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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
MICHELLE SANTANA NOVAES DE ASSIS

HOSPITALIDADE EM MORADIAS ESTUDANTIS:
ESTUDO DE CASO DAS REPÚBLICAS DE OURO PRETO - MG

Ouro Preto

2010
2

MICHELLE SANTANA NOVAES DE ASSIS

HOSPITALIDADE EM MORADIAS ESTUDANTIS:
ESTUDO DE CASO DAS REPÚBLICAS DE OURO PRETO - MG

Monografia apresentada ao Curso de
Turismo da Universidade Federal de
Ouro Preto como requisito à obtenção
do título de Bacharel em Turismo.

Orientador: Profº. Dr. Aluísio Finazzi
Porto
Co-orientador:
Fonseca Filho

Ouro Preto

2010

Ricardo

Eustáquio
3

MICHELLE SANTANA NOVAES DE ASSIS
HOSPITALIDADE EM MORADIAS ESTUDANTIS: ESTUDO DE CASO DAS
REPÚBLICAS DE OURO PRETO – MG

Monografia
apresentada
ao
Curso
de
Turismo
da
Universidade Federal de Ouro
Preto, como requisito à obtenção
do título de Bacharel em Turismo

COMISSÃO EXAMINADORA:

Professor Doutor Aluísio Finazzi Porto
Universidade Federal de Ouro Preto

Turismólogo Ricardo Eustáquio Fonseca Filho
Universidade Federal de Ouro Preto

Professor Mestre Bruno Pereira Bedim
Universidade Federal de Ouro Preto

Ouro Preto, 02 de dezembro de 2010
4

Dedico este trabalho aos meus
pais, que sempre me apoiaram
e acreditaram em mim. Esta
conquista também é de vocês!
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, aos meus pais, que sempre abdicaram de seus sonhos em
função dos meus, pela confiança depositada e o total apoio ao longo dos anos da graduação
que foram essenciais para a conclusão deste trabalho.
À minha irmã, Ana Laura, que amo como se fosse minha filha, por tornar meus dias mais
felizes desde o seu nascimento.
À Universidade Federal de Ouro Preto pelo ensino gratuito e de qualidade.
Ao professor Aluisio Finazzi pela orientação.
Ao Ricardo, por me auxiliar não somente durante a elaboração deste trabalho, como
co-orientador, mas também ao longo do curso.
À República Volkana, minha eterna casa, e às minhas irmãs flores pelo, companheirismo,
amizade e aprendizado. Sentirei saudades!
Aos amigos que fiz em Ouro Preto. Jamais esquecerei!
Ao Henrique pelo carinho e incentivo, principalmente nesta reta final.
Às repúblicas amigas por marcarem de forma mágica e intensa minha vivência em Ouro
Preto. Em especial às Repúblicas Aquarius, Bangalô, Casanova, Castelo dos Nobres,
Consulado, Maternidade, Sinagoga e Volkana, que com suas histórias enriqueceram este
TCC.
À tradição do sistema de repúblicas de Ouro Preto que, desde um primeiro momento,
despertou em mim uma intensa vontade de viver a “experiência republicana” e foi além das
minhas expectativas, me motivando a realizar este trabalho.
Ao Sérgio e aos colegas da Assessoria de Programas e Projetos da PROEX pelo apoio e
compreensão durante o desenvolvimento deste trabalho.
À Ouro Preto, cenário dos melhores anos da minha vida.
6

"O valor das coisas não está no
tempo em que elas duram,
mas na intensidade com que
acontecem.
Por isso existem momentos
inesquecíveis,
coisas inexplicáveis e pessoas
incomparáveis".
Fernando Pessoa
7

RESUMO

Estudos recentes apontam para novas vertentes da hospitalidade, esta que deixa de
estar vinculada somente à hotelaria e aos alimentos & bebidas para abranger
diversos outros campos.
As peculiares repúblicas estudantis de Ouro Preto despertam reflexivos olhares em
relação a muitos aspectos. Inúmeras são as especulações sobre os prós e contras
de morar em uma república, de hospedar-se nelas, de freqüentá-las.
A tradição das repúblicas em Ouro Preto existe há mais de setenta anos, e a
discussão acerca disto é sempre muito polêmica, a começar pelo seu sistema
operacional que para uns é falho e reflete o autoritarismo, humilhação, preconceitos
e perda da liberdade, já para outros reflete a união, aprendizado, companheirismo,
disciplina, empreendedorismo e vínculos eternos de amizade.
Estas moradias estudantis já atingiram visibilidade em nível nacional, e muitas vezes
são marginalizadas por pessoas que não conhecem sua ideologia e funcionamento
por completo.
Algo tão grandioso e diferente necessita um estudo aprofundado, que possibilite às
pessoas que nunca viveram essa experiência analisar dados concretos e verídicos
para, somente então, criarem suas opiniões e expectativas a este respeito.
Com base nessas informações, este estudo visa, dentre outras coisas, relacionar os
novos conceitos de hospitalidade com o sistema de repúblicas de Ouro Preto,
destacando a ocorrência e a importância dessa vertente do turismo neste contexto.
Palavras Chave: repúblicas, hospitalidade, polêmica, peculiares, Ouro Preto.
8

ABSTRACT

Recent studies point to new aspects of hospitality, which is no longer only linked with
hotel management and food & drinks, but also encompassing several other fields.
The peculiar fraternities and sororities ("Repúblicas") in Ouro Preto arouse reflexive
sights in many respects. There are countless speculations about the pros and cons
of living, staying or even attending a fraternity.
The tradition of these “Repúblicas” lasts for over seventy years, and discussions
about it are always very polemic, starting with its operating system considered faulty
by some regarding it reflects authoritarianism, humiliation, prejudice and loss of
freedom, while for others reflects the union, learning, fellowship, discipline,
entrepreneurship and eternal bonds of friendship.
These student houses have already achieved visibility at the national level, and are
often marginalized by people who do not know their ideology and system altogether.
Something so great and different requires a thorough study, which enables people
who have never lived this experience to analyze concrete and truthful data, and only
then, build their opinions and expectations in this regard.
Based on this information, this study aims at, among other things, relating the new
concepts of hospitality to the system of the fraternities and sororities in Ouro Preto,
highlighting the occurrence and importance of this tourism aspect in this context.
Keywords: fraternities, hospitality, polemic, quirky, Ouro Preto.
9

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 República Castelo dos Nobres. Fonte: Acervo República Castelo dos
Nobres ....................................................................................................................... 23
Figura 2 República Consulado. Fonte: Acervo Paulo Henrique Matias ..................... 26
Figura 3 Quadrinhos dos Ex-alunos da República Consulado. Fonte: Acervo Michelle
Novaes ...................................................................................................................... 27
Figura 4 Alcorão nº 0. As informações contidas são da década de 40, mas ele foi
restaurado no cinqüentenário da Consulado, em 1986. Fonte: Acervo Michelle
Novaes ...................................................................................................................... 28
Figura 5 Alcorão nº 10. Fonte: Acervo Michelle Novaes. 28 Out. 2010 ..................... 28
Figura 6 República Bangalô. Fonte: Acervo República Bangalô ............................... 29
Figura 7 Quadrinhos dos ex-alunos da República Bangalô. Fonte: Acervo Michelle
Novaes ...................................................................................................................... 31
Figura 8 República Casanova. Fonte: Acervo Allyson Assis ..................................... 32
Figura 9 Bloco da Praia no carnaval de 2008. Fonte: Acervo República Casanova . 34
Figura 10 República Aquarius. Fonte: Acervo República Aquarius .......................... 35
Figura 11 República Sinagoga. Fonte: Acervo Ricardo Fonseca .............................. 37
Figura 12 Quadrinhos dos ex alunos da República Sinagoga. Fonte: Acervo Michelle
Novaes ...................................................................................................................... 38
Figura 13 República Maternidade, na Rua dos Paulistas. Fonte: Acervo República
Maternidade .............................................................................................................. 41
Figura 14 República Maternidade na Rua Direita. Fonte: Acervo República
Maternidade .............................................................................................................. 42
Figura 15 República Maternidade no atual endereço, Rua Xavier da Veiga. Fonte:
Acervo República Maternidade ................................................................................. 43
Figura 16 X Beer Fest Ouro Preto. Fonte:<http://
http://www.orkut.com.br/Main#AlbumList?uid=14062933367733565158> Acesso em
14 nov. 2010.............................................................................................................. 47
Figura 17 República Volkana, na Avenida Vitorino Dias. Fonte: Acervo República
Volkana ..................................................................................................................... 48
10

Figura 18 República Volkana no atual endereço, Rua das Mercês. Fonte: Acervo
República Volkana .................................................................................................... 49
Figura 19 Alunos excursionistas do Colégio Oliveira em frente a República Sinagoga.
Fonte: Acervo Michelle Novaes ................................................................................. 58
Figura 20 Atividade Recreativa na República Sinagoga. Fonte: Acervo Michelle
Novaes ...................................................................................................................... 59
Figura 21 Alunos do Colégio Oliveira reunidos na sala da República Sinagoga
ouvindo a sua história. Fonte: Acervo Michelle Novaes ............................................ 60
11

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................... 12
2. METODOLOGIA............................................................................................. 18
3. REPÚBLICAS DE OURO PRETO................................................................. 22
3.1.

República Castelo dos Nobres........................................................... 22

3.2.

República Consulado......................................................................... 25

3.3.

República Bangalô............................................................................ 29

3.4.

República Casanova.......................................................................... 32

3.5.

República Aquarius............................................................................ 35

3.6.

República Sinagoga........................................................................... 37

3.7.

República Maternidade....................................................................... 39

3.8.

República Volkana.............................................................................. 43

4. HOSPITALIDADE NAS REPÚBLICAS.......................................................... 50
4.1.

Hospitalidade dos republicanos para com os calouros recém
chegados............................................................................................ 50

4.2.

Hospitalidade dos republicanos para com os ex-alunos.................... 52

4.3.

Hospitalidade

dos

republicanos

para

com

os

visitantes

amigos................................................................................................ 54
4.4.

Hospitalidade

dos

republicanos

para

com

os

visitantes

turistas................................................................................................ 57
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 63
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................... 67
12

1. INTRODUÇÃO

De acordo com o Dicionário Aurélio, define-se hospitalidade como a “Ação de
acolher em casa por caridade ou cortesia: dar hospitalidade. / Qualidade do que é
hospitaleiro.”

Hospitalidade é um conjunto de leis não escritas que regulam o ritual social e cuja
observância não se limita aos usos e costumes das sociedades (CAMARGO, 2003).

Pode-se definir a hospitalidade, entre outras coisas, de acordo com os seguintes
tópicos:


Receber hóspedes de uma maneira calorosa e cordial;



Criar um ambiente agradável ou confortável;



Satisfazer a necessidade dos hóspedes;



Criar uma atmosfera amigável e segura.

Segundo CHON (2003), cada uma das afirmações contidas nos tópicos acima tem
uma expectativa intuitiva (e correta) quanto ao que é e o que não é hospitalidade.

A idéia de hospitalidade, data, é claro, de épocas muito
anteriores, desde as evidências históricas encontradas
nos primeiros centros da civilização, como a Mezopotâmia
(atual Iraque), às referências bíblicas à tradição de lavar
os pés dos hóspedes, até os posteriores registros dos
donos de hospedaria ingleses que, com uma caneca de
cerveja, recebiam viajantes cansados. O conceito de
hospitalidade, no entanto, permaneceu o mesmo ao longo
da história: satisfazer e servir os hóspedes. (CHON, 2003,
p.1)
13

A função básica da hospitalidade é estabelecer um relacionamento ou promover um
relacionamento já estabelecido. Os atos relacionados com a hospitalidade obtêm
esse resultado no processo de troca de produtos e serviços, tanto materiais quanto
simbólicos, entre aqueles que dão hospitalidade e aqueles que recebem. Uma vez
que os relacionamentos necessariamente se desenvolvem dentro de estruturas
morais, uma das principais funções de qualquer ato de hospitalidade, no caso de um
relacionamento já existente, é consolidar o reconhecimento de que os anfitriões e os
hóspedes já partilham do mesmo universo moral ou, no caso de um novo
relacionamento, permitir a construção de um universo moral em que tanto o anfitrião
quanto o hóspede concordam em fazer parte.

Segundo LOHMANN & PANOSSO NETO (2008), estudos atuais têm destacado que
o conceito de hospitalidade não se limita às empresas que oferecem serviços de
hospedagem (hotéis, hospitais, albergues, etc.) e de alimentos e bebidas
(restaurantes, bares, lanchonetes). Eles afirmam também que esse conceito está
fortemente ligado ao turismo, mas não se prende a ele, sendo a hospitalidade,
inclusive, muito maior que este.

DENCKER (2004) citando TELFER (2000), ressalta que as pessoas têm o dever da
hospitalidade para com aqueles que fazem parte do seu círculo. Desse ponto de
vista, estabelecimentos como hotéis, restaurantes, bares, shoppings, assim como
praças e outros espaços públicos, bem como lugares de visitação e meios de
transporte podem ser vistos como hospitaleiros por freqüentadores e usuários que
fazem parte do seu círculo, ou seja, se identificam com eles, reconhecem sua
hospitalidade, são fiéis a eles ou fazem parte do público-alvo que os freqüenta e
para o qual foram dirigidos e planejados pública ou mercadologicamente, até mesmo
por meio da comunicação e propaganda.

Ouro Preto, cidade mineira conhecida mundialmente como Patrimônio Mundial da
Humanidade, torna-se um importante local para eventos e festividades. Alguns
desses eventos são tradicionais no calendário de festas da cidade, como o Carnaval
14

e a Semana Santa. Ser um atraente destino turístico faz com que, constantemente,
Ouro Preto seja palco da realização de importantes eventos científicos e culturais.
Ouro Preto ainda é cenário da vida acadêmica de milhares de estudantes da
Universidade Federal de Ouro Preto. Muitos destes, provenientes de outras cidades
e estados, são acolhidos por tradicionais moradias estudantis, denominadas
“repúblicas”, que já fazem parte da identidade da cidade. (JAQUES, 2006).

A palavra “república”, originada do latim, em seu sentido original, refere-se a coisas
que não são de propriedade particular, mas sim pertencem ao povo. Segundo Ari
Riboldi1, devido ao significado das palavras latinas que o compõe, "res" (coisa) e
"publica" (pública), o termo passou a assumir outras aplicações como, por exemplo,
“república de estudantes”, que são habitações divididas por grupos de estudantes,
geralmente provenientes de outras cidades para cursar o ensino superior, sem
recursos para alugar uma residência individualmente. (Redação Terra / Educação /
Você

Sabia?

/

Notícias

<

http://noticias.terra.com.br/educacao/vocesabia/noticias/0,,OI3793812-EI8399,00De+onde+vem+o+termo+republica+de+estudantes.html>, Acesso em 28 out. 2010).

As repúblicas estudantis de Ouro Preto são mais conhecidas e reconhecidas em
relação à cidade do que a própria Universidade e fazem parte da tradição de Ouro
Preto, pois ao longo de quase um século2 desenvolveram uma cultura própria e
mantiveram laços com seus ex-alunos e ex-residentes. Muitas delas foram
instaladas em prédios pertencentes à UFOP e absorveram parcela significativa dos
alunos em Ouro Preto e Mariana (JAQUES, 2006).

Para muitos de nós, viver é morar. O ser humano está sempre à procura de um
ninho. Quer se trate de uma caverna ou de um castelo, ele pode aí esconder-se,
abrigar-se, organizar-se. A moradia é um quarto, um apartamento, uma casa, um
pequeno jardim, um pequeno pátio, um bairro, uma aldeia, uma cidade. A moradia é
1
2

Autor do livros “O bode expiatório” e “A CPI das Palavras”
A primeira república estudantil da UFOP é de 1919.
15

dormir, comer, é a família, os contatos sociais, os lazeres, os trabalhos domésticos
algumas vezes, o trabalho profissional. A habitação reveste-se de importância social.
É ali, ou nos arredores, que o indivíduo passa de 60% a 70% do seu tempo livre.
(KRIMPPENDORF, 2001)

Segundo Machado (2001), Ouro Preto é a cidade brasileira com o maior conjunto de
repúblicas estudantis universitárias, com práticas culturais centenárias, e uma
importante inserção na cidade. Desta forma, suas práticas culturais são
influenciadas pelo ambiente cultural da cidade, e da mesma forma, influencia a vida
social e cultural de Ouro Preto. Um primeiro aspecto a ser considerado é o esforço
na conservação das casas de “repúblicas” para se enquadrar aos padrões gerais do
patrimônio histórico e artístico da cidade, que é reforçado pelo significado simbólico
de Ouro Preto. Por outro ponto, as repúblicas criaram uma imagem em Ouro Preto
quanto à boemia e à grandes festas.

O que diferencia essas repúblicas de Ouro Preto das existentes nas diferentes
regiões do Brasil, como também em outros lugares do mundo, tanto nas cidades
portuguesas de Coimbra e Lisboa, quanto em outras cidades da Europa e dos
Estados Unidos – que embora estejam de alguma forma assemelhadas não
possuem uma organicidade e um conjunto de tradições articuladas no conjunto
universitário – são: a) o caráter permanente, o que significa que não há a sua
dissolução quando os estudantes se formam; b) as repúblicas já possuem muitas
tradições levando-se em conta que muitas delas já existem há mais de cinqüenta
anos; c) o contato entre os seus alunos e ex- alunos o ano inteiro, que se intensifica,
sobretudo, nas comemorações do aniversário da Escola de Minas de Ouro Preto na
chamada Festa do 12 de outubro (MACHADO, 2001).

Quando se planeja uma viagem, um dos custos mais altos com a mesma geralmente
são os gastos com a hospedagem. As repúblicas de Ouro Preto, além de moradias
estudantis, são uma econômica opção de meio de hospedagem informal, onde os
moradores das mesmas cobram valores simbólicos de diárias, para cobrir despesas
16

da casa, como gastos com luz, possibilitando assim que os estudantes, classe que
normalmente não possui renda econômica significativa, possam visitar Ouro Preto,
e além de conhecer seus atrativos turísticos tenham oportunidade de conhecer e
vivenciar um pouco da rotina do sistema de repúblicas existente na cidade. Esta
ação proporciona um intercâmbio cultural e social para ambas as partes.

Segundo LOHMANN & PANOSSO NETO (2008), o turista, visto como aquele que se
desloca para fora de sua residência habitual, por motivos variados, necessita da
hospitalidade, esta que seria um bom acolhimento, boa comida, atendimento às
suas necessidades básicas e especiais, compreensão e oferecimento de um leito
para dormir. Por sua vez, a hospitalidade não é encontrada somente no turismo. Ela
pode estar numa loja de roupas, que sabe receber bem o seu cliente; em um salão
de beleza, que deixa o visitante à vontade; ou em uma universidade, que oferece a
seus alunos e professores espaços de estudo com cadeiras estofadas, boa
iluminação e circulação de ar eficaz, que deixam o ambiente agradável. Os autores
afirmam que pode-se dizer que onde está o turismo deve estar a hospitalidade, mas
onde está a hospitalidade nem sempre está o turismo.

Partindo dessa lógica,

podemos dizer que a hospitalidade está presente em uma república estudantil que
recebe seus novos moradores em uma casa já estruturada e dando o apoio
necessário para que ele se adapte o quanto antes em sua nova moradia, e também
quando os ex-alunos e amigos desta mesma república são recebidos pelos atuais
moradores com toda atenção e receptividade suficientes para que todos se sintam à
vontade em sua sede.

Quem recebe uma visita no conceito doméstico fica em “vantagem” em relação ao
visitante, pois este tem a obrigação de receber bem o anfitrião no momento em que
ele for hóspede. Percebe-se, assim, que a hospitalidade representa um fenômeno
social que engloba alimentos e bebidas e os meios de hospedagem oferecidos ao
hóspede, mas não é só isso. Ela é também a base de um ato humano que percorre
séculos de história, e que está enraizado na própria questão de sobrevivência da
espécie humana. (LOHMANN & PANOSSO NETO, 2008).
17

É comum observarmos em Ouro Preto estudantes, moradores de repúblicas,
organizando-se para realizar viagens para a cidade de onde provinham seus
hóspedes, com objetivo de hospedarem-se na residência dos mesmos. A interação
entre ambos é tão significativa que gera vínculos de amizade que permitem esse
tipo de ação.

LOHMANN & PANOSSO NETO, (2008) apud Lashley, et al. (2006) ao afirmar que
os estudos da hospitalidade estão saindo do domínio do gerenciamento de hotéis e
restaurantes, se diversificando e ganhando uma visão mais abrangente por obra de
teólogos, sociólogos, historiadores, antropólogos e filósofos. Devido a essa
diversificação das abordagens sobre a hospitalidade, o que se torna evidente é que
o estudo da hospitalidade está ganhando força, profundidade, massa crítica e
maturidade, indicando significância como um substancial domínio de pesquisa.

O fato de a hospitalidade estar ganhando espaço nos campos de pesquisa de forma
abrangente unido à pequena ocorrência de trabalhos históricos de importância e
relevância sobre as repúblicas estudantis de Ouro Preto justificam a realização de
um trabalho com esta temática.
18

2. METODOLOGIA

“A pesquisa é um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que
requer um tratamento científico e se constitui no caminho para se conhecer a
realidade ou para descobrir verdades parciais”. (MARCONI & LAKATOS, 1991).

Durante o processo de viabilização de uma investigação científica, independente do
tema a ser explorado, é importante unir a consulta de material bibliográfico,
publicado ou não, à coleta de dados em campo ou laboratório, a fim de dispor de
dados precisos para a realização da pesquisa.

Segundo SANTOS (2004), a pesquisa científica pode ser caracterizada como
atividade intelectual intencional que tem como objetivo responder às necessidades
humanas. Para ele, pesquisar é o exercício intencional da pura atividade intelectual,
visando melhorar as condições práticas de existência.

A pesquisa científica produz, em um primeiro momento, conhecimentos para o
pesquisador e, depois, um texto escrito para o leitor, o que exige duas competências
distintas: a habilidade de produzir conhecimentos e a habilidade apresentá-los por
escrito.

De acordo com o objeto de estudo é possível a escolha por um tipo de pesquisa.
Existem diversas classificações. “Os critérios para a classificação dos tipos de
pesquisa variam de acordo com o enfoque dado pelo autor”. (MARCONI &
LAKATOS, 1991, p. 19).

A pesquisa realizada é do tipo exploratória, pois busca uma familiaridade pela
prospecção de materiais que possam informar ao pesquisador a real importância do
19

vigente estudo, o estágio em que se encontram as informações já disponíveis sobre
o assunto e até mesmo revelar ao pesquisador novas fontes de informação Essa
pesquisa exploratória foi feita na forma de levantamento bibliográfico, pesquisa
documental e entrevista não estruturada com moradores das repúblicas, calouros,
ex-alunos, visitantes e turistas.

A pesquisa exploratória é tida como o primeiro passo de todo o trabalho científico.
Ela possibilita a delimitação de uma temática de estudo; pode-se dizer que a
pesquisa exploratória tem como principal objetivo o aprimoramento de idéias ou a
descoberta de intuições, análise de exemplos que estimulem a compreensão.
Assume, em geral, as formas de pesquisas bibliográficas ou estudos de caso.
(SANTOS, 2004).

A pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de referências
teóricas publicadas em livros e documentos, buscando conhecer e analisar as
contribuições culturais ou científicas existentes sobre um determinado assunto, tema
ou problema (LAKATOS & MARCONI, 1989).

A pesquisa pode também ser classificada como descritiva, pois seu conteúdo
envolve a descrição das características de determinada comunidade. Segundo Gil:

Pesquisa desse tipo tem como objetivo primordial a
descrição das características de determinada população ou
fenômeno ou estabelecimento de relações entre variáveis.
São inúmeros os estudos que podem ser classificados sob
este título e uma de suas características mais significativas
está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de
dados. (GIL, 1999, p.44)
20

A metodologia de investigação baseia-se, então, em levantamentos bibliográficos e
documentais. Entre o material bibliográfico estão livros, documentos informais e
artigos de cunho teórico.

As 58 repúblicas federais da UFOP, localizadas em Ouro Preto, são sediadas em
imóveis pertencentes à União, onde os alunos da UFOP, que nelas residem, não
necessitam pagar taxas referentes à locação. As demais despesas da casa são
divididas igualmente por todos os moradores. Estas repúblicas se dividem em
masculinas e femininas, com exceção da República Arte & Manha, que é mista, e
são administradas por um sistema de auto-gestão, onde os moradores tem o direito
de selecionar novos ingressantes por critério de afinidade. Além destas repúblicas,
existem outras 10 que são sediadas em imóveis públicos, ou possuem residência
própria em nome de associações de ex-alunos, mas que não seguem o regimento
da Resolução CUNI-1.150, sendo estas as repúblicas Arca de Noé, Arcádia, FG,
Formigueiro, Hospício, Pureza, Reino de Baco, Sparta, Taranóia e Vaticano.

As repúblicas particulares da UFOP são sediadas em imóveis privados. Os alunos
que nelas residem dividem igualmente, entre eles, as despesas da casa, incluindo
taxas de locação. Não se tem um número exato referente a quantas são as
repúblicas particulares da UFOP em Ouro Preto, mas estima-se que existam mais
200. Destas, 29 repúblicas tem mais de 15 anos de fundação (171 masculina,
Alforria, Aruanda, Avalon, Belladona, Bicho do Mato, Bico Doce, Birinaite,
Caixotinho, Cirandinha, Cruz Vermelha, Doce Veneno, Favinho de Mel, Feitiço,
Gandaia, Harém, Indignação, Lua Azul, Manicômio, Maternidade, Minas das Minas,
Nascente, Paraíso, Quase Normal, Snoopy, Tôa-Tôa, Volkana, Xamego e Xeque
Mate). As repúblicas citadas acima são também administradas por sistema de autogestão onde existe processo de seleção de novos ingressantes semelhante ao das
repúblicas federais, em que o critério de afinidade é priorizado.

A Associação das Repúblicas Federais de Ouro Preto (REFOP) possui documentos
sobre a história de todas as repúblicas ligadas a associação. Fazem parte desta
21

amostra as repúblicas federais Aquarius, Bangalô, Casanova, Castelo dos Nobres,
Consulado e Sinagoga, e a república particular Maternidade. Todas masculinas e
fundadas há mais de 30 anos. A amostra contém também a república particular
feminina Volkana, fundada em maio de 1993. As repúblicas femininas têm história
mais recente em Ouro Preto, a mais antiga3 existe há 41 anos. Além de documentos
provenientes da REFOP e do acervo das próprias repúblicas, foram realizadas
visitas à inúmeras repúblicas de Ouro Preto em dias de rotina do dia-a-dia
acadêmico, durante o carnaval, festa do 12, festa do 21 de abril, festas de
formaturas, festa da família, durante a permanência de estudantes excursionistas,
em dias de matrícula referente ao vestibular da Universidade e em festas rotineiras
ao longo do período. Foram utilizados também depoimentos de ex-alunos, turistas e
amigos das repúblicas.

3

República Convento – Fundada em 1969.
22

3. REPÚBLICAS DE OURO PRETO

Para que seja possível identificar a hospitalidade ocorrente em repúblicas, faz-se
necessário um breve conhecimento da história das mesmas. O modelo de gestão
atual é oriundo da organização das repúblicas desde sua fundação, passando
apenas por um processo de adaptação aos novos tempos.

No acervo da REFOP constam documentos que falam sobre a fundação, gestão,
ingresso e cotidiano da vida estudantil dentro das repúblicas. Constam também
depoimentos de ex-alunos, que são pessoas que se formaram na Escola de
Farmácia de Ouro Preto, na Escola de Minas de Ouro Preto ou na Universidade
Federal de Ouro Preto, e relatam sobre sua experiência enquanto moradores de
repúblicas estudantis em Ouro Preto e as influências que este período teve em sua
vida profissional e pessoal.

De acordo com a Resolução CUNI 1.150 – Estatuto das Repúblicas Federais,
capítulo II, Art.9º, § 1º: Com a finalidade de obter recursos para execução dos
objetivos da Moradia Estudantil, bem como para manutenção das edificações,
poderão os moradores organizar festas e albergar convidados, desde que
devidamente amparados por um Projeto

de

Desenvolvimento

Institucional

previamente aprovado pela Pró-reitoria de Administração, ouvida a REFOP.

3.1.

República Castelo dos Nobres

A República Castelo dos Nobres tem sua data de fundação ainda encoberta.
Considerada a república mais antiga de Ouro Preto, estipula-se que ano de sua
fundação seja o de 1919. Tomaram conhecimento desta data através do depoimento
de um ex-aluno, hoje falecido, o professor Walter José Von Krüger, que viveu muitos
anos e consigo guardou a memória dos anos em que morou na Castelo. Atualmente,
sua sede situa-se à Rua Bernardo Vasconcelos, 91, Antonio Dias (Figura 1).
23

Figura 1 República Castelo dos Nobres. Fonte: Acervo República Castelo dos Nobres

Quem passa pelo processo de seleção para se tornar morador da Castelo almeja ser
um “nobre”, título dado a todos que passam, com sucesso, pelo processo de batalha
de vagas nesta república.

A Castelo, assim como as demais repúblicas federais de Ouro Preto, é um tipo, um
tanto quanto peculiar, de moradia estudantil, que tem como ideal o compartilhar
entre todos, que nela convivem, toda a infra-estrutura que a moradia possui, e
também, a partilha de coisas pessoais para suprir a necessidade de algum morador
menos favorecido, além da manutenção da casa, que é um espaço público e comum
a todos que nela moram.
24

No que tange a convivência, a Castelo se caracteriza por unir em seu interior, ao
longo dos anos, diversas personalidades, gostos, ideais, pontos de vista e condições
econômicas respeitando sempre o morador no coletivo, mas ensinando-o também a
respeitar a coletividade que se dá através da união das diferenças que cada um
possui, sendo este aprendizado por parte dos moradores, imperativo bom para o
funcionamento da Castelo, boa convivência para todos que nela moram e sucesso
na graduação.

Outra característica é a amizade que se desenvolve entre os moradores, tanto entre
os contemporâneos, ou seja, os que ali residem na mesma época, quanto entre
estes e os de gerações passadas. Amizade essa que liga a todos, mesmo estando a
quilômetros de distância ou há anos sem contato. Essa amizade é reforçada
também pelo respeito mútuo entre as gerações, sendo dos “nobres” mais novos para
com os mais antigos, já que estes últimos, de algum modo, passaram por situações
semelhantes às atuais e carregam consigo a memória da república, e dos mais
velhos para com os mais novos por que, com o ânimo novo que deles precede,
surgem grande parte das novas boas idéias e soluções que tendem a melhorar a
Castelo.

A Castelo se caracteriza, também como outras repúblicas, por manter viva a
memória dos que um dia viveram nela e se formaram, os chamados ex-alunos. Essa
memória tem como signo o “quadrinho” do “nobre”, que é uma foto emoldurada do
formando, geralmente vestindo beca, que simboliza o testemunho do período que
ele ali viveu.

Apesar da conclusão do curso universitário, e partida da casa, o ex-aluno não deixa
de ser um nobre, e tampouco é esquecido. Ficam os vínculos que foram construídos
ao longo dos anos de convivência, as estórias, benfeitorias e o “quadrinho”, o último
como signo principal dessa história. A partir desses vínculos nasce uma rede de
contatos onde, dentre outras coisas, acarreta facilidades como boas oportunidades
profissionais para novos ingressantes no mercado de trabalho.
25

Enquanto moradores da Castelo, os “nobres” que ali residem, têm o dever de
administrá-la em seu cotidiano da melhor forma possível. Existe uma hierarquia
entre os moradores, o que facilita a divisão de tarefas. O calouro chega à república
como “bixo” para batalhar vaga na mesma. Durante o período de batalha de vagas
ele é constantemente observado pelos moradores já intitulados “nobres” que ali
residem. Estes moradores têm a obrigação de ensinar ao “bixo” os deveres da casa,
como deve ser feita sua organização, as regras de convivência, sua história, seus
ideais e como cuidar da sua infra-estrutura. Após passar pelo processo de seleção e
receber o título de “nobre”, o então morador, passa a ter mais responsabilidades
dentro da administração da república.

Em seu calendário de festas, a Castelo destaca o Aniversário da Escola de Minas 12 de outubro, Torneio de Futebol Castelão, Aniversário da República Castelo dos
Nobres, Formatura de moradores e o Carnaval, sendo o último evento umas das
ocasiões onde acontece a hospedagem de turistas.

3.2.

República Consulado

Fundada em 1936 por quatro paraibanos: Silvio Vilar Guedes, Paulo Ayres
Cavalcante, Edson Vinagre de Azevedo e Nabor Wanderley Nóbrega. Inicialmente
chamada de Consulado da Paraíba, logo perdeu seu segundo nome, pois passou a
abrigar estudantes de diversos estados brasileiros, e até mesmo estudantes naturais
de Ouro Preto.

Situada à Rua das Mercês, nº 89, no centro de Ouro Preto (Figura 2), a República
Consulado, com 74 anos de existência, possui atualmente 96 ex-alunos (Figura 3),
os quais são os pilares da história da República. Mesmo após concluírem a vida
acadêmica em Ouro Preto, os “cônsules”, título dado aos que passam com sucesso
pelo processo de seleção que possibilita ao aluno da UFOP residir na Consulado
26

durante seu período de graduação, ainda possuem forte vínculo com a república,
mantendo contato extenso com os atuais moradores da casa.

Anualmente, diversas confraternizações são realizadas pelos moradores, visando
reforçar a integração entre todos os “cônsules”. A mais importante é a tradicional
festa do 12 de Outubro, data em que a Consulado comemora seu aniversário. Nesta
ocasião os ex-alunos retornam a república para conhecer os novos moradores e
reencontrar os “cônsules” que por ali já passaram, relembrando as histórias e os
momentos marcantes de suas vidas em Ouro Preto.

Figura 2 República Consulado. Fonte: Acervo Paulo Henrique Matias
27

Figura 3 Quadrinhos dos Ex-alunos da República Consulado. Fonte: Acervo Michelle Novaes

A república funciona de forma institucionalizada. Cada morador possui tarefas
determinadas

em

reuniões

periódicas.

A

legitimidade

das

mesmas

está

condicionada à presença de todos os moradores, visto que as discussões e
determinações são firmadas em ata no livro da república intitulado “Alcorão” (Figuras
4 e 5). Neste livro está registrada toda a história, as contas, as atas de reuniões e
diversos eventos relacionados à república. Atualmente existem onze volumes, sendo
o primeiro datado de 1941. Desde esta data, a tradição do “Alcorão” manteve-se
viva, deixando registrado para as gerações vindouras as experiências vividas por
todos os “cônsules”.

Desde década de 40, a sede da república é um casarão histórico do século XVIII,
pertencente à UFOP. A partir de então, o imóvel passou por algumas reformas
estruturais necessárias a sua manutenção e conservação, as quais em suas
totalidades foram custeadas com o dinheiro arrecadado através de doações dos Exalunos e eventos promovidos pelos moradores, por exemplo, o carnaval e a festa do
12 de outubro.
28

Figura 4 Alcorão nº 0. As informações contidas são da década de 40, mas ele foi restaurado no
cinqüentenário da Consulado, em 1986. Fonte: Acervo Michelle Novaes

Figura 5 Alcorão nº 10. Fonte: Acervo Michelle Novaes. 28 Out. 2010
29

Mês de outubro de 1970
Registro
Nêste (sic) Onze de Outubro festivo de 1970 a Consulado teve o
prazer e a honra de receber grande número de ex- Cônsules e
visitantes ilustres para um churrasco de confraternização,
reeditando comemorações do passado.
Como não podia deixar de ser, aproveitamos a oportunidade para
angariar fundos para a reforma do telhado, que é goteira só, e
pintura da Vetusta Consulado.(“Alcorão” nº.IV, p.70. out. 1970.)

3.3.

República Bangalô

A República Bangalô foi fundada em 26 de abril de 1976 e sua sede situa-se à Rua
das Mercês, nº 247, no centro de Ouro Preto (Figura 6).

Figura 6 República Bangalô. Fonte: Acervo República Bangalô

A república abriga, preferencialmente, graduandos dos cursos de Engenharia da
Escola de Minas.
30

Em meados do primeiro semestre de 1976, em 26 de abril,
uma segunda-feira, jovens estudantes da Escola de Minas de
Ouro Preto, vindos da cidade de São Sebastião do Paraíso MG, tiveram a honra de fundar uma nova república em Ouro
Preto, situada à Rua das Mercês, 247.
Vieram eles em grupo de nove pessoas, pois já moravam
juntos, nos fundos de uma casa, em quartos alugados, no
então “Beco dos Bois”. Era uma época em que faltavam casas
e sobravam estudantes. Ao saberem da intenção da Reitoria
em adquirir algumas casas, começaram a “batalhar”, de todas
as formas, a obtenção de uma delas, conseguindo após algum
tempo, realizar aquele grande sonho de morar em uma
república da Escola de Minas, vindo a residir nesta casa que a
princípio era destinada à professores.
Nascia, assim, a nossa querida República Bangalô, dando
início a uma grande família. Começou, a partir desta data, toda
uma história de convivência, de alegrias e tristezas, de festas e
estudos, que se desenrola até hoje.
Gerações posteriores de estudantes percorreram esta mesma
trilha e souberam manter viva esta chama, não a deixando
apagar através dos anos, conservando e melhorando não só as
instalações físicas (e como melhoraram) mas, principalmente,
preservando vivo o “espírito bangaloense”, depois de mais de
duas décadas, sempre fiel àquelas raízes.
Pessoas que chegaram aqui de uma forma e foram embora,
anos depois, de outra, levando consigo um tipo de aprendizado
que vai muito além daquele que se adquiri nos livros: o de
tomar as rédeas da própria vida para reinventá-la a cada novo
dia. Os pés fincados no chão da esperança e o olhar, alegre,
determinado, em direção ao horizonte. Tudo isso possível pela
convivência diária de uns com os outros. Um aprendizado
recíproco.
Coisas que só Ouro Preto pode ensinar: a solidariedade, o
companheirismo até nas farras, o respeito à opinião do outro, o
acolhimento, a compreensão, e muitas vezes, o abraço fraterno
e silencioso. A alegria e a fé na vida, características marcantes
do “espírito bangaloense”, vividas e facilmente identificadas
desde os primeiros até os moradores atuais. Características
lembradas, ainda, a momentos mágicos, onde se partilham
sonhos, dores e encantos, em diversas ocasiões,
principalmente na festa do 12. (LENZI, Aldo Estevan “ Gogó”,
ex-aluno da República Bangalô. Acervo REFOP. 2008).

A Bangalô, assim como as duas repúblicas citadas anteriormente, faz parte da
REFOP e segue, além do seu próprio regimento interno, o estatuto de tal
associação.
31

A República Bangalô está inserida no tradicional contexto das repúblicas de Ouro
Preto utilizando-se de formas de administração e seleção de novos moradores
semelhantes as já citadas anteriormente. O calouro de engenharia que chega à
república passa por um processo de seleção onde ele aprende a manter o
funcionamento da casa e tem que se mostrar sociável, tanto para com os colegas de
moradia quanto para outras pessoas que fazem parte da rede de convívio social da
república.

Ao terminarem a graduação, os agora ex-alunos da Bangalô “inauguram seu
quadrinho” (Figura 7), símbolo da sua contribuição para a história da república e do
vínculo ali formado.

Figura 7 Quadrinhos dos ex-alunos da República Bangalô. Fonte: Acervo Michelle Novaes

Apesar de aniversariar no mês de abril, a Bangalô comemora seu aniversário junto
ao da Escola de Minas, na festa do 12 de outubro, onde atuais moradores, ex-alunos
e amigos se encontram na sede da república para comemorar estas duas datas.
32

A Bangalô, assim como outras repúblicas, costuma receber e abrigar turistas que,
por algum motivo, venham para Ouro Preto. Vindas de outras cidades, estados e até
mesmo de outros países, muitas pessoas já se hospedaram nesta república. Em
geral o público é jovem, estudantes de várias partes do país que buscam uma
hospedagem mais barata, além de um intercâmbio cultural e cultivar novas
amizades.

3.4.

República Casanova

A República Casanova foi fundada no dia 21 de abril de 1973 e situa-se à Praça
Barão do Rio Branco, 46, Pilar. (Figura 8).

Figura 8 República Casanova. Fonte: Acervo Allyson Assis
33

O sistema de auto-gestão foi fundamental para a manutenção e conservação da
república. O mesmo deu legitimidade aos atos dos moradores de cada época para
que, da melhor maneira possível, administrasse-se o imóvel. Pintura, obras diversas
e melhoramentos úteis são apenas alguns dos esforços que os moradores fizeram
ao longo dos anos e valorizaram ainda mais o casarão onde está a sede da
república Casanova. O comprometimento de todos, em razão do melhor
aproveitamento do imóvel, torna a república um lugar agradável para viver. Os
alunos da UFOP que ali residem durante a graduação, vindos de diversos lugares do
país, puderam e podem estudar

com tranqüilidade e determinação tornando-se

profissionais qualificados e de sucesso reconhecido pelo trabalho realizado.

O funcionamento da república é baseado na hierarquia, onde o morador que mais
tempo reside na casa (decano) direciona as ações que devem ser realizadas pelos
outros, a fim de ensinar os direitos e deveres de cada um dentro da república. Essa
organização hierárquica acontece sem desrespeitar o direito e a dignidade do
próximo. Reuniões semanais com a presença de todos os moradores são feitas para
discutir e determinar os rumos que a república tomará, como por exemplo, a possível
“escolha” de um novo morador. Ao ser “escolhido”, o até então “bixo”, recebe o título
de “mais novo Casanova”. A partir daí, ele vai acarretando mais responsabilidades
com o funcionamento da casa até que conclua sua graduação. O grau máximo de
hierarquia da casa, enquanto aluno da graduação, chama-se decanato. Após a
formatura, ocasião onde acontece a inauguração de quadrinho,

cerimônia que

ocorre em todas as tradicionais repúblicas de Ouro Preto, o até então “morador”
passa a ser ex-aluno.

Durante todo o ano, a república hospeda estudantes e turistas que visitam a cidade.
Esta ação gera fundos para manter a casa. Além disso, a Casanova é uma das
repúblicas organizadoras do Bloco da Praia (Figura 9), um dos principais atrativos do
carnaval de Ouro Preto, que é outra fonte de renda para a república. Segundo os
“Casanovas”, diante do fato que a UFOP não repassa nenhum tipo de verba para
auxiliar na conservação da casa, que é um prédio tombado e por isso o custo da
manutenção do mesmo é bastante elevado, é essencial que as repúblicas busquem
34

recursos de formas variadas para que seja possível manter o imóvel conservado e
em condições adequadas para funcionar como moradia estudantil.

Desde sua fundação, a sede da república passou por várias reformas, todas com o
mesmo intuito: conservação do imóvel, melhoria da infra-estrutura e conforto para os
atuais e futuros moradores. Essas benfeitorias ficam na república, passando de
geração para geração, mantendo o “espírito republicano” e o bom ambiente para
que sejam desfrutados pelos novos moradores fazendo com que a tradição seja
mantida.

Figura 9 Bloco da Praia no carnaval de 2008. Fonte: Acervo República Casanova

Depoimentos de ex-alunos da república Casanova deixam explícito que o sistema
organizacional adotado foi de extrema importância para sua formação profissional e
pessoal. Nestes depoimentos, eles também alegam que sem ajuda financeira
35

proveniente de doações de ex-alunos e a arrecadação de fundos através de festas
como o carnaval seria impossível levar a república adiante.

3.5.

República Aquarius

Uma data aproximada de fundação propriamente dita da Aquarius é 20 de agosto de
1969, quando vários estudantes passaram a morar na casa ainda em reformas pela
Universidade.

A Aquarius localiza-se à Rua Paraná, nº 26, Centro (Figura 10).

Figura 10 República Aquarius. Fonte: Acervo República Aquarius

Segundo moradores da república Aquarius, as diversas gerações de aquarianos
construíram e reconstruíram suas ações e identidades ao longo do tempo. Isso foi
36

possibilitado pela interação dos moradores com seus colegas, ex-alunos e demais
participantes no propício espaço da República, pois é ali que cotidianamente se
extrai lições e exemplos a partir do aprendizado de superação individual e coletiva.

A estrutura da administração da república surgiu como reflexos dos princípios que
levaram ao seu surgimento. Assim como as já citadas, esta república possui um
sistema de hierarquia entre seus moradores.

A república é regida por um estatuto constituído e aprovado em reunião por todos os
moradores tendo como base o estatuto das repúblicas federais estabelecido pela
Universidade Federal de Ouro Preto. Este estatuto é tomado como paradigma para
as ações dos moradores de república em relação a diversos casos, tais como: a
admissão de um novo morador, expulsão de um morador e resolução de conflitos de
relacionamento.

A caixinha e a presidência são uns dos cargos instituídos na república. Enquanto
cabe à segunda tratar dos recursos destinados aos gastos comuns à todos os
moradores da república, a primeira é responsável por gerenciar os recursos
destinados a manutenção da estrutura física da república. Por estrutura física
entende-se tanto o prédio da república em si, como também os móveis,
computadores e eletrodomésticos. Os recursos da caixinha são obtidos, sobretudo,
através de eventos promovidos pela república e também por excursões de
estudantes de todo o país que se alojam na mesma.

A importância da caixinha está em possibilitar, primeiramente, a manutenção de um
prédio federal cujo custo de manutenção é demasiado elevado, especialmente por
se tratar de um prédio histórico que deve ser adequado às diretrizes do IPHAN.
Secundariamente, ostenta a função de possibilitar um ambiente saudável e em
condições de atender as necessidades dos jovens provenientes de todo o país que
estudam na Universidade Federal de Ouro Preto.
37

3.6.

República Sinagoga

A República Sinagoga inicialmente era localizada em uma casa no bairro Antonio
Dias. Em 1949 os moradores da Sinagoga inscreveram-se em um sorteio pelo qual
vieram a ganhar a casa na Rua das Mercês, 150, Centro (Figura 11), onde
atualmente se encontra.

