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24 ANOS DE INDIANÁPOLIS!         COMO FORMAR ARMAODRES?            MINHA VIDA NO BASQUETE
  JOSE MEDALHA FALA DE UMA        BERRO DESCREVE SUA FILOSOFIA NA   MARRAMARCO DESTACA A IMPOR-
     CONQUISTA HISTORICA.            FORMAÇAO DE ARMADORES.          TANCIA DE FORMAR, NA BASE,
                                                                      PESSOAS ALEM DE ATLETAS.
 COMO CHEGAR A LONDRES?                     POLÊMICA
VEJA INFOGRAFICO E TORNEIOS QUE     FABRICIO BOSCOLO PERGUNTA:           E MUITO MAIS...
LEVARAO AOS JOGOS OLIMPICOS DE




                                      Volume 1—N° 1 — Agosto/2011
SUMÁRIO

Apresentação: Em busca de mais basquete
                                                                                  3
Carlos Alex Martins Soares

Treinador de basquete e os aspectos que envolvem a formação de jovens atletas
                                                                                  6
Dante de Rose Júnior

Pan-87: uma conquista histórica
                                                                                  13
José Medalha

Charge 1 — Alessandro Trindade                                                    16

Seria o Basquete um jogo desportivo coletivo aeróbio
                                                                                  17
Fabrício Boscolo del Vecchio

Como formar um armador?
                                                                                  23
Marcello Berro
Esporte, Escola e Educação Física: pensando na história para buscar novos cami-
nhos                                                                              29
Ronaldo Pacheco
Formando atletas e técnicos através do esporte universitário
                                                                                  32
Carlos Alex Martins Soares
Ideias sobre a gestão do basquete brasileiro
                                                                                  38
José Alberto F. Pereira

Coluna Minha Vida no Basquete: ―Formando Pessoas‖
                                                                                  40
Cesare Augusto Marramarco

Especial: ―Quando o basquete derruba barreiras e fronteiras!‖
                                                                                  46
Álvaro Guimarães

Como Chegar a Londres 2012?                                                       53

Charge 2 — Alessandro Trindade                                                    63

Coluna Eu fui! 4ª Clínica Internacional para técnicos de basket — Score Brasil    65

Liga Nacional Sub-21 Anos                                                         68




                          Por Técnicos. Para Técnicos.
APRESENTAÇÃO
                            Em Busca de Mais Basquete
                                    Carlos Alex Martins Soares


                                      dizado. Mas há que ter cuida-         impressa ficaria no campo dos
      Estamos lançando a Re-
                                      do, pois esse desejo de pos-          sonhos por muitos anos – as
vista Mais Basquete nesse dia
                                      suir o conhecimento pode se           próprias instituições desisti-
histórico para o basquete bra-
                                      confundir com poder e este            ram desse processo. Mas eis
sileiro com o claro objetivo de
                                      levar a tirania. Ter o conheci-       que na atualidade temos fer-
homenagearmos os 24 anos
                                      mento pressupõe saber usá-            ramentas capazes de nos le-
da magnífica vitória do Brasil
                                      lo, saber leva-lo aos mais dis-       var a qualquer parte do mun-
sobre     os   EUA     no   Pan-
                                      tantes pagos e, nessa cami-           do em uma velocidade es-
Americano      de   Indianópolis.
                                      nhada, retornar ao lar com            trondosa. Assim vamos usa-
Minha gratidão eterna pela
                                      novos aprendizados que nos            las, essas novas tecnologias e
forma como, ano após ano,
                                      façam evoluir como seres hu-          a internet, para compartilhar
competição após competição,
                                      manos. E isso reflete em nos-         o conhecimento, agregar va-
aquela seleção foi formando
                                      sa ação profissional.                 lores humanos e esportivos e
um sentido de corpo capaz de
                                                                            quanti-qualificar a função de
ousar com tamanha proeza.
                                           Por isso a ideia de pro-         técnico de basquete no Brasil,
Não são apenas os doze atle-
                                      duzirmos uma revista em por-          visando o crescimento de to-
tas e os cinco membros da
                                      table document format, o po-          dos.
comissão técnica, mas todos
                                      pular PDF, é parte disso e do
os que passaram por aquele
                                      que tenho feito ao longo dos                 A produção aqui exposta
grupo no decorrer da década
                                      anos em prol do desenvolvi-           foi elaborada por técnicos da
de 1980 e levaram o Brasil a
                                      mento do basquete em meu              modalidade de diversas par-
ser     protagonista   de    uma
                                      microcosmo. Essa revista é            tes do país e a Revista Mais
grande vitória e gerar a mu-
                                      um processo natural de evo-           Basquete só terá significado
dança na trajetória do bas-
                                      lução para continuar constru-         se continuar sendo construída
quete mundial. O basquete foi
                                      indo o basquete nesse espa-           dessa forma: por todos nós.
outro a partir daquele dia e
                                      ço, passar a contribuir com           Queremos contribuir com o
vivemos essa mudança cotidi-
                                      uma agenda positiva na for-           basquete brasileiro e encon-
anamente.
                                      mação de todos os técnicos            tramos nesses autores a mes-
                                      de   basquete,       estudantes   e   ma     disposição   e   objetivos.
      Pois bem, Rubem Alves
                                      professores de educação física        São técnicos conhecidos dos
coloca que o conhecimento
                                      do Brasil e agregar mais ali-         brasileiros e alguns com pro-
deve ser antropofagicamente
                                      mento aos nossos espíritos.           jeção internacional. São pro-
saboreado. Come-o. Incorpo-
                                                                            fissionais que demonstram o
ra a teu ser esse novo apren-
                                      Se formos pensar uma revista          interesse e o desprendimento



                                                       3
Apresentação
                                  Carlos Alex Martins Soares




                                 çaram a ideia e socializaram            de gastronomia, mas falando
em prol do crescimento do
                                 seus textos e pensamentos               da magia da incorporação do
basquete brasileiro. São pro-
                                 com     uma     humildade      que      conhecimento novo ao que
fissionais, mas não são ga-
                                 surpreendeu       e   me      deixa     já sou. Espero que todos
nanciosos. Sabem da situa-
                                 muito feliz. Tudo isso na               também se sintam da mes-
ção de nosso modalidade e
                                 tentativa incansável de au-             ma forma, tenham uma ex-
por isso pedi-lhes doação de
                                 torreflexão,     qualificação     e     celente digestão e que nas-
tempo e conhecimento, re-
                                 desenvolvimento do esporte              çam novos e frondosos fru-
flexões   e   propostas,   um
                                 que amamos.                             tos dessa sementinha cha-
pouco de suas práxis e mui-
                                                                         mada Revista Mais Basque-
to de seu talento. Eles não
                                       Quando falo de antro-             te.
se negaram a fazê-lo, abra-
                                 pofagia, não de canibalismo,




                                Quem é Carlos Alex Martins Soares? Conheceu o basquete aos 8/9 anos
                                de idade, quando viu o mundial das Filipinas na TV e logo começou a dar os
                                primeiros arremessos. É Graduado (Licenciatura Plena em Educação Física -
                                1997) e Pós-Graduado (Especialista em Educação - 2002, PPGE da Faculda-
                                de de Educação) pela UFPel. Profissionalmente é professor da Secretaria de
                                Estado da Educação do Rio Grande do Sul e Fundador e Técnico do Pelotas
                                Basketball Clube (PBC). Atua no Centro Esportivo Virtual (www.cev.org.br)
                                como Moderador das Comunidades "Basquete" e "Sociologia do Esporte -
                                Área Etnia e Esporte", "Consultor Técnico na Área de Basquetebol" desde
                                dezembro de 1997 e autor do Blog do Carlos Alex. Possui experiência na
                                área de Educação Física, com ênfase em esporte escolar e organização de
                                eventos pedagógico-esportivos. Foi atleta de basquete por 10 anos e árbitro
                                1ª Categoria e Mesário de 1ª    categoria. Edita o Blog Mais Basquete. Mais
                                informações no quem é quem do CEV em http://cev.org.br/qq/carlosalex e
                                no currículo Lattes http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?
                                metodo=apresentar&id=K4706473U6




                                                  4
Foto-divulgação da Liga Na-
    cional de Basquete. Brasília
     x Unitri, NBB32010/2011




5
Treinador de basquete e os aspectos que
                envolvem a formação de jovens atletas
                                  Dante de Rose Junior


      A prática esportiva infantil, independen-       de atletas em formação) e o conhecimento
temente do esporte praticado, é permeada por          deste contexto por parte dos treinadores é
ações adultas – pais, dirigentes, professores,        fundamental para a realização de um trabalho
treinadores e árbitros que, de alguma forma,          adequado. São eles:
interferem nas experiências esportivas dos
                                                         Os aspectos biológicos relacionados aos
praticantes.
                                                          estágios   desenvolvimento   dos   jovens,
      Nesse processo, o treinador tem uma                 desde suas etapas iniciais até as fases
importância fundamental, pois além de ser a               mais agudas como a puberdade e adoles-
pessoa que atuará diretamente sobre os futu-              cência e que são essenciais para a deter-
ros comportamentos esportivos dos jovens, ele             minação das cargas de trabalho adequa-
também poderá influenciá-los fora dos campos              das a cada uma das fases:
de jogo. O poder de um treinador sobre um
                                                          Os aspectos cognitivos que definirão os
jovem esportista é muito grande a ponto de
                                                           níveis de compreensão das tarefas pro-
vários estudos o apontarem como dos princi-
                                                           postas e interferirão na sua execução;
pais motivos para a escolha de uma modalida-
                                                          Os aspectos técnico-táticos de cada es-
de esportiva e, ao mesmo tempo, como um
                                                           porte, no caso o basquetebol, representa-
dos mais destacados fatores de abandono des-
                                                           dos pelas ações individuais e coletivas
ta prática. Além disto, o treinador pode ter
                                                           que nortearão a proposta de trabalho de
uma grande influência sobre as atitudes e
                                                           cada treinador;
comportamentos, valores e sentidos de vida de
seus atletas, sendo ele o co-responsável pelo             Os aspectos psicológicos que envolvem o
desenvolvimento da personalidade de seus                   conhecimento dos traços de personalida-

atletas e também pelo seu futuro, após o final             de desses jovens e de seus limites em
de sua carreira esportiva.                                 relação às exageradas cobranças, muito
                                                           comuns no ambiente esportivo competiti-
      A prática esportiva competitiva envolve
                                                           vo e também a demanda específica do
diferentes aspectos que afetam diretamente
                                                           esporte, em função das características de
seus adeptos (principalmente quando se trata
                                                           cada um deles; e



                                                  6
Treinador de basquete e os aspectos que
                          envolvem a formação de jovens atletas
                                   Dante de Rose Júnior




    Os aspectos pedagógicos que envolvem o           trumento para planejar o ensino do esporte
     conhecimento de todos os conteúdos an-           respeitando as etapas evolutivas desses jo-
     teriores para que sejam elaborados os            vens.
     métodos e estratégias adequados para
                                                               No âmbito pedagógico o papel do treina-
     cada momento das fases de desenvolvi-
                                                      dor deve transpassar a simples barreira do en-
     mento do jovem.
                                                      sinar movimentos específicos ou movimenta-
      Os treinadores, especialmente aqueles           ções táticas para suplantar os adversários. As
envolvidos com o trabalho formativo, devem            ações pedagógicas direcionadas principalmente
ter uma preparação mínima já que vão traba-           para a formação esportiva sugerem o domínio
lhar com jovens que têm somente um conheci-           de várias áreas de conhecimento sobre o indi-
mento básico do esporte que irão praticar.            víduo e sobre a atividade para que sejam apli-
Sem dúvidas, é precisamente o treinador das           cadas de forma adequada às necessidades do
etapas iniciais de iniciação esportiva que deve       jovem praticante, respeitando suas caracterís-
ter uma formação sólida que lhe sirva de ins-         ticas.




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Treinador de basquete e os aspectos que
                            envolvem a formação de jovens atletas
                                     Dante de Rose Júnior




      Entre esses domínios podemos citar o              O técnico como fonte geradora de stress
biológico, psicológico, técnico, tático, social e       nos jovens atletas
cultural. Ou seja, conhecer a criança nos seus
                                                              Estudo realizado com atletas brasileiros
mais diferentes aspectos (físicos, intelectuais,
                                                        sobre os motivos de abandono do esporte in-
personalidade, inserção social) e a atividade
                                                        fanto-juvenil apontam alguns dos aspectos ne-
(demandas energéticas, demandas psicológi-
                                                        gativos do contexto esportivo que levaram os
cas, demandas técnico/táticas e impacto cultu-
                                                        jovens a interromper a prática de determinada
ral da mesma sobre a comunidade) é fator
                                                        modalidade: a ênfase exagerada na necessida-
preponderante para determinar a ação peda-
                                                        de de vitória, o stress gerado pela competição
gógica do profissional que atuará sobre um de-
                                                        e o fato de não gostarem do técnico.   Curiosa-
terminado grupo de jovens.
                                                        mente, o técnico é comumente citado pelos
      Como estabelecer filosofias de trabalho,          jovens como uma das principais razões que
programas de treinamento, planos diário de              justificam a adesão à prática esportiva, mas
atividades ou estratégias para competição sem           também para o abandono da mesma. Este da-
o conhecimento de todos os aspectos citados?            do é bastante preocupante quando percebe-
                                                        mos que o técnico como principal responsável
      As oportunidades que são oferecidas ao
                                                        por fomentar a prática esportiva dos seus atle-
jovem para entender o basquetebol de forma
                                                        tas, acaba, por muitas vezes, afastando-os do
global são determinantes para seu futuro como
                                                        esporte, sem ter consciência da repercussão
atleta. Por isto é fundamental que se pense
                                                        dos seus atos entre os jovens esportistas.
numa formação integrada e que coloque os
elementos do jogo de forma contextualizada.                   Pesquisas feitas com atletas de categori-
                                                        as de base no Brasil (14 a 18 anos) mostram
                                                        que as atitudes de técnicos relacionadas à sua
                                                        comunicação com os jovens atletas podem ser
                                                        entendidas como prejudiciais e causadoras de
                                                        stress nos esportistas que buscam, na verda-
                                                        de, por orientação e solução de problemas e
                                                        não, simplesmente a crítica desmesurada e
                                                        sem objetivos.




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Treinador de basquete e os aspectos que
                               envolvem a formação de jovens atletas
                                        Dante de Rose Júnior




       Nesses     estudos     que
abrangeram       cerca   de   500
atletas de basquetebol, han-
debol, natação e voleibol, o
objetivo principal era detectar
situações       causadoras     de
stress em competição. Nele,
os   técnicos    aparecem     com
destaque como provocadores
de stress quando apresentam
comportamentos tais como:

     não reconhecer o esfor-
      ço dos atletas;

     gritar ou reclamar muito;
                                                      Atitudes frente ao processo de formação
     enfatizar somente os aspectos negativos         esportiva e o que se espera de um bom
                                                      técnico
     cometer injustiças;                                   Pode-se considerar que há dois tipos de

     não apontar soluções frente aos proble-         atitudes de técnicos que atuam no esporte in-

      mas provenientes das situações específi-        fanto-juvenil, dirigindo equipes das categorias

      cas do jogo ou da competição;                   de base:

     privilegiar determinados atletas.                   O técnico que tem como objetivo principal
                                                           a vitória, enfatizando o produto final e
       Isso indica que o efeito do comporta-
                                                           privilegiando os resultados imediatos.
mento do técnico é mediado pelo significado
que os atletas atribuem a ele, e pelo o que os            O técnico que visa a participação do jo-

atletas lembram desse comportamento, sendo                 vem, enfatizando o processo e buscando

que a forma de interpretação dessas ações pe-              resultados a longo prazo.

las crianças e adolescentes afeta a maneira co-             Em qualquer uma delas os técnicos po-
mo eles avaliam sua participação esportiva.           dem, dependendo de suas atitudes e da forma
                                                      de comunicar-se com os atletas, provocar situ-




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Treinador de basquete e os aspectos que
                           envolvem a formação de jovens atletas
                                    Dante de Rose Júnior




ações causadoras de stress que           tante, ela não é o objetivo
tendem a influenciar negativa-           mais importante;
mente o desempenho dos jovens
                                        Fracasso não é a mesma coi-
e provocar comportamentos que
                                         sa que perder: é importante
poderão migrar desde o desinte-
                                         que os atletas não vejam per-
resse pela modalidade e até mes-
                                         der como sinal de fracasso ou
mo o abandono.
                                         como uma ameaça aos seus
      Seria razoável que se pen-         valores pessoais;
sasse que, em um processo de
                                        Sucesso não é sinônimo de
formação, estas últimas atitudes
                                         vitória: nem o sucesso nem o
seriam as mais adequadas. No
                                         fracasso precisam depender
entanto, muitos técnicos, por di-
                                         do resultado da competição
ferentes razões privilegiam as pri-
                                         ou do número de vitórias e
meiras, atropelando este proces-
                                         derrotas.   Vitória   e   derrota
so e antecipando uma série de
                                         pertencem ao resultado da
eventos que, a curto prazo, po-
                                         competição, enquanto suces-
dem até ser interessantes, mas
                                         so e fracasso não;
que poderão, por sua vez acelerar
                                        Os jovens devem ser ensina-
o processo de abandono dos jo-
                                         dos que o sucesso é encon-
vens atletas.
                                         trado através do esforço pela
      Assim sendo, quatro princí-
                                         vitória, eles devem aprender
pios devem nortear a conduta dos
                                         que nunca são perdedoras
treinadores:
                                         esforçam-se ao máximo.
  Vencer não é tudo, nem so-

    mente a única coisa: os atle-
                                      Conclusão
    tas não podem extrair o má-
    ximo do esporte se pensarem        Fica evidente que o técnico deve

    que o único objetivo é vencer      ter uma participação ativa no
    seus oponentes. Apesar de a        processo de formação do jovem,
    vitória ser uma meta impor-        porém provido de conhecimen-



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Treinador de basquete e os aspectos que
                               envolvem a formação de jovens atletas
                                        Dante de Rose Júnior




tos suficientes que permitam uma atuação se-                    positivas de oferecer condições dos atle-
gura e benéfica para os futuros atletas. Esse                   tas aprenderem, apresentar possibilida-
conhecimento deve ocorrer em quatro domí-                       des para a solução de problemas.
nios:

       conhecimento do próprio jovem (sua rea-
        lidade biológica, psicológica e social);           Leituras sugeridas
                                                           De Rose Jr., D.; Deschamps, S.R. e Korsakas,
       conhecimento da modalidade com a qual
                                                               P. O jogo como fonte de stress no basque-
        irá trabalhar (aspectos físicos, técnicos e
                                                               tebol infanto-juvenil. Revista Portugue-
        táticos);
                                                               sa de Ciências do Desporto, 1, 2, 36-
       definição adequada de métodos e estraté-
                                                               44, 2001.
        gias de trabalho (planejamento, definição
                                                           De Rose Jr., D.; Campos, R.R. ; Tribst, M. Mo-
        de objetivos, escolha dos métodos de
                                                               tivos que llevan a la práctica del balonces-
        treinamento e dos exercícios que farão
                                                               to: um estudo com jóvenes atletas brasi-
        parte desta atividade, entre outros); e
                                                               leños. Revista de Psicologia del Depor-
       Intervenção eficaz no processo (atitudes
                                                               te, 10, 2, 293-304, 2001.




