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Literatas
                        Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista a um amigo
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Sai às Terças-feiras




                                                                                                   literatas.blogs.
                                                                                                       sapo.mz
                                Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona
Director editorial: Eduardo Quive * Maputo * 23 de Agosto de 2011 * Ano 01 * Nº 07 * E-Mail: kuphaluxa@sapo.mz




Até
AmAnhã
CorAção

Niassa sem livrarias                                                                                                     pg. 10




Loucura pela escrita
                        “O homem sai da escuridão para a luz. O escritor
                         faz o inverso, da luz para a escuridão. Talvez por
                       isso queremos sempre voltar para esse mundo de luz,
                       e procurámos como loucos um papel em branco para
                               acender a escuridão que nos persegue.”
                                                                         Veja a entrevista com Lucílio Manjate na página. 3
2    BLA BLA BLA   Exero 01, 5555
    Terça-feira, 23 de Agosto de 2011                                           https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                           2

Em primEira

        Uma poesia de alto risco
------ Rubervam Du Nascimento exibiu                             seu livro através de “Konstantinos Kavafis”: “todas
seu “Espólio” em Maputo                                          essas coisas são muito velhas/o esboço, o barco e
                                                                 a tarde”.
“Estrada da vitória não tem mais voz/                            assiM Du Nascimento prepara-nos para o que
sem rodas da máquina do horário                                  podemos encontrar nesse “Espólio”. Mesmo antes
                                                                 da epígrafe, o poema (de) “introdução” já nos
azul/acaba cantiga do relógio de                                 chama atenção para toda a base (assim como os
sol apressado” – é uma das estrofes                              detalhes) deste livro.
                                                                 “Não é fonte deste livro/meu dia perdido/ na con-
extraídas do livro “Espólio”de                                   fusão da noite/ nossa vida de cão/ passada a limpo/
Rubervam Du Nascimento, lançado                                  desde que o anjo rebelde/ a serviço do criador/
                                                                 armado de lasca de sol/ nos expulsou do paraíso”,
em Maputo, onde o autor parece-nos                               escreve em “introdução”.
levar a visitar detalhes do tempo mas                            EstaNDo pREpaRaDo, parece- abrir-nos para uma
                                                                 leitura não pré-definida que nos sujeitaríamos se
sem nenhum saudosismo.                                           nos baseássemos simplesmente no título “Espólio”.
                                                                 Mas ele avisa que este não surge de “manuscritos
                                                                 salvos de um arquivo de areia redigido com tinta
    REDAçãO - O PAíS                                             deagua...”
                                                                 E, quaNDo nos prendemos no poema “Herança”,
DizEM quE anda por cá por outras razões que não sejam            que abre “Livro 1 – Da Carne”, vamos perceber clara-
poéticas. Mas Rubervam Du Nascimento está a aproveitar           mente a linha que o poeta nos remete.
as terras do índico para falar de Craveirinha; falar da poesia   “MaRiDo apRoVEitou a demora da festa/ testou
e lançar, como fez na sexta-feira, o seu “Espólio”.              com indicador a castidade da mulher/ ajudado pela
DEsEMbaRCou CoMo um dos poetas brasileiros mais                  toalha da mesa cheia de rosas feias/ que cobria colo
premiados – quatro prémios – e levou para o Centro Cul-          e pernas dos convivas”.
tural brasil- Moçambique o seu mais recente livro “Espólio”.     Mas ao lermos os poemas de Rubervam Du Nas-
izacyl Ferreira, que escreveria a apresentação desta obra,       cimento temos sempre uma tendência de o vermos                  faz uma “visitação” religiosa a obra de Rubervam por sua
a definiria como um livro de “desolação, de perdas, de fer-      pelos olhos dos outros, daqueles que já o tinham lido antes,    constante recorrência à religião, enquanto nos lembra que
rugens, coisas e pessoas gastas e perdidas”.                     começando do seu “debut” com “a profissão dos peixes”. Este     este poeta já foi um servo de Deus.
Esta FoRMa simplista de definir o “Espólio”de Du Nasci-          parece ser o seu livro e marca. Melhor, como diz Dalila teles   “... as referências religiosas, bíblicas e extra-bíblicas são
mento conduz-nos, de uma forma complexa, para um livro           Veras, ele – Du Nascimento – já se auto-denominou “poeta        abundantes no texto de Rubervam, veladas e claras. para
que, ao ler, parece estar constantemente a nos conduzir          de um livro só”, referindo-se “a profissão dos peixes”, obra    quem não sabe, o Rubervam é um ex-pregador adventista
ao passado, ou melhor, ao que nos resta da vida. Ferreira        que demonstrou o desejo de reeditá-la em edições revistas       com vivência e formação cristã e grande familiaridade com
diz reiterar o dito arrulhos que defende a utilidade de          e – cada vez mais – diminuídas.                                 o texto bíblico.”
reler as epígrafes de um livro para melhor entender o seu        Mas EstáVaMos a falar dessa leitura que temos sempre
conteúdo. Esta sugestão leva-nos a uma conclusão quase           de fazer através dos olhos dos outros. Elias paz no artigo “o
agressiva que Rubervam Du Nascimento busca para o                engajamento p(r)o(f )ético em Rubervam Du Nascimento”




