes transparentes de matéria desconhecida se formavam e, depois de completas, uma abóbada fechava completamente o ambiente. Quem visse do alto com os olhos espirituais veria um pequeno castelo. Quem estivesse nas proximidades e olhasse com os olhos físicos, veria uma clareira escura, vazia e perigosa. Em poucos instantes nossos amigos começaram a sentirem-se leves, parecia que estavam destituídos de qualquer peso ou amarra, bastava um desejo para que se transportassem para onde o pensamento os levasse. Apesar de não conseguirem se localizar sentiam beleza e a imensidão à sua volta, diferente das tarefas no centro espírita onde tudo é controlado, é restrito e direcionado.
  • 44. Aos poucos uma força os tirava daquele devaneio e trazia à tona o senso de dever, e suavemente eram conduzidos ao alto. Em volta tudo era escuro sem trevas, tudo era brilho sem luz. De repente parava, ao mesmo tempo em que se podia ouvir José chamando baixinho, calma e firmemente. E enquanto ele chamava o brilho dos astros calmamente se aproximava, tudo ia vagarosamente se tornando imenso, semelhante à névoa que se dissipa e revela a incrível selva de luz a nossa frente, não havia como descrever o cenário. Nem as melhores imagens do espaço feitas por potentes telescópios chegavam aos pés do cenário que se descortinava à frente. Foi então que com lágrimas nos olhos, nossos amigos perceberam à sua frente todo o sistema solar com seus planetas e luas, tão distintos grandes e belos como se estivesse diante de imagem holográfica em três dimensões. Não havia como descrever, definitivamente, o cenário à frente. A Terra, Marte, Vênus, Saturno e os outros planetas como se estivessem ao alcance da mão. A beleza era tamanha que ofuscava o brilho das outras estrelas. A voz de Mário tirou todos do devaneio. - Vocês ... Já perceberam onde estamos ... - disse Manoel um pouco indeciso. - Acredito que estamos no espaço... - continuou Francisco meio sem pensar, ainda hipnotizado com a visão que tinha.
  • 45. - Isso é evidente ... Mas aposto que você não percebeu onde estamos realmente... Com muito custo Francisco acordou do devaneio e olhou à volta. Os três estavam atônitos com o que viam. O salão onde estavam era enorme, mais parecia um mirante, só que a metade onde estavam era toda transparente, por isso pareciam estar suspensos no espaço. Ao tocar aquelas paredes de cristal perceberam que eram macias, mornas e incrivelmente transparentes. A parede de trás parecia bem sólida, era enorme com uma grande porta no meio e mais nada, aquele salão enorme estava completamente vazio, somente nossos quatro amigos se encontravam ali. - Estamos em uma nave, veículo ou coisa do tipo, amigo José? - perguntou Mário. - Não, não estamos. Esta é o que se pode chamar de Estação de Transição. É aqui que nos preparamos para o estágio em outros mundos, assim como entidades de outros mundos passam por aqui para que possam visitar o vosso. Lembram do que foi ensinado? O perispírito é constituído da matéria cósmica do mundo ao qual pertence, sendo necessária a mudança sempre que transita de um mundo a outro. A individualidade reveste-se de matéria do meio onde está para a composição de seu perispírito, para que possa se expressar. Não preciso dizer-lhes pois já conhecem o assunto muito bem. Como dizia, esta estação está bem
  • 46. próximo da terra apesar de parecer estarmos distantes, e a visão que tens agora é a real. O que melhorou e se expandiu foi vossa capacidade de visão, que faz com que vejam o espaço com uma perfeição vista somente em imagens artísticas, concebidas para agradar os olhos. Este primeiro desdobramento fez com que vossos sentidos se multiplicassem, como sabem, pois não tem a interferência do corpo físico. O segundo desdobramento se dará da mesma forma, e terá uma repercussão inimaginável em vosso ser. Mas não conhecerão agora, pois deverá ser executada somente quando estivermos em tarefa efetivamente. Não darei detalhes agora pois quero que tenham uma surpresa agradável. José parecia ter encerrado a palestra, mas nossos amigos tinham ainda perguntas a fazer. - Esta estação é grande? Poderíamos conhecer o restante das dependências? - perguntou Francisco. - Posso dizer que é do tamanho do estado do Rio de Janeiro, mas não podeis transitar por outras dependências a não ser aquelas destinadas ao povo da terra. E ainda assim como seres ainda encarnados, estão restritos a esse mirante e à ala de transportes que é o lugar onde nos preparamos para as viagens. Mas não tem muito o que ver, pois seria como se estivessem visitando um hospital muito moderno. - José falou e pode perceber a decepção dos seus amigos. - Não se perturbem com
  • 47. isso, tereis motivos para muitas alegrias ainda durante a viagem. - José, estamos encarnados, certo? E temos o cordão fluídico que nos liga ao corpo físico, certo? Como faremos essa viagem sem prejudicar essa ligação? - perguntou Júlio bastante preocupado. - Esqueceste do que foi ensinado, que este cordão pode se esticar ao infinito, que nada pode rompê- lo se o Pai não quiser? Mesmo assim fique tranquilo pois teremos muitos amigos cuidando de vocês. - Parece-me que é uma mobilização muito grande para que possamos participar desta tarefa. Não seria mais fácil uma comunicação mediúnica, como foi dada a Kardec e tantos outros médiuns, de entidades de outros mundos? - perguntou Francisco. - Deus tem motivos bons para que isso se proceda desta forma. É necessária a participação dos homens nesta empreitada! Qualquer comunicação séria é muito válida, mas se tiver testemunho de seres encarnados terá mais valor, ainda mais se forem três testemunhos. Ninguém poderá dizer que foi sonho. Nossos quatro amigos ficaram em silêncio por longos instantes a contemplar a paisagem. Agora mais tranquilos, podiam perceber a grandeza de tudo aquilo que estava à sua frente, daquela obra sem igual que era um tributo ao próprio criador. O sol pairava magnífico com os planetas à sua volta formando uma ciranda