                                                   Quem é Dante de Rose Júnior?
                                       Licenciado em Educação Física pela Escola de Educação Física da
                                       Universidade de São Paulo (USP), em 1974, possui doutorado em
                                       Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da USP, em
                                       1996. Atualmente é professor titular da Universidade de São Pau-
                                       lo. Atuou por 28 anos na Escola de Educação Física e Esporte da
                                       USP. Diretor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Univer-
                                       sidade de São Paulo de janeiro de 2006 a janeiro de 2010. Professor
                                       do Curso de Ciências da Atividade Física da EACH-USP. Tem experi-
                                       ência na área de Educação Física e Esporte, atuando principalmente
                                       nos seguintes temas: basquetebol, análise de jogo esporte infantil,
                                       stress esportivo e psicologia do esporte. Coordenador Pedagógico da
                                       Escola Nacional de Treinadores de Basquetebol




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12
PAN–87: UMA CONQUISTA HISTÓRICA
                                              Jose Medalha



       Ao atender a um pedido da Direção desta                rador     físico   e,
Revista relembrando a histórica vitória do PAN de             também, um dos
87, muito se pode escrever e relembrar daquele                grandes respon-
título. Como ex-técnico, vou me ater a certos as-             sáveis por aque-
pectos, para que os mais jovens possam conhecer               la histórica con-
alguma coisa do que ocorreu naquele evento.                   quista.

       Muito se falou a respeito do incrível resulta-                   O resultado em si surpreendeu muita gente,
do obtido pelo basquete masculino do Brasil nos               inclusive dentro do nosso Pais. A seleção masculi-
Jogos Pan-Americanos de 87 quando vencemos a                  na já havia obtido uma boa colocação no Mundial
Seleção Norte Americana em seus próprios domí-                da Espanha no ano anterior, (4º. lugar). Porem um
nios, Indianápolis, pelo marcador de 115 a 110. A             resultado não muito convincente no Sul-Americano
repercussão interna e externa do título obtido foi            de 87 (vice-campeã), ainda deixava dúvidas quan-
uma das mais amplas dentro da história do basque-             do ao poderio daquele grupo, bem como pela ma-
tebol brasileiro. Apenas para citar um exemplo, o             neira como o time atuava, com extraordinário po-
resultado do jogo final, com direito a foto, foi maté-        derio ofensivo, contrariando opinião de vários técni-
ria central de capa do NEW YORK TIMES de 24 de                cos e parte da imprensa.
agosto de 1987.
                                                                        Havíamos (Comissão técnico sob a liderança
       A geração de OSCAR e MARCEL que havia                  do Ary) feito uma programação de treinos no Brasil,
                                  praticamente     su-        em cidades do interior, sem muito contato com
                                  cedido a de MAR-            grandes centros, alguns amistosos após o Sul-
                                  QUINHOS,      ADIL-         Americano e, como inovação um período de treina-
                                  SON E CARIOQUI-             mento nos EUA na Universidade de Houston, local
                                  NHA, tinha como             onde já estava jogando um de nossos pivôs RO-
                                  seu técnico princi-         LANDO FERREIRA.
                                  pal ARY VIDAL. Eu
                                                                        Percebeu-se sempre neste período uma von-
                                  atuei como Assis-
                                                              tade até certo ponto oculta de surpreender a tudo e
                                  tente Técnico, ao
                                                              a todos. A dedicação aos treinamentos era muito
                                  lado     do    Prof.
                                                              forte; OSCAR e MARCEL exerciam uma liderança
                                  Valdyr    Barbanti,
                                                              incrível sobre os demais atletas.
                                  excelente     prepa-




                                                         13
Pan-87: Uma Conquista Histórica
                                         José Medalha




        A forma como a equipe atuava tanto na             sabiam plenamente do seu papel naquela sele-
parte defensiva como no ataque, não continha              ção, ou seja,
muito segredo. Sistema individual com ajuda.              armadores
Duas variações de Defesa por Zona e muita                 armavam pa-
ênfase no jogo de transição. ARY dava total               ra arremesso
liberdade aos jogadores no ataque. Tínhamos               da dupla OS-
apenas 04 jogadas muito simples, com todas                CAR MARCEL
priorizando arremessos de curta e longa dis-              e seus imedi-
tância, nosso principal poder de fogo naquele             atos substitu-
time.                                                     tos, entre os
                                                          quais     esta-
        A bem da verdade, analisando friamente
                                                          vam     PAULI-
o que ocorria, estávamos à frente no tempo. A
                                                          NHO      VILAS
linha dos três pontos havia sido introduzida 02
                                                          BOAS, ANDRE
anos antes. A seleção brasileira foi talvez a pri-
                                                          STOFFEL, mesmo CADUM, e os nossos homens
meira a se utilizar desse recurso. Hoje equipes
                                                          altos encarregados de bloqueio de rebote, mui-
da Europa e da NBA, além de muitas do Brasil,
                                                          tas vezes recuperavam bolas no ataque e de-
tem como primeira opção a finalização quando
                                                          volviam para o perímetro, para que os finaliza-
o jogador se sente em condições de arremes-
                                                          dores cumprissem seu papel à risca.
so. Na década de 80, arremessar sem a garan-
tia de ter um ou dois homens postados para                        Uma característica da equipe consistia
possível rebote, ou ainda antes de se esgotar             em jogar e decidir com muita velocidade. Tem-
metade do tempo de posse de bola era consi-               po de posse de bola raramente atingia 20 se-
                          derado como grande              gundos. Naquela época grandes equipes ti-
                          irresponsabilidade tá-          nham como número de ataques, resultante de
                          tica. No entanto, essa          posses de bola, uma media de 75 posses por
                          liberdade era perfei-           jogo. A seleção brasileira ultrapassava 100.
                          tamente    ajustada   a         Obviamente o time adversário tentando equili-
                          nossa equipe. Fisica-           brar esses números e, não estando preparado
                          mente       o     time          para tal, incorria em muito maior número de
                          ―voava‖, taticamente            erros. Esses são pequenos detalhes que podem
                          as coisas eram muito            ser considerados como fundamentais inclusive,
                          simples.     Jogadores          no jogo final e decisivo contra a incrédula equi-



                                                     14
Pan-87: Uma Conquista Histórica
                                          José Medalha




norte-americana diante da avalanche de arre-            o técnico privilegiado a dirigir nossa seleção
messos, bem sucedidos.                                                  masculina    (quinta    colocada)
                                                                        contra   a     equipe     norte-
      Outro aspecto a ser ci-
                                                                        americana      em      Barcelona,
tado como consequência do
                                                                        mantendo uma boa base ain-
resultado final, foi o impacto
                                                                        da dos atletas de 87. A perda
causado pela perda do título
                                                                        do título olímpico em 88 e a
em basquetebol dos EUA em
                                                                        má colocação no Mundial de
sua própria casa, tendo, pela
                                                                        90 acrescentaram motivos pa-
primeira vez, sua seleção der-
                                                                        ra essa inovação, o que con-
rotada por mais de 100 pon-
                                                                        tribuiu demais para a divulga-
tos. A reação a esse aconteci-
                                                                        ção do basquetebol em escala
mento provocou o início da
                                                                        mundial. De certa forma, con-
discussão da necessidade de
                                                                        tribuímos muito para que isso
colocarem atletas da NBA pa-
                                                                        acontecesse.
ra defender o time america-
no, o que viria a se concreti-                                          Muito se pode falar ainda so-
zar cinco anos depois em 1992, com o surgi-             bre 87. Deixo apenas essas palavras como
mento do ―Dream Team‖, formado por Michael              contribuição e homenagem aos nossos atletas
Jordan, Magic Johnson, Larry Bird e mais ou-            e companheiros da Comissão Técnica, agora
tros ícones do basquetebol profissional. Como           que já se passam 24 anos do inesquecível 23
ex-treinador da seleção brasileira na época, fui        de agosto de 1987 para muitos de nós.



                                                   Quem é José Medalha?
                             Possui graduação em Educação Física (Licenciatura) pela Escola de Educa-
                             ção Física do Estado de São Paulo ( atual USP) (1967), Especialização em
                             Técnica Desportiva (Basquetebol ) pela Escola de Educação Física do Esta-
                             do de São Paulo (1968), Mestrado em Educação Física pela INDIANA UNI-
                             VERSITY, BLOOMINGTON, EUA (1979), Doutorado em Educação Física pe-
                             la INDIANA UNIVERSITY, BLOOMINGTON, EUA (1982) e Livre Docência
                             em Educação Física pela UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (1990). Técnico
                             de basquete, Agente FIBA e Consultor Técnico. Mantém o site http://
                             www.josemedalhabasketball.com/




                                                   15
Quem é Alessandro Trindade?
Desenhista desde criança, , arquiteto gaúcho e foi
atleta da UFPel em Jogos Universitários Gaúchos
(JUGs) e agora é basqueteiro de final de semana.
Mudou-se para Bahia há dez anos. Quando não está
projetando, faz charges e ilustrações para Revista
Mais Basquete.




          16
Seria o basquetebol um jogo
                       desportivo coletivo aeróbio?
                            Fabrício Boscolo Del Vecchio


       O basquetebol, modalidade inserida no           que o basquetebol tem predominância anaeró-
rol dos Jogos Desportivos Coletivos de invasão,        bia. Para os que não se lembram das vias
provoca que jogadores, de duas equipes dife-           energéticas,      um
rentes, tentem encestar a bola. Para isto, con-        bom    trabalho    de
siderando a altura do conjunto cesta-tabela, e         revisão recente foi
por haver a invasão, espera-se que seus prati-         publicado      (Baker,
cantes exibam aptidão física elevada.                  McCormick, & Ro-
                                                       bergs, 2010). Nele,
       Dentre os componentes mais relevan-
                                                       são indicadas três
tes, identificam-se dois: o componente aeróbio
                                                       vias   predominan-
e o neuromuscular. Quanto ao segundo, pon-
                                                       tes: a derivada do
tua-se que níveis elevados de força e potência
                                                       sistema dos fosfa-
são essenciais para arremessos, passes deslo-
                                                       tos, a glicólise e a
camentos e saltos, mas esta variável não será
                                                       respiração      mito-
foco do presente texto. Nesta oportunidade,
                                                       condrial. No entanto, vale lembrar o ATP mus-
será discutido o aspecto aeróbio da modalida-
                                                       cular previamente disponibilizado, o qual não
de, e não o anaeróbio. Por quê? Quanto à con-
                                                       foi considerado nesta perspectiva, devido ao
tribuição dos sistemas energéticos, muitos tra-
                                                       pouco tempo de manutenção do esforço por
balhos, autores e treinadores tendem a indicar
                                                       este sistema.
     Assim, um dos grandes
                                                              E porque o basquetebol é predominan-
     problemas, não tão atuais,
                                                       temente aeróbio? Apesar de os livros mais tra-
     em prescrição do exercício
                                                       dicionais de fisiologia do exercício (McArdle...)
     físico é acreditar que, para                      e treinamento esportivo (BOMPa) indicarem
     ser aeróbia, a atividade                          que o sistema aeróbio é ativado     após tempo
     precisa durar mais de 20                          moderado de esforço, entre oito e doze minu-
     minutos, ser de intensidade                       tos, atualmente se sabe que isto não é verda-
     leve ou moderada, e assim                         de. Pensando no exercício contínuo, como ca-
     por diante...                                     minhadas, corridas, pedaladas com a mesma



                                                  17
Seria o basquetebol um jogo desportivo coletivo aeróbio?
                               Fabrício Boscolo Del Vecchio




moderado de esforço, entre oito e doze minu-           Investigação que quantificou a relação tempo-
tos, atualmente se sabe que isto não é verda-          movimento na modalidade observou que os
de. Pensando no exercício contínuo, como ca-           jogadores investem 8,8±1% do tempo total de
minhadas, corridas, pedaladas com a mesma              jogo com movimentos específicos de alta in-
intensidade ao longo de todo o esforço, ou com         tensidade, 5,3±0,8% com sprints e 2,1±0,3%
pequenas modificações sem muito significado,           com saltos (Abdelkrim, Fazaa, & Ati, 2007). O
o sistema aeróbio passa a ser predominante             restante do tempo é dispendido com caminha-
após 75 segundos de atividade (Gastin, 2001).          das e trotes. Complementarmente, os mesmos
Assim, mesmo que você corra na quadra, qui-            autores observaram que:
cando a bola, de modo muito intenso, o mais
                                                       i)    a frequência cardíaca média de jogo é de
forte que puder, e este esforço durar 1 min e
                                                             171±4 bpm, embora haja diferenças sig-
15 segundos, ele será predominantemente
                                                             nificantes entre pivôs e armadores; e
mantido pela via aeróbia de fornecimento de
                                                       ii)   a concentração de lactato sanguíneo che-
energia.
                                                             gou a 6,05±1,27 mmol      (Abdelkrim, Fa-
       Assim, um dos grandes problemas, não
                                                             zaa, & Ati, 2007)
tão atuais, em prescrição do exercício físico é
                                                              Assim, com diferentes paradas bruscas,
acreditar que, para ser aeróbia, a atividade
                                                       mudanças de direção, saídas rápidas, passes e
precisa durar mais de 20 minutos, ser de in-
                                                       toda a dinâmica envolvida na modalidade, ele
tensidade leve ou moderada, e assim por dian-
                                                       é tipicamente considerado um exercício inter-
te... O que foi indicado por Gastin (2001) ex-
                                                       mitente (Glaister, 2005). E, neste âmbito, a
plica o exercício contínuo, no entanto, parece
que basquetebol não tem esta característica.




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Seria o basquetebol um jogo desportivo coletivo aeróbio?
                                Fabrício Boscolo Del Vecchio




fisiologia do exercício contínuo não ajuda, pois        com o passar do tempo, e o acúmulo de esfor-
não considera o acúmulo das diferentes pro-             ços, como acontece no interior dos quatro pe-
porções de esforço:pausa e não considera a              ríodos do basquete e ao longo de todo o jogo,
amplitude desta relação. Como indicado anteri-          certamente o predomínio energético desta
ormente, o metabolismo aeróbio é ativado de             modalidade     é   aeróbio (Stone & Kilding,
modo muito mais precoce e esforços que jul-             2009).
gávamos serem predominantemente anaeró-
                                                             Desta reflexão inicial, vale a pergunta: se
bios são, na verdade, predominantemente ae-
                                                        o componente aeróbio é predominante, o que
róbios. Para exemplificar isto, em 1996 um
                                                        é determinante do êxito esportivo no basque-
grupo de investigadores canadenses propôs
                                                        tebol? Série de estudos brasileiros dá indicati-
que sete homens fizessem três séries de esfor-
                                                        vo de que força, potência e velocidade são es-
ços cíclicos muito intensos que duravam 30 se-
                                                        senciais (Moreira, Okano, Souza, Oliveira, &
gundos e, após estes esforços, descansassem
                                                        Gomes, 2005; Moreira, Oliveira, Okano, Souza,
por quatro minutos (em relação de esfor-
                                                        & Arruda, 2004). Outros trabalhos ainda dão
ço:pausa de 1:8).

