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ChildFund Brasil - Fundo para Crianças
ChildFund Brasil - Fundo para Crianças 
ChildFund Brasil - Fundo para Crianças
1 
Sumário 2 
Sumário Executivo 
Introdução 
3 Contexto do País 
5 
8 
10 
ANÁLISE HISTÓRICA E GEOGRÁFICA 
3.1.  ..................................................11 
3.2. RECURSOS NATURAIS E MEIO AMBIENTE .............................................11 
3.3. ESTRUTURAS E SISTEMAS SOCIOCULTURAIS, ECONÔMICOS E POLÍTICOS.................12 
Sistema sociocultural 
Sistema Econômico 
Sistema político 
Desigualdade de Renda 
Desigualdades Étnicas 
Desigualdade de Gênero 
.................................................................12 
.....................................................................12 
........................................................................13 
3.4. DINÂMICAS DE PODER, INCLUSÃO E EXCLUSÃO .....................................14 
................................................................16 
.................................................................16 
..............................................................16 
       Gênero, pobreza e violência..........................................................17 
       Mobilização e inclusão social.........................................................17 
       O Brasil e os Objetivos do Milênio (ODM)..........................................17 
Manifestações da Pobreza infantil 
4.1    ...................................21 
4 20 
PROBLEMAS E EVIDÊNCIAS DA POBREZA INFANTIL 
Bebês malcuidados e ameaçados 
Crianças com baixo desempenho escolar e baixa autoestima 
Juventude em risco social e pouco participativa 
Famílias pouco protetoras e organizações despreparadas para romoção e  
defesa dos direitos das crianças, adolescente e jovens 
Sociedade e poder público descumpridores de seu papel social..............23 
Causas e manifestações da pobreza infantil no Brasil..........................23 
Privação................................................................................23 
Exclusão................................................................................24 
Vulnerabilidade.......................................................................24 
....................................................21 
    ..................21 
  .................................23 
 p 
........................22 
4.2 ANÁLISE: PRIVAÇÃO, EXCLUSÃO E VULNERABILIDADE (PEV)......................23 
5 
6 
26 
AVALIAÇÃO DE CAPACIDADE DE SERVIÇO DO ESCRITÓRIO NACIONAL.............2 
5.1.    7 
Liderança................................................................................27 
Adaptação...............................................................................27 
Gestão ...................................................................................27 
Operação ................................................................................28 
(OP'S).................................................................................................28 
Nível de dependência econômica 
...................................................28 
Perfil, liderança e gestão das Organizações Parceiras (OP's) 
...........................28 
Participação comunitária nas OP's e perfil do trabalho comunitário 
...........28 
Demanda e relação das OP's com o Fundo Cristão para Crianças.................29 
30 
Avaliação da Capacidade Organizacional 
5.2. AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE ORGANIZACIONAL DAS ORGANIZAÇÕES PARCEIRAS  
Objetivos e direções estratégicas para 
os próximos cinco anos 
Posicionamento Estratégico Programático................... 
6.1.    30 
SYSTEMIC SUSTAINABILITY CROWN.........................................................30 
6.2. PASSIFLORA: Eixo Vital.................................................................31 
6.3 PASSIFLORA: SISTEMA CENTRAL PROGRAMÁTICO ..................................32 
Programa: Famílias e Organizações Protetoras e Integradas para o  
.............................................................................33 
..............................................33 
.......................................34 
..................................34 
...34 
6.4. PASSIFLORA: ENFOQUES ESTRATÉGICOS .............................................35 
Authentic participation...............................................................35 
Valorization of all people ............................................................35 
Institutional development............................................................35 
Incidence in public policies ..........................................................35 
6.5. PASSIFLORA: COROA DE SUSTENTABILIDADE SISTÊMICA ...........................37 
...........................37 
.........................38 
Desenvolvimento 
Programa: Bebês Saudáveis e Seguros 
Programa: Crianças Educadas e Confiantes 
Programa: Jovens Capacitados e Participativos 
Programa: Sociedade comprometida com os direitos das Crianças 
Anel Interno da Coroa de Sustentabilidade Sistêmica 
Cultura Organizacional e Liderança................................................37 
Imagem Institucional.................................................................37 
Mobilização de Recursos e Parcerias...............................................37 
Anel Externo da Coroa de Sustentabilidade Sistêmica
Sumário Executivo 1
ChildFund Brasil - Fundo para Crianças 
ChildFund Brasil - Fundo para Crianças. 
ChildFund Brasil - Fundo 
para Crianças 
ChildFund brasil
ChildFund Brasil - Fundo para Crianças 
ChildFund Brasil - Fundo para Crianças 
ChildFund Brasil - Fundo para Crianças
Introdução 2
2 Introdução 
Em 1964, Christian Children's Fund (CCF) iniciou suas  
atividades no Brasil. Naquele período, o país vivia sob  
o governo ditatorial que perduraria por mais 20 anos.  
Em 1971, o Conselho Nacional de Serviço Social exigiu  
que  o  CCF  tivesse  uma  diretoria  brasileira  para  
responder  pelos  atos  da  organização  no  país.  Essa  
exigência  deu  origem  ao  nome  Fundo  Cristão  para  
Crianças. Em 1979, a organização iniciou a captação  
de recursos por meio do apadrinhamento nacional. 
A partir de janeiro de 1983, diante das novas diretrizes  
do  Fundo  Cristão  para  Crianças  -  envolver  a  
comunidade no desenvolvimento local - iniciou-se a  
criação de entidades dirigidas por pais voluntários de  
crianças  apadrinhadas.  Com  essa  mudança  de  
metodologia, as famílias passaram a ser vistas como  
protagonistas do próprio desenvolvimento.  
Hoje  o  Fundo  Cristão  para  Crianças  trabalha  em  
quatro  estados,  56  municípios,  883  comunidades. A  
Instituição atua com o apoio de 5,1 mil voluntários,  
que  assistem  79,5  mil  crianças  inscritas  em  100  
organizações  conveniadas,  atingindo  um  público  de  
233 mil pessoas. Anualmente o Fundo Cristão investe  
mais  de  R$  20  milhões  em  programas  e  projetos  
sociais. 
O  Planejamento  Estratégico  Programático  define  os  
objetivos  e  as  direções  estratégicas  para  sua  
intervenção. O Fundo Cristão busca ser reconhecido  
pela  excelência  do  seu  trabalho  com  crianças,  
adolescentes  e  famílias  em  situação  de  privação,  
exclusão e vulnerabilidade. Nos próximos cinco anos,  
o Fundo Cristão para Crianças irá: 
1.  Facilitar uma proposta de desenvolvimento social 
 inovadora centrada no vínculo estabelecido entre                    
2 Ver: Linha do Tempo  
_Contexto Brasil_ Fundo  
Cristão para Crianças  
Contexto 2010 
   Pesquisa Histórica de  
Mãos Dadas com o  
Amanhã  40 Fundo  
Cristão para Crianças  
2006 
a  criança  e  o  apoiador,  proporcionando  uma  
comunicação autêntica capaz de contribuir para a  
superação da pobreza infantil; 
2.  Contribuir para que as famílias protejam suas 
 crianças  e  participem  da  vida  comunitária  com  
organizações  protetoras,  representativas  e  
transparentes;  
3.  Lutar para que cada criança sobreviva e se 
 desenvolva,  e  seus  direitos  humanos  sejam  
respeitados; 
4.  Contribuir para que cada criança cresça em 
confiança e desenvolva seu pleno potencial; 
5.  Promover processos para que cada jovem possa 
participar ativamente da vida social, ser incluído  
no mundo produtivo e viver em paz;  
6.  Buscar o engajamento de todos  seja na forma de 
ação  direta,  seja  na  forma  de  participação  e  
cobrança das instâncias responsáveis para garantir  
que  os  direitos  das  crianças  sejam  cumpridos,  
respeitados e protegidos. 
Para  a  construção  dessa  proposta,  uma  ampla  
p a r t i c i p a ç ã o   f o i   p r o m o v i d a ,   e n v o l v e n d o   
colaboradores  do  Fundo  Cristão  para  Crianças,  
comunidades,  crianças,  adolescentes,  jovens,  
famílias e parceiros. O processo iniciou em novembro  
de 2009. Ao todo foram envolvidos 24 colaboradores  
do Fundo Cristão para Crianças, aproximadamente 1,8  
mil pessoas, entre crianças, adolescentes e adultos de  
35  organizações,  dentre  as  100  conveniadas,  
distribuídas pelos 56 municípios atendidos pelo Fundo  
Cristão para Crianças. 
Todas as etapas foram muito ricas em aprendizagem.  
Contudo, o trabalho realizado com crianças revelou  
um quadro de sofrimento profundo e de violência no  
espaço  familiar  das  diversas  comunidades  
consultadas.  Diante  desse  quadro,  a  resposta  
programática  propõe  um  sistema  integrado  de  
intervenção. A família está no centro do processo de  
desenvolvimento com os parceiros estratégicos e as  
organizações  conveniadas.  Nesse  sentido,  o  Fundo  
Cristão para Crianças irá reforçar suas estruturas no  
campo  para  promover  um  processo  de  gestão  
programática consistente. O Fundo Cristão pretende  
atuar na articulação de redes e alianças para apoiar  
a ç õ e s   t r a n s f o r m a d o r a s   d e s t a   
realidade. 
Uma análise contextual ampliada  
e  sistêmica  será  apresentada  
para detalhar nossa estratégia de  
superação da pobreza infantil. 
Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
Contexto do país 3
3 Contexto do país 
11 
Recursos naturais e 
meio ambiente 
3.1 
3.2 
milhares de mulheres e crianças   “viúvas de maridos  
vivos e órfãs de pais vivos”. 
   
A seca prolongada enfraquece a economia na região,  
trazendo  elevados  custos  sociais.  A  situação  é  
agravada pela falta de conhecimento da população.  
Estratégias de convivência com o semiárido, como a  
proteção  do  solo  e  o  combate  à  erosão,  são  pouco  
difundidas3.  Outra  característica  da  região  é  o  
preconceito  contra  as  mulheres,  marcado  por  um  
forte comportamento machista. As consequências são  
a  violência  e  a  falta  de  autonomia  feminina.  As  
crianças têm os próprios direitos violados e ficam mais  
vulneráveis. 
Portanto, toda proposta de  desenvolvimento para  a  
região  Nordeste  deve  considerar  as  peculiaridades  
socioeconômicas e climáticas do semiárido. 
Norte 
Centro Oeste 
Area de atuação 
ChildFund Brazil 
Semiarido Sul 
Nordeste 
Sudeste 
 Análise histórica e geográfica  
Depois  de  mais  de  três  séculos  de  exploração  
escravista  canavieira  e  mineira,  sob  o  domínio  de  
Portugal, o Brasil obteve sua independência em 1822.  
A  escravidão  foi  abolida  em  1888,  e  o  sistema  de  
governo  monárquico  foi  substituído  pela  República,  
em  1898.  Entre  1889  e  1930,  o  governo  foi  
oficialmente  uma  democracia  constitucional  
dominada  politicamente  por  exportadores  de  café.  
Em  1930,  o  líder  populista  Getúlio  Vargas  assume  o  
poder com um golpe. A Era Vargas perdurou até 1945.  
Nesse período, inicia-se o desenvolvimento industrial  
do  país.  Em  1946,  começa  um  novo  ciclo  político  
democrático  que  é  interrompido  em  1964,  com  o  
golpe militar. O regime militar vai até 1985, quando a  
ordem democrática é restabelecida. Com o retorno do  
processo  eleitoral,  os  civis  voltam  a  assumir  a  
presidência da república. 
O Brasil é o país com a quinta maior área territorial do  
mundo.  Estende-se  por  mais  de  oito  milhões  de  
quilômetros quadrados, abarcando 5.564 municípios,  
com  uma  população  de  mais  de  190  milhões  de  
habitantes, composta por 95,4 milhões de homens e  
98,3 milhões de mulheres. Desse total, 86,12% vivem  
na  área  urbana.  No  Brasil,  mais  de  60  milhões  de  
3 habitantes são crianças e adolescentes . 
O Brasil está dividido em cinco regiões:  
Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro- 
Oeste.  As  regiões  apresentam  
diferenças  marcantes  nas  áreas  
demográfica,  econômica,  social  e  
cultural.  No  Norte  está  localizada  a  
Amazônia  um dos mais importantes biomas  
do mundo. O Sul e o Sudeste concentram as principais  
áreas industriais, tendo como maiores metrópoles as  
cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. O Centro- 
Oeste  representa  a  nova  fronteira  agrícola  do  país,  
com  produção  extensiva  de  alta  tecnologia.  O  
Nordeste,  região  do  semiárido,  registra  os  maiores  
índices de pobreza do país, principalmente nas zonas  
rurais. Quase 90% de toda a região Nordeste é formada  
pelo  semiárido.  Com  uma  população  de  mais  de  21  
milhões de pessoas (11% da população brasileira), o  
semiárido  se  caracteriza  por  um  baixo  dinamismo  
econômico, com indicadores sociais muito abaixo da  
4 média  nacional .  As  condições  de  vida  do  homem  
sertanejo  fazem  da  emigração  uma  tentativa  de  
solução para a falta de oportunidades de trabalho. O  
movimento  migratório  resulta  no  “abandono”  de  
Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
12 
3.3 econômicos e políticos 
Estruturas e sistemas socioculturais, 
Sistema sociocultural 
A identidade brasileira é marcada pela mestiçagem e  
pelo  multiculturalismo.  Tais  características  têm  
origem  no  período  colonial,  no  encontro  de  
colonizadores  portugueses,  escravos  africanos  e  
imigrantes europeus. Mesmo com essa miscigenação,  
o  país  tem  atualmente  a  segunda  maior  população  
afrodescendente do mundo. 
Aliado à grande dimensão territorial, o processo de  
formação  do  povo  brasileiro  tornou-se  muito  
diversificado  culturalmente.  Cada  região  possui  
práticas  culturais  próprias,  da  culinária  às  danças  
regionais,  passando  pelas  festas  típicas  e  pelas  
manifestações  religiosas.  Em  contraponto  a  essa  
diversidade, outra característica sociocultural do país  
é a predominância religiosa do cristianismo. Mais de  
90%  da  população  se  declara  cristã,  sendo  74%  
5 católicos e 15% protestantes e evangélicos .  
A origem do atendimento a crianças e adolescentes no  
Brasil  provém  da  intervenção  de  instituições  
6 religiosas, desde o século XVI . A tradição cristã e a  
prática  da  solidariedade  estão  difundidas  na  
moralidade  social  de  formas  muito  distintas.  
Começaram  com  o  paternalismo    assistencialismo  
típico  derivado  da  cultura  religiosa  e  política,  
passando  para  as  formas  politicamente  mais  
avançadas, guiadas por valores contemporâneos. São  
esses  valores  que  devem  nortear  a  intervenção  da  
sociedade civil nas questões que dizem respeito aos  
7 interesses  coletivos .  Os  valores  sociais  devem  ser  
fortalecidos, fazendo com que as ações da sociedade  
civil se concentrem, prioritariamente, na promoção  
dos direitos de crianças e adolescentes no país. 
O  aumento  no  acesso  às  novas  tecnologias  de  
informação  e  comunicação  provoca  mudanças  no  
comportamento  cultural  dos  brasileiros.  Em  2009,  
10,2  milhões  de  domicílios  estavam  conectados  à  
internet,  a  taxas  médias  de  R$  53,  segundo  dados  
levantados  pelo  Instituto  de  Pesquisas  Econômicas  
Aplicadas  (IPEA)  e  pelo  Comitê  Gestor  da  Internet  
(CGI). Em 2014 serão 19,8 milhões de residências com  
acesso à internet, pagando R$ 32 em média, conforme  
projeção feita pelo governo. 
O acesso às tecnologias de informação e comunicação  
é extremamente relevante para a democratização da  
informação  e  do  conhecimento    elementos  
fundamentais  para  o  desenvolvimento.  As  ações  
voltadas  para  a  inclusão  digital  tornam-se  
estratégicas para a redução da situação de pobreza de  
meninas e meninos brasileiros. O governo pode tomar  
medidas  essenciais  que  contribuam  direta  ou  
indiretamente para acabar com a exclusão digital no  
Brasil.  Dentre  elas  estão  o  incentivo  ao  
desenvolvimento tecnológico, a ampliação do acesso  
do  cidadão  aos  espaços  públicos  de  produção  e  
divulgação  do  conhecimento,  a  melhoria  na  
distribuição de renda, o desenvolvimento dos recursos  
humanos locais e a construção de uma rede digital. É  
preciso que cada ponto se transforme numa base que  
desencadeie  novos  pontos.  Tais  pontos  devem  ser  
estruturados  nas  relações  coletivas  e  constituídos  a  
partir das necessidades e características dos grupos.  
Da  mesma  forma,  as  demandas  provenientes  dos  
cenários  nacional  e  mundial  devem  interligar  cada  
grupo,  desde  suas  raízes,  permitindo  o  trânsito  do  
8 conhecimento em mão dupla .  
Sistema Econômico 
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil é de US$ 2.024  
trilhões, o que o coloca como a 10ª maior economia do  
mundo. Entretanto o PIB per capta é de US$ 10.200, o  
9 que deixa o país no 103º lugar do ranking mundial . 
A economia do Brasil é bastante diversificada, mas as  
comodities  (minérios  e  produtos  agrícolas)  são  os  
principais  itens  de  exportação.  O  PIB  brasileiro  é  
maior que a soma das economias de todos os outros  
países da América do Sul. Essa condição faz do país um  
dos importantes atores no mercado global. Entretanto  
o sistema econômico vigente não obedece à lógica do  
desenvolvimento,  mas  o  crescimento  econômico  do  
país é promovido pelas taxas de juros. Enquanto nos  
países desenvolvidos a taxa de juros está em torno de  
2% ao ano, no Brasil é cinco vezes maior. A arrecadação  
10 de tributos no Brasil chega a 33,8%  do PIB. A carga  
tributária (impostos, taxas e contribuições) incide em  
toda  a  produção,  prestação  de  serviço  e  consumo  
interno,  como  o  Imposto  sobre  Circulação  de  
Mercadorias  e  Serviços  (ICMS),  que  é  embutido  nos  
preços de produtos, como medicamentos, alimentos,  
dentre outros. A carga tributária é tão alta que pode  
ser comparada com a de países desenvolvidos. Porém,  
o retorno social da arrecadação no sistema de saúde e  
na  qualidade  educacional  do  país  se  mostra  
deficitário.  O  sistema  tributário  também  apenas  as  
famílias mais pobres do Brasil, que comprometem 49%  
de sua renda com o pagamento de impostos, enquanto  
11 os mais ricos pagam apenas 26% de impostos . 
A classificação econômica do país é feita de acordo  
com  os  critérios  definidos  pelo  Critério  de  
Classificação Econômica Brasil (CCEB). O CCEB estima  
o  poder  de  compra  dos  indivíduos  e  das  famílias  
urbanas,  classificando-os  apenas  por  classes  
econômicas (A1, A2, B1, B2, C1 e C2, D, E). O critério  
3 Contexto do país 
Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
não tem a pretensão de classificar a população por  
classes  sociais.  Somente  1%  da  população  brasileira  
pertence à classe A1, 4% pertencem à classe A2, 24%  
de brasileiros estão na classe social B, 43% na Classe C  
- que seria a chamada “classe média”, 25% de pessoas  
na classe D - também conhecida como classe média- 
baixa e uma minoria de 3%, que são classificadas como  
classe E. Considerando o poder de compra em regiões  
urbanas, os integrantes da Classe E são os mais pobres  
da lista. 
Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística  
12 (IBGE) , a estratificação da renda dos brasileiros está  
baseada em alguns critérios econômicos. A família rica  
é aquela cuja renda mensal é igual ou superior a 40  
salários-mínimos.  Em  termos  absolutos,  os  ricos  
saltaram de 362 mil (0,8%), em 2003, para 476,5 mil  
(1%)  da  população,  em  2008.  Já  a  elite  brasileira    
classes A e B   é composta por grupos familiares com  
renda superior a R$ 2.563. A classe C é composta por  
indivíduos pertencentes a famílias com renda mensal  
entre  R$  598,39  e  R$  2.581,00.  Os  brasileiros  
remediados estão inseridos na classe D e constituem  
as famílias que recebem entre R$ 431,00 e R$ 598,00.  
O último vagão do trem da renda acolhe os pobres da  
classe E, inseridos nas famílias que ganham abaixo de  
R$ 431,00 mensais. 
Com base no parâmetro da renda familiar, observa-se  
que  o  período  2004-2008  foi  caracterizado  por  um  
intenso processo de mobilidade social ascendente. As  
famílias  das  classes  econômicas A  e  B  evoluíram  de  
11,61%  para  15,52%  no  período.  Outra  informação  
relevante diz respeito ao encolhimento das famílias  
pobres no período em questão. A classe D diminuiu de  
13 46,13% para 32,59% . 
A avaliação sobre a classe pobre brasileira   famílias  
com  renda  mensal  per  capita  de  até  meio  salário- 
mínimo (R$116,00)   realizada no período de 2003 a  
2008 apontou para uma redução da pobreza de 35%  
para 24,1%. Quanto ao número de indigentes   renda  
de até R$ 57,93   observa-se o recuo de 13,7% para  
6,6%  no  período.  Em  termos  absolutos,  quase  três  
milhões  de  indigentes  deixaram  essa  deplorável  
condição. Mesmo com os avanços obtidos em direção  
ao combate à pobreza, o Brasil ainda precisa caminhar  
muito para oferecer melhores condições de salário e  
oportunidades de emprego a milhões de brasileiros. 
Nos últimos anos, o cenário apresenta uma tendência  
de  redução  da  pobreza.  Considerando  o  poder  de  
compra em regiões urbanas como parâmetro, 72% da  
população  economicamente  ativa  são  considerados  
como  pertencentes  às  classes  alta  e  média.  Ainda  
assim,  a  situação  das  crianças  e  adolescentes  
brasileiros ainda é muito crítica. Em 2006, cerca de 30  
14 milhões  de  crianças  e  adolescentes  (44,7%) ,  
encontravam-se em situação de pobreza, vivendo com  
uma renda familiar per capita de meio salário-mínimo  
e 18,5%, com ¼ do salário-mínimo. 
Mesmo sendo a 10ª maior economia mundial, o Brasil  
ocupa a 8ª posição no ranking dos países com o maior  
15 índice  de  desigualdade  social  do  mundo .  Os  
benefícios  do  desenvolvimento  econômico  não  
chegam à grande parte da população. Há profundas  
desigualdades  étnicas,  regionais  e  de  gênero.  A  
desigualdade entre as classes sociais no país impacta  
fortemente a paisagem urbana. A classe dominante é  
basicamente  branca,  com  alto  poder  aquisitivo,  
formada por autônomos de renda alta, empresários e  
industriais,  descendentes  de  famílias  tradicionais  e  
ricas.  As  classes  mais  oprimidas  são  formadas  
majoritariamente  por  negros,  com  baixo  poder  
aquisitivo e baixa qualidade de vida, que povoam as  
favelas do país, principalmente, em função do êxodo  
rural. 
