1) A renda do nordestino cresceu 40% nos últimos anos, promovendo o regresso de muitos que haviam abandonado a região e atraindo investimentos de R$282 bilhões.
2) A região ainda enfrenta desafios como taxa alta de analfabetismo e renda menor, mas vem reduzindo gaps históricos através do crescimento econômico acima da média nacional.
3) Investimentos em infraestrutura e políticas de redistribuição de renda impulsionaram o desenvolvimento do Nordeste.
AGRISSÊNIOR nOTÍCIAS nº 557 an 02 fevereiro_2016.ok
Nordeste: como a renda cresceu 40% e a região deixou de ser sinônimo de pobreza
1. RELATÓRIOS ESPECIAIS
NORDESTE
Retirada.
27 DE FEVEREIRO DE 2013
Para o Nordeste
A renda do nordestino cresceu 40% nos últimos anos, promoveu o regresso
de muita gente que abandonara a região e investimentos de 282 bilhões de reais
L EO C A L DA S / P U L S A R I M AG E N S
•EECapaOK_44.indd 1 20/02/13 20:40
2. n o r d e s t e : Conjuntura
Liquidez no Sertão
Depois de décadas de miséria, a região começa
a deixar de lado a imagem de recanto da pobreza brasileira
POR MARIANA SEGALA
P
ouca gente conhece me- deste. “A orientação dos investimentos pú-
lhor a cidade baiana de blicos para a infraestrutura e as políticas de
L
uís Eduardo Magalhães, redistribuição de renda no Brasil teve o im-
950 quilômetros a oeste de pacto potencializado no Nordeste.”
Salvador, do que a famí- Não é difícil entender por quê. “Os
lia auck. Eles chegaram
L trabalhadores que ganham salário mí-
à Bahia, vindos do Paraná, nimo formam um público enorme no
no começo da década de 1980, quando Nordeste que, até dez anos atrás, não ti-
o local que hoje abriga o município não O nordestino nha poder de consumo nenhum”, afir-
passava de um povoado minúsculo ape- trocou o jegue ma Saumíneo Nascimento, secretário de
lidado de Mimoso do Oeste. Era um lu- pela moto e o Desenvolvimento Econômico de Sergi-
garejo sem nada. Tudo que oferecia era ventilador pelo pe. De lá para cá, o mínimo teve um au-
terra para plantar. Os Lauck mudaram- ar-condicionado, mento real, descontada a inflação do pe-
-se para lá numa época em que o normal ríodo, de nada menos que 70%. Seu valor
era fazer exatamente o contrário: dei-
diz Nascimento atual é suficiente para comprar mais de
xar a miséria do Nordeste e seguir para duas cestas básicas, segundo as contas
o Sudeste próspero, em busca de opor- do Departamento Intersindical de Esta-
tunidades de trabalho. Porém, menos de Fluxo migratório. tística e Estudos Socioeconômicos (Die-
30 anos depois de instalados os primei- O agronegócio fez várias ese). É a melhor relação já registrada pe-
ros moradores, Luís Eduardo Magalhães cidades nordestinas lo órgão desde o fim dos anos 1970.
ficarem entre as mais
hoje ostenta um símbolo dos ares muito procuradas no Brasil
diferentes que passaram a circular na re- Esse movimento ajudou a renda dos
gião na última década. A cidade é a 11ª do nordestinos a crescer acima da média
Brasil que mais recebeu imigrantes nos nacional. O rendimento da região au-
últimos anos. Pelo menos 35% da sua po- mentou 40% desde 2004, 10 pontos mais
pulação (66 mil habitantes) não morava que o crescimento da renda dos brasilei-
no município cinco anos atrás. “Vimos a altos índices de migração de retorno do ros em geral. Isso provocou uma mudan-
cidade nascer, crescemos com ela e agora País: 23% dos imigrantes de Pernambu- ça de hábitos sem precedentes. “Quem
percebemos como tudo está mudando”, co, por exemplo, são pessoas no caminho usava ventilador, hoje luta contra o calor
conta o produtor rural Fábio Lauck, que de volta para o estado natal. E há bolsões com ar-condicionado”, diz Nascimento.
mora lá desde os 8 anos de idade. de atração como Luís Eduardo Maga- Quem se locomovia com os folclóricos je-
O Nordeste ainda exporta gente, e lhães, onde o crescimento econômico ca- gues consegue comprar uma motocicleta
muita ainda, para o Sudeste, mas os nú- tapultado pelo agronegócio foi expressi- (a frota nordestina sobre duas rodas qua-
meros do Instituto Brasileiro de Geogra- vo a ponto de ter feito sua população qua- druplicou desde 2002). Quem não tinha
fia e Estatística (IBGE) mostram que o se quadruplicar em menos de 15 anos. eletrodoméstico passou a ter – e o con-
fluxo diminuiu consideravelmente na “Estamos finalmente conseguindo livrar sumo de energia elétrica nas casas da re-
última década. Mais do que isso: além de a região da imagem de saco de pobreza que gião disparou 84% em uma década, mais
reter nordestinos, a região também tem ela tinha até bem pouco tempo atrás”, diz do que em qualquer outro lugar do Brasil.
