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RELATÓRIOS ESPECIAIS


                                 NORDESTE


  Retirada.
                              27 DE FEVEREIRO DE 2013




  Para o Nordeste
  A renda do nordestino cresceu 40% nos últimos anos, promoveu o regresso
  de muita gente que abandonara a região e investimentos de 282 bilhões de reais




                                                                                         L EO C A L DA S / P U L S A R I M AG E N S




•EECapaOK_44.indd 1                                                            20/02/13 20:40
n o r d e s t e : Conjuntura




         Liquidez no Sertão
         Depois de décadas de miséria, a região começa
         a deixar de lado a imagem de recanto da pobreza brasileira
         POR MARIANA SEGALA




       P
                       ouca gente conhece me-                                                      deste. “A orientação dos investimentos pú-
                       lhor a cidade baiana de                                                     blicos para a infraestrutura e as políticas de
                       L
                       ­ uís Eduardo Magalhães,                                                    redistribuição de renda no Brasil teve o im-
                       950 quilômetros a oeste de                                                  pacto potencializado no Nordeste.”
                       Salvador, do que a famí-                                                       Não é difícil entender por quê. “Os
                       lia ­ auck. Eles chegaram
                           L                                                                       trabalhadores que ganham salário mí-
                       à Bahia, vindos do Paraná,                                                  nimo formam um público enorme no
         no começo da década de 1980, quando                                                       Nordeste que, até dez anos atrás, não ti-
         o local que hoje abriga o município não      O nordestino                                 nha poder de consumo nenhum”, afir-
         passava de um povoado minúsculo ape-         trocou o jegue                               ma Saumíneo Nascimento, secretário de
         lidado de Mimoso do Oeste. Era um lu-        pela moto e o                                Desenvolvimento Econômico de Sergi-
         garejo sem nada. Tudo que oferecia era       ventilador pelo                              pe. De lá para cá, o mínimo teve um au-
         terra para plantar. Os Lauck mudaram-        ar-condicionado,                             mento real, descontada a inflação do pe-
         -se para lá numa época em que o normal                                                    ríodo, de nada menos que 70%. Seu valor
         era fazer exatamente o contrário: dei-
                                                      diz Nascimento                               atual é suficiente para comprar mais de
         xar a miséria do Nordeste e seguir para                                                   duas cestas básicas, segundo as contas
         o Sudeste próspero, em busca de opor-                                                     do Departamento Intersindical de Esta-
         tunidades de trabalho. Porém, menos de       Fluxo migratório.                            tística e Estudos Socioeconômicos (Die-
         30 anos depois de instalados os primei-      O agronegócio fez várias                     ese). É a melhor relação já registrada pe-
         ros moradores, Luís Eduardo Magalhães        cidades nordestinas                          lo órgão desde o fim dos anos 1970.
                                                      ficarem entre as mais
         hoje ostenta um símbolo dos ares muito       procuradas no Brasil
         diferentes que passaram a circular na re-                                                 Esse movimento ajudou a renda dos
         gião na última década. A cidade é a 11ª do                                                nordestinos a crescer acima da média
         Brasil que mais recebeu imigrantes nos                                                    nacional. O rendimento da região au-
         últimos anos. Pelo menos 35% da sua po-                                                   mentou 40% desde 2004, 10 pontos mais
         pulação (66 mil habitantes) não morava                                                    que o crescimento da renda dos brasilei-
         no município cinco anos atrás. “Vimos a      altos índices de migração de retorno do      ros em geral. Isso provocou uma mudan-
         cidade nascer, crescemos com ela e agora     País: 23% dos imigrantes de Pernambu-        ça de hábitos sem precedentes. “Quem
         percebemos como tudo está mudando”,          co, por exemplo, são pessoas no caminho      usava ventilador, hoje luta contra o calor
         conta o produtor rural Fábio Lauck, que      de volta para o estado natal. E há bolsões   com ar-condicionado”, diz Nascimento.
         mora lá desde os 8 anos de idade.            de atração como Luís Eduardo Maga-           Quem se locomovia com os folclóricos je-
            O Nordeste ainda exporta gente, e         lhães, onde o crescimento econômico ca-      gues consegue comprar uma motocicleta
         muita ainda, para o Sudeste, mas os nú-      tapultado pelo agronegócio foi expressi-     (a frota nordestina sobre duas rodas qua-
         meros do Instituto Brasileiro de Geogra-     vo a ponto de ter feito sua população qua-   druplicou desde 2002). Quem não tinha
         fia e Estatística (IBGE) mostram que o       se quadruplicar em menos de 15 anos.         eletrodoméstico passou a ter – e o con-
         fluxo diminuiu consideravelmente na             “Estamos finalmente conseguindo livrar    sumo de energia elétrica nas casas da re-
         última década. Mais do que isso: além de     a região da imagem de saco de pobreza que    gião disparou 84% em uma década, mais
         reter nordestinos, a região também tem       ela tinha até bem pouco tempo atrás”, diz    do que em qualquer outro lugar do Brasil.
         conseguido atrair de volta gente que um      Tânia Barcelar, professora da Universidade      Esse círculo virtuoso pôs o Nordes-
         dia decidiu sair. Os estados do Nordeste     Federal de Pernambuco e sócia da consul-     te em uma situação econômica privile-
         estão entre os que apresentam os mais        toria Ceplan, especializada na Região Nor-   giada. “Assim como a Região Norte e a
         46   www.cartacapital.com.br




•EEAbre_44.indd 46                                                                                                                           20/02/13 21:15
relatórios especiais cartacapital




                                                                  Centro-Oeste, estamos em uma frontei-
                                                                  ra de expansão cobiçada por empresas e
                                                                  investidores”, diz Paulo Ferraz Guima-
                                                                  rães, chefe do departamento nordestino
                                                                  do Banco Nacional de Desenvolvimen-
                                                                  to Econômico e Social (BNDES). Apesar
                                                                  dos efeitos da crise financeira de 2008,
                                                                  o Produto Interno Bruto (PIB) da região
                                                                  cresceu a uma média de 4,5% ao ano de
                                                                  2002 para cá, com picos de 5,7% no Ma-
                                                                  ranhão e 5,4% no Piauí. Espera-se, no
                                                                  entanto, que no próximo par de anos o
                                                                  crescimento do Nordeste se distancie
                                                                  ainda mais da média brasileira, que foi
                                                                  de 4% no mesmo período.

                                                                  “O conjunto de investimentos que exis-
                                                                  tem na região está maturando agora
                                                                  e promete mostrar a que veio em bre-
                                                                  ve”, destaca Guimarães. O crescimen-
                                                                  to econômico é a arma que pode aju-
                                                                  dar a região a superar os abismos his-
                                                                  tóricos de desenvolvimento econômico
                                                                  e social que ainda a separam das áreas
                                                                  mais avançadas do País. Um olhar rápi-
                                                                  do sobre as estatísticas educacionais do
                                                                  Nordeste indica o tamanho do desafio
                                                                  a enfrentar. O número de adultos anal-
                                                                  fabetos da região caiu 15%, mas lá ain-
                                                                  da está a taxa mais alta do País de pesso-
                                                                  as que não sabem ler um simples bilhe-
                                                                  te. Elas representam 16,9% da popula-
                                                                  ção de 15 anos ou mais. A renda dos nor-
                                                                  destinos aumentou, mas continua a ser a
                                                                  mais baixa do Brasil. A economia se di-
                                                                  namizou, mas ainda é desproporcional
                               l u i s t i to/ag . a ta r e d e




                                                                  quando comparada com o tamanho de
                                                                  sua população – o PIB do Nordeste equi-
                                                                  vale a 13,5% do PIB do País, mas lá vivem
                                                                  quase 30% dos brasileiros. Não existe
                                                                  mágica para sair da lanterninha.  •
                                                                   cartacapital | 27 de fevereiro de 2013   47




•EEAbre_44.indd 47                                                                                          20/02/13 21:15
Formas de medir a riqueza nordestina
         Bahia
                                                                                            60,7
                                                                                                                                                     154,3
                                                                                                                                                                                   PIB em 2002
                                                                                                                                                                                   em bilhões de
                                                                                                                                                                                                                                           brasil
                                                                            35,3
         Pernambuco                                                                                                  95,2                                                          reais
                                                                        28,9                                                                                                       (valores
         Ceará                                                                                                                                                                     correntes)
                                                                                                                                    nordeste
                                                                                                         77,9
                                                                 15,5
         Maranhão                                                                  45,3
                                                             12,4
         Paraíba                                                           31,9                                                                                                    PIB em 2010
         Rio Grande do Norte
                                                             12,2                                                                                                                  em bilhões
                                                                           32,3                                                                                                    de reais
                                                            9,8
         Alagoas                                                     24,6                                                                                                          (valores
         Sergipe
                                                            9,5                                                                                                                    correntes)
                                                                     23,9
         Piauí                                             7,4
                                                                    22,1                                                    191,7 507,5                                                                                   1.477,8                               3.770,1
         Fonte: IBGE



         Crescimento do PIB 2002-2010 (acumulado) - Em %                                                                                                                                PIB per capita em 2002 em milhares de reais
                                                                                                                                                                                        (valores correntes)
         56 52,5                                                                                                                                                                                                                                                                      19,8
                               45,1            44,4          43,5           41,5           39,2                                         42,4 37,1
                                                                                                           34,3                                                                         PIB per capita em 2010 em milhares de reais
                                                                                                                          30,9                                                          (valores correntes)
                                                                                                                                                                             11                                                                        11,6
         Crescimento do PIB 2002-2010 (média anual) - Em%                                                                                                                           10,8                                          10,2
                                                                                                                                                                                                     9,2                  8,5                                               9,6 8,5
                                                                                                                                                                                                                                               7,9                  7,1
                                                                                                                                                                                                             6,9
           5,7         5,4       4,8            4,7              4,6         4,4            4,2            3,8           3,4         4,5          4                                                                                                  5,1
                                                                                                                                                                       4,6        4,4                                           4,3                                       3,9
                                                                                                                                                                                               3,8                  3,5                  3,4                  2,6
                                                                                                                                                                                                           2,7
                                                                                           Pernambuco




                                                                                                                                                 Brasil
                                                                                                                       Rio Grande
                                                                                                           Alagoas
                                 Paraíba




                                                                                                                                     Nordeste
                                                             Ceará


                                                                             Bahia
                                                Sergipe
                       Piauí
          Maranhão




                                                                                                                         do Norte




                                                                                                                                                                        Bahia         Ceará        Paraíba         Alagoas         Piauí                                         Brasil
                                                                                                                                                                             Pernambuco     Maranhão       Rio Gde         Sergipe                                        Nordeste
                                                                                                                                                                        Fonte: IBGE                       do Norte
         Fonte: IBGE




         Indicadores sociais
                                                                                                                                                                              População em 2002                      População em 2010                     População em 2012
                                                                                                                                                    Bahia                           13.323.212                              14.021.432                         14.175.341
                                                                                                                                                    Pernambuco                      8.084.667                               8.796.032                           8.931.028
                                                                                                                                                    Ceará                           7.654.535                                8.448.055                          8.606.005
                                                                                                                                                    Maranhão                        5.803.224                                6.569.683                          6.714.314
                                                                                                                                                    Paraíba                         3.494.893                                3.766.834                          3.815.171
                                                                                                                                                    Rio Grande do Norte             2.852.784                                3.168.133                          3.228.198
                                                                                                                                                    Alagoas                         2.887.535                                3.120.922                          3.165.472
                                                                                                                                                    Sergipe                         1.846.039                                2.068.031                          2.110.867
                                                                                                                                                    Piauí                           2.898.223                                3.119.015                          3.160.748
                                                                                                                                                    Nordeste                       48.845.112                              53.078.137                          53.907.144
                                                                                                            Fonte: IBGE                             Brasil                         174.632.960                             190.747.855                        193.946.886