  • 48. alegre, onde pareciam crianças felizes ao redor do mestre. Dava a impressão de movimento, na verdade todo o conjunto parecia mover-se num espetáculo jamais visto. À volta a Via Láctea formava uma cortina com bilhões de astros cintilantes a ofuscarem as vistas de tão brilhante que era. Daquela posição em que estavam tudo tomava um aspecto diferente, conglomerados e mais conglomerados de estrelas davam a certeza de que a vida pulsava, imensa, bela e vibrante naquele horizonte infinito que todo ser sonha um dia explorar. Era uma pena mas José tirou todos da contemplação para avisá-los que era hora de voltar. Por alguns segundos pareciam não ter ouvido, mas aos poucos voltaram-se para o Mentor para aguardar as instruções. - Para voltarmos desta vez será simples, pois fizemos apenas uma excursão a esta estação. Como estão em simples desdobramento, basta apenas o desejo de voltar para que nos encontremos novamente em nosso local de reunião. Peço agora que fechem os olhos e concentrem-se no local de onde partimos para que fique mais fácil desligarem-se de tudo o que presenciaram durante nossa estada aqui. A partir deste momento fez-se um silêncio tão sagrado que nem a própria respiração ousava se manifestar. Toda a música que era aquela orquestra universal silenciou para que fosse dada a vez ao retorno silencioso daqueles homens incumbidos de tarefa tão
  • 49. singular. A oração silenciosa iniciava na estação e terminava na pequena clareira. Ao abrirem os olhos, nossos amigos tiveram a impressão de terem estacionados em lugar errado. - Não voltamos para a clareira? - perguntou Francisco, no que foi respondido imediatamente por José. - Voltaram sim. O que vêem aqui é uma cela de proteção para vosso corpo físico, que ficou enquanto excursionavam no espaço. Não poderíamos arriscar vossa integridade enquanto em tarefa, como já vos disse anteriormente. - enquanto falava, as paredes fluídicas e luminosas iam desaparecendo e dando lugar à clareira e à mata em volta. Depois que tudo estava terminado José fez as despedidas. - Meus amigos, peço que não esqueçam um só detalhe de tudo que viram até agora. Guardem consigo a importância da tarefa, procurem lembrar-se de tudo que aprenderam em todos os anos de estudos espíritas, pois tudo isso será importante para o sucesso de nossa tarefa. Mais importante é a manutenção da conduta que tivestes durante o correr de vossas vidas. Nada deve ofuscar a beleza da jornada que cumpriremos daqui para frente, nem mesmo um pensamento ou uma atitude. Pensem que toda a humanidade tem a ganhar com o sucesso de nosso trabalho. Vosso papel em tudo isso é apenas de espectadores daquilo que já existe, mas que terá uma repercussão sem precedentes na visão moderna da
  • 50. conduta moral e ética do homem em relação à humanidade. Essa visão abrira novos caminhos para que cada um possa avaliar a si mesmo, e o seu papel na construção de um novo mundo, mundo esse que espera agonizante a redenção, a oportunidade e a verdadeira felicidade. Vão em paz e com as bênçãos do Criador.
  • 51. 5 - MUDANÇA DE PLANOS A caminhada até as residências de nossos amigos levava mais ou menos uns quarenta minutos a passos rápidos. Na forma como andavam levariam bem umas duas horas, pois não tinham a menor preocupação com tempo, distâncias ou lugares. Andavam como quem procura guardar cada lembrança possível, cada detalhe do caminho, cada palavra dita. Tudo era estranho agora, uma vida, um lugar, um caminho, o mundo, o ser e todas as coisas que se aprendera até o momento. O passado se curva e o futuro se impõe com a mistura da experiência com o novo, com a união da ciência com o divino, com a paz entre o amor e a razão. Aquele caminhar lento e profundo de nossos três amigos tinha mais história do que a vida do comum e do indiferente e, coisa interessante, toda a miséria humana ficou resumida a apenas um jogo de palavras, de interesses, coisa que qualquer mortal com boa vontade pode resolver. Boa vontade de ambos os lados: o poder que corrompe e desvia, e o submundo que dorme e mendiga. Um meteorito risca o céu e tira os três de seus pensamentos profundos, automaticamente viram-se para olhar, param e ficam assim por breves segundos. Depois Mário quebra o silêncio.
  • 52. - Alguém pode, por favor, dizer que não estou sonhando? - como ninguém respondeu, continuou - Tudo isso é real? - Mais do que podemos imaginar! - respondeu logo Francisco - Tão real quanto este lugar que estamos aqui agora! - Às vezes duvido até disso. - tornou Mário pensativo. - O que devemos deixar claro... - Júlio começou e pensou por instantes ... - é que tudo isso é a coisa mais extraordinária, mais importante e... e... Vocês têm idéia da importância de tudo isso? - Claro que tenho idéia da importância disso tudo, Júlio, e sei que Mário concorda, caso contrário não haveria sucesso na tarefa que acabamos de realizar. Sei que o que esperam de nós é o testemunho de algo inusitado para o povo da terra, algo maravilhoso que para espíritos bem acima de nós é já bem conhecido. Vocês sabem que nos mundos superiores eles têm conhecimentos e sentidos muito acima dos nossos? E isso talvez faça com que eles já estejam esperando visitas desse tipo. Então não podemos decepcionar nem José, nem ninguém, e faremos o que nos cabe com perfeição e atenção a tudo, porque estou certo de que teremos que divulgar isso tudo depois. - José disse para não falarmos a respeito da tarefa com ninguém!!! - disparou Mário surpreso.
