SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 11
Downloaden Sie, um offline zu lesen
O VÉU COMO ADORNO: A REPRESENTAÇÃO DO FEMININO
NAS OBRAS DE GLÓRIA PEREZ

Cássia Bethania Groess de Souza Barbosa
(prof_barbosa@windowslive.com)
Centro Universitário La Salle

Resumo: O trabalho aborda a influência da mídia televisiva na construção de representações e consequentemente de
práticas culturais. O estudo analisa a representação feminina nas obras de Glória Perez. As obras desta autora são
conhecidas pelo “merchandising social” e entre os anos de 1987 e 2009 a autora escreveu oito telenovelas e duas
minisséries nas quais as personagens femininas eram representadas em situações de opressão ou fragilidade.
Analisando os aspectos da representação dos papéis sexuais nas obras da autora e de seu impacto na formação de
opinião, criação de imaginário e no comportamento de seu público, pode-se identificar a remodelagem,
glamourização a fantasia de estereótipos femininos.
Palavras chave: Representação; Papéis sexuais; Telenovelas; Glória Perez; Imaginário.

Introdução
As montagens televisivas do gênero folhetim, em diversas formas de
apresentação, são sucesso grande número de países e por consequência ocupam a maior
parte da grade de programação dos canais de entretenimento. Porém no Brasil, mais que
em qualquer outro país, o papel das telenovelas ultrapassa a categoria de
entretenimento, adentrando o dia-a-dia. Quando o capítulo termina, a trama e seus
personagens continuam presentes, nas conversas do cotidiano, como tema de
reportagens, referência no levantamento de questões comportamentais, influenciando a
moda e o consumo.
O Brasil possui a segunda maior média de audiência televisiva do planeta e é
aqui que as telenovelas possuem uma influência mais ampla e duradoura na escolha de
estilo de vida de seus telespectadores. Segundo La Pastina (1994), as telenovelas
“tornaram-se muito mais uma parte do tecido da sociedade brasileira. É difícil pensar o
Brasil contemporâneo sem pensar em novela.”. Estudos demonstraram a influência das
novelas desde o planejamento família, escolha do nome dos filhos e divórcio1.
Esta influência é potencializada quando são inseridos na história temas
1

Ver Alberto Chong & Eliana La Ferrara, 2009. "Television and Divorce: Evidence from Brazilian
Novelas," Journal of the European Economic Association, MIT Press, vol. 7(2-3), pag. 458-468, 04-05. E
Eliana La Ferrara & Alberto Chong & Suzanne Duryea, 2008. "Soap Operas and Fertility: Evidence from
Brazil," Research Department Publications 4573, Inter-American Development Bank, Research
Department.

Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.240
relacionados às questões sociais ou questões de vanguarda, como é o caso das obras de
Glória Perez.
As obras desta autora são caracterizadas pelo merchandising social, que pode
ser definido como o uso da mídia para levar ao grande público informação sobre
questões fora de seu cotidiano ou mesmo de seu conjunto de interesses, levando-os a
constituir opinião e/ou posicionamento em relação a estas questões.
A produção televisiva é um produto sociocultural programado para a aceitação
pelo maior número possível de pessoas, por isso a diversificação dos personagens,
formando grupos distintos de representação de diversas camadas sociais, idades e sexo,
chamados de ‘núcleos’ das tramas. Mesmo com essa diversificação a telenovela ainda é
direcionada especialmente pra o público feminino, tendo mulheres como protagonistas e
o envolvimento romântico das personagens como um dos principais tópicos, quando
não o único, de suas trajetórias.
Este modelo é corroborado pelos clichês presentes nas telenovelas, que, por
trás de uma roupagem fantasiosa, busca sua essência na realidade, em prol da aceitação
do público, que reconhece esta essência, e considera legitimada pela televisão. Esta
legitimação exerce então uma influência poderosa na organização dos sistemas de
pensamento e formação de opinião e comportamento. Para este estudo foram escolhidas
três obras da novelista: Explode Coração (1995), o Clone (2001) e Caminho das Índias
(2009). Nestas três obras as personagens sofrem dramas muito semelhantes. Estão
inseridas em um ambiente de rigoroso patriarcalismo (culturas oriental e meso-oriental),
sujeitas à vontade da família, que lhes impõem casamentos arranjados. Vivem um
conflito moral, entre a busca da realização amorosa e a atenção aos valores familiares,
situação que se complica pela gravidez não planejada.
Neste artigo os objetos de estudo não são somente as representações analisadas pelo discurso- mas a capacidade deste discurso de amplificar e cristalizar a
realidade percebida por meio da análise da recepção e seu impacto no imaginário social.
Análise da recepção
A maioria da bibliografia pesquisada sobre o tema das representações nas
telenovelas aborda o assunto do ponto de vista de uma análise literária (considerando
literatura por ser analisado o discurso), fazendo conexões com o contexto da realidade à
época de suas exibições. Outro ponto bastante estudado dentro deste tema é a influência
das telenovelas nas opiniões e comportamento de seu público. Ambas as linhas de
estudo consideram a análise da recepção de uma forma mais ampla, como o
reconhecimento e a concordância do público com o discurso como La Pastina e
McAnany (1994), ou em dados estatísticos comparativos da recepção, como Chong e
Ferrara (2008), além de dezenas de artigos acerca da representação da figura feminina
na mídia.
A hipótese levantada neste trabalho se refere à absorção pelo público da
fantasia televisiva como uma afirmação do real. O projeto de pesquisa pretendia uma
pesquisa de opinião presencial, entrevistando telespectadoras diretamente, em paralelo
com a pesquisa entre os internautas, para evitar e exclusão do público sem acesso à
rede. Porém o que foi percebido durante o processo de pesquisa foi que telenovelas não
somente promovem valores e costumes, mas renovam os gostos, tendências e opiniões a
cada oito meses. Quando a novela termina, a mesma mídia de chamadas que a manteve
Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.241
na ordem do dia durante o período de exibição, imediatamente passa a cobrir a nova
trama, e sem o recurso audiovisual, o público que acompanhou a história, torceu pelos
seus personagens e absorveu seus ideais, dificilmente lembra-se dos detalhes das
representações contidas nos diálogos e que expressavam, ainda em um espelho convexo,
os valores da sociedade. A pesquisa então se voltou para os dados coletados na internet,
o que possibilitou a coleta de maior número de dados sobre a opinião do público e
também uma diversificação maior deste público, podendo inclusive analisar as opiniões
do público estrangeiro.
Foi realizada análise dos diálogos e representações imagéticas presentes em
cenas protagonizadas pelas personagens femininas. Foram utilizadas cenas
disponibilizadas na internet, no site da própria rede Globo, e principalmente no site
Youtube. Posteriormente, foi feita a análise da opinião do público, tomando como fonte
os comentários dos próprios usuários que assistiram aos vídeos. Também foi feita
análise da opinião sobre as telenovelas expressadas pelos usuários nos sites Facebook e
Orkut e também dos comentários publicados por leitores de blogs relacionados com os
temas inseridos nas obras estudadas, como o islamismo, hinduísmo, cultura cigana,
dança oriental e mesmo blogs e fóruns relacionados a fãs de novela em geral. Este
método foi escolhido por possibilitar a observação do direcionamento do interesse do
público em relação aos temas abordados nas cenas, ou nos tópicos dos fóruns. Sendo
sites totalmente interativos, foi possível realizar uma relação entre os temas
apresentados e a recepção, de acordo com as manifestações do público. Foram
analisados centenas de comentários, verificando opiniões em relação ao comportamento
das personagens, às culturas exóticas retratadas nas telenovelas e sua relação com a
realidade. Estas observações e análises possibilitaram ter uma amostra da influência das
telenovelas no imaginário, individual e coletivo, e a capacidade do transporte deste
imaginário para a prática social.
Representação da imagem feminina na telenovela
Nas três obras estudadas estereótipos femininos são retratado em partes
dissociadas, apresentando em cada obra cinco personagens que representam a
identidade feminina, no que se refere aos comportamentos e sentimentos a esta
atribuídos. As personagens apresentam um comportamento padrão, Em Explode
Coração, O Clone e caminho das Índias, respectivamente:
Dara, Jade e Maya: A heroína, que busca a realização do amor romântico, e
para tanto rompe com as tradições familiares, no entanto, quando se veem presas pela
necessidade à família, usam a mentira e alienação para escaparem das consequências de
suas transgressões. Ela representa o espírito feminino instável, impulsivo e
inconsequente.
Ianca, Latifah e Camila: A jovem fiel às tradições, que aceita de bom grado
todos os limites impostos a seu sexo, em nome da religiosidade, da preservação dos
costumes e da harmonia familiar. Esta representa a vitória das tradições, mostrando uma
mulher feliz e realizada pelo casamento.
Vera, Maysa e Duda: A rival romântica, uma mulher com valores culturais
totalmente diversos aos da heroína, e que teve ligação amorosa com o galã, mas foi
preterida. Luta para reconquistá-lo, contando com uma liberdade que a heroína não
possui, confusa entre a busca da própria felicidade e vingança contra sua rival.
Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.242
Representam o vazio existencial na falta de um companheiro
Eugênia. Ranya e Surya: A antagonista. Movida pelo ciúme, quer ocupar o
lugar da heroína. Dissimulada, usa de intriga, difamação e trapaças para alcançar seu
objetivo. Representam a inveja e o individualismo, a existência feminina como uma
constante competição.
Odaísa, Zoraide e Kochi: A mulher mais velha que consola e aconselha a
heroína, por vezes acobertando suas transgressões mesmo discordando destas ações.
Representa a compaixão, mas também a fraqueza de caráter.
Soraya, Nazira e Laksmi: A moralista, também uma mulher mais velha, mas
protetora dos costumes, e que mantém a heroína constantemente sob suas críticas e
vigilância. Representa a consolidação dos costumes, a perspectiva futura de uma
posição de maior importância, uma recompensa por uma vida virtuosa.
As novelas desempenham um papel na formação do discurso do feminino, e
destinado a esse público, focando a lógica do privado, destacando os valores da cultura
do machismo patriarcal, representando mulheres como seres vulneráveis, destinadas a
maternidade (todas as heroínas de telenovela tem filhos), a personalidade histérica e
obsessiva, que lutam pelo amor do galã distante e moralmente ambíguo.
Reapresenta-se então o modelo feminino verificado por Thomasseau:
desenha-se, ao longo do século dezenove, um retrato da mulher exemplar
suportando, com toda a coragem, ultrajes e afrontas [...] Belas, bondosas, sensíveis,
com uma inesgotável aptidão para sofrer e para chorar [...] Em geral elas superam
os homens em devotamento e generosidade (THOMASSEU, 2005, p.43).