Figura 11 República Sinagoga. Fonte: Acervo Ricardo Fonseca

Por se tratar de uma casa dotada de grande espaço e infra-estrutura, os moradores
da Sinagoga atenderam ao pedido dos moradores da então existente república
Favela para que os mesmos viessem a morar também na Sinagoga, unindo-se
então as duas repúblicas. Nesta data, a casa foi comprada por uma instituição
filantrópica de ajuda e amparo aos estudantes, assim como várias outras repúblicas
tradicionais de Ouro Preto, garantindo moradia gratuita aos estudantes.
38

Até 1995, a Sinagoga destinava-se exclusivamente aos estudantes de Engenharia,
mas com a criação de novos cursos da UFOP e a necessidade de moradia desta
parcela de estudantes de outros cursos, a república passou a aceitar também alunos
que não estudavam na Escola de Minas, mas com a condição de se manter a
maioria de moradores estudantes de engenharia, para não se perder uma tradição
de vários anos.

Desde sua fundação, existe uma tradição em que os moradores quando terminam a
graduação, inauguram no dia da formatura o seu quadrinho na parede da Sinagoga
(Figura 12), entrando para a galeria dos ilustres ex-alunos, onde já somam
atualmente mais de 100 quadrinhos, tradição esta que incentiva o ex-aluno a estar
sempre em contato com a república. A manutenção da casa é feita pelos próprios
moradores através de arrecadações mediante doações de amigos e ex-alunos.

Figura 12 Quadrinhos dos ex alunos da República Sinagoga. Fonte: Acervo Michelle Novaes
39

A república possui infra-estrutura de estudo e diversão: trata-se de um casarão
histórico de dois andares dotado de nove quartos, uma ampla sala onde se realiza
as tradicionais “curriolas” (evento de confraternização entre moradores, ex-alunos e
amigos) de inauguração de quadrinho e “comissões de rango” onde todos os
domingos, 2 moradores, com o auxilio dos “bixos” se encarregam de preparar um
jantar para todos os moradores, bixos e convidados. Conta ainda com uma sala
com computadores com aceso a internet e impressora, uma ampla área externa com
churrasqueira e local para se jogar basquete, garagem e uma boate para festas de
fins de semana. Para tornar-se morador da Sinagoga e ganhar o título de
“Sinagogano”, o “bixo” passa por um período de batalha de vaga. Este que ocorre
tradicionalmente desde a fundação da república, e trata-se de um processo de
adaptação do “bixo”, que no fim, se adaptado, é escolhido por unanimidade dos
moradores para se tornar um morador “Sinagogano”.

3.7.

República Maternidade

A república particular Maternidade, foi fundada em 04 de maio de 1975, com
localização na Rua dos Paulistas, 136 - Bairro Antônio Dias, Ouro Preto - MG, tendo
como fundadores: Adão Vieira de Faria, Flávio Stort, José Antônio Diniz Faria, Mário
Ricardo Soares, Luís Humberto F. Matos. Estes ilustres fundadores foram todos
alunos dos cursos de engenharia da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
No entanto devido ao crescimento da Universidade, alunos de outras áreas também
se ingressaram na República Maternidade, que procurou buscar um equilíbrio entre
os vários cursos da UFOP, valorizando-se assim o indivíduo independente do curso.

No seu início, a República Maternidade ficou, por mais de dez anos, localizada no
mesmo endereço de sua fundação, tendo fixado seu número máximo de moradores
em onze alunos durante esse período. Naquela época, muitas dificuldades foram
encontradas diante dos problemas econômicos e estruturais enfrentados pelos
estudantes republicanos, principalmente os particulares, problemas tais, como:
escassez de moradias, alto preço dos aluguéis, renovação de contratos de aluguel,
40

ameaça de venda de casa, evasão estudantil e principalmente, porque no final da
década de 70 e início da década de 80 o país atravessava grande crise econômica.
O “Projeto Inovador” foi elaborado pelos Bebês (título dado aos moradores da
Maternidade) em 1985, com a finalidade de angariar fundos para aquisição de uma
casa que seria doada à Universidade Federal de Ouro Preto. Este projeto foi
apresentado ao então Reitor, Fernando Antônio Borges Campos, na data de 05 de
setembro de 1985, apesar da viabilidade oferecida pela Lei Sarney, o projeto não
teve prosseguimento na política que dirigia a Universidade.

Diante do descaso da administração universitária, outras formas de aquisição foram
tentadas e diante dos problemas acima arrolados, a República abriu suas portas
para moradia feminina, deixando desta forma de ser apenas masculina para ser
mista. No entanto, os problemas se agravaram, o número de mulheres passou a ser
superior ao número de homens, e os conflitos internos aumentaram.

No início dos anos 90, a Comissão de Moradia da UFOP ofereceu uma casa para
moradia feminina no lugar onde hoje é conhecido como "repúblicas do brejo". Com
isso, a maioria da ala feminina da República articulou um movimento com a intenção
de torná-la exclusivamente feminina. Neste momento, os moradores homens e a
moradora Ludmila, não aceitaram essa situação e resolveram fechar a República até
que a Comissão oferecesse uma moradia mista, sendo seu bens guardados no
almoxarifado da UFOP. A Maternidade continuou liderando as várias listas de
espera por casas cedidas pela UFOP, mas a política sempre atrapalhava os planos
dos “Bebês”.

Novamente na década de 90, a Maternidade estava para receber uma casa, no
mesmo local, mas o presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da época,
alterou a lista de preferência e colocou morando na casa pessoas do seu interesse.
A república permaneceu fechada durante um (1) ano (93/94), quando então a, hoje
ex-aluna, Ludmila, juntamente com o também ex-aluno Pedro Henrique Neto (GatoFélix), resolveram reabrir a república e resgatar novamente os bens que estavam no
41

almoxarifado. Muitos dos móveis foram roubados e vários quadrinhos de ex-alunos
foram danificados, mas a República Maternidade ressurgiu mais forte, naquela
ocasião decidiu-se que a República nunca mais voltaria a ser mista, sendo Ludmila a
última ex-aluna a se formar pela casa. A partir de então, diferentemente do que
ocorrera no início, várias foram as localizações da República: Água Limpa, Antônio
Dias (Figura 13), novamente Água Limpa, Rua Direita (Figura 14) e atualmente na
Xavier da Veiga, nº 501 AB, Centro (Figura 15).

Figura 13 República Maternidade, na Rua dos Paulistas. Fonte: Acervo República Maternidade

Da mesma forma que vários foram os endereços, várias amizades foram
conquistadas ao longo destes anos e esta tem sido a característica principal desta
nova geração de bebês. Valoriza-se nesta casa os amigos, o indivíduo como
estudante universitário, independente do curso ou do grupo de república que
42

pertence, os amigos turistas que freqüentam esta casa todos os anos, os amigos
“nativos”. Valoriza-se as festas, as "lamas", sendo os principais “rock in Roll's”
realizados nas seguintes ocasiões: carnaval, 21 de abril, 04 de maio (aniversário),
Festival de Inverno, Festa do 12 e Ceia de Natal.

Figura 14 República Maternidade na Rua Direita. Fonte: Acervo República Maternidade

A república, estruturalmente, sempre foi organizada de forma hierárquica, sendo que
os “bixos” devem passar por um processo de "escolha". As despesas do mês são
chamadas de "presidência" e controladas pelo presidente, sempre morador. O
dinheiro da república é controlado pelo "tesoureiro" e recebe o nome de "caixinha",
as decisões são tomadas pelos moradores em "reuniões" e os ex-alunos são
estudantes da UFOP que concluíram a graduação enquanto moravam na república.
43

Figura 15 República Maternidade no atual endereço, Rua Xavier da Veiga. Fonte: Acervo República
Maternidade

Com seu passado de luta sempre recompensado pelos muitos momentos de alegria
que ela proporcionou aos que por lá passaram, a Maternidade é motivo orgulho para
todos os “Bebês”. É por isso que a República Maternidade está cada vez mais
fortalecida pela união entre os atuais moradores e os ex-alunos o que a torna, de
forma definitiva, eterna em suas vidas.

3.8.

República Volkana

A República Volkana, particular, única de cunho feminino desta amostra, abriga
somente alunas da UFOP e surgiu em meados de outubro de 1992 quando algumas
moradoras da república Doce Veneno, por conta de um desentendimento, decidiram
sair da antiga república e montar uma nova casa no bairro Antonio Dias.
44

A data oficial de fundação da Volkana é 01 de maio de 1993, data em que a
república mudou sua sede para um novo endereço, desta vez no bairro Água Limpa,
onde permaneceu durante 10 anos. Foi também nesta ocasião que surgiu o nome
Volkana. Este é o nome de uma flor que nasce em detritos, e para as fundadoras,
que são: Lilian P. Soares Galdino, Lilia Maria de Oliveira, Luciane Bresciani, Mônica
Ribeiro Serra e Fernanda Gama, representava a esperança diante das dificuldades.

O sistema de admissão de novas moradoras que funciona atualmente não difere
muito do que era utilizado nos tempos de sua fundação, mas na época,
considerando o fato de existirem poucas repúblicas femininas, existia um processo
de seleção para escolher as calouras que começariam a batalha de vagas. Os
critérios utilizados nessa ocasião eram principalmente a cidade de onde a caloura
estava vindo e o curso que ela fazia, uma vez que, a maioria das moradoras, até
aquele momento, eram capixabas e estudantes de nutrição, as Volkanas tentavam
diversificar estas duas condições para que existisse uma maior diversidade cultural
entre as moradoras. Mas isto não era regra. Muitas foram as alunas naturais do
estado do Espírito Santo e nutricionistas que vieram a inaugurar seus quadrinhos.
Hoje, para estar apta a batalhar vaga na Volkana a estudante tem que estar
matriculada na UFOP e cursando até o 4º período de algum curso de graduação
desta Universidade.

Depois de feita esta seleção começava a batalha de vagas, existente até hoje. A
“bixo”4 deveria ser atenta às necessidades da casa, ter uma boa relação com as
moradoras e receber bem os convidados para que pudesse ser “escolhida” ao fim do
período letivo da universidade. Havia uma cerimônia para oficializar a escolha da
“bixo”, e esta passava a utilizar uma placa que continha o seu nome e o nome da
República, para que a nova moradora pudesse ser identificada por todos.

O sistema de hierarquia da casa existe desde a fundação. Temos a decana
(moradora mais antiga da casa), que é o elo entre moradoras e ex-alunas. (vice4

Como é chamada a aluna que está passando pelo processo de seleção.
45

decana, quem tem o segundo maior tempo de casa, assume o decanato quando a
decana está ausente, e é sempre seu braço direito), moradoras no meio da
hierarquia (com funções definidas em reuniões mensais), semi-bixo (útima escolhida,
principal encarregada de ensinar às “bixos” as tarefas e a ideologia da casa) e a
“bixo”, como dito anteriormente, aluna que está passando pelo processo de seleção.
A hierarquia também está presente na escolha dos quartos, móveis, ordem para
colocar os nomes em convites de festas da Volkana e etc.

As reuniões mensais são indispensáveis. É nelas que todas fazem um aparato geral
dos acontecimentos da casa, corrigem os erros e planejam o futuro. A reunião
começa somente com as moradoras e no final as “bixos” participam recebendo uma
avaliação e podendo dar opiniões.A república tem um estatuto que é lido para as
“bixos” já na primeira reunião e deve ser seguido por todas, sempre.

No carnaval de 93, a então moradora, Luciane Bresciani se disponibilizou a receber,
sozinha, um grupo de turistas durante este período de festividades. Com os fundos
arrecadados durante o evento, a república comprou seu primeiro fogão. De lá pra cá,
as hospedagens em eventos como o carnaval, Festa do 12, eventos científicos e etc.
foram de muita valia para que a república conquistasse o patrimônio existente hoje.
Uma caloura que chega a Volkana nos dias atuais não precisa comprar
absolutamente nada para morar na casa, que já está totalmente mobiliada e dispõe
de aparelhos como máquina de lavar, computadores, equipamentos de som, TV,
DVD, além de camas, guarda-roupas, cozinha, copa e sala completas, e etc.
Somente após a “escolha” é que a moradora deve pagar uma “jóia”5. Esse dinheiro
vai para a conta da república e é utilizado para manutenção da casa e compra de
móveis e utensílios.

No ano fim dos anos 90, a Volkana fazia parte de uma associação de repúblicas
particulares que estavam lutando pra conseguir uma casa pertencente à

5

Quantia referente a 1 salário mínimo que deve ser paga em até seis meses, a partir da data da
escolha.
46

Universidade. O critério para definir a ordem na fila para ocupar uma casa era
assiduidade nas reuniões. O DCE e um representante da reitoria acompanhavam as
reuniões desta associação. Quando finalmente chegou a vez da República Volkana,
cogitou-se a hipótese da republica ocupar a casa 87E da Rua Diogo de
Vasconcelos, onde atualmente funciona a Pró Reitoria de Extensão da UFOP, mas a
casa não foi cedida. A Volkana recebeu o direito de ocupar uma casa no bairro
Antonio Dias, ao lado da República Poleiro dos Anjos, mas como a casa estava em
ruínas, e por isso não tinha condições de ser habitada, as moradoras decidiram
esperar um pouco mais. Com uma nova eleição para a Reitoria e também para o
DCE o processo de ocupação das casas acabou e a Associação teve fim. Algumas
repúblicas que faziam parte da associação, e ficaram amigas durante esta trajetória,
decidiram começar a organizar uma festa para continuar estreitando os laços entre
elas.

Assim nascia o Beer Fest Ouro Preto (Figura 16), que teve sua primeira edição no
ano de 2000 e foi organizado pelas repúblicas: Alforria, Belladona (que só participou
da primeira edição), Calamidade Pública, Chaparral, Kome Keto, Masmorra,
Partenon, Santuário, Tôa-Tôa e Volkana. A festa cresceu muito de lá pra cá, e já
teve 11 edições. O Beer Fest é uma cervejada que acontece anualmente e atinge
um público de 1500 pessoas, em geral, estudantes de Ouro Preto, Mariana e região.
A Volkana participou ativamente como responsável pela tesouraria desta festa até
sua 10ª edição, quando deixou de fazer parte da organização.

No ano de 2003 a Volkana mudou de endereço novamente. Problema
constantemente vivido pelas repúblicas que pagam aluguel e ficam a mercê das
necessidades dos proprietários da casa onde se situa sua sede. Desta vez o bairro
escolhido foi a Barra, na Rua Argemiro Sana (Conhecida rua do Funil), onde
permaneceu 2 anos. A casa foi solicitada pelo dono em janeiro de 2005 e a
mudança para a Travessa Odorico Neves, no Rosário, foi feita as pressas após o
carnaval do corrente ano.
47

Foi nesta época que a casa começou a “batizar” suas moradoras com os apelidos,
hábito que já fazia parte do contexto de inúmeras repúblicas de Ouro Preto.

A casa do Rosário não atendia as necessidades da república, tendo por isso sido
sede da Volkana por apenas pouco mais de um ano. Em maio de 2006 a Volkana
partiu para seu novo endereço. Desta vez na Avenida Vitorino Dias, 113 (Figura 17),
em frente à República Adega.

Figura 16 X Beer Fest Ouro Preto. Fonte:<http://
http://www.orkut.com.br/Main#AlbumList?uid=14062933367733565158> Acesso em 14 nov. 2010

Lá permaneceu por 3 anos. Ao fim deste período a casa, mais uma vez, foi solicitada
pela proprietária, o que resultou na mudança da sede para o endereço atual à Rua
das Mercês, 122 A (Figura 18), na conhecida Vila dos Tigres, localização que abriga
um total de 15 repúblicas, sendo 10 federais e 5 particulares.

Hoje, a Volkana tem 17 anos e está estabilizada, com 9 moradoras e 21 ex-alunas.
48

Acontecem encontros com as ex-alunas todos os semestres. No aniversário da
república em maio, normalmente comemorado em algum feriado prolongado do mês
de maio ou junho, e durante a Festa do 12. O aniversário é comemorado entre as
moradoras, ex-alunas, repúblicas amigas e demais convidados, já o 12 é
comemorado somente entre moradoras, ex-alunas e amigos homenageados.

Figura 17 República Volkana, na Avenida Vitorino Dias. Fonte: Acervo República Volkana
49

Figura 18 República Volkana no atual endereço, Rua das Mercês. Fonte: Acervo República Volkana

A especulação imobiliária significativa existente em Ouro Preto aumenta os valores
dos aluguéis. Isso fez com que a República Volkana, que começou abrigando 6
moradoras,

atualmente abrigue 13. Esta é a única forma das despesas serem

acessíveis a todas.

Assim como as demais repúblicas da amostra, a Volkana recebe turistas ao longo do
ano, monta uma estrutura específica para receber calouras

e ex-alunas, e tem

criado fortes laços de amizades com pessoas vindas de diferentes lugares.
50

4. HOSPITALIDADE NAS REPÚBLICAS

4.1.

Hospitalidade dos republicanos para com os calouros
recém chegados

Para manter a tradição das repúblicas existente em Ouro Preto há mais de 70 anos,
fez-se necessário aos alunos da Universidade Federal de Ouro Preto montar um
esquema organizacional de recepção ao calouro não só na Universidade, mas
também nas repúblicas.

A UFOP oferece processos de seleção duas vezes ao ano por meio de vestibular, e
os alunos ingressantes nesta universidade começam a receber a hospitalidade dos
republicanos de Ouro Preto muito antes de comparecerem à Universidade para o ato
da matrícula no curso de graduação no qual foram aprovados.

Sites de relacionamentos, como o Orkut®, mostram-se importantes como um dos
primeiros contatos dos calouros com os veteranos no início do processo não só de
vida acadêmica, como também de vida republicana. Moradores das mais de 300
repúblicas existentes em Ouro Preto, tanto federais quanto particulares, fazem
contato com os novatos através de perfis pessoais e das repúblicas inseridos na
rede e através também de comunidades on line como a da UFOP. Através destes
meios é possível para o calouro sentir a receptividade dos republicanos que
respondem questões referentes ao curso, a cidade e as repúblicas e oferecem
soluções referentes à moradia àqueles que necessitam mudar seu endereço para
Ouro Preto, local onde cursarão sua graduação.

Anúncios de vagas em repúblicas são muito comuns. Os veteranos oferecem ao
calouro a oportunidade de hospedar-se com sua família, em suas respectivas
repúblicas, sem compromisso, para que o novato possa conhecer as dependências
51

da casa e um pouco da rotina republicana, ações colaboradoras ao ato de escolher
sua nova moradia.

No ato da matrícula, realizada na Pró Reitoria de Graduação (PROGRAD) / UFOP,
os moradores das diversas repúblicas de Ouro Preto montam stands que contém as
informações sobre a casa, fotos do local de moradia, folhetos explicativos,
moradores à disposição para responder questões sobre as contas referentes a
manutenção da casa e demais informações necessárias para o ingresso na
república, e também para acompanhar o calouro e sua família até a república a fim
de fazer as devidas apresentações.

Segundo LASHLEY & MORISSON (2004), os alimentos e bebidas, em particular,
desempenham um papel importante na definição da identidade de grupos,
comunidades e sociedades, bem como na definição do relacionamento entre os
indivíduos e o contexto social mais amplo.

Nos dias em que acontece a matrícula, os republicanos oferecem elaborados
almoços e cafés para melhor recepcionar os calouros e quem os estejam
acompanhando. É neste clima familiar que o novato conhece aquela que pode vir a
ser sua nova casa. As repúblicas tradicionais de Ouro Preto, como já citado
anteriormente, já possuem toda uma infra-estrutura suficiente para receber o calouro
com conforto e atender grande parte de suas necessidades acadêmicas.

Ouro Preto torna-se então um local onde começar uma nova vida, longe dos
familiares e antigos amigos, não é tão difícil, devido ao apoio e receptividade dos
veteranos. O cuidado, o acolhimento por parte dos veteranos e a partilha de
materiais e sonhos já existentes nas casas e em sua tradição, são atitudes
hospitaleiras que facilitam ingressar essa nova fase.
52

Nunca como em Ouro Preto me senti tão bem vindo e cercado por
pessoas tão maravilhosas, pena eu ser tão jovem e ter aproveitado
menos do que eu devia, como é natural aos mais jovens, das coisas
mais importantes. Uma coisa posso dizer, só sou o que sou porque
cresci em Ouro Preto, mais do que isso, na Castelo dos Nobres.
(RODRIGUES, Thiago de Souza Bittencourt. “Pangéia”, ex-aluno da
República Castelo dos Nobres. 2008. Entrevista concedida a
REFOP).

Eu não tinha noção de como seria morar em Ouro Preto. Em
Suzano, minha cidade natal, poucas pessoas conheciam a UFOP.
Quem me deu a notícia de que eu havia passado no vestibular para
Engenharia Ambiental na UFOP foi a Tsé, ela viu meu nome na lista
dos aprovados e me localizou no Orkut® para dar a notícia e me
oferecer um local para morar. Combinamos de nos encontrar no dia
da minha matrícula. Ela me buscou no campus, deu umas voltas
comigo na cidade, me mostrou sua república, me contou em
detalhes de como a casa funcionava e etc. Isso me tranqüilizou pois
senti que Ouro Preto seria um lugar fácil de chegar, conhecer
pessoas e etc. Não quis ficar na república naquela época, pois não
gostei da casa. Mas a atenção que ela me deu naquele primeiro
momento foram cruciais para eu procurar esta mesma república
mais tarde, assim que elas mudaram de endereço. Hoje sou exaluna da Volkana e penso que essa recepção na época da matrícula
fez diferença na minha história atual. Se inaugurei meu quadrinho
nesta república foi porque a princípio aquela atitude despertou meu
interesse, o que me motivou a ir pra lá e fez com que eu vivesse
uma série de outras coisas até a formatura. (NISHIYAMAMOTO,
Evelize Lago – “Izzy” , ex-aluna da República Volkana. Ouro Preto,
10 nov. 2010 Entrevista concedida a Michelle Novaes.)

4.2.

Hospitalidade dos republicanos para com os ex-alunos

Pode-se chamar de ex-alunos de uma determinada república de Ouro Preto todos
aqueles que residiram na mesma durante sua graduação na Universidade Federal
de Ouro Preto e que, ao concluírem o curso, inauguraram um “quadrinho”, este que
passa a ser sua representação na casa a partir daquele momento.
53

Embora não residam mais em Ouro Preto e não mais compartilhem das despesas da
casa e quitação das mesmas, os ex-alunos das tradicionais repúblicas de Ouro
Preto, quando retornam as suas antigas moradias, ainda se sentem em casa.