  • 53. - Sei disso. Mas estou certo que é somente enquanto durar a tarefa, para que não haja interrupções. Maria fica cheia de perguntas dizendo que eu nunca saia, e agora toda quarta fico fora até altas horas. Então digo que estou participando de reunião espírita em casa de amigos. - Acho que ela está ficando com ciúmes, Francisco! - cortou Júlio divertido - Já dissemos que é certo que ela gosta de você. - Deixem de bobagens, ela sempre foi muito cuidadosa. - Curioso. - disse Mário - Também falo a mesma coisa lá em casa, só que digo que é na sua casa, Francisco! - Ah, fala? E se alguém bater lá em casa à sua procura? Já pensou que pode comprometer tudo? - Francisco estava preocupado. - Não quero ser chato, mas eu disse exatamente isso também. - Júlio completou. - Não tem problema, - tornou Mário - José disse que a próxima reunião será na casa de Francisco, e isso resolve o problema. - Vocês tem razão... - Francisco interrompeu o que ia dizer pois José aparecera de repente assustando os três. Estavam a meio caminho de casa. - Amigos, por motivos que saberão depois e que Deus achou justo, mudaremos os planos. Na próxima
  • 54. quarta nos encontraremos ainda na clareira de sempre. Peço-vos não comentarem o assunto e que não fiquem decepcionados, pois é por uma boa causa. Fiquem em paz. - disse e desapareceu da mesma forma que chegou, deixando nossos amigos atônitos. Depois de alguns minutos voltaram a caminhar. Mário quebrou o silêncio. - Bom, continuando, acho que voltamos ao problema. Diremos então que o local da reunião espírita mudou para casa de amigo que não pode se deslocar. Assim ninguém fará perguntas. - disse Mário. - Resolvido. - Júlio parecia mais aliviado. - Acho que assim está perfeito. - Francisco completou e continuou caminhando sem falar, no que foi seguido pelos dois amigos. Andavam tranquilos com os pensamentos voltados à Estação de Transição. Uma brisa agradável soprava naquela noite de verão, e apesar de estar escuro e sem lua, o brilho das estrelas iluminava bem a noite. Os bichos noturnos promoviam a algazarra de sempre mas apesar disso tudo tinha uma tranquilidade gratificante. Assim eram todas as noites daquele lugar maravilhoso que parecia ter sido meticulosamente preparado por Deus. Logo chegaram às suas casas e, despedindo-se calorosamente, entraram para o descanso merecido. Francisco assim que entrou escutou Maria lidando com alguma coisa na cozinha. Parou onde estava
  • 55. e ficou pensando o poderia ela estar fazendo na cozinha a essa hora. Resolveu verificar antes de tomar um banho. - Maria? ... - Parecendo um pouco assustada ela se virou. - O que faz a essa hora acordada? Já deveria estar dormindo mulher? - Ah seu Francisco! Nem bem chegou de viagem e o senhor tomou um banho rápido e saiu. E está até agora sem comer nada, então preparei algumas coisas para o senhor comer antes de dormir! Coisinha leve não se preocupe, pois sei que o senhor não gosta de comida pesada antes de dormir, e também deixei tudo preparado para que tome um banho bem relaxante, tudo bem? - Maria, Maria, se fosse minha mulher não cuidaria tão bem de mim, não é? - disse Francisco já chegando ao banheiro. - Mais do que o senhor pensa... - respondeu Maria mais alto do que queria. - O que você disse Maria? - gritou Francisco já na porta do banheiro. - Nada seu Francisco. - Maria sentou-se em uma cadeira da cozinha meio chateada consigo mesma. Poderia tomar coragem e se declarar ao seu amado. Mas se tudo desse errado ela teria que ir embora, pois não teria clima para continuar na casa. Não tinha a menor chance, pensava ela, sendo uma simples empregada e querendo o amor do patrão. Já estava naquela casa a mais de vinte anos, mas isso não lhe dava o direito de uma
  • 56. intimidade dessas. Melhor garantir o pouco do que não ter nada. Depois de um tempo, Maria resolveu ir dormir. Queria esperar o patrão e ficar com ele, mas lhe faltava a coragem, já que não tinha mais o que fazer ali, e sua presença insistente poderia denunciar seus sentimentos. Melhor era não dar motivos. Francisco tomava banho pensativo, o que seus amigos diziam a respeito de Maria não lhe saia da cabeça, e ele jurava tê-la ouvido dizer que cuidaria melhor dele se fosse casados. Precisava dar um jeito nessa situação. Desde que começou esse assunto que ele percebeu que focava mais seu pensamento nela. Será que estava interessado nela? Depois de tanto tempo iniciaria um romance? Em todo caso decidiu que depois de terminada a tarefa com José iria ter uma conversa com Maria e decidir o futuro dos dois, mesmo que isso os distanciasse ao invés de aproximar.
