O documento discute a Reforma Protestante e a Contrarreforma Católica. Aborda as críticas à Igreja Católica que levaram ao surgimento de Martinho Lutero e outras doutrinas protestantes. Também descreve as respostas da Igreja Católica ao Concílio de Trento, a Companhia de Jesus, o Índex e a Inquisição.
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A renovação da espiritualidade e religiosidade
1. Unidade 4: A
renovação da
espiritualidade e
da religiosidade
Módulo 3
2. Níveis de desempenho
• Identificar manifestações de crise na igreja nos finais da idade
média, inícios da idade moderna.
• Relacionar a questão das indulgências com o início da Reforma
Protestante.
• Sumariar os princípios do Luteranismo.
• Sublinhar a inovação teológica desta doutrina.
• Justificar a sua rápida progressão.
• Mostrar a diversificação de credos a seguir à rutura luterana.
• Comparar o calvinismo com o luteranismo.
• Relacionar o calvinismo com a expansão do capitalismo.
• Explicitar o contexto histórico em que se processou a reforma na
Inglaterra.
3. • Evidenciar a originalidade do anglicanismo.
• Exemplificar o clima de intolerância vivido no séc. XVI e XVII.
• Integrar a resposta da Igreja Católica à reforma protestante.
• Sumariar as conclusões do Concílio de Trento.
• Concluir da repressão exercida pelo Índex e pela Inquisição o
retrocesso cultural.
• Explicar a ação das novas congregações religiosas.
• Avaliar o impacto da contra Reforma e da Reforma católica na
sociedade portuguesa.
5. Críticas à Igreja
• O Renascimento faz provocar uma grave crise na Igreja. A nova visão
do homem e do mundo, mostra quanto as ideias veiculadas pela
Igreja estavam erradas.
• Os humanistas, longe de se dissociarem da religião, pretendiam
antes um retorno à pureza do cristianismo primitivo. Condenavam
não a religião em si, mas os que a pregavam e davam o exemplo
errado.
• A necessidade de uma prática mais autêntica e profunda, uma
religiosidade em que existisse uma verdadeira fé era o sentimento
transmitido pela maior parte dos humanistas.
• A devoção torna-se mais pessoal, bem como o sentimento de culpa
(e a morte em pecado).
6. Primeiras crises religiosas
• Século XII-XIII: a Heresia dos Cátaros. A doutrina assentava na
existência do Bem, que tinha criado o mundo espiritual, e do Mal,
que estivera na origem do mundo material.
• As ordens mendicantes, que condenam o luxo e a imoralidade da
Igreja.
•O aparecimento de cidades mercantis no
norte da Europa, que conduz a um desligar
da doutrina cristã, desenvolvendo-se o
ensino laico e a preparação dos novos
quadros fora da instituição religiosa.
Também o facto da Burguesia pretender o
enriquecimento, leva à crítica à Igreja, que
se opõe à prática da usura e do juro.
7. Primeiras crises religiosas
• o Cisma do Ocidente (1348/1417) - chega-se ao paradoxo da
existência de dois chefes da religião cristã. De um lado, o Papa de
Avignon, Clemente VII, apoiado pela França e seus aliados (Europa
central). Do outro lado, o Papa italiano, residente em Roma. Este era
apoiado pela Espanha. O conflito só será resolvido no Concílio de
Constança, em que um novo Papa, que congrega o apoio de ambas
as partes, é nomeado, ainda que por alguns dias coexistam três
Papas.
• Século XIV – heresia de John Wyclif, que contesta a autoridade do
clero na Inglaterra e o pagamento da dízima.
• Os flagelos do século: a guerra dos 100 anos; o avanço do Islão; a
peste negra… conduzem ao aparecimento de seitas e movimentos
que se vão afastando da Igreja cristã romana.
8. • Século XV: Jan Huss defende os checos contra o domínio do Império
Alemão. Segundo a sua opinião, ninguém se poderia considerar
representante de Cristo, se não seguisse o exemplo divino.
Savonarola prega contra o luxo e
corrupção na Sociedade. Por isso
é acusado, enforcado e depois
queimado na praça pública.
• Grande parte da igreja do século XV tinha-se afastado dos princípios
de pobreza pregados por Cristo e pelos primeiros apóstolos, e vivia
no luxo e na ostentação. A corrupção alastrava dentro da igreja
católica.
9. • Motivos para o descontentamento:
– Venda de cargos religiosos: a prática de simonia era frequente.
