1. CURRÍCULO, TECNOLOGIA E FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA
CLAUCIMERA CURMELATTO LOVISON*
GENESSI DE FÁTIMA PASQUALI*
ROSEMERI LAZARETTI BASTOS MACHADO*
RESUMO
A elaboração de um currículo depende do tipo de ensino que se quer adotar e da
escola que se deseja para os educandos. Trata-se de uma seleção intencional do
conhecimento, que de forma organizada, objetiva que o aluno alcance os resultados
previstos. Ele é muito mais que uma grade curricular, pois abrange todo o
envolvimento escolar para propiciar o dinamismo do processo educacional. Dessa
forma, o currículo escolar busca as suas fontes de inspiração no saber e nas
necessidades do contexto social. O desenvolvimento da tecnologia educativa e sua
ligação com o currículo escolar sofreram a influência de diferentes paradigmas. A
tecnologia educacional resumia-se inicialmente na utilização de meios e recursos
tecnológicos audiovisuais nas atividades de instrução e treinamento. Com os
estudos que se desenvolveram sobre a conduta humana, sua análise e como
controlá-la, ela assumiu uma nova dimensão, buscando planejamento de
estratégias, uso de meios e controle do sistema de educação. A sociedade em crise
busca, hoje, nos espaços educativos, a possibilidade de formação de indivíduos com
uma nova mentalidade, que enxerguem novas pistas que conduzam à superação
dos dilemas sociais e à construção de uma nova forma de gerenciar os recursos
naturais e históricos da humanidade; uma forma mais adequada socialmente, menos
predatória, e mais solidária nas relações entre os indivíduos e com o planeta. A
escola centrada no pleno desenvolvimento do educando precisa estar buscando
maneiras de fazer deste processo educativo algo prazeroso, desafiador. É função
dos professores, gestores, alunos e comunidade resgatar a função social da escola
para que o aluno participe de maneira ativa e dinâmica na construção do seu
aprendizado, sendo reflexivos e conhecedores de seus direitos e deveres.
Palavras-chave: Currículo. Tecnologia. Função Social da Escola. Processo
educacional.
*Graduadas em Pedagogia. Cursando Pós-graduação em Psicopedagogia Clínica e Institucional
Atuando na educação como professora das Séries Iniciais do Ensino Fundamental.
INTRODUÇÂO
A sociedade tem avançado em vários aspectos e a escola precisa
acompanhar essas evoluções, sempre conectada a essas transformações que
favorecem o acesso ao conhecimento. Por isso, é importante que se reflita sobre
que tipo de trabalho é desenvolvido nas escolas e quais os resultados alcançados.
2. Qual é na verdade a função social da escola? A escola está realmente cumprindo ou
procurando cumprir sua função, como agente de intervenção na sociedade?
Para se conquistar o sucesso se faz necessário que se entenda e que tenha
clareza do que se quer alcançar. A escola precisa ter objetivos bem definidos, para
que possa desempenhar bem o seu papel social, onde a maior preocupação deve
ser o crescimento intelectual, emocional e espiritual do aluno. É aí que entra a
importância do currículo escolar e o uso adequado da tecnologia educativa,
buscando as suas fontes de inspiração no saber e nas necessidades do contexto
social onde a comunidade escolar está inserida.
Um professor reflexivo trabalha com e sobre o pensar da e na prática
pedagógica, em processo continuamente repensado e reconstruído. Ao profissional
de educação, é necessário dar-se tempo e oportunidade de familiarização com os
eixos de uma renovação curricular e com as novas tecnologias educativas;
possibilitar-lhe condições de reflexão sobre o tipo de educação e de currículo a ser
desenvolvido. Sempre que se pensa criticamente a ação educativa, se entra também
no domínio da ética, além do domínio das dimensões da ciência, da técnica e da
política.