A alta audiência feminina2 explica-se pelas tramas conterem como tópicos, o
inflame das prioridades tradicionalmente consideradas exclusivamente femininas:
sentimentos, maternidade, submissão. Em Explode Coração e O clone, as heroínas se
rebelam contra os costumes impostos por suas famílias, a princípio porque desejam a
liberdade e a adequação ao mundo moderno.
Dara: Eu quero estudar, mãe, tirar meu diploma conquistar meu lugar no mundo.
Lola (mãe): Você nunca vai ter o meu apoio. Eu não vou aceitar isso e teu noivo
também não vai aceitar.
Dara: Você não entendeu mãe. Não vai ter casamento.
(Explode Coração cap.1)

Porém estes desejos são suplantados assim que as heroínas se apaixonam,
quando então seus objetivos se tornam a busca da realização do amor idealizado. Na
busca pela liberdade individual, ainda há ponderação dos atos, argumentação com a
família. Mas a partir do momento em que a heroína se apaixona, seu lugar no mundo
passa a ser ao lado do homem amado, e a conquista deste lugar o seu único objetivo, e
2

As mulheres adultas representam 50% da audiência de televisão, sendo os outros 50% o público
masculino e infantil. As telespectadoras assistem à televisão em média 5 horas por dia. Fonte: IBOPE
Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.243
do qual ela depende.
Jade: Vocês me obrigaram a casar eu não queria casar.
Said: Então por que casou? Você podia ter dito não... Casou porque ele já tinha te
jogado no vento. (O Clone cap.89)
Jade: Um homem quando pede para uma mulher se jogar no vento e diz que segura,
ele segura. (O Clone, cap.232)

A busca do amor romântico é a único objetivo capaz de fazer a heroína romper
com seus valores morais e religiosos (no caso perdendo a virgindade) e questionar o
poder familiar sobre si. O amor e, somente por consequência deste, o sexo, recémdescobertos rouba-lhe a coragem de buscar a independência, pois a formação e
manutenção da família tornam-se o lugar de realização do amor, tornando-os
indissociáveis (COSTA, 1999).
As personagens Dara, Jade e Maya são direcionadas pela emoção, seus atos de
rebeldia são impulsivos e não refletidos, não argumentam sobre seu subjugo baseado na
sua condição feminina, mas sim buscam uma fuga para os seus próprios problemas, uma
mudança na sua situação particular, não se reconhecendo como parte de um gênero
oprimido e contestando essa opressão, mas sim as consequências que as afetam
diretamente.
Surya por favor, não me entregue. Eu estou perdida se você me entregar. E você
não vai ganhar muito com isto [...] Porque você odeia tanto porque você tem tanta
raiva de mim desde que eu coloquei os pés nesta casa você faz de tudo pra me
atingir tudo que está ao seu alcance para colocar os meus sogros e meu marido
contra mim [...].
Surya: Você está poluída, poluiu esta casa toda e enganou todo mundo.
Maya: Você também está enganando, você não é melhor do que eu.
Surya: Eu estou me defendendo [...] Vou recuperar o lugar que você me roubou.
(Caminho das Índias cap.189)

Na análise dos diálogos, percebe-se que, apesar de haver empatia em alguns
momentos, não há solidariedade, seja em sentimentos ou ações, entre as personagens,
nas manifestações de resistência ou fuga das imposições feitas a estas devido a seu sexo.
Em nenhum momento há a identificação de um problema como decorrente de seu papel
sexual, nem a culpabilização daqueles que impõe a elas estas condições.
Ao invés disso é demonstrado empenho em justificar estas condições como
parte da preservação de um patrimônio cultural intrínseco (religião e costumes).
Paradoxalmente, há um esforço para justificar as transgressões desse sistema de valores
e todas as ações posteriores tomadas a fim de ficarem impunes a estas transgressões e
pela manutenção de situações que as beneficiam, sendo o benefício máximo a realização
do ideal romântico, mas buscando em conjunto a aprovação da família.
O poder feminino representado consiste e se resume ao uso do corpo e da
condição de fêmea para obtenção de concessões materiais e psíquicas, despertando no
homem a libido ou a compaixão, buscando atender às emoções.
Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.244
Uma das cenas de O Clone com mais versões e visualizações no site Youtube, é
uma cena sem diálogos. A heroína Jade faz uma demonstração de dança oriental, para o
marido Said e a rival Maysa. Estes têm a intenção de humilhá-la, colocando a em uma
situação de exposição e subserviência. Mas a situação é invertida quando Said percebe
que Jade está feliz em exibir-se para Maysa, pois faz uma demonstração de seu poder de
sedução, usado para conquistar o esposo de Maysa, Lucas. A cena termina com Maysa
gritando que basta e Jade deixando a sala, rindo. Seu objetivo havia sido alcançado.
Sob um aparente controle de provocar a apreciação, aos impulsos da libido, seu
desejo ainda é mediado pela visão utilitarista, que, naturalmente, está longe de ser
compatível com verdadeira autonomia.
A sexualidade é representada de forma totalmente desnaturalizada, como arma
(para manipular um homem ou intimidar uma rival), ou como entrega total ao amor, este
então assumindo um papel impeditivo à reflexão, ao bom senso, que permitiriam à
mulher manter sua “pureza”.
Maya: Eu já estava muito apaixonada. Eu não conseguia mais dizer não.
(Caminho das Índias capítulo 189)

Estas representações remontam a perspectiva de Foucault (1976) , tanto na
definição da sexualidade, como na inscrição histórica da sexualidade feminina:
[...] um nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não a realidade
subjacente, sobre a qual se exerceriam controles difíceis, mas uma grande
rede de superfície onde a estimulação dos corpos, a intensificação dos
prazeres, a incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o reforço
dos controles e das resistências se encaixariam uns aos outros, segundo
algumas estratégias de saber e poder. (Foucault,1976:139)
[...] o que pertence por excelência ao homem e falta à mulher; como o que pertence
em comum ao homem e à mulher. mas ainda como o que constitui totalmente o
corpo da mulher, ordenando-o todo às funções de reprodução e perturbando-o sem
cessar pelos efeitos desta mesma função. (Idem: 201/202).

Esta desnaturalização associa a sexualidade feminina com os sentimentos, mas
não necessariamente associa estes com o casamento, que representa uma elevação no
status da fêmea em relação às demais, a partir do qual deterá o direito de
reconhecimento como parceira do homem. Na novela Caminho das Índias, ocorre que o
amor a ser buscado é o do próprio marido. O que o diferencia dos maridos das outras
tramas é justamente o seu distanciamento emocional, a necessidade de conquistá-lo.
Duda: Ele não te falou? (sobre o relacionamento antes do casamento).
Maya: Ele não precisou falar. Nós ainda não estávamos casados. Ele ainda não era
meu marido. Ele ainda não era meu.
(Caminho das Índias cap.121)

Embora o casamento garanta a mulher uma elevação no status e o
Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.245
comprometimento do homem, a sexualidade masculina é dissociada tanto do amor como
do casamento, mostrando a liberdade sexual como algo natural homem.
Eugênia: Você não pode querer controlar tudo desse jeito... O Júlio é um homem
charmoso, meu deus, o que é que você vai fazer? As mulheres olham para os
homens charmosos... E daí? Ele é teu marido. Ele escolheu você, para casar com
você, relaxa!
Vera: Ele tá é me afrontando, Eugênia![...] Desta vez ele vai ouvir! (sai de cena)
Eugênia (balançando negativamente a cabeça): Tonta!
(Explode Coração cap.1)

A mulher que se atreve a exigir do homem um comportamento sexual
semelhante ao seu, cuja conduta moral tem como principal critério de julgamento o
comportamento sexual (SARTI, 1989:42), é vista como tola e histérica. O homem ainda
é uma criatura pública, cuja personalidade e valor seu medidos pelas suas competências
e conquistas, enquanto o valor feminino está arraigado o corpo. Sendo assim o poder
conferido a mulher casada é o chamado por Bordieu poder por procuração (BORDIEU,
2011:42) se refere ao que é público de seu marido ( nome, posição social, dinheiro).
Lidiane: Eu não acredito que você vai ficar indiferente, que você não vai reagir...
Maysa: É claro que eu vou reagir!
Lidiane: Quer que eu vá até ele e cumprimente? Pra ele ficar bem sem graça? Eu
vou!
Maysa: Deixa, que eu prefiro me vingar do meu jeito.
Lidiane: O que você vai fazer?
(Maysa leva a amiga até a frente de uma vitrine e aponta um colar exposto)
Maysa: Que tal? É hoje que eu estouro o cartão de crédito dele!
Lidiane: Sua louca! (O Clone Cap. 1)

A cena demonstra a dissociação de condição de esposa e mesmo se seus
sentimentos, do comportamento sexual, cria uma visão feminina da economia de bens
simbólicos. Como a mulher é ferida tendo rejeitado o seu único objeto de poder e o que
ela oferece de mais precioso ao homem, o corpo, ela o fere atingindo o seu mecanismo
de poder, o dinheiro.
Telenovelas e o imaginário social