conseguido atrair de volta gente que um Tânia Barcelar, professora da Universidade Esse círculo virtuoso pôs o Nordes-
dia decidiu sair. Os estados do Nordeste Federal de Pernambuco e sócia da consul- te em uma situação econômica privile-
estão entre os que apresentam os mais toria Ceplan, especializada na Região Nor- giada. “Assim como a Região Norte e a
46 www.cartacapital.com.br
•EEAbre_44.indd 46 20/02/13 21:15
3. relatórios especiais cartacapital
Centro-Oeste, estamos em uma frontei-
ra de expansão cobiçada por empresas e
investidores”, diz Paulo Ferraz Guima-
rães, chefe do departamento nordestino
do Banco Nacional de Desenvolvimen-
to Econômico e Social (BNDES). Apesar
dos efeitos da crise financeira de 2008,
o Produto Interno Bruto (PIB) da região
cresceu a uma média de 4,5% ao ano de
2002 para cá, com picos de 5,7% no Ma-
ranhão e 5,4% no Piauí. Espera-se, no
entanto, que no próximo par de anos o
crescimento do Nordeste se distancie
ainda mais da média brasileira, que foi
de 4% no mesmo período.
“O conjunto de investimentos que exis-
tem na região está maturando agora
e promete mostrar a que veio em bre-
ve”, destaca Guimarães. O crescimen-
to econômico é a arma que pode aju-
dar a região a superar os abismos his-
tóricos de desenvolvimento econômico
e social que ainda a separam das áreas
mais avançadas do País. Um olhar rápi-
do sobre as estatísticas educacionais do
Nordeste indica o tamanho do desafio
a enfrentar. O número de adultos anal-
fabetos da região caiu 15%, mas lá ain-
da está a taxa mais alta do País de pesso-
as que não sabem ler um simples bilhe-
te. Elas representam 16,9% da popula-
ção de 15 anos ou mais. A renda dos nor-
destinos aumentou, mas continua a ser a
mais baixa do Brasil. A economia se di-
namizou, mas ainda é desproporcional
l u i s t i to/ag . a ta r e d e
quando comparada com o tamanho de
sua população – o PIB do Nordeste equi-
vale a 13,5% do PIB do País, mas lá vivem
quase 30% dos brasileiros. Não existe
mágica para sair da lanterninha. •
cartacapital | 27 de fevereiro de 2013 47
•EEAbre_44.indd 47 20/02/13 21:15
4. Formas de medir a riqueza nordestina
Bahia
60,7
154,3
PIB em 2002
em bilhões de
brasil
35,3
Pernambuco 95,2 reais
28,9 (valores
Ceará correntes)
nordeste
77,9
15,5
Maranhão 45,3
12,4
Paraíba 31,9 PIB em 2010
Rio Grande do Norte
12,2 em bilhões
32,3 de reais
9,8
Alagoas 24,6 (valores
Sergipe
9,5 correntes)
23,9
Piauí 7,4
22,1 191,7 507,5 1.477,8 3.770,1
Fonte: IBGE
Crescimento do PIB 2002-2010 (acumulado) - Em % PIB per capita em 2002 em milhares de reais
(valores correntes)
56 52,5 19,8
45,1 44,4 43,5 41,5 39,2 42,4 37,1
34,3 PIB per capita em 2010 em milhares de reais
30,9 (valores correntes)
11 11,6
Crescimento do PIB 2002-2010 (média anual) - Em% 10,8 10,2
9,2 8,5 9,6 8,5
7,9 7,1
6,9
5,7 5,4 4,8 4,7 4,6 4,4 4,2 3,8 3,4 4,5 4 5,1
4,6 4,4 4,3 3,9
3,8 3,5 3,4 2,6
2,7
Pernambuco
Brasil
Rio Grande
Alagoas
Paraíba
Nordeste
Ceará
Bahia
Sergipe
Piauí
Maranhão
do Norte
Bahia Ceará Paraíba Alagoas Piauí Brasil
Pernambuco Maranhão Rio Gde Sergipe Nordeste
Fonte: IBGE do Norte
Fonte: IBGE
Indicadores sociais
População em 2002 População em 2010 População em 2012
Bahia 13.323.212 14.021.432 14.175.341
Pernambuco 8.084.667 8.796.032 8.931.028
Ceará 7.654.535 8.448.055 8.606.005
Maranhão 5.803.224 6.569.683 6.714.314
Paraíba 3.494.893 3.766.834 3.815.171
Rio Grande do Norte 2.852.784 3.168.133 3.228.198
Alagoas 2.887.535 3.120.922 3.165.472
Sergipe 1.846.039 2.068.031 2.110.867
Piauí 2.898.223 3.119.015 3.160.748
Nordeste 48.845.112 53.078.137 53.907.144
Fonte: IBGE Brasil 174.632.960 190.747.855 193.946.886
Rendimento médio mensal real Nordeste
educação
8 6,8 12,4 8,6 (10 anos ou mais) Em R$ Brasil
24,2 16,9 6,1 4,7 7,3 6,2
15,1 12,9 Crescimento
1000
(2004/2011)
Número de Número de Taxa de Taxa de Número Número
800
Em %
analfabetos em analfabetos em analfabetismo analfabetismo médio de médio de
40,3
600
2001 em 2011 em em 2001 em 2011 anos de anos de 400
milhões de milhões de em % em % estudo em estudo em
pessoas pessoas
Nordeste
2001 2011 200
30,6
(15 anos (15 anos (10 anos (10 anos 0
ou mais) ou mais) ou mais) 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011
ou mais) Brasil
Fonte: IBGE Fonte: IBGE
Proporção da população por classe Nordeste Brasil
de rendimento - Em % frota 2002 2012 2002 2012
AB C D E Carro 2.238.315 4.928.685 23.036.041 42.682.111
3,3 4,9 8,3 10,6 Crescimento 120% 85%
15,3 922.316 4.500.857 4.945.256 16.910.473
20,7 28,7 27,5 Moto
49 34,7 38,1 23,6 50,5
Crescimento 388% 242%
27 31,8 26,1
4.079.993 11.939.732 35.523.633 76.137.191
2001 2009 2001 2009
Total 193% 114%
Fonte: Ceplan Fonte: Denatran
48 www.cartacapital.com.br
•EEAbre_44.indd 48 20/02/13 21:15
5. N o r d e s t e : Incentivos fiscais
Uma colher de chá
Estados que se fiam na isenção de
impostos estendem a rede de benefícios
para atrair investimentos
A
decisão sobre on- É mais que o orçamento do estado com
de aportar alguns mi- O governo de saneamento. O governo calcula, porém,
lhões de reais em in- que cada real dado em renúncia fiscal in-
vestimento fica mais
Pernambuco jete outros 3 na economia real.