                                                                                                                                                                                        Rendimento médio mensal real                                                       Nordeste
       educação




                                           8                         6,8             12,4                              8,6                                                              (10 anos ou mais) Em R$                                                            Brasil
                                                                                                  24,2                          16,9            6,1 4,7           7,3 6,2
                               15,1                         12,9                                                                                                                                                                                                           Crescimento
                                                                                                                                                                                        1000
                                                                                                                                                                                                                                                                          (2004/2011)
                          Número de      Número de        Taxa de       Taxa de    Número                                                                       Número
                                                                                                                                                                                        800
                                                                                                                                                                                                                                                                           Em %
                      analfabetos em analfabetos em analfabetismo analfabetismo médio de                                                                      médio de
                                                                                                                                                                                                                                                                             40,3
                                                                                                                                                                                        600

                            2001 em        2011 em       em 2001       em 2011     anos de                                                                      anos de                 400
                          milhões de     milhões de          em %          em % estudo em                                                                    estudo em
                              pessoas        pessoas
                                                                Nordeste
                                                                                     2001                                                                         2011                  200
                                                                                                                                                                                                                                                                            30,6
                            (15 anos       (15 anos                               (10 anos                                                                     (10 anos                   0
                             ou mais)                                             ou mais)                                                                     ou mais)                         2004        2005     2006        2007     2008        2009     2011
                                            ou mais)            Brasil
        Fonte: IBGE                                                                                                                                                                      Fonte: IBGE




         Proporção da população por classe                                                                                                                                                                  Nordeste                                          Brasil
         de rendimento - Em %                                                                                                                                           frota                        2002                 2012                       2002                  2012
                       AB     C     D      E                                                                                                              Carro                                 2.238.315             4.928.685                 23.036.041                42.682.111
                      3,3                           4,9                              8,3                              10,6                                             Crescimento                                 120%                                         85%
                                                                                                          15,3                                                                                   922.316              4.500.857                  4.945.256                16.910.473
                        20,7               28,7                         27,5                                                                              Moto
              49                                          34,7                       38,1               23,6         50,5
                                                                                                                                                                       Crescimento                               388%                                          242%
                        27                     31,8                        26,1
                                                                                                                                                                                                4.079.993 11.939.732                           35.523.633                 76.137.191
                     2001                      2009                         2001                               2009
                                                                                                                                                                                  Total                          193%                                          114%
            Fonte: Ceplan                                                                                                                                             Fonte: Denatran

         48          www.cartacapital.com.br




•EEAbre_44.indd 48                                                                                                                                                                                                                                                                    20/02/13 21:15
N o r d e s t e : Incentivos fiscais



        Uma colher de chá
        Estados que se fiam na isenção de
        impostos estendem a rede de benefícios
        para atrair investimentos




        A
                           decisão sobre on-                                                      É mais que o orçamento do estado com
                           de aportar alguns mi-      O governo de                                saneamento. O governo calcula, porém,
                           lhões de reais em in-                                                  que cada real dado em renúncia fiscal in-
                           vestimento fica mais
                                                      Pernambuco                                  jete outros 3 na economia real.
                           fácil para uma empresa     calcula que cada                               “O Nordeste avançou muito nos últi-
                           quando ela é recebida      real dado em                                mos anos, mas ainda há diferenças tão
                           com tapete vermelho        renúncia fiscal                             brutais entre nós e o Sul e Sudeste que
        como o que Pernambuco estendeu para           injete outros 3 na                          precisamos dar incentivos para com-
        a Nissin-Ajinomoto, fabricante de macar-      economia real                               pensá-las”, afirma James Silva Santos
        rão instantâneo. Para convencer a japone-                                                 Correia, secretário de Indústria, Co-
        sa a levantar sua segunda fábrica brasilei-                                               mércio e Mineração da Bahia. O estado,
        ra no distrito industrial de Glória do Goi-                                               que tinha renúncias de ICMS de 2,5 bi-
        tá, uma das dez cidades mais pobres do                                                    lhões previstas para o ano passado, foi
        estado, cravada na Mata Norte pernam-                                                     um dos que tiveram mais investimentos
        bucana, o governo fez de tudo um pouco.                                                   anunciados nos últimos cinco anos.
        Vendeu a preço de banana o terreno para
        a construção, tão grande quanto 27 cam-                                                   Do ponto de vista dos investidores, os in-
        pos de futebol como o Estádio do Mara-                                                    centivos negociados com os governos cos-
        canã – cada metro quadrado foi avalia-                                                    tumam ser fatores decisivos para a escolha
        do em menos de 1,30 real. Garantiu à em-                                                  do Nordeste como a região onde se insta-
        presa, por pelo menos 12 anos, desconto                                                   lar. A opção por um ou outro estado, no en-
        de 85% no Imposto sobre a ­ irculação de
                                     C                                                            tanto, leva em consideração mais fatores de
        Mercadorias e Serviços (ICMS) inciden-                                                    atração. No Maranhão, o governo tem fei-
        te no preço dos produtos feitos no estado.                                                to um esforço para qualificar a mão de obra
                                                                                                  necessária nas plantas industriais que es-
        Para completar o pacote e assegurar                                                       tão sendo erguidas no estado. Em parce-
        que as caldeiras da fábrica pudessem fun-                                                 ria com universidades e escolas técnicas, o
        cionar, a Copergás, distribuidora de gás                                                  plano é que 400 mil pessoas tenham trei-
        de Pernambuco, foi destacada para cons-                                                   namento técnico até o ano que vem.
        truir 13 quilômetros de gasoduto até as                                                      Outra frente atacada procura desburo-
        portas da empresa. A planta foi inaugu-                                                   cratizar a concessão das licenças ambien-
        rada em 2012. “Quando uma cidade não                                                      tais exigidas para a instalação de grandes
        tem empresa nenhuma, a inércia barra os                                                   empreendimentos. “Envolvemos os téc-
        primeiros investimentos. Nesses casos,                                                    nicos da Secretaria do Meio Ambiente no
        somos realmente agressivos”, diz Márcio       em crescimento econômico, empregos e,       processo desde o momento em que as em-
        Stefanni Monteiro, secretário de Desen-       mais tarde, em nova arrecadação de im-      presas manifestam a intenção de vir pa-
        volvimento Econômico de Pernambuco.           postos. Os descontos de ICMS, que che-      ra cá”, explica Maurício Macedo, secretá-
           Conseguir pacotes de benefícios, como      gam a superar 90%, são os mais comuns.      rio de Desenvolvimento do estado. Todo
        o obtido pelos japoneses, não é um privilé-   Só em Pernambuco, que abate até 95% do      o projeto da Refinaria Premium I, um in-
        gio de quem opta por investir em Pernam-      imposto para atrair indústrias, o volume    vestimento de 37 bilhões de reais previsto
        buco. Em maior ou menor grau, o mes-          de incentivos relacionados ao ICMS con-     pela Petrobras na cidade de Bacabeira, le-
        mo expediente é usado por todos os esta-      cedidos no ano passado pode ter ultrapas-   vou seis meses para ser licenciado, segun-
        dos do Nordeste para atrair recursos que      sado 1,4 bilhão de reais, pelas contas da   do o secretário – um prazo considerado
        – os governos asseguram – se revertem         Confederação Nacional dos Municípios.       reduzido para obras de tamanho porte.
        50   www.cartacapital.com.br




•EEReportagem3OK_44.indd 50                                                                                                              20/02/13 21:18
Investimentos
        anunciados no Nordeste
        entre 2008 e 2012 (em R$)


                                                                            Maranhão
                                                                            69.860.915.763

                                                                               Piauí
                                                                               9.635.178.753

                                                                                    Ceará
                                                                                    69.076.931.440

                                                                                       Rio Grande do Norte
                                                                                       6.504.437.200
                                                                                         Paraíba               o projeto da empresa. “Nossas demandas
                                                                                         2.366.246.046         têm acesso fácil ao governador. Percebe-
                                                                                                               mos que, embora estejamos fazendo um
                                                                                        Pernambuco
                                                                                        47.460.392.469         investimento pequeno, somos importan-
                                                                                                               tes para o estado.”
                                                                                      Alagoas
                                                                                      3.265.490.675
                                                                                                                  Agilidade, eficiência e bom trânsito
                                                                                                               entre os empreendedores tendem a se
                                                                                Sergipe
                                                                                                               tornar ativos cada vez mais importantes
                                                                                15.040.028.773
                                                                                                               para os estados atraírem investimentos,
                                                                            Bahia                              à medida que a discussão sobre a legali-
                                                                            58.441.109.334
                                                                                                               dade dos incentivos fiscais se aprofun-
                                                                                                               da. Desde 2011, o Supremo Tribunal Fe-
                                                                                                               deral (STF) vem considerando inconsti-
                                                                                                               tucionais isenções de ICMS concedidas
                                              80.000                            e                              por diversos estados brasileiros que não
                                                                                                               foram aprovadas por unanimidade no
                                              70.000
                                                                                                               Conselho Nacional de Política Fazendá-
                                                                                                               ria (Confaz), órgão que congrega os se-
                                              60.000
                                                                                                               cretários de Fazenda dos estados.
                                        .
                                                                                                               Em 2012, a Corte ameaçou editar uma
                                              50.000
                                                                                                               súmula vinculante sobre o assunto – o
                                                                                                               que obrigaria os governos a cobrar im-
                                              40.000
                                                                                                               postos que tivessem deixado de ser re-
                                                                                                               colhidos. Em dezembro, o governo fede-
                                              30.000
                                                                                                               ral apresentou uma proposta de unifica-
                                                                                                               ção gradual das alíquotas de ICMS entre
                                              20.000
                                                                                                               os estados, mediante a criação de fundos
          Total                                                                                                destinados a promover o desenvolvimen-
                                              10.000
          281.650.730.452                                                                                      to das regiões menos favorecidas. “O im-
           Obs.: Inclui apenas                                                                                 portante é assegurar que as empresas que
           os investimentos feitos                     0                                                       já receberam incentivos fiscais no passa-
           em um só estado                                                               Fonte: Renai (MDIC)   do não percam o benefício, nem tenham
                                                                                                               de recolher impostos retroativamente”,
           No Rio Grande do Norte, o governo               tes fiscais do que de disposição para fa-           afirma Flávio Castelo Branco, gerente-
        estadual tem apostado em outra frente.             cilitar a vida dos empreendedores. “To-             -executivo de política econômica da Con-
        “Incentivamos o uso de gás na ativida-             dos oferecem incentivos de algum tipo”,             federação Nacional da Indústria (CNI).
        de industrial oferecendo tarifas de até 73         afirma Sérgio Schelp, diretor da Bull Mo-              No Nordeste, no entanto, as opiniões
        centavos por metro cúbico, diante de um            tors, montadora de motocicletas paulista            são mais incisivas. Para James Correia, da
        preço médio perto de 1,10 real no merca-           que escolheu a cidade de Nossa Senhora              Bahia, é importante manter nas mãos dos
        do nacional”, diz Rogério Marinho, se-             do Socorro, em Sergipe, para investir 10            estados instrumentos claros de atração de
        cretário estadual de Desenvolvimento               milhões de reais na instalação de uma fá-           investimento. “Aceitar a equiparação das
        Econômico. Mas conquistar uma empre-
        sa pode depender menos de expedien-
                                                           brica. O menor estado do Brasil, segun-
                                                           do o executivo, foi o que acolheu melhor
                                                                                                               alíquotas seria o suicídio do Nordeste.”
                                                                                                               – POR MARIANA SEGALA
                                                                                                                                                          •
                                                                                                                 cartacapital | 27 de fevereiro de 2013   51