Eu tenho mais de dez anos de formado, mas toda vez que me
refiro a Maternidade eu digo: minha casa! Minha mãe fica
chateada comigo quando me escuta dizer isso, eu procuro até
evitar falar da república com ela por isso, porque ela diz que a
minha casa é a casa dela, a casa dos meus pais.
Mas não, o lugar onde me sinto em casa é aqui, em Ouro Preto,
na Maternidade. Não importa que mude o endereço, que seja
outra construção, mas a ideologia é a mesma. É aqui que
reencontro meus irmãos, é aqui que conheço meus novos
irmãos, e faço questão de conhecê-los. Fico muito feliz de estar
aqui hoje, fazendo esta homenagem ao DJEI-DJEI pelos seus
dez anos de formado, de reencontrar os antigos amigos e de
sentir que a essência da casa onde eu morei é a mesma, de
sentir o carinho com que os atuais moradores e “bixos” me
recebem.
As pessoas que estão nesta sala, mas não passaram pela
experiência de morar em uma república de Ouro Preto podem
não estar entendendo o que quero dizer, ou achar que estou
exagerando, mas umas das coisas que mais me orgulho em
minha vida é de ter meu quadrinho nesta parede. A emoção de
estar vivendo este momento hoje é muito forte! Ouro Preto...
República... é assim: só quem viveu sabe. Espero estar aqui para
fazer as homenagens de 15, 20, 30, 50 anos do DJEI-DJEI e de
comemorar ainda muitos aniversários da fundação da nossa
eterna Maternidade.
És mãe de todos nós e teus filhos são como irmãos eternos.
Quando o sol brilhar em outro lugar estaremos bem por ter nos
ensinado a viver. O vento trará o silêncio, a noite fria a saudade.
O coração apertado estará agradecendo a ti, inesquecível
Maternidade. (Discurso do ex-aluno da República Maternidade
Warley de Araújo Mol – Xullé, durante as homenagens realizadas
na festa do 12 de outubro de 2010).

Segundo DENCKER (2004), o comportamento genuinamente hospitaleiro requer um
motivo adequado. Mas para alguém ser considerado uma pessoa hospitaleira, isso
depende não só do seu motivo, mas também de quão freqüentemente ocorre o
comportamento hospitaleiro. Uma pessoa hospitaleira é alguém que proporciona
hospitalidade com freqüência, atenciosamente e com motivos apropriados relativos à
hospitalidade. Há um grupo de motivos que envolvem as seguintes condições: a
consideração pelo outro, incluindo o desejo de agradar terceiros, proveniente da
54

amizade e da benevolência por todos ou afeição por certas pessoas; a preocupação
ou compaixão; isto é, o desejo de satisfazer a necessidade dos outros.

O cuidado que o republicano tem ao preparar a casa para receber os ex-alunos e
mantê-lo satisfeito durante o tempo que ele permanecerá na república é
extremamente significativo. As reformas, por exemplo, são realizadas por razão de
necessidade, mas as datas escolhidas para fazê-las são sempre às vésperas de
ocasiões de recepção de ex-alunos, como a Festa do 12 ou aniversário da república,
salvo as que são realizadas em caráter de emergência.

A República e Ouro Preto foram as coisas mais marcantes da
minha vida, é conceito só nosso único e exclusivo, só pode
viver isto quem participou, ela extrapola o conceito de vida
estudantil, as Repúblicas de Ouro Preto foram determinantes
na abertura de repúblicas neste Brasil afora, mas as repúblicas
de Ouro Preto são e devem continuar sendo perpétuas, pois é
através de minha República que eu continuo voltando à Ouro
Preto para rever novos republicanos, novos familiares, e faço
questão de ficar nela, pois nela eu tenho tratamento melhor
que muitos hotéis poderiam fazer.
Nela eu sou um rei e sou um súdito, sou um pai e sou um filho,
em minhas veias corre um pouco dela, se ela extinguir, com
certeza morrerei com ela. (ABDALA, Robertson de Souza
“Gordo”, ex-aluno da República Casanova. Ouro Preto. 2008.
Entrevista concedida a REFOP).

Percebe-se, com clareza, no trecho da entrevista citado acima que Robertson julga
os moradores da República Casanova hospitaleiros, e este é um dos fortes motivos
que o faz retornar a Ouro Preto e fazer questão de ficar hospedado lá, assim como
Warley Mol ao dizer que se sente em casa, e que a emoção ao receber o carinho
dos moradores e “bixos” é muito forte, deixa evidente a hospitalidade dos moradores
para com os ex-alunos de suas respectivas repúblicas.

4.3.

Hospitalidade dos republicanos para com os visitantes
amigos
55

A realização de festas nas repúblicas de Ouro Preto é algo freqüente. Em todas as
semanas do semestre letivo é possível prestigiar algum “rock” (como são conhecidas
as festas de estudantes de Ouro Preto). Nestes “rocks”, é comum ver os anfitriões,
preocupados em dar atenção aos convidados, encher copos vazios, colocar músicas
que agradem a maioria e etc. Receber convidados e tratá-los bem é uma
característica marcante das repúblicas tradicionais de Ouro Preto.

Segundo DENCKER (2004), pode-se dizer que o bom hospedeiro é aquele que
cumpre com todas as tarefas: enche novamente copos vazios, certifica-se de que
está sendo oferecida uma segunda ajuda aos hóspedes e etc. Mas tal lista não é
capaz de descrever a essência do bom hospedeiro, já que aplica somente às
convenções de uma determinada época e lugar. Se proporcionar hospitalidade aos
hóspedes for tornar-se responsável por sua felicidade enquanto eles estiverem
debaixo do seu teto, um bom hospedeiro será aquele que deixa seus hóspedes
felizes enquanto estiverem sob sua atenção.

Além dos convidados que também residem em Ouro Preto, as repúblicas recebem,
freqüentemente, parentes e amigos de moradores “republicanos”, que mediante a
boa recepção passam a ser amigos da república como um todo, em curto espaço de
tempo.

Eu sempre quis estudar na UFOP. Fiz vestibular seriado para
Nutrição na UFOP a partir do ano 2000. Em janeiro de 2002 fui
para Ouro Preto fazer a última prova do vestibular seriado com
mais duas amigas. Uns amigos de Carangola, cidade onde eu
morava naquela época, que já estudavam em Ouro Preto nos
chamaram para ficar hospedadas na casa deles, a República
Chaparral. Era pra termos ficado lá apenas os dois dias de
prova, mas a recepção, inclusive dos moradores que não
conhecíamos anteriormente, foi tão boa que acabamos ficando
mais tempo. Eles nos mostraram a cidade, nos levaram ao local
de prova e nos davam atenção em tempo integral. Não pagamos
nada pela hospedagem, apenas contribuímos com algum
dinheiro para comprar comida e bebida enquanto estávamos lá,
quantia que era dividida igualmente por eles e por nós,
visitantes.
56

Fiquei encantada! A organização existente naquela casa onde
moravam 15 homens era impressionante! Eles nos explicaram
como a república funcionava e explicaram como era a tradição
das repúblicas de Ouro Preto. A partir dali a minha vontade não
era somente passar no vestibular, mas também estar inserida
naquele contexto.
No ano seguinte, uma das minhas amigas passou no vestibular
para Artes Cênicas e foi morar na república Volkana. Continuei
tentando o vestibular todos os semestres de 2003 a 2006. Nesta
época eu ficava hospedada na república dela. Mais uma vez
pagando taxas simbólicas e me encantando cada vez mais com
as repúblicas de Ouro Preto.
No segundo semestre de 2004 resolvi mudar para Ouro Preto e
fazer cursinho. Morei na Volkana durante este semestre e foi um
dos melhores períodos da minha vida. Fiz inúmeras amizades.
Tive oportunidade de receber alguns turistas nessa época, e
agora era a minha vez de tratá-los como me tratavam quando
eu era a hóspede, e esta experiência foi muito válida. Ao fim
deste semestre prestei o vestibular em outra universidade,
passei e comecei a fazer o curso de Nutrição na UNIG, em
Itaperuna – RJ, onde me formei, mas até a metade do curso
ainda tentava o vestibular na UFOP, tamanho era o meu vínculo
com a cidade, tamanha era a minha vontade de inaugurar meu
quadrinho. Infelizmente isso não aconteceu, mas continuo
freqüentando Ouro Preto. A princípio o vínculo era a minha
amiga, mas agora me sinto a vontade de ir para a Volkana
mesmo ela não estando mais lá. (PRADO, Melina Biajoli do,
Ouro Preto. 13 out. 2010. Entrevista concedida a Michelle
Novaes).

A recepção calorosa e a atenção dada aos visitantes os incentivam a voltar e criam
um vínculo com Ouro Preto que é fortalecido a cada retorno. Este tratamento dado
ao visitante identifica a hospitalidade para com eles.

Apesar das festas em grandes proporções, nunca me senti
deslocada ou sozinha na Aquarius ou na Sinagoga: o copo
sempre cheio, a comida oferecida a todo o momento, o papo
agradável e atenção digna de uma rainha. Mesmo na Festa
do 12 ou carnaval, com pendências à resolver, ex-alunos e
turistas para receber, sempre tem algum morador por perto
disposto a fazer sala. (GONÇALVES, Júlia Maria Ferreira.
“Debby”, moradora da república Volkana. Ouro Preto. 29 nov.
2010. Entrevista concedida a Michelle Novaes)

Observa-se então que a hospitalidade é freqüente nas repúblicas. Os anfitriões se
preocupam em agradar os convidados, mesmo tendo outros afazeres. Não importa
57

se é durante o carnaval ou aniversário da república, numa festa no fim de semana
ou numa segunda feira qualquer, o tratamento é sempre o mesmo.

4.4.

Hospitalidade dos republicanos para com os visitantes
turistas

Como já citado anteriormente, um dos meios que as repúblicas utilizam para
angariar fundos para manter a infra-estrutura e a conservação do imóvel usado
como sede da república é a hospedagem.

Receber estudantes excursionistas ou visitantes é uma prática comum nas
repúblicas de Ouro Preto, principalmente em feriados prolongados e em datas
festivas como o Carnaval e o Festival de Inverno.

Como foi dito por DENKER (2004), ser um anfitrião envolve habilidades, assim como
empenho. Algumas dessas habilidades, como as tarefas de um anfitrião, são clichês:
por exemplo, um bom hospedeiro pode impedir que um argumento polêmico vire
uma briga. Caso deseje uma fórmula geral para essas habilidades, pode ser essa:
os bons hospedeiros são bons pelo fato de deixarem seus hóspedes felizes, pois
eles sabem o que agradará seus hóspedes e são capazes de fazer isso.

O Carnaval é o período em que se reúne um maior número de turistas na casa.
Normalmente, as repúblicas masculinas hospedam e promovem festas, já as
femininas, funcionam como casas de apoio para hospedagem, em parceria com as
masculinas. Durante os cinco dias de folia são oferecidos acessórios como canecas
e camisas com a logo da república, alimentos e bebidas, abadás de blocos
carnavalescos, shows com bandas locais e etc. Os republicanos, em geral, já se
mostraram capazes de organizar dezenas de pessoas em suas repúblicas, entre
58

turistas e convidados, mantendo a ordem e a disciplina, garantindo uma festa de
qualidade aos seus hóspedes.

Nos dias 17 e 18 de novembro do corrente ano, a República Sinagoga recebeu uma
excursão pedagógica do Colégio Oliveira, proveniente da cidade de Oliveira-MG,
com 27 alunos do 3º, 4º e 5º ano com idades entre 8 e 10 anos e 4 professoras
responsáveis (Figura 19). Os alunos pernoitaram na república e tiveram a
oportunidade de conhecer a vida dos estudantes, a história da república, e o
aprendizado que a mesma proporciona aos seus moradores na arte de dividir, de
compartilhar, na troca de saberes e vivências, na idéia de social e no compromisso
com o grupo. As professoras responsáveis contaram com o apoio dos “sinagoganos”
para organizar os alunos no período em que estes permaneceram nas dependências
da casa e também para atingir o objetivo da excursão no que dizia respeito a
conhecer um pouco da vida republicana. Os moradores contaram aos alunos a
história da república, curiosidades e responderam a inúmeras perguntas.

Figura 19 Alunos excursionistas do Colégio Oliveira em frente a República Sinagoga. Fonte: Acervo Michelle
Novaes
59

Ao visitar a Sinagoga no dia 17 de novembro, enquanto os excursionistas estavam
lá, pude observar que os alunos foram divididos em 5 quartos, separados por sexo,
sendo que em todos os quartos tinha pelo menos um adulto, em quartos femininos
as professoras, em quartos masculinos algum morador da república. Enquanto as
crianças organizavam a fila para o banho, os moradores propuseram atividades
recreativas (Figura 20), para ocupar o tempo livre dos alunos. À noite, os moradores
reuniram os excursionistas na sala e contaram a história da Sinagoga (Figura 21),
explicaram a vivência em república e enfatizaram o trabalho em equipe e a união.

Figura 20 Atividade Recreativa na República Sinagoga. Fonte: Acervo Michelle Novaes
60

Figura
21 Alunos do Colégio Oliveira reunidos na sala da República Sinagoga ouvindo a sua história. Fonte: Acervo
Michelle Novaes

Outro tipo comum de hospedagem é a referente a estudantes, que para viajar
precisam de uma opção barata de hospedagem, e esta é proporcionada pelos
republicanos de Ouro Preto promovendo assim um intercâmbio cultural custeado por
valores simbólicos cobrados dos turistas para quitar despesas extras da casa,
acarretadas por tal hospedagem, como por exemplo, encarecimento da conta de luz.

Em seu acervo, a República Bangalô possui relatos de turistas que conheceram a
casa, se hospedaram lá e aprovaram a experiência. Estes turistas demonstraram
isso permanecendo na casa mais tempo que o previsto e oferecendo sua residência
como estadia para os moradores que quisessem conhecer a cidade de origem do
turista.

Olá meninos!
Há muito tempo não conhecia pessoas tão legais e tão
hospitaleiras como vocês. Eu só podia encontrá-los aqui em
Minas mesmo...
Adorei demais ficar aqui na Bangalô e quando pintar outra
oportunidade, estarei aqui de novo ( se vocês deixarem, é
claro!)
61

Estou esperando vocês lá em Vitória, quando quiserem é só
aparecerem! Será um prazer recebê-los na minha casa, de
verdade!
Já estou com saudades...
Beijos, beijos, beijos,
Lu (mensagem da turista Luciana Lisboa Mota e Castro, em
24/09/2000, dossiê da República Bangalô, acervo da
REFOP).

Acho que, pra quem veio ficar apenas 5 dias, 20 já foram o
bastante. Por mim ficaria muito mais..
Agora vou fazer uma confissão... Nunca achei que fosse
encontrar tanto engenheiro legal! Meninos, gostei muito
MESMO de estar aqui com vocês, foi uma troca de
experiências deliciosa, afinal, não foi à toa que fui esticando
minha estadia até agora...
Bom, isto aqui é apenas um bilhetinho de “ate breve”, pois
logo logo já estarei aporrinhando vocês aqui outra
vez...(mensagem da turista Camila Caffaro, dossiê da
República Bangalô, acervo da REFOP.)

Jovens,
É a 5ª vez que venho aqui e pretendo voltar pelo menos
mais um monte de vezes. E vocês, como sempre, me
receberam muito bem. Adoro vocês!
Tchau com carinho da MARAVILHA. (mensagem da turista
Keyla de Oliveira Neves, dossiê da República Bangalô,
acervo da REFOP.)

Meninos da Bangalô,
Foi muito legal conhecê-los e passar esses dias com
vocês.
Adorei a boa recepção. Espero um dia reencontrá-los...
Um abraço, Leilane (UFPR – Arquitetura). (mensagem da
turista Leilane Tascheck, dossiê da república Bangalô,
acervo REFOP. 29 set. 2002).

Obrigada pela hospitalidade e desculpe atrapalhar as
finais de vocês. Muito bom conhecê-los, querendo ir pra
Curitiba é só ligar... (mensagem da turista Mariana
Sellucio, dossiê da República Bangalô, acervo da REFOP.
29 set.2002).
62

De acordo com os depoimentos citados acima, é possível identificar a hospitalidade
para com os turistas, uma vez que, eles aumentam o tempo de estadia, pretendem
voltar, criam laços de amizades e elogiam a República Bangalô a todo o momento.
No “Alcorão” também existem registros dessa espécie, onde as pessoas manifestam
sua satisfação em ter estado na Consulado. Muitas repúblicas possuem livros de
memórias com a finalidade de registrar estes momentos.
63

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao conhecer o histórico das repúblicas percebe-se que a hospitalidade está inclusa
em sua tradição. Parte da ideologia dos republicanos de Ouro Preto é receber bem
as pessoas, independente de quem seja.

A forma de abordar os calouros na fila de matrícula já demonstra essa hospitalidade.
Nota-se que o republicano de Ouro Preto entende que a relação social é favorável
para manter a tradição. Num primeiro momento, ele se esforça para receber bem o
calouro e com isso torna-se possível preencher as vagas ociosas em sua república,
mais tarde ele ensina o calouro a importância dessa relação social e isso vai
passando de geração para geração, fortalecendo a tradição.

O sistema de batalha interfere diretamente na personalidade do calouro, que para
ser “escolhido” precisa se enquadrar nos quesitos exigidos pela casa. Todas as
repúblicas desta amostra citaram a afinidade como fator essencial para que o
calouro seja aceito, ou seja, isso o força a trabalhar questões como timidez e
individualismo, quando existentes. A partir do momento que ele se relaciona bem
com os moradores ele parte pro segundo passo, que seria se relacionar bem com as
pessoas do ciclo social da sua república. Ele aprende com os moradores mais
antigos a ser um bom anfitrião, tanto com os visitantes, quanto com os amigos e exalunos.

As casas disponibilizadas pela Universidade para moradias estudantis, assim como
as que são disponibilizadas para serem locadas por repúblicas particulares, são
casas grandes, com muitos quartos. Isso faz com que as repúblicas de Ouro Preto,
diferente de outros lugares, abriguem na maioria das vezes uma média mínima de
10 moradores. O elevado número de pessoas dividindo a mesma casa exige uma
maior organização e regras indispensáveis para seu bom andamento. As medidas
organizacionais para o funcionamento da casa acabaram por gerar ações
64

empreendedoras como, como por exemplo, o carnaval que acontece nas repúblicas,
a organização de festas de grande porte, como o “Beer Fest”, e a organização de
blocos de carnaval como o “Bloco da Praia”.

A hospedagem em épocas isoladas, como o vestibular e fins de semana comuns, ou
durante eventos como o Festival de Inverno, gera vínculo entre hóspedes e
moradores. Por ser uma hospedagem informal, onde o “republicano” sede espaço
em sua própria casa para o turista, e divide sua rotina com ele, acaba estreitando os
laços entre ambos. Isso é um fator positivo no que diz respeito à imagem deturpada
que as repúblicas de Ouro Preto tem em várias localidades do país. Possibilita ao
turista constatar a organização, ver que existe um ambiente de estudo, que os
moradores terminam a graduação e muitas vezes viram profissionais bem
sucedidos.

Outro fator é que, algumas vezes, além de freqüentar Ouro Preto, o visitante passa a
querer viver esta rotina da mesma forma que os “republicanos”, o que aumenta a
visibilidade da UFOP. É comum ver pessoas que visitaram Ouro Preto declarando
que não somente querem estudar na UFOP, mas que fazem questão de fazer parte
deste sistema único de repúblicas.

Quanto aos ex-alunos, percebe-se que o vínculo entre eles e Ouro Preto, por
intermédio da república, é muito forte. O retorno a antiga moradia surge como
oportunidade de viver um pouco da saudosa vida universitária. Ele volta com a
expectativa de ver outras pessoas fazendo as coisas que ele fazia tempos atrás, de
ver que seus ensinamentos atingiram outras gerações, que a essência da casa
ainda é a mesma, e se sentir importante, querido, como de fato é. A entrega de
homenagens referentes aos anos que se passaram após o término da graduação é
um fator motivador interessante para que ele retorne, pelo menos, de 5 em 5 anos,
quando é homenageado.
65

A respeito dos excursionistas, as repúblicas tornam-se um interessante meio de
hospedagem não só pelo custo econômico, mas também pela troca de experiências
entre pessoas da mesma faixa etária, mas que vivem rotinas culturais diferentes em
seu cotidiano. No caso dos alunos mais novos, eles tiveram bons exemplos de
vivência em grupo, união, cooperação e disciplina, fatores importantes para
formação de seu caráter e personalidade.

Em relação à Ouro Preto, enquanto patrimônio histórico e cultural da humanidade, a
hospitalidade das repúblicas faz-se importante, pois é com o dinheiro arrecadado
também com a hospedagem que os moradores das repúblicas federais do Centro
Histórico da cidade mantém conservados os casarões que sediam suas repúblicas,
contribuindo de forma significativa, para a preservação e estética do município.

A hospitalidade também contribui com o futuro profissional dos “republicanos”, pois
através da relação estreita com os ex-alunos ativos no mercado de trabalho o
ingresso dos recém-formados em suas atividades profissionais acaba sendo
facilitado, através de indicações para estágios, programas de trainee, e até mesmo
para o primeiro emprego.

Um sistema tão produtivo, e que perdura há tanto tempo, merece atenção. Sugiro
um estudo aprofundado sobre as repúblicas de Ouro Preto, para que seja possível
levantar, com precisão, os prós e os contras de começar e concluir uma graduação,
estando inserido neste contexto. Isso poderia solucionar ou, ao menos, amenizar os
problemas e também aumentar a visibilidade dos pontos positivos, fazendo, talvez,
com que este sistema seja implantado em outros lugares.

