2. Em Portugal Continental em quase todas as zonas o
Domingo de Páscoa, começava com toda agente a
despertar mais cedo, pois não havia tempo a perder.
As donas de casa apressavam o almoço e davam os
últimos retoques nas respectivas casas.
4. Na Figueira da Foz, antigamente, desde o início da Quaresma
até ao Domingo de Ramos, aquele que fosse o primeiro a
chamar «padrinho» ou a «pedir as amêndoas» a quem
encontrasse ao sair de casa tinha direito a recebê-las no
domingo de Páscoa. Costume idêntico regista-se ainda hoje
em Monsanto (Beira Baixa), praticado pelos mais idosos que,
à laia de brincadeira, lembrando tempos antigos, dizem ao
encontrar alguém conhecido após as «aleluias», na noite de
Sábado Santo: «Belamente se passou a Quaresma, passe para
cá as amêndoas!» – como era costume dizer então.
5. Outro jogo/ritual da Quaresma com o nome «gancho dos
compadres», acontecia nas aldeias do concelho de Alenquer
(Estremadura), consistindo a praxe em duas pessoas
(geralmente um rapaz e uma rapariga), na Quarta-Feira de
Cinzas assumirem o «contrato» de ficarem «compadres».
Como assentimento, enganchavam os dedos mindinhos de
ambos. A partir desse momento sempre que um deles fosse o
primeiro a ver o outro, dizia: «Contratar, contratar, ao almoço
e ao jantar, quando eu te mandar rezar, reza!» Repetia-se isto
tantas vezes quantas as que acontecia encontrarem-se. Havia
quem chegasse a esconder-se para apanhar o «compadre» ou
a comadre» de surpresa e somar pontos.
6. O jogo era interrompido na Quinta e na Sexta-Feira Santa, para
recomeçar no Sábado Santo e terminar no domingo de Páscoa.
Se ganhava o «compadre», a «comadre» oferecia-lhe um folar, se
acontecia o contrário, era o «compadre» que oferecia amêndoas à
«comadre».
7. Em Afife (Minho) era hábito nesta quadra as raparigas oferecerem ovos
aos rapazes, pedindo-lhes em troca um presente de amêndoas.
8. Na Sertã (Beira Baixa) eram os rapazes a oferecer em primeiro lugar as
amêndoas às raparigas, para que estas lhas retribuíssem depois com
bolos especialmente feitos para esta ocasião. Também em Nisa (Alto
Alentejo) se cumpria o ritual de serem os rapazes a oferecerem às
namoradas um pacote de amêndoas na Semana Santa. O cerimonial
desta oferta repetia-se em Estremoz (ainda no Alto Alentejo), na Quinta-
Feira Santa depois da missa, à porta da igreja.
9. Refira-se, por isso, o antigo uso verificado em Beja (Baixo Alentejo) na
Quinta-Feira Santa, durante a cerimónia do «lava-pés» («lava-pedes» no
dizer local).
Nesse dia, as senhoras da melhor sociedade levavam à igreja salvas de
prata com amêndoas – os «caroços de alcorça» –, recheadas com ovos-
moles ou com chocolate, destinadas a treze idosos do lar da
Misericórdia.
Os pobres recebiam ainda vestuário completo, uma esmola em dinheiro
e uma «maçã de alcorça» (ou alcorce) em tamanho natural. As treze
«maçãs» (tal como o número de idosos a simbolizar Cristo e os
Apóstolos), eram dispostas numa salva de prata, sobre uma credência
apropriada para o efeito.
10. No final da cerimónia cada idoso oferecia a sua «maçã» ao mesário, em
casa do qual, nesse dia, todos eram recebidos para jantar, como
mandava a tradição.
Ainda em Beja, as «amêndoas de alcorce» eram distribuídas aos
«anjinhos» para que se «aquietassem e seguissem sossegados nas
procissões».
11. O bacalhau reina o ano inteiro.
É um hábito herdado da igreja na Idade Média, quando o calendário
impunha restrições alimentares que duravam quase um terço do ano,
obrigando as pessoas a comer peixe.
Mas há outras receitas na Páscoa portuguesa como o bolo folar, da
região de Trás-os-Montes, um tipo de empadão recheado de guisado de
frango.
Para a sobremesa, os tradicionais da doçaria portuguesa, desde massa
de amêndoas, doce de gemas de ovos ou ovos de chocolate.
12. A tradição em redor da Páscoa traz também consigo a gastronomia
típica desta celebração religiosa bastante popular em Portugal e no
mundo.
Vejamos que pratos tradicionais da Páscoa se preparam no país.
13. É comum em todo o país comer-se o borrego ou cabrito (assado ou ensopado). Na
região do Porto é popular o lombo de boi, também conhecido como “boi da
Páscoa” e, na zona da Beira Litoral, a chanfana (já apresentada na nossa rota de
sabores) e o leitão assado. Em Trás-os-Montes, o folar de carne e o Alentejo é
famoso pelos pratos de cordeiro.
14. No que diz respeito às sobremesas, não podemos deixar de
mencionar os 3 doces típicos tradicionais da Páscoa:
o folar (havendo vários tipos, como o folar doce e o folar gordo)
16. Há mais doces, claro: na região do Minho, por exemplo, é tradicional
comer-se o pão de ló.
17. Páscoa em Portugal
É nesta altura em que se limpam muito bem as casas, se pintam (ou
caiam, nas zonas em que isso é habitual) e se arranjam pois irá passar o
Compasso (a Visita Pascal), que é uma ida do padre a cada casa para
abençoar (e benzer) aquele lar e os que ali vivem.
18. Tudo isto ligado à Ressurreição de Cristo e à celebração da Vida.
19. Para além de todas as celebrações e significados da Páscoa, em Portugal
é também uma festa especial dos padrinhos (e madrinhas).
Luz
Sacrifício
de Cristo
Nascimento
de novos
Cristãos
Nova vida
Ressurreição de Cristo
Jesus escolheu
o pão e o vinho
para espalhar o
amor
20. Tradicionalmente, para além das amêndoas (porque parecem ovos
pequeninos) e dos ovos (símbolo da vida), existe o pão-de-ló e os folares
que se oferecem às crianças (especialmente pelos padrinhos).
21. Estes doces também estão em cada casa para receber o Compasso.
É um sinal de hospitalidade para o padre e os seus acompanhantes (que,
para não ficarem embuchados, têm também à disposição um copinho de
licor ou um cálice de vinho do Porto).
22. Os folares, como sabem, têm um ou mais ovos dentro - e lá voltamos
aos símbolos da Páscoa.
23. Antes da Páscoa, na Quaresma, o tempo é de jejum - evita-se comer
carne e a ementa das sextas-feiras deve ser peixe (bem, na verdade, não
deve é ser carne) por respeito, pois foi na sexta-feira que Jesus foi
crucificado e morreu.
24. Mas como no Domingo de Páscoa se celebra a festa da Ressurreição
(voltar à vida, ressuscitar), volta a comer-se carne: cabrito ou borrego,
como se fazia nos tempos antigos. E os doces, claro, que incluem todos
os tradicionais e os folares, como dissemos.
25. Também acontece em muitas localidades celebrar-se a Semana Santa (a
semana em que Jesus foi preso, julgado e condenado) com procissões
de velas, à noite, ou representações teatrais (populares) desses
acontecimentos.