•EEReportagem3OK_44.indd 51                                                                                                                               20/02/13 21:18
N o r d e s t e : Finanças



         Não vai faltar
         crédito
         A disponibilidade de recursos para
         viabilizar projetos na região triplicou
         nos últimos cinco anos




        A
                          té não muito tempo        Aguiar, diretor de gestão de fundos, in-
                          atrás, instalar uma em-   centivos e atração de investimentos da
                          presa no Nordeste soa-    Superintendência de Desenvolvimento
                          va como uma ideia com     do Nordeste (Sudene).
                          tão poucas chances de
                          sucesso quanto imagi-     Nos últimos cinco anos, o Nordeste
                          nar que, um dia, aquela   ajudou a puxar o grosso do crescimen-
         porção do Brasil pudesse se tornar um      to das operações de crédito no País. O
         mercado cobiçado. O primeiro entrave       estoque de financiamentos feitos na re-
         é que à região faltavam fatores de atra-   gião, incluindo os voltados às pessoas
                                                                                                h e l i a s c h e p pa /j c i m ag e m




         ção, qualidades que despertassem o in-     físicas, cresceu 230% desde 2007. Che-
         teresse de potenciais investidores. O      gava perto de 300 bilhões de reais no
         segundo é que, como havia pouca de-        fim do ano passado. Mais surpreen-
         manda, também havia pouco dinheiro         dentes que a cifra total, no entanto, são
         disponível para bancar empreendi-          os volumes de financiamentos conce-
         mentos lá. Dos anos 2000 para cá, a        didos para as empresas – no fundo, o
         mão do Estado – e dos estados – conse-     que realmente interessa para os empre-
         guiu amenizar o primeiro problema.         endedores. O crédito para as pessoas                                                 lume de operações realizadas nos sete
         Com o aumento da renda dos nordesti-       jurídicas, que financia desde os inves-                                              anos anteriores. Atualmente, 13% do
         nos e a melhora na infraestrutura da re-   timentos produtivos até o capital de gi-                                             orçamento do banco desemboca na
         gião, o Nordeste começou a ser enxer-      ro necessário para que toquem as ope-                                                r
                                                                                                                                         ­ egião – era 8% apenas cinco anos
         gado pelos empreendedores como um          rações, aumentou 245% no período. Os                                                 atrás. E não se cogita um revés nessa
         lugar onde é preciso estar. Cidades co-    saltos mais marcantes aconteceram em                                                 trajetória. O crédito concedido a enor-
         mo Recife, Salvador, Fortaleza e Natal     2008 e 2009, justamente os anos em                                                   mes projetos estruturantes marcou
         figuram hoje na lista de lugares mais      que mais investimentos de empresas                                                   uma mudança de patamar nos desem-
         promissores para fazer investimentos.      foram anunciados na região. “Há uma                                                  bolsos do BNDES para a região. A dire-
         A solução do segundo problema veio na      carteira tão variada de projetos aconte-                                             ção que o banco adotaria ficou mais
         sequência. Quanto mais projetos (e         cendo no Nordeste que a minha pers-                                                  clara a partir de 2009. Naquele ano,
         projetos parrudos) entraram na fila em     pectiva é de ver nossos números cres-                                                quase 10 bilhões de reais – então o
         busca de financiamento, mais recursos      cendo acima da média por um tempo”,                                                  maior financiamento de sua história –
         brotaram para permitir que fossem le-      diz Paulo Ferraz Guimarães, chefe do                                                 foram destinados à construção da Refi-
         vados a cabo. O sistema financeiro – em    departamento nordestino do Banco                                                     naria Abreu e Lima, uma obra de quase
         especial as instituições públicas, ainda   Nacional de Desenvolvimento Econô-                                                   35 bilhões de reais que está sendo er-
         as maiores financiadoras de grandes        mico e Social (BNDES).                                                               guida pela Petrobras e a PDVSA, esta-
         investimentos – ampliou a oferta de           Atualmente, o BNDES é uma das                                                     tal venezuelana de petróleo, em Per-
         crédito para a região muito além dos ní-   fontes mais relevantes de financia-                                                  nambuco. A partir daí, o que se viu foi
         veis verificados em qualquer outra par-    mento para as obras no Nordeste. Os                                                  uma espécie de piso informal de de-
         te do País. “Hoje já não dá para imagi-    valores despejados pelo banco na re-                                                 sembolsos para a região, que nos últi-
         nar a região crescendo pouco porque        gião entre 2009 e 2012 beiraram 80 bi-                                               mos quatro anos rondou a faixa dos 20
         faltou dinheiro”, avalia Henrique          lhões de reais, mais que o dobro do vo-                                              bilhões de reais anuais. Em 2012, ­ oram
                                                                                                                                                                           f
        52   www.cartacapital.com.br




•EEReportagem2_44A.indd 52                                                                                                                                                    20/02/13 20:55
Guimarães,
                                                                                               do BNDES, e Ary
                                                                                               Lanzarin, do
                                                                                               BNB, registram
                                                                                               expansão nos
                                                                                               empréstimos


                                                                                               Combustível.
                                                                                               A Refinaria Abreu e Lima
                                                                                               demandará investimento
                                                                                               de 35 bilhões de reais




        21 bilhões. “Conseguimos elevar o cré-      cursos do Tesouro Nacional. “As con-       r
                                                                                               ­ eais, emprestados a juros baixíssimos
        dito para o Nordeste até esse nível por-    dições para investir no Nordeste estão     para os padrões brasileiros – é possível
        que a região agora conta com ­ rojetos de
                                     p              realmente muito interessantes. O ano       tomar dinheiro pagando taxas de até
        grande porte”, diz Guimarães. “Final-       passado terminou com crescimento na        3% ao ano. “Temos feito todo o possível
        mente, o peso do Nordeste nas opera-        demanda por recursos e 2013 já come-       para atender a todas as demandas”, diz
        ções do banco aproxima-se dos 13% que       çou do mesmo jeito”, avalia Ary Joel de    Lanzarin. Não é à toa que um dos slo-
        a região representa para o PIB do País.”    Abreu Lanzarin, presidente do BNB.         gans populares do banco para seu pro-
                                                    Em 2012, o banco desembolsou quase         grama de financiamento é: “Pode in-
        Projetos grandes que consigam amar-         23 bilhões de reais para a economia        vestir. Crédito não vai faltar”.
        rar firmemente todas as pontas – em         nordestina, o equivalente ao PIB do           Uma filosofia semelhante vem sendo
        outras palavras, que embutam poten-         Piauí. Desse volume, 12,5 bilhões de re-   aventada na Sudene, recriada durante o
        cial de ganhos elevados, tenham sus-        ais foram voltados especificamente pa-     governo Lula, depois de ter sido extinta
        tentabilidade financeira e apresentem       ra financiamentos de longo prazo, co-      em 2001. A autarquia administra o
        impactos econômicos em cadeia – são         mo o de quase 900 milhões de reais         F
                                                                                               ­ DNE, que tem um orçamento já apro-
        os preferidos dos maiores financiado-       que a Fiat tomou. A origem prioritária     vado para este ano de 2 bilhões de reais
        res do País. Para levantar uma fábrica      desses recursos é de repasses da arre-     voltados para o financiamento de in-
        que deve produzir 250 mil carros por        cadação de tributos federais como o        vestimentos na região. O valor é o mes-
        ano a partir de 2014, a Fiat vai investir   Imposto de Renda e o Imposto sobre         mo destinado para o fundo em 2013,
        4,5 bilhões de reais, mas quase tudo se-    Produtos Industrializados (IPI) que        mas, na Sudene, há esforços para que
        rá bancado com recursos do BNDES,           incide sobre produtos importados.          ele seja elevado durante o ano. “A de-
        do Banco do Nordeste do Brasil (BNB)        Neste ano, o banco estima que o volu-      manda por crédito cresceu tanto no fim
        e do Fundo de Desenvolvimento do            me de crédito para investimentos atin-     do ano passado que acreditamos que os
        Nordeste (FDNE), abastecido por re-         ja a cifra histórica de 13,8 bilhões de    nossos recursos possam ser totalmente
                                                                                                cartacapital | 27 de fevereiro de 2013   53




•EEReportagem2_44A.indd 53                                                                                                               20/02/13 20:55
N o r d e s t e : Finanças


                                                                                                                                        “Mas é um país por si só. Como a região
       h e l d e r tava r e s / d. a . p r e s s




                                                                                                                                        cresce mais que o Brasil, nossas apos-
                                                                                                                                        tas lá tendem a ser mais lucrativas.” Em
                                                                                                                                        vez dos juros, o chamariz de que a ins-
                                                                                                                                        tituição se vale é a consultoria de técni-
                                                                                                                                        cos dedicados a acompanhar cada pas-
                                                                                                                                        so dos projetos, do início ao fim.
                                                                                                                                           Entre investimentos diretos em em-
                                                                                                                                        preendimentos e concessões de crédito,
                                                                                                                                        o IFC promete injetar pelo menos 1,6 bi-
                                                                                                                                        lhão de reais no Nordeste este ano, um
                                                                                                                                        volume que equivale a 40% de todos os
                                                                                                                                        recursos aplicados no Brasil. Entram na
                                                                                                                                        carteira projetos de todos os tipos. A ex-
                                                                                                                                        pansão do Tecon Salvador, o terminal de
                                                                                                                                        contêineres do porto da capital baiana,
                                                                                                                                        por exemplo, recebeu financiamento de
                                                                                                                                        160 milhões de reais da IFC. “A região é
                                                                                                                                        uma prioridade para a instituição e, den-
                                                                                                                                        tro dela, os projetos de infraestrutura
                                                                                                                                        ganham atenção especial porque são os
                                                                                                                                        que provocam impactos de mais longo
                                                                                                                                        prazo”, afirma Pires. Enquanto a IFC se
                                                                                                                                        ocupa dos projetos privados, o Banco
                                                   consumidos até abril”, afirma Aguiar,      A ferrovia                                Mundial tem recursos destinados a fi-
                                                   da Sudene. No último mês e meio de         Transnordestina                           nanciar obras e investimentos dos go-
                                                   2012, depois de uma mudança nas re-                                                  vernos estaduais e municipais do Nor-
                                                   gras do FDNE que era aguardada há          vai cruzar                                deste. Para este ano, os desembolsos pre-
                                                   anos, empreendedores interessados em       o interior e ligar                        vistos são da ordem de 3 bilhões de reais.
                                                   investir no Nordeste correram para ca-     o Porto de Suape
                                                   dastrar novos projetos de investimento     ao de Pecém                               Até bancos de fomento de outros paí-
                                                   na superintendência. O resultado foi a                                               ses emergentes, como os chineses, têm
                                                   formação de uma carteira de pedidos                                                  voltado seus recursos para o Nordeste
                                                   de crédito que ultrapassou 6 bilhões de                                              brasileiro. Um parque de geração de
                                                   reais – desde que foi criado, o FDNE de-   Na mesma trilha.                          energia eólica construído pela Desen-
                                                                                              Pedidos de crédito
                                                   sembolsou pouco menos de 4 bilhões         na Sudene superam                         vix e inaugurado em janeiro em Sergi-
                                                   para financiar projetos como o da cons-    6 bilhões de reais                        pe recebeu o equivalente a 112 milhões
                                                   trução da ferrovia Transnordestina,                                                  de reais em financiamento do Banco
                                                   que vai ligar o interior pernambucano e                                              de Desenvolvimento da China (CDB,
                                                   piauiense aos portos de Suape, também                                                em inglês) no ano passado. “Bancos eu-
                                                   em Pernambuco, e de Pecém, no Ceará.                                                 ropeus e asiáticos estão encharcados
                                                   “Certamente, teremos um problema                                                     de dinheiro em busca de bons projetos
                                                   positivo, que vamos procurar resolver                                                para financiar”, diz Humberto Gar-
                                                   costurando com o governo a liberação                                                 giulo, diretor da Upside, consultoria
                                                   de mais recursos”, diz Aguiar.                                                       que assessorou a Desenvix na opera-
                                                                                                                                        ção. Sem restrições de recursos para
                                                   Recorrer aos cofres das instituições                                                 aplicar – a carteira de créditos conce-
                                                   públicas brasileiras – como o BNDES, o     de retorno dos investimentos no Nor-      didos pelo CDB ultrapassa 1,7 trilhão
                                                   BNB e a Sudene – para financiar inves-     deste é tão boa que mesmo bancos e or-    de reais, quatro vezes maior que a do
                                                   timentos no Nordeste é muito vantajo-      ganizações de fomento estrangeiras es-    BNDES –, o montante do projeto
                                                   so por causa dos custos. Na Sudene, por    tão tratando de fincar bandeira por lá,   f
                                                                                                                                        ­ inanciado pelo banco chegou a 80%.
                                                   exemplo, é possível conseguir crédito      atraindo os empreendedores com ou-        Em troca, parte dos equipamentos
                                                   com prazo de 20 anos e juros de até 5%     tras armas. “O Nordeste não é exata-      usados na obra foi comprada de empre-
                                                   anuais. Em geral, as taxas são tão mais    mente o lugar mais fácil do mundo pa-     sas da China. “Mas a disponibilidade
                                                   baixas quanto mais carente de infraes-     ra fazer negócios”, diz Loy Pires, ge-    de recursos que uma instituição como
                                                   trutura for a região onde o projeto será   rente no Brasil da International Finan-   essa proporciona compensa”, afirma
                                                   instalado, ou quanto maior for a reper-    ce Corporation (IFC), braço do Banco      Gargiulo. E, cada vez mais, compensa
                                                   cussão socioeconômica que tiver po-        Mundial que financia projetos priva-      buscar formas de viabilizar investi-
                                                   tencial para gerar. Mas a expectativa      dos em países em desenvolvimento.         mentos no Nordeste. – POR MARIANA SEGALA
                                                   54   www.cartacapital.com.br