Outro estudo interessante seria a respeito do potencial das repúblicas em relação ao
carnaval de Ouro Preto. Tendo sido indicada a hospitalidade nas repúblicas
juntamente com a forte organização das mesmas, cabe uma pesquisa sobre os
impactos positivos e negativos que elas geram realizando hospedagens,
66

organizando festas e blocos carnavalescos durante o carnaval de Ouro Preto, para
que esta prática empreendedora seja realizada de forma sustentável e trazendo
benefícios tanto para o município quanto para as repúblicas de Ouro Preto.
67

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABDALA, Robertson de Souza. Ouro Preto. 2008. Entrevista concedida a REFOP.
ASSOCIAÇÃO DAS REPÚBLICAS FEDERAIS DE OURO PRETO. REFOP. Dossiê
das Repúblicas Federais. 2008
BARBOSA, Fábia F. O turismo como fator de desenvolvimento local e/ou regional.
Caminhos da Geografia – Revista on line, Lavras, MG, v. 10, n14, 2005ª.
Disponível em: http://www.ig.ufu.br/caminhos_de_geografia.html. Acesso em 03 set.
2010.
CAMARGO, L.O. de L. Hospitalidade. São Paulo: Aleph, 2004.
CHON, K. S. Hospitalidade: conceitos e aplicações / Kye Sung (Kaye) Chon,
Raymond T. Sparrowe; tradução Ana Beatriz de Miranda e Silva Ferreira; revisão
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Hospitalidade nas Repúblicas de Ouro Preto