Diante de vários questionamentos sobre como vem acontecendo o processo
de ensino e aprendizagem, e ainda, como tem sido o trabalho de toda a comunidade
escolar, especialmente dos Professores e Equipe Gestora, para o êxito na
aprendizagem significativa do aluno, utilizou-se uma pesquisa com referências
teóricas de alguns autores de livros e artigos relacionados ao tema abordado, e
também a observação direta no trabalho de uma escola da rede pública estadual,
que atua com alunos do Ensino Fundamental e Ensino Médio.
1. CURRÍCULO ESCOLAR
1.1. Breve retrospectiva histórica
A tradição escolar sempre apresentou as teorias do currículo como algo
isolado e desprovido de significações mais profundas que pudessem contribuir para
o desenvolvimento das capacidades intelectuais e cognitivas de cada aluno em
particular. O currículo escolar era simplesmente considerado como uma seriação de
conteúdos escolares em que cada disciplina era estruturada e detalhada de acordo
com as exigências e normas da instituição de ensino. O currículo caracterizava-se
3. pelo modo próprio de ser de cada escola, pelo bom funcionamento de suas
atividades e pela forma padronizada de se trabalhar com a educação e os alunos.
Dessa forma, se a estrutura planejada no início do ano, a que foi estabelecida
no projeto político pedagógico de cada escola, estivesse sendo rigorosamente
obedecida, significava que o plano curricular estava sendo bem formado e
coerentemente respeitado em suas determinações.
1.2 – Moderna Concepção de Currículo Escolar
As novas teorias de currículo escolar nos apresentam um recurso, não de
resistência, mas de acréscimo àquelas já existentes e que buscam dar conta de um
universo educacional mais extenso, mais amplo. O currículo escolar atual não é,
portanto, o mesmo proposto pela tradição escolar e conservado de igual maneira por
todas as escolas. Pode-se mesmo dizer que, na era da tecnologia, o currículo
escolar se forma a partir das necessidades de cada escola e de cada aluno. Neste
sentido, o currículo escolar passa a ser definido como sendo todas as situações
vividas pelo aluno dentro e fora da escola, seu cotidiano, suas relações sociais, as
experiências de vida acumuladas por esse aluno ao longo de sua existência.
É importante dizer que, para a formação do currículo escolar individual de
cada aluno, a organização da vida particular de cada um constitui-se no principal
instrumento de trabalho para que o professor possa explorar no desenvolvimento de
suas atividades. Logo, o que se quer dizer é que a escola deve buscar na
experiência cotidiana do aluno elementos que subsidiem a sua ação pedagógica e,
ao mesmo tempo, recursos que contribuam para a formação do currículo escolar dos
educandos.
A escola não pode esquecer que quando os alunos chegam, eles já possuem
uma história de vida, recebem influências fora da escola e apresentam um
comportamento individual, social e uma vivência sociocultural específicos ao
ambiente de origem de cada um deles. Todas essas características individuais dos
alunos integram elementos básicos que auxiliam na formação do currículo escolar.
MOREIRA e SILVA nos dizem que,
"[...] a cultura popular representa não só um contraditório
terreno de luta, mas também um importante espaço pedagógico
onde são levantadas relevantes questões sobre os elementos
4. que organizam a base da subjetividade e da experiência do
aluno." (MOREIRA e SILVA, 2002:96)
2. TECNOLOGIA EDUCATIVA
Em muitas escolas os laboratórios de informática compõem o arsenal
tecnológico. Muitas mudanças já foram realizadas e outras estão previstas, mas
será que os currículos estão sendo observados? É importante avaliar como os
currículos nessas escolas são trabalhados quando aliados à tecnologia. Sabe-se
que muitas vezes isso ainda é feito de forma fragmentada, ou seja, ainda existe a tal
grade curricular que vê as disciplinas isoladamente. É nesse contexto que está a
urgência de se pensa em um currículo transdisciplinar, que faça com que as áreas
do conhecimento estejam integradas e conectadas.