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N o r d e s t e : Desenvolvimento



        Um pacote de R$ 282 bilhões
        Os investimentos anunciados para os estados da região nos
        últimos cinco anos somam o equivalente ao PIB de Bahia,
        Pernambuco e Rio Grande do Norte juntos




     L
                    uiz gonzaga, o compositor                                                               cerca de 246 bilhões de reais em obras e




                                                                               e s ta dão c o n t e ú d o
                    pernambucano que ficou                                                                  projetos estão em andamento na região.
                    conhecido Brasil afora co-                                                                 Na invejável situação de ser o ponto
                    mo o Rei do Baião, foi quem                                                             de convergência de diversos elementos
                    melhor retratou em músi-                                                                que interessam a diferentes perfis de
                    ca as agruras de nascer nor-                                                            empresas, o Nordeste é uma das úni-
                    destino no século XX. Na le-                                                            cas regiões do Brasil que conseguem
        tra de Sertão Sofredor, canção gravada                                                              agradar a gregos e troianos. Compa-
        na década de 1950 em que descrevia seu                                                              nhias exportadoras têm na região um
        “sertãozinho desprezado como o quê”,                                                                campo fértil de negócios, assim como
        Gonzagão questionava: “Cadê as fábri-                                                               as indústrias que abastecem o merca-
        cas? Cadê as indústrias? Cadê as coisas                                                             do interno com produtos de consumo
        boas anunciadas para o Nordeste?” Sen-                                                              – ou as duas coisas ao mesmo tempo.
        do rico em matérias-primas e em gente                                                                  “Instalados em Pernambuco, fica-
        para trabalhar, faltava para a região, na                                                           mos próximos de seis capitais nordesti-
        opinião do músico, “uma ajuda leal do                                                               nas e, ao mesmo tempo, na extremidade
        grande chefe: o governo federal”. Déca-                                                             oriental da América do Sul”, diz Cledor-
        das depois de feito, o clamor de Gonza-                                                             vino Belini, presidente da Fiat Chrysler
        gão parece começar a ser atendido.                                                                  na América Latina. A montadora, que
           As iniciativas de distribuição de                                                                está construindo uma fábrica na cidade
        renda e os investimentos que vêm sen-                                                               de Goiana, na Zona da Mata pernambu-
        do promovidos e estimulados nas es-         Versos                                                  cana, se posicionou no centro de uma
        feras federal e estadual estão ajudan-      de Gonzagão                                             região cuja frota de automóveis cresceu
        do a transformar a região em um po-         tornaram-se                                             120% nos últimos dez anos.
        lo de interesse para as fábricas e as in-
        dústrias que o músico insistia em que-
                                                    vaticínio da                                            O mercado nacional avançou 85%. Ho-
        rer ver instaladas no Sertão. Nos últi-     realidade                                               je, há um carro para cada 11 nordestinos
        mos cinco anos, empresas anunciaram         atual da região                                         – é uma taxa muito melhor que a do iní-
        investimentos de, no mínimo, 282 bi-                                                                cio da década passada, de um para ca-
        lhões de reais nos estados nordesti-                                                                da 22, mas ainda longe da média nacio-
        nos, segundo o Ministério do Desen-                                                                 nal, de um para cinco. Um olho da Fiat
                                                    Cifras industriais.
        volvimento – é o equivalente ao PIB         As fábricas que o músico                                está nesses consumidores, ávidos pe-
        de Bahia e Pernambuco, as maiores           pedia na década                                         lo conforto de um automóvel. O outro,
        e
        ­ conomias da região, somado ao do          de 1950 chegaram                                        nas suas exportações pelo Porto de Sua­
        Rio Grande do Norte.                                                                                pe, a potência pernambucana que liga-
                                                                                                            rá a empresa a pelo menos 160 pontos
        Maranhão, Ceará, Bahia e Pernambu-                                                                  da África, Europa e América do Norte.
        co estão entre os destinos mais pro­                                                                   O mercado consumidor nordestino é
        curados para os novos empreendimen-                                                                 um chamariz também para indústrias
        tos industriais e comerciais que seguem                                                             que produzem bens de valor agregado
        para a região. Muitos deles já foram le-                                                            bem menor do que o de um automóvel.
        vados a cabo, enquanto outros não saí-                                                              “Assim como os chineses, a população
        ram – e, talvez, nunca saiam – do papel.                                                            do Nordeste também se alimenta me-
        Mas o fato é que, neste exato momento,                                                              lhor hoje do que há algumas décadas­ , ”
                                                                                                             cartacapital | 27 de fevereiro de 2013   55




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N r m o t t e s : Reportagem
                                C o md e sd ie : iDesenvolvimento


                           diz Leonardo Freitas, diretor-supe-                                       ao Porto de Itaqui, em São Luís – ou se-
                           rintendente da Algar Agro, beneficia-                                     ja, é bom lugar também para os expor-
                           dora de soja. Há seis anos, a empre-                                      tadores. A infraestrutura tende a ficar
                           sa instalou uma unidade de processa-                                      ainda melhor em alguns anos. Só a mi-
                           mento em Porto Franco, no sul do Ma-                                      neradora Vale está investindo 12,5 bi-
                           ranhão, que no ano ­ assado ­ anhou
                                                 p         g                                         lhões de reais para duplicar a Estrada
                           também uma refinaria de óleo. Cer-                                        de Ferro Carajás, que serve ao escoa-
                           ca de 220 milhões de reais em investi-      Freitas e Hiltner             mento do minério que explora. “As van-
                           mentos depois, a fábrica maranhense         destacam                      tagens logísticas do Nordeste, em com-
                           já representa mais da metade das ven-                                     paração com outras regiões, são um di-
                           das da Algar Agro, sediada em Uber-
                                                                       as vantagens                  ferencial que já foi aprendido pelos in-
                           lândia, no Triângulo Mineiro.               logísticas                    vestidores”, afirma Ricardo Belo, di-
                              “Com a fábrica lá, conseguimos           e climáticas                  retor de consultoria da Ernst & Young
                           abastecer o mercado nordestino com          da região                     Terco na região. Não é à toa que o Ma-
                           um custo muito competitivo”, diz o                                        ranhão foi o estado do Nordeste que te-
                           executivo. O Maranhão, em especial,                                       ve mais investimentos anunciados nos
                           reserva vantagens logísticas dificil-                                     últimos cinco anos, totalizando quase
                           mente encontradas em outros lugares.        Infraestrutura.               70 bilhões de reais, à frente de líderes
                                                                       A Vale reserva 12,5 bilhões
                           É cortado por rodovias importantes e        de reais para duplicar        históricos como Bahia e Pernambuco.
                           ferrovias que ligam o interior do ­ stado
                                                             e         a Estrada de Ferro Carajás
                                                                                                     Há ainda casos de empresas que, por
                                                                                                     características específicas do Nordes-
                                                                                                     te, não poderiam se instalar em qual-
                                                                                                     quer outro lugar que não na região. “Pe-
                                                                                                     las condições de luz e ­ lima, ­ lagoas é
                                                                                                                             c      A
                                                                                                     o melhor local para fazer os cruzamen-
                                                                                                     tos de cana-de-açúcar que geram a es-
                                                                                                     pécie de que precisamos, com baixo te-
                                                                                                     or de açúcar e alta concentração de fi-
                                                                                                     bras”, justifica Alan Hiltner, vice-pre-
                                                                                                     sidente da GraalBio, fabricante de eta-
                                                                                                     nol do Grupo Graal, pertencente à fa-
                                                                                                     mília Gradin. O grupo, que está in-
                                                                                                     vestindo 350 milhões de reais para le-
                                                                                                     vantar uma planta em São Miguel dos
                                                                                                     Campos, cidade de 56 mil habitantes
                                                                                                     no leste alagoano, será o primeiro no
                                                                                                     Hemisfério Sul a produzir etanol celu-
                                                                                                     lósico, que usa a palha e o bagaço da ca-
                                                                                                     na como matéria-prima.
                                                                                                        Da mesma forma, a Vale e seus só-
                                                                                                     cios coreanos da Dongkuk Steel e da
                                                                                                     Posco avaliaram que o Ceará – mais
                                                                                                     especificamente São Gonçalo do Ama-
                                                                                                     rante, na região metropolitana de For-
                                                                                                     taleza – era o lugar do Brasil mais ade-
                                                                                                     quado para instalar a sua Companhia
                                                                                                     Siderúrgica do Pecém (CSP). A side-
                                                                                                     rúrgica, que terá capacidade de pro-
                                                                                                     duzir 3 milhões de toneladas por ano
                                                                                                     de aço quando estiver pronta, está sen-
                                                                                                     do erguida a 8 quilômetros do Porto de
                                                                                                                                                    m a r c o p o m a r i c o/g r a a l b i o




                                                                                                     Pecém. “A produção de aço é tão mais
                                                                                                     competitiva quanto mais próxima es-
                                                                                                     tiver das matérias-primas, que são o
                                                                                                     carvão e o minério de ferro”, explica
      da r i o z a l i s




                                                                                                     Marcos Chiorboli, presidente da CSP.
                                                                                                     “Se essas duas coisas andam de navio e
                                                                                                     o aço é exportado pelo mesmo meio, só
                           56   www.cartacapital.com.br




•EEReportagem4OK_44.indd 56                                                                                                                20/02/13 21:21
N o r d e s t e : Desenvolvimento


                                                                                                 vos investimentos que retroalimentam
                                                                                                 uma cadeia de alto impacto nas ativida-
                                                                                                 des diárias da população local. É o ca-
                                                                                                 so da geração de energia eólica. De 2009
                                                                                                 para cá, depois dos leilões de compra de
                                                                                                 energia pelo governo que priorizaram
                                                                                                 fontes renováveis, estados como Bahia,
                                                                                                 Ceará e Rio Grande do Norte se torna-
                                                                                                 ram celeiros de implantação de parques
                                                                                                 eólicos. Atualmente, há mais de cem de-
                                                                                                 les em construção, segundo a Associação
                                                                                                 Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica),
                                                                                                 e as obras de outra centena devem come-
                                                                                                 çar nos próximos anos – um investimen-
                                                                                                 to que totaliza mais de 16 bilhões de reais.