Diante  das  especificidades  regionais,  o  CSP  Brasil  
desenvolveu análises profundas entre urbano e rural  
para oferecer múltiplas possibilidades na execução de  
projetos  sociais  focados  no  desenvolvimento  
comunitário,  considerando  as  prioridades  locais  de  
16 cada contexto .  
Sistema político  
O Brasil é uma república federal presidencialista, de  
regime democrático-representativo e pluripartidário.  
O sistema federativo é constituído pela União, Estados  
e Municípios. O Estado brasileiro é dividido em três  
esferas de poder: Executivo (Presidente da República  
e  governadores  dos  estados),  Legislativo  (Senado,  
Câmara  dos  Deputados  Federais,  Assembléias  
Legislativas  Estaduais  e  Câmaras  Municipais)  e  
Judiciário  (em  última  instância,  representada  pelo  
Supremo Tribunal Federal). 
Por viver em uma democracia representativa, o povo  
brasieliro  elege  os  representantes  dos  poderes  
executivo  e  legislativo  por  meio  do  voto  direto.  A  
população também exerce sua participação político- 
cidadã  por  meio  de  plebiscitos,  referendos  e  
instrumentos legislativos populares. 
Mas  desafios  como  a  redução  da  corrupcão,  a  
existência do patrimonialismo (o controle da “coisa”  
pública  por  meio  de  uma  lógica  privada  em  
detrimento  do  interesse  público)  e  a  herança  
paternalista  ainda  precisam  ser  enfrentados. Ações  
como  a  campanha  nacional  Ficha  Limpa  (contra  a  
candidatura de políticos em débito com a justiça) e o  
Portal Transparência (canal de comunicação pelo qual  
o cidadão pode acompanhar a execução financeira dos  
programas de governo) são algumas medidas em favor  
13 
3 Contexto do país 
Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
14 
da legitimidade democrática. 
O  exercício  da  cidadania  e  a  participação  social  na  
vida  pública  são  fundamentais  para  a  mudança  do  
quadro  político-social  do  país.  Embora  a  estrutura  
democrática  favoreça  a  abertura  para  a  maior  
participação  em  temas  de  interesse  público,  a  
efetividade  da  participação  no  Brasil  é  prejudicada  
pela  educação  de  baixa  qualidade  e  pelo  pouco  
conhecimento  sobre  os  direitos  constitucionais  e  
sobre os espaços de participação.  
Portanto,  estimular  a  participação  social  nos  
p r o c e s s o s   d e   p l a n e j a m e n t o ,   e x e c u ç ã o ,   
monitoramento  e  avaliação  de  políticas  públicas  é  
indispensável para a qualidade dos serviços públicos  
prestados  nos  municípios.  Para  participar  desses  
processos,  o  cidadão  pode  aderir  a  organizações  e  
lideranças  locais,  vinculadas  a  grêmios  escolares,  
associações  de  bairro,  grupos  religiosos,  sindicatos,  
secretarias  municipais  de  saúde,  educação  e  
assistência, dentre outras organizações da sociedade  
civil.  
Dinâmicas de poder, 
inclusão e exclusão 3.4 
Embora  a  Constituição  garanta  direitos  iguais,  a  
desigualdade  social  no  Brasil  se  revela  de  diversas  
formas. A  ineficiência  do  acesso  e  a  qualidade  dos  
serviços  de  saúde,  educação  e  habitação,  o  
desequilíbrio da distribuição de renda e de terras, o  
mercado de trabalho e as altas taxas de desemprego,  
a discriminação racial, a representatividade política e  
até características culturais, como o machismo, tudo  
são fatores contrários ao livre exercício da cidadania,  
promovendo  a  desigualdade.  Este  cenário  coloca  o  
Brasil na condição de um dos países mais desiguais do  
mundo,  embora  tenha  obtido,  nos  últimos  anos,  o  
crescimento  expressivo  da  produção  agrícola,  
industrial e do setor de comércio e serviços. 
  
Com  a  criação  do  Sistema  Único  de  Saúde  (SUS),  a  
própria  Constituição  Brasileira  de  1988  adotou  o  
princípio do universalismo para as ações de saúde, a  
descentralização municipalizante e um novo formato  
organizativo  para  os  serviços,  sob  a  lógica  da  
integralidade, da regionalização e da hierarquização.  
Além disso, as ações preventivas e curativas passaram  
a ser de responsabilidade dos gestores públicos.  
Na década de 90, o país atravessava um período de  
incertezas em sua política econômica (só controlada a  
partir  de  1994,  por  meio  de  um  novo  plano  de  
estabilização),  com  graves  desajustes  em  suas  
finanças  públicas  e  oscilações  nas  taxas  de  
crescimento. A proposta de ajuste fiscal adotada pelo  
Brasil  repercutiu  negativamente  no  financiamento  
destinado à saúde, devido à queda dos investimentos  
no início da década de 90. Somente em 1995 e 1996 o  
setor  de  saúde  voltou  a  merecer  a  atenção  
governamental. Do ponto de vista demográfico, o país  
atravessava um período de mudanças radicais, com o  
declínio  do  crescimento  populacional  e  da  taxa  de  
fecundidade.  A  tendência  detectada  nas  décadas  
subsequentes  foi  de  crescimento  nulo,  ou  até  
negativo, para as faixas etárias mais jovens e de idade  
adulta.  Somente  o  grupo  terceira  idade  registrou  
crescimento.  Esse  novo  perfil  incidiu  de  forma  
bastante aguda na saúde, considerando que se trata  
17 das faixas etárias cujos custos são os maiores . Uma  
das medidas adotadas no Brasil rumo a melhorias para  
o sistema de saúde ocorreu em 1991, com a criação do  
Programa de Saúde da Família. O Programa possibilita  
a assistência no domicílio dos pacientes, abrangendo  
atendimento,  prevenção  e  tratamentos  de  saúde  
bucal, diabetes, redução da mortalidade materna e  
18 infantil,  tuberculose,  dentre  outros .  Com  tantos  
desafios demográficos e estruturais, a população de  
aproximadamente  190  milhões  de  habitantes  sofre  
com  a  precariedade  e  a  falta  de  priorização  na  
destinação de recursos públicos para a saúde. Parte da  
população é forçada a pagar para obter serviços de  
saúde  na  rede  privada,  mas  a  parcela  pobre  da  
população não tem a quem recorrer. A dependência  
exclusiva dos órgãos públicos de saúde do país, que se  
encontrava  em  situações  precárias,  como  falta  de  
médicos,  de  equipamentos  e  de  infraestrutura  
agravava a situação dos menos favorecidos. 
A  partir  da  Constituição  Federal  de  1988,  alterada  
pela emenda constitucional n. 14, de 1996, o ensino  
fundamental  gratuito  com  duração  de  oito  anos,  
obrigatório para crianças entre 7 e 14 anos de idade,  
foi  considerado  explicitamente  direito  público  
subjetivo.  Com  essa  mudança  constitucional,  os  
governantes  passaram  a  ficar  passíveis  de  ser  
responsabilizados judicialmente, caso não viessem a  
oferecer  o  ensino  ou  o  fizessem  irregularmente.  A  
Carta  de  1988  e  sua  alteração  pela  emenda  
determinam  que  o  direito  à  educação  abranja  a  
garantia não só do acesso e da permanência no ensino  
fundamental, mas também a garantia de padrão de  
qualidade como um dos princípios segundo o qual se  
estruturará o ensino (inciso VII do artigo 206). Apesar  
de ter dado passos rumo ao acesso à Educação para  
todos, milhares crianças sofrem com a falta de acesso  
a creches e milhares de crianças sofram com péssimas  
condições de infraestrutura das escolas. 
Atualmente  os  maiores  desafios  do  país  na  área  da  
educação, responsáveis pela má qualidade no sistema  
de  ensino,  são  a  formação  insuficiente  e  a  falta  de  
valorização dos professores. Na educação infantil, a  
taxa de professores não habilitados no ensino médio    
mínimo exigido pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB)    
3 Contexto do país 
Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
era de 14,4%, em 2006. Nas primeiras séries do ensino  
fundamental,  47,3%  dos  professores  não  possuíam  
curso superior e dos que lecionam nas últimas séries, o  
19,6%  não  possuíam.  No  ensino  médio,  11,7%  não  
possuem habilitação. A proporção de professores sem  
licenciatura  requisito mínimo exigido pela legislação  
- atinge só 11,7%. Especialmente grave é o déficit de  
professores habilitados nas disciplinas de Matemática  
e  de  Ciências.  Em  Matemática,  somente  20,4%  têm  
habilitação específica; em Biologia, esse percentual é  
de  44,4%;  em  Química,  22,2%  e  em  Física,  os  
habilitados  somam  apenas  10%.  A  dificuldade  no  
recrutamento de professores licenciados nessas áreas  
é  generalizada  em  todo  o  país.  A  situação  está  
associada  à  desvalorização  da  profissão  docente.  
Mesmo  a  remuneração  da  hora-aula  sendo  mais  
elevada  que  nos  outros  níveis  da  educação  básica  
(R$10,20), a carreira de magistério no ensino médio  
parece não ser suficientemente atrativa, quando os  
jovens fazem a escolha profissional ao se dirigirem ao  
ensino  superior.  Por  essa  razão,  os  últimos  
levantamentos  têm  demonstrado  uma  redução  no  
19 quantitativo  de  licenciados .  De  acordo  com  os  
resultados do Programa Internacional de Avaliação de  
Aluno  (PISA),  realizado  pela  Organização  para  a  
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE),  
os alunos brasileiros obtiveram em 2006 médias que os  
colocam  na  53ª  posição  em  Matemática  (entre  57  
países) e na 48ª em leitura (entre 56). A repetência e a  
e v a s ã o   e s c o l a r   t a m b é m   p r e j u d i c a m   o   
desenvolvimento  educacional  dos  brasileiros,  
principalmente de adolescentes e jovens. 
O  artigo  227  da  Constituição  Brasileira  de  1988  
favoreceu  a  mudança  de  paradigma  no  trato  com  
crianças e adolescentes brasileiros, ao definir que: “ É  
dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à  
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o  
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao  
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao  
respeito,  à  liberdade  e  à  convivência  familiar  e  
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma  
de negligência, discriminação, exploração, violência,  
crueldade  e  opressão”.  A  partir  dessa  mudança  
constitucional,  denominada  Doutrina  de  Proteção  
Integral, em 1990 foi criado o Estatuto da Criança e do  
Adolescente (ECA).  
Porém, a situação infanto-juvenil antes do Estatuto da  
Criança e do Adolescente era fundamentada no Código  
de Menores, criado em 1927, com o objetivo principal  
de cuidar das questões de higiene, da infância e da  
delinquência.  O  Código  estabelecia  a  vigilância  
pública  sobre  a  infância  e  a  vigilância  sobre  a  
amamentação,  os  expostos,  os  abandonados,  os  
maltratados  (podendo,  inclusive,  retirar  o  Pátrio  
Poder).  
De  acordo  com  o  Código,  as  crianças  e  os  
adolescentes,  ou  seja,  o  "menor"  em  estado  de  
abandono  ou  na  prática  de  delinquência  era  
considerado em situação irregular, ou seja, incapaz de  
se adaptar à vida da cidade. A partir daí, ocorre um  
fenômeno  extremamente  importante:  os  "menores"  
em situação irregular passam a ser identificados por  
um  rosto  muito  concreto:  são  os  filhos  das  famílias  
empobrecidas    geralmente  negros  ou  mulatos    
provenientes do interior e das periferias. Ao chamar a  
criança pobre, abandonada ou em conflito com a lei  
de  “menor”,  o  Código  de  Menores  legalizou  a  
discriminação social. Com isso, convencionou-se a se  
referir aos filhos dos pobres como menores e aos dos  
ricos como crianças. 
Assim,  a  palavra  "menor"  deixa  de  ser  um  termo  
técnico  e  se  transforma  numa  expressão  social,  
utilizada  para  fazer  menção  a  um  segmento  da  
população infanto-juvenil. Se a criança fosse maior de  
16 anos e menor de 18 anos, caso cometesse algum  
crime, iria para uma prisão de adultos e caberia ao  
juiz  buscar  a  regeneração.  Pelo  Código,  caberia  ao  
Juiz  de  Menores,  na  posição  de  autoridade  máxima  
nessa  área,  decidir  os  interesses  do  "menor",  
destinando  a  criança  à  adoção,  à  internação  ou  
punindo dos pais. O juiz tinha uma ação policialesca  
de pôr tudo em ordem. No Código de Menores, criança  
só tinha direito, quando era considerada em risco ou  
20 em situação de doença social . 
Elaborado por um processo de participação social e  
com  base  na  Doutrina  de  Proteção  Integral,  o  ECA  
contribuiu sem dúvida para que a lei se constituísse  
realmente como um novo paradigma dos direitos da  
criança e do adolescente, diferentemente do Código  
de  Menores. O ECA  trata a  temática  infanto-juvenil  
sob  vários  aspectos,  contemplando  Políticas  sociais  
básicas, Políticas de assistência, Proteção especial e  
Garantia e defesa de direitos. 
Portanto,  o  ECA  acrescentou  novos  conteúdos  ao  
conjunto de direitos da infância e da adolescência, no  
campo  dos  direitos  coletivos,  sociais,  econômicos  e  
culturais.  O  Estatuto  busca  a  superação  do  
assistencialismo  e  do  clientelismo,  reconhece  a  
situação  do  adolescente  em  conflito  com  a  lei  -  
definindo  medidas  que  deverão  ser  adotadas  -  e  
especifica  quais  são  as  garantias  individuais  e  
coletivas  para  esse  problema,  impondo  inclusive  os  
deveres. 
Embora  o  Brasil  seja  pioneiro  na  criação  de  um  
Estatuto focado nas garantias dos direitos da criança;  
embora o país possua espaços para a participação da  
sociedade  civil  em  Conselhos  de  Direitos  nos  
municípios e orçamento dedicado ao público infanto- 
juvenil,  ainda  há  falhas  no  formato  das  audiências  
15 
3 Contexto do país 
Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
públicas para viabilizar as intervenções da sociedade  
civil.  A  participação  de  crianças  e  adolescentes  no  
processo de discussão orçamentária ainda é pequena,  
respeitando  a  condição  peculiar  de  pessoa  em  
21 desenvolvimento . 
Crianças,  adolescentes  e  jovens  são  os  mais  
vulneráveis na convivência com o sistema excludente.  
No país, aproximadamente 50% da população infantil,  
ou  seja,  cerca  de  30  milhões  de  crianças  e  
adolescentes  de  até  17  anos,  estão  em  situação  de  
pobreza. Desse total, cerca de 11,5 milhões têm até 6  
22 anos de idade . As crianças que mais sofrem com a  
exclusão são meninas, negras, que moram em regiões  
rurais.  
A Constituição Brasileira e o ECA são tentativas para  
garantir  os  direitos  das  crianças.  Entretanto  essa  
garantia fica a desejar e pode ser diagnosticada pelos  
23 seguintes problemas : 
a) Direito à vida e à saúde: alta mortalidade infantil e  
materna,  baixa  saúde  reprodutiva  e  sexual,  
desnutrição,  falta  de  acesso  à  água  potável  e  ao  
saneamento,  degradação  ambiental.  b)  Direito  à  
liberdade:  falta  de  respeito  e  dignidade,  abuso  e  
violência contra as crianças, violência na sociedade,  
falta de oportunidades de participação e expressão e  
estruturas  democráticas  enfraquecidas.  c)  Direito  à  
educação,  cultura,  esportes  e  recreação:  difícil  
acesso  e  má  qualidade  da  rede  de  assistência  e  de  
educação  infantil  básica,  educação  primária  
deficiente  e  poucas  oportunidades  de  cultura,  
esportes  e  recreação.  d)  Direito  de  viver  com  sua  
família  e  em  comunidade:  proteção  desigual  da  
criança e estruturas de proteção do Estado frágeis. e)  
Direito de adquirir habilidades profissionais: atuarem  
em um ambiente profissional inseguro e incompatível  
com  a  idade  adequada  para  o  trabalho,  a  falta  de  
proteção contra a evasão escolar e contra o trabalho  
infantil. 
Desigualdade de Renda 
No período 2003-2008 houve um processo significativo  
de  mobilidade  social  ascendente,  reduzindo  a  
situação  de  pobreza  do  país  de  35%  para  24,1%.  O  
objeto de estudos foram famílias com renda mensal  
per  capita  de  até  meio  salário-mínimo  (R$  207,50).  
Houve também a redução da condição de indigência  
(renda de até R$ 103,75) de 13,7% para 6,6% (quase  
três milhões saíram dessa condição). Segundo dados  
do UNICEF de 2008, 44,7% das crianças e adolescentes  
24  com idade de até 17 anos (quase 30 milhões) viviam  
com uma renda familiar per capita de meio salário- 
mínimo  e  18,5%,  com  uma  renda  de  ¼  de  salário- 
mínimo. 
Desigualdades Étnicas 
  
O  Brasil  possui  uma  riquíssima  diversidade  étnico- 
racial  e  linguística.  Os  brasileiros  indígenas  somam  
cerca de 400 mil pessoas, pertencentes a 225 etnias e  
falando  180  diferentes  línguas.  Os  brasileiros  
afrodescendentes  constituem  a  segunda  maior  
população  negra  do  mundo:  são  87,3  milhões  de  
pessoas,  correspondendo  a  48%  dos  habitantes  do  
25 país .  Mesmo  com  esse  grande  contingente,  o  
preconceito  racial  é  uma  forma  de  exclusão  social  
bastante comum no Brasil, principalmente em relação  
aos negros.  
Os antecedentes históricos escravistas levaram a um  
processo social em que a pessoa negra é discriminada  
e privada dos direitos mais elementares. Atualmente  
a  desigualdade  e  a  exclusão  fazem  com  que  as  
crianças  negras  brasileiras  sofram  na  pele  essas  
consequências. As crianças negras têm quase 70% mais  
chance de viver na pobreza do que as brancas. Dentre  
os  2,7  milhões  de  crianças  que  sofrem  com  a  
26 exploração do trabalho infantil no Brasil , as maiores  
vítimas são meninos negros nordestinos.  
A taxa de homicídio entre os jovens pretos e pardos no  
país é duas vezes maior que a entre os jovens brancos.  
As  diferenças  entre  negros  e  brancos  se  estendem  
também  para  o  acesso  ao  mercado  de  trabalho  e  à  
educação. A população negra é a mais pobre do país. 
Desigualdade de Gênero 
A situação da mulher brasileira não escapa ao sistema  
machista e excludente. Por uma questão histórica já  
descrita, instituições como Família, Escola e Estado  
reafirmaram, ao longo do tempo, o papel da mulher  
como  "rainha  do  lar",  restringindo  seu  espaço  de  
socialização  ao  âmbito  privado.  Mesmo  diante  de  
modificações  sociais,  como  o  processo  de  
industrialização  do  país,  o  êxodo  rural  e  as  
transformações  culturais  da  década  de  setenta,  a  
situação  das  mulheres  permanece  marcada  pela  
desigualdade em relação aos homens. Dessa maneira,  
a  discriminação  sexual  na  sociedade  brasileira  fica  
fortalecida,  possibilitando  a  existência  de  uma  
relação de poder desequilibrada, em que as mulheres  
ainda se encontram em desvantagem.  
As  mulheres  brasileiras  possuem  mais  escolaridade  
que  os  homens.  Entretanto  elas  recebem  salários  
menores  em  todas  as  posições  do  mercado  de  
trabalho.  Na  categoria  de  trabalhador  doméstico,  
destaca-se o grande contingente de meninas entre 10  
e  15  anos  de  idade:  136  mil,  apenas  pelos  dados  
27 notificados .  Submissas  a  condições  de  trabalho  
degradantes, essas meninas, majoritariamente de cor  
16 
3 Contexto do país 
Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
parda  ou  negra,  são  extremamente  vulneráveis  a  
situações de abuso e exploração sexual.  
Gênero, pobreza e violência 
As meninas brasileiras são extremamente vulneráveis  
à  violência  sexual.  O  Brasil  possui  10,4  milhões  de  
28 meninas na faixa etária de 12 a 17 anos . Desse total,  
cerca de três milhões encontram-se em situação de  
extrema  pobreza.  Segundo  estimativas  da  
Organização Internacional do Trabalho (OIT), cerca de  
100  mil  crianças  e  adolescentes  são  exploradas  
sexualmente no Brasil - quase todas do sexo feminino.  
No segundo semestre de 2005, 28 mil crianças foram  
atendidas  em  314  municípios  pelo  Serviço  de  
Enfrentamento  ao  Abuso  e  à  Exploração  Sexual  de  
Crianças  e  Adolescentes.  Do  total,  três  vezes  mais  
meninas  do  que  meninos  foram  vítimas  de  abuso  
sexual  e  dez  vezes  mais  meninas  do  que  meninos  
foram vítimas de exploração sexual.  
29 De acordo com as consultas comunitárias  realizadas  
nas áreas de atuação do Fundo Cristão para Crianças,  
ficou  evidenciada  a  importância  das  mulheres  
c u i d a d o r a s   e   r e s p o n s á v e i s   d i r e t a s   p e l o   
d e s e n v o l v i m e n t o   d a s   c r i a n ç a s .   M i g r a n d o   
principalmente de regiões rurais, milhares de homens  
deixam  suas  famílias  à  procura  de  trabalho. Alguns  
retornam em períodos sazonais, porém outros nunca  
mais são vistos pelas mulheres e crianças. Com essa  
situação,  torna-se  fundamental  desenvolver  o  
potencial  da  mulher  para  o  desenvolvimento  
comunitário  local  e  para  o  desenvolvimento  e  
proteção de crianças e adolescentes. 
Mobilização e inclusão social 
Os movimentos de reivindicações para uma sociedade  
igualitária  começaram  a  ganhar  força  no  Brasil  na  
segunda metade do século XX. Na década de 50, as  
ligas  camponesas  ganharam  destaque.  Como  
representavam  uma  ameaça  à  ordem  nacional,  
acabaram  sendo  exterminadas  pelo  Governo.  Isso  
criou um clima desfavorável ao processo democrático  
e foi uma das causas do golpe militar de 1964. 
A  partir  da  segunda  metade  da  década  de  70,  os  
movimentos  sociais  propuseram  ao  Estado  que  
permitisse  a  participação  popular  na  administração  
pública.  A  iniciativa  se  tornou  um  contraponto  ao  
regime  militar.  Já  na  década  de  90,  houve  uma  
generalização do discurso da “participação” dos mais  
diversos  atores  na  sociedade  civil  e  no  Estado.  O  
movimento  reivindicou  e  apoiou  a  democracia  
participativa,  o  controle  social  sobre  o  Estado  e  as  
parcerias entre o Estado e a sociedade civil. 
Por  atuar  diretamente  na  “base”,  ou  seja,  
diretamente  nas  comunidades  excluídas,  as  
organizações  não  governamentais  brasileiras  
exerceram  papel  importante  no  processo  de  
articulação e mobilização social em prol do exercício  
da cidadania com outros atores da sociedade. 