  • 57. 6 - TERCEIRO ENCONTRO Todas essas lembranças passaram como um raio na cabeça de Francisco. Era tudo muito estranho, sempre tinha essa mesma impressão de que tudo era um sonho, de que a qualquer momento voltaria à realidade e que tudo que vivera nestes dias desapareceria, e então a decepção não teria limites. De repente então sentiu a presença de José. Aprendera rápido a saber quando ele estava por perto. - Boa noite, amigos. Que a paz esteja convosco. Vejo que, no que depender de vos, nossa tarefa será concluída com perfeição, pois vejo em vossa alma empenho absoluto nos preparativos para o início dos trabalhos. É certo que misturado com um pouco de ansiedade e curiosidade, mas vejo que é tudo saudável. Sabeis que por motivos justos e fora de nosso controle, a continuidade de nossos trabalhos será interrompida, pois existe uma pessoa de nosso meio que necessita de nosso apoio, e que ira nos visitar esta noite. Enquanto José falava a pouca distância dali um vulto movia-se escondido em meio aos arbustos, tentando entender o que falavam as pessoas naquela clareira. Estava certa de ter visto a pessoa que seguia entrar ali, mas estava meio longe e não conseguia distinguir rostos e vozes. Sabia apenas que eram homens conversando e suas suspeitas não se confirmaram, já que pensava que o
  • 58. homem que seguia estava se encontrando as escondidas com alguma mulher. José continuava falando com seus amigos. - Meu amigo Francisco, a pessoa que iremos receber é muito conhecida sua. Tem alguns problemas que a atormentam e como ela não tem coragem de falar, está pensando em ir embora. Quis nosso Pai Maior que isso não acontecesse pois é de conhecimento que vocês dois podem se ajudar muito mais do que o fazem agora. E aproveitando a oportunidade, ela também está pronta para dar sua contribuição ao espiritismo, pelos anos de convivência com a doutrina apesar de ser católica. Francisco, peço, por favor, que chame Maria. Francisco estava de boca aberta, tanto quanto seus dois amigos, e não estavam entendendo nada. Maria também teve a impressão de ter ouvido seu nome, o que quase a fez sair dali correndo e ir embora. - Chamar Maria? Lá em casa? Mas o que ela tem a ver com isso?... Não é possível que Maria seja... - Isso mesmo meu amigo. É Maria, sempre Maria, doce mulher que sempre cuidou de ti como se cuida do esposo, que abdicou da vida por vos, que foi fiel mesmo sem retribuição. Ela que merece de nós todo apoio, pois Deus lhe trouxe o prêmio dos céus àqueles que se mantêm fiéis a promessa divina. Não é necessário ir buscá-la, ela está perto, chame seu nome. - Francisco
  • 59. olhou para todos muito emocionado e chamou pelo nome da futura companheira. - Maria... - depois de algum tempo um pouco mais alto - Maria!! Maria levou um susto tão grande que quase desmaiou. Tinha ouvido o patrão chamar-lhe. Não era possível, tinha sido descoberta, mas como? Todos iriam saber de sua desconfiança e dos motivos, uma vergonha! Estava se preparando para ir embora quando ouviu novamente chamar seu nome. Não tinha jeito, não adiantava ir embora. Ia encarar a humilhação e depois iria embora para a casa dos parentes para não voltar mais. Maria aproximou-se devagar da clareira e viu que tinha quatro homens três sentados e um de pé. O lugar estava estranhamente iluminado mas não havia lanterna, e o homem de pé tinha uma aparência muito estranha, como se não parecesse humano. Ao chegar, aquele estranho dirigiu-se a ela. - Maria, não tenha receio de nada, pois aqui somos todos amigos. Peço por favor que você se sente próximo de Francisco, pois tem alguém que quer muito lhe falar. - Mal terminava de falar e a silhueta de uma senhora idosa foi se formando. Maria não se conteve e chorou muito ao mesmo tempo em que a chamava pelo nome carinhoso que a conhecia. - Vó Ana... Vó Ana... Vozinha, há quanto tempo não lhe via, quase morri de saudades e de tristeza.
  • 60. Me perdoa vozinha, me perdoa... - Maria repetia sem parar enquanto todos estavam boquiabertos e emocionados com a cena. Realmente o sofrimento ali era grande. José lhe falou com carinho paterno. - Maria, filha do coração, não sofra tanto assim, todos aqui lhe querem muito bem, e aqui não há lugar para cobranças ou condenações. Saiba que tudo tem a mão amorosa do Pai, tudo se encaixa perfeitamente no universo e, o que pode parecer um erro é na verdade um adiamento das coisas. Se tudo tivesse sido diferente no passado talvez tivéssemos perdido mais tempo e trabalho, ao passo que agora com maturidade e equilíbrio tudo se encaminhará com a perfeição necessária. - José fez uma curta pausa para consultar as lembranças. Depois continuou. - Maria quando criança tinha da avó o carinho maior que de uma mãe, tamanha era a ligação entre as duas. Porém o tempo de Vó Ana tinha chegado, e quis Deus que ela fosse dar continuidade à vida. O sofrimento de Maria foi muito grande. Parecia ter perdido a própria vida e, então, ao mesmo tempo em que começava a brotar sua bela mediunidade, sua querida vozinha vem lhe ver e comunicar que dali para frente as duas seriam companheiras inseparáveis. Mas na imaturidade de seus doze anos, a dor de Maria era maior do que qualquer possibilidade de entendimento que pudesse surgir entre
  • 61. as duas. - antes que José pudesse continuar, Maria deu continuidade à narrativa. - A dor da perda era muito grande, eu não me conformava de ter perdido a única pessoa que me amava daquela forma. Fechei os olhos e ouvidos a todos não dando oportunidade para que também me amassem. Não queria a companhia de um fantasma, não era capaz de entender como as coisas aconteciam, como minha vó poderia ter me abandonado daquela forma? Entre ofensas de todo tipo pedi que ela desaparecesse e que nunca mais me procurasse, que nunca mais ninguém me procurasse. - o choro e os soluços impediam que Maria continuasse. José deu então continuidade. - Como não havia possibilidade de dialogo entre vó e neta ficou decidido que era necessário deixar o tempo passar até que as coisas pudessem se resolver. E com isso foi bloqueada a mediunidade e encerrado todo contato com o espiritismo. O tempo passou e a tristeza tomou conta de nossa amiga. Nada nem ninguém conseguia tirá-la de seu mundo fechado até que conseguiu um emprego de doméstica que a deixaria longe das lembranças que a faziam sofrer. A Providencia Divina é sábia e com o tempo, a convivência com o patrão foi abrindo seu coração e o ressentimento foi dando lugar à admiração e dedicação por aquele que povoava seus sonhos de realização e felicidade. - um pouco mais calma, Maria comentou interrompendo José.