Aos cargos mais importantes como Arcebispados, Bispados,
Cónegos... chegavam não os mais piedosos, mas os filhos
segundos da nobreza, que viam aí um meio fácil de enriquecer e
ter prestígio.
– Falta de preparação e vocação dos membros do clero.
– Luxo, ostentação, vida mundana e imoral dos clérigos. O Papa
não era mais que um importante “monarca” com família e onde
a guerra e a política se sobrepunham à prática do culto. O
restante clero seguia o exemplo do seu chefe.
– Venda da Bula das Indulgências.
10. Críticas
• Em 1513, o Papa Leão X, decide enviar monges por toda a Europa,
solicitando aos fieis uma contribuição para a conclusão das obras da
Basílica de S. Pedro. Em troca, o Papa concedia uma Indulgência, isto
é um documento que lhes perdoava a penitência pelos seus
pecados. Imediatamente vozes humanistas se revoltam contra esta
prática.
• Erasmo de Roterdão (1466-1536), autor da obra “O elogio da
Loucura” critica os abusos do clero e defende a necessidade de uma
purificação da moral e dos costumes.
• Lutero, monge da ordem de Santo Agostinho, encontra a resposta à
sua inquietação nas casas de São Paulo, em que lê: o justo pode
salvar-se pela fé. Revolta-se assim contra a venda das indulgências.
11. A rutura teológica
• Lutero pretende um retorno a um cristianismo primitivo, onde a fé
era o mais importante. Em 1517 afixa a sua obra “95 teses sobre as
Indulgências”. É considerado herético e finalmente excomungado.
Foge e refugia-se na Saxónia, onde funda a Igreja Alemã
Independente e Luterana.
• Em França, um extremista revolta-se contra a Igreja Católica. O seu
nome é Calvino. Acredita na predestinação. O homem deve seguir
uma fé intensa e ter uma vida piedosa e austera de moral rígida. É
seguido na Suíça, Holanda e Escócia.
• No caso inglês, surge o Anglicanismo, com Henrique VIII e a querela
com o Papa Clemente VII (1523/1534). O rei pretende o divórcio de
Catarina de Aragão para casar com Ana Bolena, o que lhe é negado.
Resta-lhe então, separar-se também ele da igreja Católica.
14. Luteranismo
• Princípios Luteranos:
– Defende a autoridade única da Bíblia e a tradução do texto
sagrado para alemão.
– Acredita na relação direta do crente com Deus. Assim:
• Rejeita o papel mediador do clero,
• Rejeita a autoridade do Papa.
– Defende a alteração da doutrina da Igreja:
• Aceita apenas dois sacramentos (batismo e eucaristia),
• Rejeita o culto dos santos e da Virgem,
• Institui como responsáveis pelo culto religiosos homens
simples, designados por pastores.
15. Calvinismo
• Reforma Calvinista de João Calvino (1509-1564)
que, com o apoio da Burguesia foge para
Genebra, onde estabelece uma verdadeira
ditadura religiosa.
• Calvino defende que todas as leis de Deus deviam ser obedecidas.
Explica a salvação com a teoria da Predestinação: cada crente já
estaria, desde a origem, destinado por Deus à Salvação ou à
condenação eterna.
• Defende o sacerdócio universal e a autoridade exclusiva da Bíblia.
• Acredita na salvação pela fé e na existência de dois sacramentos: O
batismo e a comunhão.
• Defende a teocracia (hierarquia dentro da igreja).
• O Calvinismo torna-se uma verdadeira ideologia revolucionária.
16. Anglicanismo
• Fundada pelo rei Henrique VIII (1491-1547)
foi motivada pelo interesse do rei em anular
o seu casamento com Catarina de Aragão e
casar com Ana de Bolena.
• Com a recusa do Papa, Henrique VIII proclama o ato de supremacia
(em 1534), que o afasta da obediência a Roma e o torna chefe
supremo da igreja na Inglaterra, a igreja Anglicana.
• Henrique VIII dissolve os Mosteiros e confisca-lhes os bens. A nova
religião inglesa defende então:
- a justificação pela fé, mas não a predestinação absoluta;
- a autoridade da bíblia, os Sacramentos do Batismo e
Eucaristia, mas nega o culto aos santos, imagens ou relíquias;
- a Teocracia;
- A abolição do Celibato dos padres.