30 O Brasil e os Objetivos do Milênio (ODM) 
ODM 1 Erradicar a extrema pobreza e a fome - O  
Brasil já ultrapassou a meta de reduzir pela metade a  
proporção da população que vive com renda inferior a  
um  dólar  per  capita  por  dia.  Em  1990,  8,8%  dos  
brasileiros  viviam  na  pobreza  extrema;  em  2005,  o  
percentual  caiu  para  4,2%,  o  que  representa  um  
resultado superior ao estabelecido pela ONU. 
ODM 2 Atingir o ensino básico universal -  O  Brasil  
universalizou  o  acesso  à  educação  e  reduziu  as  
desigualdades.  O  desafio  agora  é  garantir  que  as  
crianças concluam o ensino fundamental. Atualmente  
97,6% das crianças com idade de 7 a 14 anos estão na  
escola. Das 660 mil crianças que estão fora da escola,  
450 mil são negras. Nas regiões mais pobres, como o  
Norte  e  o  Nordeste,  somente  40%  das  crianças  
concluem  o  ensino  fundamental.  Nas  regiões  mais  
desenvolvidas, como o Sul e o Sudeste, essa proporção  
31 é de 70% .  
ODM  3  Promover  a  igualdade  entre  os  sexos  e  a  
autonomia  das  mulheres  -  O  Relatório  de  
Acompanhamento dos Objetivos de Desenvolvimento  
do Milênio indica que o foco da meta do ODM 3 não é  
compatível com a realidade brasileira. 
ODM  4  Reduzir  a  mortalidade  infantil  -  Uma  
avaliação  do  desempenho  de  60  países  em  
desenvolvimento  indicou  que  o  Brasil  está  entre  os  
sete que têm condições de atingir a meta do ODM 4.  
Contudo,  as  disparidades  continuam:  as  crianças  
pobres têm mais do que o dobro de chance de morrer,  
se comparadas com as ricas. As crianças negras têm  
50% a mais de chance de morrer, se comparadas com  
as brancas. 
ODM  5  Melhorar  a  saúde  materna  -  O  número  de  
mortes maternas caiu, mas a subnotificação ainda é  
muito elevada. Essa redução de 12,7% deve ser vista  
com  cautela,  pois  há  evidências  de  que  o  evento  é  
subnotificado no país, o que prejudica a informação e  
o mapeamento dos óbitos, especialmente nas regiões  
menos desenvolvidas. Em 2005, as causas obstétricas  
diretas,  incluindo  o  aborto,  provocaram  73,6%  dos  
óbitos maternos no país. 
ODM  6  Combater  o  HIV/AIDS,  a  malária  e  outras  
doenças  -  A  proporção  de  brasileiros  com  HIV  
17 
3 Contexto do país 
Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
permanece  estável,  desde  o  ano  2000.  A  resposta  
brasileira  à  doença  é  reconhecida  como  uma  das  
melhores  do  mundo,  mas  permanecem  grandes  
desafios: o número de casos de AIDS entre os negros e  
entre as mulheres continua a crescer num ritmo muito  
mais  acelerado  do  que  entre  os  brancos  e  entre  os  
homens. Além disso, a epidemia afeta cada vez mais  
os jovens. 
ODM  7  Garantir  a  sustentabilidade  ambiental  -  As  
áreas  protegidas  cresceram  e  o  desmatamento  da  
Amazônia voltou a cair, após sete anos. Entretanto a  
dimensão  da  problemática  ambiental  em  nível  
nacional  e  global  aponta  para  o  não  cumprimento  
desta meta. 
ODM  8  Estabelecer  uma  Parceria  Mundial  para  o  
Desenvolvimento - A principal ideia que fundamenta  
este objetivo é o estabelecimento de uma rede global  
de cooperação que potencialize os esforços em busca  
dos ODM. Nesse contexto, o Brasil assume dois papéis  
distintos:  ser  um  país  em  desenvolvimento  com  
desigualdades  e  assimetrias  sociais  e  econômicas  
ainda  a  serem  superadas;  ser  líder  na  geração  de  
conhecimentos,  possibilitando  o  apoio  a  outras  
nações. O Governo brasileiro tem atuado em ambos os  
papéis,  seja  cobrando  dos  países  ricos  maior  
contribuição  ao  desenvolvimento,  seja  colaborando  
com  as  nações  pobres  por  meio  de  cooperação  
técnica,  científica  e  tecnológica,  participando  de  
missões de paz e provendo assistência em situações de  
calamidades. 
Políticas  públicas  de  participação  e  de  
enfrentamento  da  Pobreza  -  Atualmente  a  
mobilização  social  é  respaldada  por  diversas  leis  
brasileiras: Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS),  
Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e Norma  
Operacional  Básica/Sistema  Único  de  Assistência  
Social  (NOB/SUAS).  Dentre  os  mecanismos  de  
participação conquistados, destacam-se os Conselhos  
Gestores  de  Políticas  Públicas,  o  dispositivo  de  
Iniciativa  Popular  de  Lei,  as  Audiências  Públicas,  o  
Referendum,  o  Plebiscito  e  o  próprio  fato  de  estar  
expresso  textualmente  na  Constituição  que  “todo  
poder emana do povo, podendo ser exercido direta ou  
indiretamente por seus representantes”. 
Nos últimos oito anos, o governo brasileiro avançou  
substancialmente  na  luta  contra  a  pobreza.  A  
estratégia  de  enfrentamento  se  concentra  
prioritarioamente no Ministério do Desenvolvimento  
Social  e  Combate  à  Fome  (MDS),  no  Ministério  da  
Educação  e  Cultura  (MEC),  no  Ministério  da  Saúde  
(MS).  A  principal  ação  governamental  de  
enfrentamento  da  pobreza  é  o  Programa  Bolsa  
Família,  que  completou  sete  anos  de  existência.  O  
Bolsa  Família  beneficia  12,4  milhões  de  famílias.  
Criado em 2003, com a unificação dos programas de  
transferência  de  renda  existentes,  o  programa  
ampliou  os  benefícios  e  investiu  R$  54,9  bilhões  no  
atendimento  de  famílias  pobres.  A  estratégia  do  
programa é garantir uma renda mensal mínima para as  
famílias,  condicionada  à  apresentação  de  
contrapartidas  exigidas  pelo  Governo:  as  famílias  
devem manter os filhos na escola e garantir que eles  
tenham o acompanhamento nos postos de sáude. Mais  
de 15,5 milhões de crianças e 2 milhões de jovens têm  
frequência  escolar  acompanhada  e  9,8  milhões  de  
famílias têm acesso a saúde monitorada. 
O  Bolsa  Família  não  é  um  programa  isolado.  Seus  
resultados estão relacionados também com o trabalho  
integrado  com  outras  políticas.  Ele  se  articula  na  
assistência social, por exemplo, com o Benefício de  
Prestação  Continuada  (BPC),  que  paga  um  salário- 
mínimo a idosos e pessoas com deficiência com renda  
pessoal  mensal  inferior  a  ¼  do  salário-mínimo  (R$  
127,50).  O  BPC  é  um  programa  com  recursos  
superiores ao Bolsa Família  R$ 22,3 bilhões previstos  
em 2010. Ao mesmo tempo, ambos os programas estão  
articulados  com  o  Programa  de Atenção  Integral  às  
Famílias  (PAIF),  que  se  materializa  nos  Centros  de  
Referência  da Assistência  Social  (CRAS),  localizados  
nas regiões mais pobres das cidades, justamente onde  
está a maioria dos beneficiários do Bolsa Família. Os  
Centros de Referência Especial da Assistência Social  
(CREAS) dão atendimento a casos de trabalho infantil,  
por  meio  do  Programa  de  Erradicação  do  Trabalho  
Infantil (PETI) Os CREAS trabalham também com casos  
extremos  de  exploração  e  violência  sexual  contra  
crianças  e  adolescentes,  por  meio  do    programa  
Sentinela.  O  papel  do  Bolsa  Família  na  segurança  
alimentar  das  famílias  atendidas  recebe  reforço  de  
outros  programas  da  área,  como  o  Programa  de  
Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA) e  
também  de  equipamentos  que  facilitam  o  acesso  a  
alimentos  de  qualidade,  como  Restaurantes  
Populares,  Bancos  de Alimentos,  Feiras  e  Mercados  
Populares, dentre outros. 
A concentração de ações no plano do programa Bolsa  
Família é um avanço, embora não responda a toda a  
demanda de assistência social. A junção das ações de  
combate  à  pobreza,  no  plano  mais  imediato  com  a  
atuação mais estrutural nas áreas da Educação e da  
Saúde,  é  um  grande  desafio.  Outro  desafio  para  o  
programa é fazer com que os benefícios cheguem à  
parcela mais necessitada da população. 
Embora  a  concessão  de  benefícios  diretos  apoiem  
milhares  de  famílias  em  situação  de  pobreza,  tais  
iniciativas geram uma barreira à ruptura da cultura  
assistencialista no país. 
  
18 
3 Contexto do país 
Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
Portanto,  organizações  sociais  desempenham  papel  
importante, ao conscientizar e mobilizar as famílias  
excluídas  para  o  exercício  da  cidadania.  Esse  
movimento concorre para que as famílias busquem o  
fortalecimento  do  Sistema  de  Garantia  de  Direitos,  
principalmente em relação a crianças e adolescentes,  
conforme  prevê  o  artigo  227  da  Constituição  
brasileira: 
“  É  dever  da  família,  da  sociedade  e  do  Estado  
assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta  
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à  
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à  
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência  
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de  
toda  forma  de  negligência,  discriminação,  
exploração, violência, crueldade e opressão”. 
19 
3 Contexto do país 
3 Dados: IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística   
Síntese dos Indicadores Sociais 2009, PNAD-IBGE 2007 e Site  
UNICEF  
4 Entre o combate à seca e a convivência com o semiárido:  
Transições paradigmáticas e sustentabilidade do desenvolvimento,  
2006 - Roberto Marinho Alves da Silva e IBGE  PNAD 2007.  
5 Dados de 2004  ANDI -  
www.andi.org.br/noticias/templates/boletins/template_radiopi.a 
sp?articleid=4370&zoneid=25 
6 IBGE  Censo Demográfico 2000  
7 Revista Libertas On-Line  Revista do Programa de Pós-graduação  
em Serviço Social  Volume 2-Ano 2  Julho 2008 -  
http://www.ufjf.br/revistalibertas/files/2010/01/artigo04_5.pdf 
8 Artigo: Bioética, solidariedade, voluntariado e saúde coletiva:  
notas para discussão  Autoras: Lucilda Selli 
Volnei Garrafa; Stela Nazareth Meneghel  Site:  
http://www.portalmedico.org.br/revista/bio13v1/simposios/simp 
osio04.htm  
9 Por uma Sociedade Digital: Informação e Desenvolvimento -  
Trabalho apresentado ao VI Encontro Nacional de Pesquisa em  
Ciência da Informação  VI Enancib (GT 3: Mediação, Circulação e  
Uso da informação) Florianópolis, Santa Catarina, 2005 
10 The World Factbook  CIA - Disponível em  
https://www.cia.gov/library/publications/the-world- 
factbook/geos/br.html Acesso em 16 de março de 2010.  
11 Site Valor Econômico (Pesquisa realizada em Maio 2010)  
www.valoronline.com.br/?online/fazenda/21/6181923/carga- 
tributaria-fica-em-33,8%-do-pib-no-ano  
12 IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) 2010. 
13 IBGE 2008 
14 IBGE 2008 
15 PNAD-IBGE 2007 e Relatório Situação Mundial da Infância 2008   
Caderno Brasil  UNICEF 
16 The World Factbook  CIA - Disponível em  
https://www.cia.gov/library/publications/the-world- 
factbook/geos/br.html - Acesso em: 16 mar 2010  
17 Ver Plano de Transição  Fundo Cristão para Crianças 2010 
18 Resumo: A reforma do Sistema de Saúde no Brasil e o Programa  
Saúde da Família  PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 15  
(Suplemento):225- 264, 2005 
 Http://dab.saude.gov.br/docs/publicacoes/informes/psfinfo21.p 
df  
19 Relatório Preliminar Subsídios para a Construção do Relatório  
Alternativo da Sociedade Civil ao Comitê dos Direitos das Crianças  
das Nações Unidas  2009 e Avaliação das Metas de Dacar (2000) 
20 Revista Tipiti - Revista eletrônica das entidades do Maranhão  
Nº 09  Matérias publicadas em novembro de 2004 - Fonte:  
www.revistatipiti.com.br 
21 Fórum Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente,  
Novembro 2009.  
22 UNICEF - Relatório Situação Mundial da Infância 2008   Caderno  
Brasil  
23  Ver  documento:  Manifestações  da  Pobreza  Infantil, Abril  2010    
Fundo Cristão para Crianças  
24 Indicadores Sociais IBGE 2009 e Relatório Situação Mundial da  
Infância 2008  Caderno Brasil  UNICEF  
25 Site UNICEF (Pesquisa realizada em Março 2010)  
26 Indicadores Sociais IBGE 2009 e Relatório Situação Mundial da  
Infância 2008  Caderno Brasil  UNICEF  
27 Organização Internacional do Trabalho 
28 PNAD/IBGE 2006 
29 Ver Planejamento Estratégico de Área - Alto Vale do  
Jequitinhonha (MG) e Cariri (CE) - 2009 
30 Site PNUD Brasil 2010 
31 Http://www.unicef.org/brazil/pt/activities.html 
Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
Manifestações da pobreza infantil 4
4 Manifestações da pobreza infantil 
21 
De acordo com dados do PNAD-IBGE 2007, o Brasil tem  
60  milhões  de  crianças  e  adolescentes,  sendo  que  
aproximadamente  30  milhões,  cerca  de  50%,  vivem  
32 em situação de pobreza .  
Para analisar a situação da pobreza infantil do Brasil, o  
Fundo Cristão para Crianças recorreu ao cruzamento e  
à classificação de informações, obtidas por meio de  
consultas  comunitárias  e  levantamentos  de  dados  
nacionais fornecidos por fontes de referência: IBGE,  
IPEA, PNUD, UNICEF e UNESCO, dentre outras. 
  
A  classificação  das  informações  foi  orientada  pela  
estratégia global do ChildFund. Foram consideradas  
as situações de privação, exclusão e vulnerabilidade  
das crianças brasileiras confrontadas com os direitos  
garantidos  pela  Constituição  Federal  do  país  e  pelo  
ECA. A análise das manifestações da pobreza infantil  
aponta para os principais problemas e direciona para  
possíveis soluções dentro do marco legal e dentro de  
estratégias de incidência em políticas públicas.  
Problemas e evidências 
da pobreza infantil 4.1 
Para  identificar  e  definir  os  principais  problemas  
ligados à pobreza infantil, foram realizadas análises  
33 consistentes  na  Matriz  PEV   elaborada  com  dados  
nacionais  sobre  a  situação  de  exclusão,  privação  e  
vulnerabilidade  de  crianças,  adolescentes  e  jovens  
brasileiros. Os dados foram distribuídos na matriz por  
ciclo de vida e pelos direitos contemplados no ECA. A  
mesma estrutura de informações (PEV, Ciclos de Vida e  
Direitos)  foi  agregada  à  metodologia  “Árvore  de  
34 Problemas”  para descrever as raízes e os efeitos da  
pobreza  infantil,  apontados  pelos  dados  nacionais  e  
pelas  próprias  crianças,  adolescentes,  jovens  e  
famílias que participaram das consultas comunitárias.  
A estrutura de identificação de problemas por ciclos  
de vida esclarece os principais problemas relacionados  
com  os  responsáveis  pelo  Sistema  de  Garantia  de  
Direitos. 
1) Bebês malcuidados e ameaçados 
 Acidentes  e  agressões  são  a  principal  causa  de  
morte  de  crianças  com  idade  de  1  a  6  anos  no  
Brasil,  respondendo  por  quase  um  quarto  dos  
35 óbitos . 
Ÿ Das três milhões de crianças que completaram um  
ano  de  idade  em  2005,  370  mil  não  possuíam  
36 registro de nascimento ; foram privadas do direito  
a uma identidade. 
Ÿ Das 11 milhões de crianças menores de três anos,  
mais  de  80%  não  frequentam  creches.  Uma  em  
cada quatro crianças com idade de 4 a 6 anos está  
fora da escola. 64% das crianças pobres não vão à  
37 escola durante a primeira infância .  
Ÿ No Nordeste, a prevalência de crianças menores de  
2 anos desnutridas é quatro vezes maior do que na  
região  Sul.  Existe  um  milhão  de  crianças  com  
déficit  de  peso.  No  semiárido,  a  desnutrição  
infantil  incide  em  mais  de  um  terço  dos  
38 municípios .   
De  acordo  com  dados  do  IBGE  obtidos  em  2009,  
embora a mortalidade infantil tenha reduzido em 30%  
nos últimos 10 anos, o país ainda precisa reduzir esse  
indicador. A ocorrência da mortalidade infantil se deve  
à  desigualdade  entre  regiões,  grupos  sociais  e  à  
precariedade na atenção à mãe e ao recém-nascido. 
2) Crianças com baixo desempenho escolar 
e baixa autoestima 
Ÿ No Brasil, três milhões de meninas de 10 a 17 anos  
de  idade  se  encontram  em  situação  de  extrema  
pobreza. Nas regiões mais pobres, somente 40% das  
crianças concluem o ensino fundamental. De cada  
100  estudantes  que  entram  no  ensino  
fundamental,  apenas  59  concluem  a  8ª  série  e  
39 somente 40, o ensino médio .  
Ÿ No  Brasil,  a  violência  na  escola  tem  maior  
incidência entre os adolescentes na faixa etária de  
40 11 a 15 anos . A evasão escolar e a falta às aulas  
ocorrem por diferentes razões, incluindo violência  
e gravidez na adolescência. 
Ÿ 41% das crianças brasileiras com idade entre 10 e  
12 anos já consumiram bebida alcoólica e 10% dos  
jovens  de  12  a  17  anos  podem  ser  classificados  
como dependentes de álcool. Meninas entre 10 e  
18  anos  (66,3%)  consomem  mais  álcool  que  os  
meninos. A  faixa  etária  de  7  a  14  anos  é  a  mais  
41 vulnerável, em relação à violência familiar .  
Ÿ No  Brasil  quase  três  milhões  de  crianças  e  
adolescentes entre 5 e 16 anos de idade trabalham.  
Isso  significa  que  10%  de  todas  as  crianças  
brasileiras  estão  trabalhando  ilegalmente.  
Meninos  de  10  a  15  anos  de  idade  apresentaram  
uma taxa que é o dobro da das meninas (12,6% e  
6,4%), em função da entrada precoce no mercado  
42 de trabalho .  
3) Juventude em risco social e 
pouco participativa 
Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
4 Manifestações da pobreza infantil 
22 
 O Brasil tem 34 milhões de habitantes com idade  
entre 15 e 24 anos. Essa faixa etária apresenta os  
piores índices de desemprego, evasão escolar, falta  
de  formação  profissional,  mortes  por  homicídio,  
43 envolvimento com drogas e com a criminalidade . 
Ÿ 13%  dos  jovens de  18  a  24  anos  frequentavam  o  
ensino  superior  em  2007,  sendo  70%  destes,  
brancos. De acordo com o Índice de Homicídios na  
Adolescência (IHA), 33 mil adolescentes com idade  
entre 12 e 18 anos devem ser assassinados entre  
2006  e  2012.  A  estimativa  é  de  que  13  jovens  
morram  diariamente  no  país.  Jovens  que  não  
realizam  funções  remuneradas  e  não  estudam  
formam  o  grupo  mais  suscetível  a  ser  vítima  da  
v i o l ê n c i a .   Ta i s   h o m i c í d i o s   a f e t a m   
desproporcionalmente  os  meninos  negros  das  
44 famílias pobres das áreas urbanas . 
4)  Famílias  pouco  protetoras  e  organizações  
despreparadas  para  promoção  e  defesa  dos  
direitos das crianças, adolescente e jovens  
Ÿ Dados  apontam  que  96%  dos  casos  de  violência  
física  e  64%  dos  casos  de  abuso  sexual  contra  
crianças  de  até  seis  anos  sejam  cometidos  por  
familiares.  Três  entre  dez  crianças  de  zero  a  12  
anos sofrem diariamente algum tipo de violência  
dentro da própria casa. A combinação de violência  
e  acidentes  constitui  a  primeira  causa  de  
45 mortalidade no Brasil .  
Ÿ Mais de cinco milhões de famílias com crianças de  
até 6 anos no Norte e Nordeste do país estão em  
situação vulnerável, quanto à renda. A proporção  
de  famílias  chefiadas  por  mulheres  passou  de  
46 19,7% em 1993 para 28,8% em 2006 .  
Ÿ De  acordo  com  Censo  IBGE  de  2000,  54,6%  dos  
domicílios  rurais  de  crianças  e  adolescentes  
brasileiros  de  zero  a  17  anos  não  possuíam  
abastecimento de água no domicílio e 49,1% não  
tinham  nenhum  saneamento.  Esses  percentuais  
caem  para  6,8%  e  10,1%,  respectivamente,  nos  
domicílios urbanos. 
As  comunidades  de  atuação  do  Fundo  Cristão  para  
Crianças  demonstram  preocupante  fragilidade  dos  
vínculos familiares e comunitários. Os moradores se  
dividem  em  pequenos  grupos,  com  interesses  
próprios, buscam a satisfação das necessidades de seu  
grupo,  realizando  assim  ações  fragmentadas.  Como  
consequência, as comunidades estão desarticuladas e  
seus membros trabalham de forma individualizada em  
busca de benefícios particulares. Não há participação  
cidadã. 
Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
4 Manifestações da pobreza infantil 
Privação 
As situações de privação de crianças e adolescentes no  
Brasil  são  diversificadas.    O  acesso  ao  saneamento  
básico  e  aos  serviços  de  promoção,  proteção  e  
recuperação da saúde ainda é insuficiente. A falta e o  
pouco  acesso  à  renda  familiar  são  agravados  pelo  
desemprego  e  pela  pouca  qualificação  profissional.  
Essa  condição  dificulta  o  acesso  à  alimentação  
adequada  e  compromete  a  segurança  alimentar  de  
milhares de crianças. Elas ainda sofrem com condições  
inadequadas  de  moradia  e  sobrevivência,  nas  
periferias  das  regiões  urbanas  e  em  comunidades  
rurais distantes dos grandes centros. 
A educação infantil é apenada pela oferta irregular de  
creche  e  pré-escola,  infraestrutura  deficitária  e  
desqualificação dos educadores infantis. Adolescentes  
e jovens também sofrem com o despreparo curricular  
e a desmotivação dos professores, em função do pouco  
investimento  e  da  baixa  valorização  profissional.  
Mesmo  existindo  iniciativas  governamentais  para  
estimular  o  acesso  à  universidade,  o  curso  superior  
ainda é um sonho, realidade distante para a maioria  
dos  jovens  brasileiros  pobres,  pois  muitos  sequer  
completam  o  ensino  médio,  pela  situação  de  
repetência, evasão escolar e analfabetismo a que são  
acometidos. 