                                                                                                 A Renova Energia resolveu instalar
                                                                                                 seus parques nos arredores da cida-
                                                                                                 de de Caetité, a quase 800 quilômetros
                                                                                                 de Salvador. Lá, os ventos são melho-
                                                                                                 res nas áreas montanhosas. “Um dos
        poderíamos nos instalar em um porto                                                      nossos maiores desafios foi fazer che-
                                                                        o lg a v l a h o u




        bem estruturado como Pecém.” Puxa-                                                       gar os equipamentos até esses lugares”,
        dos pelo Complexo Industrial do Porto                                                    diz Mathias Becker, presidente da em-
        de Pecém, os investimentos anuncia-                                                      presa. Cada pá do cata-vento que faz
        dos no Ceará ultrapassaram 69 bilhões                                                    uma turbina eólica funcionar mede 40
        de reais nos últimos cinco anos.                                                         metros, em média. Não havia no ser-
           A tentativa de levar para o Nordeste                                                  tão baiano estradas ou pontes que su-
        empresas capazes de gerar não apenas                                                     portassem uma estrutura tão grande.
        emprego, mas também um grande im-            A casa de Rita,                             Por isso, empresa e governo tiveram
        pacto de desenvolvimento econômico e         antes isolada no                            de abrir os cofres e se debruçar sobre
        social, não é nova no País. Leis federais    mato, agora tem                             as pranchetas para reforçar a estrutu-
        que isentavam de Imposto de Renda os         acesso à estrada                            ra rodoviária da rota que os caminhões
        projetos realizados na região datam já       por causa                                   com os ­ quipamentos seguiriam.
                                                                                                         e
        da década de 1960 – atualmente, no-                                                         “Já investimos 20 milhões de reais e
        vos empreendimentos conseguem ob-
                                                     de uma usina eólica                         temos mais 140 milhões de reais para
        ter um desconto de 75% no IR duran-                                                      concretar estradas, melhorar pontes e
        te dez anos. A questão é que foi nos úl-                                                 abrir acessos e desvios para a indústria
        timos anos que o conjunto formado pe-        Menos falhas.                               eólica”, afirma James Silva Santos Cor-
        los incentivos, as melhorias de infra-       Os custos que afugentavam                   reia, secretário da Indústria, Comér-
        estrutura e o mercado consumidor em          os empresários                              cio e Mineração da Bahia. Foi na pri-
                                                     diminuíram, diz Gabrielli
        expansão maturou. “Os empresários já                                                     meira leva de investimentos que se tor-
        não precisam compensar com a produ-                                                      nou possível chegar de carro à casa de
        tividade os custos com logística e ou-                                                   Rita Maria da Silva, baiana de 58 anos.
        tras falhas do Nordeste, como antes”,        Mais de 7 mil pessoas já passaram pelo      Ela e os vizinhos moravam, como cos-
        diz José Sergio Gabrielli, ex-presidente     programa de treinamento da empresa.         tuma dizer, isolados no meio do mato.
        da Petrobras e atual secretário de Pla-      “Talvez essas pessoas nem sequer che-       “Para chegar em casa, só de cavalo por
        nejamento da Bahia.                          guem a trabalhar para nós, mas estão        um caminhozinho que levava até a es-
                                                     voltando para casa com formação de pe-      trada mais próxima”, conta. Mas, como
        Os efeitos de ver instalada na região        dreiro, de carpinteiro. São profissionais   o lugarejo estava no roteiro da Renova,
        uma indústria de grande porte podem          prontos para trabalhar em obras”, diz       Rita ganhou um acesso até a porta da
        alcançar níveis tão elevados a ponto de      Adriano Canela, diretor do projeto da       sala – e, de quebra, emprego na empre-
        mudar completamente a realidade lo-          Suzano no estado – uma herança e tan-       sa para um dos filhos e um dos genros.
        cal. Para conseguir bons trabalhadores       to para o estado, um dos poucos ­ nde o
                                                                                       o         Em meio às cifras bilionárias dos inves-
        para a fábrica de papel e celulose que es-   número absoluto de adultos analfabetos      timentos no Nordeste, a estradinha que
        tá construindo na maranhense Impera-         aumentou nos últimos dez anos.              conduz à casa de Rita parece singela
        triz, a Suzano reservou 10 milhões de           Outras indústrias são tão inovadoras     demais para ser levada em conta. Mas
        reais dos 5,8 bilhões de reais que está
        investindo na cidade para treinar gente.
                                                     para determinados locais ainda ermos
                                                     do Nordeste que acabam por exigir no-
                                                                                                 Rita garante que não é.
                                                                                                 – POR MARIANA SEGALA
                                                                                                                           •
        58   www.cartacapital.com.br




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Nordeste: como a renda cresceu 40% e a região deixou de ser sinônimo de pobreza