  • 62. - Desde criança eu não acreditava em amizade, amor e carinho de mais ninguém, tinha medo da aproximação e da perda. Achava que a vida seria melhor se fosse vivida sozinha, então me afastei de todos. Para não sofrer tanto procurei um emprego afastado de todos e que tomasse todo o meu tempo e ainda, de preferência, que não fosse família grande. O trabalho na casa do Sr Francisco foi um presente dos céus. Me deu tudo que queria e ainda me trouxe a chance de conhecer o que era amar alguém. - Maria parou de falar com os olhos cheios de lágrimas e o coração repleto de felicidade por ter tido a coragem de dizer o que nunca conseguira antes. Já não importava mais as consequências, tinha que aliviar sua alma já tão dolorida de amar sem correspondência. Extremamente envergonhada parou de falar e baixou a cabeça aguardando os acontecimentos. José continuou então. - O respeito e o carinho do patrão não foram por acaso, assim como o novo lar que foi um presente do destino. Francisco sempre atencioso, justo e respeitador, conquistou de pronto o coração da nova integrante de seu lar. A forma como sempre tratava as pessoas foi fundamental para a segurança de que necessitava nossa companheira, o que fez com que retornasse o seu equilibrio e auto estima. O tempo fez com que essa ligação entre duas almas afins se concretizasse e, a oportunidade agora fará com que agora todos os sonhos e
  • 63. projetos se realizem, para a gloria do Pai que está nos céus. José encerrou sua narrativa dirigindo-se à Vó Ana que estava a seu lado e fazendo sinal para que falasse com Maria. A vovó muito emocionada por ter finalmente a oportunidade de falar com a neta, a pessoa mais querida que o mundo e os céus poderiam proporcionar, dirigiu-se à neta para dizer-lhe finalmente o que estava a tanto tempo escrito em seu coração. - Minha pedra mais pura, meu anjo mais precioso, durante todo o tempo que o Pai nos deu juntas nos tornamos o exemplo da ligação mais maravilhosa que o mundo pudesse testemunhar. Mais do que mãe, mais do que filha, mais do que irmãs, mais do que pai. Pai sim, pois um pai é a personificação da segurança, do amor e do sacrifício. Mas o amor pede sacrifício, a dor pede amor, a solidão pede alguém e todos pedimos perdão. Quem pode pedir perdão senão aquele que já penetrou nos segredos dos céus? E quem não precisa perdoar senão aquele que não sabe o que é condenar? O segredo da felicidade não é aquilo que podemos conquistar, mas sim como ficamos sem aquilo que não podemos conquistar. O mundo, filha, nos presenteia. Mas esse mundo em que estagiamos agora, também nos cobra a capacidade de sermos felizes quando nosso presente nos é arrancado das mãos. Era necessário que passássemos por esse entrave afim de que nos fosse testada a força e a
  • 64. confiança em Deus. Falhamos desta vez mas o tempo nos brinda com nova oportunidade que o dever nos obriga a aproveitar. Agora é o novo tempo de novas oportunidades que a providência nos trouxe. Vamos nos dar as mãos e caminhar juntas para o destino que o Pai amorosamente nos concedeu, pois o merecimento não é conquistado assim tão facilmente e, quando vem, somente o tolo deixa escapar. Vem filha, não deixemos que as pedras do caminho nos impeça a caminhada, juntas conquistaremos o salário precioso daqueles que trabalham com alegria na vinha do senhor. Maria muito emocionada e feliz aproximou-se de sua vó e foi abraçada com um carinho tão grande, que emocionou a todos também. Ficaram ali imóveis por alguns minutos, Maria sem conseguir falar uma palavra, vó Ana agradecendo aos céus pela dádiva do reencontro e Francisco admirando a coragem e humildade de Maria. Vó Ana afastou carinhosamente sua neta e se despediu. - Filha querida agora preciso ir, pois outros deveres me aguardam. Guarde a certeza que estaremos sempre juntas, e nos veremos com frequência. - Vovó, não quero ficar sozinha. A solidão me acompanhou a vida toda e agora, queria tanto que ficasse comigo. - Maria disse sentindo aquele medo de quando era criança. - Minha doce menina, não ficará solitária. Siga o seu coração, pois ele te ajudará a ser muito feliz ainda.