A  pouca  participação  sociopolítica  de  jovens,  
mulheres  e  famílias  é  enfraquecida  pelos  poucos  
espaços  de  reivindicação,  desconhecimento  dos  
direitos  constitucionais  e  de  políticas  públicas.  Essa  
situação  é  agregada  à  cultura  assistencialista  e  à  
pouca  cooperação  entre  organizações  locais  para  a  
mobilização  social.  O  pouco  envolvimento  da  
sociedade  em  defesa  e  proteção  dos  direitos  das  
crianças  e  adolescentes  também  contribui  para  a  
perenidade do sistema de privação no país. 
  “Para  ir  pra  escola,  minha  filha  caminha  três  
horas,  e  quando  alguém  fica  doente,  só  Deus  
mesmo”.  
  Mulher- Comunidade Covão (MG) 
  
“Fico  triste  com  a  falta  de  emprego  para  
mulheres e de amanhecer sem trabalho” 
Mulher - Comunidade de Maria Nunes (MG) 
“Fico triste com a falta de merenda e a falta de  
capricho. A escola tá toda suja”.  
12 anos Comunidade de Tombadouro (MG) 
“Temos muitos professores estressados. Também  
não tem livro. Eu gosto de ler”.  
11 anos - Comunidade Vila Padre Cícero (CE) 
23 
5) Sociedade e poder público descumpridores  
de seu papel social 
A  criação  de  Conselhos  e  Fóruns  de  Direitos  são  
iniciativas do Estado e da sociedade para assegurar os  
direitos  das  crianças  e  adolescentes  brasileiros.  A  
fragilidade  estrutural  dos  conselhos  de  direitos  no  
Brasil  dificulta  a  sustentação  da  política  de  
atendimento a crianças e adolescentes em situação de  
risco. Tais fragilidades são evidenciadas por carência  
material, falta de apoio e de reconhecimento, baixa  
escolaridade  e  pouca  experiência  dos  conselheiros.  
Esse quadro não confere legitimidade à participação  
social,  ao  controle  das  políticas  públicas  e  à  
fiscalização  direta  do  cumprimento  dos  direitos  
legalmente garantidos.  
Portanto,  a  mobilização  e  a  participação  social  em  
torno  das  temáticas  que  envolvem  os  direitos  de  
crianças e adolescentes precisam ser expandidas para  
os  diversos  espaços  sociais.  Assim  elas  poderão  
promover a formação de uma rede efetiva de serviços  
voltada para a garantia dos direitos infanto-juvenis. 
Análise: Privação, Exclusão e 
Vulnerabilidade (PEV) 4.2 
Causas e manifestações da pobreza infantil 
no Brasil 
Para  a  realização  da  análise  PEV,  cerca  de  1,8  mil  
pessoas foram consultadas e participaram do processo  
de  identificação  das  causas  e  manifestações  da  
pobreza infantil. Aproximadamente 85% das consultas  
foram realizadas com crianças, jovens e adolescentes  
para  garantir  que  o  processo  viesse  a  obter  a  
participação,  a  “voz  da  criança”.  As  metodologias  
utilizadas para o levantamento das principais causas  
da pobreza infantil no Brasil, além do levantamento de  
dados  nacionais  foram  a  árvore  de  problemas  e  a  
matriz  sobre  as  principais  causas  e  sentimentos  
vivenciados  em  três  ambientes:  família,  escola  e  
47 comunidade .  Em  torno  de  35  organizações  
conveniadas  dos  estados  de  Minas  Gerais  e  Ceará  
participaram da consulta comunitária.  
Para alinhar a análise PEV ao marco legal do Brasil, a  
análise  foi  realizada  sob  a  ótica  da  violação  dos  
direitos de acordo com o ECA, a saber: Direito à Vida e  
à  Saúde;  Direito  à  Liberdade,  ao  Respeito  e  à  
Dignidade;  Direito  à  Convivência  Familiar  e  
Comunitária;  Direito  à  Educação,  à  Cultura,  ao  
Esporte  e  ao  Lazer;  Direito  à  Profissionalização  e  
Proteção no Trabalho. 
Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
4 Manifestações da pobreza infantil 
desnutrição, negligência e falta de segurança. Esses  
problemas  são  agravados  por  desestrutura  familiar,  
ausência  da  mulher  no  lar  em  função  do  trabalho  
externo e abandono paterno, já que os pais buscam  
outras  regiões  à  procura  de  oportunidades  de  
trabalho. 
A principal causa de morte de crianças no Brasil é a  
violência,  seja  física,  sexual  ou  psicológica.  O  
ambiente  familiar  é  um  dos  principais  cenários  de  
violência,  principalmente  a  doméstica  e  o  abuso  
sexual.  Na  escola,  crianças,  adolescentes  e  jovens  
tornam-se  reféns  da  violência  física  e  psicológica  
(bullying) entre os próprios alunos e, por vezes, pelos  
próprios professores. 
Os  direitos  das  crianças  são  desrespeitados,  e  elas  
ficam  desprotegidas,  tornando-se  vítimas  da  
exploração  sexual  infantil,  principalmente,  as  
meninas.  Milhares  ainda  se  encontram  escravizadas  
pelo  trabalho  infantil.  São  violações  que  
comprometem  a  saúde  física,  psíquica  e  moral  de  
sujeitos em processo de desenvolvimento. 
Violência e criminalidade andam de “mãos dadas no  
Brasil”. O alvo principal são crianças, adolescentes e  
jovens,  que  ficam  extremamente  vulneráveis  à  
exposição, ao consumo e ao tráfico de drogas, além de  
se tornarem consumidores precoces de drogas lícitas,  
como álcool e cigarro. E o pior: o incentivo começa no  
próprio ambiente familiar. Além de colocar milhares  
de  adolescentes  em  situação  de  privação  de  
liberdade,  a  criminalidade  também  ceifa  a  vida  de  
milhares de jovens no país.  
Adolescentes  e  jovens  são  particularmente  
vulneráveis à violação de seus direitos de saúde sexual  
e reprodutiva. As meninas ficam vulneráveis, privadas  
do direito de escolha em relação ao sexo - reflexo de  
uma cultura machista. O sexo ainda envolve coerção.  
Os jovens brasileiros são extremamente vulneráveis às  
doenças  sexualmente  transmissíveis,  devido  à  
sexualidade precoce. 
Em função da baixa renda e de poucas oportunidades  
de  trabalho,  muitas  meninas  são  forçadas  a  
comercializar  o  próprio  corpo.  O  sexo  torna-se  a  
moeda de troca para a garantia de uma refeição, de  
um picolé ou de um biscoito. Muitas são incentivadas  
pelas  próprias  famílias  a  praticarem  o  comércio  
sexual. 
Esse  contexto  de  vulnerabilidade  de  crianças,  
adolescentes  e  jovens  brasileiros  é  reforçado  pela  
falta  de  políticas  públicas,  pelos  conflitos  político- 
partidários,  pela  corrupção,  pela  pouca  vigilância  e  
pela falta de denúncia da sociedade de maus-tratos e  
de violação de direitos. Outro agravante é a falta de  
24 
Exclusão 
A  exclusão  social  é  vivenciada  pelas  crianças,  
adolescentes  e  jovens  nos  mais  diferentes  espaços  
sociais.  O  país  possui  reflexos  culturais  e  
comportamentais  evidentes  de  exclusão,  como  a  
discriminação  ocasionada  por  baixa  renda,  
deficiência,  racial  e  desigualdade  de  gênero,  
evidenciadas no mercado de trabalho, nas ocupações  
políticas  e  nas  relações  sociais.  De  acordo  com  as  
consultas  comunitárias,  as  crianças  sofrem  com  
preconceitos  e  discriminação  racial,  principalmente  
no ambiente escolar.  
As crianças são vítimas da exclusão devido ao baixo  
desenvolvimento  cultural,  pois  possuem  pouco  ou  
nenhum  acesso  a  espaços  e  a  bens  culturais.  As  
bibliotecas inexistem ou são precárias; os livros são  
insuficientes; o acesso à informação à comunicação e  
a espaços públicos para a prática de esporte e lazer  
inexiste. A própria estrutura de muitas comunidades  
urbanas  sufoca  esses  espaços.  Nas  comunidades  
rurais, esses espaços são restritos a praças de igrejas e  
quadra  das  escolas,  geralmente,  também  em  
condições precárias. 
A negação da cidadania enfrentada pelas crianças em  
situação  de  pobreza  é  revelada  também  no  sistema  
educacional, ao serem excluídas da educação de boa  
qualidade  -  elemento  fundamental  para  o  
desenvolvimento do país. 
As crianças negras, pobres, nordestinas e as mulheres  
são as principais vítimas do sistema excludente, que é  
fortalecido  pela  prevalência  do  individualismo  ao  
coletivo e pela falta de políticas públicas inclusivas. 
  “A  professora  não  gosta  de  negros;  ela  bota  a  
gente lá atrás”.  
15 anos - Comunidade Inhaí (MG) 
“Fico  triste  com  o  preconceito  racial  e  o  
desemprego na comunidade”. 
16 anos - Comunidade Firmeza (CE) 
“Fico triste com a falta de união na comunidade”.  
19 anos - Comunidade Datas  Diamantina (MG) 
"Por falta de um grito se perde uma boiada... 
“Mulher - Comunidade de Muriti (CE) 
Vulnerabilidade 
Nos primeiros anos de vida, as crianças brasileiras em  
situação de pobreza são extremamente vulneráveis às  
situações de abuso e violência, insegurança alimentar,  
Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
4 Manifestações da pobreza infantil 
25 
conhecimento que a população demonstra em relação  
aos  direitos,  além  da  pouca  mobilização  social  em  
torno do ECA. 
  
O  quadro  da  pobreza  infantil  no  Brasil  revela  um  
contexto desafiador. As propostas de desenvolvimento  
e  redução  das  situações  de  privação,  exclusão  e  
vulnerabilidade  de  crianças,  adolescentes  e  jovens  
devem  considerar  a  complexidade  e  a  interligação  
entre as causas da pobreza infanto-juvenil. Destacam- 
se a necessidade da garantia do direito à proteção, à  
educação  e  à  participação,  principalmente  no  
ambiente  familiar;  o  direito  à  qualidade  do  sistema  
educacional;  e  o  envolvimento  de  uma  sociedade  
conhecedora e defensora dos direitos da criança e do  
adolescente.  
“Fico  triste  quando  minha  mãe  sai  e  me  deixa  
sozinho” 
 6 anos  Comunidade Covão (MG) 
“Meu pai abandonou a casa por causa da minha  
mãe” 
7 anos - Comunidade Muriti (CE) 
“Se  você  não  é  respeitado  em  casa,  imagina  o  
resto"  
17 anos - Comunidade Mão Torta (MG) 
“Eu bebo cerveja com minha mãe; eu gosto de  
beber” 
 6 anos Vila Padre Cícero (CE) 
“Aqui  na  comunidade  tem  homem  estuprador:  
Cabelo do Cão. Eu tenho medo de brincar na rua” 
 9 anos Vila Padre Cícero (CE) 
“Fico triste quando os meninos me chamam de  
nome feio na escola”. 6 a 15 anos - Comunidade  
Inhaí 
A cor vermelha no desenho representa o sangue  
no corpo dos homens.   
8  anos - Comunidade Vila Padre Cícero (CE) 
“Tem  muitas  meninas  se  prostituindo,  mas  se  
engravidam, elas recebem o apoio da família”. 
18 anos - Comunidade Vila Padre Cícero  Milagres  
(CE) 
“A  juventude,  na  maioria  das  vezes,  não  tem  
perspectivas, ocorrendo o uso de drogas, álcool e  
gravidez precoce, bem como a comunidade não  
aceita a opinião dos jovens, excluindo-os”. 
22 anos - Comunidade Estrela  Barbalha (CE) 
32 UNICEF - Situação da Infância Brasileira 2008 
33 Ver Matriz PEV e Direitos do ECA  Fundo Cristão para Crianças  
- 2010  
34 Ver Árvore de Problemas por Ciclos de Vida e Direitos do ECA   
Fundo Cristão para Crianças  2010  
35 UNICEF - Situação da Infância Brasileira 2006 
36 Site UNICEF  Pesquisa realizada em Março 2010  
37 Site UNICEF  Pesquisa realizada em Março 2010  
38 Relatório Situação Mundial da Infância 2008  Caderno Brasil   
UNICEF  
39 PNAD 2006  
 Site UNICEF  Pesquisa realizada em Março 2010   
40 Plan Internacional: Aprender Sem Medo 2010  
41 I Levantamento Nacional sobre os padrões de consumo de álcool  
na população brasileira, realizado entre novembro de 2005 e abril  
de 2006. 
42 PNAD 2006 
43 IBGE 2009 
44 Relatório Índice de Homicídios na Adolescência  Análise  
Preliminar em 267 municípios brasileiros com mais de 100 mil  
Habitantes  Observatório das Favelas/UNICEF/ Governo Federal   
Julho 2009 e Manifestações da Pobreza Infantil 2010 - Fundo  
Cristão para Crianças 
45 Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de  
Crianças  e  Adolescentes  à  Convivência  Familiar  Comunitária    
Brasília,  2009:  (FNDCA).  Ver  Manifestações  da  Pobreza  Infantil    
Fundo Cristão para Crianças 2010 
46 Relatório Situação Mundial da Infância 2008  Caderno Brasil   
UNICEF 
47 Ver: Treinamento para Plano Estratégico de área  Fundo  
Cristão para Crianças 2009 
Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
Avaliação da Capacidade Organizacional5
5 Avaliação da Capacidade Organizacional 
A  Avaliação  de  Capacidade  Organizacional  enfoca  
elementos-chave,  impactando  diretamente  a  
qualidade  das  atividades  de  programas  e  de  
apadrinhamento. Essa avaliação fornece informações  
importantes para ajustar o trabalho do Fundo Cristão  
para  melhorar  a  vida  das  crianças,  com  
sustentabilidade.  O  Fundo  Cristão  para  Crianças  e  
seus  parceiros  implantam  tanto  o  apadrinhamento  
nacional quanto o internacional, no Brasil. 
48 de serviço do Escritório Nacional 5.1 
A  avaliação  da  capacidade  organizacional  do  Fundo  
Cristão para Crianças tem sido desenvolvida com o uso  
de metodologias participativas e de mobilização. Os  
instrumentos  de  mobilização  são  jogos,  desenhos,  
filmes, avaliação conjunta e análise da organização  
como  um  todo.  Para  elevar  nossa  qualidade  
programática  e  de  apadrinhamento,  a  equipe  da  
organização  responsável  pelo  processo  de  avaliação  
das  capacidades  organizacionais  centrou-se  nas  
capacidades de liderança, na adaptação às mudanças  
e nas capacidades administrativas e operacionais. 
Apesar de ter sido pouco divulgado, nos 44 anos de  
atuação  no  Brasil,  o  Fundo  Cristão  para  Crianças  
conquistou  um  reconhecimento  social  significativo.  
Essa  aprovação  se  deve,  especialmente,  à  
transparência na gestão financeira e na prestação de  
contas de suas atividades à sociedade. Outros pontos  
considerados  positivos  na  avaliação  da  capacidade  
organizacional  foram  a  identificação  pessoal  e  o  
comprometimento  dos  funcionários  com  a  missão  
organizacional; a liderança inovadora e engajada; as  
metodologias inovadoras em gestão; a mobilização de  
recursos e a busca contínua por melhorias. 
Para promover o aprimoramento das suas atividades,  
nos  próximos  meses  o  Fundo  Cristão  para  Crianças  
assumirá o compromisso de desenvolver os pontos de  
melhorias  e  atender  às  seguintes  necessidades  
contidas na avaliação: 
Liderança 
Ÿ Incentivar  e  formatar  a  participação  dos  
empregados nos processos de decisão, por meio de  
uma liderança participativa;  
Ÿ Fortalecer os processos de avaliação de resultados  
d a   l i d e r a n ç a   e   o s   m e c a n i s m o s   d e   
retroalimentação;  
  
Ÿ Consolidar  os  processos  de  tomada  de  decisão  a  
fim de estabelecer uma comunicação padronizada  
com todas as partes envolvidas;  
Ÿ Melhorar  os  processos  de  planejamento,  
integrando  todos  os  departamentos  numa  
estratégia comum;  
Ÿ Melhorar  a  relação  institucional  com  as  
organizações parceiras. Reduzir a verticalidade e a  
presença  no  campo  com  crianças,  famílias  e  
comunidades. 
Adaptação 
Ÿ Desenvolver  estratégias  de  comunicação  
institucional,  divulgando  os  resultados  dos  
programas  sociais  para  que  os  empregados  
conheçam a organização e sintam confiança, ao se  
   comunicar; 
Ÿ Esclarecer a ideologia, o papel social e o modelo de  
governança  da  organização.  É  necessário  deixar  
claro  o  posicionamento  do  Fundo  Cristão  para  
Crianças como agente de integração e agência de  
apadrinhamento e de desenvolvimento social;  
Ÿ Planejar  estratégias  de  marketing  e  de  
comunicação  para  aumentar  a  visibilidade  
institucional,  utilizando  uma  comunicação  clara  
sobre  a  ideologia  organizacional  com  os  
empregados, parceiros e sociedade. 
Gestão 
Ÿ Redesenhar  a  estrutura  organizacional  para  
garantir  uma  melhor  integração  de  processos,  
estabelecendo uma presença mais significativa no  
campo, mais perto das organizações comunitárias;  
Ÿ Priorizar  a  interação  dos  departamentos  de  
27 
Programas e das Relações com o Padrinho;  
Ÿ Avaliar  o  impacto  das  ações  programáticas.  Foi  
identificado que o impacto programático é crucial  
para a construção de alianças estratégicas fortes  
com agentes públicos e privados, tendo em vista a  
diversificação dos recursos para a sustentabilidade  
organizacional;  
Ÿ Articular parcerias em nível local e nacional com  
os governos, influenciando as políticas públicas; 
Ÿ Fortalecer  a  rede,  articulando  com  outras  
organizações sociais. 
Avaliação de capacidade 
Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
5 Avaliação da Capacidade Organizacional 
Operação 
Ÿ Definir  as  linhas  institucionais  de  Advocacy  e  
fortalecer a imagem da organização; 
  
Ÿ Melhorar  e  consolidar  o  planejamento  e  a  
execução das tarefas operacionais;  
Ÿ Fortalecer o processo participativo na tomada de  
decisão  e  de  acompanhamento  e  avaliação  dos  
resultados;  
Ÿ Alinhar  as  áreas  a  fim  de  reduzir  a  
departamentalização. 
  
Pode-se concluir que a estratégia organizacional para  
os  próximos  anos  deve  fornecer  uma  proposta  
integradora  e  comunicativa,  permitindo  assim  a  
articulação  entre  pessoas  e  os  departamentos  da  
organização.  A  estratégia  também  deve  facilitar  o  
trabalho das alianças e parcerias para a viabilidade  
social de uma missão centrada nas crianças e em suas  
famílias. O foco na gestão de projetos e na qualidade  
da  estratégia  programática  são  oportunidades  para  
alcançar  fortes  alianças  com  empresas  e  para  a  
diversificação  de  recursos.  Esses  pontos  serão  
desenvolvidos na governança organizacional do Fundo  
Cristão para Crianças, com uma definição atualizada  
de estrutura, funções e responsabilidades. 
Os  resultados  da  avaliação  da  capacidade  
organizacional  das  organizações  parceiras  revelam  
informações  importantes  sobre  perfil,  gestão,  
relacionamento institucional e trabalho comunitário.  
Tais  informações  são  insumos  indispensáveis  para  
compreender o papel que os parceiros da comunidade  
têm para a atividade programática-apadrinhamento. 
Nível de dependência econômica 
Atualmente o Fundo Cristão para Crianças conta com  
100  organizações  parceiras.  Embora  o  potencial  de  
alavanca  financeira  dessas  organizações  seja  
considerado  significativo,  a  maioria  delas  ainda  
depende dos recursos do Fundo Cristão para Crianças  
para  mais  de  60%  de  suas  atividades.  Os  governos  
municipais  são  os  atores  sociais  mais  próximos  das  
organizações parceiras e quase sempre compartilham  
investimentos  nos  programas  e  projetos.  A  média  
nacional  para  a  alavanca  financeira  é  de  um  dólar,  
mobilizada  pelo  apadrinhamento  para  0,8  dólar  
mobilizado por meio de parceria com o governo local.  
Entre  as  20  organizações  parceiras  mais  
independentes, 80% são do Sudeste e 93% delas são da  
Região  Metropolitana  de  Belo  Horizonte-MG.  Esta  
situação  exige  uma  estratégia  consistente  de  
desenvolvimento  da  capacidade  organizacional  dos  
parceiros para gerenciar a qualidade dos programas  
sociais,  do  apadrinhamento  e  das  relações  
institucionais  com  os  diversos  atores  sociais  
envolvidos. 
Perfil,  liderança  e  gestão  das  Organizações  
Parceiras (OP's) 
Essencialmente  assumida  por  mulheres,  a  liderança  
das  OP's  apresenta  um  perfil  engajado  e  atuante,  
apoiando as comunidades envolvidas na proposta de  
desenvolvimento  do  Fundo  Cristão  para  Crianças. A  
liderança  é  um  fator  essencial  para  estabelecer  
parcerias e garantir a incidência de políticas públicas  
na superação da pobreza infantil. Outra característica  
relevante é a perenidade dessa liderança na gerência  
executiva  dos  projetos.  A  idade  e  o  nível  de  
capacitação das gestoras tende a conduzir a um perfil  
de liderança centralizado e autocrático. 
Participação  comunitária  nas  OP's  e  perfil  do  
trabalho comunitário 
Cada  organização  parceira  possui  um  conselho  de  
direção formado por pais (essencialmente mães) de  
crianças  apadrinhadas.  Pontualmente  algumas  
organizações  desenvolveram  grupos  de  voluntários  
para apoiar atividades organizacionais, contando com  
o apoio de animadores comunitários para a realização  
de atividades. A natureza da participação e do apoio  
dos  voluntários  no  funcionamento  das  OP's  se  
restringe à execução de tarefas. Considera-se que o  
nível  de  participação  comunitária  nas  organizações  
conveniadas se limita a atividades “tarefeiras”, com  
pouco  envolvimento  de  voluntários  no  processo  de  
tomada de decisão e de planejamento estratégico.  
A  participação  e  o  envolvimento  de  jovens  e  
adolescentes  nas  decisões  das  OP's  também  são  
limitados.  Diante  dessa  realidade,  observa-se  a  
necessidade de que seja desenvolvida nas OP's uma  
governança  participativa  voltada  para  a  elaboração  
de  planos  de  desenvolvimento  local  centrados  na  
criança.  Atualmente  o  trabalho  comunitário  é  
orientado  a  crianças  e  famílias  inscritas  e  
apadrinhadas. As atividades se baseiam na oferta de  
serviços com poucas iniciativas de apoderamento ou  
incidência  em  políticas  públicas.  A  proposta  de  
desenvolvimento atual carece de um foco maior em  
relações estratégicas para a viabilidade de programas  
sociais.  