  • 1. 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO MICHELLE SANTANA NOVAES DE ASSIS HOSPITALIDADE EM MORADIAS ESTUDANTIS: ESTUDO DE CASO DAS REPÚBLICAS DE OURO PRETO - MG Ouro Preto 2010
  • 2. 2 MICHELLE SANTANA NOVAES DE ASSIS HOSPITALIDADE EM MORADIAS ESTUDANTIS: ESTUDO DE CASO DAS REPÚBLICAS DE OURO PRETO - MG Monografia apresentada ao Curso de Turismo da Universidade Federal de Ouro Preto como requisito à obtenção do título de Bacharel em Turismo. Orientador: Profº. Dr. Aluísio Finazzi Porto Co-orientador: Fonseca Filho Ouro Preto 2010 Ricardo Eustáquio
  • 3. 3 MICHELLE SANTANA NOVAES DE ASSIS HOSPITALIDADE EM MORADIAS ESTUDANTIS: ESTUDO DE CASO DAS REPÚBLICAS DE OURO PRETO – MG Monografia apresentada ao Curso de Turismo da Universidade Federal de Ouro Preto, como requisito à obtenção do título de Bacharel em Turismo COMISSÃO EXAMINADORA: Professor Doutor Aluísio Finazzi Porto Universidade Federal de Ouro Preto Turismólogo Ricardo Eustáquio Fonseca Filho Universidade Federal de Ouro Preto Professor Mestre Bruno Pereira Bedim Universidade Federal de Ouro Preto Ouro Preto, 02 de dezembro de 2010
  • 4. 4 Dedico este trabalho aos meus pais, que sempre me apoiaram e acreditaram em mim. Esta conquista também é de vocês!
  • 5. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, aos meus pais, que sempre abdicaram de seus sonhos em função dos meus, pela confiança depositada e o total apoio ao longo dos anos da graduação que foram essenciais para a conclusão deste trabalho. À minha irmã, Ana Laura, que amo como se fosse minha filha, por tornar meus dias mais felizes desde o seu nascimento. À Universidade Federal de Ouro Preto pelo ensino gratuito e de qualidade. Ao professor Aluisio Finazzi pela orientação. Ao Ricardo, por me auxiliar não somente durante a elaboração deste trabalho, como co-orientador, mas também ao longo do curso. À República Volkana, minha eterna casa, e às minhas irmãs flores pelo, companheirismo, amizade e aprendizado. Sentirei saudades! Aos amigos que fiz em Ouro Preto. Jamais esquecerei! Ao Henrique pelo carinho e incentivo, principalmente nesta reta final. Às repúblicas amigas por marcarem de forma mágica e intensa minha vivência em Ouro Preto. Em especial às Repúblicas Aquarius, Bangalô, Casanova, Castelo dos Nobres, Consulado, Maternidade, Sinagoga e Volkana, que com suas histórias enriqueceram este TCC. À tradição do sistema de repúblicas de Ouro Preto que, desde um primeiro momento, despertou em mim uma intensa vontade de viver a “experiência republicana” e foi além das minhas expectativas, me motivando a realizar este trabalho. Ao Sérgio e aos colegas da Assessoria de Programas e Projetos da PROEX pelo apoio e compreensão durante o desenvolvimento deste trabalho. À Ouro Preto, cenário dos melhores anos da minha vida.
  • 6. 6 "O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis". Fernando Pessoa
  • 7. 7 RESUMO Estudos recentes apontam para novas vertentes da hospitalidade, esta que deixa de estar vinculada somente à hotelaria e aos alimentos & bebidas para abranger diversos outros campos. As peculiares repúblicas estudantis de Ouro Preto despertam reflexivos olhares em relação a muitos aspectos. Inúmeras são as especulações sobre os prós e contras de morar em uma república, de hospedar-se nelas, de freqüentá-las. A tradição das repúblicas em Ouro Preto existe há mais de setenta anos, e a discussão acerca disto é sempre muito polêmica, a começar pelo seu sistema operacional que para uns é falho e reflete o autoritarismo, humilhação, preconceitos e perda da liberdade, já para outros reflete a união, aprendizado, companheirismo, disciplina, empreendedorismo e vínculos eternos de amizade. Estas moradias estudantis já atingiram visibilidade em nível nacional, e muitas vezes são marginalizadas por pessoas que não conhecem sua ideologia e funcionamento por completo. Algo tão grandioso e diferente necessita um estudo aprofundado, que possibilite às pessoas que nunca viveram essa experiência analisar dados concretos e verídicos para, somente então, criarem suas opiniões e expectativas a este respeito. Com base nessas informações, este estudo visa, dentre outras coisas, relacionar os novos conceitos de hospitalidade com o sistema de repúblicas de Ouro Preto, destacando a ocorrência e a importância dessa vertente do turismo neste contexto. Palavras Chave: repúblicas, hospitalidade, polêmica, peculiares, Ouro Preto.
  • 8. 8 ABSTRACT Recent studies point to new aspects of hospitality, which is no longer only linked with hotel management and food & drinks, but also encompassing several other fields. The peculiar fraternities and sororities ("Repúblicas") in Ouro Preto arouse reflexive sights in many respects. There are countless speculations about the pros and cons of living, staying or even attending a fraternity. The tradition of these “Repúblicas” lasts for over seventy years, and discussions about it are always very polemic, starting with its operating system considered faulty by some regarding it reflects authoritarianism, humiliation, prejudice and loss of freedom, while for others reflects the union, learning, fellowship, discipline, entrepreneurship and eternal bonds of friendship. These student houses have already achieved visibility at the national level, and are often marginalized by people who do not know their ideology and system altogether. Something so great and different requires a thorough study, which enables people who have never lived this experience to analyze concrete and truthful data, and only then, build their opinions and expectations in this regard. Based on this information, this study aims at, among other things, relating the new concepts of hospitality to the system of the fraternities and sororities in Ouro Preto, highlighting the occurrence and importance of this tourism aspect in this context. Keywords: fraternities, hospitality, polemic, quirky, Ouro Preto.
  • 9. 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 República Castelo dos Nobres. Fonte: Acervo República Castelo dos Nobres ....................................................................................................................... 23 Figura 2 República Consulado. Fonte: Acervo Paulo Henrique Matias ..................... 26 Figura 3 Quadrinhos dos Ex-alunos da República Consulado. Fonte: Acervo Michelle Novaes ...................................................................................................................... 27 Figura 4 Alcorão nº 0. As informações contidas são da década de 40, mas ele foi restaurado no cinqüentenário da Consulado, em 1986. Fonte: Acervo Michelle Novaes ...................................................................................................................... 28 Figura 5 Alcorão nº 10. Fonte: Acervo Michelle Novaes. 28 Out. 2010 ..................... 28 Figura 6 República Bangalô. Fonte: Acervo República Bangalô ............................... 29 Figura 7 Quadrinhos dos ex-alunos da República Bangalô. Fonte: Acervo Michelle Novaes ...................................................................................................................... 31 Figura 8 República Casanova. Fonte: Acervo Allyson Assis ..................................... 32 Figura 9 Bloco da Praia no carnaval de 2008. Fonte: Acervo República Casanova . 34 Figura 10 República Aquarius. Fonte: Acervo República Aquarius .......................... 35 Figura 11 República Sinagoga. Fonte: Acervo Ricardo Fonseca .............................. 37 Figura 12 Quadrinhos dos ex alunos da República Sinagoga. Fonte: Acervo Michelle Novaes ...................................................................................................................... 38 Figura 13 República Maternidade, na Rua dos Paulistas. Fonte: Acervo República Maternidade .............................................................................................................. 41 Figura 14 República Maternidade na Rua Direita. Fonte: Acervo República Maternidade .............................................................................................................. 42 Figura 15 República Maternidade no atual endereço, Rua Xavier da Veiga. Fonte: Acervo República Maternidade ................................................................................. 43 Figura 16 X Beer Fest Ouro Preto. Fonte:<http:// http://www.orkut.com.br/Main#AlbumList?uid=14062933367733565158> Acesso em 14 nov. 2010.............................................................................................................. 47 Figura 17 República Volkana, na Avenida Vitorino Dias. Fonte: Acervo República Volkana ..................................................................................................................... 48
  • 10. 10 Figura 18 República Volkana no atual endereço, Rua das Mercês. Fonte: Acervo República Volkana .................................................................................................... 49 Figura 19 Alunos excursionistas do Colégio Oliveira em frente a República Sinagoga. Fonte: Acervo Michelle Novaes ................................................................................. 58 Figura 20 Atividade Recreativa na República Sinagoga. Fonte: Acervo Michelle Novaes ...................................................................................................................... 59 Figura 21 Alunos do Colégio Oliveira reunidos na sala da República Sinagoga ouvindo a sua história. Fonte: Acervo Michelle Novaes ............................................ 60
  • 11. 11 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO............................................................................................... 12 2. METODOLOGIA............................................................................................. 18 3. REPÚBLICAS DE OURO PRETO................................................................. 22 3.1. República Castelo dos Nobres........................................................... 22 3.2. República Consulado......................................................................... 25 3.3. República Bangalô............................................................................ 29 3.4. República Casanova.......................................................................... 32 3.5. República Aquarius............................................................................ 35 3.6. República Sinagoga........................................................................... 37 3.7. República Maternidade....................................................................... 39 3.8. República Volkana.............................................................................. 43 4. HOSPITALIDADE NAS REPÚBLICAS.......................................................... 50 4.1. Hospitalidade dos republicanos para com os calouros recém chegados............................................................................................ 50 4.2. Hospitalidade dos republicanos para com os ex-alunos.................... 52 4.3. Hospitalidade dos republicanos para com os visitantes amigos................................................................................................ 54 4.4. Hospitalidade dos republicanos para com os visitantes turistas................................................................................................ 57 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 63 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................... 67
  • 12. 12 1. INTRODUÇÃO De acordo com o Dicionário Aurélio, define-se hospitalidade como a “Ação de acolher em casa por caridade ou cortesia: dar hospitalidade. / Qualidade do que é hospitaleiro.” Hospitalidade é um conjunto de leis não escritas que regulam o ritual social e cuja observância não se limita aos usos e costumes das sociedades (CAMARGO, 2003). Pode-se definir a hospitalidade, entre outras coisas, de acordo com os seguintes tópicos:  Receber hóspedes de uma maneira calorosa e cordial;  Criar um ambiente agradável ou confortável;  Satisfazer a necessidade dos hóspedes;  Criar uma atmosfera amigável e segura. Segundo CHON (2003), cada uma das afirmações contidas nos tópicos acima tem uma expectativa intuitiva (e correta) quanto ao que é e o que não é hospitalidade. A idéia de hospitalidade, data, é claro, de épocas muito anteriores, desde as evidências históricas encontradas nos primeiros centros da civilização, como a Mezopotâmia (atual Iraque), às referências bíblicas à tradição de lavar os pés dos hóspedes, até os posteriores registros dos donos de hospedaria ingleses que, com uma caneca de cerveja, recebiam viajantes cansados. O conceito de hospitalidade, no entanto, permaneceu o mesmo ao longo da história: satisfazer e servir os hóspedes. (CHON, 2003, p.1)
  • 13. 13 A função básica da hospitalidade é estabelecer um relacionamento ou promover um relacionamento já estabelecido. Os atos relacionados com a hospitalidade obtêm esse resultado no processo de troca de produtos e serviços, tanto materiais quanto simbólicos, entre aqueles que dão hospitalidade e aqueles que recebem. Uma vez que os relacionamentos necessariamente se desenvolvem dentro de estruturas morais, uma das principais funções de qualquer ato de hospitalidade, no caso de um relacionamento já existente, é consolidar o reconhecimento de que os anfitriões e os hóspedes já partilham do mesmo universo moral ou, no caso de um novo relacionamento, permitir a construção de um universo moral em que tanto o anfitrião quanto o hóspede concordam em fazer parte. Segundo LOHMANN & PANOSSO NETO (2008), estudos atuais têm destacado que o conceito de hospitalidade não se limita às empresas que oferecem serviços de hospedagem (hotéis, hospitais, albergues, etc.) e de alimentos e bebidas (restaurantes, bares, lanchonetes). Eles afirmam também que esse conceito está fortemente ligado ao turismo, mas não se prende a ele, sendo a hospitalidade, inclusive, muito maior que este. DENCKER (2004) citando TELFER (2000), ressalta que as pessoas têm o dever da hospitalidade para com aqueles que fazem parte do seu círculo. Desse ponto de vista, estabelecimentos como hotéis, restaurantes, bares, shoppings, assim como praças e outros espaços públicos, bem como lugares de visitação e meios de transporte podem ser vistos como hospitaleiros por freqüentadores e usuários que fazem parte do seu círculo, ou seja, se identificam com eles, reconhecem sua hospitalidade, são fiéis a eles ou fazem parte do público-alvo que os freqüenta e para o qual foram dirigidos e planejados pública ou mercadologicamente, até mesmo por meio da comunicação e propaganda. Ouro Preto, cidade mineira conhecida mundialmente como Patrimônio Mundial da Humanidade, torna-se um importante local para eventos e festividades. Alguns desses eventos são tradicionais no calendário de festas da cidade, como o Carnaval
  • 14. 14 e a Semana Santa. Ser um atraente destino turístico faz com que, constantemente, Ouro Preto seja palco da realização de importantes eventos científicos e culturais. Ouro Preto ainda é cenário da vida acadêmica de milhares de estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto. Muitos destes, provenientes de outras cidades e estados, são acolhidos por tradicionais moradias estudantis, denominadas “repúblicas”, que já fazem parte da identidade da cidade. (JAQUES, 2006). A palavra “república”, originada do latim, em seu sentido original, refere-se a coisas que não são de propriedade particular, mas sim pertencem ao povo. Segundo Ari Riboldi1, devido ao significado das palavras latinas que o compõe, "res" (coisa) e "publica" (pública), o termo passou a assumir outras aplicações como, por exemplo, “república de estudantes”, que são habitações divididas por grupos de estudantes, geralmente provenientes de outras cidades para cursar o ensino superior, sem recursos para alugar uma residência individualmente. (Redação Terra / Educação / Você Sabia? / Notícias < http://noticias.terra.com.br/educacao/vocesabia/noticias/0,,OI3793812-EI8399,00De+onde+vem+o+termo+republica+de+estudantes.html>, Acesso em 28 out. 2010). As repúblicas estudantis de Ouro Preto são mais conhecidas e reconhecidas em relação à cidade do que a própria Universidade e fazem parte da tradição de Ouro Preto, pois ao longo de quase um século2 desenvolveram uma cultura própria e mantiveram laços com seus ex-alunos e ex-residentes. Muitas delas foram instaladas em prédios pertencentes à UFOP e absorveram parcela significativa dos alunos em Ouro Preto e Mariana (JAQUES, 2006). Para muitos de nós, viver é morar. O ser humano está sempre à procura de um ninho. Quer se trate de uma caverna ou de um castelo, ele pode aí esconder-se, abrigar-se, organizar-se. A moradia é um quarto, um apartamento, uma casa, um pequeno jardim, um pequeno pátio, um bairro, uma aldeia, uma cidade. A moradia é 1 2 Autor do livros “O bode expiatório” e “A CPI das Palavras” A primeira república estudantil da UFOP é de 1919.
  • 15. 15 dormir, comer, é a família, os contatos sociais, os lazeres, os trabalhos domésticos algumas vezes, o trabalho profissional. A habitação reveste-se de importância social. É ali, ou nos arredores, que o indivíduo passa de 60% a 70% do seu tempo livre. (KRIMPPENDORF, 2001) Segundo Machado (2001), Ouro Preto é a cidade brasileira com o maior conjunto de repúblicas estudantis universitárias, com práticas culturais centenárias, e uma importante inserção na cidade. Desta forma, suas práticas culturais são influenciadas pelo ambiente cultural da cidade, e da mesma forma, influencia a vida social e cultural de Ouro Preto. Um primeiro aspecto a ser considerado é o esforço na conservação das casas de “repúblicas” para se enquadrar aos padrões gerais do patrimônio histórico e artístico da cidade, que é reforçado pelo significado simbólico de Ouro Preto. Por outro ponto, as repúblicas criaram uma imagem em Ouro Preto quanto à boemia e à grandes festas. O que diferencia essas repúblicas de Ouro Preto das existentes nas diferentes regiões do Brasil, como também em outros lugares do mundo, tanto nas cidades portuguesas de Coimbra e Lisboa, quanto em outras cidades da Europa e dos Estados Unidos – que embora estejam de alguma forma assemelhadas não possuem uma organicidade e um conjunto de tradições articuladas no conjunto universitário – são: a) o caráter permanente, o que significa que não há a sua dissolução quando os estudantes se formam; b) as repúblicas já possuem muitas tradições levando-se em conta que muitas delas já existem há mais de cinqüenta anos; c) o contato entre os seus alunos e ex- alunos o ano inteiro, que se intensifica, sobretudo, nas comemorações do aniversário da Escola de Minas de Ouro Preto na chamada Festa do 12 de outubro (MACHADO, 2001). Quando se planeja uma viagem, um dos custos mais altos com a mesma geralmente são os gastos com a hospedagem. As repúblicas de Ouro Preto, além de moradias estudantis, são uma econômica opção de meio de hospedagem informal, onde os moradores das mesmas cobram valores simbólicos de diárias, para cobrir despesas
  • 16. 16 da casa, como gastos com luz, possibilitando assim que os estudantes, classe que normalmente não possui renda econômica significativa, possam visitar Ouro Preto, e além de conhecer seus atrativos turísticos tenham oportunidade de conhecer e vivenciar um pouco da rotina do sistema de repúblicas existente na cidade. Esta ação proporciona um intercâmbio cultural e social para ambas as partes. Segundo LOHMANN & PANOSSO NETO (2008), o turista, visto como aquele que se desloca para fora de sua residência habitual, por motivos variados, necessita da hospitalidade, esta que seria um bom acolhimento, boa comida, atendimento às suas necessidades básicas e especiais, compreensão e oferecimento de um leito para dormir. Por sua vez, a hospitalidade não é encontrada somente no turismo. Ela pode estar numa loja de roupas, que sabe receber bem o seu cliente; em um salão de beleza, que deixa o visitante à vontade; ou em uma universidade, que oferece a seus alunos e professores espaços de estudo com cadeiras estofadas, boa iluminação e circulação de ar eficaz, que deixam o ambiente agradável. Os autores afirmam que pode-se dizer que onde está o turismo deve estar a hospitalidade, mas onde está a hospitalidade nem sempre está o turismo. Partindo dessa lógica, podemos dizer que a hospitalidade está presente em uma república estudantil que recebe seus novos moradores em uma casa já estruturada e dando o apoio necessário para que ele se adapte o quanto antes em sua nova moradia, e também quando os ex-alunos e amigos desta mesma república são recebidos pelos atuais moradores com toda atenção e receptividade suficientes para que todos se sintam à vontade em sua sede. Quem recebe uma visita no conceito doméstico fica em “vantagem” em relação ao visitante, pois este tem a obrigação de receber bem o anfitrião no momento em que ele for hóspede. Percebe-se, assim, que a hospitalidade representa um fenômeno social que engloba alimentos e bebidas e os meios de hospedagem oferecidos ao hóspede, mas não é só isso. Ela é também a base de um ato humano que percorre séculos de história, e que está enraizado na própria questão de sobrevivência da espécie humana. (LOHMANN & PANOSSO NETO, 2008).
  • 17. 17 É comum observarmos em Ouro Preto estudantes, moradores de repúblicas, organizando-se para realizar viagens para a cidade de onde provinham seus hóspedes, com objetivo de hospedarem-se na residência dos mesmos. A interação entre ambos é tão significativa que gera vínculos de amizade que permitem esse tipo de ação. LOHMANN & PANOSSO NETO, (2008) apud Lashley, et al. (2006) ao afirmar que os estudos da hospitalidade estão saindo do domínio do gerenciamento de hotéis e restaurantes, se diversificando e ganhando uma visão mais abrangente por obra de teólogos, sociólogos, historiadores, antropólogos e filósofos. Devido a essa diversificação das abordagens sobre a hospitalidade, o que se torna evidente é que o estudo da hospitalidade está ganhando força, profundidade, massa crítica e maturidade, indicando significância como um substancial domínio de pesquisa. O fato de a hospitalidade estar ganhando espaço nos campos de pesquisa de forma abrangente unido à pequena ocorrência de trabalhos históricos de importância e relevância sobre as repúblicas estudantis de Ouro Preto justificam a realização de um trabalho com esta temática.
  • 18. 18 2. METODOLOGIA “A pesquisa é um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais”. (MARCONI & LAKATOS, 1991). Durante o processo de viabilização de uma investigação científica, independente do tema a ser explorado, é importante unir a consulta de material bibliográfico, publicado ou não, à coleta de dados em campo ou laboratório, a fim de dispor de dados precisos para a realização da pesquisa. Segundo SANTOS (2004), a pesquisa científica pode ser caracterizada como atividade intelectual intencional que tem como objetivo responder às necessidades humanas. Para ele, pesquisar é o exercício intencional da pura atividade intelectual, visando melhorar as condições práticas de existência. A pesquisa científica produz, em um primeiro momento, conhecimentos para o pesquisador e, depois, um texto escrito para o leitor, o que exige duas competências distintas: a habilidade de produzir conhecimentos e a habilidade apresentá-los por escrito. De acordo com o objeto de estudo é possível a escolha por um tipo de pesquisa. Existem diversas classificações. “Os critérios para a classificação dos tipos de pesquisa variam de acordo com o enfoque dado pelo autor”. (MARCONI & LAKATOS, 1991, p. 19). A pesquisa realizada é do tipo exploratória, pois busca uma familiaridade pela prospecção de materiais que possam informar ao pesquisador a real importância do
  • 19. 19 vigente estudo, o estágio em que se encontram as informações já disponíveis sobre o assunto e até mesmo revelar ao pesquisador novas fontes de informação Essa pesquisa exploratória foi feita na forma de levantamento bibliográfico, pesquisa documental e entrevista não estruturada com moradores das repúblicas, calouros, ex-alunos, visitantes e turistas. A pesquisa exploratória é tida como o primeiro passo de todo o trabalho científico. Ela possibilita a delimitação de uma temática de estudo; pode-se dizer que a pesquisa exploratória tem como principal objetivo o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições, análise de exemplos que estimulem a compreensão. Assume, em geral, as formas de pesquisas bibliográficas ou estudos de caso. (SANTOS, 2004). A pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em livros e documentos, buscando conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas existentes sobre um determinado assunto, tema ou problema (LAKATOS & MARCONI, 1989). A pesquisa pode também ser classificada como descritiva, pois seu conteúdo envolve a descrição das características de determinada comunidade. Segundo Gil: Pesquisa desse tipo tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os estudos que podem ser classificados sob este título e uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados. (GIL, 1999, p.44)
  • 20. 20 A metodologia de investigação baseia-se, então, em levantamentos bibliográficos e documentais. Entre o material bibliográfico estão livros, documentos informais e artigos de cunho teórico. As 58 repúblicas federais da UFOP, localizadas em Ouro Preto, são sediadas em imóveis pertencentes à União, onde os alunos da UFOP, que nelas residem, não necessitam pagar taxas referentes à locação. As demais despesas da casa são divididas igualmente por todos os moradores. Estas repúblicas se dividem em masculinas e femininas, com exceção da República Arte & Manha, que é mista, e são administradas por um sistema de auto-gestão, onde os moradores tem o direito de selecionar novos ingressantes por critério de afinidade. Além destas repúblicas, existem outras 10 que são sediadas em imóveis públicos, ou possuem residência própria em nome de associações de ex-alunos, mas que não seguem o regimento da Resolução CUNI-1.150, sendo estas as repúblicas Arca de Noé, Arcádia, FG, Formigueiro, Hospício, Pureza, Reino de Baco, Sparta, Taranóia e Vaticano. As repúblicas particulares da UFOP são sediadas em imóveis privados. Os alunos que nelas residem dividem igualmente, entre eles, as despesas da casa, incluindo taxas de locação. Não se tem um número exato referente a quantas são as repúblicas particulares da UFOP em Ouro Preto, mas estima-se que existam mais 200. Destas, 29 repúblicas tem mais de 15 anos de fundação (171 masculina, Alforria, Aruanda, Avalon, Belladona, Bicho do Mato, Bico Doce, Birinaite, Caixotinho, Cirandinha, Cruz Vermelha, Doce Veneno, Favinho de Mel, Feitiço, Gandaia, Harém, Indignação, Lua Azul, Manicômio, Maternidade, Minas das Minas, Nascente, Paraíso, Quase Normal, Snoopy, Tôa-Tôa, Volkana, Xamego e Xeque Mate). As repúblicas citadas acima são também administradas por sistema de autogestão onde existe processo de seleção de novos ingressantes semelhante ao das repúblicas federais, em que o critério de afinidade é priorizado. A Associação das Repúblicas Federais de Ouro Preto (REFOP) possui documentos sobre a história de todas as repúblicas ligadas a associação. Fazem parte desta
  • 21. 21 amostra as repúblicas federais Aquarius, Bangalô, Casanova, Castelo dos Nobres, Consulado e Sinagoga, e a república particular Maternidade. Todas masculinas e fundadas há mais de 30 anos. A amostra contém também a república particular feminina Volkana, fundada em maio de 1993. As repúblicas femininas têm história mais recente em Ouro Preto, a mais antiga3 existe há 41 anos. Além de documentos provenientes da REFOP e do acervo das próprias repúblicas, foram realizadas visitas à inúmeras repúblicas de Ouro Preto em dias de rotina do dia-a-dia acadêmico, durante o carnaval, festa do 12, festa do 21 de abril, festas de formaturas, festa da família, durante a permanência de estudantes excursionistas, em dias de matrícula referente ao vestibular da Universidade e em festas rotineiras ao longo do período. Foram utilizados também depoimentos de ex-alunos, turistas e amigos das repúblicas. 3 República Convento – Fundada em 1969.
  • 22. 22 3. REPÚBLICAS DE OURO PRETO Para que seja possível identificar a hospitalidade ocorrente em repúblicas, faz-se necessário um breve conhecimento da história das mesmas. O modelo de gestão atual é oriundo da organização das repúblicas desde sua fundação, passando apenas por um processo de adaptação aos novos tempos. No acervo da REFOP constam documentos que falam sobre a fundação, gestão, ingresso e cotidiano da vida estudantil dentro das repúblicas. Constam também depoimentos de ex-alunos, que são pessoas que se formaram na Escola de Farmácia de Ouro Preto, na Escola de Minas de Ouro Preto ou na Universidade Federal de Ouro Preto, e relatam sobre sua experiência enquanto moradores de repúblicas estudantis em Ouro Preto e as influências que este período teve em sua vida profissional e pessoal. De acordo com a Resolução CUNI 1.150 – Estatuto das Repúblicas Federais, capítulo II, Art.9º, § 1º: Com a finalidade de obter recursos para execução dos objetivos da Moradia Estudantil, bem como para manutenção das edificações, poderão os moradores organizar festas e albergar convidados, desde que devidamente amparados por um Projeto de Desenvolvimento Institucional previamente aprovado pela Pró-reitoria de Administração, ouvida a REFOP. 3.1. República Castelo dos Nobres A República Castelo dos Nobres tem sua data de fundação ainda encoberta. Considerada a república mais antiga de Ouro Preto, estipula-se que ano de sua fundação seja o de 1919. Tomaram conhecimento desta data através do depoimento de um ex-aluno, hoje falecido, o professor Walter José Von Krüger, que viveu muitos anos e consigo guardou a memória dos anos em que morou na Castelo. Atualmente, sua sede situa-se à Rua Bernardo Vasconcelos, 91, Antonio Dias (Figura 1).
  • 23. 23 Figura 1 República Castelo dos Nobres. Fonte: Acervo República Castelo dos Nobres Quem passa pelo processo de seleção para se tornar morador da Castelo almeja ser um “nobre”, título dado a todos que passam, com sucesso, pelo processo de batalha de vagas nesta república. A Castelo, assim como as demais repúblicas federais de Ouro Preto, é um tipo, um tanto quanto peculiar, de moradia estudantil, que tem como ideal o compartilhar entre todos, que nela convivem, toda a infra-estrutura que a moradia possui, e também, a partilha de coisas pessoais para suprir a necessidade de algum morador menos favorecido, além da manutenção da casa, que é um espaço público e comum a todos que nela moram.
  • 24. 24 No que tange a convivência, a Castelo se caracteriza por unir em seu interior, ao longo dos anos, diversas personalidades, gostos, ideais, pontos de vista e condições econômicas respeitando sempre o morador no coletivo, mas ensinando-o também a respeitar a coletividade que se dá através da união das diferenças que cada um possui, sendo este aprendizado por parte dos moradores, imperativo bom para o funcionamento da Castelo, boa convivência para todos que nela moram e sucesso na graduação. Outra característica é a amizade que se desenvolve entre os moradores, tanto entre os contemporâneos, ou seja, os que ali residem na mesma época, quanto entre estes e os de gerações passadas. Amizade essa que liga a todos, mesmo estando a quilômetros de distância ou há anos sem contato. Essa amizade é reforçada também pelo respeito mútuo entre as gerações, sendo dos “nobres” mais novos para com os mais antigos, já que estes últimos, de algum modo, passaram por situações semelhantes às atuais e carregam consigo a memória da república, e dos mais velhos para com os mais novos por que, com o ânimo novo que deles precede, surgem grande parte das novas boas idéias e soluções que tendem a melhorar a Castelo. A Castelo se caracteriza, também como outras repúblicas, por manter viva a memória dos que um dia viveram nela e se formaram, os chamados ex-alunos. Essa memória tem como signo o “quadrinho” do “nobre”, que é uma foto emoldurada do formando, geralmente vestindo beca, que simboliza o testemunho do período que ele ali viveu. Apesar da conclusão do curso universitário, e partida da casa, o ex-aluno não deixa de ser um nobre, e tampouco é esquecido. Ficam os vínculos que foram construídos ao longo dos anos de convivência, as estórias, benfeitorias e o “quadrinho”, o último como signo principal dessa história. A partir desses vínculos nasce uma rede de contatos onde, dentre outras coisas, acarreta facilidades como boas oportunidades profissionais para novos ingressantes no mercado de trabalho.