     Na primeira série de esforços de 30 se-
gundos, o componente aeróbio foi responsável
por 16-28% da energia provida, a degradação
de fosfocreatina por 23-38% e a glicólise ana-
eróbia por 50-55%, o que caracteriza esta pri-
meira série como anaeróbia. No entanto, com
o acúmulo de mais duas séries, interceptadas
por quatro minutos de recuperação cada, as
coisas mudam. Ao final da terceira série, cons-
tatou-se que o sistema da fosfocreatina (ATP-
CP) foi responsável por, aproximadamente,
15% de toda energia produzida, a glicólise
anaeróbia foi responsável por percentual entre
10-15% e o componente aeróbio por, aproxi-
madamente, 70% de toda energia necessária
para se cumprir esta última série (Trump, Hei-
genhauser, Putman, & Spriet, 1996). Ou seja,



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Seria o basquetebol um jogo desportivo coletivo aeróbio?
                                Fabrício Boscolo Del Vecchio




elevada   atenção   ao   componente     aeróbio                intermitentes.
(Stone & Kilding, 2009), realizado de modo
                                                        ii)    Uma série é composta por duas corridas
clássico, com corridas, ou de modo mais con-
                                                               intermitentes. A primeira deve cumprir
temporâneo, usando condicionamento específi-
                                                               espaço próximo de 40 metros em elevada
co da modalidade, como os jogos em espaços
                                                               intensidade (10 segundos), realização de
reduzidos, principalmente os de meia quadra,
                                                               30 segundos de recuperação ativa e, en-
ataque-defesa (Montgomery, Pyne, & Minahan,
                                                               tão, 180° de mudança de direção para
2010). Por fim, registra-se, ainda, o uso de
                                                               corrida intensa de mais 40 metros.
exercícios intermitentes de alta intensidade, os
                                                        iii)   Entre cada uma destas séries se dá inter-
quais, embora não simulem todas as situações
                                                               valo próximo de 90 segundos, em corrida
de jogo, contribuem para a rápida elevação da
                                                               de baixa intensidade.
aptidão física dos jogadores e adequada manu-
tenção da mesma ao longo da temporada com-                     Com o tempo, espera-se apresentar no-
petitiva (Zadro, Sepulcri, Lazzer, Fregolent, &         vas atividades, em diferentes contextos, focan-

Zamparo, 2011).                                         do o desenvolvimento e aprimoramento meta-
                                                        bólico de atletas com foco no basquetebol. E,
     A título de exemplo, e sem envolver ne-
                                                        para um futuro próximo, novas temáticas
nhum tipo de atividade com bola, pode-se exe-
                                                        emergentes, como periodização do treinamen-
cutar a seguinte atividade:
                                                        to e o controle e monitoramento das cargas de
i)   2 a 4 séries de 10 repetições de corridas
                                                        treino serão destaque nesta coluna.




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Referências                                               seletivas no basquetebol durante um mesociclo
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                                                   Quem é Fabrício Boscolo Del Vecchio?
                                    Bacharel (2001) e Licenciado (2004) em Educação Física pela UNICAMP, on-
                                    de também completou seus estudos de mestrado (2005) e doutorado (2008)
                                    em Ciências do Esporte, o professor Fabrício Boscolo Del Vecchio circula nos
                                    grupos de estudos dos pós-graduações da FEF-UNICAMP, EEFE-USP e ESEF-
                                    UFPel, além de ser membro da National Strength and Conditioning Associa-
                                    tion (EUA), do Comitê Científico do GTT12 - Treinamento Esportivo do
                                    CBCE e Moderador da Comunidade Judô do Centro Esportivo Virtual. Tem
                                    experiência na área de Educação Física, com ênfase em Modalidades de
                                    Combate, Treinamento Esportivo e Saúde Coletiva e Atividade Física. Autor
                                    de artigos e livro, também foi preparador físico de lutadores de Judô, Brazili-
                                    an Jiu-Jitsu e Taekwondo. Atualmente é Professor da ESEF-UFPel (Pelotas-
                                    RS) onde tem contribuído com a preparação física de atletas e equipes (lutas
                                    e basketball) e conquistado resultados positivos em competições locais, es-
                                    taduais e nacionais.




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Como Formar um Armador?
                                     Marcello Berro



      Considero o basquetebol, entre os es-                 Outra parcela importante é a sintonia.
portes coletivos, o que exige a maior necessi-        Existir unidade onde os atletas estejam interli-
dade dos atletas estarem permanentemente              gados, utilizando o lado racional, com uma co-
sintonizados, conectados. Essa necessidade            nexão espiritual, gerando energia positiva, que
requer desde a iniciação, um forte embasa-            tornará a equipe capaz de superar situações
mento do lado cognitivo e até espiritual dos          adversas de qualquer espécie.
atletas. Sou adepto da teoria onde um atleta
                                                            Entendo que o aspecto físico seja o mais
com raciocínio lento e sem a ―presença de es-
                                                      delicado de ser trabalhado. Quando pensamos
pírito‖, não joga basquete! Ouvi do meu pri-
                                                      em treinamento físico automaticamente reme-
meiro técnico ( Professor Israel Washington de
                                                      te a força, músculos, explosão. Principalmente
Freitas) a seguinte frase:


      “O xadrez e o basquetebol são os dois
      únicos esportes, onde os atletas que se
      destacam, usam mais o que existe acima            O armador necessita “ler” o
      da sobrancelha do que o resto do corpo”.          que     sugere    a   defesa
                                                        adversária     (veneno)      e
      Desde quando virei técnico, essa frase
                                                        preparar    os   movimentos
ecoa em meus pensamentos. Tento transmitir
                                                        ofensivos    (antídoto).     O
essa necessidade dos atletas possuírem uma
                                                        armador precisa ser convicto,
percepção (leitura) apurada de todos os movi-
                                                        seguro do que está fazendo e
mentos e variações, muitas vezes sutis (o que
                                                        dar a confiança aos atletas
faz a diferença), que acontecem durante uma
                                                        das outras posições, onde eles
partida de basquetebol. Quando um técnico
                                                        acreditem cegamente que o
consegue que seus atletas estejam focados,
                                                        que está sendo determinado é
atentos e interpretando o que o jogo propõe
                                                        o melhor para a equipe.
um quarto do caminho para a vitória está ga-
rantida.




                                                 23
Como formar um Armador?
                                       Marcello Berro




na iniciação, o aspecto físico tem que ser pen-        FUNDAMENTAL) do basquetebol.
sado em exercitar exaustivamente o lado coor-
                                                               Em todas as equipes que dirigi (e em
denativo, com exercícios que leve a criança/
                                                       todas que dirigirei) o armador é o capitão.
adolescente a dominar seu corpo, aliando a
                                                       Penso que não pode haver um armador tímido
maior quantidade possível de movimentos com
                                                       (dentro de quadra), ou que não possua o espí-
equilíbrio e velocidade. A força e explosão de-
                                                       rito de liderar. Afinal, quem determina as
ve ser consequência de uma boa base coorde-
                                                       ações ofensivas? Corrige os posicionamentos?
nativa, jamais o inverso.
                                                       Quem é o cérebro do time? Quem é o respon-
      Todos esses aspectos, citados anterior-          sável    por   interligar   os   quatro   aspectos
mente, valerão muito pouco se os atletas não           (cognitivo, espiritual, físico e os fundamentos)
dominarem os fundamentos (derivação mascu-             que resumem o basquetebol? Quem é o técni-
lina singular de FUNDAR, BASE PRINCIPAL,               co dentro de quadra?



                                                  24
Como formar um Armador?
                                       Marcello Berro




      O armador necessita ―ler‖ o que sugere           (posicionamento) que seja adequado para su-
a defesa adversária (veneno) e preparar os             perar a defesa.
movimentos ofensivos (antídoto). O armador
                                                             Por ser o atleta que normalmente faz a
precisa ser convicto, seguro do que está fazen-
                                                       transição e quem organiza a equipe, os funda-
do e dar a confiança aos atletas das outras po-
                                                       mentos (bons ou ruins) do armador se tornam
sições, onde eles acreditem cegamente que o
                                                       evidentes. Os defensores (os inteligentes) não
que está sendo determinado é o melhor para a
                                                       darão espaço para o armador pensar, enxergar
equipe. Ele precisa conhecer as capacidades
                                                       o jogo e farão o possível para que ele não che-
físicas, as qualidades e deficiência dos funda-
                                                       gue na posição ideal para ―cantar‖ o movimen-
mentos de cada companheiro (se possível dos
                                                       to de ataque, tentarão ―quebrar‖ o primeiro
adversários) para poder escolher o encaixe
                                                       passe.




                                                  25
Como formar um Armador?
                                       Marcello Berro




        No ataque, o manejo de bola, domínio           até mesmo marcar nessa situação. Todos os
com ambas as mãos, mudanças de direção, os             atletas de uma equipe até SUB-15 devem trei-
passes precisos de todos os tipos e a visão pe-        nar (no mínimo) como armadores, exercitar a
riférica são os fundamentos primordiais de um          liderança, a visão de jogo.
bom armador.

        Na defesa, o veloz
deslocamento de pernas,
o   agressivo   posiciona-
mento dos braços, o cos-
tume de sempre incomo-
dar quem tem a bola
sem jamais ser ultrapas-
sado e induzir o adver-
sário a driblar com a mão
―fraca‖ proporcionará um
grande conforto a todos
os demais defensores.

        Na   formação,    a
troca   de   posições    nos
treinamentos, é determi-
nante para que um en-
tenda como é a função do
outro, conheça as dificul-
dades e, assim, respeitar
quem joga naquela posi-
ção, até por que, invaria-
velmente,    acontece    de
um armador ter que usar
um giro de pivô (situação
de vantagem de altura
sobre seu marcador) ou




                                                  26
Como formar um Armador?
                                      Marcello Berro




A especialização precoce é o maior ―crime‖ que
um técnico pode cometer com os seus atletas,
embora em busca de resultados essa prática
seja muito comum. Provo essa visão com duas
perguntas:

1.   Quantos ―super-pivôs‖ (cestinhas de cam-
     peonatos nas categorias inferiores a SUB-
     15) pararam de crescer e não tiveram o
     embasamento de fundamentos de um la-
     teral ou de um armador e acabaram pa-
     rando de jogar?

2.   Imagine uma seleção brasileira com um
     armador de mais de dois metros, habili-
     doso, veloz com bom arremesso e você
     sendo lembrado como o técnico formador
     desse talento. O que vale mais, o título
     no Sub-15 ou ser o técnico formador de
     um atleta diferenciado?




                                                      Quem é Marcello Berro?
                                  Marcelo Berro é Técnico Provisionado pelo CREF-RJ em 2004, tra-
                                  balhou em diversos clubes do Rio de Janeiro e da Bahia (Botafogo,
                                  América F. C., Hebraica-RJ, Grajaú Country Clube, Flamengo, Ta-
                                  lentos nativos e Faculdade Souza Marques). Atualmente é Coorde-
                                  nador Técnico do Centro de Treinamento do Bábby.

                                  E-mail: mberrocoach@hotmail.com, Twitter: @coachberro,




                                                 27
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                  28
Esporte, Escola e Educação Física:
   pensando na história para buscar novos caminhos
                                       Ronaldo Pacheco


      Nesta minha primeira participação nesta             cada pela censura, e pela ausência de líderes,
revista, gostaria de abordar um tema que tem              que se refugiavam do país ou eram presos e
feito parte das discussões atuais (ainda mais             torturados, nos porões da ditadura.
com a proximidade da realização da Copa do
                                                                O uso do esporte como principal e na
Mundo de Futebol e das Olimpíadas no Brasil),
                                                          maioria das vezes único instrumento da educa-
mas que na verdade foram iniciadas a partir da
                                                          ção física escolar, para o desenvolvimento es-
década de 80. Penso ser importante realizar
                                                          portivo, teve um lado altamente positivo, pois
uma reflexão sobre a questão do esporte na
                                                          nesta época, com o advento da criação dos Jo-
escola, e nos artigos posteriores pretendo tra-
                                                          gos Escolares Brasileiros, houve um investi-
tar especificamente, sobre o basquetebol na
                                                          mento maciço na construção de instalações,
educação física escolar.
                                                          compra de materiais esportivos, e consequen-
      Antes de tudo, é importante esclarecer              temente o surgimento de vários atletas em di-
que estas minhas reflexões se originam nas                versas modalidades que se destacaram no es-
minhas vivências e estudos nestes quase qua-              porte brasileiro e internacional. Oscar, Marcel,
renta anos ligado à prática esportiva e ensino            Hortência, Paula, Joaquim Cruz, Bernard, Willi-
escolar e universitário. Como toda reflexão,              am, e muitos outros em diversas modalidades,
está sujeita a contestação e ao debate de idei-           são exemplos claros desta fase. É bem verda-
as que ao final é a base de todo o aprendizado.           de que muitos destes atletas não foram cria-
                                                          dos e desenvolvidos no ambiente escolar, mas
      Para iniciar estas reflexões é necessário
                                                          ao terem contato com a modalidade na escola,
fazer um resgate histórico sobre o uso do es-
                                                          buscavam clubes e/ou outros centros onde se
porte na educação física escolar. Para os mais
                                                          especializavam e tinham oportunidade de par-
novos, é importante lembrar que nos meados
                                                          ticipar de várias competições.
da década de 1960, com a implantação da di-
tadura militar no nosso país, o esporte foi utili-              Por outro lado, não há como negar que
zado como forma de melhorar a autoestima do               na educação física escolar, voltada para o trei-
povo e também de proporcionar uma válvula                 namento das equipes colegiais, havia também
de escape para uma população que vivia sufo-              uma exclusão muito grande dos menos talen-




                                                     29
Esporte, Escola e Educação Física: pensando
                              na história para buscar novos caminhos
                                           Ronaldo Pacheco




                                                         geriam concepções filosóficas, sociológicas e
                                                         políticas que tornassem a prática da educação
  Será     que   antes   de                              física mais fundamentada em uma visão crítica
  pensarmos na formação                                  e menos ―alienante‖ da cultura corporal de

  esportiva, não devemos                                 movimento.

  nos preocupar com a                                          No    meu   modo    de   ver,   a   quase

  alfabetização motora das                               ―criminalização‖ do uso do esporte, foi um en-
                                                         gano que levou a tentativa de afastamento do
  crianças,    como   passo
                                                         seu uso nas aulas de educação física escolar. O
  inicial?
                                                         problema nunca foi do esporte em si, mas do
                                                         uso que se fez dele de forma excludente e com
tosos, pois com turmas grandes, não havia co-
                                                         fins unicamente competitivos. Ressalto tam-
mo os professores treinarem as equipes que
                                                         bém, que a competição quando bem dirigida é
representavam as escolas. Esta exclusão afas-
                                                         um elemento altamente motivador e nos leva a
tou muita gente de uma prática saudável da
                                                         entender as nossas limitações e possibilidades,
atividade física, pois era quase que exclusiva-
                                                         mas por outro lado, é perniciosa quando leva
mente voltada para os treinamentos. Muitos
                                                         em conta apenas a separação entre vencedo-
dos que nos leem neste momento podem dis-
                                                         res e perdedores. A competição foi taxada des-
cordar do que foi dito acima, mas provavel-
                                                         ta forma para os críticos das modalidades es-
mente foram aqueles que ou fizeram parte das
                                                         portivas.
equipes colegiais ou tinham ojeriza, e por
                                                               Muitos professores formados nesta épo-
qualquer destes fatos, não se sentiram discri-
                                                         ca tomaram contato com um discurso político
minados ou excluídos.
                                                         ideológico que, incapaz de compreender de
      Com o final da ditadura militar, vários
                                                         forma ampliada o esporte, passou então a
professores e autores da área da educação físi-
                                                         paulatinamente negá-lo na escola.
ca, que se sentiam incomodados com a utiliza-
                                                               A verdade é que somando a insuficiente
ção indiscriminada dos esportes na educação
                                                         e míope preparação dos professores para a
física escolar, começaram a contestar este uso.
                                                         formação esportiva, e a queda da valorização
Esta prática de forma excludente, e muitas ve-
                                                         da educação física no âmbito escolar, passa-
zes irrefletida, levou estes estudiosos a contes-
                                                         mos a viver uma época de alto índice de
tar o uso de esporte na escola de forma con-
                                                         ―analfabetismo motor‖ devido ao abandono do
tundente. As novas abordagens propostas su-



                                                    30
Esporte, Escola e Educação Física: pensando
                             na história para buscar novos caminhos
                                          Ronaldo Pacheco




papel indispensável que a prática de atividades         devemos nos preocupar com a alfabetização
física deve ter na vida de todo ser humano.             motora das crianças, como passo inicial? Como
                                                        realizar isso se na fase de maior importância
      É bem verdade que existem muitos pro-
                                                        para aquisição adequada da descoberta corpo-
fessores que, conscientes deste seu papel, tra-
                                                        ral e dos movimentos básicos (1º ao 5º ano),
vam uma luta hercúlea para conduzir seus alu-
                                                        não temos professores de educação física nos
nos para o alcance dos inúmeros objetivos que
                                                        colégios?
a educação física pode promover, porém há
outros tantos que se acomodam e se escon-                     Penso que é possível uma convivência
dem atrás de discursos vazios sobre uma dita            harmoniosa entre o esporte introduzido na es-
prática socializadora, abandonando seus alu-            cola e o esporte de rendimento, desde que se-
nos a meros momentos de recreação descom-               ja respeitada cada etapa do desenvolvimento
promissada e banal.                                     motor, cognitivo e afetivo do aluno e que o es-
                                                        porte não seja uma imposição e instrumento
      O que vemos atualmente nos momentos
                                                        único da educação física. Dar condições moto-
de discussão sobre a prática esportiva no nos-
                                                        ras e atrair para o esporte em vez de impor a
so país, é que a escola não tem cumprido o
                                                        prática esportiva, talvez seja o primeiro passo
seu papel de formadora de futuros esportistas.
                                                        para esta convivência.
Apesar de concordar que o papel da educação
física escolar está muito abaixo do esperado,                 Muitas são as maneiras de se promover
será que esta falta de formação esportiva inici-        uma formação adequada e para isso vários au-
al tem como única vilã a atuação dos professo-          tores atuais ligados à pedagogia do esporte
res de educação física na escola? Será que an-          têm apresentado caminhos. Sobre isso preten-
tes de pensarmos na formação esportiva, não             do discorrer no próximo artigo.