28 
5.2 Avaliação da capacidade 
organizacional das Organizações 
49 Parceiras (OP's) 
Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
5 Avaliação da Capacidade Organizacional 
Demanda  e  relação  das  OP's  com  o  Fundo  Cristão  
para Crianças 
O  trabalho  de  avaliação  das  capacidades  
organizacionais permitiu mapear a demanda das OP's  
para o Fundo Cristão para Crianças. O ponto principal  
da  demanda  é  a  melhoria  da  comunicação  e  do  
relacionamento institucional com as OP's, respeitando  
as  diferentes  realidades  comunitárias.  No  segundo  
plano,  a  demanda  se  concentra  na  necessidade  de  
retomar o processo de capacitação, reconhecendo o  
trabalho desenvolvido pelas organizações.  
Existe  uma  forte  corrente  para  viabilizar  a  
implantação de uma rede social sólida e integradora  
entre as OP's e os territórios. Trata-se de uma proposta  
coerente  de  superação  da  pobreza.  As  OP's  
manifestaram  a  necessidade  de  criar  oportunidades  
para  a  participação  dos  jovens  nas  decisões  
organizacionais  e  para  sensibilizar  o  Fundo  Cristão  
para  Crianças  sobre  a  realidade  comunitária.  
Finalmente,  as  OP's  valorizaram  o  processo  de  
“escuta”  realizado  para  a  elaboração  deste  
planejamento estratégico e manifestaram desejos de  
transformação  por  meio  de  ações  mais  eficazes  e  
processos mais sólidos e menos burocráticos.   
Conclui-se  que  a  estratégia  para  os  próximos  cinco  
anos do Fundo Cristão para Crianças deve promover  
um processo de transição das OP's. Entre as ações a  
serem  executadas,  estão:  valorizar  a  participação  
autêntica e o capital social; apoiar o desenvolvimento  
e a governança institucional; estar próximo do campo  
e facilitar processos de apoderamento e protagonismo  
com  as  redes  sociais  para  a  incidência  de  políticas  
públicas.  
 48 Ver: Avaliação da Capacidade Organizacional  Fundo Cristão  
para Crianças - 2010 
 49 Ver: Encontro com as Organizações Conveniadas  Plano 2010   
Fundo Cristão para Crianças 
Classificação das Organizações Conveniadas  Fundo Cristão para  
Crianças 2010 
29 
Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
Objetivos e direções estratégicas 
para os próximos cinco anos 6
6 Objetivos e direções estratégicas para os próximos cinco anos 
Fundo Cristão para Crianças 
Considerando a complexidade do contexto, o Fundo  
Cristão  para  Crianças  deverá  se  concentrar  no  
fortalecimento dos vínculos familiares, comunitários  
e sociais. Como um poderoso agente de mudança e de  
integração,  o  Fundo  Cristão  procurará  conectar  
pessoas, valorizando o enorme potencial das relações  
humanas  para  superar  a  pobreza  infantil,  com  
autêntica solidariedade. 
Em uma abordagem renovada e sistêmica, a proposta  
se materializa em um profundo simbolismo humano. A  
Passiflora  -  flor  de  maracujá,  que  é  genuinamente  
brasileira,  miscigenada  e  colorida    será  o  modelo  
simbólico da estratégia programática da organização.  
Na  língua  tupi,  “maracujá”  significa  “alimento  na  
cuia”. A  flor dessa  deliciosa  fruta nativa  remete  ao  
Caminho  da  Paixão    período  entre  a  morte  e  a  
ressurreição  de  Cristo  ,  que  traz  esperança.  Esse  
símbolo lembra, ainda, a passagem e a renovação da  
vida. 
12 12 
31 
Cultura 
7 8 
3 4 
1 1 
Organizacional 
Liderança 
Imagem  
Institucional 
Mobilização  
de Recursos  
e Parcerias 
Ideologia Constituição 
Gestão 
12 
1. Vínculo criança-padrinho 
    Comunicação autêntica 
2. Familias e Organizações Protetoras e 
    Integradas para o Desenvolvimento 
3. Bebês Saudáveis e Seguros 
4. Crianças Educadas e Confiantes  
5. Jovens Capacitados e Participativos 
6. Sociedade comprometida com 
    os direitos das Crianças 
11 
11 
11 
2 
6 5 
10 9 
I. Eixo vital 
II. Sistema Central 
III. Enfoques Estratégicos 
7. Participação Autêntica 
8. Valorização de todas as pessoas 
9. Desenvolvimento Institucional 
10. Incidência em Políticas Públicas 
IV. Coroa de  
Sustentabilidade  
Sistêmica  
11. Relações Influentes 
12. Governança 
Nos  próximos  cinco  anos,  o  Fundo  Cristão  para  
Crianças  estará  engajado  em  um  processo  de  
1 renovação  e  transição   no  modelo  de  intervenção  
social. A estratégia Passiflora apoiará os esforços do  
Fundo  Cristão  para  Crianças  para  ser  reconhecido  
como  uma  organização  de  apadrinhamento  
consolidada  capaz  de  mobilizar  pessoas,  grupos  e  
instituições com o intuito de superar as causas de raiz  
da  pobreza  infantil  no  Brasil.  A  abordagem  de  
comunicação  autêntica  de  Passiflora  foi  planejada  
para posicionar o Fundo Cristão para Crianças como  
um poderoso agente de mudança e de integração. A  
Passiflora  vai  canalizar  as  vozes  das  crianças  e  das  
comunidades,  ampliando  suas  potencialidades  e  
possibilitando impactos sustentáveis em suas vidas. O  
Fundo  Cristão  para  Crianças  irá  fortalecer  a  sua  
imagem  pública  como  uma  rede  forte  e  ampla  de  
pessoas  mobilizando  esforços  para  a  superação  da  
pobreza infantil. 
No  papel  de  agente  de  mudanças,  integrador  de  
parcerias  e  ativamente  engajado  com  as  famílias  e  
comunidades, o Fundo Cristão para Crianças propõe  
uma resposta eficaz para o desenvolvimento de seus  
6.1 Posicionamento 
Estratégico Programático 
Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
6 Objetivos e direções estratégicas para os próximos cinco anos 
para trabalharem juntos e tratarem ativamente as  
problemáticas relacionadas com a pobreza infantil,  
  a ignorância e a negação dos direitos das crianças. 
2.Conectar  os  efeitos  do  desenvolvimento  em  nível  
micro  sobre  as  crianças,  famílias  e  comunidades;  
com  as  políticas,  em  nível  macro,  e  trazer  o  
testemunho  de  crianças  e  adultos  no  processo  de  
i n c i d ê n c i a   e m   p o l í t i c a s   p ú b l i c a s   d e   
  desenvolvimento. 
3.Tornar claro que todos têm um papel a desempenhar  
no  alívio  da  pobreza,  ao  mostrar  as  conexões,  
similaridades  e  diferenças  entre  as  vidas  das  
crianças  e  de  adultos  nas  comunidades  atendidas  
pelo  Fundo  Cristão  para  Crianças  e  as  vidas  dos  
apoiadores. 
A comunicação autêntica do Eixo Vital pode ajudar a  
construir  relacionamentos  de  apoio  às  crianças,  
comunicando a sua experiência e aprendizagem para  
as  diferentes  partes  interessadas,  incluindo  
padrinhos,  outros  apoiadores,  escolas,  público  em  
geral,  elites  locais  e  nacionais,  governos,  
organizações  internacionais  e  setor  privado.    A  
comunicação  autêntica  é  também  uma  ação  
programática-chave,  pois  acontece  com  a  
participação  direta  e  ativa  das  crianças  no  
planejamento de estratégias de desenvolvimento e na  
criação de oportunidades para que suas vozes sejam  
ouvidas e respeitadas. O Fundo Cristão para Crianças  
vai ajudar as crianças a terem maior influência sobre  
as questões que afetam suas vidas. 
O  modelo  de  comunicação  autêntica  do  Eixo  Vital  
incentiva  a  mudança  pessoal,  em  termos  de  maior  
conhecimento  individual,  comprometimento  e  uma  
vontade  de  agir  para  aliviar  a  pobreza  
infantil.infantil. O Eixo Vital se constitui na base sobre  
a  qual  o  Advocacy  é  construído,  contribuindo  para  
uma  mudança  institucional  mais  ampla.  Tanto  a  
O  Eixo  Vital  provém  da  solidariedade  do  apoiador- 
padrinho  e  de  seu  desejo  de  atuar  como agente  de  
mudanças sociais. O Eixo Vital da estratégia Passiflora  
articula-se na relação estabelecida entre a criança e  
seu apoiador. Esse vínculo relacional canaliza o poder  
da  "Voz  da  Criança",  possibilitando  a  construção  de  
uma comunicação autêntica.  
  
A comunicação autêntica do Eixo Vital é um processo  
relacional  de  construção  de  vínculos  que  visa  
aumentar o conhecimento e oferecer oportunidades  
para as pessoas desempenharem um papel de agentes  
de mudanças diante das problemáticas de privação,  
exclusão e vulnerabilidade que impedem as crianças  
desfavorecidas  do  Brasil  de  desenvolverem  o  pleno  
potencial. 
  
O Eixo Vital da estratégia Passiflora reforça a Área de  
Excelência  organizacional  do  Fundo  Cristão  para  
Crianças. A abordagem de comunicação autêntica do  
Eixo Vital almeja três objetivos estratégicos: 
1.Aumentar  conhecimento,  compreensão  e  
motivação  das  crianças,  famílias,  comunidades,  
parceiros,  padrinhos  e  outras  partes  interessadas  
32 
objetivos e missão. Esta seção apresenta a estratégia  
Passiflora  como  proposta  programática  integrada  à  
Estratégia  Nacional,  alinhando-a  à  Estrutura  de  
2 Governança  reformulada. A estratégia Passiflora traz  
propostas concretas para o fortalecimento da relação  
autêntica  da  criança  com  seu  apoiador,  visando  à  
implantação  de  programas  sociais  de  alto  impacto.  
Haverá  uma  ampla  mobilização  de  alianças  e  
parcerias, conectando pessoas e integrando famílias,  
sociedade  e  Estado  nas  suas  responsabilidades  
partilhadas em favor dos Direitos Constitucionais da  
Criança. 
A seguir, o detalhamento da estratégia Passiflora em  
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6.2 Passiflora: Eixo Vital 
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ChildFund Brasil - Estratégia para superação da pobreza infantil

  • 1.
  • 2. ChildFund Brasil - Fundo para Crianças
  • 3. ChildFund Brasil - Fundo para Crianças ChildFund Brasil - Fundo para Crianças
  • 4. 1 Sumário 2 Sumário Executivo Introdução 3 Contexto do País 5 8 10 ANÁLISE HISTÓRICA E GEOGRÁFICA 3.1. ..................................................11 3.2. RECURSOS NATURAIS E MEIO AMBIENTE .............................................11 3.3. ESTRUTURAS E SISTEMAS SOCIOCULTURAIS, ECONÔMICOS E POLÍTICOS.................12 Sistema sociocultural Sistema Econômico Sistema político Desigualdade de Renda Desigualdades Étnicas Desigualdade de Gênero .................................................................12 .....................................................................12 ........................................................................13 3.4. DINÂMICAS DE PODER, INCLUSÃO E EXCLUSÃO .....................................14 ................................................................16 .................................................................16 ..............................................................16 Gênero, pobreza e violência..........................................................17 Mobilização e inclusão social.........................................................17 O Brasil e os Objetivos do Milênio (ODM)..........................................17 Manifestações da Pobreza infantil 4.1 ...................................21 4 20 PROBLEMAS E EVIDÊNCIAS DA POBREZA INFANTIL Bebês malcuidados e ameaçados Crianças com baixo desempenho escolar e baixa autoestima Juventude em risco social e pouco participativa Famílias pouco protetoras e organizações despreparadas para romoção e defesa dos direitos das crianças, adolescente e jovens Sociedade e poder público descumpridores de seu papel social..............23 Causas e manifestações da pobreza infantil no Brasil..........................23 Privação................................................................................23 Exclusão................................................................................24 Vulnerabilidade.......................................................................24 ....................................................21 ..................21 .................................23 p ........................22 4.2 ANÁLISE: PRIVAÇÃO, EXCLUSÃO E VULNERABILIDADE (PEV)......................23 5 6 26 AVALIAÇÃO DE CAPACIDADE DE SERVIÇO DO ESCRITÓRIO NACIONAL.............2 5.1. 7 Liderança................................................................................27 Adaptação...............................................................................27 Gestão ...................................................................................27 Operação ................................................................................28 (OP'S).................................................................................................28 Nível de dependência econômica ...................................................28 Perfil, liderança e gestão das Organizações Parceiras (OP's) ...........................28 Participação comunitária nas OP's e perfil do trabalho comunitário ...........28 Demanda e relação das OP's com o Fundo Cristão para Crianças.................29 30 Avaliação da Capacidade Organizacional 5.2. AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE ORGANIZACIONAL DAS ORGANIZAÇÕES PARCEIRAS Objetivos e direções estratégicas para os próximos cinco anos Posicionamento Estratégico Programático................... 6.1. 30 SYSTEMIC SUSTAINABILITY CROWN.........................................................30 6.2. PASSIFLORA: Eixo Vital.................................................................31 6.3 PASSIFLORA: SISTEMA CENTRAL PROGRAMÁTICO ..................................32 Programa: Famílias e Organizações Protetoras e Integradas para o .............................................................................33 ..............................................33 .......................................34 ..................................34 ...34 6.4. PASSIFLORA: ENFOQUES ESTRATÉGICOS .............................................35 Authentic participation...............................................................35 Valorization of all people ............................................................35 Institutional development............................................................35 Incidence in public policies ..........................................................35 6.5. PASSIFLORA: COROA DE SUSTENTABILIDADE SISTÊMICA ...........................37 ...........................37 .........................38 Desenvolvimento Programa: Bebês Saudáveis e Seguros Programa: Crianças Educadas e Confiantes Programa: Jovens Capacitados e Participativos Programa: Sociedade comprometida com os direitos das Crianças Anel Interno da Coroa de Sustentabilidade Sistêmica Cultura Organizacional e Liderança................................................37 Imagem Institucional.................................................................37 Mobilização de Recursos e Parcerias...............................................37 Anel Externo da Coroa de Sustentabilidade Sistêmica
  • 6. ChildFund Brasil - Fundo para Crianças ChildFund Brasil - Fundo para Crianças. ChildFund Brasil - Fundo para Crianças ChildFund brasil
  • 7. ChildFund Brasil - Fundo para Crianças ChildFund Brasil - Fundo para Crianças ChildFund Brasil - Fundo para Crianças
  • 9. 2 Introdução Em 1964, Christian Children's Fund (CCF) iniciou suas atividades no Brasil. Naquele período, o país vivia sob o governo ditatorial que perduraria por mais 20 anos. Em 1971, o Conselho Nacional de Serviço Social exigiu que o CCF tivesse uma diretoria brasileira para responder pelos atos da organização no país. Essa exigência deu origem ao nome Fundo Cristão para Crianças. Em 1979, a organização iniciou a captação de recursos por meio do apadrinhamento nacional. A partir de janeiro de 1983, diante das novas diretrizes do Fundo Cristão para Crianças - envolver a comunidade no desenvolvimento local - iniciou-se a criação de entidades dirigidas por pais voluntários de crianças apadrinhadas. Com essa mudança de metodologia, as famílias passaram a ser vistas como protagonistas do próprio desenvolvimento. Hoje o Fundo Cristão para Crianças trabalha em quatro estados, 56 municípios, 883 comunidades. A Instituição atua com o apoio de 5,1 mil voluntários, que assistem 79,5 mil crianças inscritas em 100 organizações conveniadas, atingindo um público de 233 mil pessoas. Anualmente o Fundo Cristão investe mais de R$ 20 milhões em programas e projetos sociais. O Planejamento Estratégico Programático define os objetivos e as direções estratégicas para sua intervenção. O Fundo Cristão busca ser reconhecido pela excelência do seu trabalho com crianças, adolescentes e famílias em situação de privação, exclusão e vulnerabilidade. Nos próximos cinco anos, o Fundo Cristão para Crianças irá: 1. Facilitar uma proposta de desenvolvimento social  inovadora centrada no vínculo estabelecido entre 2 Ver: Linha do Tempo _Contexto Brasil_ Fundo Cristão para Crianças Contexto 2010 Pesquisa Histórica de Mãos Dadas com o Amanhã 40 Fundo Cristão para Crianças 2006 a criança e o apoiador, proporcionando uma comunicação autêntica capaz de contribuir para a superação da pobreza infantil; 2. Contribuir para que as famílias protejam suas  crianças e participem da vida comunitária com organizações protetoras, representativas e transparentes; 3. Lutar para que cada criança sobreviva e se  desenvolva, e seus direitos humanos sejam respeitados; 4. Contribuir para que cada criança cresça em confiança e desenvolva seu pleno potencial; 5. Promover processos para que cada jovem possa participar ativamente da vida social, ser incluído no mundo produtivo e viver em paz; 6. Buscar o engajamento de todos seja na forma de ação direta, seja na forma de participação e cobrança das instâncias responsáveis para garantir que os direitos das crianças sejam cumpridos, respeitados e protegidos. Para a construção dessa proposta, uma ampla p a r t i c i p a ç ã o f o i p r o m o v i d a , e n v o l v e n d o colaboradores do Fundo Cristão para Crianças, comunidades, crianças, adolescentes, jovens, famílias e parceiros. O processo iniciou em novembro de 2009. Ao todo foram envolvidos 24 colaboradores do Fundo Cristão para Crianças, aproximadamente 1,8 mil pessoas, entre crianças, adolescentes e adultos de 35 organizações, dentre as 100 conveniadas, distribuídas pelos 56 municípios atendidos pelo Fundo Cristão para Crianças. Todas as etapas foram muito ricas em aprendizagem. Contudo, o trabalho realizado com crianças revelou um quadro de sofrimento profundo e de violência no espaço familiar das diversas comunidades consultadas. Diante desse quadro, a resposta programática propõe um sistema integrado de intervenção. A família está no centro do processo de desenvolvimento com os parceiros estratégicos e as organizações conveniadas. Nesse sentido, o Fundo Cristão para Crianças irá reforçar suas estruturas no campo para promover um processo de gestão programática consistente. O Fundo Cristão pretende atuar na articulação de redes e alianças para apoiar a ç õ e s t r a n s f o r m a d o r a s d e s t a realidade. Uma análise contextual ampliada e sistêmica será apresentada para detalhar nossa estratégia de superação da pobreza infantil. Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
  • 11. 3 Contexto do país 11 Recursos naturais e meio ambiente 3.1 3.2 milhares de mulheres e crianças “viúvas de maridos vivos e órfãs de pais vivos”. A seca prolongada enfraquece a economia na região, trazendo elevados custos sociais. A situação é agravada pela falta de conhecimento da população. Estratégias de convivência com o semiárido, como a proteção do solo e o combate à erosão, são pouco difundidas3. Outra característica da região é o preconceito contra as mulheres, marcado por um forte comportamento machista. As consequências são a violência e a falta de autonomia feminina. As crianças têm os próprios direitos violados e ficam mais vulneráveis. Portanto, toda proposta de desenvolvimento para a região Nordeste deve considerar as peculiaridades socioeconômicas e climáticas do semiárido. Norte Centro Oeste Area de atuação ChildFund Brazil Semiarido Sul Nordeste Sudeste Análise histórica e geográfica Depois de mais de três séculos de exploração escravista canavieira e mineira, sob o domínio de Portugal, o Brasil obteve sua independência em 1822. A escravidão foi abolida em 1888, e o sistema de governo monárquico foi substituído pela República, em 1898. Entre 1889 e 1930, o governo foi oficialmente uma democracia constitucional dominada politicamente por exportadores de café. Em 1930, o líder populista Getúlio Vargas assume o poder com um golpe. A Era Vargas perdurou até 1945. Nesse período, inicia-se o desenvolvimento industrial do país. Em 1946, começa um novo ciclo político democrático que é interrompido em 1964, com o golpe militar. O regime militar vai até 1985, quando a ordem democrática é restabelecida. Com o retorno do processo eleitoral, os civis voltam a assumir a presidência da república. O Brasil é o país com a quinta maior área territorial do mundo. Estende-se por mais de oito milhões de quilômetros quadrados, abarcando 5.564 municípios, com uma população de mais de 190 milhões de habitantes, composta por 95,4 milhões de homens e 98,3 milhões de mulheres. Desse total, 86,12% vivem na área urbana. No Brasil, mais de 60 milhões de 3 habitantes são crianças e adolescentes . O Brasil está dividido em cinco regiões: Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro- Oeste. As regiões apresentam diferenças marcantes nas áreas demográfica, econômica, social e cultural. No Norte está localizada a Amazônia um dos mais importantes biomas do mundo. O Sul e o Sudeste concentram as principais áreas industriais, tendo como maiores metrópoles as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. O Centro- Oeste representa a nova fronteira agrícola do país, com produção extensiva de alta tecnologia. O Nordeste, região do semiárido, registra os maiores índices de pobreza do país, principalmente nas zonas rurais. Quase 90% de toda a região Nordeste é formada pelo semiárido. Com uma população de mais de 21 milhões de pessoas (11% da população brasileira), o semiárido se caracteriza por um baixo dinamismo econômico, com indicadores sociais muito abaixo da 4 média nacional . As condições de vida do homem sertanejo fazem da emigração uma tentativa de solução para a falta de oportunidades de trabalho. O movimento migratório resulta no “abandono” de Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