Cada área do saber tem seu valor e suas especificidades, mas é preciso
reconhecer que nenhuma delas deve prevalecer sobre as outras. Cada uma deve
ser respeitada em sua essência. Porém, os educadores, em conjunto com a
comunidade escolar, devem buscar possibilidades para que as áreas que compõem
o currículo escolar estejam mobilizadas e sejam valorizadas de forma integral.
No desenvolvimento do currículo, formar alunos reflexivos implica em uma
prática docente reflexiva, de que as instituições escolares são também
responsáveis, pois a construção do projeto político-pedagógico das escolas exige
uma permanente avaliação e formação.
3. FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA
3.1 Favorecer acesso ao conhecimento
A escola é uma instituição social com objetivo explícito: o desenvolvimento
das potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos, por meio da
aprendizagem dos conteúdos (conhecimentos, habilidades, procedimentos, atitudes,
e valores) que, aliás, deve acontecer de maneira contextualizada, desenvolvendo
nos alunos a capacidade de tornarem-se cidadãos participativos na sociedade em
que vivem.
5. Eis o grande desafio da escola, fazer do ambiente escolar um meio que
favoreça o aprendizado, onde a escola deixe de ser apenas um ponto de encontro e
passe a ser, além disso, encontro com o saber, com descobertas de forma
prazerosa e funcional, conforme Libâneo (2005, p.117) nos diz:
“Devemos inferir, portanto, que a educação de qualidade é
aquela mediante a qual a escola promove, para todos, o
domínio dos conhecimentos e o desenvolvimento de
capacidades cognitivas e afetivas indispensáveis ao
atendimento de necessidades individuais e sociais dos alunos.
Políticas que fortaleçam laços entre comunidade e escola é uma medida, um
caminho que necessita ser trilhado, para assim alcançar melhores resultados. O
aluno é parte da escola, é sujeito que aprende e que constrói seu saber, que
direciona seu projeto de vida. A escola lida com pessoas, valores, tradições, crenças
e opções, e precisa estar preparada para enfrentar tudo isso.
3.2 Atuação da Equipe Pedagógica - Coordenação
A política de atuação da equipe pedagógica é de suma importância para a
elevação da qualidade de ensino na escola. Existe a necessidade urgente de que os
coordenadores pedagógicos não restrinjam suas atribuições somente à parte
técnica, burocrática, elaborar horários de aulas e ainda ficarem nos corredores da
escola procurando conter a indisciplina dos alunos que saem das salas durante as
aulas, enquanto os professores ficam necessitados de acompanhamento.
A equipe de suporte pedagógico tem papel determinante no desempenho dos
professores, pois dependendo de como for a política de trabalho do coordenador o
professor se sentirá apoiado, incentivado. Esse deve ser o trabalho do coordenador:
incentivar, reconhecer, e elogiar os avanços e conquistas.
3.3 Função do Professor
Ao professor compete a promoção de condições que favoreçam o
aprendizado do aluno, fazendo com que ele compreenda o que está sendo
ministrado. Para isso ele deve facilitar a sua aprendizagem, aguçar seu poder de
6. argumentação, conduzir as aulas de modo questionador para que ele exerça seu
papel de sujeito pensante, questionar e trocar idéias que produzam conhecimento.
O planejamento é imprescindível para o sucesso cognitivo do aluno e êxito no
desenvolvimento do trabalho do professor, pois é como uma bússola que orienta a
direção a ser seguida. Quando o professor não planeja o aluno é o primeiro a
perceber que algo ficou a desejar, por mais experiente que seja o docente, e esse é
um dos fatores que contribuem para a indisciplina e o desinteresse na sala de aula.
É importante que o planejar aconteça de forma sistematizada e contextualizada com
o cotidiano do aluno – fator que desperta seu interesse e participação ativa, com
aulas dinâmicas e prazerosas.