Pão Amargo                                                                                    Finalmente chega um livro para a
                                                                                              indústria dramaturga. Guilherme Silva
                                                                                              é que escreve a obra “Pão Amargo”
                                                                                             Um Livro de teatro como        ções como “Mestre tamoda”, de Neto Mondlane, até linhas
                                                                                             não surge há muito nas         impressionantes de “aldeias dos Mistérios” de Dadivo José.
                                                                                             prateleiras das livrarias      são nomes que aparecem assim ao alto, mas podemos buscar
                                                                                             nacionais é a sugestão de      tantos outros que não aparecem em livro.
                                                                                             Guilherme afonso e sua
                                                                                             editora, “alcance”, em “pão    mAs, contrA a corrente, Guilherme afonso, que chegou a
                                                                                             amargo”. Nesta obra, o autor   Maputo – ou é melhor dizer Lourenço Marques – em 1959
                                                                                             vai buscar pequenos detal-     para ingressar no Corpo de polícia, curiosamente no período
                                                                                             hes da vida desta sociedade    em que se elevava a literatura nacionalista, oferece-nos “pão
                                                                                             que é a moçambicana.           amargo”, que sai pela alcance Editores.

                                                                                             EstE é um país de actores –    Há mUito que Guilherme afonso está na literatura, tendo
                                                                                             de dramaturgos também.         aparecido em 1988 com o livro de contos “Circuito”, pela
                                                                                             a frase pode não ser nova      associação dos Escritores Moçambicanos, e com poemas em
                                                                                             e já deve ter cansado, mas     “Memória inconsumível”, pela imprensa universitária.
                                                                                             quando se volta à criativi-
                                                                                             dade teatral em termos de      Em “pão amargo”, aborda a problemática social, começando
                                                                                             produção de livros parece      pela confusão nas filas de “chapa”, como quem nos lembra que
                                                                                             ganhar um outro sentido.       a partida para a vida começa numa paragem.
                                                                                             quando Lindo Lhongo, para      EstA é a imagem que nos salta à vista quando começamos a
                                                                                             alguns a maior referência      folhear o livro e nos deparamos com este diálogo que acontece
                                                                                             da dramaturgia nacional,       na paragem:
                                                                                             lançou “o Lobolo”, criou-se    “mULHEr
                                                                                             por momento um pequeno         - EH! senhor... o seu lugar não é aqui. Chegou agora e quer ficar
                                                                                             debate sobre a ausência de     à frente! o que é isso?...
                                                                                             livros de peças teatrais.
                                                                                                                            inDivÍDUo intErpELADo
                                                                                             A pAr da poesia e prosa – ou   - orA essa! quem é que lhe disse isso? a senhora está muito
                                                                                             romances – existiu sempre      enganada...”
                                                                                             uma clandestina vaga de
                                                                                             dramaturgos, mas poucos        EstE DiáLogo decorre perante a passividade dos outros pas-
                                                                                             fizeram a aventura em livro.   sageiros, o que desencadeia a ira da senhora devido à inca-
                                                                                             podíamos recolher belas        pacidade das pessoas de reagirem perante actos anormais.
                                                                                             peças de teatro nacionais      Este “pão amargo” é uma história da vida
                                                                                             que foram seguindo o seu
                                                                                             crescimento, entre adapta-     tExto E Foto: JornAL o pAÍs
Exero 01, 5555   BLA BLA BLA        3
 Terça-feira, 23 de Agosto de 2011                                                           https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                                  3