  • 12. 12 3.3 econômicos e políticos Estruturas e sistemas socioculturais, Sistema sociocultural A identidade brasileira é marcada pela mestiçagem e pelo multiculturalismo. Tais características têm origem no período colonial, no encontro de colonizadores portugueses, escravos africanos e imigrantes europeus. Mesmo com essa miscigenação, o país tem atualmente a segunda maior população afrodescendente do mundo. Aliado à grande dimensão territorial, o processo de formação do povo brasileiro tornou-se muito diversificado culturalmente. Cada região possui práticas culturais próprias, da culinária às danças regionais, passando pelas festas típicas e pelas manifestações religiosas. Em contraponto a essa diversidade, outra característica sociocultural do país é a predominância religiosa do cristianismo. Mais de 90% da população se declara cristã, sendo 74% 5 católicos e 15% protestantes e evangélicos . A origem do atendimento a crianças e adolescentes no Brasil provém da intervenção de instituições 6 religiosas, desde o século XVI . A tradição cristã e a prática da solidariedade estão difundidas na moralidade social de formas muito distintas. Começaram com o paternalismo assistencialismo típico derivado da cultura religiosa e política, passando para as formas politicamente mais avançadas, guiadas por valores contemporâneos. São esses valores que devem nortear a intervenção da sociedade civil nas questões que dizem respeito aos 7 interesses coletivos . Os valores sociais devem ser fortalecidos, fazendo com que as ações da sociedade civil se concentrem, prioritariamente, na promoção dos direitos de crianças e adolescentes no país. O aumento no acesso às novas tecnologias de informação e comunicação provoca mudanças no comportamento cultural dos brasileiros. Em 2009, 10,2 milhões de domicílios estavam conectados à internet, a taxas médias de R$ 53, segundo dados levantados pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) e pelo Comitê Gestor da Internet (CGI). Em 2014 serão 19,8 milhões de residências com acesso à internet, pagando R$ 32 em média, conforme projeção feita pelo governo. O acesso às tecnologias de informação e comunicação é extremamente relevante para a democratização da informação e do conhecimento elementos fundamentais para o desenvolvimento. As ações voltadas para a inclusão digital tornam-se estratégicas para a redução da situação de pobreza de meninas e meninos brasileiros. O governo pode tomar medidas essenciais que contribuam direta ou indiretamente para acabar com a exclusão digital no Brasil. Dentre elas estão o incentivo ao desenvolvimento tecnológico, a ampliação do acesso do cidadão aos espaços públicos de produção e divulgação do conhecimento, a melhoria na distribuição de renda, o desenvolvimento dos recursos humanos locais e a construção de uma rede digital. É preciso que cada ponto se transforme numa base que desencadeie novos pontos. Tais pontos devem ser estruturados nas relações coletivas e constituídos a partir das necessidades e características dos grupos. Da mesma forma, as demandas provenientes dos cenários nacional e mundial devem interligar cada grupo, desde suas raízes, permitindo o trânsito do 8 conhecimento em mão dupla . Sistema Econômico O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil é de US$ 2.024 trilhões, o que o coloca como a 10ª maior economia do mundo. Entretanto o PIB per capta é de US$ 10.200, o 9 que deixa o país no 103º lugar do ranking mundial . A economia do Brasil é bastante diversificada, mas as comodities (minérios e produtos agrícolas) são os principais itens de exportação. O PIB brasileiro é maior que a soma das economias de todos os outros países da América do Sul. Essa condição faz do país um dos importantes atores no mercado global. Entretanto o sistema econômico vigente não obedece à lógica do desenvolvimento, mas o crescimento econômico do país é promovido pelas taxas de juros. Enquanto nos países desenvolvidos a taxa de juros está em torno de 2% ao ano, no Brasil é cinco vezes maior. A arrecadação 10 de tributos no Brasil chega a 33,8% do PIB. A carga tributária (impostos, taxas e contribuições) incide em toda a produção, prestação de serviço e consumo interno, como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que é embutido nos preços de produtos, como medicamentos, alimentos, dentre outros. A carga tributária é tão alta que pode ser comparada com a de países desenvolvidos. Porém, o retorno social da arrecadação no sistema de saúde e na qualidade educacional do país se mostra deficitário. O sistema tributário também apenas as famílias mais pobres do Brasil, que comprometem 49% de sua renda com o pagamento de impostos, enquanto 11 os mais ricos pagam apenas 26% de impostos . A classificação econômica do país é feita de acordo com os critérios definidos pelo Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB). O CCEB estima o poder de compra dos indivíduos e das famílias urbanas, classificando-os apenas por classes econômicas (A1, A2, B1, B2, C1 e C2, D, E). O critério 3 Contexto do país Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
  • 13. não tem a pretensão de classificar a população por classes sociais. Somente 1% da população brasileira pertence à classe A1, 4% pertencem à classe A2, 24% de brasileiros estão na classe social B, 43% na Classe C - que seria a chamada “classe média”, 25% de pessoas na classe D - também conhecida como classe média- baixa e uma minoria de 3%, que são classificadas como classe E. Considerando o poder de compra em regiões urbanas, os integrantes da Classe E são os mais pobres da lista. Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 12 (IBGE) , a estratificação da renda dos brasileiros está baseada em alguns critérios econômicos. A família rica é aquela cuja renda mensal é igual ou superior a 40 salários-mínimos. Em termos absolutos, os ricos saltaram de 362 mil (0,8%), em 2003, para 476,5 mil (1%) da população, em 2008. Já a elite brasileira classes A e B é composta por grupos familiares com renda superior a R$ 2.563. A classe C é composta por indivíduos pertencentes a famílias com renda mensal entre R$ 598,39 e R$ 2.581,00. Os brasileiros remediados estão inseridos na classe D e constituem as famílias que recebem entre R$ 431,00 e R$ 598,00. O último vagão do trem da renda acolhe os pobres da classe E, inseridos nas famílias que ganham abaixo de R$ 431,00 mensais. Com base no parâmetro da renda familiar, observa-se que o período 2004-2008 foi caracterizado por um intenso processo de mobilidade social ascendente. As famílias das classes econômicas A e B evoluíram de 11,61% para 15,52% no período. Outra informação relevante diz respeito ao encolhimento das famílias pobres no período em questão. A classe D diminuiu de 13 46,13% para 32,59% . A avaliação sobre a classe pobre brasileira famílias com renda mensal per capita de até meio salário- mínimo (R$116,00) realizada no período de 2003 a 2008 apontou para uma redução da pobreza de 35% para 24,1%. Quanto ao número de indigentes renda de até R$ 57,93 observa-se o recuo de 13,7% para 6,6% no período. Em termos absolutos, quase três milhões de indigentes deixaram essa deplorável condição. Mesmo com os avanços obtidos em direção ao combate à pobreza, o Brasil ainda precisa caminhar muito para oferecer melhores condições de salário e oportunidades de emprego a milhões de brasileiros. Nos últimos anos, o cenário apresenta uma tendência de redução da pobreza. Considerando o poder de compra em regiões urbanas como parâmetro, 72% da população economicamente ativa são considerados como pertencentes às classes alta e média. Ainda assim, a situação das crianças e adolescentes brasileiros ainda é muito crítica. Em 2006, cerca de 30 14 milhões de crianças e adolescentes (44,7%) , encontravam-se em situação de pobreza, vivendo com uma renda familiar per capita de meio salário-mínimo e 18,5%, com ¼ do salário-mínimo. Mesmo sendo a 10ª maior economia mundial, o Brasil ocupa a 8ª posição no ranking dos países com o maior 15 índice de desigualdade social do mundo . Os benefícios do desenvolvimento econômico não chegam à grande parte da população. Há profundas desigualdades étnicas, regionais e de gênero. A desigualdade entre as classes sociais no país impacta fortemente a paisagem urbana. A classe dominante é basicamente branca, com alto poder aquisitivo, formada por autônomos de renda alta, empresários e industriais, descendentes de famílias tradicionais e ricas. As classes mais oprimidas são formadas majoritariamente por negros, com baixo poder aquisitivo e baixa qualidade de vida, que povoam as favelas do país, principalmente, em função do êxodo rural. Diante das especificidades regionais, o CSP Brasil desenvolveu análises profundas entre urbano e rural para oferecer múltiplas possibilidades na execução de projetos sociais focados no desenvolvimento comunitário, considerando as prioridades locais de 16 cada contexto . Sistema político O Brasil é uma república federal presidencialista, de regime democrático-representativo e pluripartidário. O sistema federativo é constituído pela União, Estados e Municípios. O Estado brasileiro é dividido em três esferas de poder: Executivo (Presidente da República e governadores dos estados), Legislativo (Senado, Câmara dos Deputados Federais, Assembléias Legislativas Estaduais e Câmaras Municipais) e Judiciário (em última instância, representada pelo Supremo Tribunal Federal). Por viver em uma democracia representativa, o povo brasieliro elege os representantes dos poderes executivo e legislativo por meio do voto direto. A população também exerce sua participação político- cidadã por meio de plebiscitos, referendos e instrumentos legislativos populares. Mas desafios como a redução da corrupcão, a existência do patrimonialismo (o controle da “coisa” pública por meio de uma lógica privada em detrimento do interesse público) e a herança paternalista ainda precisam ser enfrentados. Ações como a campanha nacional Ficha Limpa (contra a candidatura de políticos em débito com a justiça) e o Portal Transparência (canal de comunicação pelo qual o cidadão pode acompanhar a execução financeira dos programas de governo) são algumas medidas em favor 13 3 Contexto do país Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
  • 14. 14 da legitimidade democrática. O exercício da cidadania e a participação social na vida pública são fundamentais para a mudança do quadro político-social do país. Embora a estrutura democrática favoreça a abertura para a maior participação em temas de interesse público, a efetividade da participação no Brasil é prejudicada pela educação de baixa qualidade e pelo pouco conhecimento sobre os direitos constitucionais e sobre os espaços de participação. Portanto, estimular a participação social nos p r o c e s s o s d e p l a n e j a m e n t o , e x e c u ç ã o , monitoramento e avaliação de políticas públicas é indispensável para a qualidade dos serviços públicos prestados nos municípios. Para participar desses processos, o cidadão pode aderir a organizações e lideranças locais, vinculadas a grêmios escolares, associações de bairro, grupos religiosos, sindicatos, secretarias municipais de saúde, educação e assistência, dentre outras organizações da sociedade civil. Dinâmicas de poder, inclusão e exclusão 3.4 Embora a Constituição garanta direitos iguais, a desigualdade social no Brasil se revela de diversas formas. A ineficiência do acesso e a qualidade dos serviços de saúde, educação e habitação, o desequilíbrio da distribuição de renda e de terras, o mercado de trabalho e as altas taxas de desemprego, a discriminação racial, a representatividade política e até características culturais, como o machismo, tudo são fatores contrários ao livre exercício da cidadania, promovendo a desigualdade. Este cenário coloca o Brasil na condição de um dos países mais desiguais do mundo, embora tenha obtido, nos últimos anos, o crescimento expressivo da produção agrícola, industrial e do setor de comércio e serviços. Com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), a própria Constituição Brasileira de 1988 adotou o princípio do universalismo para as ações de saúde, a descentralização municipalizante e um novo formato organizativo para os serviços, sob a lógica da integralidade, da regionalização e da hierarquização. Além disso, as ações preventivas e curativas passaram a ser de responsabilidade dos gestores públicos. Na década de 90, o país atravessava um período de incertezas em sua política econômica (só controlada a partir de 1994, por meio de um novo plano de estabilização), com graves desajustes em suas finanças públicas e oscilações nas taxas de crescimento. A proposta de ajuste fiscal adotada pelo Brasil repercutiu negativamente no financiamento destinado à saúde, devido à queda dos investimentos no início da década de 90. Somente em 1995 e 1996 o setor de saúde voltou a merecer a atenção governamental. Do ponto de vista demográfico, o país atravessava um período de mudanças radicais, com o declínio do crescimento populacional e da taxa de fecundidade. A tendência detectada nas décadas subsequentes foi de crescimento nulo, ou até negativo, para as faixas etárias mais jovens e de idade adulta. Somente o grupo terceira idade registrou crescimento. Esse novo perfil incidiu de forma bastante aguda na saúde, considerando que se trata 17 das faixas etárias cujos custos são os maiores . Uma das medidas adotadas no Brasil rumo a melhorias para o sistema de saúde ocorreu em 1991, com a criação do Programa de Saúde da Família. O Programa possibilita a assistência no domicílio dos pacientes, abrangendo atendimento, prevenção e tratamentos de saúde bucal, diabetes, redução da mortalidade materna e 18 infantil, tuberculose, dentre outros . Com tantos desafios demográficos e estruturais, a população de aproximadamente 190 milhões de habitantes sofre com a precariedade e a falta de priorização na destinação de recursos públicos para a saúde. Parte da população é forçada a pagar para obter serviços de saúde na rede privada, mas a parcela pobre da população não tem a quem recorrer. A dependência exclusiva dos órgãos públicos de saúde do país, que se encontrava em situações precárias, como falta de médicos, de equipamentos e de infraestrutura agravava a situação dos menos favorecidos. A partir da Constituição Federal de 1988, alterada pela emenda constitucional n. 14, de 1996, o ensino fundamental gratuito com duração de oito anos, obrigatório para crianças entre 7 e 14 anos de idade, foi considerado explicitamente direito público subjetivo. Com essa mudança constitucional, os governantes passaram a ficar passíveis de ser responsabilizados judicialmente, caso não viessem a oferecer o ensino ou o fizessem irregularmente. A Carta de 1988 e sua alteração pela emenda determinam que o direito à educação abranja a garantia não só do acesso e da permanência no ensino fundamental, mas também a garantia de padrão de qualidade como um dos princípios segundo o qual se estruturará o ensino (inciso VII do artigo 206). Apesar de ter dado passos rumo ao acesso à Educação para todos, milhares crianças sofrem com a falta de acesso a creches e milhares de crianças sofram com péssimas condições de infraestrutura das escolas. Atualmente os maiores desafios do país na área da educação, responsáveis pela má qualidade no sistema de ensino, são a formação insuficiente e a falta de valorização dos professores. Na educação infantil, a taxa de professores não habilitados no ensino médio mínimo exigido pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 3 Contexto do país Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
  • 15. era de 14,4%, em 2006. Nas primeiras séries do ensino fundamental, 47,3% dos professores não possuíam curso superior e dos que lecionam nas últimas séries, o 19,6% não possuíam. No ensino médio, 11,7% não possuem habilitação. A proporção de professores sem licenciatura requisito mínimo exigido pela legislação - atinge só 11,7%. Especialmente grave é o déficit de professores habilitados nas disciplinas de Matemática e de Ciências. Em Matemática, somente 20,4% têm habilitação específica; em Biologia, esse percentual é de 44,4%; em Química, 22,2% e em Física, os habilitados somam apenas 10%. A dificuldade no recrutamento de professores licenciados nessas áreas é generalizada em todo o país. A situação está associada à desvalorização da profissão docente. Mesmo a remuneração da hora-aula sendo mais elevada que nos outros níveis da educação básica (R$10,20), a carreira de magistério no ensino médio parece não ser suficientemente atrativa, quando os jovens fazem a escolha profissional ao se dirigirem ao ensino superior. Por essa razão, os últimos levantamentos têm demonstrado uma redução no 19 quantitativo de licenciados . De acordo com os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Aluno (PISA), realizado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), os alunos brasileiros obtiveram em 2006 médias que os colocam na 53ª posição em Matemática (entre 57 países) e na 48ª em leitura (entre 56). A repetência e a e v a s ã o e s c o l a r t a m b é m p r e j u d i c a m o desenvolvimento educacional dos brasileiros, principalmente de adolescentes e jovens. O artigo 227 da Constituição Brasileira de 1988 favoreceu a mudança de paradigma no trato com crianças e adolescentes brasileiros, ao definir que: “ É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. A partir dessa mudança constitucional, denominada Doutrina de Proteção Integral, em 1990 foi criado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Porém, a situação infanto-juvenil antes do Estatuto da Criança e do Adolescente era fundamentada no Código de Menores, criado em 1927, com o objetivo principal de cuidar das questões de higiene, da infância e da delinquência. O Código estabelecia a vigilância pública sobre a infância e a vigilância sobre a amamentação, os expostos, os abandonados, os maltratados (podendo, inclusive, retirar o Pátrio Poder). De acordo com o Código, as crianças e os adolescentes, ou seja, o "menor" em estado de abandono ou na prática de delinquência era considerado em situação irregular, ou seja, incapaz de se adaptar à vida da cidade. A partir daí, ocorre um fenômeno extremamente importante: os "menores" em situação irregular passam a ser identificados por um rosto muito concreto: são os filhos das famílias empobrecidas geralmente negros ou mulatos provenientes do interior e das periferias. Ao chamar a criança pobre, abandonada ou em conflito com a lei de “menor”, o Código de Menores legalizou a discriminação social. Com isso, convencionou-se a se referir aos filhos dos pobres como menores e aos dos ricos como crianças. Assim, a palavra "menor" deixa de ser um termo técnico e se transforma numa expressão social, utilizada para fazer menção a um segmento da população infanto-juvenil. Se a criança fosse maior de 16 anos e menor de 18 anos, caso cometesse algum crime, iria para uma prisão de adultos e caberia ao juiz buscar a regeneração. Pelo Código, caberia ao Juiz de Menores, na posição de autoridade máxima nessa área, decidir os interesses do "menor", destinando a criança à adoção, à internação ou punindo dos pais. O juiz tinha uma ação policialesca de pôr tudo em ordem. No Código de Menores, criança só tinha direito, quando era considerada em risco ou 20 em situação de doença social . Elaborado por um processo de participação social e com base na Doutrina de Proteção Integral, o ECA contribuiu sem dúvida para que a lei se constituísse realmente como um novo paradigma dos direitos da criança e do adolescente, diferentemente do Código de Menores. O ECA trata a temática infanto-juvenil sob vários aspectos, contemplando Políticas sociais básicas, Políticas de assistência, Proteção especial e Garantia e defesa de direitos. Portanto, o ECA acrescentou novos conteúdos ao conjunto de direitos da infância e da adolescência, no campo dos direitos coletivos, sociais, econômicos e culturais. O Estatuto busca a superação do assistencialismo e do clientelismo, reconhece a situação do adolescente em conflito com a lei - definindo medidas que deverão ser adotadas - e especifica quais são as garantias individuais e coletivas para esse problema, impondo inclusive os deveres. Embora o Brasil seja pioneiro na criação de um Estatuto focado nas garantias dos direitos da criança; embora o país possua espaços para a participação da sociedade civil em Conselhos de Direitos nos municípios e orçamento dedicado ao público infanto- juvenil, ainda há falhas no formato das audiências 15 3 Contexto do país Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
  • 16. públicas para viabilizar as intervenções da sociedade civil. A participação de crianças e adolescentes no processo de discussão orçamentária ainda é pequena, respeitando a condição peculiar de pessoa em 21 desenvolvimento . Crianças, adolescentes e jovens são os mais vulneráveis na convivência com o sistema excludente. No país, aproximadamente 50% da população infantil, ou seja, cerca de 30 milhões de crianças e adolescentes de até 17 anos, estão em situação de pobreza. Desse total, cerca de 11,5 milhões têm até 6 22 anos de idade . As crianças que mais sofrem com a exclusão são meninas, negras, que moram em regiões rurais. A Constituição Brasileira e o ECA são tentativas para garantir os direitos das crianças. Entretanto essa garantia fica a desejar e pode ser diagnosticada pelos 23 seguintes problemas : a) Direito à vida e à saúde: alta mortalidade infantil e materna, baixa saúde reprodutiva e sexual, desnutrição, falta de acesso à água potável e ao saneamento, degradação ambiental. b) Direito à liberdade: falta de respeito e dignidade, abuso e violência contra as crianças, violência na sociedade, falta de oportunidades de participação e expressão e estruturas democráticas enfraquecidas. c) Direito à educação, cultura, esportes e recreação: difícil acesso e má qualidade da rede de assistência e de educação infantil básica, educação primária deficiente e poucas oportunidades de cultura, esportes e recreação. d) Direito de viver com sua família e em comunidade: proteção desigual da criança e estruturas de proteção do Estado frágeis. e) Direito de adquirir habilidades profissionais: atuarem em um ambiente profissional inseguro e incompatível com a idade adequada para o trabalho, a falta de proteção contra a evasão escolar e contra o trabalho infantil. Desigualdade de Renda No período 2003-2008 houve um processo significativo de mobilidade social ascendente, reduzindo a situação de pobreza do país de 35% para 24,1%. O objeto de estudos foram famílias com renda mensal per capita de até meio salário-mínimo (R$ 207,50). Houve também a redução da condição de indigência (renda de até R$ 103,75) de 13,7% para 6,6% (quase três milhões saíram dessa condição). Segundo dados do UNICEF de 2008, 44,7% das crianças e adolescentes 24 com idade de até 17 anos (quase 30 milhões) viviam com uma renda familiar per capita de meio salário- mínimo e 18,5%, com uma renda de ¼ de salário- mínimo. Desigualdades Étnicas O Brasil possui uma riquíssima diversidade étnico- racial e linguística. Os brasileiros indígenas somam cerca de 400 mil pessoas, pertencentes a 225 etnias e falando 180 diferentes línguas. Os brasileiros afrodescendentes constituem a segunda maior população negra do mundo: são 87,3 milhões de pessoas, correspondendo a 48% dos habitantes do 25 país . Mesmo com esse grande contingente, o preconceito racial é uma forma de exclusão social bastante comum no Brasil, principalmente em relação aos negros. Os antecedentes históricos escravistas levaram a um processo social em que a pessoa negra é discriminada e privada dos direitos mais elementares. Atualmente a desigualdade e a exclusão fazem com que as crianças negras brasileiras sofram na pele essas consequências. As crianças negras têm quase 70% mais chance de viver na pobreza do que as brancas. Dentre os 2,7 milhões de crianças que sofrem com a 26 exploração do trabalho infantil no Brasil , as maiores vítimas são meninos negros nordestinos. A taxa de homicídio entre os jovens pretos e pardos no país é duas vezes maior que a entre os jovens brancos. As diferenças entre negros e brancos se estendem também para o acesso ao mercado de trabalho e à educação. A população negra é a mais pobre do país. Desigualdade de Gênero A situação da mulher brasileira não escapa ao sistema machista e excludente. Por uma questão histórica já descrita, instituições como Família, Escola e Estado reafirmaram, ao longo do tempo, o papel da mulher como "rainha do lar", restringindo seu espaço de socialização ao âmbito privado. Mesmo diante de modificações sociais, como o processo de industrialização do país, o êxodo rural e as transformações culturais da década de setenta, a situação das mulheres permanece marcada pela desigualdade em relação aos homens. Dessa maneira, a discriminação sexual na sociedade brasileira fica fortalecida, possibilitando a existência de uma relação de poder desequilibrada, em que as mulheres ainda se encontram em desvantagem. As mulheres brasileiras possuem mais escolaridade que os homens. Entretanto elas recebem salários menores em todas as posições do mercado de trabalho. Na categoria de trabalhador doméstico, destaca-se o grande contingente de meninas entre 10 e 15 anos de idade: 136 mil, apenas pelos dados 27 notificados . Submissas a condições de trabalho degradantes, essas meninas, majoritariamente de cor 16 3 Contexto do país Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