17. DOGMAS: CULTO LUTERANISMO CALVINISMO ANGLICANISMO CATOLICISMO
Fé e predestinação Fé e predestinação Fé e predestinação Fé e boas ações
Salvação absoluta
da Alma
Bíblia, Tradição,
Fontes da Bíblia Bíblia Bíblia Decisões dos
Concílios
fé
Bíblia Tradução para a Tradução para a Tradução para a -Versão latina
-Versão língua nacional língua nacional língua nacional -Interpretação do
Interpretação -Interpretação livre -Interpretação de -Interpretação dos Papa
Calvino bispos
Batismo, Crisma,
Sacrament Batismo e Eucaristia,
o Eucaristia Batismo e Batismo e Matrimónio,
Penitência, Ordem,
Eucaristia Eucaristia Extrema Unção
Presença real sem Presença espiritual Presença espiritual Presença real com
Comunhão transubstanciação transubstanciação
Culto da Virgem e Abolido Abolido Abolido Mantido
dos Santos
Organização Negada a sua Negada a sua Negada a sua Chefe da Igreja
eclesiástica autoridade autoridade autoridade
-Papa
Hierarquia Suprimida Suprimida Mantida Mantida
19. A Reforma Disciplinar
Em face das
contestações de que foi
alvo, a Igreja Católica
iniciou um movimento
de renovação que ficou
conhecido como a
Contra-Reforma.
O Papa Paulo III, um notável humanista e diplomata, reconheceu a
necessidade de se avançar para uma renovação da Igreja. Assim,
convocou o Concílio de Trento (1545-63), onde ficaram estabelecidas as
bases da Reforma da Igreja Católica.
20. O Concílio de Trento
• Durante o longo período de reflexão do concílio, os Bispos
confrontaram-se com duas correntes de opinião: uma mais tolerante
para com os reformistas e a que condenava duramente os
protestantes. Apesar das dificuldades, o Concílio realizou uma obra
notável:
– no plano dogmático: reafirmou a doutrina cristã face às teses
protestantes, confirmando a importância da fé e das boas obras
para a salvação humana; reconheceu a Bíblia e a tradição da
Igreja como fontes da verdade e manteve os 7 sacramentos;
– no plano disciplinar: restabeleceu a disciplina na Igreja,
determinando a formação do Clero em seminários, manteve o
celibato dos padres e obrigou os seus membros a residir nas
dioceses e paróquias a seu cargo.
21. A Contrarreforma
• Surge a necessidade de se responder às ordens protestantes. Assim,
emerge o movimento de Contrarreforma, desenvolvendo-se
instrumentos de “ataque” ao protestantismo:
– a Companhia de Jesus, oficializada pelo Papa em 1540. Os
Jesuítas destacaram-se no ensino e na consolidação e expansão
da fé cristã através da missionação.
– O Índex, catálogo que era periodicamente atualizado dos livros
proibidos (não podiam ser impressos, vendidos ou mesmo lidos
sob pena de excomunhão ou morte).
– A Inquisição, instrumento repressivo que correspondia a um
tribunal religioso, sujeito à vontade régia, que inquiria a vida
daqueles que eram suspeitos de atos contra a fé católica.
22. O combate ideológico: O Índex
• Index (Index Librorum Prohibitorum) era o Catálogo dos livros que a
Igreja considerava nefastos para a preservação da fé.
• Continha três seções:
– Lista de autores completamente proibidos;
– Lista de autores cujas obras poderiam conduzir à heresia;
– Lista de livros contendo doutrinas que não eram
correspondentes às ideias da Igreja.
23. A Inquisição
• A Inquisição era também apelidada de Tribunal do Santo Ofício.
• Era um tribunal eclesiástico destinado a defender a fé católica.
• Vigiava, perseguia e condenava aqueles que fossem suspeitos de
praticar outras religiões com vista a proteger a ortodoxia católica.
• Utilizando a tortura e a condenação pelo fogo, pretendia salvar as
almas dos erros e das heresias que levavam à condenação eterna.
24. A Companhia de Jesus
• Também conhecidos por Jesuítas, foi criada por São Inácio de Loyola.
• Rompeu com os moldes tradicionais da vida nos Mosteiros.
• Tornou-se um símbolo da nova Igreja rejuvenescida e novamente
pura.
• Tornou-se um instrumento eficaz na resposta ao protestantismo,
uma vez que :
– Defendia o catolicismo,
– Promovia a sua difusão pelo mundo,
– Levava a cabo a missionação, pregação e ensino,
– Evangelizava os povos das terras recém
descobertas.