                                               Quem é Ronaldo Pacheco?
                                Professor de educação física e técnico de basquetebol, com
                                mestrado na área de educação física e especialização em
                                psicologia do esporte. Professor da Universidade Católica de
                                Brasília e da Secretaria de Estado de Educação do Distrito
                                Federal, cedido à Universidade de Brasília.




                                                   31
Formando Atletas e Técnicos Através
                      do Esporte Universitário
                                     Carlos Alex Soares


         Quando eu conheci o basquete eu só             americanos os fazia (ainda faz?) utilizarem o
queria atirar a bola na cesta, vê-la passar pelo        talento esportivo como trampolim para uma
aro, sentir o som do quique na quadra... Logo           vida melhor e se o talento existir concretizam
eu queria vestir a camiseta da seleção, aquele          o sonho de jogar na NBA (ou na NFL ou na
uniforme listrado me encantava e minha equi-            MLB), mas também serão seres humanos mui-
pe também tinha um uniforme listrado, era da            to melhores... Aí me lembro de outro vídeo
Adidas, lembro bem dele com se fosse hoje...            (http://youtu.be/G40g9RTxurw) que fala da
Eu tinha um objetivo: aprender a jogar para             importância da NCAA e do modelo adotado pe-
jogar pela seleção. Claro, eu desconhecia a po-         lo esporte americano: mais de 300 mil estu-
liticagem no esporte e como os atletas do inte-         dantes universitários com algum tipo de bolsa
rior são desvalorizados, mesmo com algum ta-            universitária para jogar o esporte que os fazia
lento – eu realmente tinha pouco tempo de               brilhar na infância/adolescência.
quadra e quando me destaquei deixei, por um
                                                              Então, eu me pergunto: com o que o jo-
tempo, o que todos chamamos de plano B,
                                                        vem brasileiro apaixonado pelo basquete so-
mas que deve ser o plano A: os estudos. Minha
                                                        nha? Em ser igual ao Carioquinha, como eu
mãe não me deixou sair de Bagé quando a
                                                        fazia? Em arremessar de longe e ouvir o baru-
proposta de Santa Cruz do Sul foi feita. E foi
                                                        lho da rede, vestindo aquele uniforme listrado?
justo. Perdi uma oportunidade, mas aprendi a
lição.

         Mas quero falar dos sonhos. Vi um vídeo
da NBA (http://youtu.be/o801DCy_0DA) e fi-
quei pensando nos moleques americanos, so-
nhando em jogar na NBA. Ver um dos muitos
vídeos de Michael Jordan e de Magic Johnson
mostra como eles sonhavam em ir para a...
Universidade. O sistema de ensino, a segrega-
ção racial do passado e a pobreza dos afro-




                                                   32
Formando formar um Armador?
                                Como Atletas e Técnicos Através
                                  do Esporte Universitário
                                       Marcelo Berro
                                      Carlos Alex Soares




Sonham com cravadas magníficas? Sonham e              NBA eles são obrigados a estudar e, conse-
passar bolas para o arremesso certeiro do Mar-        quentemente, melhoram sua cultura e abrem o
celinho? Ou em deixar o Bábby livre em um             leque para a aquisição de conhecimentos e de
pick and roll? Não, primeiro eles nem sabem           outra língua que lhes fará muito bem no futu-
os nomes dos jogadores brasileiros e segundo          ro.
eles sonham em jogar nos Estados Unidos, na
                                                            Mas na análise do que nossos jovens so-
NBA. Assim eles poderão alcançar a mesma
                                                      nham – os sonhos de outra cultura – percebe-
fama que Nenê, Leandrinho, Varejão e, recen-
                                                      mos como a influência americana é muito
temente, o Splitter que obtiveram ao arriscar
                                                      grande em nossa cultura e, para concluir isso,
muito e conseguiram jogar naquilo que os pró-
                                                      não precisa ser um grande gênio, nem mesmo
prios esportistas da NBA dizem no vídeo: o
                                                      ser gênio, pois isso é óbvio. Mas só nos chega
melhor basquete do mundo!
                                                      o reflexo da coisa boa, pronta. O processo ár-
      Pelo menos sonhando com uma vaga na             duo de construção é esquecido por nossos


                                                 33
Formando formar um Armador?
                                 Como Atletas e Técnicos Através
                                   do Esporte Universitário
                                        Marcelo Berro
                                         Carlos Alex Soares




      Não falo no vazio, sem experiência algu-          dentro da quadra, ela foi construída e, nesse
ma. Quando um pai libera um filho, com seus             processo, muita cultura foi adquirida antes dos
14, 15 anos para estudar e jogar por um clube           milhares de dólares que ainda acumula anual-
em outra cidade ou mesmo estado, pressu-                mente.
põem-se que haja confiança nessas entidades
                                                              Nenê, Varejão, Leandrinho e Splitter fa-
e que elas irão cumprir com a legislação brasi-
                                                        zem o que gostam, mas sabem que a aposen-
leira, especialmente no que diz respeito ao di-
                                                        tadoria esta nos contratos que firmarem nessa
reito e dever da criança e adolescente estar na
                                                        fase produtiva e, se perderem tudo, terão ape-
escola até os 18 anos. Os uruguaios fazem isso
                                                        nas a lembrança de um sonho realizado, mas
com suas seleções: concentram em Montevi-
                                                        que não manteve as melhorias que fizeram
déu e os matriculam em algum liceu da capital
                                                        parte do cotidiano por algum tempo. Se, em
no período que estivem a serviço da seleção.

      Não basta matricular, tem que acompa-
nhar frequência, desempenho, estudo e notas.

      O que eu proponho é uma parceria entre
a Confederação Brasileira de Basketball (CBB)
e Confederação Brasileira de Desporto Univer-
sitário (CBDU) para fortalecer e dignificar os
Jogos Universitários Brasileiros (JUB’s), for-
mando parcerias com universidades em todo o
país, pois já é visível que as universidades que
apoiam o basquete no Brasil são retribuídas
com visibilidade midiática e retorno financeiro.

      Então, nessa projeção de futuro e da
busca do sonho americano, o sonho dos norte-
americanos, a base é o que mais me preocupa.
Para chegar a NBA, Michael Jordan teve que
estudar no ensino médio, termina-lo dentro de
uma determinada faixa etária e cursar, efetiva-
mente, o curso de Geografia na Universidade
da Carolina do Norte. Sim, se é uma referência




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Formando formar um Armador?
                                Como Atletas e Técnicos Através
                                  do Esporte Universitário
                                       Marcelo Berro
                                       Carlos Alex Soares




uma hipótese remota, Jordan tivesse tido uma           vens fazem com o exército brasileiro, exigirão
lesão ou perdesse tudo, seria geógrafo ou pro-         aulas de educação física mais eficazes e o cír-
fessor de geografia. Isso não é raro no esporte        culo de importância de cada área se fechará,
norte-americano: fortunas vêm nos anos dou-            elevando o nível da educação brasileira e o es-
rados e se vão ao estalar dos dedos ou ao ro-          porte se beneficiará desse processo.
lar dos dados...
                                                             Mas para isso nosso imediatismo teria
      Esse modelo educativo-esportivo é fun-           que dar lugar a um processo de planejamento
damental para o crescimento do esporte no              a médio e longo prazo, visando à continuidade
Brasil. Pessoas que possuem habilidade media-          na formação de atletas e a formação de líderes
na poderiam estar na universidade por causa            para diversas áreas entre aqueles que tiveram
de seu talento e, entre estes, alguns excelen-         a aquisição de hábitos saudáveis e levarão
tes jogadores poderão surgir. Aqueles que vi-          consigo a ótima lembrança do esporte na fase
sualizarem no esporte uma oportunidade de              universitária, mas não serão atletas de elite.
crescerem profissionalmente, como muitos jo-           Um grande exemplo disso é Barack Obama.




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Formando formar um Armador?
                                Como Atletas e Técnicos Através
                                  do Esporte Universitário
                                       Marcelo Berro
                                       Carlos Alex Soares




        Bom, dediquei um espaço a formação de          na atualidade, esse processo de massificação é
atletas, pois é uma temática que gera muito            superior ao que podem responsabilizar-se. No-
debate, muitas ideias e possui um leque de te-         vos técnicos surgirão.
ses que o que sugiro é apenas uma fagulha
                                                             E aí, com muitos técnicos em ação, tal-
perto da necessidade de aquecer o esporte no
                                                       vez a revitalização da ATEBA (Associação de
país.
                                                       Técnicos de Basquete) seja viável e seríamos
        Entretanto, a proposta aqui elencada           perfeita capazes de formar os armadores, os
também gerará novos beneficiados: os profes-           técnicos para comandar nossas seleções e ain-
sores/técnicos. Por quê? Simples. Nesse pro-           da ―garimpar‖ atletas com potencial para tor-
cesso, o crescimento exponencial de competi-           nar-se referência em âmbito nacional.
ções e equipes, agora no nível universitário,
                                                             Provavelmente possamos voltar a ter
multiplicará os espaços de trabalho para técni-
                                                       grandes e ameaçadoras equipes nas disputas
cos que mesmo que haja um corporativismo
                                                       de títulos no presente e não apenas históricos
seletivo entre os técnicos dos clubes de ponta
                                                       e jurássicos vencedores do passado.




                                                  36
37
Ideias Sobre a Gestão do Basquete Brasileiro
                       Jose Alberto Freyesleben Valle Pereira


      Primeiramente parabéns aos que tive-                     No caso específico do basquete, está
ram a idéia de lançar mais esse veículo de no-          mais do que na hora de termos um banco de
tícias sobre o basquete e aqueles que terão a           dados fidedigno, para que possamos mensurar
sensibilidade e oportunidade de acessá-lo,              as ações. Saber quantos clubes cada federação
agradecendo o convite para poder expressar o            tem como filiados, quais competições promo-
que penso.                                              ve, que categorias jogam no estado, e número
                                                        de atletas registrados por idade. Após, fazer-
      Falar sobre gestão e funcionamento no
                                                        mos esse raio-X nos clubes, até acredito que
atual momento que atravessamos não é tarefa
                                                        muitos desses dados a CBB possui mas não
fácil até porque não sou um especialista na
                                                        utiliza.
área, mas na tentativa de ajudar vou tentar
traçar uns parâmetros em cima do que estou                     Contratar técnicos capacitados para as
vendo na entidade que administra o basquete             áreas existentes, o que possibilitará o desen-
e deveria ser a responsável por seu fomento             volvimento da gestão, estratégias de ação e do
em todos os níveis.                                     planejamento geral da entidade, dentro da dis-
                                                        ponibilidade financeira existente.
      O basquete e o esporte brasileiro em ge-
ral sofrem pela falta de bons dirigentes, e mui-               Com o corpo técnico e funcional adequa-
tos dos qualificados que temos não são apro-            do e capacitado a entidade passa a ter credibi-
veitados, por diversos motivos que não cabe             lidade e desenvolver seus projetos, buscar re-
aqui elencar, mas que entendo seja do conhe-            cursos, gerir as atividades para as quais foi cri-
cimento de todos.                                       ada.

      Acredito que para iniciar uma gestão te-                 Todos nós sabemos que existem cargos
mos que saber as condições da entidade que              políticos e técnicos, e devemos identificar as
estamos assumindo. Ver a saúde financeira, o            pessoas que os ocuparão, para tanto as esco-
funcionamento administrativo, conhecer o qua-           lhas tem que ser baseadas nos perfis de quem
dro funcional e sua capacitação, rever organo-          queremos que ocupe uma função, seja ela po-
grama, se está adequado às atividades que a             lítica ou técnica.
entidade desenvolve e saber qual a missão de-
la.



                                                   38
Ideias Sobre a Gestão do Basquete Brasileiro
                               José Alberto Freyesleben Valle Pereira




       Todos nós sabemos que existem cargos           tendimento, ações prioritárias, todas elas hoje
políticos e técnicos, e devemos identificar as        são, mas precisamos começar certo para ter
pessoas que os ocuparão, para tanto as esco-          condições de definição o que deve ser feito e ai
lhas tem que ser baseadas nos perfis de quem          sim eleger prioridades.
queremos que ocupe uma função, seja ela po-
                                                            Estando a casa arrumada vamos ao que
lítica ou técnica.
                                                      interessa, fazer basquete.
       Existem várias fontes de incentivos go-
                                                            Em linhas gerais é assim que entendo o
vernamentais que podem servir de instrumen-
                                                      que deve ser feito na entidade maior do bas-
tos de fomento ao basquete e a CBB deveria
                                                      quete brasileiro, a partir daí seria possível pas-
ter um departamento específico para isso, in-
                                                      sar a auxiliar as demais camadas que com-
clusive auxiliando as próprias federações em
                                                      põem essa pirâmide.
suas ações de captação de recursos.
                                                            Saudações a todos.
       Não há no momento atual em meu en-




                                 Quem é José Alberto Freyesleben Valle Pereira ?
                                Beto, como é conhecido no meio do basquete, tem 49 anos,
                                é Bacharel em Direito, tem vínculos administrativos com o
                                basquete catarinense há mais de 17 anos, tendo sido diretor
                                de árbitros, administrador e supervisor de seleções catari-
                                nenses e brasileiras, Assessor Jurídico da Federação Catari-
                                nense de Basketball, além de ter trabalhado no gerencia-
                                mento de quadra do Pan 2007.




                                                 39
Formando Pessoas
                Cesare Augusto Marramarco



      Quando recebi o convite          continuar trabalhando com a gu-
do Carlos Alex para escrever so-       rizada. Para mim sempre foi o
bre basquete e, especialmente,         momento de descontração, de
sobre iniciação, confesso que fi-      alegria e onde eu realmente me
quei bastante envaidecido e ao         sentia útil. Não que ser técnico
mesmo tempo preocupado. Ser            de equipe adulta seja menos im-
lembrado    pelos     colegas,   ex-   portante, gratificante ou mais fá-
atletas e pessoas com quem con-        cil. Porém pelo meu tempera-
vivemos é sempre muito impor-          mento, o trabalho de formação
tante e acredito ser este o me-        sempre foi onde me senti realiza-
lhor reconhecimento, pois é feito      do. Todos nós, técnicos, sabemos
por pessoas que convivem neste         onde somos melhores e conside-
mesmo meio e sabem do seu tra-         ro isto fundamental não só para
balho. Porém, uma coisa é dar          o sucesso profissional como para
um treino, uma palestra, uma           a nossa felicidade. Afinal felicida-
atividade prática, coisas que fa-      de é o que todas as pessoas bus-
zem parte do teu cotidiano. Ou-        cam alcançar e acredito que só
tra é colocar isso no papel, o que     consigamos     realmente    sermos
não é absolutamente a mesma            felizes se isso acontece também
coisa. Espero poder corresponder       no trabalho.
a esta expectativa.
                                             Tanto quanto todas as ou-
      Nestes 34 anos como téc-         tras profissões, ser técnico de
nico de basquete, praticamente         basquete exige amor e dedica-
nunca me afastei do trabalho           ção. E trabalhar com crianças
com as categorias de base, espe-       exige que se goste e se tenha
cialmente o minibasquete. Mes-         paciência com elas. Não se con-
mo quando técnico de equipes           funda isso com falta de limites ou
adultas, sempre fiz questão de         de cobrança em busca de objeti-



                      40
Formando Pessoas
         Cesare Augusto Marramarco




tivos. Porém o carinho e a paci-     bre técnica individual, fundamen-
ência em saber que cada um tem       tos ofensivos e defensivos, pois
um ritmo diferente de aprendiza-     estes sabemos    que, com um
gem são essenciais. E, essencial-    pouco mais ou menos de traba-
mente, sabermos que estamos          lho, podem ser corrigidos em
lidando com pessoas em um mo-        qualquer fase da vida do atleta.
mento crucial de sua formação e      Entretanto, os valores e virtudes
o que for feito neste momento        morais encontram na iniciação o
provavelmente ecoará por toda a      seu melhor momento para serem
sua vida. E não estou falando so-    lapidados.