  • 17. parda ou negra, são extremamente vulneráveis a situações de abuso e exploração sexual. Gênero, pobreza e violência As meninas brasileiras são extremamente vulneráveis à violência sexual. O Brasil possui 10,4 milhões de 28 meninas na faixa etária de 12 a 17 anos . Desse total, cerca de três milhões encontram-se em situação de extrema pobreza. Segundo estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT), cerca de 100 mil crianças e adolescentes são exploradas sexualmente no Brasil - quase todas do sexo feminino. No segundo semestre de 2005, 28 mil crianças foram atendidas em 314 municípios pelo Serviço de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Do total, três vezes mais meninas do que meninos foram vítimas de abuso sexual e dez vezes mais meninas do que meninos foram vítimas de exploração sexual. 29 De acordo com as consultas comunitárias realizadas nas áreas de atuação do Fundo Cristão para Crianças, ficou evidenciada a importância das mulheres c u i d a d o r a s e r e s p o n s á v e i s d i r e t a s p e l o d e s e n v o l v i m e n t o d a s c r i a n ç a s . M i g r a n d o principalmente de regiões rurais, milhares de homens deixam suas famílias à procura de trabalho. Alguns retornam em períodos sazonais, porém outros nunca mais são vistos pelas mulheres e crianças. Com essa situação, torna-se fundamental desenvolver o potencial da mulher para o desenvolvimento comunitário local e para o desenvolvimento e proteção de crianças e adolescentes. Mobilização e inclusão social Os movimentos de reivindicações para uma sociedade igualitária começaram a ganhar força no Brasil na segunda metade do século XX. Na década de 50, as ligas camponesas ganharam destaque. Como representavam uma ameaça à ordem nacional, acabaram sendo exterminadas pelo Governo. Isso criou um clima desfavorável ao processo democrático e foi uma das causas do golpe militar de 1964. A partir da segunda metade da década de 70, os movimentos sociais propuseram ao Estado que permitisse a participação popular na administração pública. A iniciativa se tornou um contraponto ao regime militar. Já na década de 90, houve uma generalização do discurso da “participação” dos mais diversos atores na sociedade civil e no Estado. O movimento reivindicou e apoiou a democracia participativa, o controle social sobre o Estado e as parcerias entre o Estado e a sociedade civil. Por atuar diretamente na “base”, ou seja, diretamente nas comunidades excluídas, as organizações não governamentais brasileiras exerceram papel importante no processo de articulação e mobilização social em prol do exercício da cidadania com outros atores da sociedade. 30 O Brasil e os Objetivos do Milênio (ODM) ODM 1 Erradicar a extrema pobreza e a fome - O Brasil já ultrapassou a meta de reduzir pela metade a proporção da população que vive com renda inferior a um dólar per capita por dia. Em 1990, 8,8% dos brasileiros viviam na pobreza extrema; em 2005, o percentual caiu para 4,2%, o que representa um resultado superior ao estabelecido pela ONU. ODM 2 Atingir o ensino básico universal - O Brasil universalizou o acesso à educação e reduziu as desigualdades. O desafio agora é garantir que as crianças concluam o ensino fundamental. Atualmente 97,6% das crianças com idade de 7 a 14 anos estão na escola. Das 660 mil crianças que estão fora da escola, 450 mil são negras. Nas regiões mais pobres, como o Norte e o Nordeste, somente 40% das crianças concluem o ensino fundamental. Nas regiões mais desenvolvidas, como o Sul e o Sudeste, essa proporção 31 é de 70% . ODM 3 Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres - O Relatório de Acompanhamento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio indica que o foco da meta do ODM 3 não é compatível com a realidade brasileira. ODM 4 Reduzir a mortalidade infantil - Uma avaliação do desempenho de 60 países em desenvolvimento indicou que o Brasil está entre os sete que têm condições de atingir a meta do ODM 4. Contudo, as disparidades continuam: as crianças pobres têm mais do que o dobro de chance de morrer, se comparadas com as ricas. As crianças negras têm 50% a mais de chance de morrer, se comparadas com as brancas. ODM 5 Melhorar a saúde materna - O número de mortes maternas caiu, mas a subnotificação ainda é muito elevada. Essa redução de 12,7% deve ser vista com cautela, pois há evidências de que o evento é subnotificado no país, o que prejudica a informação e o mapeamento dos óbitos, especialmente nas regiões menos desenvolvidas. Em 2005, as causas obstétricas diretas, incluindo o aborto, provocaram 73,6% dos óbitos maternos no país. ODM 6 Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças - A proporção de brasileiros com HIV 17 3 Contexto do país Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
  • 18. permanece estável, desde o ano 2000. A resposta brasileira à doença é reconhecida como uma das melhores do mundo, mas permanecem grandes desafios: o número de casos de AIDS entre os negros e entre as mulheres continua a crescer num ritmo muito mais acelerado do que entre os brancos e entre os homens. Além disso, a epidemia afeta cada vez mais os jovens. ODM 7 Garantir a sustentabilidade ambiental - As áreas protegidas cresceram e o desmatamento da Amazônia voltou a cair, após sete anos. Entretanto a dimensão da problemática ambiental em nível nacional e global aponta para o não cumprimento desta meta. ODM 8 Estabelecer uma Parceria Mundial para o Desenvolvimento - A principal ideia que fundamenta este objetivo é o estabelecimento de uma rede global de cooperação que potencialize os esforços em busca dos ODM. Nesse contexto, o Brasil assume dois papéis distintos: ser um país em desenvolvimento com desigualdades e assimetrias sociais e econômicas ainda a serem superadas; ser líder na geração de conhecimentos, possibilitando o apoio a outras nações. O Governo brasileiro tem atuado em ambos os papéis, seja cobrando dos países ricos maior contribuição ao desenvolvimento, seja colaborando com as nações pobres por meio de cooperação técnica, científica e tecnológica, participando de missões de paz e provendo assistência em situações de calamidades. Políticas públicas de participação e de enfrentamento da Pobreza - Atualmente a mobilização social é respaldada por diversas leis brasileiras: Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e Norma Operacional Básica/Sistema Único de Assistência Social (NOB/SUAS). Dentre os mecanismos de participação conquistados, destacam-se os Conselhos Gestores de Políticas Públicas, o dispositivo de Iniciativa Popular de Lei, as Audiências Públicas, o Referendum, o Plebiscito e o próprio fato de estar expresso textualmente na Constituição que “todo poder emana do povo, podendo ser exercido direta ou indiretamente por seus representantes”. Nos últimos oito anos, o governo brasileiro avançou substancialmente na luta contra a pobreza. A estratégia de enfrentamento se concentra prioritarioamente no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), no Ministério da Educação e Cultura (MEC), no Ministério da Saúde (MS). A principal ação governamental de enfrentamento da pobreza é o Programa Bolsa Família, que completou sete anos de existência. O Bolsa Família beneficia 12,4 milhões de famílias. Criado em 2003, com a unificação dos programas de transferência de renda existentes, o programa ampliou os benefícios e investiu R$ 54,9 bilhões no atendimento de famílias pobres. A estratégia do programa é garantir uma renda mensal mínima para as famílias, condicionada à apresentação de contrapartidas exigidas pelo Governo: as famílias devem manter os filhos na escola e garantir que eles tenham o acompanhamento nos postos de sáude. Mais de 15,5 milhões de crianças e 2 milhões de jovens têm frequência escolar acompanhada e 9,8 milhões de famílias têm acesso a saúde monitorada. O Bolsa Família não é um programa isolado. Seus resultados estão relacionados também com o trabalho integrado com outras políticas. Ele se articula na assistência social, por exemplo, com o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que paga um salário- mínimo a idosos e pessoas com deficiência com renda pessoal mensal inferior a ¼ do salário-mínimo (R$ 127,50). O BPC é um programa com recursos superiores ao Bolsa Família R$ 22,3 bilhões previstos em 2010. Ao mesmo tempo, ambos os programas estão articulados com o Programa de Atenção Integral às Famílias (PAIF), que se materializa nos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), localizados nas regiões mais pobres das cidades, justamente onde está a maioria dos beneficiários do Bolsa Família. Os Centros de Referência Especial da Assistência Social (CREAS) dão atendimento a casos de trabalho infantil, por meio do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) Os CREAS trabalham também com casos extremos de exploração e violência sexual contra crianças e adolescentes, por meio do programa Sentinela. O papel do Bolsa Família na segurança alimentar das famílias atendidas recebe reforço de outros programas da área, como o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA) e também de equipamentos que facilitam o acesso a alimentos de qualidade, como Restaurantes Populares, Bancos de Alimentos, Feiras e Mercados Populares, dentre outros. A concentração de ações no plano do programa Bolsa Família é um avanço, embora não responda a toda a demanda de assistência social. A junção das ações de combate à pobreza, no plano mais imediato com a atuação mais estrutural nas áreas da Educação e da Saúde, é um grande desafio. Outro desafio para o programa é fazer com que os benefícios cheguem à parcela mais necessitada da população. Embora a concessão de benefícios diretos apoiem milhares de famílias em situação de pobreza, tais iniciativas geram uma barreira à ruptura da cultura assistencialista no país. 18 3 Contexto do país Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
  • 19. Portanto, organizações sociais desempenham papel importante, ao conscientizar e mobilizar as famílias excluídas para o exercício da cidadania. Esse movimento concorre para que as famílias busquem o fortalecimento do Sistema de Garantia de Direitos, principalmente em relação a crianças e adolescentes, conforme prevê o artigo 227 da Constituição brasileira: “ É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. 19 3 Contexto do país 3 Dados: IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Síntese dos Indicadores Sociais 2009, PNAD-IBGE 2007 e Site UNICEF 4 Entre o combate à seca e a convivência com o semiárido: Transições paradigmáticas e sustentabilidade do desenvolvimento, 2006 - Roberto Marinho Alves da Silva e IBGE PNAD 2007. 5 Dados de 2004 ANDI - www.andi.org.br/noticias/templates/boletins/template_radiopi.a sp?articleid=4370&zoneid=25 6 IBGE Censo Demográfico 2000 7 Revista Libertas On-Line Revista do Programa de Pós-graduação em Serviço Social Volume 2-Ano 2 Julho 2008 - http://www.ufjf.br/revistalibertas/files/2010/01/artigo04_5.pdf 8 Artigo: Bioética, solidariedade, voluntariado e saúde coletiva: notas para discussão Autoras: Lucilda Selli Volnei Garrafa; Stela Nazareth Meneghel Site: http://www.portalmedico.org.br/revista/bio13v1/simposios/simp osio04.htm 9 Por uma Sociedade Digital: Informação e Desenvolvimento - Trabalho apresentado ao VI Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação VI Enancib (GT 3: Mediação, Circulação e Uso da informação) Florianópolis, Santa Catarina, 2005 10 The World Factbook CIA - Disponível em https://www.cia.gov/library/publications/the-world- factbook/geos/br.html Acesso em 16 de março de 2010. 11 Site Valor Econômico (Pesquisa realizada em Maio 2010) www.valoronline.com.br/?online/fazenda/21/6181923/carga- tributaria-fica-em-33,8%-do-pib-no-ano 12 IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) 2010. 13 IBGE 2008 14 IBGE 2008 15 PNAD-IBGE 2007 e Relatório Situação Mundial da Infância 2008 Caderno Brasil UNICEF 16 The World Factbook CIA - Disponível em https://www.cia.gov/library/publications/the-world- factbook/geos/br.html - Acesso em: 16 mar 2010 17 Ver Plano de Transição Fundo Cristão para Crianças 2010 18 Resumo: A reforma do Sistema de Saúde no Brasil e o Programa Saúde da Família PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 15 (Suplemento):225- 264, 2005 Http://dab.saude.gov.br/docs/publicacoes/informes/psfinfo21.p df 19 Relatório Preliminar Subsídios para a Construção do Relatório Alternativo da Sociedade Civil ao Comitê dos Direitos das Crianças das Nações Unidas 2009 e Avaliação das Metas de Dacar (2000) 20 Revista Tipiti - Revista eletrônica das entidades do Maranhão Nº 09 Matérias publicadas em novembro de 2004 - Fonte: www.revistatipiti.com.br 21 Fórum Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Novembro 2009. 22 UNICEF - Relatório Situação Mundial da Infância 2008 Caderno Brasil 23 Ver documento: Manifestações da Pobreza Infantil, Abril 2010 Fundo Cristão para Crianças 24 Indicadores Sociais IBGE 2009 e Relatório Situação Mundial da Infância 2008 Caderno Brasil UNICEF 25 Site UNICEF (Pesquisa realizada em Março 2010) 26 Indicadores Sociais IBGE 2009 e Relatório Situação Mundial da Infância 2008 Caderno Brasil UNICEF 27 Organização Internacional do Trabalho 28 PNAD/IBGE 2006 29 Ver Planejamento Estratégico de Área - Alto Vale do Jequitinhonha (MG) e Cariri (CE) - 2009 30 Site PNUD Brasil 2010 31 Http://www.unicef.org/brazil/pt/activities.html Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
  • 21. 4 Manifestações da pobreza infantil 21 De acordo com dados do PNAD-IBGE 2007, o Brasil tem 60 milhões de crianças e adolescentes, sendo que aproximadamente 30 milhões, cerca de 50%, vivem 32 em situação de pobreza . Para analisar a situação da pobreza infantil do Brasil, o Fundo Cristão para Crianças recorreu ao cruzamento e à classificação de informações, obtidas por meio de consultas comunitárias e levantamentos de dados nacionais fornecidos por fontes de referência: IBGE, IPEA, PNUD, UNICEF e UNESCO, dentre outras. A classificação das informações foi orientada pela estratégia global do ChildFund. Foram consideradas as situações de privação, exclusão e vulnerabilidade das crianças brasileiras confrontadas com os direitos garantidos pela Constituição Federal do país e pelo ECA. A análise das manifestações da pobreza infantil aponta para os principais problemas e direciona para possíveis soluções dentro do marco legal e dentro de estratégias de incidência em políticas públicas. Problemas e evidências da pobreza infantil 4.1 Para identificar e definir os principais problemas ligados à pobreza infantil, foram realizadas análises 33 consistentes na Matriz PEV elaborada com dados nacionais sobre a situação de exclusão, privação e vulnerabilidade de crianças, adolescentes e jovens brasileiros. Os dados foram distribuídos na matriz por ciclo de vida e pelos direitos contemplados no ECA. A mesma estrutura de informações (PEV, Ciclos de Vida e Direitos) foi agregada à metodologia “Árvore de 34 Problemas” para descrever as raízes e os efeitos da pobreza infantil, apontados pelos dados nacionais e pelas próprias crianças, adolescentes, jovens e famílias que participaram das consultas comunitárias. A estrutura de identificação de problemas por ciclos de vida esclarece os principais problemas relacionados com os responsáveis pelo Sistema de Garantia de Direitos. 1) Bebês malcuidados e ameaçados  Acidentes e agressões são a principal causa de morte de crianças com idade de 1 a 6 anos no Brasil, respondendo por quase um quarto dos 35 óbitos . Ÿ Das três milhões de crianças que completaram um ano de idade em 2005, 370 mil não possuíam 36 registro de nascimento ; foram privadas do direito a uma identidade. Ÿ Das 11 milhões de crianças menores de três anos, mais de 80% não frequentam creches. Uma em cada quatro crianças com idade de 4 a 6 anos está fora da escola. 64% das crianças pobres não vão à 37 escola durante a primeira infância . Ÿ No Nordeste, a prevalência de crianças menores de 2 anos desnutridas é quatro vezes maior do que na região Sul. Existe um milhão de crianças com déficit de peso. No semiárido, a desnutrição infantil incide em mais de um terço dos 38 municípios . De acordo com dados do IBGE obtidos em 2009, embora a mortalidade infantil tenha reduzido em 30% nos últimos 10 anos, o país ainda precisa reduzir esse indicador. A ocorrência da mortalidade infantil se deve à desigualdade entre regiões, grupos sociais e à precariedade na atenção à mãe e ao recém-nascido. 2) Crianças com baixo desempenho escolar e baixa autoestima Ÿ No Brasil, três milhões de meninas de 10 a 17 anos de idade se encontram em situação de extrema pobreza. Nas regiões mais pobres, somente 40% das crianças concluem o ensino fundamental. De cada 100 estudantes que entram no ensino fundamental, apenas 59 concluem a 8ª série e 39 somente 40, o ensino médio . Ÿ No Brasil, a violência na escola tem maior incidência entre os adolescentes na faixa etária de 40 11 a 15 anos . A evasão escolar e a falta às aulas ocorrem por diferentes razões, incluindo violência e gravidez na adolescência. Ÿ 41% das crianças brasileiras com idade entre 10 e 12 anos já consumiram bebida alcoólica e 10% dos jovens de 12 a 17 anos podem ser classificados como dependentes de álcool. Meninas entre 10 e 18 anos (66,3%) consomem mais álcool que os meninos. A faixa etária de 7 a 14 anos é a mais 41 vulnerável, em relação à violência familiar . Ÿ No Brasil quase três milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 16 anos de idade trabalham. Isso significa que 10% de todas as crianças brasileiras estão trabalhando ilegalmente. Meninos de 10 a 15 anos de idade apresentaram uma taxa que é o dobro da das meninas (12,6% e 6,4%), em função da entrada precoce no mercado 42 de trabalho . 3) Juventude em risco social e pouco participativa Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
  • 22. 4 Manifestações da pobreza infantil 22  O Brasil tem 34 milhões de habitantes com idade entre 15 e 24 anos. Essa faixa etária apresenta os piores índices de desemprego, evasão escolar, falta de formação profissional, mortes por homicídio, 43 envolvimento com drogas e com a criminalidade . Ÿ 13% dos jovens de 18 a 24 anos frequentavam o ensino superior em 2007, sendo 70% destes, brancos. De acordo com o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), 33 mil adolescentes com idade entre 12 e 18 anos devem ser assassinados entre 2006 e 2012. A estimativa é de que 13 jovens morram diariamente no país. Jovens que não realizam funções remuneradas e não estudam formam o grupo mais suscetível a ser vítima da v i o l ê n c i a . Ta i s h o m i c í d i o s a f e t a m desproporcionalmente os meninos negros das 44 famílias pobres das áreas urbanas . 4) Famílias pouco protetoras e organizações despreparadas para promoção e defesa dos direitos das crianças, adolescente e jovens Ÿ Dados apontam que 96% dos casos de violência física e 64% dos casos de abuso sexual contra crianças de até seis anos sejam cometidos por familiares. Três entre dez crianças de zero a 12 anos sofrem diariamente algum tipo de violência dentro da própria casa. A combinação de violência e acidentes constitui a primeira causa de 45 mortalidade no Brasil . Ÿ Mais de cinco milhões de famílias com crianças de até 6 anos no Norte e Nordeste do país estão em situação vulnerável, quanto à renda. A proporção de famílias chefiadas por mulheres passou de 46 19,7% em 1993 para 28,8% em 2006 . Ÿ De acordo com Censo IBGE de 2000, 54,6% dos domicílios rurais de crianças e adolescentes brasileiros de zero a 17 anos não possuíam abastecimento de água no domicílio e 49,1% não tinham nenhum saneamento. Esses percentuais caem para 6,8% e 10,1%, respectivamente, nos domicílios urbanos. As comunidades de atuação do Fundo Cristão para Crianças demonstram preocupante fragilidade dos vínculos familiares e comunitários. Os moradores se dividem em pequenos grupos, com interesses próprios, buscam a satisfação das necessidades de seu grupo, realizando assim ações fragmentadas. Como consequência, as comunidades estão desarticuladas e seus membros trabalham de forma individualizada em busca de benefícios particulares. Não há participação cidadã. Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
  • 23. 4 Manifestações da pobreza infantil Privação As situações de privação de crianças e adolescentes no Brasil são diversificadas. O acesso ao saneamento básico e aos serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde ainda é insuficiente. A falta e o pouco acesso à renda familiar são agravados pelo desemprego e pela pouca qualificação profissional. Essa condição dificulta o acesso à alimentação adequada e compromete a segurança alimentar de milhares de crianças. Elas ainda sofrem com condições inadequadas de moradia e sobrevivência, nas periferias das regiões urbanas e em comunidades rurais distantes dos grandes centros. A educação infantil é apenada pela oferta irregular de creche e pré-escola, infraestrutura deficitária e desqualificação dos educadores infantis. Adolescentes e jovens também sofrem com o despreparo curricular e a desmotivação dos professores, em função do pouco investimento e da baixa valorização profissional. Mesmo existindo iniciativas governamentais para estimular o acesso à universidade, o curso superior ainda é um sonho, realidade distante para a maioria dos jovens brasileiros pobres, pois muitos sequer completam o ensino médio, pela situação de repetência, evasão escolar e analfabetismo a que são acometidos. A pouca participação sociopolítica de jovens, mulheres e famílias é enfraquecida pelos poucos espaços de reivindicação, desconhecimento dos direitos constitucionais e de políticas públicas. Essa situação é agregada à cultura assistencialista e à pouca cooperação entre organizações locais para a mobilização social. O pouco envolvimento da sociedade em defesa e proteção dos direitos das crianças e adolescentes também contribui para a perenidade do sistema de privação no país. “Para ir pra escola, minha filha caminha três horas, e quando alguém fica doente, só Deus mesmo”. Mulher- Comunidade Covão (MG) “Fico triste com a falta de emprego para mulheres e de amanhecer sem trabalho” Mulher - Comunidade de Maria Nunes (MG) “Fico triste com a falta de merenda e a falta de capricho. A escola tá toda suja”. 12 anos Comunidade de Tombadouro (MG) “Temos muitos professores estressados. Também não tem livro. Eu gosto de ler”. 11 anos - Comunidade Vila Padre Cícero (CE) 23 5) Sociedade e poder público descumpridores de seu papel social A criação de Conselhos e Fóruns de Direitos são iniciativas do Estado e da sociedade para assegurar os direitos das crianças e adolescentes brasileiros. A fragilidade estrutural dos conselhos de direitos no Brasil dificulta a sustentação da política de atendimento a crianças e adolescentes em situação de risco. Tais fragilidades são evidenciadas por carência material, falta de apoio e de reconhecimento, baixa escolaridade e pouca experiência dos conselheiros. Esse quadro não confere legitimidade à participação social, ao controle das políticas públicas e à fiscalização direta do cumprimento dos direitos legalmente garantidos. Portanto, a mobilização e a participação social em torno das temáticas que envolvem os direitos de crianças e adolescentes precisam ser expandidas para os diversos espaços sociais. Assim elas poderão promover a formação de uma rede efetiva de serviços voltada para a garantia dos direitos infanto-juvenis. Análise: Privação, Exclusão e Vulnerabilidade (PEV) 4.2 Causas e manifestações da pobreza infantil no Brasil Para a realização da análise PEV, cerca de 1,8 mil pessoas foram consultadas e participaram do processo de identificação das causas e manifestações da pobreza infantil. Aproximadamente 85% das consultas foram realizadas com crianças, jovens e adolescentes para garantir que o processo viesse a obter a participação, a “voz da criança”. As metodologias utilizadas para o levantamento das principais causas da pobreza infantil no Brasil, além do levantamento de dados nacionais foram a árvore de problemas e a matriz sobre as principais causas e sentimentos vivenciados em três ambientes: família, escola e 47 comunidade . Em torno de 35 organizações conveniadas dos estados de Minas Gerais e Ceará participaram da consulta comunitária. Para alinhar a análise PEV ao marco legal do Brasil, a análise foi realizada sob a ótica da violação dos direitos de acordo com o ECA, a saber: Direito à Vida e à Saúde; Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade; Direito à Convivência Familiar e Comunitária; Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer; Direito à Profissionalização e Proteção no Trabalho. Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