Em primEira

“A poesia não está fora de nós,
nós é que inventamo-la”
 AMOSSE MucAvELE
                                                                        LUcÍLio mAnJAtE: Não há bases em literatura. Mesmo quando
                                                                        queremos vincular determinado escritor a um estilo determinado,               não poderia o homem
                                                                                                                                                     encontrar melhor forma
                                                                        esse é o nosso esforço, a nossa angústia de querer uma base, uma
Literatas: O Lucílio Manjate começa a escrever                          referência, um ponto de apoio a partir do qual o mundo possa fazer

                                                                                                                                                      de perpetuar a espécie.
                                                                        sentido. o problema é que esses sentidos, às vezes, são perniciosos,
em 1996. Porquê, para quê e para quem?                                  quando não valorizamos também a experiência vivencial do escri-

                                                                                                                                                   Ainda não estamos em vias
                                                                        tor, como se o seu estilo se fizesse sentido somente em função
                                                                        das leituras que fez. obviamente que sim, mas isto significa que

                                                                                                                                                    de extinção. Ou estamos?
LUcÍLio mAnJAtE: penso que os escritores nunca sabem quando             observar, cheirar, sentir, etc., são formas de ler, também. Mas ok, é
é que começam a escrever, porque sendo o acto da escrita um             como disse. isso foi o que, de facto, li primeiro. Mas li também poesia

                                                                                                                                                       Precisamos da imag-
processo, que se liga a um outro processo, o da leitura, nós vamos      de Combate. Foi importante porque essa poesia tem uma força de
escrevendo enquanto lemos, mas não registamos. é uma escrita            expressão tal que me lembro que foi depois dela que estoirou a

                                                                                                                                                     inação, da criatividade
ao nível do subconsciente, do íntimo, e que vai ganhando forma          bolsa que me guardava durante esse tempo de gestação.
durante um tempo também impreciso, o tempo de gestação do
                                                                        Literatas: Mas essa poesia é questionada hoje
                                                                                                                                                   para viver, e o livro dá-nos
escritor. é o tempo da criação da forma e que um dia vem cá para
fora; no meu caso isso aconteceu em 96. penso que nessa altura
                                                                        enquanto poesia?
                                                                                                                                                     isso. O que o nosso país
eu escrevia porque tinha que me situar, em termos geográficos,
culturais, políticos, ideológicos, etc. talvez seja o primeiro passo,

                                                                                                                                                   precisa é pessoas criativas,
esse. Essa é a leitura que faço hoje, lendo os meus textos um
pouco mais crescido; escrevia para, a partir desse pressuposto          LUcÍLio mAnJAtE: questionar a poesia é uma questão estética,

                                                                                                                                                    que constroem imagens e
identitário, inventar os meus sonhos, como todos os outros escri-       equivale a questionar as noções do belo. Então essa discussão pode
tores inventam, e comunicar esses sonhos aos receptores dos             não acabar. o que é belo para ti não o é para mim. podemos pergun-

                                                                                                                                                    as experimentam nos seus
meus textos. partilhar um mundo possível.                               tar se não é belo exaltar a pátria liberta, cantar os seus rios, os seus
                                                                        montes, as suas vitórias, a coragem do seu povo, o som das armas
Literatas: Sugere que o escritor não nasce
                                                                                                                                                    sectores de actividade. A
                                                                        da liberdade. a poesia não está fora de nós, nós é que inventamo-
numa folha em branco cheia de gatafunhos?                               la, a partir dos nossos ideais. posso concordar que nem toda essa

                                                                                                                                                    literatura dá isso tudo, e
                                                                        poesia seja bela, mas então existe aí alguma poesia, algo de belo.
                                                                        Mas é preciso, de facto, questionarmos as coisas, para avançarmos,