fácil para uma empresa calcula que cada “O Nordeste avançou muito nos últi-
quando ela é recebida real dado em mos anos, mas ainda há diferenças tão
com tapete vermelho renúncia fiscal brutais entre nós e o Sul e Sudeste que
como o que Pernambuco estendeu para injete outros 3 na precisamos dar incentivos para com-
a Nissin-Ajinomoto, fabricante de macar- economia real pensá-las”, afirma James Silva Santos
rão instantâneo. Para convencer a japone- Correia, secretário de Indústria, Co-
sa a levantar sua segunda fábrica brasilei- mércio e Mineração da Bahia. O estado,
ra no distrito industrial de Glória do Goi- que tinha renúncias de ICMS de 2,5 bi-
tá, uma das dez cidades mais pobres do lhões previstas para o ano passado, foi
estado, cravada na Mata Norte pernam- um dos que tiveram mais investimentos
bucana, o governo fez de tudo um pouco. anunciados nos últimos cinco anos.
Vendeu a preço de banana o terreno para
a construção, tão grande quanto 27 cam- Do ponto de vista dos investidores, os in-
pos de futebol como o Estádio do Mara- centivos negociados com os governos cos-
canã – cada metro quadrado foi avalia- tumam ser fatores decisivos para a escolha
do em menos de 1,30 real. Garantiu à em- do Nordeste como a região onde se insta-
presa, por pelo menos 12 anos, desconto lar. A opção por um ou outro estado, no en-
de 85% no Imposto sobre a irculação de
C tanto, leva em consideração mais fatores de
Mercadorias e Serviços (ICMS) inciden- atração. No Maranhão, o governo tem fei-
te no preço dos produtos feitos no estado. to um esforço para qualificar a mão de obra
necessária nas plantas industriais que es-
Para completar o pacote e assegurar tão sendo erguidas no estado. Em parce-
que as caldeiras da fábrica pudessem fun- ria com universidades e escolas técnicas, o
cionar, a Copergás, distribuidora de gás plano é que 400 mil pessoas tenham trei-
de Pernambuco, foi destacada para cons- namento técnico até o ano que vem.
truir 13 quilômetros de gasoduto até as Outra frente atacada procura desburo-
portas da empresa. A planta foi inaugu- cratizar a concessão das licenças ambien-
rada em 2012. “Quando uma cidade não tais exigidas para a instalação de grandes
tem empresa nenhuma, a inércia barra os empreendimentos. “Envolvemos os téc-
primeiros investimentos. Nesses casos, nicos da Secretaria do Meio Ambiente no
somos realmente agressivos”, diz Márcio em crescimento econômico, empregos e, processo desde o momento em que as em-
Stefanni Monteiro, secretário de Desen- mais tarde, em nova arrecadação de im- presas manifestam a intenção de vir pa-
volvimento Econômico de Pernambuco. postos. Os descontos de ICMS, que che- ra cá”, explica Maurício Macedo, secretá-
Conseguir pacotes de benefícios, como gam a superar 90%, são os mais comuns. rio de Desenvolvimento do estado. Todo
o obtido pelos japoneses, não é um privilé- Só em Pernambuco, que abate até 95% do o projeto da Refinaria Premium I, um in-
gio de quem opta por investir em Pernam- imposto para atrair indústrias, o volume vestimento de 37 bilhões de reais previsto
buco. Em maior ou menor grau, o mes- de incentivos relacionados ao ICMS con- pela Petrobras na cidade de Bacabeira, le-
mo expediente é usado por todos os esta- cedidos no ano passado pode ter ultrapas- vou seis meses para ser licenciado, segun-
dos do Nordeste para atrair recursos que sado 1,4 bilhão de reais, pelas contas da do o secretário – um prazo considerado
– os governos asseguram – se revertem Confederação Nacional dos Municípios. reduzido para obras de tamanho porte.
50 www.cartacapital.com.br
•EEReportagem3OK_44.indd 50 20/02/13 21:18
6. Investimentos
anunciados no Nordeste
entre 2008 e 2012 (em R$)
Maranhão
69.860.915.763
Piauí
9.635.178.753
Ceará
69.076.931.440
Rio Grande do Norte
6.504.437.200
Paraíba o projeto da empresa. “Nossas demandas
2.366.246.046 têm acesso fácil ao governador. Percebe-
mos que, embora estejamos fazendo um
Pernambuco
47.460.392.469 investimento pequeno, somos importan-
tes para o estado.”