  • 24. 4 Manifestações da pobreza infantil desnutrição, negligência e falta de segurança. Esses problemas são agravados por desestrutura familiar, ausência da mulher no lar em função do trabalho externo e abandono paterno, já que os pais buscam outras regiões à procura de oportunidades de trabalho. A principal causa de morte de crianças no Brasil é a violência, seja física, sexual ou psicológica. O ambiente familiar é um dos principais cenários de violência, principalmente a doméstica e o abuso sexual. Na escola, crianças, adolescentes e jovens tornam-se reféns da violência física e psicológica (bullying) entre os próprios alunos e, por vezes, pelos próprios professores. Os direitos das crianças são desrespeitados, e elas ficam desprotegidas, tornando-se vítimas da exploração sexual infantil, principalmente, as meninas. Milhares ainda se encontram escravizadas pelo trabalho infantil. São violações que comprometem a saúde física, psíquica e moral de sujeitos em processo de desenvolvimento. Violência e criminalidade andam de “mãos dadas no Brasil”. O alvo principal são crianças, adolescentes e jovens, que ficam extremamente vulneráveis à exposição, ao consumo e ao tráfico de drogas, além de se tornarem consumidores precoces de drogas lícitas, como álcool e cigarro. E o pior: o incentivo começa no próprio ambiente familiar. Além de colocar milhares de adolescentes em situação de privação de liberdade, a criminalidade também ceifa a vida de milhares de jovens no país. Adolescentes e jovens são particularmente vulneráveis à violação de seus direitos de saúde sexual e reprodutiva. As meninas ficam vulneráveis, privadas do direito de escolha em relação ao sexo - reflexo de uma cultura machista. O sexo ainda envolve coerção. Os jovens brasileiros são extremamente vulneráveis às doenças sexualmente transmissíveis, devido à sexualidade precoce. Em função da baixa renda e de poucas oportunidades de trabalho, muitas meninas são forçadas a comercializar o próprio corpo. O sexo torna-se a moeda de troca para a garantia de uma refeição, de um picolé ou de um biscoito. Muitas são incentivadas pelas próprias famílias a praticarem o comércio sexual. Esse contexto de vulnerabilidade de crianças, adolescentes e jovens brasileiros é reforçado pela falta de políticas públicas, pelos conflitos político- partidários, pela corrupção, pela pouca vigilância e pela falta de denúncia da sociedade de maus-tratos e de violação de direitos. Outro agravante é a falta de 24 Exclusão A exclusão social é vivenciada pelas crianças, adolescentes e jovens nos mais diferentes espaços sociais. O país possui reflexos culturais e comportamentais evidentes de exclusão, como a discriminação ocasionada por baixa renda, deficiência, racial e desigualdade de gênero, evidenciadas no mercado de trabalho, nas ocupações políticas e nas relações sociais. De acordo com as consultas comunitárias, as crianças sofrem com preconceitos e discriminação racial, principalmente no ambiente escolar. As crianças são vítimas da exclusão devido ao baixo desenvolvimento cultural, pois possuem pouco ou nenhum acesso a espaços e a bens culturais. As bibliotecas inexistem ou são precárias; os livros são insuficientes; o acesso à informação à comunicação e a espaços públicos para a prática de esporte e lazer inexiste. A própria estrutura de muitas comunidades urbanas sufoca esses espaços. Nas comunidades rurais, esses espaços são restritos a praças de igrejas e quadra das escolas, geralmente, também em condições precárias. A negação da cidadania enfrentada pelas crianças em situação de pobreza é revelada também no sistema educacional, ao serem excluídas da educação de boa qualidade - elemento fundamental para o desenvolvimento do país. As crianças negras, pobres, nordestinas e as mulheres são as principais vítimas do sistema excludente, que é fortalecido pela prevalência do individualismo ao coletivo e pela falta de políticas públicas inclusivas. “A professora não gosta de negros; ela bota a gente lá atrás”. 15 anos - Comunidade Inhaí (MG) “Fico triste com o preconceito racial e o desemprego na comunidade”. 16 anos - Comunidade Firmeza (CE) “Fico triste com a falta de união na comunidade”. 19 anos - Comunidade Datas Diamantina (MG) "Por falta de um grito se perde uma boiada... “Mulher - Comunidade de Muriti (CE) Vulnerabilidade Nos primeiros anos de vida, as crianças brasileiras em situação de pobreza são extremamente vulneráveis às situações de abuso e violência, insegurança alimentar, Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
  • 25. 4 Manifestações da pobreza infantil 25 conhecimento que a população demonstra em relação aos direitos, além da pouca mobilização social em torno do ECA. O quadro da pobreza infantil no Brasil revela um contexto desafiador. As propostas de desenvolvimento e redução das situações de privação, exclusão e vulnerabilidade de crianças, adolescentes e jovens devem considerar a complexidade e a interligação entre as causas da pobreza infanto-juvenil. Destacam- se a necessidade da garantia do direito à proteção, à educação e à participação, principalmente no ambiente familiar; o direito à qualidade do sistema educacional; e o envolvimento de uma sociedade conhecedora e defensora dos direitos da criança e do adolescente. “Fico triste quando minha mãe sai e me deixa sozinho” 6 anos Comunidade Covão (MG) “Meu pai abandonou a casa por causa da minha mãe” 7 anos - Comunidade Muriti (CE) “Se você não é respeitado em casa, imagina o resto" 17 anos - Comunidade Mão Torta (MG) “Eu bebo cerveja com minha mãe; eu gosto de beber” 6 anos Vila Padre Cícero (CE) “Aqui na comunidade tem homem estuprador: Cabelo do Cão. Eu tenho medo de brincar na rua” 9 anos Vila Padre Cícero (CE) “Fico triste quando os meninos me chamam de nome feio na escola”. 6 a 15 anos - Comunidade Inhaí A cor vermelha no desenho representa o sangue no corpo dos homens. 8 anos - Comunidade Vila Padre Cícero (CE) “Tem muitas meninas se prostituindo, mas se engravidam, elas recebem o apoio da família”. 18 anos - Comunidade Vila Padre Cícero Milagres (CE) “A juventude, na maioria das vezes, não tem perspectivas, ocorrendo o uso de drogas, álcool e gravidez precoce, bem como a comunidade não aceita a opinião dos jovens, excluindo-os”. 22 anos - Comunidade Estrela Barbalha (CE) 32 UNICEF - Situação da Infância Brasileira 2008 33 Ver Matriz PEV e Direitos do ECA Fundo Cristão para Crianças - 2010 34 Ver Árvore de Problemas por Ciclos de Vida e Direitos do ECA Fundo Cristão para Crianças 2010 35 UNICEF - Situação da Infância Brasileira 2006 36 Site UNICEF Pesquisa realizada em Março 2010 37 Site UNICEF Pesquisa realizada em Março 2010 38 Relatório Situação Mundial da Infância 2008 Caderno Brasil UNICEF 39 PNAD 2006 Site UNICEF Pesquisa realizada em Março 2010 40 Plan Internacional: Aprender Sem Medo 2010 41 I Levantamento Nacional sobre os padrões de consumo de álcool na população brasileira, realizado entre novembro de 2005 e abril de 2006. 42 PNAD 2006 43 IBGE 2009 44 Relatório Índice de Homicídios na Adolescência Análise Preliminar em 267 municípios brasileiros com mais de 100 mil Habitantes Observatório das Favelas/UNICEF/ Governo Federal Julho 2009 e Manifestações da Pobreza Infantil 2010 - Fundo Cristão para Crianças 45 Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar Comunitária Brasília, 2009: (FNDCA). Ver Manifestações da Pobreza Infantil Fundo Cristão para Crianças 2010 46 Relatório Situação Mundial da Infância 2008 Caderno Brasil UNICEF 47 Ver: Treinamento para Plano Estratégico de área Fundo Cristão para Crianças 2009 Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
  • 26. Avaliação da Capacidade Organizacional5
  • 27. 5 Avaliação da Capacidade Organizacional A Avaliação de Capacidade Organizacional enfoca elementos-chave, impactando diretamente a qualidade das atividades de programas e de apadrinhamento. Essa avaliação fornece informações importantes para ajustar o trabalho do Fundo Cristão para melhorar a vida das crianças, com sustentabilidade. O Fundo Cristão para Crianças e seus parceiros implantam tanto o apadrinhamento nacional quanto o internacional, no Brasil. 48 de serviço do Escritório Nacional 5.1 A avaliação da capacidade organizacional do Fundo Cristão para Crianças tem sido desenvolvida com o uso de metodologias participativas e de mobilização. Os instrumentos de mobilização são jogos, desenhos, filmes, avaliação conjunta e análise da organização como um todo. Para elevar nossa qualidade programática e de apadrinhamento, a equipe da organização responsável pelo processo de avaliação das capacidades organizacionais centrou-se nas capacidades de liderança, na adaptação às mudanças e nas capacidades administrativas e operacionais. Apesar de ter sido pouco divulgado, nos 44 anos de atuação no Brasil, o Fundo Cristão para Crianças conquistou um reconhecimento social significativo. Essa aprovação se deve, especialmente, à transparência na gestão financeira e na prestação de contas de suas atividades à sociedade. Outros pontos considerados positivos na avaliação da capacidade organizacional foram a identificação pessoal e o comprometimento dos funcionários com a missão organizacional; a liderança inovadora e engajada; as metodologias inovadoras em gestão; a mobilização de recursos e a busca contínua por melhorias. Para promover o aprimoramento das suas atividades, nos próximos meses o Fundo Cristão para Crianças assumirá o compromisso de desenvolver os pontos de melhorias e atender às seguintes necessidades contidas na avaliação: Liderança Ÿ Incentivar e formatar a participação dos empregados nos processos de decisão, por meio de uma liderança participativa; Ÿ Fortalecer os processos de avaliação de resultados d a l i d e r a n ç a e o s m e c a n i s m o s d e retroalimentação; Ÿ Consolidar os processos de tomada de decisão a fim de estabelecer uma comunicação padronizada com todas as partes envolvidas; Ÿ Melhorar os processos de planejamento, integrando todos os departamentos numa estratégia comum; Ÿ Melhorar a relação institucional com as organizações parceiras. Reduzir a verticalidade e a presença no campo com crianças, famílias e comunidades. Adaptação Ÿ Desenvolver estratégias de comunicação institucional, divulgando os resultados dos programas sociais para que os empregados conheçam a organização e sintam confiança, ao se comunicar; Ÿ Esclarecer a ideologia, o papel social e o modelo de governança da organização. É necessário deixar claro o posicionamento do Fundo Cristão para Crianças como agente de integração e agência de apadrinhamento e de desenvolvimento social; Ÿ Planejar estratégias de marketing e de comunicação para aumentar a visibilidade institucional, utilizando uma comunicação clara sobre a ideologia organizacional com os empregados, parceiros e sociedade. Gestão Ÿ Redesenhar a estrutura organizacional para garantir uma melhor integração de processos, estabelecendo uma presença mais significativa no campo, mais perto das organizações comunitárias; Ÿ Priorizar a interação dos departamentos de 27 Programas e das Relações com o Padrinho; Ÿ Avaliar o impacto das ações programáticas. Foi identificado que o impacto programático é crucial para a construção de alianças estratégicas fortes com agentes públicos e privados, tendo em vista a diversificação dos recursos para a sustentabilidade organizacional; Ÿ Articular parcerias em nível local e nacional com os governos, influenciando as políticas públicas; Ÿ Fortalecer a rede, articulando com outras organizações sociais. Avaliação de capacidade Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
  • 28. 5 Avaliação da Capacidade Organizacional Operação Ÿ Definir as linhas institucionais de Advocacy e fortalecer a imagem da organização; Ÿ Melhorar e consolidar o planejamento e a execução das tarefas operacionais; Ÿ Fortalecer o processo participativo na tomada de decisão e de acompanhamento e avaliação dos resultados; Ÿ Alinhar as áreas a fim de reduzir a departamentalização. Pode-se concluir que a estratégia organizacional para os próximos anos deve fornecer uma proposta integradora e comunicativa, permitindo assim a articulação entre pessoas e os departamentos da organização. A estratégia também deve facilitar o trabalho das alianças e parcerias para a viabilidade social de uma missão centrada nas crianças e em suas famílias. O foco na gestão de projetos e na qualidade da estratégia programática são oportunidades para alcançar fortes alianças com empresas e para a diversificação de recursos. Esses pontos serão desenvolvidos na governança organizacional do Fundo Cristão para Crianças, com uma definição atualizada de estrutura, funções e responsabilidades. Os resultados da avaliação da capacidade organizacional das organizações parceiras revelam informações importantes sobre perfil, gestão, relacionamento institucional e trabalho comunitário. Tais informações são insumos indispensáveis para compreender o papel que os parceiros da comunidade têm para a atividade programática-apadrinhamento. Nível de dependência econômica Atualmente o Fundo Cristão para Crianças conta com 100 organizações parceiras. Embora o potencial de alavanca financeira dessas organizações seja considerado significativo, a maioria delas ainda depende dos recursos do Fundo Cristão para Crianças para mais de 60% de suas atividades. Os governos municipais são os atores sociais mais próximos das organizações parceiras e quase sempre compartilham investimentos nos programas e projetos. A média nacional para a alavanca financeira é de um dólar, mobilizada pelo apadrinhamento para 0,8 dólar mobilizado por meio de parceria com o governo local. Entre as 20 organizações parceiras mais independentes, 80% são do Sudeste e 93% delas são da Região Metropolitana de Belo Horizonte-MG. Esta situação exige uma estratégia consistente de desenvolvimento da capacidade organizacional dos parceiros para gerenciar a qualidade dos programas sociais, do apadrinhamento e das relações institucionais com os diversos atores sociais envolvidos. Perfil, liderança e gestão das Organizações Parceiras (OP's) Essencialmente assumida por mulheres, a liderança das OP's apresenta um perfil engajado e atuante, apoiando as comunidades envolvidas na proposta de desenvolvimento do Fundo Cristão para Crianças. A liderança é um fator essencial para estabelecer parcerias e garantir a incidência de políticas públicas na superação da pobreza infantil. Outra característica relevante é a perenidade dessa liderança na gerência executiva dos projetos. A idade e o nível de capacitação das gestoras tende a conduzir a um perfil de liderança centralizado e autocrático. Participação comunitária nas OP's e perfil do trabalho comunitário Cada organização parceira possui um conselho de direção formado por pais (essencialmente mães) de crianças apadrinhadas. Pontualmente algumas organizações desenvolveram grupos de voluntários para apoiar atividades organizacionais, contando com o apoio de animadores comunitários para a realização de atividades. A natureza da participação e do apoio dos voluntários no funcionamento das OP's se restringe à execução de tarefas. Considera-se que o nível de participação comunitária nas organizações conveniadas se limita a atividades “tarefeiras”, com pouco envolvimento de voluntários no processo de tomada de decisão e de planejamento estratégico. A participação e o envolvimento de jovens e adolescentes nas decisões das OP's também são limitados. Diante dessa realidade, observa-se a necessidade de que seja desenvolvida nas OP's uma governança participativa voltada para a elaboração de planos de desenvolvimento local centrados na criança. Atualmente o trabalho comunitário é orientado a crianças e famílias inscritas e apadrinhadas. As atividades se baseiam na oferta de serviços com poucas iniciativas de apoderamento ou incidência em políticas públicas. A proposta de desenvolvimento atual carece de um foco maior em relações estratégicas para a viabilidade de programas sociais. 28 5.2 Avaliação da capacidade organizacional das Organizações 49 Parceiras (OP's) Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
  • 29. 5 Avaliação da Capacidade Organizacional Demanda e relação das OP's com o Fundo Cristão para Crianças O trabalho de avaliação das capacidades organizacionais permitiu mapear a demanda das OP's para o Fundo Cristão para Crianças. O ponto principal da demanda é a melhoria da comunicação e do relacionamento institucional com as OP's, respeitando as diferentes realidades comunitárias. No segundo plano, a demanda se concentra na necessidade de retomar o processo de capacitação, reconhecendo o trabalho desenvolvido pelas organizações. Existe uma forte corrente para viabilizar a implantação de uma rede social sólida e integradora entre as OP's e os territórios. Trata-se de uma proposta coerente de superação da pobreza. As OP's manifestaram a necessidade de criar oportunidades para a participação dos jovens nas decisões organizacionais e para sensibilizar o Fundo Cristão para Crianças sobre a realidade comunitária. Finalmente, as OP's valorizaram o processo de “escuta” realizado para a elaboração deste planejamento estratégico e manifestaram desejos de transformação por meio de ações mais eficazes e processos mais sólidos e menos burocráticos. Conclui-se que a estratégia para os próximos cinco anos do Fundo Cristão para Crianças deve promover um processo de transição das OP's. Entre as ações a serem executadas, estão: valorizar a participação autêntica e o capital social; apoiar o desenvolvimento e a governança institucional; estar próximo do campo e facilitar processos de apoderamento e protagonismo com as redes sociais para a incidência de políticas públicas. 48 Ver: Avaliação da Capacidade Organizacional Fundo Cristão para Crianças - 2010 49 Ver: Encontro com as Organizações Conveniadas Plano 2010 Fundo Cristão para Crianças Classificação das Organizações Conveniadas Fundo Cristão para Crianças 2010 29 Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
  • 30. Objetivos e direções estratégicas para os próximos cinco anos 6
  • 31. 6 Objetivos e direções estratégicas para os próximos cinco anos Fundo Cristão para Crianças Considerando a complexidade do contexto, o Fundo Cristão para Crianças deverá se concentrar no fortalecimento dos vínculos familiares, comunitários e sociais. Como um poderoso agente de mudança e de integração, o Fundo Cristão procurará conectar pessoas, valorizando o enorme potencial das relações humanas para superar a pobreza infantil, com autêntica solidariedade. Em uma abordagem renovada e sistêmica, a proposta se materializa em um profundo simbolismo humano. A Passiflora - flor de maracujá, que é genuinamente brasileira, miscigenada e colorida será o modelo simbólico da estratégia programática da organização. Na língua tupi, “maracujá” significa “alimento na cuia”. A flor dessa deliciosa fruta nativa remete ao Caminho da Paixão período entre a morte e a ressurreição de Cristo , que traz esperança. Esse símbolo lembra, ainda, a passagem e a renovação da vida. 12 12 31 Cultura 7 8 3 4 1 1 Organizacional Liderança Imagem Institucional Mobilização de Recursos e Parcerias Ideologia Constituição Gestão 12 1. Vínculo criança-padrinho Comunicação autêntica 2. Familias e Organizações Protetoras e Integradas para o Desenvolvimento 3. Bebês Saudáveis e Seguros 4. Crianças Educadas e Confiantes 5. Jovens Capacitados e Participativos 6. Sociedade comprometida com os direitos das Crianças 11 11 11 2 6 5 10 9 I. Eixo vital II. Sistema Central III. Enfoques Estratégicos 7. Participação Autêntica 8. Valorização de todas as pessoas 9. Desenvolvimento Institucional 10. Incidência em Políticas Públicas IV. Coroa de Sustentabilidade Sistêmica 11. Relações Influentes 12. Governança Nos próximos cinco anos, o Fundo Cristão para Crianças estará engajado em um processo de 1 renovação e transição no modelo de intervenção social. A estratégia Passiflora apoiará os esforços do Fundo Cristão para Crianças para ser reconhecido como uma organização de apadrinhamento consolidada capaz de mobilizar pessoas, grupos e instituições com o intuito de superar as causas de raiz da pobreza infantil no Brasil. A abordagem de comunicação autêntica de Passiflora foi planejada para posicionar o Fundo Cristão para Crianças como um poderoso agente de mudança e de integração. A Passiflora vai canalizar as vozes das crianças e das comunidades, ampliando suas potencialidades e possibilitando impactos sustentáveis em suas vidas. O Fundo Cristão para Crianças irá fortalecer a sua imagem pública como uma rede forte e ampla de pessoas mobilizando esforços para a superação da pobreza infantil. No papel de agente de mudanças, integrador de parcerias e ativamente engajado com as famílias e comunidades, o Fundo Cristão para Crianças propõe uma resposta eficaz para o desenvolvimento de seus 6.1 Posicionamento Estratégico Programático Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil
  • 32. 6 Objetivos e direções estratégicas para os próximos cinco anos para trabalharem juntos e tratarem ativamente as problemáticas relacionadas com a pobreza infantil, a ignorância e a negação dos direitos das crianças. 2.Conectar os efeitos do desenvolvimento em nível micro sobre as crianças, famílias e comunidades; com as políticas, em nível macro, e trazer o testemunho de crianças e adultos no processo de i n c i d ê n c i a e m p o l í t i c a s p ú b l i c a s d e desenvolvimento. 3.Tornar claro que todos têm um papel a desempenhar no alívio da pobreza, ao mostrar as conexões, similaridades e diferenças entre as vidas das crianças e de adultos nas comunidades atendidas pelo Fundo Cristão para Crianças e as vidas dos apoiadores. A comunicação autêntica do Eixo Vital pode ajudar a construir relacionamentos de apoio às crianças, comunicando a sua experiência e aprendizagem para as diferentes partes interessadas, incluindo padrinhos, outros apoiadores, escolas, público em geral, elites locais e nacionais, governos, organizações internacionais e setor privado. A comunicação autêntica é também uma ação programática-chave, pois acontece com a participação direta e ativa das crianças no planejamento de estratégias de desenvolvimento e na criação de oportunidades para que suas vozes sejam ouvidas e respeitadas. O Fundo Cristão para Crianças vai ajudar as crianças a terem maior influência sobre as questões que afetam suas vidas. O modelo de comunicação autêntica do Eixo Vital incentiva a mudança pessoal, em termos de maior conhecimento individual, comprometimento e uma vontade de agir para aliviar a pobreza infantil.infantil. O Eixo Vital se constitui na base sobre a qual o Advocacy é construído, contribuindo para uma mudança institucional mais ampla. Tanto a O Eixo Vital provém da solidariedade do apoiador- padrinho e de seu desejo de atuar como agente de mudanças sociais. O Eixo Vital da estratégia Passiflora articula-se na relação estabelecida entre a criança e seu apoiador. Esse vínculo relacional canaliza o poder da "Voz da Criança", possibilitando a construção de uma comunicação autêntica. A comunicação autêntica do Eixo Vital é um processo relacional de construção de vínculos que visa aumentar o conhecimento e oferecer oportunidades para as pessoas desempenharem um papel de agentes de mudanças diante das problemáticas de privação, exclusão e vulnerabilidade que impedem as crianças desfavorecidas do Brasil de desenvolverem o pleno potencial. O Eixo Vital da estratégia Passiflora reforça a Área de Excelência organizacional do Fundo Cristão para Crianças. A abordagem de comunicação autêntica do Eixo Vital almeja três objetivos estratégicos: 1.Aumentar conhecimento, compreensão e motivação das crianças, famílias, comunidades, parceiros, padrinhos e outras partes interessadas 32 objetivos e missão. Esta seção apresenta a estratégia Passiflora como proposta programática integrada à Estratégia Nacional, alinhando-a à Estrutura de 2 Governança reformulada. A estratégia Passiflora traz propostas concretas para o fortalecimento da relação autêntica da criança com seu apoiador, visando à implantação de programas sociais de alto impacto. Haverá uma ampla mobilização de alianças e parcerias, conectando pessoas e integrando famílias, sociedade e Estado nas suas responsabilidades partilhadas em favor dos Direitos Constitucionais da Criança. A seguir, o detalhamento da estratégia Passiflora em seus diversos componentes. 6.2 Passiflora: Eixo Vital Country Strategy Paper – Estratégia Programática - Brasil