  • 1. RELATÓRIOS ESPECIAIS NORDESTE Retirada. 27 DE FEVEREIRO DE 2013 Para o Nordeste A renda do nordestino cresceu 40% nos últimos anos, promoveu o regresso de muita gente que abandonara a região e investimentos de 282 bilhões de reais L EO C A L DA S / P U L S A R I M AG E N S •EECapaOK_44.indd 1 20/02/13 20:40
  • 2. n o r d e s t e : Conjuntura Liquidez no Sertão Depois de décadas de miséria, a região começa a deixar de lado a imagem de recanto da pobreza brasileira POR MARIANA SEGALA P ouca gente conhece me- deste. “A orientação dos investimentos pú- lhor a cidade baiana de blicos para a infraestrutura e as políticas de L ­ uís Eduardo Magalhães, redistribuição de renda no Brasil teve o im- 950 quilômetros a oeste de pacto potencializado no Nordeste.” Salvador, do que a famí- Não é difícil entender por quê. “Os lia ­ auck. Eles chegaram L trabalhadores que ganham salário mí- à Bahia, vindos do Paraná, nimo formam um público enorme no no começo da década de 1980, quando Nordeste que, até dez anos atrás, não ti- o local que hoje abriga o município não O nordestino nha poder de consumo nenhum”, afir- passava de um povoado minúsculo ape- trocou o jegue ma Saumíneo Nascimento, secretário de lidado de Mimoso do Oeste. Era um lu- pela moto e o Desenvolvimento Econômico de Sergi- garejo sem nada. Tudo que oferecia era ventilador pelo pe. De lá para cá, o mínimo teve um au- terra para plantar. Os Lauck mudaram- ar-condicionado, mento real, descontada a inflação do pe- -se para lá numa época em que o normal ríodo, de nada menos que 70%. Seu valor era fazer exatamente o contrário: dei- diz Nascimento atual é suficiente para comprar mais de xar a miséria do Nordeste e seguir para duas cestas básicas, segundo as contas o Sudeste próspero, em busca de opor- do Departamento Intersindical de Esta- tunidades de trabalho. Porém, menos de Fluxo migratório. tística e Estudos Socioeconômicos (Die- 30 anos depois de instalados os primei- O agronegócio fez várias ese). É a melhor relação já registrada pe- ros moradores, Luís Eduardo Magalhães cidades nordestinas lo órgão desde o fim dos anos 1970. ficarem entre as mais hoje ostenta um símbolo dos ares muito procuradas no Brasil diferentes que passaram a circular na re- Esse movimento ajudou a renda dos gião na última década. A cidade é a 11ª do nordestinos a crescer acima da média Brasil que mais recebeu imigrantes nos nacional. O rendimento da região au- últimos anos. Pelo menos 35% da sua po- mentou 40% desde 2004, 10 pontos mais pulação (66 mil habitantes) não morava que o crescimento da renda dos brasilei- no município cinco anos atrás. “Vimos a altos índices de migração de retorno do ros em geral. Isso provocou uma mudan- cidade nascer, crescemos com ela e agora País: 23% dos imigrantes de Pernambu- ça de hábitos sem precedentes. “Quem percebemos como tudo está mudando”, co, por exemplo, são pessoas no caminho usava ventilador, hoje luta contra o calor conta o produtor rural Fábio Lauck, que de volta para o estado natal. E há bolsões com ar-condicionado”, diz Nascimento. mora lá desde os 8 anos de idade. de atração como Luís Eduardo Maga- Quem se locomovia com os folclóricos je- O Nordeste ainda exporta gente, e lhães, onde o crescimento econômico ca- gues consegue comprar uma motocicleta muita ainda, para o Sudeste, mas os nú- tapultado pelo agronegócio foi expressi- (a frota nordestina sobre duas rodas qua- meros do Instituto Brasileiro de Geogra- vo a ponto de ter feito sua população qua- druplicou desde 2002). Quem não tinha fia e Estatística (IBGE) mostram que o se quadruplicar em menos de 15 anos. eletrodoméstico passou a ter – e o con- fluxo diminuiu consideravelmente na “Estamos finalmente conseguindo livrar sumo de energia elétrica nas casas da re- última década. Mais do que isso: além de a região da imagem de saco de pobreza que gião disparou 84% em uma década, mais reter nordestinos, a região também tem ela tinha até bem pouco tempo atrás”, diz do que em qualquer outro lugar do Brasil. conseguido atrair de volta gente que um Tânia Barcelar, professora da Universidade Esse círculo virtuoso pôs o Nordes- dia decidiu sair. Os estados do Nordeste Federal de Pernambuco e sócia da consul- te em uma situação econômica privile- estão entre os que apresentam os mais toria Ceplan, especializada na Região Nor- giada. “Assim como a Região Norte e a 46 www.cartacapital.com.br •EEAbre_44.indd 46 20/02/13 21:15
  • 3. relatórios especiais cartacapital Centro-Oeste, estamos em uma frontei- ra de expansão cobiçada por empresas e investidores”, diz Paulo Ferraz Guima- rães, chefe do departamento nordestino do Banco Nacional de Desenvolvimen- to Econômico e Social (BNDES). Apesar dos efeitos da crise financeira de 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) da região cresceu a uma média de 4,5% ao ano de 2002 para cá, com picos de 5,7% no Ma- ranhão e 5,4% no Piauí. Espera-se, no entanto, que no próximo par de anos o crescimento do Nordeste se distancie ainda mais da média brasileira, que foi de 4% no mesmo período. “O conjunto de investimentos que exis- tem na região está maturando agora e promete mostrar a que veio em bre- ve”, destaca Guimarães. O crescimen- to econômico é a arma que pode aju- dar a região a superar os abismos his- tóricos de desenvolvimento econômico e social que ainda a separam das áreas mais avançadas do País. Um olhar rápi- do sobre as estatísticas educacionais do Nordeste indica o tamanho do desafio a enfrentar. O número de adultos anal- fabetos da região caiu 15%, mas lá ain- da está a taxa mais alta do País de pesso- as que não sabem ler um simples bilhe- te. Elas representam 16,9% da popula- ção de 15 anos ou mais. A renda dos nor- destinos aumentou, mas continua a ser a mais baixa do Brasil. A economia se di- namizou, mas ainda é desproporcional l u i s t i to/ag . a ta r e d e quando comparada com o tamanho de sua população – o PIB do Nordeste equi- vale a 13,5% do PIB do País, mas lá vivem quase 30% dos brasileiros. Não existe mágica para sair da lanterninha. • cartacapital | 27 de fevereiro de 2013 47 •EEAbre_44.indd 47 20/02/13 21:15
  • 4. Formas de medir a riqueza nordestina Bahia 60,7 154,3 PIB em 2002 em bilhões de brasil 35,3 Pernambuco 95,2 reais 28,9 (valores Ceará correntes) nordeste 77,9 15,5 Maranhão 45,3 12,4 Paraíba 31,9 PIB em 2010 Rio Grande do Norte 12,2 em bilhões 32,3 de reais 9,8 Alagoas 24,6 (valores Sergipe 9,5 correntes) 23,9 Piauí 7,4 22,1 191,7 507,5 1.477,8 3.770,1 Fonte: IBGE Crescimento do PIB 2002-2010 (acumulado) - Em % PIB per capita em 2002 em milhares de reais (valores correntes) 56 52,5 19,8 45,1 44,4 43,5 41,5 39,2 42,4 37,1 34,3 PIB per capita em 2010 em milhares de reais 30,9 (valores correntes) 11 11,6 Crescimento do PIB 2002-2010 (média anual) - Em% 10,8 10,2 9,2 8,5 9,6 8,5 7,9 7,1 6,9 5,7 5,4 4,8 4,7 4,6 4,4 4,2 3,8 3,4 4,5 4 5,1 4,6 4,4 4,3 3,9 3,8 3,5 3,4 2,6 2,7 Pernambuco Brasil Rio Grande Alagoas Paraíba Nordeste Ceará Bahia Sergipe Piauí Maranhão do Norte Bahia Ceará Paraíba Alagoas Piauí Brasil Pernambuco Maranhão Rio Gde Sergipe Nordeste Fonte: IBGE do Norte Fonte: IBGE Indicadores sociais População em 2002 População em 2010 População em 2012 Bahia 13.323.212 14.021.432 14.175.341 Pernambuco 8.084.667 8.796.032 8.931.028 Ceará 7.654.535 8.448.055 8.606.005 Maranhão 5.803.224 6.569.683 6.714.314 Paraíba 3.494.893 3.766.834 3.815.171 Rio Grande do Norte 2.852.784 3.168.133 3.228.198 Alagoas 2.887.535 3.120.922 3.165.472 Sergipe 1.846.039 2.068.031 2.110.867 Piauí 2.898.223 3.119.015 3.160.748 Nordeste 48.845.112 53.078.137 53.907.144 Fonte: IBGE Brasil 174.632.960 190.747.855 193.946.886 Rendimento médio mensal real Nordeste educação 8 6,8 12,4 8,6 (10 anos ou mais) Em R$ Brasil 24,2 16,9 6,1 4,7 7,3 6,2 15,1 12,9 Crescimento 1000 (2004/2011) Número de Número de Taxa de Taxa de Número Número 800 Em % analfabetos em analfabetos em analfabetismo analfabetismo médio de médio de 40,3 600 2001 em 2011 em em 2001 em 2011 anos de anos de 400 milhões de milhões de em % em % estudo em estudo em pessoas pessoas Nordeste 2001 2011 200 30,6 (15 anos (15 anos (10 anos (10 anos 0 ou mais) ou mais) ou mais) 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 ou mais) Brasil Fonte: IBGE Fonte: IBGE Proporção da população por classe Nordeste Brasil de rendimento - Em % frota 2002 2012 2002 2012 AB C D E Carro 2.238.315 4.928.685 23.036.041 42.682.111 3,3 4,9 8,3 10,6 Crescimento 120% 85% 15,3 922.316 4.500.857 4.945.256 16.910.473 20,7 28,7 27,5 Moto 49 34,7 38,1 23,6 50,5 Crescimento 388% 242% 27 31,8 26,1 4.079.993 11.939.732 35.523.633 76.137.191 2001 2009 2001 2009 Total 193% 114% Fonte: Ceplan Fonte: Denatran 48 www.cartacapital.com.br •EEAbre_44.indd 48 20/02/13 21:15
  • 5. N o r d e s t e : Incentivos fiscais Uma colher de chá Estados que se fiam na isenção de impostos estendem a rede de benefícios para atrair investimentos A decisão sobre on- É mais que o orçamento do estado com de aportar alguns mi- O governo de saneamento. O governo calcula, porém, lhões de reais em in- que cada real dado em renúncia fiscal in- vestimento fica mais Pernambuco jete outros 3 na economia real. fácil para uma empresa calcula que cada “O Nordeste avançou muito nos últi- quando ela é recebida real dado em mos anos, mas ainda há diferenças tão com tapete vermelho renúncia fiscal brutais entre nós e o Sul e Sudeste que como o que Pernambuco estendeu para injete outros 3 na precisamos dar incentivos para com- a Nissin-Ajinomoto, fabricante de macar- economia real pensá-las”, afirma James Silva Santos rão instantâneo. Para convencer a japone- Correia, secretário de Indústria, Co- sa a levantar sua segunda fábrica brasilei- mércio e Mineração da Bahia. O estado, ra no distrito industrial de Glória do Goi- que tinha renúncias de ICMS de 2,5 bi- tá, uma das dez cidades mais pobres do lhões previstas para o ano passado, foi estado, cravada na Mata Norte pernam- um dos que tiveram mais investimentos bucana, o governo fez de tudo um pouco. anunciados nos últimos cinco anos. Vendeu a preço de banana o terreno para a construção, tão grande quanto 27 cam- Do ponto de vista dos investidores, os in- pos de futebol como o Estádio do Mara- centivos negociados com os governos cos- canã – cada metro quadrado foi avalia- tumam ser fatores decisivos para a escolha do em menos de 1,30 real. Garantiu à em- do Nordeste como a região onde se insta- presa, por pelo menos 12 anos, desconto lar. A opção por um ou outro estado, no en- de 85% no Imposto sobre a ­ irculação de C tanto, leva em consideração mais fatores de Mercadorias e Serviços (ICMS) inciden- atração. No Maranhão, o governo tem fei- te no preço dos produtos feitos no estado. to um esforço para qualificar a mão de obra necessária nas plantas industriais que es- Para completar o pacote e assegurar tão sendo erguidas no estado. Em parce- que as caldeiras da fábrica pudessem fun- ria com universidades e escolas técnicas, o cionar, a Copergás, distribuidora de gás plano é que 400 mil pessoas tenham trei- de Pernambuco, foi destacada para cons- namento técnico até o ano que vem. truir 13 quilômetros de gasoduto até as Outra frente atacada procura desburo- portas da empresa. A planta foi inaugu- cratizar a concessão das licenças ambien- rada em 2012. “Quando uma cidade não tais exigidas para a instalação de grandes tem empresa nenhuma, a inércia barra os empreendimentos. “Envolvemos os téc- primeiros investimentos. Nesses casos, nicos da Secretaria do Meio Ambiente no somos realmente agressivos”, diz Márcio em crescimento econômico, empregos e, processo desde o momento em que as em- Stefanni Monteiro, secretário de Desen- mais tarde, em nova arrecadação de im- presas manifestam a intenção de vir pa- volvimento Econômico de Pernambuco. postos. Os descontos de ICMS, que che- ra cá”, explica Maurício Macedo, secretá- Conseguir pacotes de benefícios, como gam a superar 90%, são os mais comuns. rio de Desenvolvimento do estado. Todo o obtido pelos japoneses, não é um privilé- Só em Pernambuco, que abate até 95% do o projeto da Refinaria Premium I, um in- gio de quem opta por investir em Pernam- imposto para atrair indústrias, o volume vestimento de 37 bilhões de reais previsto buco. Em maior ou menor grau, o mes- de incentivos relacionados ao ICMS con- pela Petrobras na cidade de Bacabeira, le- mo expediente é usado por todos os esta- cedidos no ano passado pode ter ultrapas- vou seis meses para ser licenciado, segun- dos do Nordeste para atrair recursos que sado 1,4 bilhão de reais, pelas contas da do o secretário – um prazo considerado – os governos asseguram – se revertem Confederação Nacional dos Municípios. reduzido para obras de tamanho porte. 50 www.cartacapital.com.br •EEReportagem3OK_44.indd 50 20/02/13 21:18