Alagoas
3.265.490.675
Agilidade, eficiência e bom trânsito
entre os empreendedores tendem a se
Sergipe
tornar ativos cada vez mais importantes
15.040.028.773
para os estados atraírem investimentos,
Bahia à medida que a discussão sobre a legali-
58.441.109.334
dade dos incentivos fiscais se aprofun-
da. Desde 2011, o Supremo Tribunal Fe-
deral (STF) vem considerando inconsti-
tucionais isenções de ICMS concedidas
80.000 e por diversos estados brasileiros que não
foram aprovadas por unanimidade no
70.000
Conselho Nacional de Política Fazendá-
ria (Confaz), órgão que congrega os se-
60.000
cretários de Fazenda dos estados.
.
Em 2012, a Corte ameaçou editar uma
50.000
súmula vinculante sobre o assunto – o
que obrigaria os governos a cobrar im-
40.000
postos que tivessem deixado de ser re-
colhidos. Em dezembro, o governo fede-
30.000
ral apresentou uma proposta de unifica-
ção gradual das alíquotas de ICMS entre
20.000
os estados, mediante a criação de fundos
Total destinados a promover o desenvolvimen-
10.000
281.650.730.452 to das regiões menos favorecidas. “O im-
Obs.: Inclui apenas portante é assegurar que as empresas que
os investimentos feitos 0 já receberam incentivos fiscais no passa-
em um só estado Fonte: Renai (MDIC) do não percam o benefício, nem tenham
de recolher impostos retroativamente”,
No Rio Grande do Norte, o governo tes fiscais do que de disposição para fa- afirma Flávio Castelo Branco, gerente-
estadual tem apostado em outra frente. cilitar a vida dos empreendedores. “To- -executivo de política econômica da Con-
“Incentivamos o uso de gás na ativida- dos oferecem incentivos de algum tipo”, federação Nacional da Indústria (CNI).
de industrial oferecendo tarifas de até 73 afirma Sérgio Schelp, diretor da Bull Mo- No Nordeste, no entanto, as opiniões
centavos por metro cúbico, diante de um tors, montadora de motocicletas paulista são mais incisivas. Para James Correia, da
preço médio perto de 1,10 real no merca- que escolheu a cidade de Nossa Senhora Bahia, é importante manter nas mãos dos
do nacional”, diz Rogério Marinho, se- do Socorro, em Sergipe, para investir 10 estados instrumentos claros de atração de
cretário estadual de Desenvolvimento milhões de reais na instalação de uma fá- investimento. “Aceitar a equiparação das
Econômico. Mas conquistar uma empre-
sa pode depender menos de expedien-
brica. O menor estado do Brasil, segun-
do o executivo, foi o que acolheu melhor
alíquotas seria o suicídio do Nordeste.”
– POR MARIANA SEGALA
•
cartacapital | 27 de fevereiro de 2013 51
•EEReportagem3OK_44.indd 51 20/02/13 21:18
7. N o r d e s t e : Finanças
Não vai faltar
crédito
A disponibilidade de recursos para
viabilizar projetos na região triplicou
nos últimos cinco anos
A
té não muito tempo Aguiar, diretor de gestão de fundos, in-
atrás, instalar uma em- centivos e atração de investimentos da
presa no Nordeste soa- Superintendência de Desenvolvimento
va como uma ideia com do Nordeste (Sudene).
tão poucas chances de
sucesso quanto imagi- Nos últimos cinco anos, o Nordeste
nar que, um dia, aquela ajudou a puxar o grosso do crescimen-
porção do Brasil pudesse se tornar um to das operações de crédito no País. O
mercado cobiçado. O primeiro entrave estoque de financiamentos feitos na re-
é que à região faltavam fatores de atra- gião, incluindo os voltados às pessoas
h e l i a s c h e p pa /j c i m ag e m
ção, qualidades que despertassem o in- físicas, cresceu 230% desde 2007. Che-
teresse de potenciais investidores. O gava perto de 300 bilhões de reais no
segundo é que, como havia pouca de- fim do ano passado. Mais surpreen-
manda, também havia pouco dinheiro dentes que a cifra total, no entanto, são
disponível para bancar empreendi- os volumes de financiamentos conce-
mentos lá. Dos anos 2000 para cá, a didos para as empresas – no fundo, o
mão do Estado – e dos estados – conse- que realmente interessa para os empre-
guiu amenizar o primeiro problema. endedores. O crédito para as pessoas lume de operações realizadas nos sete
Com o aumento da renda dos nordesti- jurídicas, que financia desde os inves- anos anteriores. Atualmente, 13% do
nos e a melhora na infraestrutura da re- timentos produtivos até o capital de gi- orçamento do banco desemboca na
gião, o Nordeste começou a ser enxer- ro necessário para que toquem as ope- r
egião – era 8% apenas cinco anos
gado pelos empreendedores como um rações, aumentou 245% no período. Os atrás. E não se cogita um revés nessa
lugar onde é preciso estar. Cidades co- saltos mais marcantes aconteceram em trajetória. O crédito concedido a enor-
mo Recife, Salvador, Fortaleza e Natal 2008 e 2009, justamente os anos em mes projetos estruturantes marcou
figuram hoje na lista de lugares mais que mais investimentos de empresas uma mudança de patamar nos desem-
promissores para fazer investimentos. foram anunciados na região. “Há uma bolsos do BNDES para a região. A dire-