Glória Perez define o seu próprio método de trabalho como antropológico.
Refere-se a ele desta forma pelo fato de sair a campo para vivenciar a cultura a ser
retratada em cada história que escreve. A autora, que é mestre em História pela UFRJ,
também defende a televisão como forma de “levar cultura às classes menos favorecidas”
assim como usa suas histórias para a divulgação de temas sociais. No entanto também
defende a licença artística tanto para retratar as culturas exóticas como para
potencializar o drama nas telenovelas.
Para a autora, a fantasia é inerente ao gênero folhetim. Na pesquisa das
opiniões dos internautas, 60% dos que se manifestaram a esse respeito, concordavam
com os “exageros em nome da arte”, enquanto 40% consideram estas perigoso
Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.246
representações fantasiosas perigosas para as “mentes fracas” e chegam a se um
“desserviço à população”. Coincidentemente (ou não) estas mesmas porcentagens 60-40
apontam, respectivamente, os que não concordam com os comportamentos das
personagens (liberação sexual e abandono do casamento), e aqueles que consideram
aceitável, se for pela realização do amor.
O afastamento da ficção em relação à realidade social deve ser analisado de
acordo com informações que apontam as necessidade e aspirações de determinado
momento.
O diálogo entre as obras e a vida nacional também é dificultado pelo fato de,
no Brasil, não haver uma cultura popular abrangente e fortemente definida. Por isso a
propensão do público brasileiro a tomar como realidade as representações televisivas.
Cabe uma analogia aos registros Lacanianos e a relação da TV com o telespectador
conforme coloca Santaela (1999). Sendo a televisão o espelho e o espectador o eu a se
formado. O espelho confere a unidade necessária para a confirmação da identidade.
Como ocorre com toda cultura periférica, o público brasileiro tende a olhar
para si mesmo como exótico, diferente do que seria a norma de cada fase do período
histórico. Nos dias atuais, a cultura brasileira já está muito permeada pelas culturas de
irradiação tradicionais, europeia e norte-americana. Procura então outra forma de
diferenciar-se das normas das culturas de irradiação. Esta diferenciação então pode
manifestar-se destacando, no meio sociocultural receptor, aspectos superficiais desta
cultura periférica, que não necessariamente têm real influência no cotidiano e no
regimento social.
Considerando que 80% da audiência televisiva é formado pelas classes C, D e
E, cuja principal atividade nas horas livre é assistir televisão, é necessário considerar
seu papel como mais importante do que simples entretenimento.
Sendo assim, a televisão tem também uma função pedagógica informal. “Uma
das preocupações em relação a essa função é pensar uma forma de como transformar
informação em conhecimento, pois a mídia nos apresenta um mundo difuso e calcado
no consumo.” (RODRIGUES, 2006).
Para o telespectador, a representação da realidade na televisão terá forte
impacto na formação de sua opinião, e em se tratando de um ambiente diverso, deve ser
considerado o processo de aculturação por parte próprio telespectador.
Quando o processo de pensamento (a cultura representada) é exposto a
contribuições exteriores (valores do autor), pode tomar outra forma quando repensado
em um meio sociocultural inteiramente diverso (do telespectador) daquele que o
originou.
O pensamento crítico deve ser uma relação de fatos, e esta relação precisa ser
imaginada e depois verificada. Quando não é elaborada esta relação, o receptor poderá
somente supor relações, imaginadas a partir de sua própria experiência, permeadas por
tradições cuja origem não pode explicar.
Assim se desenvolvem se estabelecem e se renovam as versões estereotipadas,
correntes e presentes a ponto de incapacitar os sujeitos ao desenvolvimento destes
processos de pensamento e ao domínio sobre as informações. A reportagem da Folha de
São Paulo demonstra o alto crédito dado pelas telespectadoras às representações dos
homens indianos em Caminho das Índias:
Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.247
A partir de 2010, a Embaixada do Brasil em Nova Déli começou a receber
demandas por auxílio financeiro para o retorno das brasileiras, apoio jurídico em
casos de conflitos e registros de casamento indo-brasileiros [...] A popularização do
Orkut e do Facebook, em que predominam brasileiros e indianos, e a novela
"Caminho das Índias", exibida em 2009 pela Rede Globo, são apontadas pelo
Itamaraty como os catalisadores do fenômeno. "Raj [protagonista da novela, vivido
pelo ator Rodrigo Lombardi], esse cara é o meu problema. O personagem da
novela se materializou no Orkut” - Marcelo Ferraz, diplomata da Divisão de
Assuntos Consulares em Brasília.(Folha de São Paulo 11.06 2011)

Nos comentários dos telespectadores nos sites pesquisados, 30%
demonstravam encantamento com os valores culturais exóticos apresentados nas tramas,
manifestando o desejo de “que a no Brasil fosse assim”, assim como admiração pela
forma do amor romântico representada e do comportamento feminino inerente àquela
cultura.
Amo demais essa novela, as danças, a historia do povo árabe. O amor que se
cultiva dia a dia e não como o nosso que primeiro ama e depois desama dia a dia.
Depois que assisti a essa novela, comecei aulas de dança do ventre e estou me
descobri nisso. A magia das mulheres, andar coberta e despertar a curiosidade e a
imaginação dos homens, ser sensual sem ser vulgar, falar com a dança isso é
conquista e sedução, e não andar seminuas por aí, se oferecendo para qualquer um.
(Para o site Youtube, sobre a novela O Clone, usuária Kareemah em nove de
fevereiro de 2011).

Neste comentário observa-se além da admiração pela cultura retratada, a
capacidade de absorver os valores representados como reais e transportá-los, portanto
aplicação prática. Do total de comentários analisados, 18% relatava a influência das
novelas em mudanças significativas na vida destes telespectadores, desde a escolha de
profissões até casamentos.
A propensão à aceitação da representação como realidade se reflete também na
comparação dos comentários dos usuários estrangeiros, nos sites Youtube e Facebook.
As telenovelas fazem sucesso nos Estados Unidos, outros países da América latina e até
na Rússia, mas os enquanto os comentários dos fãs estrangeiros, em sua quase
totalidade se referiam à trilha sonora, à beleza da história contada, utilizando as palavras
‘personagem’ e ‘atuação’, os brasileiros tratam os personagens pelo nome, o descrevem
e a seus atos como sendo pessoas reais.
As montagens para a ficção televisiva se misturam com a realidade nos olhos
de quem vê, de modo que as fronteiras entre eles são pouco visíveis, como Adorno
(2007) recorda, referindo-se ao cinema.
O mundo inteiro deve passar pelo filtro da indústria cultural, a velha experiência do
espectador, que vê a rua fora da sala como o show em seguida, basta sair, porque
este só quer reproduzir fielmente o mundo perceptivo de vida cotidiana, tornou-se
Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.248
o leitmotiv da produção. As técnicas mais perfeitas e totalmente cinematográfica
duplicar objetos empíricos, mais facilmente realizado hoje a ilusão de que o mundo
fora da sala de projeção é a simples extensão do que é conhecido dentro dele.

Adorno coloca muito bem, citando Tocqueville, no contexto da nova ética,
onde a discriminação está disfarçada em distinções fundamentadas, e onde uso opressor
da força física se converte um uma censura moral arraigada, o que implica algum tipo
segregação.
O discurso da mídia, através de suas imagens, sons, enredos, histórias e narrativas,
possui ideologias e significados variados, exercendo a televisão um grande fascínio
nos telespectadores. As pessoas assistem com regularidade a certos programas e
eventos; há fãs das várias séries e estrelas com um grau incrível de informação e
conhecimento sobre o objeto de sua fascinação; as pessoas realmente modelam
comportamentos, estilos e atitudes pelas imagens da televisão.” WOODWARD
(2000, p. 17-18).

A televisão absorve o real, o amplifica cristaliza. Mais do que inserir valores,
legitima os valores existentes, dando a eles o aval da “alta cultura”.
Ultrapassa o campo do entretenimento, moldando gostos, sentimentos e
atitudes.
Considerações Finais

Mesmo na cultura ocidental atual, as mulheres ainda são educadas de forma a
considerar os relacionamentos românticos o norte de sua existência. A busca do amor,
através de todas as formas possíveis de agradar ao sexo masculino, ainda prevalece
sobre todos os outros aspectos da vida. E busca pela aprovação masculina, antes algo
institucionalizado, formalizado e abertamente ensinado às mulheres, passou á condição
de um valor tão absorvido que suas manifestações são tomadas como naturais.
As mulheres tomaram distância da linguagem romântica, aceitaram cada vez
menos sacrificar estudos e carreira no altar do amor, mas seu apego privilegiado ao
ideal amoroso perdurou, elas continuam maciçamente a sonhar com o grande amor,
ainda que fosse fora do casamento.” (LIPOVETSKY, 2000: 28)

Mesmo com uma crescente emancipação feminina no que tange ao aspecto
material, os próprios hábitos de consumo desta mulher emancipada podem refletir a
necessidade interna da realização pessoal somente alcançada pela conquista do amor,
gerando um imaginário social do ser feminino. Na forma da abordagem de Henri
Cartier, a imaginação é a percepção da realidade, é o que as pessoas têm para explicar o
mundo.

Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.249
O imaginário social é o método de construção e definição do que os indivíduos
percebem como realidade. Se a sociologia tinha apontado, face ao positivismo, que
real, é sempre algo significativo para um assunto, o imaginário social é o elemento
que permite uma inteligibilidade concessão especial e sentido da realidade. (...) A
ação coercitiva dos aparelhos ideológicos, dá lugar à realidade de construção de
estratégias para os meios de comunicação, através da instrumentalidade do
imaginário social. (CARTIER, 2011)

A identidade feminina é representada, seja como a heroína em fuga, a rival
consumista ou a vilã maléfica que promove intrigas, sempre com o mesmo objetivo de
ocupar o lugar ao lado de um homem. Reflete-se a aceitação desta identidade, nos
comentários pelo pequeno número, apenas 6%, que se manifestaram contrários à forma
como as mulheres eram representadas nas novelas.
Estas representações, por fim, legitimam a condição de dependência, criando
um círculo vicioso do imaginário. Retratando as mulheres como incapazes de realmente
subverter estas condições impostas a seu sexo por um trabalho constante de doutrinação,
tendendo, portanto a transgressões que corroboram a imagem historicamente construída
das fêmeas apresentando-a sob uma nova roupagem, que vela esta historicidade e seus
efeitos, e contribuindo para sua manutenção.
Referências
ADORNO, T. W. e HORKHEIMER, M.. Dialética do esclarecimento. Editora Zahar,
1997.
BORDIEU, Pierre. Os Usos Sociais da Ciência. Tradução Bárbara Catani. Editora
UNESP, 1997.
BORDIEU, Pierre. A dominação masculina. Editora Zahar 2011.
BORDIEU, Pierre Sobre a Televisão. Tradução Maria Lucia Machado. Editora Zahar
1997.
BRAGA, Maria Lucia Santaella. As três categorias peircianas e os três registros
lacanianos. Psicologia. USP, vol. 10, n. 2, 1999 .
CARTIER- BRESSON, Henri: O imaginário segundo a natureza, Editora Gustavo Gilli,
2011.
COSTA, Jurandir Freire. As práticas amorosas na contemporaneidade. Psyque, 1999.
FOUCAULT, Michel: Histoire de La Sexualité, La Volonté de Savoir vol.1, Paris,
Gallimard, 1976.
LIPOVETSKY, Gilles. A terceira mulher: Companhia das Letras, 2000.
McANANY, Emile e LA PASTINA, Antônio: Pesquisa sobre audiência de telenovelas
na América Latina: Revisão teórica e metodológica in Revista Brasileira de
Comunicação/INTERCOM, 1994, vol.XVII, n. 2, 17-37.
RODRIGUES, Rosemary Ramos: A desconstrução das Identidades femininas nas
tramas da telenovela Laços de Família. UFPB, 2006.
THOMASSEAU, Jean Marie: Melodrama. Editora Perspectiva, 2005.

Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.250

Weitere ähnliche Inhalte

Andere mochten auch

Bangla Slide Share 2
Bangla Slide Share 2Bangla Slide Share 2
Bangla Slide Share 2Cambriannews
 
Bangla Slide Share 11
Bangla Slide Share 11Bangla Slide Share 11
Bangla Slide Share 11Cambriannews
 
ORACLE - 6 months training certificate
ORACLE - 6 months training certificateORACLE - 6 months training certificate
ORACLE - 6 months training certificateManav Bhanot
 
Social Media for Lead Generation
Social Media for Lead GenerationSocial Media for Lead Generation
Social Media for Lead GenerationBob Hawkins
 
15 Tips to Fine-tune Retail Store Management
15 Tips to Fine-tune Retail Store Management15 Tips to Fine-tune Retail Store Management
15 Tips to Fine-tune Retail Store ManagementMoiz Khan
 

Andere mochten auch (11)

Masonic chain collar
Masonic chain collarMasonic chain collar
Masonic chain collar
 
Bangla Slide Share 2
Bangla Slide Share 2Bangla Slide Share 2
Bangla Slide Share 2
 
Bangla Slide Share 11
Bangla Slide Share 11Bangla Slide Share 11
Bangla Slide Share 11
 
Welcome
WelcomeWelcome
Welcome
 
Ong Lategana
Ong LateganaOng Lategana
Ong Lategana
 
ORACLE - 6 months training certificate
ORACLE - 6 months training certificateORACLE - 6 months training certificate
ORACLE - 6 months training certificate
 
Skills
SkillsSkills
Skills
 
Social Media for Lead Generation
Social Media for Lead GenerationSocial Media for Lead Generation
Social Media for Lead Generation
 
7:30 FAQ
7:30 FAQ7:30 FAQ
7:30 FAQ
 
15 Tips to Fine-tune Retail Store Management
15 Tips to Fine-tune Retail Store Management15 Tips to Fine-tune Retail Store Management
15 Tips to Fine-tune Retail Store Management
 
abhineetkundalp 2
abhineetkundalp 2abhineetkundalp 2
abhineetkundalp 2
 

Ähnlich wie O Véu como Adorno Cássia Barbosa

Mídia e identidade feminina: mudanças na imagem da mulher no audiovisual bras...
Mídia e identidade feminina: mudanças na imagem da mulher no audiovisual bras...Mídia e identidade feminina: mudanças na imagem da mulher no audiovisual bras...
Mídia e identidade feminina: mudanças na imagem da mulher no audiovisual bras...Cassia Barbosa
 
A sexualidade em Amor & Sexo: representação, discurso e regime de verdade
A sexualidade em Amor & Sexo: representação, discurso e regime de verdadeA sexualidade em Amor & Sexo: representação, discurso e regime de verdade
A sexualidade em Amor & Sexo: representação, discurso e regime de verdadeSamuel Barros
 
Um novo olhar sobre a questão da homoafetividade oficial
Um novo olhar sobre a questão da homoafetividade oficialUm novo olhar sobre a questão da homoafetividade oficial
Um novo olhar sobre a questão da homoafetividade oficialCinthia Ferreira
 
O que a telenovela ensina sobre ser mulher
O que a telenovela ensina sobre ser mulherO que a telenovela ensina sobre ser mulher
O que a telenovela ensina sobre ser mulherCassia Barbosa
 
Representação social do homem nas telenovelas
Representação social do homem nas telenovelasRepresentação social do homem nas telenovelas
Representação social do homem nas telenovelasCinthia Ferreira
 
A Mulher na Teledramaturgia Mexicana: Representações no Visível e Invisível
A Mulher na Teledramaturgia Mexicana: Representações no Visível e InvisívelA Mulher na Teledramaturgia Mexicana: Representações no Visível e Invisível
A Mulher na Teledramaturgia Mexicana: Representações no Visível e InvisívelPhillipe Xavier
 
TEXTO DA HELOISA BUARQUE.pdf
TEXTO DA HELOISA BUARQUE.pdfTEXTO DA HELOISA BUARQUE.pdf
TEXTO DA HELOISA BUARQUE.pdfAndréea Vieira
 
A ausência de categorias que incomoda uma vivência trans representada na no...
A ausência de categorias que incomoda   uma vivência trans representada na no...A ausência de categorias que incomoda   uma vivência trans representada na no...
A ausência de categorias que incomoda uma vivência trans representada na no...Cassia Barbosa
 
O Estilo de Vida Indie na série Girls
O Estilo de Vida Indie na série GirlsO Estilo de Vida Indie na série Girls
O Estilo de Vida Indie na série GirlsPhillipe Xavier
 
Representação social dos arranjos familiares nas telenovelas
Representação social dos arranjos familiares nas telenovelasRepresentação social dos arranjos familiares nas telenovelas
Representação social dos arranjos familiares nas telenovelasCinthia Ferreira
 
A mulher-na-producao-cultural-brasileira-invisibilidade-e-fomento
A mulher-na-producao-cultural-brasileira-invisibilidade-e-fomentoA mulher-na-producao-cultural-brasileira-invisibilidade-e-fomento
A mulher-na-producao-cultural-brasileira-invisibilidade-e-fomentoRamiro Ribeiro
 
Teoria narrativa representações do feminino telenovela
Teoria narrativa representações do feminino telenovelaTeoria narrativa representações do feminino telenovela
Teoria narrativa representações do feminino telenovelaCassia Barbosa
 
Banner congresso ufes relacionamento entre mãe e filha
Banner congresso ufes   relacionamento entre mãe e filhaBanner congresso ufes   relacionamento entre mãe e filha
Banner congresso ufes relacionamento entre mãe e filhaCinthia Ferreira
 
Um novo olhar sobre a questão da homoafetividade nas telenovelas.
Um novo olhar sobre a questão da homoafetividade nas telenovelas.Um novo olhar sobre a questão da homoafetividade nas telenovelas.
Um novo olhar sobre a questão da homoafetividade nas telenovelas.Cinthia Ferreira
 
Consumidoras e heroinas genero na telenovela
Consumidoras e heroinas genero na telenovelaConsumidoras e heroinas genero na telenovela
Consumidoras e heroinas genero na telenovelaCassia Barbosa
 
Mídia, Gênero e Educação
Mídia, Gênero e Educação Mídia, Gênero e Educação
Mídia, Gênero e Educação Cassia Barbosa
 
Meninosversusmeninas
MeninosversusmeninasMeninosversusmeninas
Meninosversusmeninasguest60c859
 
Representações de Gênero em desenhos animados e seriados televisivos sob olha...
Representações de Gênero em desenhos animados e seriados televisivos sob olha...Representações de Gênero em desenhos animados e seriados televisivos sob olha...
Representações de Gênero em desenhos animados e seriados televisivos sob olha...guest60c859
 
Personagem de novela ou mulher da vida real?
Personagem de novela ou mulher da vida real?Personagem de novela ou mulher da vida real?
Personagem de novela ou mulher da vida real?Cassia Barbosa
 

Ähnlich wie O Véu como Adorno Cássia Barbosa (20)

Mídia e identidade feminina: mudanças na imagem da mulher no audiovisual bras...
Mídia e identidade feminina: mudanças na imagem da mulher no audiovisual bras...Mídia e identidade feminina: mudanças na imagem da mulher no audiovisual bras...
Mídia e identidade feminina: mudanças na imagem da mulher no audiovisual bras...
 
A sexualidade em Amor & Sexo: representação, discurso e regime de verdade
A sexualidade em Amor & Sexo: representação, discurso e regime de verdadeA sexualidade em Amor & Sexo: representação, discurso e regime de verdade
A sexualidade em Amor & Sexo: representação, discurso e regime de verdade
 
Um novo olhar sobre a questão da homoafetividade oficial
Um novo olhar sobre a questão da homoafetividade oficialUm novo olhar sobre a questão da homoafetividade oficial
Um novo olhar sobre a questão da homoafetividade oficial
 
O que a telenovela ensina sobre ser mulher
O que a telenovela ensina sobre ser mulherO que a telenovela ensina sobre ser mulher
O que a telenovela ensina sobre ser mulher
 
Representação social do homem nas telenovelas
Representação social do homem nas telenovelasRepresentação social do homem nas telenovelas
Representação social do homem nas telenovelas
 
A Mulher na Teledramaturgia Mexicana: Representações no Visível e Invisível
A Mulher na Teledramaturgia Mexicana: Representações no Visível e InvisívelA Mulher na Teledramaturgia Mexicana: Representações no Visível e Invisível
A Mulher na Teledramaturgia Mexicana: Representações no Visível e Invisível
 
TEXTO DA HELOISA BUARQUE.pdf
TEXTO DA HELOISA BUARQUE.pdfTEXTO DA HELOISA BUARQUE.pdf
TEXTO DA HELOISA BUARQUE.pdf
 
A ausência de categorias que incomoda uma vivência trans representada na no...
A ausência de categorias que incomoda   uma vivência trans representada na no...A ausência de categorias que incomoda   uma vivência trans representada na no...
A ausência de categorias que incomoda uma vivência trans representada na no...
 
O Estilo de Vida Indie na série Girls
O Estilo de Vida Indie na série GirlsO Estilo de Vida Indie na série Girls
O Estilo de Vida Indie na série Girls
 
Slides defesa
Slides   defesaSlides   defesa
Slides defesa
 
Representação social dos arranjos familiares nas telenovelas
Representação social dos arranjos familiares nas telenovelasRepresentação social dos arranjos familiares nas telenovelas
Representação social dos arranjos familiares nas telenovelas
 
A mulher-na-producao-cultural-brasileira-invisibilidade-e-fomento
A mulher-na-producao-cultural-brasileira-invisibilidade-e-fomentoA mulher-na-producao-cultural-brasileira-invisibilidade-e-fomento
A mulher-na-producao-cultural-brasileira-invisibilidade-e-fomento
 
Teoria narrativa representações do feminino telenovela
Teoria narrativa representações do feminino telenovelaTeoria narrativa representações do feminino telenovela
Teoria narrativa representações do feminino telenovela
 
Banner congresso ufes relacionamento entre mãe e filha
Banner congresso ufes   relacionamento entre mãe e filhaBanner congresso ufes   relacionamento entre mãe e filha
Banner congresso ufes relacionamento entre mãe e filha
 
Um novo olhar sobre a questão da homoafetividade nas telenovelas.
Um novo olhar sobre a questão da homoafetividade nas telenovelas.Um novo olhar sobre a questão da homoafetividade nas telenovelas.
Um novo olhar sobre a questão da homoafetividade nas telenovelas.
 