                    41
Formando Pessoas
          Cesare Augusto Marramarco




      Talvez seja por isso que        atletas,    formamos   pessoas.   O
considero tão importante o tra-       que quero salientar é que alguns
balho nesta fase. Costumo co-         que      passarem   por nós, muito
mentar que, se fosse mudar al-        mais por suas capacidades pró-
guma coisa na minha carreira          prias do que por méritos nossos,
profissional, talvez tivesse estu-    serão atletas durante um tempo
dado um pouco menos sobre             maior. Talvez sejam atletas de
basquete e um pouco mais sobre        seleções estaduais, brasileiras ou
pessoas. Quando fui fazer o mes-      até profissionais. Porém o maior
trado com o meu querido e sau-        grupo será formado de pessoas
doso Prof. Ruy Krebs passáva-         que praticaram o basquete por
mos muito tempo estudando as          algum tempo e seguiram o seu
teorias do desenvolvimento hu-        rumo na vida, sendo profissionais
mano. Naquelas leituras e dis-        nas mais diferentes áreas. Prova-
cussões eu consegui encontrar         velmente algumas das experiên-
explicações para os meus erros e      cias do seu tempo de atleta lhes
acertos e solidificar a minha opi-    ajudem nesta sua vida profissio-
nião para a importância do traba-     nal e este será, provavelmente, o
lho nesta fase.   No seu modelo       nosso maior pagamento.
de especialização motora, o Prof.
                                               Por outro lado, se o foco
Ruy sempre salientou a impor-
                                      de nosso trabalho fosse essenci-
tância do primeiro estágio, o de
                                      almente de formar atletas de alto
Estimulação, na formação do fu-
                                      nível,     provavelmente   seríamos
turo atleta.
                                      tremendamente frustrados, pois
      Desta forma, uma das coi-       de cada dez atletas que come-
sas que mais me empolga no tra-       çam nas escolinhas e mini, talvez
balho é que, muito mais do que        um chegue a categoria juvenil.




                     42
Formando Pessoas
           Cesare Augusto Marramarco




Destes, a possibilidade de se             e a nossa função primordial nes-
profissionalizar é bastante pe-           te momento é ensinar, o melhor
quena, dado ao número de equi-            possível, a estes jovens. A moti-
pes que temos em nosso país.              vação deles para a prática vem
Dependendo      da   região,    esta      do êxito em conseguir realizar as
chance é ainda menor.                     técnicas que constituem o jogo.
                                          Porém, nós como técnicos deve-
      No     entanto,    tudo   isso
                                          mos ter esta visão a longo prazo
acontece através da prática do
                                          para sabermos da importância de
basquete. As crianças que vem
                                          cada situação de nosso apaixo-
até nós estão com a sua atenção
                                          nante esporte.
voltada para a prática do esporte




                Quem é Cesare Augusto Marramarco?
                                       Formado em Educação Física na UFRGS,
                                       Especialista em Treinamento Desportivo-
                                       Atletismo pela URCAMP- Bagé e Mestre em
                                       Ciências do Movimento Humano, com ênfase
                                       em Aprendizagem e Desenvolvimento Mo-
                                       tor, pela UDESC. Técnico de basquete desde
                                       1978, tendo     atuado na SOGIPA, FUnBa
                                       (hoje URCAMP), Clube Recreio da Juventu-
                                       de, Clube Juvenil e escolas da rede munici-
                                       pal, estadual e particular. Atualmente é pro-
                                       fessor da Universidade de Caxias do Sul e
                                       da rede municipal de ensino do município de
                                       Farroupilha, trabalhando com escolinhas de
                                       formação esportiva.