A solução do segundo problema veio na carteira tão variada de projetos aconte- ção que o banco adotaria ficou mais
sequência. Quanto mais projetos (e cendo no Nordeste que a minha pers- clara a partir de 2009. Naquele ano,
projetos parrudos) entraram na fila em pectiva é de ver nossos números cres- quase 10 bilhões de reais – então o
busca de financiamento, mais recursos cendo acima da média por um tempo”, maior financiamento de sua história –
brotaram para permitir que fossem le- diz Paulo Ferraz Guimarães, chefe do foram destinados à construção da Refi-
vados a cabo. O sistema financeiro – em departamento nordestino do Banco naria Abreu e Lima, uma obra de quase
especial as instituições públicas, ainda Nacional de Desenvolvimento Econô- 35 bilhões de reais que está sendo er-
as maiores financiadoras de grandes mico e Social (BNDES). guida pela Petrobras e a PDVSA, esta-
investimentos – ampliou a oferta de Atualmente, o BNDES é uma das tal venezuelana de petróleo, em Per-
crédito para a região muito além dos ní- fontes mais relevantes de financia- nambuco. A partir daí, o que se viu foi
veis verificados em qualquer outra par- mento para as obras no Nordeste. Os uma espécie de piso informal de de-
te do País. “Hoje já não dá para imagi- valores despejados pelo banco na re- sembolsos para a região, que nos últi-
nar a região crescendo pouco porque gião entre 2009 e 2012 beiraram 80 bi- mos quatro anos rondou a faixa dos 20
faltou dinheiro”, avalia Henrique lhões de reais, mais que o dobro do vo- bilhões de reais anuais. Em 2012, oram
f
52 www.cartacapital.com.br
•EEReportagem2_44A.indd 52 20/02/13 20:55
8. Guimarães,
do BNDES, e Ary
Lanzarin, do
BNB, registram
expansão nos
empréstimos
Combustível.
A Refinaria Abreu e Lima
demandará investimento
de 35 bilhões de reais
21 bilhões. “Conseguimos elevar o cré- cursos do Tesouro Nacional. “As con- r
eais, emprestados a juros baixíssimos
dito para o Nordeste até esse nível por- dições para investir no Nordeste estão para os padrões brasileiros – é possível
que a região agora conta com rojetos de
p realmente muito interessantes. O ano tomar dinheiro pagando taxas de até
grande porte”, diz Guimarães. “Final- passado terminou com crescimento na 3% ao ano. “Temos feito todo o possível
mente, o peso do Nordeste nas opera- demanda por recursos e 2013 já come- para atender a todas as demandas”, diz
ções do banco aproxima-se dos 13% que çou do mesmo jeito”, avalia Ary Joel de Lanzarin. Não é à toa que um dos slo-
a região representa para o PIB do País.” Abreu Lanzarin, presidente do BNB. gans populares do banco para seu pro-
Em 2012, o banco desembolsou quase grama de financiamento é: “Pode in-
Projetos grandes que consigam amar- 23 bilhões de reais para a economia vestir. Crédito não vai faltar”.
rar firmemente todas as pontas – em nordestina, o equivalente ao PIB do Uma filosofia semelhante vem sendo
outras palavras, que embutam poten- Piauí. Desse volume, 12,5 bilhões de re- aventada na Sudene, recriada durante o
cial de ganhos elevados, tenham sus- ais foram voltados especificamente pa- governo Lula, depois de ter sido extinta
tentabilidade financeira e apresentem ra financiamentos de longo prazo, co- em 2001. A autarquia administra o
impactos econômicos em cadeia – são mo o de quase 900 milhões de reais F
DNE, que tem um orçamento já apro-
os preferidos dos maiores financiado- que a Fiat tomou. A origem prioritária vado para este ano de 2 bilhões de reais
res do País. Para levantar uma fábrica desses recursos é de repasses da arre- voltados para o financiamento de in-
que deve produzir 250 mil carros por cadação de tributos federais como o vestimentos na região. O valor é o mes-
ano a partir de 2014, a Fiat vai investir Imposto de Renda e o Imposto sobre mo destinado para o fundo em 2013,
4,5 bilhões de reais, mas quase tudo se- Produtos Industrializados (IPI) que mas, na Sudene, há esforços para que
rá bancado com recursos do BNDES, incide sobre produtos importados. ele seja elevado durante o ano. “A de-
do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) Neste ano, o banco estima que o volu- manda por crédito cresceu tanto no fim
e do Fundo de Desenvolvimento do me de crédito para investimentos atin- do ano passado que acreditamos que os
Nordeste (FDNE), abastecido por re- ja a cifra histórica de 13,8 bilhões de nossos recursos possam ser totalmente
cartacapital | 27 de fevereiro de 2013 53
•EEReportagem2_44A.indd 53 20/02/13 20:55
9. N o r d e s t e : Finanças
“Mas é um país por si só. Como a região
h e l d e r tava r e s / d. a . p r e s s
cresce mais que o Brasil, nossas apos-
tas lá tendem a ser mais lucrativas.” Em
vez dos juros, o chamariz de que a ins-
tituição se vale é a consultoria de técni-
cos dedicados a acompanhar cada pas-
so dos projetos, do início ao fim.