  • 25. 25 Enquanto moradores da Castelo, os “nobres” que ali residem, têm o dever de administrá-la em seu cotidiano da melhor forma possível. Existe uma hierarquia entre os moradores, o que facilita a divisão de tarefas. O calouro chega à república como “bixo” para batalhar vaga na mesma. Durante o período de batalha de vagas ele é constantemente observado pelos moradores já intitulados “nobres” que ali residem. Estes moradores têm a obrigação de ensinar ao “bixo” os deveres da casa, como deve ser feita sua organização, as regras de convivência, sua história, seus ideais e como cuidar da sua infra-estrutura. Após passar pelo processo de seleção e receber o título de “nobre”, o então morador, passa a ter mais responsabilidades dentro da administração da república. Em seu calendário de festas, a Castelo destaca o Aniversário da Escola de Minas 12 de outubro, Torneio de Futebol Castelão, Aniversário da República Castelo dos Nobres, Formatura de moradores e o Carnaval, sendo o último evento umas das ocasiões onde acontece a hospedagem de turistas. 3.2. República Consulado Fundada em 1936 por quatro paraibanos: Silvio Vilar Guedes, Paulo Ayres Cavalcante, Edson Vinagre de Azevedo e Nabor Wanderley Nóbrega. Inicialmente chamada de Consulado da Paraíba, logo perdeu seu segundo nome, pois passou a abrigar estudantes de diversos estados brasileiros, e até mesmo estudantes naturais de Ouro Preto. Situada à Rua das Mercês, nº 89, no centro de Ouro Preto (Figura 2), a República Consulado, com 74 anos de existência, possui atualmente 96 ex-alunos (Figura 3), os quais são os pilares da história da República. Mesmo após concluírem a vida acadêmica em Ouro Preto, os “cônsules”, título dado aos que passam com sucesso pelo processo de seleção que possibilita ao aluno da UFOP residir na Consulado
  • 26. 26 durante seu período de graduação, ainda possuem forte vínculo com a república, mantendo contato extenso com os atuais moradores da casa. Anualmente, diversas confraternizações são realizadas pelos moradores, visando reforçar a integração entre todos os “cônsules”. A mais importante é a tradicional festa do 12 de Outubro, data em que a Consulado comemora seu aniversário. Nesta ocasião os ex-alunos retornam a república para conhecer os novos moradores e reencontrar os “cônsules” que por ali já passaram, relembrando as histórias e os momentos marcantes de suas vidas em Ouro Preto. Figura 2 República Consulado. Fonte: Acervo Paulo Henrique Matias
  • 27. 27 Figura 3 Quadrinhos dos Ex-alunos da República Consulado. Fonte: Acervo Michelle Novaes A república funciona de forma institucionalizada. Cada morador possui tarefas determinadas em reuniões periódicas. A legitimidade das mesmas está condicionada à presença de todos os moradores, visto que as discussões e determinações são firmadas em ata no livro da república intitulado “Alcorão” (Figuras 4 e 5). Neste livro está registrada toda a história, as contas, as atas de reuniões e diversos eventos relacionados à república. Atualmente existem onze volumes, sendo o primeiro datado de 1941. Desde esta data, a tradição do “Alcorão” manteve-se viva, deixando registrado para as gerações vindouras as experiências vividas por todos os “cônsules”. Desde década de 40, a sede da república é um casarão histórico do século XVIII, pertencente à UFOP. A partir de então, o imóvel passou por algumas reformas estruturais necessárias a sua manutenção e conservação, as quais em suas totalidades foram custeadas com o dinheiro arrecadado através de doações dos Exalunos e eventos promovidos pelos moradores, por exemplo, o carnaval e a festa do 12 de outubro.
  • 28. 28 Figura 4 Alcorão nº 0. As informações contidas são da década de 40, mas ele foi restaurado no cinqüentenário da Consulado, em 1986. Fonte: Acervo Michelle Novaes Figura 5 Alcorão nº 10. Fonte: Acervo Michelle Novaes. 28 Out. 2010
  • 29. 29 Mês de outubro de 1970 Registro Nêste (sic) Onze de Outubro festivo de 1970 a Consulado teve o prazer e a honra de receber grande número de ex- Cônsules e visitantes ilustres para um churrasco de confraternização, reeditando comemorações do passado. Como não podia deixar de ser, aproveitamos a oportunidade para angariar fundos para a reforma do telhado, que é goteira só, e pintura da Vetusta Consulado.(“Alcorão” nº.IV, p.70. out. 1970.) 3.3. República Bangalô A República Bangalô foi fundada em 26 de abril de 1976 e sua sede situa-se à Rua das Mercês, nº 247, no centro de Ouro Preto (Figura 6). Figura 6 República Bangalô. Fonte: Acervo República Bangalô A república abriga, preferencialmente, graduandos dos cursos de Engenharia da Escola de Minas.
  • 30. 30 Em meados do primeiro semestre de 1976, em 26 de abril, uma segunda-feira, jovens estudantes da Escola de Minas de Ouro Preto, vindos da cidade de São Sebastião do Paraíso MG, tiveram a honra de fundar uma nova república em Ouro Preto, situada à Rua das Mercês, 247. Vieram eles em grupo de nove pessoas, pois já moravam juntos, nos fundos de uma casa, em quartos alugados, no então “Beco dos Bois”. Era uma época em que faltavam casas e sobravam estudantes. Ao saberem da intenção da Reitoria em adquirir algumas casas, começaram a “batalhar”, de todas as formas, a obtenção de uma delas, conseguindo após algum tempo, realizar aquele grande sonho de morar em uma república da Escola de Minas, vindo a residir nesta casa que a princípio era destinada à professores. Nascia, assim, a nossa querida República Bangalô, dando início a uma grande família. Começou, a partir desta data, toda uma história de convivência, de alegrias e tristezas, de festas e estudos, que se desenrola até hoje. Gerações posteriores de estudantes percorreram esta mesma trilha e souberam manter viva esta chama, não a deixando apagar através dos anos, conservando e melhorando não só as instalações físicas (e como melhoraram) mas, principalmente, preservando vivo o “espírito bangaloense”, depois de mais de duas décadas, sempre fiel àquelas raízes. Pessoas que chegaram aqui de uma forma e foram embora, anos depois, de outra, levando consigo um tipo de aprendizado que vai muito além daquele que se adquiri nos livros: o de tomar as rédeas da própria vida para reinventá-la a cada novo dia. Os pés fincados no chão da esperança e o olhar, alegre, determinado, em direção ao horizonte. Tudo isso possível pela convivência diária de uns com os outros. Um aprendizado recíproco. Coisas que só Ouro Preto pode ensinar: a solidariedade, o companheirismo até nas farras, o respeito à opinião do outro, o acolhimento, a compreensão, e muitas vezes, o abraço fraterno e silencioso. A alegria e a fé na vida, características marcantes do “espírito bangaloense”, vividas e facilmente identificadas desde os primeiros até os moradores atuais. Características lembradas, ainda, a momentos mágicos, onde se partilham sonhos, dores e encantos, em diversas ocasiões, principalmente na festa do 12. (LENZI, Aldo Estevan “ Gogó”, ex-aluno da República Bangalô. Acervo REFOP. 2008). A Bangalô, assim como as duas repúblicas citadas anteriormente, faz parte da REFOP e segue, além do seu próprio regimento interno, o estatuto de tal associação.
  • 31. 31 A República Bangalô está inserida no tradicional contexto das repúblicas de Ouro Preto utilizando-se de formas de administração e seleção de novos moradores semelhantes as já citadas anteriormente. O calouro de engenharia que chega à república passa por um processo de seleção onde ele aprende a manter o funcionamento da casa e tem que se mostrar sociável, tanto para com os colegas de moradia quanto para outras pessoas que fazem parte da rede de convívio social da república. Ao terminarem a graduação, os agora ex-alunos da Bangalô “inauguram seu quadrinho” (Figura 7), símbolo da sua contribuição para a história da república e do vínculo ali formado. Figura 7 Quadrinhos dos ex-alunos da República Bangalô. Fonte: Acervo Michelle Novaes Apesar de aniversariar no mês de abril, a Bangalô comemora seu aniversário junto ao da Escola de Minas, na festa do 12 de outubro, onde atuais moradores, ex-alunos e amigos se encontram na sede da república para comemorar estas duas datas.
  • 32. 32 A Bangalô, assim como outras repúblicas, costuma receber e abrigar turistas que, por algum motivo, venham para Ouro Preto. Vindas de outras cidades, estados e até mesmo de outros países, muitas pessoas já se hospedaram nesta república. Em geral o público é jovem, estudantes de várias partes do país que buscam uma hospedagem mais barata, além de um intercâmbio cultural e cultivar novas amizades. 3.4. República Casanova A República Casanova foi fundada no dia 21 de abril de 1973 e situa-se à Praça Barão do Rio Branco, 46, Pilar. (Figura 8). Figura 8 República Casanova. Fonte: Acervo Allyson Assis
  • 33. 33 O sistema de auto-gestão foi fundamental para a manutenção e conservação da república. O mesmo deu legitimidade aos atos dos moradores de cada época para que, da melhor maneira possível, administrasse-se o imóvel. Pintura, obras diversas e melhoramentos úteis são apenas alguns dos esforços que os moradores fizeram ao longo dos anos e valorizaram ainda mais o casarão onde está a sede da república Casanova. O comprometimento de todos, em razão do melhor aproveitamento do imóvel, torna a república um lugar agradável para viver. Os alunos da UFOP que ali residem durante a graduação, vindos de diversos lugares do país, puderam e podem estudar com tranqüilidade e determinação tornando-se profissionais qualificados e de sucesso reconhecido pelo trabalho realizado. O funcionamento da república é baseado na hierarquia, onde o morador que mais tempo reside na casa (decano) direciona as ações que devem ser realizadas pelos outros, a fim de ensinar os direitos e deveres de cada um dentro da república. Essa organização hierárquica acontece sem desrespeitar o direito e a dignidade do próximo. Reuniões semanais com a presença de todos os moradores são feitas para discutir e determinar os rumos que a república tomará, como por exemplo, a possível “escolha” de um novo morador. Ao ser “escolhido”, o até então “bixo”, recebe o título de “mais novo Casanova”. A partir daí, ele vai acarretando mais responsabilidades com o funcionamento da casa até que conclua sua graduação. O grau máximo de hierarquia da casa, enquanto aluno da graduação, chama-se decanato. Após a formatura, ocasião onde acontece a inauguração de quadrinho, cerimônia que ocorre em todas as tradicionais repúblicas de Ouro Preto, o até então “morador” passa a ser ex-aluno. Durante todo o ano, a república hospeda estudantes e turistas que visitam a cidade. Esta ação gera fundos para manter a casa. Além disso, a Casanova é uma das repúblicas organizadoras do Bloco da Praia (Figura 9), um dos principais atrativos do carnaval de Ouro Preto, que é outra fonte de renda para a república. Segundo os “Casanovas”, diante do fato que a UFOP não repassa nenhum tipo de verba para auxiliar na conservação da casa, que é um prédio tombado e por isso o custo da manutenção do mesmo é bastante elevado, é essencial que as repúblicas busquem
  • 34. 34 recursos de formas variadas para que seja possível manter o imóvel conservado e em condições adequadas para funcionar como moradia estudantil. Desde sua fundação, a sede da república passou por várias reformas, todas com o mesmo intuito: conservação do imóvel, melhoria da infra-estrutura e conforto para os atuais e futuros moradores. Essas benfeitorias ficam na república, passando de geração para geração, mantendo o “espírito republicano” e o bom ambiente para que sejam desfrutados pelos novos moradores fazendo com que a tradição seja mantida. Figura 9 Bloco da Praia no carnaval de 2008. Fonte: Acervo República Casanova Depoimentos de ex-alunos da república Casanova deixam explícito que o sistema organizacional adotado foi de extrema importância para sua formação profissional e pessoal. Nestes depoimentos, eles também alegam que sem ajuda financeira
  • 35. 35 proveniente de doações de ex-alunos e a arrecadação de fundos através de festas como o carnaval seria impossível levar a república adiante. 3.5. República Aquarius Uma data aproximada de fundação propriamente dita da Aquarius é 20 de agosto de 1969, quando vários estudantes passaram a morar na casa ainda em reformas pela Universidade. A Aquarius localiza-se à Rua Paraná, nº 26, Centro (Figura 10). Figura 10 República Aquarius. Fonte: Acervo República Aquarius Segundo moradores da república Aquarius, as diversas gerações de aquarianos construíram e reconstruíram suas ações e identidades ao longo do tempo. Isso foi
  • 36. 36 possibilitado pela interação dos moradores com seus colegas, ex-alunos e demais participantes no propício espaço da República, pois é ali que cotidianamente se extrai lições e exemplos a partir do aprendizado de superação individual e coletiva. A estrutura da administração da república surgiu como reflexos dos princípios que levaram ao seu surgimento. Assim como as já citadas, esta república possui um sistema de hierarquia entre seus moradores. A república é regida por um estatuto constituído e aprovado em reunião por todos os moradores tendo como base o estatuto das repúblicas federais estabelecido pela Universidade Federal de Ouro Preto. Este estatuto é tomado como paradigma para as ações dos moradores de república em relação a diversos casos, tais como: a admissão de um novo morador, expulsão de um morador e resolução de conflitos de relacionamento. A caixinha e a presidência são uns dos cargos instituídos na república. Enquanto cabe à segunda tratar dos recursos destinados aos gastos comuns à todos os moradores da república, a primeira é responsável por gerenciar os recursos destinados a manutenção da estrutura física da república. Por estrutura física entende-se tanto o prédio da república em si, como também os móveis, computadores e eletrodomésticos. Os recursos da caixinha são obtidos, sobretudo, através de eventos promovidos pela república e também por excursões de estudantes de todo o país que se alojam na mesma. A importância da caixinha está em possibilitar, primeiramente, a manutenção de um prédio federal cujo custo de manutenção é demasiado elevado, especialmente por se tratar de um prédio histórico que deve ser adequado às diretrizes do IPHAN. Secundariamente, ostenta a função de possibilitar um ambiente saudável e em condições de atender as necessidades dos jovens provenientes de todo o país que estudam na Universidade Federal de Ouro Preto.
  • 37. 37 3.6. República Sinagoga A República Sinagoga inicialmente era localizada em uma casa no bairro Antonio Dias. Em 1949 os moradores da Sinagoga inscreveram-se em um sorteio pelo qual vieram a ganhar a casa na Rua das Mercês, 150, Centro (Figura 11), onde atualmente se encontra. Figura 11 República Sinagoga. Fonte: Acervo Ricardo Fonseca Por se tratar de uma casa dotada de grande espaço e infra-estrutura, os moradores da Sinagoga atenderam ao pedido dos moradores da então existente república Favela para que os mesmos viessem a morar também na Sinagoga, unindo-se então as duas repúblicas. Nesta data, a casa foi comprada por uma instituição filantrópica de ajuda e amparo aos estudantes, assim como várias outras repúblicas tradicionais de Ouro Preto, garantindo moradia gratuita aos estudantes.
  • 38. 38 Até 1995, a Sinagoga destinava-se exclusivamente aos estudantes de Engenharia, mas com a criação de novos cursos da UFOP e a necessidade de moradia desta parcela de estudantes de outros cursos, a república passou a aceitar também alunos que não estudavam na Escola de Minas, mas com a condição de se manter a maioria de moradores estudantes de engenharia, para não se perder uma tradição de vários anos. Desde sua fundação, existe uma tradição em que os moradores quando terminam a graduação, inauguram no dia da formatura o seu quadrinho na parede da Sinagoga (Figura 12), entrando para a galeria dos ilustres ex-alunos, onde já somam atualmente mais de 100 quadrinhos, tradição esta que incentiva o ex-aluno a estar sempre em contato com a república. A manutenção da casa é feita pelos próprios moradores através de arrecadações mediante doações de amigos e ex-alunos. Figura 12 Quadrinhos dos ex alunos da República Sinagoga. Fonte: Acervo Michelle Novaes
  • 39. 39 A república possui infra-estrutura de estudo e diversão: trata-se de um casarão histórico de dois andares dotado de nove quartos, uma ampla sala onde se realiza as tradicionais “curriolas” (evento de confraternização entre moradores, ex-alunos e amigos) de inauguração de quadrinho e “comissões de rango” onde todos os domingos, 2 moradores, com o auxilio dos “bixos” se encarregam de preparar um jantar para todos os moradores, bixos e convidados. Conta ainda com uma sala com computadores com aceso a internet e impressora, uma ampla área externa com churrasqueira e local para se jogar basquete, garagem e uma boate para festas de fins de semana. Para tornar-se morador da Sinagoga e ganhar o título de “Sinagogano”, o “bixo” passa por um período de batalha de vaga. Este que ocorre tradicionalmente desde a fundação da república, e trata-se de um processo de adaptação do “bixo”, que no fim, se adaptado, é escolhido por unanimidade dos moradores para se tornar um morador “Sinagogano”. 3.7. República Maternidade A república particular Maternidade, foi fundada em 04 de maio de 1975, com localização na Rua dos Paulistas, 136 - Bairro Antônio Dias, Ouro Preto - MG, tendo como fundadores: Adão Vieira de Faria, Flávio Stort, José Antônio Diniz Faria, Mário Ricardo Soares, Luís Humberto F. Matos. Estes ilustres fundadores foram todos alunos dos cursos de engenharia da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). No entanto devido ao crescimento da Universidade, alunos de outras áreas também se ingressaram na República Maternidade, que procurou buscar um equilíbrio entre os vários cursos da UFOP, valorizando-se assim o indivíduo independente do curso. No seu início, a República Maternidade ficou, por mais de dez anos, localizada no mesmo endereço de sua fundação, tendo fixado seu número máximo de moradores em onze alunos durante esse período. Naquela época, muitas dificuldades foram encontradas diante dos problemas econômicos e estruturais enfrentados pelos estudantes republicanos, principalmente os particulares, problemas tais, como: escassez de moradias, alto preço dos aluguéis, renovação de contratos de aluguel,
  • 40. 40 ameaça de venda de casa, evasão estudantil e principalmente, porque no final da década de 70 e início da década de 80 o país atravessava grande crise econômica. O “Projeto Inovador” foi elaborado pelos Bebês (título dado aos moradores da Maternidade) em 1985, com a finalidade de angariar fundos para aquisição de uma casa que seria doada à Universidade Federal de Ouro Preto. Este projeto foi apresentado ao então Reitor, Fernando Antônio Borges Campos, na data de 05 de setembro de 1985, apesar da viabilidade oferecida pela Lei Sarney, o projeto não teve prosseguimento na política que dirigia a Universidade. Diante do descaso da administração universitária, outras formas de aquisição foram tentadas e diante dos problemas acima arrolados, a República abriu suas portas para moradia feminina, deixando desta forma de ser apenas masculina para ser mista. No entanto, os problemas se agravaram, o número de mulheres passou a ser superior ao número de homens, e os conflitos internos aumentaram. No início dos anos 90, a Comissão de Moradia da UFOP ofereceu uma casa para moradia feminina no lugar onde hoje é conhecido como "repúblicas do brejo". Com isso, a maioria da ala feminina da República articulou um movimento com a intenção de torná-la exclusivamente feminina. Neste momento, os moradores homens e a moradora Ludmila, não aceitaram essa situação e resolveram fechar a República até que a Comissão oferecesse uma moradia mista, sendo seu bens guardados no almoxarifado da UFOP. A Maternidade continuou liderando as várias listas de espera por casas cedidas pela UFOP, mas a política sempre atrapalhava os planos dos “Bebês”. Novamente na década de 90, a Maternidade estava para receber uma casa, no mesmo local, mas o presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da época, alterou a lista de preferência e colocou morando na casa pessoas do seu interesse. A república permaneceu fechada durante um (1) ano (93/94), quando então a, hoje ex-aluna, Ludmila, juntamente com o também ex-aluno Pedro Henrique Neto (GatoFélix), resolveram reabrir a república e resgatar novamente os bens que estavam no
  • 41. 41 almoxarifado. Muitos dos móveis foram roubados e vários quadrinhos de ex-alunos foram danificados, mas a República Maternidade ressurgiu mais forte, naquela ocasião decidiu-se que a República nunca mais voltaria a ser mista, sendo Ludmila a última ex-aluna a se formar pela casa. A partir de então, diferentemente do que ocorrera no início, várias foram as localizações da República: Água Limpa, Antônio Dias (Figura 13), novamente Água Limpa, Rua Direita (Figura 14) e atualmente na Xavier da Veiga, nº 501 AB, Centro (Figura 15). Figura 13 República Maternidade, na Rua dos Paulistas. Fonte: Acervo República Maternidade Da mesma forma que vários foram os endereços, várias amizades foram conquistadas ao longo destes anos e esta tem sido a característica principal desta nova geração de bebês. Valoriza-se nesta casa os amigos, o indivíduo como estudante universitário, independente do curso ou do grupo de república que
  • 42. 42 pertence, os amigos turistas que freqüentam esta casa todos os anos, os amigos “nativos”. Valoriza-se as festas, as "lamas", sendo os principais “rock in Roll's” realizados nas seguintes ocasiões: carnaval, 21 de abril, 04 de maio (aniversário), Festival de Inverno, Festa do 12 e Ceia de Natal. Figura 14 República Maternidade na Rua Direita. Fonte: Acervo República Maternidade A república, estruturalmente, sempre foi organizada de forma hierárquica, sendo que os “bixos” devem passar por um processo de "escolha". As despesas do mês são chamadas de "presidência" e controladas pelo presidente, sempre morador. O dinheiro da república é controlado pelo "tesoureiro" e recebe o nome de "caixinha", as decisões são tomadas pelos moradores em "reuniões" e os ex-alunos são estudantes da UFOP que concluíram a graduação enquanto moravam na república.
  • 43. 43 Figura 15 República Maternidade no atual endereço, Rua Xavier da Veiga. Fonte: Acervo República Maternidade Com seu passado de luta sempre recompensado pelos muitos momentos de alegria que ela proporcionou aos que por lá passaram, a Maternidade é motivo orgulho para todos os “Bebês”. É por isso que a República Maternidade está cada vez mais fortalecida pela união entre os atuais moradores e os ex-alunos o que a torna, de forma definitiva, eterna em suas vidas. 3.8. República Volkana A República Volkana, particular, única de cunho feminino desta amostra, abriga somente alunas da UFOP e surgiu em meados de outubro de 1992 quando algumas moradoras da república Doce Veneno, por conta de um desentendimento, decidiram sair da antiga república e montar uma nova casa no bairro Antonio Dias.
  • 44. 44 A data oficial de fundação da Volkana é 01 de maio de 1993, data em que a república mudou sua sede para um novo endereço, desta vez no bairro Água Limpa, onde permaneceu durante 10 anos. Foi também nesta ocasião que surgiu o nome Volkana. Este é o nome de uma flor que nasce em detritos, e para as fundadoras, que são: Lilian P. Soares Galdino, Lilia Maria de Oliveira, Luciane Bresciani, Mônica Ribeiro Serra e Fernanda Gama, representava a esperança diante das dificuldades. O sistema de admissão de novas moradoras que funciona atualmente não difere muito do que era utilizado nos tempos de sua fundação, mas na época, considerando o fato de existirem poucas repúblicas femininas, existia um processo de seleção para escolher as calouras que começariam a batalha de vagas. Os critérios utilizados nessa ocasião eram principalmente a cidade de onde a caloura estava vindo e o curso que ela fazia, uma vez que, a maioria das moradoras, até aquele momento, eram capixabas e estudantes de nutrição, as Volkanas tentavam diversificar estas duas condições para que existisse uma maior diversidade cultural entre as moradoras. Mas isto não era regra. Muitas foram as alunas naturais do estado do Espírito Santo e nutricionistas que vieram a inaugurar seus quadrinhos. Hoje, para estar apta a batalhar vaga na Volkana a estudante tem que estar matriculada na UFOP e cursando até o 4º período de algum curso de graduação desta Universidade. Depois de feita esta seleção começava a batalha de vagas, existente até hoje. A “bixo”4 deveria ser atenta às necessidades da casa, ter uma boa relação com as moradoras e receber bem os convidados para que pudesse ser “escolhida” ao fim do período letivo da universidade. Havia uma cerimônia para oficializar a escolha da “bixo”, e esta passava a utilizar uma placa que continha o seu nome e o nome da República, para que a nova moradora pudesse ser identificada por todos. O sistema de hierarquia da casa existe desde a fundação. Temos a decana (moradora mais antiga da casa), que é o elo entre moradoras e ex-alunas. (vice4 Como é chamada a aluna que está passando pelo processo de seleção.
  • 45. 45 decana, quem tem o segundo maior tempo de casa, assume o decanato quando a decana está ausente, e é sempre seu braço direito), moradoras no meio da hierarquia (com funções definidas em reuniões mensais), semi-bixo (útima escolhida, principal encarregada de ensinar às “bixos” as tarefas e a ideologia da casa) e a “bixo”, como dito anteriormente, aluna que está passando pelo processo de seleção. A hierarquia também está presente na escolha dos quartos, móveis, ordem para colocar os nomes em convites de festas da Volkana e etc. As reuniões mensais são indispensáveis. É nelas que todas fazem um aparato geral dos acontecimentos da casa, corrigem os erros e planejam o futuro. A reunião começa somente com as moradoras e no final as “bixos” participam recebendo uma avaliação e podendo dar opiniões.A república tem um estatuto que é lido para as “bixos” já na primeira reunião e deve ser seguido por todas, sempre. No carnaval de 93, a então moradora, Luciane Bresciani se disponibilizou a receber, sozinha, um grupo de turistas durante este período de festividades. Com os fundos arrecadados durante o evento, a república comprou seu primeiro fogão. De lá pra cá, as hospedagens em eventos como o carnaval, Festa do 12, eventos científicos e etc. foram de muita valia para que a república conquistasse o patrimônio existente hoje. Uma caloura que chega a Volkana nos dias atuais não precisa comprar absolutamente nada para morar na casa, que já está totalmente mobiliada e dispõe de aparelhos como máquina de lavar, computadores, equipamentos de som, TV, DVD, além de camas, guarda-roupas, cozinha, copa e sala completas, e etc. Somente após a “escolha” é que a moradora deve pagar uma “jóia”5. Esse dinheiro vai para a conta da república e é utilizado para manutenção da casa e compra de móveis e utensílios. No ano fim dos anos 90, a Volkana fazia parte de uma associação de repúblicas particulares que estavam lutando pra conseguir uma casa pertencente à 5 Quantia referente a 1 salário mínimo que deve ser paga em até seis meses, a partir da data da escolha.
  • 46. 46 Universidade. O critério para definir a ordem na fila para ocupar uma casa era assiduidade nas reuniões. O DCE e um representante da reitoria acompanhavam as reuniões desta associação. Quando finalmente chegou a vez da República Volkana, cogitou-se a hipótese da republica ocupar a casa 87E da Rua Diogo de Vasconcelos, onde atualmente funciona a Pró Reitoria de Extensão da UFOP, mas a casa não foi cedida. A Volkana recebeu o direito de ocupar uma casa no bairro Antonio Dias, ao lado da República Poleiro dos Anjos, mas como a casa estava em ruínas, e por isso não tinha condições de ser habitada, as moradoras decidiram esperar um pouco mais. Com uma nova eleição para a Reitoria e também para o DCE o processo de ocupação das casas acabou e a Associação teve fim. Algumas repúblicas que faziam parte da associação, e ficaram amigas durante esta trajetória, decidiram começar a organizar uma festa para continuar estreitando os laços entre elas. Assim nascia o Beer Fest Ouro Preto (Figura 16), que teve sua primeira edição no ano de 2000 e foi organizado pelas repúblicas: Alforria, Belladona (que só participou da primeira edição), Calamidade Pública, Chaparral, Kome Keto, Masmorra, Partenon, Santuário, Tôa-Tôa e Volkana. A festa cresceu muito de lá pra cá, e já teve 11 edições. O Beer Fest é uma cervejada que acontece anualmente e atinge um público de 1500 pessoas, em geral, estudantes de Ouro Preto, Mariana e região. A Volkana participou ativamente como responsável pela tesouraria desta festa até sua 10ª edição, quando deixou de fazer parte da organização. No ano de 2003 a Volkana mudou de endereço novamente. Problema constantemente vivido pelas repúblicas que pagam aluguel e ficam a mercê das necessidades dos proprietários da casa onde se situa sua sede. Desta vez o bairro escolhido foi a Barra, na Rua Argemiro Sana (Conhecida rua do Funil), onde permaneceu 2 anos. A casa foi solicitada pelo dono em janeiro de 2005 e a mudança para a Travessa Odorico Neves, no Rosário, foi feita as pressas após o carnaval do corrente ano.
  • 47. 47 Foi nesta época que a casa começou a “batizar” suas moradoras com os apelidos, hábito que já fazia parte do contexto de inúmeras repúblicas de Ouro Preto. A casa do Rosário não atendia as necessidades da república, tendo por isso sido sede da Volkana por apenas pouco mais de um ano. Em maio de 2006 a Volkana partiu para seu novo endereço. Desta vez na Avenida Vitorino Dias, 113 (Figura 17), em frente à República Adega. Figura 16 X Beer Fest Ouro Preto. Fonte:<http:// http://www.orkut.com.br/Main#AlbumList?uid=14062933367733565158> Acesso em 14 nov. 2010 Lá permaneceu por 3 anos. Ao fim deste período a casa, mais uma vez, foi solicitada pela proprietária, o que resultou na mudança da sede para o endereço atual à Rua das Mercês, 122 A (Figura 18), na conhecida Vila dos Tigres, localização que abriga um total de 15 repúblicas, sendo 10 federais e 5 particulares. Hoje, a Volkana tem 17 anos e está estabilizada, com 9 moradoras e 21 ex-alunas.
  • 48. 48 Acontecem encontros com as ex-alunas todos os semestres. No aniversário da república em maio, normalmente comemorado em algum feriado prolongado do mês de maio ou junho, e durante a Festa do 12. O aniversário é comemorado entre as moradoras, ex-alunas, repúblicas amigas e demais convidados, já o 12 é comemorado somente entre moradoras, ex-alunas e amigos homenageados. Figura 17 República Volkana, na Avenida Vitorino Dias. Fonte: Acervo República Volkana
  • 49. 49 Figura 18 República Volkana no atual endereço, Rua das Mercês. Fonte: Acervo República Volkana A especulação imobiliária significativa existente em Ouro Preto aumenta os valores dos aluguéis. Isso fez com que a República Volkana, que começou abrigando 6 moradoras, atualmente abrigue 13. Esta é a única forma das despesas serem acessíveis a todas. Assim como as demais repúblicas da amostra, a Volkana recebe turistas ao longo do ano, monta uma estrutura específica para receber calouras e ex-alunas, e tem criado fortes laços de amizades com pessoas vindas de diferentes lugares.