3.4 Ação do Gestor Escolar
A cultura organizacional do gestor é decisiva para o sucesso ou fracasso da
qualidade de ensino da escola. A maneira como ele conduz as ações é o foco que
determinará o sucesso ou fracasso da escola. Sobre isso Libâneo diz que,
Características organizacionais positivas eficazes para o bom
funcionamento de uma escola: professores preparados, com
clareza de seus objetivos e conteúdos, que planejem as aulas,
cativem os alunos. Um bom clima de trabalho, em que a direção
contribua para conseguir o empenho de todos, em que os
professores aceitem aprender com a experiência dos colegas.
LIBÂNEO, (2005, p. 302):
O plano de trabalho da gestão escolar deve ir de encontro às reais
necessidades da escola, resolvendo problemas como a falta de professores,
cumprimento de horário e atitudes que assegurem a seriedade, compromisso com o
trabalho de ensino e a aprendizagem, com relação aos professores, coordenadores,
alunos e funcionários.
Quando o gestor conquista o respeito e admiração da maioria de seus
funcionários e alunos, há um clima de harmonia que predispõe a realização de um
trabalho, onde, apesar das dificuldades, os professores terão prazer em ensinar e os
alunos terão prazer em aprender.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
7. A sociedade de um modo geral tem feito progressos significativos em vários
aspectos e a escola nem sempre acompanha essas evoluções para favorecer o
acesso ao conhecimento. Para isso, se faz necessário que essa instituição que
trabalha diretamente com o processo educacional do ser humano entenda e tenha
clareza do que quer alcançar e aonde quer chegar.
A escola precisa ter objetivos bem definidos, para que possa desempenhar
bem o seu papel social, onde a maior preocupação deve ser o crescimento
intelectual, emocional e espiritual do aluno. É aí que entra a importância do currículo
escolar e o uso adequado da tecnologia educativa buscando as suas fontes de
inspiração no saber e nas necessidades do contexto social onde a comunidade
escolar está inserida.
Sendo assim, acredita-se que na escola observada, a articulação entre a
teoria e a prática do currículo escolar tem sido favorável em determinados aspectos
da prática docente. Os professores têm se esforçado para relacionar os conteúdos
escolares a aspectos da vida dos alunos objetivando o desenvolvimento cognitivo
dos mesmos. Na análise realizada, observou-se que grande parte dos professores
tem buscado a desfragmentação do ensino, mostrando que é possível unir cem por
cento do conteúdo ministrado à experiência de vida dos alunos.
Nesta linha de raciocínio, percebeu-se que essa escola fundamenta-se nas
novas teorias do currículo e, portanto, está inserida dentro de uma ótica mais
moderna da concepção de ensino-aprendizagem. Logo, pode-se assim considerar, o
desempenho escolar de tais alunos deve ser bem mais elaborado, visto que suas
realidades são conhecidas e levadas em consideração no cotidiano da sala de aula.
É como diz FREIRE:
"Por isso mesmo pensar certo coloca ao professor ou, mais
amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os saberes
com que os educandos, sobretudo os das classes populares,
chegam a ela – saberes socialmente construídos na prática
comunitária – mas também [...] discutir com os alunos a razão
de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos
conteúdos." (FREIRE, 2002, p. 33)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
8. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. 25ª Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
MOREIRA, A. F. & SILVA, T. T. (Orgs.). Cultura popular e pedagogia crítica: a
vida cotidiana com base para o conhecimento curricular. In: Currículo, cultura e
sociedade. 7ª Ed. São Paulo: Cortez, 2002.
LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA J. F.; TOSCHI M. S.; Educação escolar: políticas
estrutura e organização. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2005. (Coleção Docência em
Formação)
MESQUITA, de Mesquita. A Formação do Currículo Escolar nas Séries Iniciais,
publicado 16/01/2009, por Adriano de Mesquita. Disponível no site:
http://www.webartigos.com. Acessado em 25 de novembro de 2010.