Consumidoras e heroinas genero na telenovela
Consumidoras e heroinas genero na telenovelaConsumidoras e heroinas genero na telenovela
Consumidoras e heroinas genero na telenovela
 
Mídia, Gênero e Educação
Mídia, Gênero e Educação Mídia, Gênero e Educação
Mídia, Gênero e Educação
 
Meninosversusmeninas
MeninosversusmeninasMeninosversusmeninas
Meninosversusmeninas
 
Representações de Gênero em desenhos animados e seriados televisivos sob olha...
Representações de Gênero em desenhos animados e seriados televisivos sob olha...Representações de Gênero em desenhos animados e seriados televisivos sob olha...
Representações de Gênero em desenhos animados e seriados televisivos sob olha...
 
Personagem de novela ou mulher da vida real?
Personagem de novela ou mulher da vida real?Personagem de novela ou mulher da vida real?
Personagem de novela ou mulher da vida real?
 

Mehr von Cassia Barbosa

SEXUALIDADE E DIREITOS HUMANOS
SEXUALIDADE E DIREITOS HUMANOSSEXUALIDADE E DIREITOS HUMANOS
SEXUALIDADE E DIREITOS HUMANOSCassia Barbosa
 
1346326699 arquivo umaquestaodegenero_moisese_nataliafinal
1346326699 arquivo umaquestaodegenero_moisese_nataliafinal1346326699 arquivo umaquestaodegenero_moisese_nataliafinal
1346326699 arquivo umaquestaodegenero_moisese_nataliafinalCassia Barbosa
 
A (des)construção das identidades femininas
A (des)construção das identidades femininasA (des)construção das identidades femininas
A (des)construção das identidades femininasCassia Barbosa
 
A figura feminina como argumento de venda na linguagem publicitária
A figura feminina como argumento de venda na linguagem publicitáriaA figura feminina como argumento de venda na linguagem publicitária
A figura feminina como argumento de venda na linguagem publicitáriaCassia Barbosa
 
A conjugalidade nas antenas da tv
A conjugalidade nas antenas da tvA conjugalidade nas antenas da tv
A conjugalidade nas antenas da tvCassia Barbosa
 
Conjugalidades, parentalidades e
Conjugalidades, parentalidades eConjugalidades, parentalidades e
Conjugalidades, parentalidades eCassia Barbosa
 
Dualismo de papéis da mulher moderna
Dualismo de papéis da mulher modernaDualismo de papéis da mulher moderna
Dualismo de papéis da mulher modernaCassia Barbosa
 
Revista Faeba Educação e contemporaneidade
Revista Faeba Educação e contemporaneidadeRevista Faeba Educação e contemporaneidade
Revista Faeba Educação e contemporaneidadeCassia Barbosa
 
Elementos para a conformação da identidade feminina
Elementos para a conformação da identidade femininaElementos para a conformação da identidade feminina
Elementos para a conformação da identidade femininaCassia Barbosa
 
Entre a emancipa ca o e a dependencia as mulheres na revisa o Cruzeiro
Entre a emancipa ca o e a dependencia as mulheres na revisa o Cruzeiro Entre a emancipa ca o e a dependencia as mulheres na revisa o Cruzeiro
Entre a emancipa ca o e a dependencia as mulheres na revisa o Cruzeiro Cassia Barbosa
 
De gabriela a juma – imagens eróticas femininas nas telenovelas brasileiras
De gabriela a juma – imagens eróticas femininas nas telenovelas brasileirasDe gabriela a juma – imagens eróticas femininas nas telenovelas brasileiras
De gabriela a juma – imagens eróticas femininas nas telenovelas brasileirasCassia Barbosa
 
Estereótipos femininos fomentados pelos meios de comunicação
Estereótipos femininos fomentados pelos meios de comunicaçãoEstereótipos femininos fomentados pelos meios de comunicação
Estereótipos femininos fomentados pelos meios de comunicaçãoCassia Barbosa
 
Feminino & masculino programa infantil
Feminino & masculino   programa infantilFeminino & masculino   programa infantil
Feminino & masculino programa infantilCassia Barbosa
 
Feminino na beira uma análise do conto “barba de arame“, de
Feminino na beira uma análise do conto “barba de arame“, deFeminino na beira uma análise do conto “barba de arame“, de
Feminino na beira uma análise do conto “barba de arame“, deCassia Barbosa
 
Feminino velado recepção da telenovela por mãe e filhas das classes populares
Feminino velado recepção da telenovela por mãe e filhas das classes popularesFeminino velado recepção da telenovela por mãe e filhas das classes populares
Feminino velado recepção da telenovela por mãe e filhas das classes popularesCassia Barbosa
 
Gênero, sexualidade e meios de
Gênero, sexualidade e meios deGênero, sexualidade e meios de
Gênero, sexualidade e meios deCassia Barbosa
 
Lección de cocina a ironia como desconstrução da submissão feminina
Lección de cocina a ironia como desconstrução da submissão femininaLección de cocina a ironia como desconstrução da submissão feminina
Lección de cocina a ironia como desconstrução da submissão femininaCassia Barbosa
 

Mehr von Cassia Barbosa (20)

SEXUALIDADE E DIREITOS HUMANOS
SEXUALIDADE E DIREITOS HUMANOSSEXUALIDADE E DIREITOS HUMANOS
SEXUALIDADE E DIREITOS HUMANOS
 
inscrição engenero
inscrição engeneroinscrição engenero
inscrição engenero
 
1346326699 arquivo umaquestaodegenero_moisese_nataliafinal
1346326699 arquivo umaquestaodegenero_moisese_nataliafinal1346326699 arquivo umaquestaodegenero_moisese_nataliafinal
1346326699 arquivo umaquestaodegenero_moisese_nataliafinal
 
A (des)construção das identidades femininas
A (des)construção das identidades femininasA (des)construção das identidades femininas
A (des)construção das identidades femininas
 
A figura feminina como argumento de venda na linguagem publicitária
A figura feminina como argumento de venda na linguagem publicitáriaA figura feminina como argumento de venda na linguagem publicitária
A figura feminina como argumento de venda na linguagem publicitária
 
A conjugalidade nas antenas da tv
A conjugalidade nas antenas da tvA conjugalidade nas antenas da tv
A conjugalidade nas antenas da tv
 
Comunicacao e genero
Comunicacao e generoComunicacao e genero
Comunicacao e genero
 
Conjugalidades, parentalidades e
Conjugalidades, parentalidades eConjugalidades, parentalidades e
Conjugalidades, parentalidades e
 
Dualismo de papéis da mulher moderna
Dualismo de papéis da mulher modernaDualismo de papéis da mulher moderna
Dualismo de papéis da mulher moderna
 
Revista Faeba Educação e contemporaneidade
Revista Faeba Educação e contemporaneidadeRevista Faeba Educação e contemporaneidade
Revista Faeba Educação e contemporaneidade
 
Elementos para a conformação da identidade feminina
Elementos para a conformação da identidade femininaElementos para a conformação da identidade feminina
Elementos para a conformação da identidade feminina
 
Entre a emancipa ca o e a dependencia as mulheres na revisa o Cruzeiro
Entre a emancipa ca o e a dependencia as mulheres na revisa o Cruzeiro Entre a emancipa ca o e a dependencia as mulheres na revisa o Cruzeiro
Entre a emancipa ca o e a dependencia as mulheres na revisa o Cruzeiro
 
De gabriela a juma – imagens eróticas femininas nas telenovelas brasileiras
De gabriela a juma – imagens eróticas femininas nas telenovelas brasileirasDe gabriela a juma – imagens eróticas femininas nas telenovelas brasileiras
De gabriela a juma – imagens eróticas femininas nas telenovelas brasileiras
 
Estereótipos femininos fomentados pelos meios de comunicação
Estereótipos femininos fomentados pelos meios de comunicaçãoEstereótipos femininos fomentados pelos meios de comunicação
Estereótipos femininos fomentados pelos meios de comunicação
 
Eu compro essa mulher
Eu compro essa mulherEu compro essa mulher
Eu compro essa mulher
 
Feminino & masculino programa infantil
Feminino & masculino   programa infantilFeminino & masculino   programa infantil
Feminino & masculino programa infantil
 
Feminino na beira uma análise do conto “barba de arame“, de
Feminino na beira uma análise do conto “barba de arame“, deFeminino na beira uma análise do conto “barba de arame“, de
Feminino na beira uma análise do conto “barba de arame“, de
 
Feminino velado recepção da telenovela por mãe e filhas das classes populares
Feminino velado recepção da telenovela por mãe e filhas das classes popularesFeminino velado recepção da telenovela por mãe e filhas das classes populares
Feminino velado recepção da telenovela por mãe e filhas das classes populares
 
Gênero, sexualidade e meios de
Gênero, sexualidade e meios deGênero, sexualidade e meios de
Gênero, sexualidade e meios de
 
Lección de cocina a ironia como desconstrução da submissão feminina
Lección de cocina a ironia como desconstrução da submissão femininaLección de cocina a ironia como desconstrução da submissão feminina
Lección de cocina a ironia como desconstrução da submissão feminina
 

Kürzlich hochgeladen

PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAHELENO FAVACHO
 
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptxSlide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptxedelon1
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfHELENO FAVACHO
 
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Maria Teresa Thomaz
 
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º anoCamadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º anoRachel Facundo
 
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)ElliotFerreira
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdfGEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdfRavenaSales1
 
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para criançasJogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para criançasSocorro Machado
 
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesRevolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesFabianeMartins35
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfTutor de matemática Ícaro
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMHELENO FAVACHO
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdfLeloIurk1
 
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfWagnerCamposCEA
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteVanessaCavalcante37
 