Entre investimentos diretos em em-
preendimentos e concessões de crédito,
o IFC promete injetar pelo menos 1,6 bi-
lhão de reais no Nordeste este ano, um
volume que equivale a 40% de todos os
recursos aplicados no Brasil. Entram na
carteira projetos de todos os tipos. A ex-
pansão do Tecon Salvador, o terminal de
contêineres do porto da capital baiana,
por exemplo, recebeu financiamento de
160 milhões de reais da IFC. “A região é
uma prioridade para a instituição e, den-
tro dela, os projetos de infraestrutura
ganham atenção especial porque são os
que provocam impactos de mais longo
prazo”, afirma Pires. Enquanto a IFC se
ocupa dos projetos privados, o Banco
consumidos até abril”, afirma Aguiar, A ferrovia Mundial tem recursos destinados a fi-
da Sudene. No último mês e meio de Transnordestina nanciar obras e investimentos dos go-
2012, depois de uma mudança nas re- vernos estaduais e municipais do Nor-
gras do FDNE que era aguardada há vai cruzar deste. Para este ano, os desembolsos pre-
anos, empreendedores interessados em o interior e ligar vistos são da ordem de 3 bilhões de reais.
investir no Nordeste correram para ca- o Porto de Suape
dastrar novos projetos de investimento ao de Pecém Até bancos de fomento de outros paí-
na superintendência. O resultado foi a ses emergentes, como os chineses, têm
formação de uma carteira de pedidos voltado seus recursos para o Nordeste
de crédito que ultrapassou 6 bilhões de brasileiro. Um parque de geração de
reais – desde que foi criado, o FDNE de- Na mesma trilha. energia eólica construído pela Desen-
Pedidos de crédito
sembolsou pouco menos de 4 bilhões na Sudene superam vix e inaugurado em janeiro em Sergi-
para financiar projetos como o da cons- 6 bilhões de reais pe recebeu o equivalente a 112 milhões
trução da ferrovia Transnordestina, de reais em financiamento do Banco
que vai ligar o interior pernambucano e de Desenvolvimento da China (CDB,
piauiense aos portos de Suape, também em inglês) no ano passado. “Bancos eu-
em Pernambuco, e de Pecém, no Ceará. ropeus e asiáticos estão encharcados
“Certamente, teremos um problema de dinheiro em busca de bons projetos
positivo, que vamos procurar resolver para financiar”, diz Humberto Gar-
costurando com o governo a liberação giulo, diretor da Upside, consultoria
de mais recursos”, diz Aguiar. que assessorou a Desenvix na opera-
ção. Sem restrições de recursos para
Recorrer aos cofres das instituições aplicar – a carteira de créditos conce-
públicas brasileiras – como o BNDES, o de retorno dos investimentos no Nor- didos pelo CDB ultrapassa 1,7 trilhão
BNB e a Sudene – para financiar inves- deste é tão boa que mesmo bancos e or- de reais, quatro vezes maior que a do
timentos no Nordeste é muito vantajo- ganizações de fomento estrangeiras es- BNDES –, o montante do projeto
so por causa dos custos. Na Sudene, por tão tratando de fincar bandeira por lá, f
inanciado pelo banco chegou a 80%.
exemplo, é possível conseguir crédito atraindo os empreendedores com ou- Em troca, parte dos equipamentos
com prazo de 20 anos e juros de até 5% tras armas. “O Nordeste não é exata- usados na obra foi comprada de empre-
anuais. Em geral, as taxas são tão mais mente o lugar mais fácil do mundo pa- sas da China. “Mas a disponibilidade
baixas quanto mais carente de infraes- ra fazer negócios”, diz Loy Pires, ge- de recursos que uma instituição como
trutura for a região onde o projeto será rente no Brasil da International Finan- essa proporciona compensa”, afirma
instalado, ou quanto maior for a reper- ce Corporation (IFC), braço do Banco Gargiulo. E, cada vez mais, compensa
cussão socioeconômica que tiver po- Mundial que financia projetos priva- buscar formas de viabilizar investi-
tencial para gerar. Mas a expectativa dos em países em desenvolvimento. mentos no Nordeste. – POR MARIANA SEGALA
54 www.cartacapital.com.br
•EEReportagem2_44A.indd 54 20/02/13 20:55
10. N o r d e s t e : Desenvolvimento
Um pacote de R$ 282 bilhões
Os investimentos anunciados para os estados da região nos
últimos cinco anos somam o equivalente ao PIB de Bahia,
Pernambuco e Rio Grande do Norte juntos
L
uiz gonzaga, o compositor cerca de 246 bilhões de reais em obras e
e s ta dão c o n t e ú d o
pernambucano que ficou projetos estão em andamento na região.
conhecido Brasil afora co- Na invejável situação de ser o ponto
mo o Rei do Baião, foi quem de convergência de diversos elementos
melhor retratou em músi- que interessam a diferentes perfis de
ca as agruras de nascer nor- empresas, o Nordeste é uma das úni-
destino no século XX. Na le- cas regiões do Brasil que conseguem
tra de Sertão Sofredor, canção gravada agradar a gregos e troianos. Compa-
na década de 1950 em que descrevia seu nhias exportadoras têm na região um
“sertãozinho desprezado como o quê”, campo fértil de negócios, assim como
Gonzagão questionava: “Cadê as fábri- as indústrias que abastecem o merca-
cas? Cadê as indústrias? Cadê as coisas do interno com produtos de consumo
boas anunciadas para o Nordeste?” Sen- – ou as duas coisas ao mesmo tempo.