  • 65. Não tenha medo da felicidade quando ela te bater à porta. - e depois se dirigindo a todos encerrou - Fiquem todos com a paz de Deus. Obrigado nobre José por essa oportunidade. Sou-lhe eternamente devedora. Enquanto dizia foi suavemente desaparecendo. O ambiente era de felicidade sem igual. Mas ainda falta um detalhe, pensou José. Enquanto ele falava, Maria sentou-se próxima de Francisco. Estava muito sensível e trêmula, então, Francisco percebendo abraçou e trouxe-a para seu ombro. Maria agora deixava lágrimas caírem, mas não de tristeza. Estava imensamente feliz de estar ali tão próxima daquele que sempre amou. A vida toda sonhou em ser abraçada assim e agora esse sonho se realizou. Pena que não gostava dela, seu coração devia pertencer a outra, pensou triste. A palavra de José tirou-a desses pensamentos. - Meu amigo Francisco, o coração e a alma dessa que está a seu lado sempre lhe pertenceu. - Maria corou tímida ao seu lado. - Não deixe passar a oportunidade de coroar essa união que já está abençoada. O amor não é uma brincadeira passageira para distrair- nos enquanto a vida passa, mas sim um dom precioso que, quando chega, nos leva a realizações que só alcança os que o conhecem. Abra seu coração e seja feliz. - Meu coração já está aberto, nobre amigo, e já sinto a felicidade invadindo todo meu ser. - Francisco disse e apertou Maria contra si. Maria parecia que iria
  • 66. explodir, tamanha a felicidade. Não acreditava no que tinha ouvido. José então continuou. - Daremos então por encerrada a reunião desta noite. Meus caros irmãos, continuaremos com nossos planos para esse final de semana, conforma havíamos combinado. Sigam as instruções de antes para o sucesso de nossa tarefa. Maria deverá visitar seus familiares a fim de comunicar as novidades, nestes próximos fins de semana. Vão em paz com as bênçãos de Deus
  • 67. 7 - MARIA E FRANCISCO Júlio e Mario caminhavam na frente conversando animadamente enquanto Francisco e Maria vinham mais atrás, de mãos dadas e calados. Nenhum dois sabia o que dizer. E nem precisavam dizer nada. Tinham plena consciência da felicidade um do outro. Júlio virou para traz e gritou bem alto. - Nós não dissemos a você, Francisco, que ia acabar em namoro? - E seguiram com a conversa animada. - Ainda bem que estavam certos! - Gritou também Francisco. Maria aproveitando a quebra do silêncio perguntou. - Vocês comentavam sobre nós dois? - Eles diziam que você cuidava muito bem de mim, que parecia mais uma esposa do que empregada e que isso já deveria ter dado em casamento. - É verdade, também concordo... - ... E quais os seus planos, senhor... é... Francisco? - Perguntou um tempo depois, meio desconcertada. - Não tem mais que me chamar de senhor, Maria. Nunca gostei mesmo deste tratamento. - Fez uma pausa e continuou. - Depois que terminar esta tarefa vamos nos casar. Já passou da hora de ficarmos definitivamente juntos. - Fez nova pausa e depois
  • 68. completou. - Você acha que precisamos de um tempo de namoro? - Apesar de achar que estou abusando, andando de braços dados com o senhor, digo, com você, e te chamando de você, não acho que precisamos de um tempo. Nos conhecemos há tantos anos! Claro que nossa relação era apenas de trabalho. Agora devemos nos conhecer de forma diferente, como um casal. É, acho que você tem razão, seria maravilhoso se namorássemos por uns meses. - Quando parou de falar olhou para o lado. Francisco a encarava sorridente. Baixou os olhos, novamente envergonhada. - Seu entusiasmo é contagiante, sabia? Vamos namorar por um tempo, enquanto preparamos o casamento e avisamos os familiares. Continuaram andando em silêncio apreciando a noite e as últimas novidades. Francisco agradecia aos céus por essa oportunidade de ser feliz. Na verdade sempre gostou de Maria, mas tinha medo que seus sentimentos fossem confundidos com assédio, então preferia ficar quieto. Não tinha ideia de que Maria sentisse o mesmo. Se soubesse, tudo teria se resolvido antes. Maria tinha o mesmo sentimento. Quantas vezes ficava sondando as atitudes do patrão para ver se ele deixava escapar um gesto ou uma palavra que o denunciasse? Quando chegaram em frente à chácara, Júlio e Mário os esperavam e foram logo perguntando.