  • 6. Investimentos anunciados no Nordeste entre 2008 e 2012 (em R$) Maranhão 69.860.915.763 Piauí 9.635.178.753 Ceará 69.076.931.440 Rio Grande do Norte 6.504.437.200 Paraíba o projeto da empresa. “Nossas demandas 2.366.246.046 têm acesso fácil ao governador. Percebe- mos que, embora estejamos fazendo um Pernambuco 47.460.392.469 investimento pequeno, somos importan- tes para o estado.” Alagoas 3.265.490.675 Agilidade, eficiência e bom trânsito entre os empreendedores tendem a se Sergipe tornar ativos cada vez mais importantes 15.040.028.773 para os estados atraírem investimentos, Bahia à medida que a discussão sobre a legali- 58.441.109.334 dade dos incentivos fiscais se aprofun- da. Desde 2011, o Supremo Tribunal Fe- deral (STF) vem considerando inconsti- tucionais isenções de ICMS concedidas 80.000 e por diversos estados brasileiros que não foram aprovadas por unanimidade no 70.000 Conselho Nacional de Política Fazendá- ria (Confaz), órgão que congrega os se- 60.000 cretários de Fazenda dos estados. . Em 2012, a Corte ameaçou editar uma 50.000 súmula vinculante sobre o assunto – o que obrigaria os governos a cobrar im- 40.000 postos que tivessem deixado de ser re- colhidos. Em dezembro, o governo fede- 30.000 ral apresentou uma proposta de unifica- ção gradual das alíquotas de ICMS entre 20.000 os estados, mediante a criação de fundos Total destinados a promover o desenvolvimen- 10.000 281.650.730.452 to das regiões menos favorecidas. “O im- Obs.: Inclui apenas portante é assegurar que as empresas que os investimentos feitos 0 já receberam incentivos fiscais no passa- em um só estado Fonte: Renai (MDIC) do não percam o benefício, nem tenham de recolher impostos retroativamente”, No Rio Grande do Norte, o governo tes fiscais do que de disposição para fa- afirma Flávio Castelo Branco, gerente- estadual tem apostado em outra frente. cilitar a vida dos empreendedores. “To- -executivo de política econômica da Con- “Incentivamos o uso de gás na ativida- dos oferecem incentivos de algum tipo”, federação Nacional da Indústria (CNI). de industrial oferecendo tarifas de até 73 afirma Sérgio Schelp, diretor da Bull Mo- No Nordeste, no entanto, as opiniões centavos por metro cúbico, diante de um tors, montadora de motocicletas paulista são mais incisivas. Para James Correia, da preço médio perto de 1,10 real no merca- que escolheu a cidade de Nossa Senhora Bahia, é importante manter nas mãos dos do nacional”, diz Rogério Marinho, se- do Socorro, em Sergipe, para investir 10 estados instrumentos claros de atração de cretário estadual de Desenvolvimento milhões de reais na instalação de uma fá- investimento. “Aceitar a equiparação das Econômico. Mas conquistar uma empre- sa pode depender menos de expedien- brica. O menor estado do Brasil, segun- do o executivo, foi o que acolheu melhor alíquotas seria o suicídio do Nordeste.” – POR MARIANA SEGALA • cartacapital | 27 de fevereiro de 2013 51 •EEReportagem3OK_44.indd 51 20/02/13 21:18
  • 7. N o r d e s t e : Finanças Não vai faltar crédito A disponibilidade de recursos para viabilizar projetos na região triplicou nos últimos cinco anos A té não muito tempo Aguiar, diretor de gestão de fundos, in- atrás, instalar uma em- centivos e atração de investimentos da presa no Nordeste soa- Superintendência de Desenvolvimento va como uma ideia com do Nordeste (Sudene). tão poucas chances de sucesso quanto imagi- Nos últimos cinco anos, o Nordeste nar que, um dia, aquela ajudou a puxar o grosso do crescimen- porção do Brasil pudesse se tornar um to das operações de crédito no País. O mercado cobiçado. O primeiro entrave estoque de financiamentos feitos na re- é que à região faltavam fatores de atra- gião, incluindo os voltados às pessoas h e l i a s c h e p pa /j c i m ag e m ção, qualidades que despertassem o in- físicas, cresceu 230% desde 2007. Che- teresse de potenciais investidores. O gava perto de 300 bilhões de reais no segundo é que, como havia pouca de- fim do ano passado. Mais surpreen- manda, também havia pouco dinheiro dentes que a cifra total, no entanto, são disponível para bancar empreendi- os volumes de financiamentos conce- mentos lá. Dos anos 2000 para cá, a didos para as empresas – no fundo, o mão do Estado – e dos estados – conse- que realmente interessa para os empre- guiu amenizar o primeiro problema. endedores. O crédito para as pessoas lume de operações realizadas nos sete Com o aumento da renda dos nordesti- jurídicas, que financia desde os inves- anos anteriores. Atualmente, 13% do nos e a melhora na infraestrutura da re- timentos produtivos até o capital de gi- orçamento do banco desemboca na gião, o Nordeste começou a ser enxer- ro necessário para que toquem as ope- r ­ egião – era 8% apenas cinco anos gado pelos empreendedores como um rações, aumentou 245% no período. Os atrás. E não se cogita um revés nessa lugar onde é preciso estar. Cidades co- saltos mais marcantes aconteceram em trajetória. O crédito concedido a enor- mo Recife, Salvador, Fortaleza e Natal 2008 e 2009, justamente os anos em mes projetos estruturantes marcou figuram hoje na lista de lugares mais que mais investimentos de empresas uma mudança de patamar nos desem- promissores para fazer investimentos. foram anunciados na região. “Há uma bolsos do BNDES para a região. A dire- A solução do segundo problema veio na carteira tão variada de projetos aconte- ção que o banco adotaria ficou mais sequência. Quanto mais projetos (e cendo no Nordeste que a minha pers- clara a partir de 2009. Naquele ano, projetos parrudos) entraram na fila em pectiva é de ver nossos números cres- quase 10 bilhões de reais – então o busca de financiamento, mais recursos cendo acima da média por um tempo”, maior financiamento de sua história – brotaram para permitir que fossem le- diz Paulo Ferraz Guimarães, chefe do foram destinados à construção da Refi- vados a cabo. O sistema financeiro – em departamento nordestino do Banco naria Abreu e Lima, uma obra de quase especial as instituições públicas, ainda Nacional de Desenvolvimento Econô- 35 bilhões de reais que está sendo er- as maiores financiadoras de grandes mico e Social (BNDES). guida pela Petrobras e a PDVSA, esta- investimentos – ampliou a oferta de Atualmente, o BNDES é uma das tal venezuelana de petróleo, em Per- crédito para a região muito além dos ní- fontes mais relevantes de financia- nambuco. A partir daí, o que se viu foi veis verificados em qualquer outra par- mento para as obras no Nordeste. Os uma espécie de piso informal de de- te do País. “Hoje já não dá para imagi- valores despejados pelo banco na re- sembolsos para a região, que nos últi- nar a região crescendo pouco porque gião entre 2009 e 2012 beiraram 80 bi- mos quatro anos rondou a faixa dos 20 faltou dinheiro”, avalia Henrique lhões de reais, mais que o dobro do vo- bilhões de reais anuais. Em 2012, ­ oram f 52 www.cartacapital.com.br •EEReportagem2_44A.indd 52 20/02/13 20:55
  • 8. Guimarães, do BNDES, e Ary Lanzarin, do BNB, registram expansão nos empréstimos Combustível. A Refinaria Abreu e Lima demandará investimento de 35 bilhões de reais 21 bilhões. “Conseguimos elevar o cré- cursos do Tesouro Nacional. “As con- r ­ eais, emprestados a juros baixíssimos dito para o Nordeste até esse nível por- dições para investir no Nordeste estão para os padrões brasileiros – é possível que a região agora conta com ­ rojetos de p realmente muito interessantes. O ano tomar dinheiro pagando taxas de até grande porte”, diz Guimarães. “Final- passado terminou com crescimento na 3% ao ano. “Temos feito todo o possível mente, o peso do Nordeste nas opera- demanda por recursos e 2013 já come- para atender a todas as demandas”, diz ções do banco aproxima-se dos 13% que çou do mesmo jeito”, avalia Ary Joel de Lanzarin. Não é à toa que um dos slo- a região representa para o PIB do País.” Abreu Lanzarin, presidente do BNB. gans populares do banco para seu pro- Em 2012, o banco desembolsou quase grama de financiamento é: “Pode in- Projetos grandes que consigam amar- 23 bilhões de reais para a economia vestir. Crédito não vai faltar”. rar firmemente todas as pontas – em nordestina, o equivalente ao PIB do Uma filosofia semelhante vem sendo outras palavras, que embutam poten- Piauí. Desse volume, 12,5 bilhões de re- aventada na Sudene, recriada durante o cial de ganhos elevados, tenham sus- ais foram voltados especificamente pa- governo Lula, depois de ter sido extinta tentabilidade financeira e apresentem ra financiamentos de longo prazo, co- em 2001. A autarquia administra o impactos econômicos em cadeia – são mo o de quase 900 milhões de reais F ­ DNE, que tem um orçamento já apro- os preferidos dos maiores financiado- que a Fiat tomou. A origem prioritária vado para este ano de 2 bilhões de reais res do País. Para levantar uma fábrica desses recursos é de repasses da arre- voltados para o financiamento de in- que deve produzir 250 mil carros por cadação de tributos federais como o vestimentos na região. O valor é o mes- ano a partir de 2014, a Fiat vai investir Imposto de Renda e o Imposto sobre mo destinado para o fundo em 2013, 4,5 bilhões de reais, mas quase tudo se- Produtos Industrializados (IPI) que mas, na Sudene, há esforços para que rá bancado com recursos do BNDES, incide sobre produtos importados. ele seja elevado durante o ano. “A de- do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) Neste ano, o banco estima que o volu- manda por crédito cresceu tanto no fim e do Fundo de Desenvolvimento do me de crédito para investimentos atin- do ano passado que acreditamos que os Nordeste (FDNE), abastecido por re- ja a cifra histórica de 13,8 bilhões de nossos recursos possam ser totalmente cartacapital | 27 de fevereiro de 2013 53 •EEReportagem2_44A.indd 53 20/02/13 20:55
  • 9. N o r d e s t e : Finanças “Mas é um país por si só. Como a região h e l d e r tava r e s / d. a . p r e s s cresce mais que o Brasil, nossas apos- tas lá tendem a ser mais lucrativas.” Em vez dos juros, o chamariz de que a ins- tituição se vale é a consultoria de técni- cos dedicados a acompanhar cada pas- so dos projetos, do início ao fim. Entre investimentos diretos em em- preendimentos e concessões de crédito, o IFC promete injetar pelo menos 1,6 bi- lhão de reais no Nordeste este ano, um volume que equivale a 40% de todos os recursos aplicados no Brasil. Entram na carteira projetos de todos os tipos. A ex- pansão do Tecon Salvador, o terminal de contêineres do porto da capital baiana, por exemplo, recebeu financiamento de 160 milhões de reais da IFC. “A região é uma prioridade para a instituição e, den- tro dela, os projetos de infraestrutura ganham atenção especial porque são os que provocam impactos de mais longo prazo”, afirma Pires. Enquanto a IFC se ocupa dos projetos privados, o Banco consumidos até abril”, afirma Aguiar, A ferrovia Mundial tem recursos destinados a fi- da Sudene. No último mês e meio de Transnordestina nanciar obras e investimentos dos go- 2012, depois de uma mudança nas re- vernos estaduais e municipais do Nor- gras do FDNE que era aguardada há vai cruzar deste. Para este ano, os desembolsos pre- anos, empreendedores interessados em o interior e ligar vistos são da ordem de 3 bilhões de reais. investir no Nordeste correram para ca- o Porto de Suape dastrar novos projetos de investimento ao de Pecém Até bancos de fomento de outros paí- na superintendência. O resultado foi a ses emergentes, como os chineses, têm formação de uma carteira de pedidos voltado seus recursos para o Nordeste de crédito que ultrapassou 6 bilhões de brasileiro. Um parque de geração de reais – desde que foi criado, o FDNE de- Na mesma trilha. energia eólica construído pela Desen- Pedidos de crédito sembolsou pouco menos de 4 bilhões na Sudene superam vix e inaugurado em janeiro em Sergi- para financiar projetos como o da cons- 6 bilhões de reais pe recebeu o equivalente a 112 milhões trução da ferrovia Transnordestina, de reais em financiamento do Banco que vai ligar o interior pernambucano e de Desenvolvimento da China (CDB, piauiense aos portos de Suape, também em inglês) no ano passado. “Bancos eu- em Pernambuco, e de Pecém, no Ceará. ropeus e asiáticos estão encharcados “Certamente, teremos um problema de dinheiro em busca de bons projetos positivo, que vamos procurar resolver para financiar”, diz Humberto Gar- costurando com o governo a liberação giulo, diretor da Upside, consultoria de mais recursos”, diz Aguiar. que assessorou a Desenvix na opera- ção. Sem restrições de recursos para Recorrer aos cofres das instituições aplicar – a carteira de créditos conce- públicas brasileiras – como o BNDES, o de retorno dos investimentos no Nor- didos pelo CDB ultrapassa 1,7 trilhão BNB e a Sudene – para financiar inves- deste é tão boa que mesmo bancos e or- de reais, quatro vezes maior que a do timentos no Nordeste é muito vantajo- ganizações de fomento estrangeiras es- BNDES –, o montante do projeto so por causa dos custos. Na Sudene, por tão tratando de fincar bandeira por lá, f ­ inanciado pelo banco chegou a 80%. exemplo, é possível conseguir crédito atraindo os empreendedores com ou- Em troca, parte dos equipamentos com prazo de 20 anos e juros de até 5% tras armas. “O Nordeste não é exata- usados na obra foi comprada de empre- anuais. Em geral, as taxas são tão mais mente o lugar mais fácil do mundo pa- sas da China. “Mas a disponibilidade baixas quanto mais carente de infraes- ra fazer negócios”, diz Loy Pires, ge- de recursos que uma instituição como trutura for a região onde o projeto será rente no Brasil da International Finan- essa proporciona compensa”, afirma instalado, ou quanto maior for a reper- ce Corporation (IFC), braço do Banco Gargiulo. E, cada vez mais, compensa cussão socioeconômica que tiver po- Mundial que financia projetos priva- buscar formas de viabilizar investi- tencial para gerar. Mas a expectativa dos em países em desenvolvimento. mentos no Nordeste. – POR MARIANA SEGALA 54 www.cartacapital.com.br •EEReportagem2_44A.indd 54 20/02/13 20:55