do rico em matérias-primas e em gente “Instalados em Pernambuco, fica-
para trabalhar, faltava para a região, na mos próximos de seis capitais nordesti-
opinião do músico, “uma ajuda leal do nas e, ao mesmo tempo, na extremidade
grande chefe: o governo federal”. Déca- oriental da América do Sul”, diz Cledor-
das depois de feito, o clamor de Gonza- vino Belini, presidente da Fiat Chrysler
gão parece começar a ser atendido. na América Latina. A montadora, que
As iniciativas de distribuição de está construindo uma fábrica na cidade
renda e os investimentos que vêm sen- de Goiana, na Zona da Mata pernambu-
do promovidos e estimulados nas es- Versos cana, se posicionou no centro de uma
feras federal e estadual estão ajudan- de Gonzagão região cuja frota de automóveis cresceu
do a transformar a região em um po- tornaram-se 120% nos últimos dez anos.
lo de interesse para as fábricas e as in-
dústrias que o músico insistia em que-
vaticínio da O mercado nacional avançou 85%. Ho-
rer ver instaladas no Sertão. Nos últi- realidade je, há um carro para cada 11 nordestinos
mos cinco anos, empresas anunciaram atual da região – é uma taxa muito melhor que a do iní-
investimentos de, no mínimo, 282 bi- cio da década passada, de um para ca-
lhões de reais nos estados nordesti- da 22, mas ainda longe da média nacio-
nos, segundo o Ministério do Desen- nal, de um para cinco. Um olho da Fiat
Cifras industriais.
volvimento – é o equivalente ao PIB As fábricas que o músico está nesses consumidores, ávidos pe-
de Bahia e Pernambuco, as maiores pedia na década lo conforto de um automóvel. O outro,
e
conomias da região, somado ao do de 1950 chegaram nas suas exportações pelo Porto de Sua
Rio Grande do Norte. pe, a potência pernambucana que liga-
rá a empresa a pelo menos 160 pontos
Maranhão, Ceará, Bahia e Pernambu- da África, Europa e América do Norte.
co estão entre os destinos mais pro O mercado consumidor nordestino é
curados para os novos empreendimen- um chamariz também para indústrias
tos industriais e comerciais que seguem que produzem bens de valor agregado
para a região. Muitos deles já foram le- bem menor do que o de um automóvel.
vados a cabo, enquanto outros não saí- “Assim como os chineses, a população
ram – e, talvez, nunca saiam – do papel. do Nordeste também se alimenta me-
Mas o fato é que, neste exato momento, lhor hoje do que há algumas décadas , ”
cartacapital | 27 de fevereiro de 2013 55
•EEReportagem4OK_44.indd 55 20/02/13 21:21
11. N r m o t t e s : Reportagem
C o md e sd ie : iDesenvolvimento
diz Leonardo Freitas, diretor-supe- ao Porto de Itaqui, em São Luís – ou se-
rintendente da Algar Agro, beneficia- ja, é bom lugar também para os expor-
dora de soja. Há seis anos, a empre- tadores. A infraestrutura tende a ficar
sa instalou uma unidade de processa- ainda melhor em alguns anos. Só a mi-
mento em Porto Franco, no sul do Ma- neradora Vale está investindo 12,5 bi-
ranhão, que no ano assado anhou
p g lhões de reais para duplicar a Estrada
também uma refinaria de óleo. Cer- de Ferro Carajás, que serve ao escoa-
ca de 220 milhões de reais em investi- Freitas e Hiltner mento do minério que explora. “As van-
mentos depois, a fábrica maranhense destacam tagens logísticas do Nordeste, em com-
já representa mais da metade das ven- paração com outras regiões, são um di-
das da Algar Agro, sediada em Uber-
as vantagens ferencial que já foi aprendido pelos in-
lândia, no Triângulo Mineiro. logísticas vestidores”, afirma Ricardo Belo, di-
“Com a fábrica lá, conseguimos e climáticas retor de consultoria da Ernst & Young
abastecer o mercado nordestino com da região Terco na região. Não é à toa que o Ma-
um custo muito competitivo”, diz o ranhão foi o estado do Nordeste que te-
executivo. O Maranhão, em especial, ve mais investimentos anunciados nos
reserva vantagens logísticas dificil- últimos cinco anos, totalizando quase
mente encontradas em outros lugares. Infraestrutura. 70 bilhões de reais, à frente de líderes
A Vale reserva 12,5 bilhões
É cortado por rodovias importantes e de reais para duplicar históricos como Bahia e Pernambuco.
ferrovias que ligam o interior do stado
e a Estrada de Ferro Carajás
Há ainda casos de empresas que, por
características específicas do Nordes-
te, não poderiam se instalar em qual-
quer outro lugar que não na região. “Pe-
las condições de luz e lima, lagoas é
c A
o melhor local para fazer os cruzamen-
tos de cana-de-açúcar que geram a es-
pécie de que precisamos, com baixo te-
or de açúcar e alta concentração de fi-
bras”, justifica Alan Hiltner, vice-pre-
sidente da GraalBio, fabricante de eta-
nol do Grupo Graal, pertencente à fa-
mília Gradin. O grupo, que está in-
vestindo 350 milhões de reais para le-
vantar uma planta em São Miguel dos
Campos, cidade de 56 mil habitantes
no leste alagoano, será o primeiro no
Hemisfério Sul a produzir etanol celu-
lósico, que usa a palha e o bagaço da ca-
na como matéria-prima.