  • 69. - Queremos saber quando será a festa? Mal posso esperar pelo casamento dos dois. Vai ter casamento, não é? - Júlio estava muito empolgado e Mário não menos. - Decidimos que será daqui uns três meses. Vamos terminar a tarefa, namorar um tempo e depois casaremos. - Disse Francisco alegre. - Daqui três meses? Vocês não acham que é muito tempo pra quem já se conhece? - Disparou Mário. - E onde fica o romantismo? - Maria retrucou já bem desinibida. - Só nos conhecemos profissionalmente, mas no campo pessoal temos muito a falar. Mas o mais importante é fazer as coisas pensando nos familiares e amigos, não acham? - E dar tempo para a compra dos presentes! - Francisco completou, e todos riram alegres. Os dois amigos cumprimentaram o casal pelo final feliz, se despediram e saíram tão animados quanto antes. - Aí estão dois verdadeiros amigos, parecem mais felizes do que nós dois com nossa união. - Comentou Francisco com sua namorada. - É que desde o começo apostaram alto em nossa união. Parece até que já sabiam da nossa união. - Com certeza já sabiam, mesmo que inconscientemente. - Por falar nisso. - Francisco cortou, os dois já entrando em casa. - Sei que você é católica praticante,
  • 70. que vai às missas todos os domingos e que não pode ouvir falar de espíritos. Você sabe que José e Vó Ana são espíritos? E que tudo que viu hoje foram manifestações espíritas? - Sei sim! - Sabe?! E todos aqueles medos e broncas que você dava quando se falava de fantasmas? Sentaram-se no sofá e Maria começou a contar. - Bem, na verdade, quando adolescente me acostumei a ver espíritos até quando morreu vovó. Depois disso não quis mais que eles aparecessem, por mais que falassem, por mais que argumentassem. Proibi qualquer um de se manifestar, principalmente vovó, a quem eu culpava por minha infelicidade, triste ilusão. Não mais as visitas dos amigos espirituais, não mais as visões, não mais os conselhos, não mais as cartas aos amigos, não mais os sonhos. Tudo virou um vazio maior do que qualquer um pode suportar. Tem idéia do que é perder tudo? Em pouco tempo percebi o grande erro que tinha cometido, mas não adiantaram o arrependimento e as súplicas. Percebi que tinham ido embora de vez, mas o pior não foi isso. Quando vi que tinha perdido os amigos do invisível, fiquei tão amargurada que me fechei para o mundo. Não quis mais o amor de ninguém. Se não podia ser amada pelo invisível, muito menos iria dar chance ao visível, e então me tornei a pior das criaturas. Totalmente alheia a tudo, culpava a todos por tudo, não tinha vida,
  • 71. nem esperança nem vontade de viver. Comecei a sentir repudio a tudo o que se referia a espiritismo e, então, massacrava a tudo e a todos que se referissem ao assunto. - Maria fez uma pausa em que Francisco aproveitou para perguntar. - E isso mudou alguma vez? - Quando fiz dezoito anos, meu pai me deu duas escolhas, ou eu voltava a viver normalmente, casava e cumpria com minhas responsabilidades, ou seria deserdada e estaria à própria sorte. Aquilo foi demais. Entre casar por conveniência e ser excluída da família preferi a segunda opção e saí de casa. Uma tia muito caridosa me acolheu e estou com ela até hoje. Mas, não deixei por menos e resolvi não ser o exemplo que todos expunham. Imediatamente fui atrás de trabalho e minha primeira oportunidade foi você. Quando te conheci, a ligação foi instantânea. De lá para cá me dediquei, durante esses vinte anos, somente a você. Quando soube que era espírita, quase fui embora, mas uma coisa que agora sei o que é não me deixou ir. Fiquei, mas não deixei que o espiritismo me envolvesse. Para isso sempre o combatia com todas as forças, ou pelo menos quis que parecesse assim, pois no fundo, nunca deixei de acreditar neles. Simplesmente por sentir-me abandonada por todos é que não me deixava envolver. Com o tempo aprendi a conviver com doutrina novamente, mas ainda assim não
  • 72. abertamente, continuava a combatê-la até hoje simplesmente para não dar o braço a torcer. - Entendi, e você conhece bem o espiritismo, então? - Conheço bastante, não tanto quanto você é claro. Só uma coisa me deixou curiosa. Como conseguimos interagir tão bem com José e Vó Ana? - É que você tanto quanto eu, Júlio e Mário somos médiuns ostensivos, quer dizer, além de termos contato direto com os espíritos, também somos capazes de doar fluídos necessários á manipulação em conjunto com os fluídos da natureza, para que nossos amigos invisíveis possam se tornar visíveis. E esses fluídos são manipulados por entidades amigas envolvidas com a tarefa. Entendeu? - Claro. Assim que puder quero ir a um centro espírita para estudar e fazer os tratamentos necessários. Quero participar ativamente dos trabalhos realizados, e recuperar o tempo perdido. - Fico muito contente com isso. Acho muito bonito um casal que pensa, trabalha e realiza juntos. - Também acho. Agora vai tomar banho enquanto preparo algo para comermos, depois eu tomo banho. - Tudo bem senhorita! Já estou indo! Maria ganhou um beijinho no rosto e ficou olhando enquanto seu amado se dirigia ao banheiro. Não
  • 73. se lembrava de ter sido feliz assim um dia. Tudo estava completo e em breve ela seria uma mulher casada. Preparou o lanche e foi tomar banho enquanto Francisco bebericava um vinho e arrumava alguns papéis. Logo terminaram de comer e se despediram com um beijo suave, mas que tinha um valor imenso. Maria deu um beijo no rosto de Francisco depois, e em seguida foi para seu quarto. Nada disseram, não precisava, compreendiam bem a lógica e a sequência das coisas. No sábado seguinte, bem cedo Maria foi para a casa dos tios, mas não de folga. Agora iria comunicar as novidades e cuidar dos preparativos. Afinal três meses passam muito rápido e ela estava ansiosíssima.