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffffSSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffffNarlaAquino
 
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptxSeminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptxReinaldoMuller1
 
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfProjeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfHELENO FAVACHO
 

Kürzlich hochgeladen (20)

PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
 
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptxSlide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
 
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
 
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º anoCamadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
 
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
 
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIXAula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
 
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdfGEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
 
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para criançasJogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
 
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesRevolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
 
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
 
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffffSSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
 
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptxSeminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
 
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfProjeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
 

O Véu como Adorno Cássia Barbosa

  • 1. O VÉU COMO ADORNO: A REPRESENTAÇÃO DO FEMININO NAS OBRAS DE GLÓRIA PEREZ Cássia Bethania Groess de Souza Barbosa (prof_barbosa@windowslive.com) Centro Universitário La Salle Resumo: O trabalho aborda a influência da mídia televisiva na construção de representações e consequentemente de práticas culturais. O estudo analisa a representação feminina nas obras de Glória Perez. As obras desta autora são conhecidas pelo “merchandising social” e entre os anos de 1987 e 2009 a autora escreveu oito telenovelas e duas minisséries nas quais as personagens femininas eram representadas em situações de opressão ou fragilidade. Analisando os aspectos da representação dos papéis sexuais nas obras da autora e de seu impacto na formação de opinião, criação de imaginário e no comportamento de seu público, pode-se identificar a remodelagem, glamourização a fantasia de estereótipos femininos. Palavras chave: Representação; Papéis sexuais; Telenovelas; Glória Perez; Imaginário. Introdução As montagens televisivas do gênero folhetim, em diversas formas de apresentação, são sucesso grande número de países e por consequência ocupam a maior parte da grade de programação dos canais de entretenimento. Porém no Brasil, mais que em qualquer outro país, o papel das telenovelas ultrapassa a categoria de entretenimento, adentrando o dia-a-dia. Quando o capítulo termina, a trama e seus personagens continuam presentes, nas conversas do cotidiano, como tema de reportagens, referência no levantamento de questões comportamentais, influenciando a moda e o consumo. O Brasil possui a segunda maior média de audiência televisiva do planeta e é aqui que as telenovelas possuem uma influência mais ampla e duradoura na escolha de estilo de vida de seus telespectadores. Segundo La Pastina (1994), as telenovelas “tornaram-se muito mais uma parte do tecido da sociedade brasileira. É difícil pensar o Brasil contemporâneo sem pensar em novela.”. Estudos demonstraram a influência das novelas desde o planejamento família, escolha do nome dos filhos e divórcio1. Esta influência é potencializada quando são inseridos na história temas 1 Ver Alberto Chong & Eliana La Ferrara, 2009. "Television and Divorce: Evidence from Brazilian Novelas," Journal of the European Economic Association, MIT Press, vol. 7(2-3), pag. 458-468, 04-05. E Eliana La Ferrara & Alberto Chong & Suzanne Duryea, 2008. "Soap Operas and Fertility: Evidence from Brazil," Research Department Publications 4573, Inter-American Development Bank, Research Department. Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.240
  • 2. relacionados às questões sociais ou questões de vanguarda, como é o caso das obras de Glória Perez. As obras desta autora são caracterizadas pelo merchandising social, que pode ser definido como o uso da mídia para levar ao grande público informação sobre questões fora de seu cotidiano ou mesmo de seu conjunto de interesses, levando-os a constituir opinião e/ou posicionamento em relação a estas questões. A produção televisiva é um produto sociocultural programado para a aceitação pelo maior número possível de pessoas, por isso a diversificação dos personagens, formando grupos distintos de representação de diversas camadas sociais, idades e sexo, chamados de ‘núcleos’ das tramas. Mesmo com essa diversificação a telenovela ainda é direcionada especialmente pra o público feminino, tendo mulheres como protagonistas e o envolvimento romântico das personagens como um dos principais tópicos, quando não o único, de suas trajetórias. Este modelo é corroborado pelos clichês presentes nas telenovelas, que, por trás de uma roupagem fantasiosa, busca sua essência na realidade, em prol da aceitação do público, que reconhece esta essência, e considera legitimada pela televisão. Esta legitimação exerce então uma influência poderosa na organização dos sistemas de pensamento e formação de opinião e comportamento. Para este estudo foram escolhidas três obras da novelista: Explode Coração (1995), o Clone (2001) e Caminho das Índias (2009). Nestas três obras as personagens sofrem dramas muito semelhantes. Estão inseridas em um ambiente de rigoroso patriarcalismo (culturas oriental e meso-oriental), sujeitas à vontade da família, que lhes impõem casamentos arranjados. Vivem um conflito moral, entre a busca da realização amorosa e a atenção aos valores familiares, situação que se complica pela gravidez não planejada. Neste artigo os objetos de estudo não são somente as representações analisadas pelo discurso- mas a capacidade deste discurso de amplificar e cristalizar a realidade percebida por meio da análise da recepção e seu impacto no imaginário social. Análise da recepção A maioria da bibliografia pesquisada sobre o tema das representações nas telenovelas aborda o assunto do ponto de vista de uma análise literária (considerando literatura por ser analisado o discurso), fazendo conexões com o contexto da realidade à época de suas exibições. Outro ponto bastante estudado dentro deste tema é a influência das telenovelas nas opiniões e comportamento de seu público. Ambas as linhas de estudo consideram a análise da recepção de uma forma mais ampla, como o reconhecimento e a concordância do público com o discurso como La Pastina e McAnany (1994), ou em dados estatísticos comparativos da recepção, como Chong e Ferrara (2008), além de dezenas de artigos acerca da representação da figura feminina na mídia. A hipótese levantada neste trabalho se refere à absorção pelo público da fantasia televisiva como uma afirmação do real. O projeto de pesquisa pretendia uma pesquisa de opinião presencial, entrevistando telespectadoras diretamente, em paralelo com a pesquisa entre os internautas, para evitar e exclusão do público sem acesso à rede. Porém o que foi percebido durante o processo de pesquisa foi que telenovelas não somente promovem valores e costumes, mas renovam os gostos, tendências e opiniões a cada oito meses. Quando a novela termina, a mesma mídia de chamadas que a manteve Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.241
  • 3. na ordem do dia durante o período de exibição, imediatamente passa a cobrir a nova trama, e sem o recurso audiovisual, o público que acompanhou a história, torceu pelos seus personagens e absorveu seus ideais, dificilmente lembra-se dos detalhes das representações contidas nos diálogos e que expressavam, ainda em um espelho convexo, os valores da sociedade. A pesquisa então se voltou para os dados coletados na internet, o que possibilitou a coleta de maior número de dados sobre a opinião do público e também uma diversificação maior deste público, podendo inclusive analisar as opiniões do público estrangeiro. Foi realizada análise dos diálogos e representações imagéticas presentes em cenas protagonizadas pelas personagens femininas. Foram utilizadas cenas disponibilizadas na internet, no site da própria rede Globo, e principalmente no site Youtube. Posteriormente, foi feita a análise da opinião do público, tomando como fonte os comentários dos próprios usuários que assistiram aos vídeos. Também foi feita análise da opinião sobre as telenovelas expressadas pelos usuários nos sites Facebook e Orkut e também dos comentários publicados por leitores de blogs relacionados com os temas inseridos nas obras estudadas, como o islamismo, hinduísmo, cultura cigana, dança oriental e mesmo blogs e fóruns relacionados a fãs de novela em geral. Este método foi escolhido por possibilitar a observação do direcionamento do interesse do público em relação aos temas abordados nas cenas, ou nos tópicos dos fóruns. Sendo sites totalmente interativos, foi possível realizar uma relação entre os temas apresentados e a recepção, de acordo com as manifestações do público. Foram analisados centenas de comentários, verificando opiniões em relação ao comportamento das personagens, às culturas exóticas retratadas nas telenovelas e sua relação com a realidade. Estas observações e análises possibilitaram ter uma amostra da influência das telenovelas no imaginário, individual e coletivo, e a capacidade do transporte deste imaginário para a prática social. Representação da imagem feminina na telenovela Nas três obras estudadas estereótipos femininos são retratado em partes dissociadas, apresentando em cada obra cinco personagens que representam a identidade feminina, no que se refere aos comportamentos e sentimentos a esta atribuídos. As personagens apresentam um comportamento padrão, Em Explode Coração, O Clone e caminho das Índias, respectivamente: Dara, Jade e Maya: A heroína, que busca a realização do amor romântico, e para tanto rompe com as tradições familiares, no entanto, quando se veem presas pela necessidade à família, usam a mentira e alienação para escaparem das consequências de suas transgressões. Ela representa o espírito feminino instável, impulsivo e inconsequente. Ianca, Latifah e Camila: A jovem fiel às tradições, que aceita de bom grado todos os limites impostos a seu sexo, em nome da religiosidade, da preservação dos costumes e da harmonia familiar. Esta representa a vitória das tradições, mostrando uma mulher feliz e realizada pelo casamento. Vera, Maysa e Duda: A rival romântica, uma mulher com valores culturais totalmente diversos aos da heroína, e que teve ligação amorosa com o galã, mas foi preterida. Luta para reconquistá-lo, contando com uma liberdade que a heroína não possui, confusa entre a busca da própria felicidade e vingança contra sua rival. Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.242