                        43
Visite o Centro Esportivo Virtual
e participe do debate sobre o basquete.

www.cev.org.br/comunidade/basquete



                   44
Franca: Ginásio “Pedrocão”
    Jogo das Estrelas 2011.




Brasília: Ginásio Nilson Nelson.
            45
Formando pessoas através do basquete
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  • 1. 24 ANOS DE INDIANÁPOLIS! COMO FORMAR ARMAODRES? MINHA VIDA NO BASQUETE JOSE MEDALHA FALA DE UMA BERRO DESCREVE SUA FILOSOFIA NA MARRAMARCO DESTACA A IMPOR- CONQUISTA HISTORICA. FORMAÇAO DE ARMADORES. TANCIA DE FORMAR, NA BASE, PESSOAS ALEM DE ATLETAS. COMO CHEGAR A LONDRES? POLÊMICA VEJA INFOGRAFICO E TORNEIOS QUE FABRICIO BOSCOLO PERGUNTA: E MUITO MAIS... LEVARAO AOS JOGOS OLIMPICOS DE Volume 1—N° 1 — Agosto/2011
  • 2. SUMÁRIO Apresentação: Em busca de mais basquete 3 Carlos Alex Martins Soares Treinador de basquete e os aspectos que envolvem a formação de jovens atletas 6 Dante de Rose Júnior Pan-87: uma conquista histórica 13 José Medalha Charge 1 — Alessandro Trindade 16 Seria o Basquete um jogo desportivo coletivo aeróbio 17 Fabrício Boscolo del Vecchio Como formar um armador? 23 Marcello Berro Esporte, Escola e Educação Física: pensando na história para buscar novos cami- nhos 29 Ronaldo Pacheco Formando atletas e técnicos através do esporte universitário 32 Carlos Alex Martins Soares Ideias sobre a gestão do basquete brasileiro 38 José Alberto F. Pereira Coluna Minha Vida no Basquete: ―Formando Pessoas‖ 40 Cesare Augusto Marramarco Especial: ―Quando o basquete derruba barreiras e fronteiras!‖ 46 Álvaro Guimarães Como Chegar a Londres 2012? 53 Charge 2 — Alessandro Trindade 63 Coluna Eu fui! 4ª Clínica Internacional para técnicos de basket — Score Brasil 65 Liga Nacional Sub-21 Anos 68 Por Técnicos. Para Técnicos.
  • 3. APRESENTAÇÃO Em Busca de Mais Basquete Carlos Alex Martins Soares dizado. Mas há que ter cuida- impressa ficaria no campo dos Estamos lançando a Re- do, pois esse desejo de pos- sonhos por muitos anos – as vista Mais Basquete nesse dia suir o conhecimento pode se próprias instituições desisti- histórico para o basquete bra- confundir com poder e este ram desse processo. Mas eis sileiro com o claro objetivo de levar a tirania. Ter o conheci- que na atualidade temos fer- homenagearmos os 24 anos mento pressupõe saber usá- ramentas capazes de nos le- da magnífica vitória do Brasil lo, saber leva-lo aos mais dis- var a qualquer parte do mun- sobre os EUA no Pan- tantes pagos e, nessa cami- do em uma velocidade es- Americano de Indianópolis. nhada, retornar ao lar com trondosa. Assim vamos usa- Minha gratidão eterna pela novos aprendizados que nos las, essas novas tecnologias e forma como, ano após ano, façam evoluir como seres hu- a internet, para compartilhar competição após competição, manos. E isso reflete em nos- o conhecimento, agregar va- aquela seleção foi formando sa ação profissional. lores humanos e esportivos e um sentido de corpo capaz de quanti-qualificar a função de ousar com tamanha proeza. Por isso a ideia de pro- técnico de basquete no Brasil, Não são apenas os doze atle- duzirmos uma revista em por- visando o crescimento de to- tas e os cinco membros da table document format, o po- dos. comissão técnica, mas todos pular PDF, é parte disso e do os que passaram por aquele que tenho feito ao longo dos A produção aqui exposta grupo no decorrer da década anos em prol do desenvolvi- foi elaborada por técnicos da de 1980 e levaram o Brasil a mento do basquete em meu modalidade de diversas par- ser protagonista de uma microcosmo. Essa revista é tes do país e a Revista Mais grande vitória e gerar a mu- um processo natural de evo- Basquete só terá significado dança na trajetória do bas- lução para continuar constru- se continuar sendo construída quete mundial. O basquete foi indo o basquete nesse espa- dessa forma: por todos nós. outro a partir daquele dia e ço, passar a contribuir com Queremos contribuir com o vivemos essa mudança cotidi- uma agenda positiva na for- basquete brasileiro e encon- anamente. mação de todos os técnicos tramos nesses autores a mes- de basquete, estudantes e ma disposição e objetivos. Pois bem, Rubem Alves professores de educação física São técnicos conhecidos dos coloca que o conhecimento do Brasil e agregar mais ali- brasileiros e alguns com pro- deve ser antropofagicamente mento aos nossos espíritos. jeção internacional. São pro- saboreado. Come-o. Incorpo- fissionais que demonstram o ra a teu ser esse novo apren- Se formos pensar uma revista interesse e o desprendimento 3
  • 4. Apresentação Carlos Alex Martins Soares çaram a ideia e socializaram de gastronomia, mas falando em prol do crescimento do seus textos e pensamentos da magia da incorporação do basquete brasileiro. São pro- com uma humildade que conhecimento novo ao que fissionais, mas não são ga- surpreendeu e me deixa já sou. Espero que todos nanciosos. Sabem da situa- muito feliz. Tudo isso na também se sintam da mes- ção de nosso modalidade e tentativa incansável de au- ma forma, tenham uma ex- por isso pedi-lhes doação de torreflexão, qualificação e celente digestão e que nas- tempo e conhecimento, re- desenvolvimento do esporte çam novos e frondosos fru- flexões e propostas, um que amamos. tos dessa sementinha cha- pouco de suas práxis e mui- mada Revista Mais Basque- to de seu talento. Eles não Quando falo de antro- te. se negaram a fazê-lo, abra- pofagia, não de canibalismo, Quem é Carlos Alex Martins Soares? Conheceu o basquete aos 8/9 anos de idade, quando viu o mundial das Filipinas na TV e logo começou a dar os primeiros arremessos. É Graduado (Licenciatura Plena em Educação Física - 1997) e Pós-Graduado (Especialista em Educação - 2002, PPGE da Faculda- de de Educação) pela UFPel. Profissionalmente é professor da Secretaria de Estado da Educação do Rio Grande do Sul e Fundador e Técnico do Pelotas Basketball Clube (PBC). Atua no Centro Esportivo Virtual (www.cev.org.br) como Moderador das Comunidades "Basquete" e "Sociologia do Esporte - Área Etnia e Esporte", "Consultor Técnico na Área de Basquetebol" desde dezembro de 1997 e autor do Blog do Carlos Alex. Possui experiência na área de Educação Física, com ênfase em esporte escolar e organização de eventos pedagógico-esportivos. Foi atleta de basquete por 10 anos e árbitro 1ª Categoria e Mesário de 1ª categoria. Edita o Blog Mais Basquete. Mais informações no quem é quem do CEV em http://cev.org.br/qq/carlosalex e no currículo Lattes http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do? metodo=apresentar&id=K4706473U6 4
  • 5. Foto-divulgação da Liga Na- cional de Basquete. Brasília x Unitri, NBB32010/2011 5
  • 6. Treinador de basquete e os aspectos que envolvem a formação de jovens atletas Dante de Rose Junior A prática esportiva infantil, independen- de atletas em formação) e o conhecimento temente do esporte praticado, é permeada por deste contexto por parte dos treinadores é ações adultas – pais, dirigentes, professores, fundamental para a realização de um trabalho treinadores e árbitros que, de alguma forma, adequado. São eles: interferem nas experiências esportivas dos  Os aspectos biológicos relacionados aos praticantes. estágios desenvolvimento dos jovens, Nesse processo, o treinador tem uma desde suas etapas iniciais até as fases importância fundamental, pois além de ser a mais agudas como a puberdade e adoles- pessoa que atuará diretamente sobre os futu- cência e que são essenciais para a deter- ros comportamentos esportivos dos jovens, ele minação das cargas de trabalho adequa- também poderá influenciá-los fora dos campos das a cada uma das fases: de jogo. O poder de um treinador sobre um  Os aspectos cognitivos que definirão os jovem esportista é muito grande a ponto de níveis de compreensão das tarefas pro- vários estudos o apontarem como dos princi- postas e interferirão na sua execução; pais motivos para a escolha de uma modalida-  Os aspectos técnico-táticos de cada es- de esportiva e, ao mesmo tempo, como um porte, no caso o basquetebol, representa- dos mais destacados fatores de abandono des- dos pelas ações individuais e coletivas ta prática. Além disto, o treinador pode ter que nortearão a proposta de trabalho de uma grande influência sobre as atitudes e cada treinador; comportamentos, valores e sentidos de vida de seus atletas, sendo ele o co-responsável pelo  Os aspectos psicológicos que envolvem o desenvolvimento da personalidade de seus conhecimento dos traços de personalida- atletas e também pelo seu futuro, após o final de desses jovens e de seus limites em de sua carreira esportiva. relação às exageradas cobranças, muito comuns no ambiente esportivo competiti- A prática esportiva competitiva envolve vo e também a demanda específica do diferentes aspectos que afetam diretamente esporte, em função das características de seus adeptos (principalmente quando se trata cada um deles; e 6
  • 7. Treinador de basquete e os aspectos que envolvem a formação de jovens atletas Dante de Rose Júnior  Os aspectos pedagógicos que envolvem o trumento para planejar o ensino do esporte conhecimento de todos os conteúdos an- respeitando as etapas evolutivas desses jo- teriores para que sejam elaborados os vens. métodos e estratégias adequados para No âmbito pedagógico o papel do treina- cada momento das fases de desenvolvi- dor deve transpassar a simples barreira do en- mento do jovem. sinar movimentos específicos ou movimenta- Os treinadores, especialmente aqueles ções táticas para suplantar os adversários. As envolvidos com o trabalho formativo, devem ações pedagógicas direcionadas principalmente ter uma preparação mínima já que vão traba- para a formação esportiva sugerem o domínio lhar com jovens que têm somente um conheci- de várias áreas de conhecimento sobre o indi- mento básico do esporte que irão praticar. víduo e sobre a atividade para que sejam apli- Sem dúvidas, é precisamente o treinador das cadas de forma adequada às necessidades do etapas iniciais de iniciação esportiva que deve jovem praticante, respeitando suas caracterís- ter uma formação sólida que lhe sirva de ins- ticas. 7
  • 8. Treinador de basquete e os aspectos que envolvem a formação de jovens atletas Dante de Rose Júnior Entre esses domínios podemos citar o O técnico como fonte geradora de stress biológico, psicológico, técnico, tático, social e nos jovens atletas cultural. Ou seja, conhecer a criança nos seus Estudo realizado com atletas brasileiros mais diferentes aspectos (físicos, intelectuais, sobre os motivos de abandono do esporte in- personalidade, inserção social) e a atividade fanto-juvenil apontam alguns dos aspectos ne- (demandas energéticas, demandas psicológi- gativos do contexto esportivo que levaram os cas, demandas técnico/táticas e impacto cultu- jovens a interromper a prática de determinada ral da mesma sobre a comunidade) é fator modalidade: a ênfase exagerada na necessida- preponderante para determinar a ação peda- de de vitória, o stress gerado pela competição gógica do profissional que atuará sobre um de- e o fato de não gostarem do técnico. Curiosa- terminado grupo de jovens. mente, o técnico é comumente citado pelos Como estabelecer filosofias de trabalho, jovens como uma das principais razões que programas de treinamento, planos diário de justificam a adesão à prática esportiva, mas atividades ou estratégias para competição sem também para o abandono da mesma. Este da- o conhecimento de todos os aspectos citados? do é bastante preocupante quando percebe- mos que o técnico como principal responsável As oportunidades que são oferecidas ao por fomentar a prática esportiva dos seus atle- jovem para entender o basquetebol de forma tas, acaba, por muitas vezes, afastando-os do global são determinantes para seu futuro como esporte, sem ter consciência da repercussão atleta. Por isto é fundamental que se pense dos seus atos entre os jovens esportistas. numa formação integrada e que coloque os elementos do jogo de forma contextualizada. Pesquisas feitas com atletas de categori- as de base no Brasil (14 a 18 anos) mostram que as atitudes de técnicos relacionadas à sua comunicação com os jovens atletas podem ser entendidas como prejudiciais e causadoras de stress nos esportistas que buscam, na verda- de, por orientação e solução de problemas e não, simplesmente a crítica desmesurada e sem objetivos. 8
  • 9. Treinador de basquete e os aspectos que envolvem a formação de jovens atletas Dante de Rose Júnior Nesses estudos que abrangeram cerca de 500 atletas de basquetebol, han- debol, natação e voleibol, o objetivo principal era detectar situações causadoras de stress em competição. Nele, os técnicos aparecem com destaque como provocadores de stress quando apresentam comportamentos tais como:  não reconhecer o esfor- ço dos atletas;  gritar ou reclamar muito; Atitudes frente ao processo de formação  enfatizar somente os aspectos negativos esportiva e o que se espera de um bom técnico  cometer injustiças; Pode-se considerar que há dois tipos de  não apontar soluções frente aos proble- atitudes de técnicos que atuam no esporte in- mas provenientes das situações específi- fanto-juvenil, dirigindo equipes das categorias cas do jogo ou da competição; de base:  privilegiar determinados atletas.  O técnico que tem como objetivo principal a vitória, enfatizando o produto final e Isso indica que o efeito do comporta- privilegiando os resultados imediatos. mento do técnico é mediado pelo significado que os atletas atribuem a ele, e pelo o que os  O técnico que visa a participação do jo- atletas lembram desse comportamento, sendo vem, enfatizando o processo e buscando que a forma de interpretação dessas ações pe- resultados a longo prazo. las crianças e adolescentes afeta a maneira co- Em qualquer uma delas os técnicos po- mo eles avaliam sua participação esportiva. dem, dependendo de suas atitudes e da forma de comunicar-se com os atletas, provocar situ- 9
  • 10. Treinador de basquete e os aspectos que envolvem a formação de jovens atletas Dante de Rose Júnior ações causadoras de stress que tante, ela não é o objetivo tendem a influenciar negativa- mais importante; mente o desempenho dos jovens  Fracasso não é a mesma coi- e provocar comportamentos que sa que perder: é importante poderão migrar desde o desinte- que os atletas não vejam per- resse pela modalidade e até mes- der como sinal de fracasso ou mo o abandono. como uma ameaça aos seus Seria razoável que se pen- valores pessoais; sasse que, em um processo de  Sucesso não é sinônimo de formação, estas últimas atitudes vitória: nem o sucesso nem o seriam as mais adequadas. No fracasso precisam depender entanto, muitos técnicos, por di- do resultado da competição ferentes razões privilegiam as pri- ou do número de vitórias e meiras, atropelando este proces- derrotas. Vitória e derrota so e antecipando uma série de pertencem ao resultado da eventos que, a curto prazo, po- competição, enquanto suces- dem até ser interessantes, mas so e fracasso não; que poderão, por sua vez acelerar  Os jovens devem ser ensina- o processo de abandono dos jo- dos que o sucesso é encon- vens atletas. trado através do esforço pela Assim sendo, quatro princí- vitória, eles devem aprender pios devem nortear a conduta dos que nunca são perdedoras treinadores: esforçam-se ao máximo.  Vencer não é tudo, nem so- mente a única coisa: os atle- Conclusão tas não podem extrair o má- ximo do esporte se pensarem Fica evidente que o técnico deve que o único objetivo é vencer ter uma participação ativa no seus oponentes. Apesar de a processo de formação do jovem, vitória ser uma meta impor- porém provido de conhecimen- 10
  • 11. Treinador de basquete e os aspectos que envolvem a formação de jovens atletas Dante de Rose Júnior tos suficientes que permitam uma atuação se- positivas de oferecer condições dos atle- gura e benéfica para os futuros atletas. Esse tas aprenderem, apresentar possibilida- conhecimento deve ocorrer em quatro domí- des para a solução de problemas. nios:  conhecimento do próprio jovem (sua rea- lidade biológica, psicológica e social); Leituras sugeridas De Rose Jr., D.; Deschamps, S.R. e Korsakas,  conhecimento da modalidade com a qual P. O jogo como fonte de stress no basque- irá trabalhar (aspectos físicos, técnicos e tebol infanto-juvenil. Revista Portugue- táticos); sa de Ciências do Desporto, 1, 2, 36-  definição adequada de métodos e estraté- 44, 2001. gias de trabalho (planejamento, definição De Rose Jr., D.; Campos, R.R. ; Tribst, M. Mo- de objetivos, escolha dos métodos de tivos que llevan a la práctica del balonces- treinamento e dos exercícios que farão to: um estudo com jóvenes atletas brasi- parte desta atividade, entre outros); e leños. Revista de Psicologia del Depor-  Intervenção eficaz no processo (atitudes te, 10, 2, 293-304, 2001. Quem é Dante de Rose Júnior? Licenciado em Educação Física pela Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo (USP), em 1974, possui doutorado em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da USP, em 1996. Atualmente é professor titular da Universidade de São Pau- lo. Atuou por 28 anos na Escola de Educação Física e Esporte da USP. Diretor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Univer- sidade de São Paulo de janeiro de 2006 a janeiro de 2010. Professor do Curso de Ciências da Atividade Física da EACH-USP. Tem experi- ência na área de Educação Física e Esporte, atuando principalmente nos seguintes temas: basquetebol, análise de jogo esporte infantil, stress esportivo e psicologia do esporte. Coordenador Pedagógico da Escola Nacional de Treinadores de Basquetebol 11
  • 12. 12
  • 13. PAN–87: UMA CONQUISTA HISTÓRICA Jose Medalha Ao atender a um pedido da Direção desta rador físico e, Revista relembrando a histórica vitória do PAN de também, um dos 87, muito se pode escrever e relembrar daquele grandes respon- título. Como ex-técnico, vou me ater a certos as- sáveis por aque- pectos, para que os mais jovens possam conhecer la histórica con- alguma coisa do que ocorreu naquele evento. quista. Muito se falou a respeito do incrível resulta- O resultado em si surpreendeu muita gente, do obtido pelo basquete masculino do Brasil nos inclusive dentro do nosso Pais. A seleção masculi- Jogos Pan-Americanos de 87 quando vencemos a na já havia obtido uma boa colocação no Mundial Seleção Norte Americana em seus próprios domí- da Espanha no ano anterior, (4º. lugar). Porem um nios, Indianápolis, pelo marcador de 115 a 110. A resultado não muito convincente no Sul-Americano repercussão interna e externa do título obtido foi de 87 (vice-campeã), ainda deixava dúvidas quan- uma das mais amplas dentro da história do basque- do ao poderio daquele grupo, bem como pela ma- tebol brasileiro. Apenas para citar um exemplo, o neira como o time atuava, com extraordinário po- resultado do jogo final, com direito a foto, foi maté- derio ofensivo, contrariando opinião de vários técni- ria central de capa do NEW YORK TIMES de 24 de cos e parte da imprensa. agosto de 1987. Havíamos (Comissão técnico sob a liderança A geração de OSCAR e MARCEL que havia do Ary) feito uma programação de treinos no Brasil, praticamente su- em cidades do interior, sem muito contato com cedido a de MAR- grandes centros, alguns amistosos após o Sul- QUINHOS, ADIL- Americano e, como inovação um período de treina- SON E CARIOQUI- mento nos EUA na Universidade de Houston, local NHA, tinha como onde já estava jogando um de nossos pivôs RO- seu técnico princi- LANDO FERREIRA. pal ARY VIDAL. Eu Percebeu-se sempre neste período uma von- atuei como Assis- tade até certo ponto oculta de surpreender a tudo e tente Técnico, ao a todos. A dedicação aos treinamentos era muito lado do Prof. forte; OSCAR e MARCEL exerciam uma liderança Valdyr Barbanti, incrível sobre os demais atletas. excelente prepa- 13
  • 14. Pan-87: Uma Conquista Histórica José Medalha A forma como a equipe atuava tanto na sabiam plenamente do seu papel naquela sele- parte defensiva como no ataque, não continha ção, ou seja, muito segredo. Sistema individual com ajuda. armadores Duas variações de Defesa por Zona e muita armavam pa- ênfase no jogo de transição. ARY dava total ra arremesso liberdade aos jogadores no ataque. Tínhamos da dupla OS- apenas 04 jogadas muito simples, com todas CAR MARCEL priorizando arremessos de curta e longa dis- e seus imedi- tância, nosso principal poder de fogo naquele atos substitu- time. tos, entre os quais esta- A bem da verdade, analisando friamente vam PAULI- o que ocorria, estávamos à frente no tempo. A NHO VILAS linha dos três pontos havia sido introduzida 02 BOAS, ANDRE anos antes. A seleção brasileira foi talvez a pri- STOFFEL, mesmo CADUM, e os nossos homens meira a se utilizar desse recurso. Hoje equipes altos encarregados de bloqueio de rebote, mui- da Europa e da NBA, além de muitas do Brasil, tas vezes recuperavam bolas no ataque e de- tem como primeira opção a finalização quando volviam para o perímetro, para que os finaliza- o jogador se sente em condições de arremes- dores cumprissem seu papel à risca. so. Na década de 80, arremessar sem a garan- tia de ter um ou dois homens postados para Uma característica da equipe consistia possível rebote, ou ainda antes de se esgotar em jogar e decidir com muita velocidade. Tem- metade do tempo de posse de bola era consi- po de posse de bola raramente atingia 20 se- derado como grande gundos. Naquela época grandes equipes ti- irresponsabilidade tá- nham como número de ataques, resultante de tica. No entanto, essa posses de bola, uma media de 75 posses por liberdade era perfei- jogo. A seleção brasileira ultrapassava 100. tamente ajustada a Obviamente o time adversário tentando equili- nossa equipe. Fisica- brar esses números e, não estando preparado mente o time para tal, incorria em muito maior número de ―voava‖, taticamente erros. Esses são pequenos detalhes que podem as coisas eram muito ser considerados como fundamentais inclusive, simples. Jogadores no jogo final e decisivo contra a incrédula equi- 14