Da mesma forma, a Vale e seus só-
cios coreanos da Dongkuk Steel e da
Posco avaliaram que o Ceará – mais
especificamente São Gonçalo do Ama-
rante, na região metropolitana de For-
taleza – era o lugar do Brasil mais ade-
quado para instalar a sua Companhia
Siderúrgica do Pecém (CSP). A side-
rúrgica, que terá capacidade de pro-
duzir 3 milhões de toneladas por ano
de aço quando estiver pronta, está sen-
do erguida a 8 quilômetros do Porto de
m a r c o p o m a r i c o/g r a a l b i o
Pecém. “A produção de aço é tão mais
competitiva quanto mais próxima es-
tiver das matérias-primas, que são o
carvão e o minério de ferro”, explica
da r i o z a l i s
Marcos Chiorboli, presidente da CSP.
“Se essas duas coisas andam de navio e
o aço é exportado pelo mesmo meio, só
56 www.cartacapital.com.br
•EEReportagem4OK_44.indd 56 20/02/13 21:21
12. N o r d e s t e : Desenvolvimento
vos investimentos que retroalimentam
uma cadeia de alto impacto nas ativida-
des diárias da população local. É o ca-
so da geração de energia eólica. De 2009
para cá, depois dos leilões de compra de
energia pelo governo que priorizaram
fontes renováveis, estados como Bahia,
Ceará e Rio Grande do Norte se torna-
ram celeiros de implantação de parques
eólicos. Atualmente, há mais de cem de-
les em construção, segundo a Associação
Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica),
e as obras de outra centena devem come-
çar nos próximos anos – um investimen-
to que totaliza mais de 16 bilhões de reais.
A Renova Energia resolveu instalar
seus parques nos arredores da cida-
de de Caetité, a quase 800 quilômetros
de Salvador. Lá, os ventos são melho-
res nas áreas montanhosas. “Um dos
poderíamos nos instalar em um porto nossos maiores desafios foi fazer che-
o lg a v l a h o u
bem estruturado como Pecém.” Puxa- gar os equipamentos até esses lugares”,
dos pelo Complexo Industrial do Porto diz Mathias Becker, presidente da em-
de Pecém, os investimentos anuncia- presa. Cada pá do cata-vento que faz
dos no Ceará ultrapassaram 69 bilhões uma turbina eólica funcionar mede 40
de reais nos últimos cinco anos. metros, em média. Não havia no ser-
A tentativa de levar para o Nordeste tão baiano estradas ou pontes que su-
empresas capazes de gerar não apenas portassem uma estrutura tão grande.
emprego, mas também um grande im- A casa de Rita, Por isso, empresa e governo tiveram
pacto de desenvolvimento econômico e antes isolada no de abrir os cofres e se debruçar sobre
social, não é nova no País. Leis federais mato, agora tem as pranchetas para reforçar a estrutu-
que isentavam de Imposto de Renda os acesso à estrada ra rodoviária da rota que os caminhões
projetos realizados na região datam já por causa com os quipamentos seguiriam.
e
da década de 1960 – atualmente, no- “Já investimos 20 milhões de reais e
vos empreendimentos conseguem ob-
de uma usina eólica temos mais 140 milhões de reais para
ter um desconto de 75% no IR duran- concretar estradas, melhorar pontes e
te dez anos. A questão é que foi nos úl- abrir acessos e desvios para a indústria
timos anos que o conjunto formado pe- Menos falhas. eólica”, afirma James Silva Santos Cor-
los incentivos, as melhorias de infra- Os custos que afugentavam reia, secretário da Indústria, Comér-
estrutura e o mercado consumidor em os empresários cio e Mineração da Bahia. Foi na pri-
diminuíram, diz Gabrielli
expansão maturou. “Os empresários já meira leva de investimentos que se tor-
não precisam compensar com a produ- nou possível chegar de carro à casa de
tividade os custos com logística e ou- Rita Maria da Silva, baiana de 58 anos.
tras falhas do Nordeste, como antes”, Mais de 7 mil pessoas já passaram pelo Ela e os vizinhos moravam, como cos-
diz José Sergio Gabrielli, ex-presidente programa de treinamento da empresa. tuma dizer, isolados no meio do mato.
da Petrobras e atual secretário de Pla- “Talvez essas pessoas nem sequer che- “Para chegar em casa, só de cavalo por
nejamento da Bahia. guem a trabalhar para nós, mas estão um caminhozinho que levava até a es-
voltando para casa com formação de pe- trada mais próxima”, conta. Mas, como
Os efeitos de ver instalada na região dreiro, de carpinteiro. São profissionais o lugarejo estava no roteiro da Renova,
uma indústria de grande porte podem prontos para trabalhar em obras”, diz Rita ganhou um acesso até a porta da
alcançar níveis tão elevados a ponto de Adriano Canela, diretor do projeto da sala – e, de quebra, emprego na empre-
mudar completamente a realidade lo- Suzano no estado – uma herança e tan- sa para um dos filhos e um dos genros.
cal. Para conseguir bons trabalhadores to para o estado, um dos poucos nde o
o Em meio às cifras bilionárias dos inves-
para a fábrica de papel e celulose que es- número absoluto de adultos analfabetos timentos no Nordeste, a estradinha que
tá construindo na maranhense Impera- aumentou nos últimos dez anos. conduz à casa de Rita parece singela
triz, a Suzano reservou 10 milhões de Outras indústrias são tão inovadoras demais para ser levada em conta. Mas
reais dos 5,8 bilhões de reais que está
investindo na cidade para treinar gente.
para determinados locais ainda ermos
do Nordeste que acabam por exigir no-
Rita garante que não é.
– POR MARIANA SEGALA
•
58 www.cartacapital.com.br
•EEReportagem4OK_44.indd 58 20/02/13 21:32