  • 4. Representam o vazio existencial na falta de um companheiro Eugênia. Ranya e Surya: A antagonista. Movida pelo ciúme, quer ocupar o lugar da heroína. Dissimulada, usa de intriga, difamação e trapaças para alcançar seu objetivo. Representam a inveja e o individualismo, a existência feminina como uma constante competição. Odaísa, Zoraide e Kochi: A mulher mais velha que consola e aconselha a heroína, por vezes acobertando suas transgressões mesmo discordando destas ações. Representa a compaixão, mas também a fraqueza de caráter. Soraya, Nazira e Laksmi: A moralista, também uma mulher mais velha, mas protetora dos costumes, e que mantém a heroína constantemente sob suas críticas e vigilância. Representa a consolidação dos costumes, a perspectiva futura de uma posição de maior importância, uma recompensa por uma vida virtuosa. As novelas desempenham um papel na formação do discurso do feminino, e destinado a esse público, focando a lógica do privado, destacando os valores da cultura do machismo patriarcal, representando mulheres como seres vulneráveis, destinadas a maternidade (todas as heroínas de telenovela tem filhos), a personalidade histérica e obsessiva, que lutam pelo amor do galã distante e moralmente ambíguo. Reapresenta-se então o modelo feminino verificado por Thomasseau: desenha-se, ao longo do século dezenove, um retrato da mulher exemplar suportando, com toda a coragem, ultrajes e afrontas [...] Belas, bondosas, sensíveis, com uma inesgotável aptidão para sofrer e para chorar [...] Em geral elas superam os homens em devotamento e generosidade (THOMASSEU, 2005, p.43). A alta audiência feminina2 explica-se pelas tramas conterem como tópicos, o inflame das prioridades tradicionalmente consideradas exclusivamente femininas: sentimentos, maternidade, submissão. Em Explode Coração e O clone, as heroínas se rebelam contra os costumes impostos por suas famílias, a princípio porque desejam a liberdade e a adequação ao mundo moderno. Dara: Eu quero estudar, mãe, tirar meu diploma conquistar meu lugar no mundo. Lola (mãe): Você nunca vai ter o meu apoio. Eu não vou aceitar isso e teu noivo também não vai aceitar. Dara: Você não entendeu mãe. Não vai ter casamento. (Explode Coração cap.1) Porém estes desejos são suplantados assim que as heroínas se apaixonam, quando então seus objetivos se tornam a busca da realização do amor idealizado. Na busca pela liberdade individual, ainda há ponderação dos atos, argumentação com a família. Mas a partir do momento em que a heroína se apaixona, seu lugar no mundo passa a ser ao lado do homem amado, e a conquista deste lugar o seu único objetivo, e 2 As mulheres adultas representam 50% da audiência de televisão, sendo os outros 50% o público masculino e infantil. As telespectadoras assistem à televisão em média 5 horas por dia. Fonte: IBOPE Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.243
  • 5. do qual ela depende. Jade: Vocês me obrigaram a casar eu não queria casar. Said: Então por que casou? Você podia ter dito não... Casou porque ele já tinha te jogado no vento. (O Clone cap.89) Jade: Um homem quando pede para uma mulher se jogar no vento e diz que segura, ele segura. (O Clone, cap.232) A busca do amor romântico é a único objetivo capaz de fazer a heroína romper com seus valores morais e religiosos (no caso perdendo a virgindade) e questionar o poder familiar sobre si. O amor e, somente por consequência deste, o sexo, recémdescobertos rouba-lhe a coragem de buscar a independência, pois a formação e manutenção da família tornam-se o lugar de realização do amor, tornando-os indissociáveis (COSTA, 1999). As personagens Dara, Jade e Maya são direcionadas pela emoção, seus atos de rebeldia são impulsivos e não refletidos, não argumentam sobre seu subjugo baseado na sua condição feminina, mas sim buscam uma fuga para os seus próprios problemas, uma mudança na sua situação particular, não se reconhecendo como parte de um gênero oprimido e contestando essa opressão, mas sim as consequências que as afetam diretamente. Surya por favor, não me entregue. Eu estou perdida se você me entregar. E você não vai ganhar muito com isto [...] Porque você odeia tanto porque você tem tanta raiva de mim desde que eu coloquei os pés nesta casa você faz de tudo pra me atingir tudo que está ao seu alcance para colocar os meus sogros e meu marido contra mim [...]. Surya: Você está poluída, poluiu esta casa toda e enganou todo mundo. Maya: Você também está enganando, você não é melhor do que eu. Surya: Eu estou me defendendo [...] Vou recuperar o lugar que você me roubou. (Caminho das Índias cap.189) Na análise dos diálogos, percebe-se que, apesar de haver empatia em alguns momentos, não há solidariedade, seja em sentimentos ou ações, entre as personagens, nas manifestações de resistência ou fuga das imposições feitas a estas devido a seu sexo. Em nenhum momento há a identificação de um problema como decorrente de seu papel sexual, nem a culpabilização daqueles que impõe a elas estas condições. Ao invés disso é demonstrado empenho em justificar estas condições como parte da preservação de um patrimônio cultural intrínseco (religião e costumes). Paradoxalmente, há um esforço para justificar as transgressões desse sistema de valores e todas as ações posteriores tomadas a fim de ficarem impunes a estas transgressões e pela manutenção de situações que as beneficiam, sendo o benefício máximo a realização do ideal romântico, mas buscando em conjunto a aprovação da família. O poder feminino representado consiste e se resume ao uso do corpo e da condição de fêmea para obtenção de concessões materiais e psíquicas, despertando no homem a libido ou a compaixão, buscando atender às emoções. Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.244
  • 6. Uma das cenas de O Clone com mais versões e visualizações no site Youtube, é uma cena sem diálogos. A heroína Jade faz uma demonstração de dança oriental, para o marido Said e a rival Maysa. Estes têm a intenção de humilhá-la, colocando a em uma situação de exposição e subserviência. Mas a situação é invertida quando Said percebe que Jade está feliz em exibir-se para Maysa, pois faz uma demonstração de seu poder de sedução, usado para conquistar o esposo de Maysa, Lucas. A cena termina com Maysa gritando que basta e Jade deixando a sala, rindo. Seu objetivo havia sido alcançado. Sob um aparente controle de provocar a apreciação, aos impulsos da libido, seu desejo ainda é mediado pela visão utilitarista, que, naturalmente, está longe de ser compatível com verdadeira autonomia. A sexualidade é representada de forma totalmente desnaturalizada, como arma (para manipular um homem ou intimidar uma rival), ou como entrega total ao amor, este então assumindo um papel impeditivo à reflexão, ao bom senso, que permitiriam à mulher manter sua “pureza”. Maya: Eu já estava muito apaixonada. Eu não conseguia mais dizer não. (Caminho das Índias capítulo 189) Estas representações remontam a perspectiva de Foucault (1976) , tanto na definição da sexualidade, como na inscrição histórica da sexualidade feminina: [...] um nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não a realidade subjacente, sobre a qual se exerceriam controles difíceis, mas uma grande rede de superfície onde a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o reforço dos controles e das resistências se encaixariam uns aos outros, segundo algumas estratégias de saber e poder. (Foucault,1976:139) [...] o que pertence por excelência ao homem e falta à mulher; como o que pertence em comum ao homem e à mulher. mas ainda como o que constitui totalmente o corpo da mulher, ordenando-o todo às funções de reprodução e perturbando-o sem cessar pelos efeitos desta mesma função. (Idem: 201/202). Esta desnaturalização associa a sexualidade feminina com os sentimentos, mas não necessariamente associa estes com o casamento, que representa uma elevação no status da fêmea em relação às demais, a partir do qual deterá o direito de reconhecimento como parceira do homem. Na novela Caminho das Índias, ocorre que o amor a ser buscado é o do próprio marido. O que o diferencia dos maridos das outras tramas é justamente o seu distanciamento emocional, a necessidade de conquistá-lo. Duda: Ele não te falou? (sobre o relacionamento antes do casamento). Maya: Ele não precisou falar. Nós ainda não estávamos casados. Ele ainda não era meu marido. Ele ainda não era meu. (Caminho das Índias cap.121) Embora o casamento garanta a mulher uma elevação no status e o Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.245
  • 7. comprometimento do homem, a sexualidade masculina é dissociada tanto do amor como do casamento, mostrando a liberdade sexual como algo natural homem. Eugênia: Você não pode querer controlar tudo desse jeito... O Júlio é um homem charmoso, meu deus, o que é que você vai fazer? As mulheres olham para os homens charmosos... E daí? Ele é teu marido. Ele escolheu você, para casar com você, relaxa! Vera: Ele tá é me afrontando, Eugênia![...] Desta vez ele vai ouvir! (sai de cena) Eugênia (balançando negativamente a cabeça): Tonta! (Explode Coração cap.1) A mulher que se atreve a exigir do homem um comportamento sexual semelhante ao seu, cuja conduta moral tem como principal critério de julgamento o comportamento sexual (SARTI, 1989:42), é vista como tola e histérica. O homem ainda é uma criatura pública, cuja personalidade e valor seu medidos pelas suas competências e conquistas, enquanto o valor feminino está arraigado o corpo. Sendo assim o poder conferido a mulher casada é o chamado por Bordieu poder por procuração (BORDIEU, 2011:42) se refere ao que é público de seu marido ( nome, posição social, dinheiro). Lidiane: Eu não acredito que você vai ficar indiferente, que você não vai reagir... Maysa: É claro que eu vou reagir! Lidiane: Quer que eu vá até ele e cumprimente? Pra ele ficar bem sem graça? Eu vou! Maysa: Deixa, que eu prefiro me vingar do meu jeito. Lidiane: O que você vai fazer? (Maysa leva a amiga até a frente de uma vitrine e aponta um colar exposto) Maysa: Que tal? É hoje que eu estouro o cartão de crédito dele! Lidiane: Sua louca! (O Clone Cap. 1) A cena demonstra a dissociação de condição de esposa e mesmo se seus sentimentos, do comportamento sexual, cria uma visão feminina da economia de bens simbólicos. Como a mulher é ferida tendo rejeitado o seu único objeto de poder e o que ela oferece de mais precioso ao homem, o corpo, ela o fere atingindo o seu mecanismo de poder, o dinheiro. Telenovelas e o imaginário social Glória Perez define o seu próprio método de trabalho como antropológico. Refere-se a ele desta forma pelo fato de sair a campo para vivenciar a cultura a ser retratada em cada história que escreve. A autora, que é mestre em História pela UFRJ, também defende a televisão como forma de “levar cultura às classes menos favorecidas” assim como usa suas histórias para a divulgação de temas sociais. No entanto também defende a licença artística tanto para retratar as culturas exóticas como para potencializar o drama nas telenovelas. Para a autora, a fantasia é inerente ao gênero folhetim. Na pesquisa das opiniões dos internautas, 60% dos que se manifestaram a esse respeito, concordavam com os “exageros em nome da arte”, enquanto 40% consideram estas perigoso Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.246