  • 15. Pan-87: Uma Conquista Histórica José Medalha norte-americana diante da avalanche de arre- o técnico privilegiado a dirigir nossa seleção messos, bem sucedidos. masculina (quinta colocada) contra a equipe norte- Outro aspecto a ser ci- americana em Barcelona, tado como consequência do mantendo uma boa base ain- resultado final, foi o impacto da dos atletas de 87. A perda causado pela perda do título do título olímpico em 88 e a em basquetebol dos EUA em má colocação no Mundial de sua própria casa, tendo, pela 90 acrescentaram motivos pa- primeira vez, sua seleção der- ra essa inovação, o que con- rotada por mais de 100 pon- tribuiu demais para a divulga- tos. A reação a esse aconteci- ção do basquetebol em escala mento provocou o início da mundial. De certa forma, con- discussão da necessidade de tribuímos muito para que isso colocarem atletas da NBA pa- acontecesse. ra defender o time america- no, o que viria a se concreti- Muito se pode falar ainda so- zar cinco anos depois em 1992, com o surgi- bre 87. Deixo apenas essas palavras como mento do ―Dream Team‖, formado por Michael contribuição e homenagem aos nossos atletas Jordan, Magic Johnson, Larry Bird e mais ou- e companheiros da Comissão Técnica, agora tros ícones do basquetebol profissional. Como que já se passam 24 anos do inesquecível 23 ex-treinador da seleção brasileira na época, fui de agosto de 1987 para muitos de nós. Quem é José Medalha? Possui graduação em Educação Física (Licenciatura) pela Escola de Educa- ção Física do Estado de São Paulo ( atual USP) (1967), Especialização em Técnica Desportiva (Basquetebol ) pela Escola de Educação Física do Esta- do de São Paulo (1968), Mestrado em Educação Física pela INDIANA UNI- VERSITY, BLOOMINGTON, EUA (1979), Doutorado em Educação Física pe- la INDIANA UNIVERSITY, BLOOMINGTON, EUA (1982) e Livre Docência em Educação Física pela UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (1990). Técnico de basquete, Agente FIBA e Consultor Técnico. Mantém o site http:// www.josemedalhabasketball.com/ 15
  • 16. Quem é Alessandro Trindade? Desenhista desde criança, , arquiteto gaúcho e foi atleta da UFPel em Jogos Universitários Gaúchos (JUGs) e agora é basqueteiro de final de semana. Mudou-se para Bahia há dez anos. Quando não está projetando, faz charges e ilustrações para Revista Mais Basquete. 16
  • 17. Seria o basquetebol um jogo desportivo coletivo aeróbio? Fabrício Boscolo Del Vecchio O basquetebol, modalidade inserida no que o basquetebol tem predominância anaeró- rol dos Jogos Desportivos Coletivos de invasão, bia. Para os que não se lembram das vias provoca que jogadores, de duas equipes dife- energéticas, um rentes, tentem encestar a bola. Para isto, con- bom trabalho de siderando a altura do conjunto cesta-tabela, e revisão recente foi por haver a invasão, espera-se que seus prati- publicado (Baker, cantes exibam aptidão física elevada. McCormick, & Ro- bergs, 2010). Nele, Dentre os componentes mais relevan- são indicadas três tes, identificam-se dois: o componente aeróbio vias predominan- e o neuromuscular. Quanto ao segundo, pon- tes: a derivada do tua-se que níveis elevados de força e potência sistema dos fosfa- são essenciais para arremessos, passes deslo- tos, a glicólise e a camentos e saltos, mas esta variável não será respiração mito- foco do presente texto. Nesta oportunidade, condrial. No entanto, vale lembrar o ATP mus- será discutido o aspecto aeróbio da modalida- cular previamente disponibilizado, o qual não de, e não o anaeróbio. Por quê? Quanto à con- foi considerado nesta perspectiva, devido ao tribuição dos sistemas energéticos, muitos tra- pouco tempo de manutenção do esforço por balhos, autores e treinadores tendem a indicar este sistema. Assim, um dos grandes E porque o basquetebol é predominan- problemas, não tão atuais, temente aeróbio? Apesar de os livros mais tra- em prescrição do exercício dicionais de fisiologia do exercício (McArdle...) físico é acreditar que, para e treinamento esportivo (BOMPa) indicarem ser aeróbia, a atividade que o sistema aeróbio é ativado após tempo precisa durar mais de 20 moderado de esforço, entre oito e doze minu- minutos, ser de intensidade tos, atualmente se sabe que isto não é verda- leve ou moderada, e assim de. Pensando no exercício contínuo, como ca- por diante... minhadas, corridas, pedaladas com a mesma 17
  • 18. Seria o basquetebol um jogo desportivo coletivo aeróbio? Fabrício Boscolo Del Vecchio moderado de esforço, entre oito e doze minu- Investigação que quantificou a relação tempo- tos, atualmente se sabe que isto não é verda- movimento na modalidade observou que os de. Pensando no exercício contínuo, como ca- jogadores investem 8,8±1% do tempo total de minhadas, corridas, pedaladas com a mesma jogo com movimentos específicos de alta in- intensidade ao longo de todo o esforço, ou com tensidade, 5,3±0,8% com sprints e 2,1±0,3% pequenas modificações sem muito significado, com saltos (Abdelkrim, Fazaa, & Ati, 2007). O o sistema aeróbio passa a ser predominante restante do tempo é dispendido com caminha- após 75 segundos de atividade (Gastin, 2001). das e trotes. Complementarmente, os mesmos Assim, mesmo que você corra na quadra, qui- autores observaram que: cando a bola, de modo muito intenso, o mais i) a frequência cardíaca média de jogo é de forte que puder, e este esforço durar 1 min e 171±4 bpm, embora haja diferenças sig- 15 segundos, ele será predominantemente nificantes entre pivôs e armadores; e mantido pela via aeróbia de fornecimento de ii) a concentração de lactato sanguíneo che- energia. gou a 6,05±1,27 mmol (Abdelkrim, Fa- Assim, um dos grandes problemas, não zaa, & Ati, 2007) tão atuais, em prescrição do exercício físico é Assim, com diferentes paradas bruscas, acreditar que, para ser aeróbia, a atividade mudanças de direção, saídas rápidas, passes e precisa durar mais de 20 minutos, ser de in- toda a dinâmica envolvida na modalidade, ele tensidade leve ou moderada, e assim por dian- é tipicamente considerado um exercício inter- te... O que foi indicado por Gastin (2001) ex- mitente (Glaister, 2005). E, neste âmbito, a plica o exercício contínuo, no entanto, parece que basquetebol não tem esta característica. 18
  • 19. Seria o basquetebol um jogo desportivo coletivo aeróbio? Fabrício Boscolo Del Vecchio fisiologia do exercício contínuo não ajuda, pois com o passar do tempo, e o acúmulo de esfor- não considera o acúmulo das diferentes pro- ços, como acontece no interior dos quatro pe- porções de esforço:pausa e não considera a ríodos do basquete e ao longo de todo o jogo, amplitude desta relação. Como indicado anteri- certamente o predomínio energético desta ormente, o metabolismo aeróbio é ativado de modalidade é aeróbio (Stone & Kilding, modo muito mais precoce e esforços que jul- 2009). gávamos serem predominantemente anaeró- Desta reflexão inicial, vale a pergunta: se bios são, na verdade, predominantemente ae- o componente aeróbio é predominante, o que róbios. Para exemplificar isto, em 1996 um é determinante do êxito esportivo no basque- grupo de investigadores canadenses propôs tebol? Série de estudos brasileiros dá indicati- que sete homens fizessem três séries de esfor- vo de que força, potência e velocidade são es- ços cíclicos muito intensos que duravam 30 se- senciais (Moreira, Okano, Souza, Oliveira, & gundos e, após estes esforços, descansassem Gomes, 2005; Moreira, Oliveira, Okano, Souza, por quatro minutos (em relação de esfor- & Arruda, 2004). Outros trabalhos ainda dão ço:pausa de 1:8). Na primeira série de esforços de 30 se- gundos, o componente aeróbio foi responsável por 16-28% da energia provida, a degradação de fosfocreatina por 23-38% e a glicólise ana- eróbia por 50-55%, o que caracteriza esta pri- meira série como anaeróbia. No entanto, com o acúmulo de mais duas séries, interceptadas por quatro minutos de recuperação cada, as coisas mudam. Ao final da terceira série, cons- tatou-se que o sistema da fosfocreatina (ATP- CP) foi responsável por, aproximadamente, 15% de toda energia produzida, a glicólise anaeróbia foi responsável por percentual entre 10-15% e o componente aeróbio por, aproxi- madamente, 70% de toda energia necessária para se cumprir esta última série (Trump, Hei- genhauser, Putman, & Spriet, 1996). Ou seja, 19
  • 20. Seria o basquetebol um jogo desportivo coletivo aeróbio? Fabrício Boscolo Del Vecchio elevada atenção ao componente aeróbio intermitentes. (Stone & Kilding, 2009), realizado de modo ii) Uma série é composta por duas corridas clássico, com corridas, ou de modo mais con- intermitentes. A primeira deve cumprir temporâneo, usando condicionamento específi- espaço próximo de 40 metros em elevada co da modalidade, como os jogos em espaços intensidade (10 segundos), realização de reduzidos, principalmente os de meia quadra, 30 segundos de recuperação ativa e, en- ataque-defesa (Montgomery, Pyne, & Minahan, tão, 180° de mudança de direção para 2010). Por fim, registra-se, ainda, o uso de corrida intensa de mais 40 metros. exercícios intermitentes de alta intensidade, os iii) Entre cada uma destas séries se dá inter- quais, embora não simulem todas as situações valo próximo de 90 segundos, em corrida de jogo, contribuem para a rápida elevação da de baixa intensidade. aptidão física dos jogadores e adequada manu- tenção da mesma ao longo da temporada com- Com o tempo, espera-se apresentar no- petitiva (Zadro, Sepulcri, Lazzer, Fregolent, & vas atividades, em diferentes contextos, focan- Zamparo, 2011). do o desenvolvimento e aprimoramento meta- bólico de atletas com foco no basquetebol. E, A título de exemplo, e sem envolver ne- para um futuro próximo, novas temáticas nhum tipo de atividade com bola, pode-se exe- emergentes, como periodização do treinamen- cutar a seguinte atividade: to e o controle e monitoramento das cargas de i) 2 a 4 séries de 10 repetições de corridas treino serão destaque nesta coluna. 20
  • 21. Seria o basquetebol um jogo desportivo coletivo aeróbio? Fabrício Boscolo Del Vecchio Referências seletivas no basquetebol durante um mesociclo Abdelkrim, N. B., Fazaa, S. E., & Ati, J. E. de preparação: implicações sobre a velocidade e (2007). Time–motion analysis and physiological as diferentes manifestações de força. Revista data of elite under-19-year-old basketball pla- Brasileira de Ciência e Movimento, 13 (2), yers during competition. British Journal of pp. 7-15. Sports Medicine , 41 (2), pp. 69–75. Moreira, A., Oliveira, P. R., Okano, A. H., Souza, Baker, J. S., McCormick, M. C., & Robergs, A. R. M., & Arruda, M. (2004). A dinâmica de alteração (2010, October). Interaction among SkeletalMus- das medidas de força e o efeito posterior dura- cleMetabolic Energy Systems during Intense douro de treinamento em basquetebolistas sub- Exercise. Journal of Nutrition and Metabo- metidos ao sistema de treinamento em bloco. lism , pp. 1-13. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 10 (4), pp. 243-250. Gastin, P. B. (2001). Energy system interaction and relative contribution during maximal exerci- Stone, N. M., & Kilding, A. E. (2009). Aerobic ses. Sports Medicine, 31 (10), pp. 725-741. Conditioning for Team Sport Athletes. Sports Medicine, 39 (8), pp. 615-642. Glaister, M. (2005). Multiple sprint work: Phy- syology response, mechanisms of fatigue and de Trump, M. E., Heigenhauser, J. F., Putman, C. T., influence of aerobic system. Sports Medicine, & Spriet, L. (1996). Importance of muscle phos- 35 (9), pp. 757-777. phocreatine during intermittent maximal cycling. Journal of Applied Physiology, 80 (5), pp. Montgomery, P. G., Pyne, D. B., & Minahan, C. L. 1574-1580. (2010). The Physical and Physiological Demands of Basketball Training and Competition. Interna- Zadro, I., Sepulcri, L., Lazzer, S., Fregolent, R., tional Journal of Sports Physiology and Per- & Zamparo, P. (2011). A protocol of intermittent formance, 5 (1), pp. 75-86. exercise (shuttle runs) to train young basketball players. Journal of Strength and Condition- Moreira, A., Okano, A. H., Souza, M., Oliveira, P. ing Research, 25 (6), pp. 1767–1773. R., & Gomes, A. C. (2005). Sistema de cargas Quem é Fabrício Boscolo Del Vecchio? Bacharel (2001) e Licenciado (2004) em Educação Física pela UNICAMP, on- de também completou seus estudos de mestrado (2005) e doutorado (2008) em Ciências do Esporte, o professor Fabrício Boscolo Del Vecchio circula nos grupos de estudos dos pós-graduações da FEF-UNICAMP, EEFE-USP e ESEF- UFPel, além de ser membro da National Strength and Conditioning Associa- tion (EUA), do Comitê Científico do GTT12 - Treinamento Esportivo do CBCE e Moderador da Comunidade Judô do Centro Esportivo Virtual. Tem experiência na área de Educação Física, com ênfase em Modalidades de Combate, Treinamento Esportivo e Saúde Coletiva e Atividade Física. Autor de artigos e livro, também foi preparador físico de lutadores de Judô, Brazili- an Jiu-Jitsu e Taekwondo. Atualmente é Professor da ESEF-UFPel (Pelotas- RS) onde tem contribuído com a preparação física de atletas e equipes (lutas e basketball) e conquistado resultados positivos em competições locais, es- taduais e nacionais. 21
  • 22. 22
  • 23. Como Formar um Armador? Marcello Berro Considero o basquetebol, entre os es- Outra parcela importante é a sintonia. portes coletivos, o que exige a maior necessi- Existir unidade onde os atletas estejam interli- dade dos atletas estarem permanentemente gados, utilizando o lado racional, com uma co- sintonizados, conectados. Essa necessidade nexão espiritual, gerando energia positiva, que requer desde a iniciação, um forte embasa- tornará a equipe capaz de superar situações mento do lado cognitivo e até espiritual dos adversas de qualquer espécie. atletas. Sou adepto da teoria onde um atleta Entendo que o aspecto físico seja o mais com raciocínio lento e sem a ―presença de es- delicado de ser trabalhado. Quando pensamos pírito‖, não joga basquete! Ouvi do meu pri- em treinamento físico automaticamente reme- meiro técnico ( Professor Israel Washington de te a força, músculos, explosão. Principalmente Freitas) a seguinte frase: “O xadrez e o basquetebol são os dois únicos esportes, onde os atletas que se destacam, usam mais o que existe acima O armador necessita “ler” o da sobrancelha do que o resto do corpo”. que sugere a defesa adversária (veneno) e Desde quando virei técnico, essa frase preparar os movimentos ecoa em meus pensamentos. Tento transmitir ofensivos (antídoto). O essa necessidade dos atletas possuírem uma armador precisa ser convicto, percepção (leitura) apurada de todos os movi- seguro do que está fazendo e mentos e variações, muitas vezes sutis (o que dar a confiança aos atletas faz a diferença), que acontecem durante uma das outras posições, onde eles partida de basquetebol. Quando um técnico acreditem cegamente que o consegue que seus atletas estejam focados, que está sendo determinado é atentos e interpretando o que o jogo propõe o melhor para a equipe. um quarto do caminho para a vitória está ga- rantida. 23
  • 24. Como formar um Armador? Marcello Berro na iniciação, o aspecto físico tem que ser pen- FUNDAMENTAL) do basquetebol. sado em exercitar exaustivamente o lado coor- Em todas as equipes que dirigi (e em denativo, com exercícios que leve a criança/ todas que dirigirei) o armador é o capitão. adolescente a dominar seu corpo, aliando a Penso que não pode haver um armador tímido maior quantidade possível de movimentos com (dentro de quadra), ou que não possua o espí- equilíbrio e velocidade. A força e explosão de- rito de liderar. Afinal, quem determina as ve ser consequência de uma boa base coorde- ações ofensivas? Corrige os posicionamentos? nativa, jamais o inverso. Quem é o cérebro do time? Quem é o respon- Todos esses aspectos, citados anterior- sável por interligar os quatro aspectos mente, valerão muito pouco se os atletas não (cognitivo, espiritual, físico e os fundamentos) dominarem os fundamentos (derivação mascu- que resumem o basquetebol? Quem é o técni- lina singular de FUNDAR, BASE PRINCIPAL, co dentro de quadra? 24
  • 25. Como formar um Armador? Marcello Berro O armador necessita ―ler‖ o que sugere (posicionamento) que seja adequado para su- a defesa adversária (veneno) e preparar os perar a defesa. movimentos ofensivos (antídoto). O armador Por ser o atleta que normalmente faz a precisa ser convicto, seguro do que está fazen- transição e quem organiza a equipe, os funda- do e dar a confiança aos atletas das outras po- mentos (bons ou ruins) do armador se tornam sições, onde eles acreditem cegamente que o evidentes. Os defensores (os inteligentes) não que está sendo determinado é o melhor para a darão espaço para o armador pensar, enxergar equipe. Ele precisa conhecer as capacidades o jogo e farão o possível para que ele não che- físicas, as qualidades e deficiência dos funda- gue na posição ideal para ―cantar‖ o movimen- mentos de cada companheiro (se possível dos to de ataque, tentarão ―quebrar‖ o primeiro adversários) para poder escolher o encaixe passe. 25
  • 26. Como formar um Armador? Marcello Berro No ataque, o manejo de bola, domínio até mesmo marcar nessa situação. Todos os com ambas as mãos, mudanças de direção, os atletas de uma equipe até SUB-15 devem trei- passes precisos de todos os tipos e a visão pe- nar (no mínimo) como armadores, exercitar a riférica são os fundamentos primordiais de um liderança, a visão de jogo. bom armador. Na defesa, o veloz deslocamento de pernas, o agressivo posiciona- mento dos braços, o cos- tume de sempre incomo- dar quem tem a bola sem jamais ser ultrapas- sado e induzir o adver- sário a driblar com a mão ―fraca‖ proporcionará um grande conforto a todos os demais defensores. Na formação, a troca de posições nos treinamentos, é determi- nante para que um en- tenda como é a função do outro, conheça as dificul- dades e, assim, respeitar quem joga naquela posi- ção, até por que, invaria- velmente, acontece de um armador ter que usar um giro de pivô (situação de vantagem de altura sobre seu marcador) ou 26
  • 27. Como formar um Armador? Marcello Berro A especialização precoce é o maior ―crime‖ que um técnico pode cometer com os seus atletas, embora em busca de resultados essa prática seja muito comum. Provo essa visão com duas perguntas: 1. Quantos ―super-pivôs‖ (cestinhas de cam- peonatos nas categorias inferiores a SUB- 15) pararam de crescer e não tiveram o embasamento de fundamentos de um la- teral ou de um armador e acabaram pa- rando de jogar? 2. Imagine uma seleção brasileira com um armador de mais de dois metros, habili- doso, veloz com bom arremesso e você sendo lembrado como o técnico formador desse talento. O que vale mais, o título no Sub-15 ou ser o técnico formador de um atleta diferenciado? Quem é Marcello Berro? Marcelo Berro é Técnico Provisionado pelo CREF-RJ em 2004, tra- balhou em diversos clubes do Rio de Janeiro e da Bahia (Botafogo, América F. C., Hebraica-RJ, Grajaú Country Clube, Flamengo, Ta- lentos nativos e Faculdade Souza Marques). Atualmente é Coorde- nador Técnico do Centro de Treinamento do Bábby. E-mail: mberrocoach@hotmail.com, Twitter: @coachberro, 27
  • 28. Conecte-se ao PBC e fique por dentro do basquete no sul do Brasil. www.pelotasbasketballclube.esp.br www.twitter.com/pelotasbasket 28
  • 29. Esporte, Escola e Educação Física: pensando na história para buscar novos caminhos Ronaldo Pacheco Nesta minha primeira participação nesta cada pela censura, e pela ausência de líderes, revista, gostaria de abordar um tema que tem que se refugiavam do país ou eram presos e feito parte das discussões atuais (ainda mais torturados, nos porões da ditadura. com a proximidade da realização da Copa do O uso do esporte como principal e na Mundo de Futebol e das Olimpíadas no Brasil), maioria das vezes único instrumento da educa- mas que na verdade foram iniciadas a partir da ção física escolar, para o desenvolvimento es- década de 80. Penso ser importante realizar portivo, teve um lado altamente positivo, pois uma reflexão sobre a questão do esporte na nesta época, com o advento da criação dos Jo- escola, e nos artigos posteriores pretendo tra- gos Escolares Brasileiros, houve um investi- tar especificamente, sobre o basquetebol na mento maciço na construção de instalações, educação física escolar. compra de materiais esportivos, e consequen- Antes de tudo, é importante esclarecer temente o surgimento de vários atletas em di- que estas minhas reflexões se originam nas versas modalidades que se destacaram no es- minhas vivências e estudos nestes quase qua- porte brasileiro e internacional. Oscar, Marcel, renta anos ligado à prática esportiva e ensino Hortência, Paula, Joaquim Cruz, Bernard, Willi- escolar e universitário. Como toda reflexão, am, e muitos outros em diversas modalidades, está sujeita a contestação e ao debate de idei- são exemplos claros desta fase. É bem verda- as que ao final é a base de todo o aprendizado. de que muitos destes atletas não foram cria- dos e desenvolvidos no ambiente escolar, mas Para iniciar estas reflexões é necessário ao terem contato com a modalidade na escola, fazer um resgate histórico sobre o uso do es- buscavam clubes e/ou outros centros onde se porte na educação física escolar. Para os mais especializavam e tinham oportunidade de par- novos, é importante lembrar que nos meados ticipar de várias competições. da década de 1960, com a implantação da di- tadura militar no nosso país, o esporte foi utili- Por outro lado, não há como negar que zado como forma de melhorar a autoestima do na educação física escolar, voltada para o trei- povo e também de proporcionar uma válvula namento das equipes colegiais, havia também de escape para uma população que vivia sufo- uma exclusão muito grande dos menos talen- 29