  • 50. 50 4. HOSPITALIDADE NAS REPÚBLICAS 4.1. Hospitalidade dos republicanos para com os calouros recém chegados Para manter a tradição das repúblicas existente em Ouro Preto há mais de 70 anos, fez-se necessário aos alunos da Universidade Federal de Ouro Preto montar um esquema organizacional de recepção ao calouro não só na Universidade, mas também nas repúblicas. A UFOP oferece processos de seleção duas vezes ao ano por meio de vestibular, e os alunos ingressantes nesta universidade começam a receber a hospitalidade dos republicanos de Ouro Preto muito antes de comparecerem à Universidade para o ato da matrícula no curso de graduação no qual foram aprovados. Sites de relacionamentos, como o Orkut®, mostram-se importantes como um dos primeiros contatos dos calouros com os veteranos no início do processo não só de vida acadêmica, como também de vida republicana. Moradores das mais de 300 repúblicas existentes em Ouro Preto, tanto federais quanto particulares, fazem contato com os novatos através de perfis pessoais e das repúblicas inseridos na rede e através também de comunidades on line como a da UFOP. Através destes meios é possível para o calouro sentir a receptividade dos republicanos que respondem questões referentes ao curso, a cidade e as repúblicas e oferecem soluções referentes à moradia àqueles que necessitam mudar seu endereço para Ouro Preto, local onde cursarão sua graduação. Anúncios de vagas em repúblicas são muito comuns. Os veteranos oferecem ao calouro a oportunidade de hospedar-se com sua família, em suas respectivas repúblicas, sem compromisso, para que o novato possa conhecer as dependências
  • 51. 51 da casa e um pouco da rotina republicana, ações colaboradoras ao ato de escolher sua nova moradia. No ato da matrícula, realizada na Pró Reitoria de Graduação (PROGRAD) / UFOP, os moradores das diversas repúblicas de Ouro Preto montam stands que contém as informações sobre a casa, fotos do local de moradia, folhetos explicativos, moradores à disposição para responder questões sobre as contas referentes a manutenção da casa e demais informações necessárias para o ingresso na república, e também para acompanhar o calouro e sua família até a república a fim de fazer as devidas apresentações. Segundo LASHLEY & MORISSON (2004), os alimentos e bebidas, em particular, desempenham um papel importante na definição da identidade de grupos, comunidades e sociedades, bem como na definição do relacionamento entre os indivíduos e o contexto social mais amplo. Nos dias em que acontece a matrícula, os republicanos oferecem elaborados almoços e cafés para melhor recepcionar os calouros e quem os estejam acompanhando. É neste clima familiar que o novato conhece aquela que pode vir a ser sua nova casa. As repúblicas tradicionais de Ouro Preto, como já citado anteriormente, já possuem toda uma infra-estrutura suficiente para receber o calouro com conforto e atender grande parte de suas necessidades acadêmicas. Ouro Preto torna-se então um local onde começar uma nova vida, longe dos familiares e antigos amigos, não é tão difícil, devido ao apoio e receptividade dos veteranos. O cuidado, o acolhimento por parte dos veteranos e a partilha de materiais e sonhos já existentes nas casas e em sua tradição, são atitudes hospitaleiras que facilitam ingressar essa nova fase.
  • 52. 52 Nunca como em Ouro Preto me senti tão bem vindo e cercado por pessoas tão maravilhosas, pena eu ser tão jovem e ter aproveitado menos do que eu devia, como é natural aos mais jovens, das coisas mais importantes. Uma coisa posso dizer, só sou o que sou porque cresci em Ouro Preto, mais do que isso, na Castelo dos Nobres. (RODRIGUES, Thiago de Souza Bittencourt. “Pangéia”, ex-aluno da República Castelo dos Nobres. 2008. Entrevista concedida a REFOP). Eu não tinha noção de como seria morar em Ouro Preto. Em Suzano, minha cidade natal, poucas pessoas conheciam a UFOP. Quem me deu a notícia de que eu havia passado no vestibular para Engenharia Ambiental na UFOP foi a Tsé, ela viu meu nome na lista dos aprovados e me localizou no Orkut® para dar a notícia e me oferecer um local para morar. Combinamos de nos encontrar no dia da minha matrícula. Ela me buscou no campus, deu umas voltas comigo na cidade, me mostrou sua república, me contou em detalhes de como a casa funcionava e etc. Isso me tranqüilizou pois senti que Ouro Preto seria um lugar fácil de chegar, conhecer pessoas e etc. Não quis ficar na república naquela época, pois não gostei da casa. Mas a atenção que ela me deu naquele primeiro momento foram cruciais para eu procurar esta mesma república mais tarde, assim que elas mudaram de endereço. Hoje sou exaluna da Volkana e penso que essa recepção na época da matrícula fez diferença na minha história atual. Se inaugurei meu quadrinho nesta república foi porque a princípio aquela atitude despertou meu interesse, o que me motivou a ir pra lá e fez com que eu vivesse uma série de outras coisas até a formatura. (NISHIYAMAMOTO, Evelize Lago – “Izzy” , ex-aluna da República Volkana. Ouro Preto, 10 nov. 2010 Entrevista concedida a Michelle Novaes.) 4.2. Hospitalidade dos republicanos para com os ex-alunos Pode-se chamar de ex-alunos de uma determinada república de Ouro Preto todos aqueles que residiram na mesma durante sua graduação na Universidade Federal de Ouro Preto e que, ao concluírem o curso, inauguraram um “quadrinho”, este que passa a ser sua representação na casa a partir daquele momento.
  • 53. 53 Embora não residam mais em Ouro Preto e não mais compartilhem das despesas da casa e quitação das mesmas, os ex-alunos das tradicionais repúblicas de Ouro Preto, quando retornam as suas antigas moradias, ainda se sentem em casa. Eu tenho mais de dez anos de formado, mas toda vez que me refiro a Maternidade eu digo: minha casa! Minha mãe fica chateada comigo quando me escuta dizer isso, eu procuro até evitar falar da república com ela por isso, porque ela diz que a minha casa é a casa dela, a casa dos meus pais. Mas não, o lugar onde me sinto em casa é aqui, em Ouro Preto, na Maternidade. Não importa que mude o endereço, que seja outra construção, mas a ideologia é a mesma. É aqui que reencontro meus irmãos, é aqui que conheço meus novos irmãos, e faço questão de conhecê-los. Fico muito feliz de estar aqui hoje, fazendo esta homenagem ao DJEI-DJEI pelos seus dez anos de formado, de reencontrar os antigos amigos e de sentir que a essência da casa onde eu morei é a mesma, de sentir o carinho com que os atuais moradores e “bixos” me recebem. As pessoas que estão nesta sala, mas não passaram pela experiência de morar em uma república de Ouro Preto podem não estar entendendo o que quero dizer, ou achar que estou exagerando, mas umas das coisas que mais me orgulho em minha vida é de ter meu quadrinho nesta parede. A emoção de estar vivendo este momento hoje é muito forte! Ouro Preto... República... é assim: só quem viveu sabe. Espero estar aqui para fazer as homenagens de 15, 20, 30, 50 anos do DJEI-DJEI e de comemorar ainda muitos aniversários da fundação da nossa eterna Maternidade. És mãe de todos nós e teus filhos são como irmãos eternos. Quando o sol brilhar em outro lugar estaremos bem por ter nos ensinado a viver. O vento trará o silêncio, a noite fria a saudade. O coração apertado estará agradecendo a ti, inesquecível Maternidade. (Discurso do ex-aluno da República Maternidade Warley de Araújo Mol – Xullé, durante as homenagens realizadas na festa do 12 de outubro de 2010). Segundo DENCKER (2004), o comportamento genuinamente hospitaleiro requer um motivo adequado. Mas para alguém ser considerado uma pessoa hospitaleira, isso depende não só do seu motivo, mas também de quão freqüentemente ocorre o comportamento hospitaleiro. Uma pessoa hospitaleira é alguém que proporciona hospitalidade com freqüência, atenciosamente e com motivos apropriados relativos à hospitalidade. Há um grupo de motivos que envolvem as seguintes condições: a consideração pelo outro, incluindo o desejo de agradar terceiros, proveniente da
  • 54. 54 amizade e da benevolência por todos ou afeição por certas pessoas; a preocupação ou compaixão; isto é, o desejo de satisfazer a necessidade dos outros. O cuidado que o republicano tem ao preparar a casa para receber os ex-alunos e mantê-lo satisfeito durante o tempo que ele permanecerá na república é extremamente significativo. As reformas, por exemplo, são realizadas por razão de necessidade, mas as datas escolhidas para fazê-las são sempre às vésperas de ocasiões de recepção de ex-alunos, como a Festa do 12 ou aniversário da república, salvo as que são realizadas em caráter de emergência. A República e Ouro Preto foram as coisas mais marcantes da minha vida, é conceito só nosso único e exclusivo, só pode viver isto quem participou, ela extrapola o conceito de vida estudantil, as Repúblicas de Ouro Preto foram determinantes na abertura de repúblicas neste Brasil afora, mas as repúblicas de Ouro Preto são e devem continuar sendo perpétuas, pois é através de minha República que eu continuo voltando à Ouro Preto para rever novos republicanos, novos familiares, e faço questão de ficar nela, pois nela eu tenho tratamento melhor que muitos hotéis poderiam fazer. Nela eu sou um rei e sou um súdito, sou um pai e sou um filho, em minhas veias corre um pouco dela, se ela extinguir, com certeza morrerei com ela. (ABDALA, Robertson de Souza “Gordo”, ex-aluno da República Casanova. Ouro Preto. 2008. Entrevista concedida a REFOP). Percebe-se, com clareza, no trecho da entrevista citado acima que Robertson julga os moradores da República Casanova hospitaleiros, e este é um dos fortes motivos que o faz retornar a Ouro Preto e fazer questão de ficar hospedado lá, assim como Warley Mol ao dizer que se sente em casa, e que a emoção ao receber o carinho dos moradores e “bixos” é muito forte, deixa evidente a hospitalidade dos moradores para com os ex-alunos de suas respectivas repúblicas. 4.3. Hospitalidade dos republicanos para com os visitantes amigos
  • 55. 55 A realização de festas nas repúblicas de Ouro Preto é algo freqüente. Em todas as semanas do semestre letivo é possível prestigiar algum “rock” (como são conhecidas as festas de estudantes de Ouro Preto). Nestes “rocks”, é comum ver os anfitriões, preocupados em dar atenção aos convidados, encher copos vazios, colocar músicas que agradem a maioria e etc. Receber convidados e tratá-los bem é uma característica marcante das repúblicas tradicionais de Ouro Preto. Segundo DENCKER (2004), pode-se dizer que o bom hospedeiro é aquele que cumpre com todas as tarefas: enche novamente copos vazios, certifica-se de que está sendo oferecida uma segunda ajuda aos hóspedes e etc. Mas tal lista não é capaz de descrever a essência do bom hospedeiro, já que aplica somente às convenções de uma determinada época e lugar. Se proporcionar hospitalidade aos hóspedes for tornar-se responsável por sua felicidade enquanto eles estiverem debaixo do seu teto, um bom hospedeiro será aquele que deixa seus hóspedes felizes enquanto estiverem sob sua atenção. Além dos convidados que também residem em Ouro Preto, as repúblicas recebem, freqüentemente, parentes e amigos de moradores “republicanos”, que mediante a boa recepção passam a ser amigos da república como um todo, em curto espaço de tempo. Eu sempre quis estudar na UFOP. Fiz vestibular seriado para Nutrição na UFOP a partir do ano 2000. Em janeiro de 2002 fui para Ouro Preto fazer a última prova do vestibular seriado com mais duas amigas. Uns amigos de Carangola, cidade onde eu morava naquela época, que já estudavam em Ouro Preto nos chamaram para ficar hospedadas na casa deles, a República Chaparral. Era pra termos ficado lá apenas os dois dias de prova, mas a recepção, inclusive dos moradores que não conhecíamos anteriormente, foi tão boa que acabamos ficando mais tempo. Eles nos mostraram a cidade, nos levaram ao local de prova e nos davam atenção em tempo integral. Não pagamos nada pela hospedagem, apenas contribuímos com algum dinheiro para comprar comida e bebida enquanto estávamos lá, quantia que era dividida igualmente por eles e por nós, visitantes.
  • 56. 56 Fiquei encantada! A organização existente naquela casa onde moravam 15 homens era impressionante! Eles nos explicaram como a república funcionava e explicaram como era a tradição das repúblicas de Ouro Preto. A partir dali a minha vontade não era somente passar no vestibular, mas também estar inserida naquele contexto. No ano seguinte, uma das minhas amigas passou no vestibular para Artes Cênicas e foi morar na república Volkana. Continuei tentando o vestibular todos os semestres de 2003 a 2006. Nesta época eu ficava hospedada na república dela. Mais uma vez pagando taxas simbólicas e me encantando cada vez mais com as repúblicas de Ouro Preto. No segundo semestre de 2004 resolvi mudar para Ouro Preto e fazer cursinho. Morei na Volkana durante este semestre e foi um dos melhores períodos da minha vida. Fiz inúmeras amizades. Tive oportunidade de receber alguns turistas nessa época, e agora era a minha vez de tratá-los como me tratavam quando eu era a hóspede, e esta experiência foi muito válida. Ao fim deste semestre prestei o vestibular em outra universidade, passei e comecei a fazer o curso de Nutrição na UNIG, em Itaperuna – RJ, onde me formei, mas até a metade do curso ainda tentava o vestibular na UFOP, tamanho era o meu vínculo com a cidade, tamanha era a minha vontade de inaugurar meu quadrinho. Infelizmente isso não aconteceu, mas continuo freqüentando Ouro Preto. A princípio o vínculo era a minha amiga, mas agora me sinto a vontade de ir para a Volkana mesmo ela não estando mais lá. (PRADO, Melina Biajoli do, Ouro Preto. 13 out. 2010. Entrevista concedida a Michelle Novaes). A recepção calorosa e a atenção dada aos visitantes os incentivam a voltar e criam um vínculo com Ouro Preto que é fortalecido a cada retorno. Este tratamento dado ao visitante identifica a hospitalidade para com eles. Apesar das festas em grandes proporções, nunca me senti deslocada ou sozinha na Aquarius ou na Sinagoga: o copo sempre cheio, a comida oferecida a todo o momento, o papo agradável e atenção digna de uma rainha. Mesmo na Festa do 12 ou carnaval, com pendências à resolver, ex-alunos e turistas para receber, sempre tem algum morador por perto disposto a fazer sala. (GONÇALVES, Júlia Maria Ferreira. “Debby”, moradora da república Volkana. Ouro Preto. 29 nov. 2010. Entrevista concedida a Michelle Novaes) Observa-se então que a hospitalidade é freqüente nas repúblicas. Os anfitriões se preocupam em agradar os convidados, mesmo tendo outros afazeres. Não importa
  • 57. 57 se é durante o carnaval ou aniversário da república, numa festa no fim de semana ou numa segunda feira qualquer, o tratamento é sempre o mesmo. 4.4. Hospitalidade dos republicanos para com os visitantes turistas Como já citado anteriormente, um dos meios que as repúblicas utilizam para angariar fundos para manter a infra-estrutura e a conservação do imóvel usado como sede da república é a hospedagem. Receber estudantes excursionistas ou visitantes é uma prática comum nas repúblicas de Ouro Preto, principalmente em feriados prolongados e em datas festivas como o Carnaval e o Festival de Inverno. Como foi dito por DENKER (2004), ser um anfitrião envolve habilidades, assim como empenho. Algumas dessas habilidades, como as tarefas de um anfitrião, são clichês: por exemplo, um bom hospedeiro pode impedir que um argumento polêmico vire uma briga. Caso deseje uma fórmula geral para essas habilidades, pode ser essa: os bons hospedeiros são bons pelo fato de deixarem seus hóspedes felizes, pois eles sabem o que agradará seus hóspedes e são capazes de fazer isso. O Carnaval é o período em que se reúne um maior número de turistas na casa. Normalmente, as repúblicas masculinas hospedam e promovem festas, já as femininas, funcionam como casas de apoio para hospedagem, em parceria com as masculinas. Durante os cinco dias de folia são oferecidos acessórios como canecas e camisas com a logo da república, alimentos e bebidas, abadás de blocos carnavalescos, shows com bandas locais e etc. Os republicanos, em geral, já se mostraram capazes de organizar dezenas de pessoas em suas repúblicas, entre
  • 58. 58 turistas e convidados, mantendo a ordem e a disciplina, garantindo uma festa de qualidade aos seus hóspedes. Nos dias 17 e 18 de novembro do corrente ano, a República Sinagoga recebeu uma excursão pedagógica do Colégio Oliveira, proveniente da cidade de Oliveira-MG, com 27 alunos do 3º, 4º e 5º ano com idades entre 8 e 10 anos e 4 professoras responsáveis (Figura 19). Os alunos pernoitaram na república e tiveram a oportunidade de conhecer a vida dos estudantes, a história da república, e o aprendizado que a mesma proporciona aos seus moradores na arte de dividir, de compartilhar, na troca de saberes e vivências, na idéia de social e no compromisso com o grupo. As professoras responsáveis contaram com o apoio dos “sinagoganos” para organizar os alunos no período em que estes permaneceram nas dependências da casa e também para atingir o objetivo da excursão no que dizia respeito a conhecer um pouco da vida republicana. Os moradores contaram aos alunos a história da república, curiosidades e responderam a inúmeras perguntas. Figura 19 Alunos excursionistas do Colégio Oliveira em frente a República Sinagoga. Fonte: Acervo Michelle Novaes
  • 59. 59 Ao visitar a Sinagoga no dia 17 de novembro, enquanto os excursionistas estavam lá, pude observar que os alunos foram divididos em 5 quartos, separados por sexo, sendo que em todos os quartos tinha pelo menos um adulto, em quartos femininos as professoras, em quartos masculinos algum morador da república. Enquanto as crianças organizavam a fila para o banho, os moradores propuseram atividades recreativas (Figura 20), para ocupar o tempo livre dos alunos. À noite, os moradores reuniram os excursionistas na sala e contaram a história da Sinagoga (Figura 21), explicaram a vivência em república e enfatizaram o trabalho em equipe e a união. Figura 20 Atividade Recreativa na República Sinagoga. Fonte: Acervo Michelle Novaes
  • 60. 60 Figura 21 Alunos do Colégio Oliveira reunidos na sala da República Sinagoga ouvindo a sua história. Fonte: Acervo Michelle Novaes Outro tipo comum de hospedagem é a referente a estudantes, que para viajar precisam de uma opção barata de hospedagem, e esta é proporcionada pelos republicanos de Ouro Preto promovendo assim um intercâmbio cultural custeado por valores simbólicos cobrados dos turistas para quitar despesas extras da casa, acarretadas por tal hospedagem, como por exemplo, encarecimento da conta de luz. Em seu acervo, a República Bangalô possui relatos de turistas que conheceram a casa, se hospedaram lá e aprovaram a experiência. Estes turistas demonstraram isso permanecendo na casa mais tempo que o previsto e oferecendo sua residência como estadia para os moradores que quisessem conhecer a cidade de origem do turista. Olá meninos! Há muito tempo não conhecia pessoas tão legais e tão hospitaleiras como vocês. Eu só podia encontrá-los aqui em Minas mesmo... Adorei demais ficar aqui na Bangalô e quando pintar outra oportunidade, estarei aqui de novo ( se vocês deixarem, é claro!)
  • 61. 61 Estou esperando vocês lá em Vitória, quando quiserem é só aparecerem! Será um prazer recebê-los na minha casa, de verdade! Já estou com saudades... Beijos, beijos, beijos, Lu (mensagem da turista Luciana Lisboa Mota e Castro, em 24/09/2000, dossiê da República Bangalô, acervo da REFOP). Acho que, pra quem veio ficar apenas 5 dias, 20 já foram o bastante. Por mim ficaria muito mais.. Agora vou fazer uma confissão... Nunca achei que fosse encontrar tanto engenheiro legal! Meninos, gostei muito MESMO de estar aqui com vocês, foi uma troca de experiências deliciosa, afinal, não foi à toa que fui esticando minha estadia até agora... Bom, isto aqui é apenas um bilhetinho de “ate breve”, pois logo logo já estarei aporrinhando vocês aqui outra vez...(mensagem da turista Camila Caffaro, dossiê da República Bangalô, acervo da REFOP.) Jovens, É a 5ª vez que venho aqui e pretendo voltar pelo menos mais um monte de vezes. E vocês, como sempre, me receberam muito bem. Adoro vocês! Tchau com carinho da MARAVILHA. (mensagem da turista Keyla de Oliveira Neves, dossiê da República Bangalô, acervo da REFOP.) Meninos da Bangalô, Foi muito legal conhecê-los e passar esses dias com vocês. Adorei a boa recepção. Espero um dia reencontrá-los... Um abraço, Leilane (UFPR – Arquitetura). (mensagem da turista Leilane Tascheck, dossiê da república Bangalô, acervo REFOP. 29 set. 2002). Obrigada pela hospitalidade e desculpe atrapalhar as finais de vocês. Muito bom conhecê-los, querendo ir pra Curitiba é só ligar... (mensagem da turista Mariana Sellucio, dossiê da República Bangalô, acervo da REFOP. 29 set.2002).
  • 62. 62 De acordo com os depoimentos citados acima, é possível identificar a hospitalidade para com os turistas, uma vez que, eles aumentam o tempo de estadia, pretendem voltar, criam laços de amizades e elogiam a República Bangalô a todo o momento. No “Alcorão” também existem registros dessa espécie, onde as pessoas manifestam sua satisfação em ter estado na Consulado. Muitas repúblicas possuem livros de memórias com a finalidade de registrar estes momentos.
  • 63. 63 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao conhecer o histórico das repúblicas percebe-se que a hospitalidade está inclusa em sua tradição. Parte da ideologia dos republicanos de Ouro Preto é receber bem as pessoas, independente de quem seja. A forma de abordar os calouros na fila de matrícula já demonstra essa hospitalidade. Nota-se que o republicano de Ouro Preto entende que a relação social é favorável para manter a tradição. Num primeiro momento, ele se esforça para receber bem o calouro e com isso torna-se possível preencher as vagas ociosas em sua república, mais tarde ele ensina o calouro a importância dessa relação social e isso vai passando de geração para geração, fortalecendo a tradição. O sistema de batalha interfere diretamente na personalidade do calouro, que para ser “escolhido” precisa se enquadrar nos quesitos exigidos pela casa. Todas as repúblicas desta amostra citaram a afinidade como fator essencial para que o calouro seja aceito, ou seja, isso o força a trabalhar questões como timidez e individualismo, quando existentes. A partir do momento que ele se relaciona bem com os moradores ele parte pro segundo passo, que seria se relacionar bem com as pessoas do ciclo social da sua república. Ele aprende com os moradores mais antigos a ser um bom anfitrião, tanto com os visitantes, quanto com os amigos e exalunos. As casas disponibilizadas pela Universidade para moradias estudantis, assim como as que são disponibilizadas para serem locadas por repúblicas particulares, são casas grandes, com muitos quartos. Isso faz com que as repúblicas de Ouro Preto, diferente de outros lugares, abriguem na maioria das vezes uma média mínima de 10 moradores. O elevado número de pessoas dividindo a mesma casa exige uma maior organização e regras indispensáveis para seu bom andamento. As medidas organizacionais para o funcionamento da casa acabaram por gerar ações
  • 64. 64 empreendedoras como, como por exemplo, o carnaval que acontece nas repúblicas, a organização de festas de grande porte, como o “Beer Fest”, e a organização de blocos de carnaval como o “Bloco da Praia”. A hospedagem em épocas isoladas, como o vestibular e fins de semana comuns, ou durante eventos como o Festival de Inverno, gera vínculo entre hóspedes e moradores. Por ser uma hospedagem informal, onde o “republicano” sede espaço em sua própria casa para o turista, e divide sua rotina com ele, acaba estreitando os laços entre ambos. Isso é um fator positivo no que diz respeito à imagem deturpada que as repúblicas de Ouro Preto tem em várias localidades do país. Possibilita ao turista constatar a organização, ver que existe um ambiente de estudo, que os moradores terminam a graduação e muitas vezes viram profissionais bem sucedidos. Outro fator é que, algumas vezes, além de freqüentar Ouro Preto, o visitante passa a querer viver esta rotina da mesma forma que os “republicanos”, o que aumenta a visibilidade da UFOP. É comum ver pessoas que visitaram Ouro Preto declarando que não somente querem estudar na UFOP, mas que fazem questão de fazer parte deste sistema único de repúblicas. Quanto aos ex-alunos, percebe-se que o vínculo entre eles e Ouro Preto, por intermédio da república, é muito forte. O retorno a antiga moradia surge como oportunidade de viver um pouco da saudosa vida universitária. Ele volta com a expectativa de ver outras pessoas fazendo as coisas que ele fazia tempos atrás, de ver que seus ensinamentos atingiram outras gerações, que a essência da casa ainda é a mesma, e se sentir importante, querido, como de fato é. A entrega de homenagens referentes aos anos que se passaram após o término da graduação é um fator motivador interessante para que ele retorne, pelo menos, de 5 em 5 anos, quando é homenageado.
  • 65. 65 A respeito dos excursionistas, as repúblicas tornam-se um interessante meio de hospedagem não só pelo custo econômico, mas também pela troca de experiências entre pessoas da mesma faixa etária, mas que vivem rotinas culturais diferentes em seu cotidiano. No caso dos alunos mais novos, eles tiveram bons exemplos de vivência em grupo, união, cooperação e disciplina, fatores importantes para formação de seu caráter e personalidade. Em relação à Ouro Preto, enquanto patrimônio histórico e cultural da humanidade, a hospitalidade das repúblicas faz-se importante, pois é com o dinheiro arrecadado também com a hospedagem que os moradores das repúblicas federais do Centro Histórico da cidade mantém conservados os casarões que sediam suas repúblicas, contribuindo de forma significativa, para a preservação e estética do município. A hospitalidade também contribui com o futuro profissional dos “republicanos”, pois através da relação estreita com os ex-alunos ativos no mercado de trabalho o ingresso dos recém-formados em suas atividades profissionais acaba sendo facilitado, através de indicações para estágios, programas de trainee, e até mesmo para o primeiro emprego. Um sistema tão produtivo, e que perdura há tanto tempo, merece atenção. Sugiro um estudo aprofundado sobre as repúblicas de Ouro Preto, para que seja possível levantar, com precisão, os prós e os contras de começar e concluir uma graduação, estando inserido neste contexto. Isso poderia solucionar ou, ao menos, amenizar os problemas e também aumentar a visibilidade dos pontos positivos, fazendo, talvez, com que este sistema seja implantado em outros lugares. Outro estudo interessante seria a respeito do potencial das repúblicas em relação ao carnaval de Ouro Preto. Tendo sido indicada a hospitalidade nas repúblicas juntamente com a forte organização das mesmas, cabe uma pesquisa sobre os impactos positivos e negativos que elas geram realizando hospedagens,
  • 66. 66 organizando festas e blocos carnavalescos durante o carnaval de Ouro Preto, para que esta prática empreendedora seja realizada de forma sustentável e trazendo benefícios tanto para o município quanto para as repúblicas de Ouro Preto.
  • 67. 67 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABDALA, Robertson de Souza. Ouro Preto. 2008. Entrevista concedida a REFOP. ASSOCIAÇÃO DAS REPÚBLICAS FEDERAIS DE OURO PRETO. REFOP. Dossiê das Repúblicas Federais. 2008 BARBOSA, Fábia F. O turismo como fator de desenvolvimento local e/ou regional. Caminhos da Geografia – Revista on line, Lavras, MG, v. 10, n14, 2005ª. Disponível em: http://www.ig.ufu.br/caminhos_de_geografia.html. Acesso em 03 set. 2010. CAMARGO, L.O. de L. Hospitalidade. São Paulo: Aleph, 2004. CHON, K. S. Hospitalidade: conceitos e aplicações / Kye Sung (Kaye) Chon, Raymond T. Sparrowe; tradução Ana Beatriz de Miranda e Silva Ferreira; revisão técnica Gleice Regina Guerra. – São Paulo: Pioneira Thomson Learning. 2003. CONSULADO, República. Alcorão nº IV. 1970. ____________________. Alcorão nº X. 2008. DENCKER, Ada F. M., BUENO, Marielys S. (org.) Hospitalidade: cenários e oportunidades. São Paulo: Thomson Learning, 2003. DENCKER, Ada Maria de Moraes (coord.). Planejamento e Gestão em Turismo e Hospitalidade. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. DIAS, Célia M. M. (org.) Hospitalidade: reflexões e perspectivas. São Paulo: Manole, 2002. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. GONÇALVES, Júlia Maria Ferreira. Ouro Preto. 29 nov. 2010. Entrevista concedida a Michelle Novaes. HOLANDA, Aurélio Buarque de. Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa. Curitiba: Positivo. 2010. HOUAISS, A. & VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
  • 68. 68 JAQUES, Mariana Alves. Perfil do Turista e Escolhas do Destino e do Meio de Hospedagem: um estudo de caso na cidade de Ouro Preto. 2006.133 p. Monografia. (Bacharelado em Turismo). Universidade Federal de Ouro Preto. Ouro Preto. KRIPPENDORF, Jost. Sociologia do turismo. – São Paulo : Aleph, 2001. – Turismo. KUAZAQUI, Edmir. Marketing Turístico e de Hospitalidade. São Paulo: MAKRON Books, 2000. LAKATOS, Eva M. e MARCONI, Marina A. Técnicas de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 1989. ________________________________. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1991. LASHLEY, Conrad; MORRISON, Alison. Em Busca da Hospitalidade: perspectivas para um mundo globalizado. Barueri, SP: Manole, 2004. LENZI, Aldo Estevan. História da Bangalô. Acervo REFOP. 2008. LOCKWOOD, A. ; MEDLIK, S. (org.) ; Turismo e Hospitalidade no Século XXI; tradução de Eliana Keeling, John Keeling. – Barueri, SP: Manole, 2003. LOHMANN, Guilherme; PANOSSO NETO, Alexandre. Teoria do Turismo: conceitos, modelos e sistemas. São Paulo: Aleph, 2008. MACHADO, Otávio Luiz. Reconstrução Histórica das Repúblicas Estudantis da UFOP. Anais do IV SEMPE – Seminário de Metodologia para Projetos de Extensão, São Carlos 29-31 ago 2001. http://www.itoi.ufrj.br/sempe/t6-p43.htm. Acesso em 15 nov. 2010. NISHIYAMAMOTO, Evelize Lago. Ouro Preto. 10 nov. 2010. Entrevista concedida a Michelle Novaes. PRADO, Melina Biajoli do, Ouro Preto. 13 out. 2010. Entrevista concedida a Michelle Novaes. RODRIGUES, Thiago de Souza Bittencourt. Ouro Preto. 2008. Entrevista concedida a REFOP.
  • 69. 69 SANTOS, Antonio Raimundo dos. Metodologia Científica. 6.ed. Rio de Janeiro. DP & A. 2004. SIQUEIRA, Deis. E. História Social do Turismo. Rio de Janeiro: Garamond; Brasília, DF: Ed. Vieira, 2005. SWARBROOKE, J. &HORNER, S. O comportamento do consumidor em turismo. São Paulo: Aleph, 2002. URRY, J. O olhar do turista: lazer e viagens nas sociedades contemporâneas. São Paulo: SESC/Studio Nobel, 1996. YÁZIGI, E. A alma do lugar: turismo, planejamento e cotidiano. São Paulo: Contexto, 2002. <http://noticias.terra.com.br/educacao/vocesabia/noticias/0,,OI3793812-EI8399,00De+onde+vem+o+termo+republica+de+estudantes.html>, Acesso em 28 out. 2010. <http://www.ufop.br/downloads/resoluo_cuni_n_1150__estatuto_repblica_federais_de_op.pdf>. Acesso em 03 nov. 2010. < http://www.embratur.gov.br/site/br/home/index.php> Último acesso em 10 nov. 2010. < http://www.pmop.com.br/index/index.php> Último acesso em 10 nov. 2010. < http://www.repmaternidade.kit.net/>. Acesso em 13 nov. 2010 < http://www.repcasanova.com.br/home.php> Acesso em 13 nov. 2010. < http://www.orkut.com.br/Main#AlbumList?uid=14062933367733565158. Acesso em 14 nov. 2010. < http://www.pmop.com.br/secretarias/secretaria.php?idsecretaria=14> Último acesso em 10 nov. 2010. <http://www.ufop.br.> Último acesso em 25 nov. 2010