  • 10. N o r d e s t e : Desenvolvimento Um pacote de R$ 282 bilhões Os investimentos anunciados para os estados da região nos últimos cinco anos somam o equivalente ao PIB de Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte juntos L uiz gonzaga, o compositor cerca de 246 bilhões de reais em obras e e s ta dão c o n t e ú d o pernambucano que ficou projetos estão em andamento na região. conhecido Brasil afora co- Na invejável situação de ser o ponto mo o Rei do Baião, foi quem de convergência de diversos elementos melhor retratou em músi- que interessam a diferentes perfis de ca as agruras de nascer nor- empresas, o Nordeste é uma das úni- destino no século XX. Na le- cas regiões do Brasil que conseguem tra de Sertão Sofredor, canção gravada agradar a gregos e troianos. Compa- na década de 1950 em que descrevia seu nhias exportadoras têm na região um “sertãozinho desprezado como o quê”, campo fértil de negócios, assim como Gonzagão questionava: “Cadê as fábri- as indústrias que abastecem o merca- cas? Cadê as indústrias? Cadê as coisas do interno com produtos de consumo boas anunciadas para o Nordeste?” Sen- – ou as duas coisas ao mesmo tempo. do rico em matérias-primas e em gente “Instalados em Pernambuco, fica- para trabalhar, faltava para a região, na mos próximos de seis capitais nordesti- opinião do músico, “uma ajuda leal do nas e, ao mesmo tempo, na extremidade grande chefe: o governo federal”. Déca- oriental da América do Sul”, diz Cledor- das depois de feito, o clamor de Gonza- vino Belini, presidente da Fiat Chrysler gão parece começar a ser atendido. na América Latina. A montadora, que As iniciativas de distribuição de está construindo uma fábrica na cidade renda e os investimentos que vêm sen- de Goiana, na Zona da Mata pernambu- do promovidos e estimulados nas es- Versos cana, se posicionou no centro de uma feras federal e estadual estão ajudan- de Gonzagão região cuja frota de automóveis cresceu do a transformar a região em um po- tornaram-se 120% nos últimos dez anos. lo de interesse para as fábricas e as in- dústrias que o músico insistia em que- vaticínio da O mercado nacional avançou 85%. Ho- rer ver instaladas no Sertão. Nos últi- realidade je, há um carro para cada 11 nordestinos mos cinco anos, empresas anunciaram atual da região – é uma taxa muito melhor que a do iní- investimentos de, no mínimo, 282 bi- cio da década passada, de um para ca- lhões de reais nos estados nordesti- da 22, mas ainda longe da média nacio- nos, segundo o Ministério do Desen- nal, de um para cinco. Um olho da Fiat Cifras industriais. volvimento – é o equivalente ao PIB As fábricas que o músico está nesses consumidores, ávidos pe- de Bahia e Pernambuco, as maiores pedia na década lo conforto de um automóvel. O outro, e ­ conomias da região, somado ao do de 1950 chegaram nas suas exportações pelo Porto de Sua­ Rio Grande do Norte. pe, a potência pernambucana que liga- rá a empresa a pelo menos 160 pontos Maranhão, Ceará, Bahia e Pernambu- da África, Europa e América do Norte. co estão entre os destinos mais pro­ O mercado consumidor nordestino é curados para os novos empreendimen- um chamariz também para indústrias tos industriais e comerciais que seguem que produzem bens de valor agregado para a região. Muitos deles já foram le- bem menor do que o de um automóvel. vados a cabo, enquanto outros não saí- “Assim como os chineses, a população ram – e, talvez, nunca saiam – do papel. do Nordeste também se alimenta me- Mas o fato é que, neste exato momento, lhor hoje do que há algumas décadas­ , ” cartacapital | 27 de fevereiro de 2013 55 •EEReportagem4OK_44.indd 55 20/02/13 21:21
  • 11. N r m o t t e s : Reportagem C o md e sd ie : iDesenvolvimento diz Leonardo Freitas, diretor-supe- ao Porto de Itaqui, em São Luís – ou se- rintendente da Algar Agro, beneficia- ja, é bom lugar também para os expor- dora de soja. Há seis anos, a empre- tadores. A infraestrutura tende a ficar sa instalou uma unidade de processa- ainda melhor em alguns anos. Só a mi- mento em Porto Franco, no sul do Ma- neradora Vale está investindo 12,5 bi- ranhão, que no ano ­ assado ­ anhou p g lhões de reais para duplicar a Estrada também uma refinaria de óleo. Cer- de Ferro Carajás, que serve ao escoa- ca de 220 milhões de reais em investi- Freitas e Hiltner mento do minério que explora. “As van- mentos depois, a fábrica maranhense destacam tagens logísticas do Nordeste, em com- já representa mais da metade das ven- paração com outras regiões, são um di- das da Algar Agro, sediada em Uber- as vantagens ferencial que já foi aprendido pelos in- lândia, no Triângulo Mineiro. logísticas vestidores”, afirma Ricardo Belo, di- “Com a fábrica lá, conseguimos e climáticas retor de consultoria da Ernst & Young abastecer o mercado nordestino com da região Terco na região. Não é à toa que o Ma- um custo muito competitivo”, diz o ranhão foi o estado do Nordeste que te- executivo. O Maranhão, em especial, ve mais investimentos anunciados nos reserva vantagens logísticas dificil- últimos cinco anos, totalizando quase mente encontradas em outros lugares. Infraestrutura. 70 bilhões de reais, à frente de líderes A Vale reserva 12,5 bilhões É cortado por rodovias importantes e de reais para duplicar históricos como Bahia e Pernambuco. ferrovias que ligam o interior do ­ stado e a Estrada de Ferro Carajás Há ainda casos de empresas que, por características específicas do Nordes- te, não poderiam se instalar em qual- quer outro lugar que não na região. “Pe- las condições de luz e ­ lima, ­ lagoas é c A o melhor local para fazer os cruzamen- tos de cana-de-açúcar que geram a es- pécie de que precisamos, com baixo te- or de açúcar e alta concentração de fi- bras”, justifica Alan Hiltner, vice-pre- sidente da GraalBio, fabricante de eta- nol do Grupo Graal, pertencente à fa- mília Gradin. O grupo, que está in- vestindo 350 milhões de reais para le- vantar uma planta em São Miguel dos Campos, cidade de 56 mil habitantes no leste alagoano, será o primeiro no Hemisfério Sul a produzir etanol celu- lósico, que usa a palha e o bagaço da ca- na como matéria-prima. Da mesma forma, a Vale e seus só- cios coreanos da Dongkuk Steel e da Posco avaliaram que o Ceará – mais especificamente São Gonçalo do Ama- rante, na região metropolitana de For- taleza – era o lugar do Brasil mais ade- quado para instalar a sua Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP). A side- rúrgica, que terá capacidade de pro- duzir 3 milhões de toneladas por ano de aço quando estiver pronta, está sen- do erguida a 8 quilômetros do Porto de m a r c o p o m a r i c o/g r a a l b i o Pecém. “A produção de aço é tão mais competitiva quanto mais próxima es- tiver das matérias-primas, que são o carvão e o minério de ferro”, explica da r i o z a l i s Marcos Chiorboli, presidente da CSP. “Se essas duas coisas andam de navio e o aço é exportado pelo mesmo meio, só 56 www.cartacapital.com.br •EEReportagem4OK_44.indd 56 20/02/13 21:21
  • 12. N o r d e s t e : Desenvolvimento vos investimentos que retroalimentam uma cadeia de alto impacto nas ativida- des diárias da população local. É o ca- so da geração de energia eólica. De 2009 para cá, depois dos leilões de compra de energia pelo governo que priorizaram fontes renováveis, estados como Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte se torna- ram celeiros de implantação de parques eólicos. Atualmente, há mais de cem de- les em construção, segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), e as obras de outra centena devem come- çar nos próximos anos – um investimen- to que totaliza mais de 16 bilhões de reais. A Renova Energia resolveu instalar seus parques nos arredores da cida- de de Caetité, a quase 800 quilômetros de Salvador. Lá, os ventos são melho- res nas áreas montanhosas. “Um dos poderíamos nos instalar em um porto nossos maiores desafios foi fazer che- o lg a v l a h o u bem estruturado como Pecém.” Puxa- gar os equipamentos até esses lugares”, dos pelo Complexo Industrial do Porto diz Mathias Becker, presidente da em- de Pecém, os investimentos anuncia- presa. Cada pá do cata-vento que faz dos no Ceará ultrapassaram 69 bilhões uma turbina eólica funcionar mede 40 de reais nos últimos cinco anos. metros, em média. Não havia no ser- A tentativa de levar para o Nordeste tão baiano estradas ou pontes que su- empresas capazes de gerar não apenas portassem uma estrutura tão grande. emprego, mas também um grande im- A casa de Rita, Por isso, empresa e governo tiveram pacto de desenvolvimento econômico e antes isolada no de abrir os cofres e se debruçar sobre social, não é nova no País. Leis federais mato, agora tem as pranchetas para reforçar a estrutu- que isentavam de Imposto de Renda os acesso à estrada ra rodoviária da rota que os caminhões projetos realizados na região datam já por causa com os ­ quipamentos seguiriam. e da década de 1960 – atualmente, no- “Já investimos 20 milhões de reais e vos empreendimentos conseguem ob- de uma usina eólica temos mais 140 milhões de reais para ter um desconto de 75% no IR duran- concretar estradas, melhorar pontes e te dez anos. A questão é que foi nos úl- abrir acessos e desvios para a indústria timos anos que o conjunto formado pe- Menos falhas. eólica”, afirma James Silva Santos Cor- los incentivos, as melhorias de infra- Os custos que afugentavam reia, secretário da Indústria, Comér- estrutura e o mercado consumidor em os empresários cio e Mineração da Bahia. Foi na pri- diminuíram, diz Gabrielli expansão maturou. “Os empresários já meira leva de investimentos que se tor- não precisam compensar com a produ- nou possível chegar de carro à casa de tividade os custos com logística e ou- Rita Maria da Silva, baiana de 58 anos. tras falhas do Nordeste, como antes”, Mais de 7 mil pessoas já passaram pelo Ela e os vizinhos moravam, como cos- diz José Sergio Gabrielli, ex-presidente programa de treinamento da empresa. tuma dizer, isolados no meio do mato. da Petrobras e atual secretário de Pla- “Talvez essas pessoas nem sequer che- “Para chegar em casa, só de cavalo por nejamento da Bahia. guem a trabalhar para nós, mas estão um caminhozinho que levava até a es- voltando para casa com formação de pe- trada mais próxima”, conta. Mas, como Os efeitos de ver instalada na região dreiro, de carpinteiro. São profissionais o lugarejo estava no roteiro da Renova, uma indústria de grande porte podem prontos para trabalhar em obras”, diz Rita ganhou um acesso até a porta da alcançar níveis tão elevados a ponto de Adriano Canela, diretor do projeto da sala – e, de quebra, emprego na empre- mudar completamente a realidade lo- Suzano no estado – uma herança e tan- sa para um dos filhos e um dos genros. cal. Para conseguir bons trabalhadores to para o estado, um dos poucos ­ nde o o Em meio às cifras bilionárias dos inves- para a fábrica de papel e celulose que es- número absoluto de adultos analfabetos timentos no Nordeste, a estradinha que tá construindo na maranhense Impera- aumentou nos últimos dez anos. conduz à casa de Rita parece singela triz, a Suzano reservou 10 milhões de Outras indústrias são tão inovadoras demais para ser levada em conta. Mas reais dos 5,8 bilhões de reais que está investindo na cidade para treinar gente. para determinados locais ainda ermos do Nordeste que acabam por exigir no- Rita garante que não é. – POR MARIANA SEGALA • 58 www.cartacapital.com.br •EEReportagem4OK_44.indd 58 20/02/13 21:32