25. Na Península
• A posição geográfica da Península Ibérica explica, em parte, a quase
ausência de movimentos religiosos reformistas protestantes.
• Existiam uma grande comunidade judaica, bem enraizada na
sociedade portuguesa.
• No final do séc. XV, em Espanha, os Reis Católicos reativaram a
Inquisição como forma de limitar a poderosa comunidade judaica.
Estes foram perseguidos não só pelas suas diferenças religiosas, mas
principalmente por razões económicas.
• Os judeus foram então expulsos ou forçados a converter-se ao
Cristianismo. Esta mesma medida faria parte do contrato de
casamento de D. Manuel com a filha dos reis católicos espanhóis.
26. Em Portugal
• Após a expulsão dos judeus de Espanha, muitos fixaram-se me
Portugal, sendo aceites por D. João II.
• Em 1496 D. Manuel I ordena a expulsão dos judeus que não se
convertessem à fé católica. Para impedir a perda financeira que tal
representaria, o rei ordena o batismo forçado dos judeus, que
passam a ser conhecidos pela designação de cristãos-novos. Os
misturados seriam os marranos.
• A nobreza não se misturou, tendo a assimilação ocorrido apenas nos
estratos populares e mercantis.
• Numa primeira fase do governo, o rei que se segue, D. João III
demonstra abertura aos ideais renascentistas e torna-se um
príncipe do Renascimento.
27. • D. João III promove o desenvolvimento e a circulação de ideias, com
a vinda de estrangeiros para o reino, a criação do Colégio das Artes e
a transferência da Universidade para Coimbra.
• Na segunda fase do seu reinado, manifesta-se um encerramento à
cultura renascentista e ao humanismo cristão, considerado nefasto.
• A Inquisição instala-se então em Portugal, por insistência do rei
junto do papado, e viria a completar as ações que se levaram a cabo
em nome da pureza da religião católica.
• Os alvos preferenciais da Inquisição foram os judeus e os marranos,
o que provocou o enfraquecimento da Burguesia e a sua
substituição no comércio por nobres e cavaleiros-mercadores.
Todavia, estes não tinham a mesma preparação, logo, o mesmo
sucesso.
28. • A presença da Inquisição em Portugal, embora solicitada desde cedo
pelos reis, era desnecessária, pois os protestantes eram quase
inexistentes e os judeus, ou já tinham sido expulsos ou tinham sido
forçados à conversão (os que escolheram a conversão forçada
passaram a ser designados por cristãos novos).
• Para justificar a presença da Inquisição, iniciou-se uma grande
perseguição contra os cristãos-novos acusados de judaísmo. Outros
alvos foram os homens cultos, como Damião de Góis e todos os que
eram acusados de bruxaria.
• A Inquisição tornou-se também um meio usado para a centralização
do poder régio, ao mesmo tempo que se exercia o controlo da
ascensão social.
29. • A chegada da Companhia de Jesus em 1540 permitiu o processo de
missionação em terras portuguesas ultramarinas, bem como de
domínio das mais importantes estruturas educacionais portuguesas.
• Durante todo o século XVI verificou-se um domínio completo do país
pela Inquisição e pela Companhia de Jesus, amparado pela
monarquia.
• Foram realizados milhares de autos-de-fé, cerimónia pública em que
os condenados pela Inquisição ouviam as acusações e as penas a
que seriam sujeitos.
•Esta situação
terminou, finalmente,
com as medidas
tomadas pelo Marquês
de Pombal.
30. • Em Portugal, as severas medidas da contrarreforma aplicadas,
revelaram-se extremamente nocivas face ao desenvolvimento que
se iniciava. Foram assim responsáveis por um atraso cultural que se
prolongou por muitas décadas.
• A censura às obras escritas complexificou-se, sendo publicadas cada
vez mais frequentes e extensas listas de obras proibidas.
• A presteza das autoridades portuguesas em cumprir as medidas
repressivas de Roma levaram ao exílio de inúmeros intelectuais
nacionais e grandes nomes do panorama económico, em especial
judeus que se refugiaram na Holanda, onde refizeram a sua vida e o
seu património.
• Deve-se ainda aludir à própria arte, uma vez que o catolicismo da
Contrarreforma se serviu do esplendor da arte barroca para atrair os
fiéis à “luz da Verdade”, destacando-se em Portugal o Convento de
Mafra e a igreja de Santa Engrácia.