  • 8. representações fantasiosas perigosas para as “mentes fracas” e chegam a se um “desserviço à população”. Coincidentemente (ou não) estas mesmas porcentagens 60-40 apontam, respectivamente, os que não concordam com os comportamentos das personagens (liberação sexual e abandono do casamento), e aqueles que consideram aceitável, se for pela realização do amor. O afastamento da ficção em relação à realidade social deve ser analisado de acordo com informações que apontam as necessidade e aspirações de determinado momento. O diálogo entre as obras e a vida nacional também é dificultado pelo fato de, no Brasil, não haver uma cultura popular abrangente e fortemente definida. Por isso a propensão do público brasileiro a tomar como realidade as representações televisivas. Cabe uma analogia aos registros Lacanianos e a relação da TV com o telespectador conforme coloca Santaela (1999). Sendo a televisão o espelho e o espectador o eu a se formado. O espelho confere a unidade necessária para a confirmação da identidade. Como ocorre com toda cultura periférica, o público brasileiro tende a olhar para si mesmo como exótico, diferente do que seria a norma de cada fase do período histórico. Nos dias atuais, a cultura brasileira já está muito permeada pelas culturas de irradiação tradicionais, europeia e norte-americana. Procura então outra forma de diferenciar-se das normas das culturas de irradiação. Esta diferenciação então pode manifestar-se destacando, no meio sociocultural receptor, aspectos superficiais desta cultura periférica, que não necessariamente têm real influência no cotidiano e no regimento social. Considerando que 80% da audiência televisiva é formado pelas classes C, D e E, cuja principal atividade nas horas livre é assistir televisão, é necessário considerar seu papel como mais importante do que simples entretenimento. Sendo assim, a televisão tem também uma função pedagógica informal. “Uma das preocupações em relação a essa função é pensar uma forma de como transformar informação em conhecimento, pois a mídia nos apresenta um mundo difuso e calcado no consumo.” (RODRIGUES, 2006). Para o telespectador, a representação da realidade na televisão terá forte impacto na formação de sua opinião, e em se tratando de um ambiente diverso, deve ser considerado o processo de aculturação por parte próprio telespectador. Quando o processo de pensamento (a cultura representada) é exposto a contribuições exteriores (valores do autor), pode tomar outra forma quando repensado em um meio sociocultural inteiramente diverso (do telespectador) daquele que o originou. O pensamento crítico deve ser uma relação de fatos, e esta relação precisa ser imaginada e depois verificada. Quando não é elaborada esta relação, o receptor poderá somente supor relações, imaginadas a partir de sua própria experiência, permeadas por tradições cuja origem não pode explicar. Assim se desenvolvem se estabelecem e se renovam as versões estereotipadas, correntes e presentes a ponto de incapacitar os sujeitos ao desenvolvimento destes processos de pensamento e ao domínio sobre as informações. A reportagem da Folha de São Paulo demonstra o alto crédito dado pelas telespectadoras às representações dos homens indianos em Caminho das Índias: Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.247
  • 9. A partir de 2010, a Embaixada do Brasil em Nova Déli começou a receber demandas por auxílio financeiro para o retorno das brasileiras, apoio jurídico em casos de conflitos e registros de casamento indo-brasileiros [...] A popularização do Orkut e do Facebook, em que predominam brasileiros e indianos, e a novela "Caminho das Índias", exibida em 2009 pela Rede Globo, são apontadas pelo Itamaraty como os catalisadores do fenômeno. "Raj [protagonista da novela, vivido pelo ator Rodrigo Lombardi], esse cara é o meu problema. O personagem da novela se materializou no Orkut” - Marcelo Ferraz, diplomata da Divisão de Assuntos Consulares em Brasília.(Folha de São Paulo 11.06 2011) Nos comentários dos telespectadores nos sites pesquisados, 30% demonstravam encantamento com os valores culturais exóticos apresentados nas tramas, manifestando o desejo de “que a no Brasil fosse assim”, assim como admiração pela forma do amor romântico representada e do comportamento feminino inerente àquela cultura. Amo demais essa novela, as danças, a historia do povo árabe. O amor que se cultiva dia a dia e não como o nosso que primeiro ama e depois desama dia a dia. Depois que assisti a essa novela, comecei aulas de dança do ventre e estou me descobri nisso. A magia das mulheres, andar coberta e despertar a curiosidade e a imaginação dos homens, ser sensual sem ser vulgar, falar com a dança isso é conquista e sedução, e não andar seminuas por aí, se oferecendo para qualquer um. (Para o site Youtube, sobre a novela O Clone, usuária Kareemah em nove de fevereiro de 2011). Neste comentário observa-se além da admiração pela cultura retratada, a capacidade de absorver os valores representados como reais e transportá-los, portanto aplicação prática. Do total de comentários analisados, 18% relatava a influência das novelas em mudanças significativas na vida destes telespectadores, desde a escolha de profissões até casamentos. A propensão à aceitação da representação como realidade se reflete também na comparação dos comentários dos usuários estrangeiros, nos sites Youtube e Facebook. As telenovelas fazem sucesso nos Estados Unidos, outros países da América latina e até na Rússia, mas os enquanto os comentários dos fãs estrangeiros, em sua quase totalidade se referiam à trilha sonora, à beleza da história contada, utilizando as palavras ‘personagem’ e ‘atuação’, os brasileiros tratam os personagens pelo nome, o descrevem e a seus atos como sendo pessoas reais. As montagens para a ficção televisiva se misturam com a realidade nos olhos de quem vê, de modo que as fronteiras entre eles são pouco visíveis, como Adorno (2007) recorda, referindo-se ao cinema. O mundo inteiro deve passar pelo filtro da indústria cultural, a velha experiência do espectador, que vê a rua fora da sala como o show em seguida, basta sair, porque este só quer reproduzir fielmente o mundo perceptivo de vida cotidiana, tornou-se Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.248
  • 10. o leitmotiv da produção. As técnicas mais perfeitas e totalmente cinematográfica duplicar objetos empíricos, mais facilmente realizado hoje a ilusão de que o mundo fora da sala de projeção é a simples extensão do que é conhecido dentro dele. Adorno coloca muito bem, citando Tocqueville, no contexto da nova ética, onde a discriminação está disfarçada em distinções fundamentadas, e onde uso opressor da força física se converte um uma censura moral arraigada, o que implica algum tipo segregação. O discurso da mídia, através de suas imagens, sons, enredos, histórias e narrativas, possui ideologias e significados variados, exercendo a televisão um grande fascínio nos telespectadores. As pessoas assistem com regularidade a certos programas e eventos; há fãs das várias séries e estrelas com um grau incrível de informação e conhecimento sobre o objeto de sua fascinação; as pessoas realmente modelam comportamentos, estilos e atitudes pelas imagens da televisão.” WOODWARD (2000, p. 17-18). A televisão absorve o real, o amplifica cristaliza. Mais do que inserir valores, legitima os valores existentes, dando a eles o aval da “alta cultura”. Ultrapassa o campo do entretenimento, moldando gostos, sentimentos e atitudes. Considerações Finais Mesmo na cultura ocidental atual, as mulheres ainda são educadas de forma a considerar os relacionamentos românticos o norte de sua existência. A busca do amor, através de todas as formas possíveis de agradar ao sexo masculino, ainda prevalece sobre todos os outros aspectos da vida. E busca pela aprovação masculina, antes algo institucionalizado, formalizado e abertamente ensinado às mulheres, passou á condição de um valor tão absorvido que suas manifestações são tomadas como naturais. As mulheres tomaram distância da linguagem romântica, aceitaram cada vez menos sacrificar estudos e carreira no altar do amor, mas seu apego privilegiado ao ideal amoroso perdurou, elas continuam maciçamente a sonhar com o grande amor, ainda que fosse fora do casamento.” (LIPOVETSKY, 2000: 28) Mesmo com uma crescente emancipação feminina no que tange ao aspecto material, os próprios hábitos de consumo desta mulher emancipada podem refletir a necessidade interna da realização pessoal somente alcançada pela conquista do amor, gerando um imaginário social do ser feminino. Na forma da abordagem de Henri Cartier, a imaginação é a percepção da realidade, é o que as pessoas têm para explicar o mundo. Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.249
  • 11. O imaginário social é o método de construção e definição do que os indivíduos percebem como realidade. Se a sociologia tinha apontado, face ao positivismo, que real, é sempre algo significativo para um assunto, o imaginário social é o elemento que permite uma inteligibilidade concessão especial e sentido da realidade. (...) A ação coercitiva dos aparelhos ideológicos, dá lugar à realidade de construção de estratégias para os meios de comunicação, através da instrumentalidade do imaginário social. (CARTIER, 2011) A identidade feminina é representada, seja como a heroína em fuga, a rival consumista ou a vilã maléfica que promove intrigas, sempre com o mesmo objetivo de ocupar o lugar ao lado de um homem. Reflete-se a aceitação desta identidade, nos comentários pelo pequeno número, apenas 6%, que se manifestaram contrários à forma como as mulheres eram representadas nas novelas. Estas representações, por fim, legitimam a condição de dependência, criando um círculo vicioso do imaginário. Retratando as mulheres como incapazes de realmente subverter estas condições impostas a seu sexo por um trabalho constante de doutrinação, tendendo, portanto a transgressões que corroboram a imagem historicamente construída das fêmeas apresentando-a sob uma nova roupagem, que vela esta historicidade e seus efeitos, e contribuindo para sua manutenção. Referências ADORNO, T. W. e HORKHEIMER, M.. Dialética do esclarecimento. Editora Zahar, 1997. BORDIEU, Pierre. Os Usos Sociais da Ciência. Tradução Bárbara Catani. Editora UNESP, 1997. BORDIEU, Pierre. A dominação masculina. Editora Zahar 2011. BORDIEU, Pierre Sobre a Televisão. Tradução Maria Lucia Machado. Editora Zahar 1997. BRAGA, Maria Lucia Santaella. As três categorias peircianas e os três registros lacanianos. Psicologia. USP, vol. 10, n. 2, 1999 . CARTIER- BRESSON, Henri: O imaginário segundo a natureza, Editora Gustavo Gilli, 2011. COSTA, Jurandir Freire. As práticas amorosas na contemporaneidade. Psyque, 1999. FOUCAULT, Michel: Histoire de La Sexualité, La Volonté de Savoir vol.1, Paris, Gallimard, 1976. LIPOVETSKY, Gilles. A terceira mulher: Companhia das Letras, 2000. McANANY, Emile e LA PASTINA, Antônio: Pesquisa sobre audiência de telenovelas na América Latina: Revisão teórica e metodológica in Revista Brasileira de Comunicação/INTERCOM, 1994, vol.XVII, n. 2, 17-37. RODRIGUES, Rosemary Ramos: A desconstrução das Identidades femininas nas tramas da telenovela Laços de Família. UFPB, 2006. THOMASSEAU, Jean Marie: Melodrama. Editora Perspectiva, 2005. Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.250