  • 30. Esporte, Escola e Educação Física: pensando na história para buscar novos caminhos Ronaldo Pacheco geriam concepções filosóficas, sociológicas e políticas que tornassem a prática da educação Será que antes de física mais fundamentada em uma visão crítica pensarmos na formação e menos ―alienante‖ da cultura corporal de esportiva, não devemos movimento. nos preocupar com a No meu modo de ver, a quase alfabetização motora das ―criminalização‖ do uso do esporte, foi um en- gano que levou a tentativa de afastamento do crianças, como passo seu uso nas aulas de educação física escolar. O inicial? problema nunca foi do esporte em si, mas do uso que se fez dele de forma excludente e com tosos, pois com turmas grandes, não havia co- fins unicamente competitivos. Ressalto tam- mo os professores treinarem as equipes que bém, que a competição quando bem dirigida é representavam as escolas. Esta exclusão afas- um elemento altamente motivador e nos leva a tou muita gente de uma prática saudável da entender as nossas limitações e possibilidades, atividade física, pois era quase que exclusiva- mas por outro lado, é perniciosa quando leva mente voltada para os treinamentos. Muitos em conta apenas a separação entre vencedo- dos que nos leem neste momento podem dis- res e perdedores. A competição foi taxada des- cordar do que foi dito acima, mas provavel- ta forma para os críticos das modalidades es- mente foram aqueles que ou fizeram parte das portivas. equipes colegiais ou tinham ojeriza, e por Muitos professores formados nesta épo- qualquer destes fatos, não se sentiram discri- ca tomaram contato com um discurso político minados ou excluídos. ideológico que, incapaz de compreender de Com o final da ditadura militar, vários forma ampliada o esporte, passou então a professores e autores da área da educação físi- paulatinamente negá-lo na escola. ca, que se sentiam incomodados com a utiliza- A verdade é que somando a insuficiente ção indiscriminada dos esportes na educação e míope preparação dos professores para a física escolar, começaram a contestar este uso. formação esportiva, e a queda da valorização Esta prática de forma excludente, e muitas ve- da educação física no âmbito escolar, passa- zes irrefletida, levou estes estudiosos a contes- mos a viver uma época de alto índice de tar o uso de esporte na escola de forma con- ―analfabetismo motor‖ devido ao abandono do tundente. As novas abordagens propostas su- 30
  • 31. Esporte, Escola e Educação Física: pensando na história para buscar novos caminhos Ronaldo Pacheco papel indispensável que a prática de atividades devemos nos preocupar com a alfabetização física deve ter na vida de todo ser humano. motora das crianças, como passo inicial? Como realizar isso se na fase de maior importância É bem verdade que existem muitos pro- para aquisição adequada da descoberta corpo- fessores que, conscientes deste seu papel, tra- ral e dos movimentos básicos (1º ao 5º ano), vam uma luta hercúlea para conduzir seus alu- não temos professores de educação física nos nos para o alcance dos inúmeros objetivos que colégios? a educação física pode promover, porém há outros tantos que se acomodam e se escon- Penso que é possível uma convivência dem atrás de discursos vazios sobre uma dita harmoniosa entre o esporte introduzido na es- prática socializadora, abandonando seus alu- cola e o esporte de rendimento, desde que se- nos a meros momentos de recreação descom- ja respeitada cada etapa do desenvolvimento promissada e banal. motor, cognitivo e afetivo do aluno e que o es- porte não seja uma imposição e instrumento O que vemos atualmente nos momentos único da educação física. Dar condições moto- de discussão sobre a prática esportiva no nos- ras e atrair para o esporte em vez de impor a so país, é que a escola não tem cumprido o prática esportiva, talvez seja o primeiro passo seu papel de formadora de futuros esportistas. para esta convivência. Apesar de concordar que o papel da educação física escolar está muito abaixo do esperado, Muitas são as maneiras de se promover será que esta falta de formação esportiva inici- uma formação adequada e para isso vários au- al tem como única vilã a atuação dos professo- tores atuais ligados à pedagogia do esporte res de educação física na escola? Será que an- têm apresentado caminhos. Sobre isso preten- tes de pensarmos na formação esportiva, não do discorrer no próximo artigo. Quem é Ronaldo Pacheco? Professor de educação física e técnico de basquetebol, com mestrado na área de educação física e especialização em psicologia do esporte. Professor da Universidade Católica de Brasília e da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, cedido à Universidade de Brasília. 31
  • 32. Formando Atletas e Técnicos Através do Esporte Universitário Carlos Alex Soares Quando eu conheci o basquete eu só americanos os fazia (ainda faz?) utilizarem o queria atirar a bola na cesta, vê-la passar pelo talento esportivo como trampolim para uma aro, sentir o som do quique na quadra... Logo vida melhor e se o talento existir concretizam eu queria vestir a camiseta da seleção, aquele o sonho de jogar na NBA (ou na NFL ou na uniforme listrado me encantava e minha equi- MLB), mas também serão seres humanos mui- pe também tinha um uniforme listrado, era da to melhores... Aí me lembro de outro vídeo Adidas, lembro bem dele com se fosse hoje... (http://youtu.be/G40g9RTxurw) que fala da Eu tinha um objetivo: aprender a jogar para importância da NCAA e do modelo adotado pe- jogar pela seleção. Claro, eu desconhecia a po- lo esporte americano: mais de 300 mil estu- liticagem no esporte e como os atletas do inte- dantes universitários com algum tipo de bolsa rior são desvalorizados, mesmo com algum ta- universitária para jogar o esporte que os fazia lento – eu realmente tinha pouco tempo de brilhar na infância/adolescência. quadra e quando me destaquei deixei, por um Então, eu me pergunto: com o que o jo- tempo, o que todos chamamos de plano B, vem brasileiro apaixonado pelo basquete so- mas que deve ser o plano A: os estudos. Minha nha? Em ser igual ao Carioquinha, como eu mãe não me deixou sair de Bagé quando a fazia? Em arremessar de longe e ouvir o baru- proposta de Santa Cruz do Sul foi feita. E foi lho da rede, vestindo aquele uniforme listrado? justo. Perdi uma oportunidade, mas aprendi a lição. Mas quero falar dos sonhos. Vi um vídeo da NBA (http://youtu.be/o801DCy_0DA) e fi- quei pensando nos moleques americanos, so- nhando em jogar na NBA. Ver um dos muitos vídeos de Michael Jordan e de Magic Johnson mostra como eles sonhavam em ir para a... Universidade. O sistema de ensino, a segrega- ção racial do passado e a pobreza dos afro- 32
  • 33. Formando formar um Armador? Como Atletas e Técnicos Através do Esporte Universitário Marcelo Berro Carlos Alex Soares Sonham com cravadas magníficas? Sonham e NBA eles são obrigados a estudar e, conse- passar bolas para o arremesso certeiro do Mar- quentemente, melhoram sua cultura e abrem o celinho? Ou em deixar o Bábby livre em um leque para a aquisição de conhecimentos e de pick and roll? Não, primeiro eles nem sabem outra língua que lhes fará muito bem no futu- os nomes dos jogadores brasileiros e segundo ro. eles sonham em jogar nos Estados Unidos, na Mas na análise do que nossos jovens so- NBA. Assim eles poderão alcançar a mesma nham – os sonhos de outra cultura – percebe- fama que Nenê, Leandrinho, Varejão e, recen- mos como a influência americana é muito temente, o Splitter que obtiveram ao arriscar grande em nossa cultura e, para concluir isso, muito e conseguiram jogar naquilo que os pró- não precisa ser um grande gênio, nem mesmo prios esportistas da NBA dizem no vídeo: o ser gênio, pois isso é óbvio. Mas só nos chega melhor basquete do mundo! o reflexo da coisa boa, pronta. O processo ár- Pelo menos sonhando com uma vaga na duo de construção é esquecido por nossos 33
  • 34. Formando formar um Armador? Como Atletas e Técnicos Através do Esporte Universitário Marcelo Berro Carlos Alex Soares Não falo no vazio, sem experiência algu- dentro da quadra, ela foi construída e, nesse ma. Quando um pai libera um filho, com seus processo, muita cultura foi adquirida antes dos 14, 15 anos para estudar e jogar por um clube milhares de dólares que ainda acumula anual- em outra cidade ou mesmo estado, pressu- mente. põem-se que haja confiança nessas entidades Nenê, Varejão, Leandrinho e Splitter fa- e que elas irão cumprir com a legislação brasi- zem o que gostam, mas sabem que a aposen- leira, especialmente no que diz respeito ao di- tadoria esta nos contratos que firmarem nessa reito e dever da criança e adolescente estar na fase produtiva e, se perderem tudo, terão ape- escola até os 18 anos. Os uruguaios fazem isso nas a lembrança de um sonho realizado, mas com suas seleções: concentram em Montevi- que não manteve as melhorias que fizeram déu e os matriculam em algum liceu da capital parte do cotidiano por algum tempo. Se, em no período que estivem a serviço da seleção. Não basta matricular, tem que acompa- nhar frequência, desempenho, estudo e notas. O que eu proponho é uma parceria entre a Confederação Brasileira de Basketball (CBB) e Confederação Brasileira de Desporto Univer- sitário (CBDU) para fortalecer e dignificar os Jogos Universitários Brasileiros (JUB’s), for- mando parcerias com universidades em todo o país, pois já é visível que as universidades que apoiam o basquete no Brasil são retribuídas com visibilidade midiática e retorno financeiro. Então, nessa projeção de futuro e da busca do sonho americano, o sonho dos norte- americanos, a base é o que mais me preocupa. Para chegar a NBA, Michael Jordan teve que estudar no ensino médio, termina-lo dentro de uma determinada faixa etária e cursar, efetiva- mente, o curso de Geografia na Universidade da Carolina do Norte. Sim, se é uma referência 34
  • 35. Formando formar um Armador? Como Atletas e Técnicos Através do Esporte Universitário Marcelo Berro Carlos Alex Soares uma hipótese remota, Jordan tivesse tido uma vens fazem com o exército brasileiro, exigirão lesão ou perdesse tudo, seria geógrafo ou pro- aulas de educação física mais eficazes e o cír- fessor de geografia. Isso não é raro no esporte culo de importância de cada área se fechará, norte-americano: fortunas vêm nos anos dou- elevando o nível da educação brasileira e o es- rados e se vão ao estalar dos dedos ou ao ro- porte se beneficiará desse processo. lar dos dados... Mas para isso nosso imediatismo teria Esse modelo educativo-esportivo é fun- que dar lugar a um processo de planejamento damental para o crescimento do esporte no a médio e longo prazo, visando à continuidade Brasil. Pessoas que possuem habilidade media- na formação de atletas e a formação de líderes na poderiam estar na universidade por causa para diversas áreas entre aqueles que tiveram de seu talento e, entre estes, alguns excelen- a aquisição de hábitos saudáveis e levarão tes jogadores poderão surgir. Aqueles que vi- consigo a ótima lembrança do esporte na fase sualizarem no esporte uma oportunidade de universitária, mas não serão atletas de elite. crescerem profissionalmente, como muitos jo- Um grande exemplo disso é Barack Obama. 35
  • 36. Formando formar um Armador? Como Atletas e Técnicos Através do Esporte Universitário Marcelo Berro Carlos Alex Soares Bom, dediquei um espaço a formação de na atualidade, esse processo de massificação é atletas, pois é uma temática que gera muito superior ao que podem responsabilizar-se. No- debate, muitas ideias e possui um leque de te- vos técnicos surgirão. ses que o que sugiro é apenas uma fagulha E aí, com muitos técnicos em ação, tal- perto da necessidade de aquecer o esporte no vez a revitalização da ATEBA (Associação de país. Técnicos de Basquete) seja viável e seríamos Entretanto, a proposta aqui elencada perfeita capazes de formar os armadores, os também gerará novos beneficiados: os profes- técnicos para comandar nossas seleções e ain- sores/técnicos. Por quê? Simples. Nesse pro- da ―garimpar‖ atletas com potencial para tor- cesso, o crescimento exponencial de competi- nar-se referência em âmbito nacional. ções e equipes, agora no nível universitário, Provavelmente possamos voltar a ter multiplicará os espaços de trabalho para técni- grandes e ameaçadoras equipes nas disputas cos que mesmo que haja um corporativismo de títulos no presente e não apenas históricos seletivo entre os técnicos dos clubes de ponta e jurássicos vencedores do passado. 36
  • 37. 37
  • 38. Ideias Sobre a Gestão do Basquete Brasileiro Jose Alberto Freyesleben Valle Pereira Primeiramente parabéns aos que tive- No caso específico do basquete, está ram a idéia de lançar mais esse veículo de no- mais do que na hora de termos um banco de tícias sobre o basquete e aqueles que terão a dados fidedigno, para que possamos mensurar sensibilidade e oportunidade de acessá-lo, as ações. Saber quantos clubes cada federação agradecendo o convite para poder expressar o tem como filiados, quais competições promo- que penso. ve, que categorias jogam no estado, e número de atletas registrados por idade. Após, fazer- Falar sobre gestão e funcionamento no mos esse raio-X nos clubes, até acredito que atual momento que atravessamos não é tarefa muitos desses dados a CBB possui mas não fácil até porque não sou um especialista na utiliza. área, mas na tentativa de ajudar vou tentar traçar uns parâmetros em cima do que estou Contratar técnicos capacitados para as vendo na entidade que administra o basquete áreas existentes, o que possibilitará o desen- e deveria ser a responsável por seu fomento volvimento da gestão, estratégias de ação e do em todos os níveis. planejamento geral da entidade, dentro da dis- ponibilidade financeira existente. O basquete e o esporte brasileiro em ge- ral sofrem pela falta de bons dirigentes, e mui- Com o corpo técnico e funcional adequa- tos dos qualificados que temos não são apro- do e capacitado a entidade passa a ter credibi- veitados, por diversos motivos que não cabe lidade e desenvolver seus projetos, buscar re- aqui elencar, mas que entendo seja do conhe- cursos, gerir as atividades para as quais foi cri- cimento de todos. ada. Acredito que para iniciar uma gestão te- Todos nós sabemos que existem cargos mos que saber as condições da entidade que políticos e técnicos, e devemos identificar as estamos assumindo. Ver a saúde financeira, o pessoas que os ocuparão, para tanto as esco- funcionamento administrativo, conhecer o qua- lhas tem que ser baseadas nos perfis de quem dro funcional e sua capacitação, rever organo- queremos que ocupe uma função, seja ela po- grama, se está adequado às atividades que a lítica ou técnica. entidade desenvolve e saber qual a missão de- la. 38
  • 39. Ideias Sobre a Gestão do Basquete Brasileiro José Alberto Freyesleben Valle Pereira Todos nós sabemos que existem cargos tendimento, ações prioritárias, todas elas hoje políticos e técnicos, e devemos identificar as são, mas precisamos começar certo para ter pessoas que os ocuparão, para tanto as esco- condições de definição o que deve ser feito e ai lhas tem que ser baseadas nos perfis de quem sim eleger prioridades. queremos que ocupe uma função, seja ela po- Estando a casa arrumada vamos ao que lítica ou técnica. interessa, fazer basquete. Existem várias fontes de incentivos go- Em linhas gerais é assim que entendo o vernamentais que podem servir de instrumen- que deve ser feito na entidade maior do bas- tos de fomento ao basquete e a CBB deveria quete brasileiro, a partir daí seria possível pas- ter um departamento específico para isso, in- sar a auxiliar as demais camadas que com- clusive auxiliando as próprias federações em põem essa pirâmide. suas ações de captação de recursos. Saudações a todos. Não há no momento atual em meu en- Quem é José Alberto Freyesleben Valle Pereira ? Beto, como é conhecido no meio do basquete, tem 49 anos, é Bacharel em Direito, tem vínculos administrativos com o basquete catarinense há mais de 17 anos, tendo sido diretor de árbitros, administrador e supervisor de seleções catari- nenses e brasileiras, Assessor Jurídico da Federação Catari- nense de Basketball, além de ter trabalhado no gerencia- mento de quadra do Pan 2007. 39
  • 40. Formando Pessoas Cesare Augusto Marramarco Quando recebi o convite continuar trabalhando com a gu- do Carlos Alex para escrever so- rizada. Para mim sempre foi o bre basquete e, especialmente, momento de descontração, de sobre iniciação, confesso que fi- alegria e onde eu realmente me quei bastante envaidecido e ao sentia útil. Não que ser técnico mesmo tempo preocupado. Ser de equipe adulta seja menos im- lembrado pelos colegas, ex- portante, gratificante ou mais fá- atletas e pessoas com quem con- cil. Porém pelo meu tempera- vivemos é sempre muito impor- mento, o trabalho de formação tante e acredito ser este o me- sempre foi onde me senti realiza- lhor reconhecimento, pois é feito do. Todos nós, técnicos, sabemos por pessoas que convivem neste onde somos melhores e conside- mesmo meio e sabem do seu tra- ro isto fundamental não só para balho. Porém, uma coisa é dar o sucesso profissional como para um treino, uma palestra, uma a nossa felicidade. Afinal felicida- atividade prática, coisas que fa- de é o que todas as pessoas bus- zem parte do teu cotidiano. Ou- cam alcançar e acredito que só tra é colocar isso no papel, o que consigamos realmente sermos não é absolutamente a mesma felizes se isso acontece também coisa. Espero poder corresponder no trabalho. a esta expectativa. Tanto quanto todas as ou- Nestes 34 anos como téc- tras profissões, ser técnico de nico de basquete, praticamente basquete exige amor e dedica- nunca me afastei do trabalho ção. E trabalhar com crianças com as categorias de base, espe- exige que se goste e se tenha cialmente o minibasquete. Mes- paciência com elas. Não se con- mo quando técnico de equipes funda isso com falta de limites ou adultas, sempre fiz questão de de cobrança em busca de objeti- 40
  • 41. Formando Pessoas Cesare Augusto Marramarco tivos. Porém o carinho e a paci- bre técnica individual, fundamen- ência em saber que cada um tem tos ofensivos e defensivos, pois um ritmo diferente de aprendiza- estes sabemos que, com um gem são essenciais. E, essencial- pouco mais ou menos de traba- mente, sabermos que estamos lho, podem ser corrigidos em lidando com pessoas em um mo- qualquer fase da vida do atleta. mento crucial de sua formação e Entretanto, os valores e virtudes o que for feito neste momento morais encontram na iniciação o provavelmente ecoará por toda a seu melhor momento para serem sua vida. E não estou falando so- lapidados. 41
  • 42. Formando Pessoas Cesare Augusto Marramarco Talvez seja por isso que atletas, formamos pessoas. O considero tão importante o tra- que quero salientar é que alguns balho nesta fase. Costumo co- que passarem por nós, muito mentar que, se fosse mudar al- mais por suas capacidades pró- guma coisa na minha carreira prias do que por méritos nossos, profissional, talvez tivesse estu- serão atletas durante um tempo dado um pouco menos sobre maior. Talvez sejam atletas de basquete e um pouco mais sobre seleções estaduais, brasileiras ou pessoas. Quando fui fazer o mes- até profissionais. Porém o maior trado com o meu querido e sau- grupo será formado de pessoas doso Prof. Ruy Krebs passáva- que praticaram o basquete por mos muito tempo estudando as algum tempo e seguiram o seu teorias do desenvolvimento hu- rumo na vida, sendo profissionais mano. Naquelas leituras e dis- nas mais diferentes áreas. Prova- cussões eu consegui encontrar velmente algumas das experiên- explicações para os meus erros e cias do seu tempo de atleta lhes acertos e solidificar a minha opi- ajudem nesta sua vida profissio- nião para a importância do traba- nal e este será, provavelmente, o lho nesta fase. No seu modelo nosso maior pagamento. de especialização motora, o Prof. Por outro lado, se o foco Ruy sempre salientou a impor- de nosso trabalho fosse essenci- tância do primeiro estágio, o de almente de formar atletas de alto Estimulação, na formação do fu- nível, provavelmente seríamos turo atleta. tremendamente frustrados, pois Desta forma, uma das coi- de cada dez atletas que come- sas que mais me empolga no tra- çam nas escolinhas e mini, talvez balho é que, muito mais do que um chegue a categoria juvenil. 42
  • 43. Formando Pessoas Cesare Augusto Marramarco Destes, a possibilidade de se e a nossa função primordial nes- profissionalizar é bastante pe- te momento é ensinar, o melhor quena, dado ao número de equi- possível, a estes jovens. A moti- pes que temos em nosso país. vação deles para a prática vem Dependendo da região, esta do êxito em conseguir realizar as chance é ainda menor. técnicas que constituem o jogo. Porém, nós como técnicos deve- No entanto, tudo isso mos ter esta visão a longo prazo acontece através da prática do para sabermos da importância de basquete. As crianças que vem cada situação de nosso apaixo- até nós estão com a sua atenção nante esporte. voltada para a prática do esporte Quem é Cesare Augusto Marramarco? Formado em Educação Física na UFRGS, Especialista em Treinamento Desportivo- Atletismo pela URCAMP- Bagé e Mestre em Ciências do Movimento Humano, com ênfase em Aprendizagem e Desenvolvimento Mo- tor, pela UDESC. Técnico de basquete desde 1978, tendo atuado na SOGIPA, FUnBa (hoje URCAMP), Clube Recreio da Juventu- de, Clube Juvenil e escolas da rede munici- pal, estadual e particular. Atualmente é pro- fessor da Universidade de Caxias do Sul e da rede municipal de ensino do município de Farroupilha, trabalhando com escolinhas de formação esportiva. 43
  • 44. Visite o Centro Esportivo Virtual e participe do debate sobre o basquete. www.cev.org.br/comunidade/basquete 44
  • 45. Franca: Ginásio “Pedrocão” Jogo das Estrelas 2011. Brasília: Ginásio Nilson Nelson. 45