  • 74. 8 - PRIMEIRA VIAGEM Francisco começou cedo os preparativos para a reunião. Arrumou um cômodo isolado da casa que estava vazio e lá colocou uma mesa com várias cadeiras. Ao lado da parede colocou um buffet e em cima dele um jarro com água, copos, dois vasos com flores e um exemplar de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Achou que já estava bom, porém alguém lhe soprou no ouvido que colocasse ali também, três divãs que estavam espalhados pela casa. - Já que pediram, assim será feito. - Falou em tom alegre e alto. Durante todo o dia ficou nos pequenos afazeres, tudo referente à tarefa e, com isso, o tempo passou rapidamente. Quando deu por si Júlio e Mário batiam à sua porta, eram cinco horas. - Sejam muito bem vindos meus amigos, vamos entrando e se acomodando aí na sala. O local da nossa reunião já está preparado! - Francisco mostrava-se muito alegre. - Caramba Francisco! Não deixou nada para nós fazermos? - Perguntou Mário. - Exatamente, estávamos prontos para ajudá-lo nos preparativos! - Completou Júlio. - Você viu Mário, como ele está feliz? Será que é pela tarefa, ou pela nova namorada? - Pelas duas coisas. - Respondeu Francisco. - Nunca pensei que pudesse me sentir assim um dia. A
  • 75. felicidade ao meu lado e nunca percebi. Realmente devo muito a José. - Só a José, é? - Provocaram os dois. - Tá bom, vai! A vocês também. - Francisco, você acha que fica mal falarmos de assuntos pessoais hoje? - Perguntou Mário. - Do assunto que estamos falando, não. Afinal de contas, nossa união teve a colaboração espiritualidade, e tanto estamos tratando do assunto respeitosamente, quanto nos comportando do mesmo jeito no período que compreende a tarefa. Não vejo problema, então. - E Maria, como está? - Sabe que nunca tinha visto Maria assim antes, Mário? Antes ele vivia triste, com o olhar distante. Só percebia um sinal de vivacidade quando ela me dava umas broncas, ou pelo horário, ou por causa da doutrina. Agora parece que rejuvenesceu anos, tinham que vê-la hoje cedo quando se arrumou para ir à casa dos tios. - Pois é Francisco, o amor realmente faz milagres, você também está com a aparência ótima! - Muito melhor mesmo. - Concordou Júlio. - Mas, mudando de assunto, que será que veremos hoje, hein? Confesso que estou sentindo uma certa ansiedade. - Também estou um pouco ansioso. Na verdade chego a tremer de emoção quando lembro o que nos espera.
  • 76. - Excursionar por outros mundos, conhecer povos diferentes, novas formas de civilização, costumes diferentes. Aprender novas formas de conduta, e como vivem os seres abaixo e acima de nós! - Mário falava como se estivesse vendo tudo aquilo. - Acha mesmo que existem mundos inferiores ao nosso, Francisco? - Não sei, Júlio, acho que estamos numa das posições mais baixas, mas não quero imaginar como seja um mundo mais inferior que o nosso. Acho que a humanidade já sofre tanto! - Eu acho que existem mundos ainda na infância da civilização, comparando com o nosso. - disse Mário. - O que implica dizer que, intelectualmente e moralmente, estejam ainda engatinhando. Mas ou menos como a nossa antiguidade, na pré história ou na época dos bárbaros. - Tem razão. - Concordou Francisco. - Todos os mundos para evoluir partem de um começo, e esse começo sempre implica na infância moral e intelectual de seus habitantes. Se analisarmos os primórdios da humanidade terrestre veremos que o mesmo pode ser aplicado a qualquer mundo. Não concordam? - Plenamente. - Disse Júlio. - É, também acho. - Concordou Mário. A noite já chegava e o bate papo de nossos amigos corria alegre e descontraído. Aos poucos
  • 77. começaram a pensar que José havia desistido, pois o tempo passava e a ansiedade aumentava. Resolveram então ir para a sala reservada e se acomodarem nos divãs já preparados. Ali então relaxaram e aos poucos as conversas ficaram mais dispersas, até o ponto em que os três cochilavam. A medida que anoitecia parecia que o ambiente ficava mais iluminado e o real começou a parecer imaginário. Francisco teve a impressão que o ambiente mudava de forma e quis comentar com os amigos, mas não conseguia, apenas via que tudo se transformava e havia mais pessoas no ambiente. Viu que continuavam deitados no divã, e de repente reconheceu José à frente deles. Com muito esforço conseguiu falar com o amigo. - José, graças a Deus você chegou! Pensávamos que havia desistido! - Na verdade Francisco eu não cheguei. - E antes que Francisco retrucasse - Vocês é que chegaram! - Júlio e Mário já estavam conscientes de si. - Já entendi! - Júlio foi se adiantando. - Fizemos o primeiro desdobramento sozinhos até aqui, para te encontrar. Perfeito. - Sozinhos totalmente, não, pois haviam trabalhadores no auxilio à tarefa como haverá sempre. Lembram de que vos disse que há muitos amigos ligados a essa tarefa que não conhecereis? Pois então, desde manhã o trabalho no invisível segue a todo vapor.
  • 78. - Mas não estamos no mesmo lugar de antes! Ou estamos? - Mário perguntou olhando à volta. - Estão em ambiente reservado a viajantes terrestres, como vos disse antes. Como essa é a viagem real, e não mais um treino, tudo tem que ser feito de forma apropriada. Este ambiente é contíguo à sala de observação que conheceram anteriormente. - Então estamos na Estação de Transição? - Sim Francisco, aqui é que daremos início à nossa viagem pelo universo. - E o que faremos agora? - Ficarão na sala de observação até que estejam prontos os preparativos para a nossa viagem. Podem se levantar e ficar a vontade. Os ambientes que podem transitar estarão de portas abertas, e sintam-se em casa. Assim que tudo estiver pronto virei chamá-los. José então se retirou e deixou-os ali sozinhos. A princípio ficaram meio deslocados, mas Francisco tomou a iniciativa e se dirigiu à sala de observação, no que foi seguido pelos dois amigos. Assim que atravessou a porta sentiu forte vertigem pois a sala era toda transparente, dando a impressão de que estavam suspensos no espaço. Mesmo já conhecendo o ambiente era como se fosse a primeira visita. A sensação era magnífica, uma experiência difícil de descrever, uma emoção que valia por todas.