                                                                                                                                                    muito mais, dá-te amor,
LUcÍLio mAnJAtE: Exacto. podemos entender essa questão                  e a geração charrua, que propôs outras formas, entendeu isso.
como quisermos, eu penso que no papel ele apenas acontece.
                                                                        Literatas: A geração charrua foi, aliás, objecto
                                                                                                                                                   outra carência entre nós…
perguntar quando é que o escritor nasce é sugerir uma discussão
filosófica interessante, porque o texto primeiro acontece enquan-       da tua análise enquanto estudante de litera-
to ideia, o embrião, e isso é na nossa mente e não fora dela. a
metáfora de “nascer” aqui não pega, porque o ser humano vem
                                                                        tura na universidade Eduardo Mondlane (uEM).
para a luz, mas a luz do escritor está dentro dele, nunca fora. o                                                                                  Literatas: O teu olhar sobre a literatura
homem sai da escuridão para a luz. o escritor faz o inverso, da luz     LUcÍLio mAnJAtE: sim. Foi, porque achei que não existia um
para a escuridão. talvez por isso queremos sempre voltar para           estudo sistemático a respeito dessa geração…
                                                                                                                                                   moçambicana?
esse mundo de luz, e procurámos como loucos um papel em                                                                                            LUcÍLio mAnJAtE: positivo. pena é que essa crise alcançou
branco para acender a escuridão que nos persegue. por isso o                                                                                       também as artes. ainda não fui a um lançamento, este ano. E
tempo de nascimento é um tempo mental, psicológico, à procura           Literatas: Que já não existe…                                              nós ainda precisamos desse momento mágico, o do lançamen-
de um signo que lhe dê a forma… Mesmo quando me pergunto                                                                                           to… a nossa literatura está muito boa. sinto que nos próximos
quando é que nós, seres humanos, nascemos, penso que é já               Lucílio Manjate: Há várias formas de existir. Existem escritores sem       5 anos teremos grandes revelações. Muitos dos escritores da
no acto de amor que um dia uniu os nossos pais. Nascemos a              livros publicados como existem músicos anónimos. Não são escri-            minha geração, por exemplo, estará mais crescida nestas coisas
partir daí.                                                             tores? Não são músicos? Existem correntes de pensamento que só             da escrita e isso vai emprestar `a nossa literatura outro ar, e
                                                                        daqui a algum tempo tomaremos consciência delas porque alguém              talvez outro destino. é verdade que, do que essa geração produ-
Literatas: Falaste do signo. Que signo foi o                            ira analisar determinados fenómenos e verificar o seu compor-              ziu, há boas coisas, mas penso que virão propostas melhores.
                                                                        tamento e os seus actores. Depois de identificadas, talvez já não
que apagou essa tua escuridão?                                          existam, terão existido.                                                   Literatas: Quais são os teus escritores, nessa
                                                                        nADA nos pode assegurar que o facto do grupo daqueles outrora              geração?
                                                                        jovens da charrua não organizarem hoje as mesmas tardes e noita-
LUcÍLio mAnJAtE:                                                        das, os mesmos saraus onde se discutia literatura e até o país, o

O meu foi primeiro poético.
                                                                        facto desse grupo não se concentrar não significa que já não exista a      LUcÍLio mAnJAtE: Rui Ligeiro. Mbate pedro. Celso Manguana.
                                                                        geração, até mesmo o grupo, porque a questão de nós pertencemos            aurélio Furdela. sangare okapi. Clemente bata. Jesus. Chagas

Primeiro escrevi versos que
                                                                        a um grupo é antes mental, de adesão e de comunhão de valores.             Levene. tânia tomé. Dércio pedro. Dom Midó das Dores. Rogério
                                                                         o cErto é que ainda hoje, quando se encontram, nós, os mais               Manjate. andes Chivangue. Domi Chirongo. Repare que

 nunca mostrei a ninguém
                                                                        jovens, ouvimos histórias, aprendemos algo. E isso, o que é? é preciso     nenhum destes autores tem 3 livros publicados, eu, enquanto
                                                                        considerar também que grupos enquanto tal torna-se hoje difícil,           apreciador, estou a espera.

 porque eram decalques da
                                                                        as pessoas não param, muito menos para discutir ideias. Estamos
                                                                        cada vez mais fechados em nós mesmos. E o homem é tão pequeno!             Literatas: Para fechar: como vês o projecto
                                                                                                                                                   da nossa revista?
 elegia de Craveirinha em
                                                                        Falemos talvez em grupos virtuais. Encontramo-nos no correio
                                                                        electrónico que me mandas de paris ou no facebook e por ai fora.

  Maria. Mas antes tinha
                                                                                                                                                   LUcÍLio mAnJAtE: parabéns! admiro essa vossa maneira de
                                                                        Literatas: Hoje tu dás aulas de literatura. Qual                           divulgar as artes e cultura irmanadas no cruzamento entre essas
                                                                        é o teu sonho, considerando essa fraca adesão
   andando a decalcar as
                                                                                                                                                   oceânicas águas, a água, a única coisa que nos une, a vida.
                                                                        das pessoas para a leitura?
muitas vozes do Caliban, do                                                                                                                        Biografia
 Manuel Ferreira. Funda-                                                LUcÍLio mAnJAtE:                                                           LUciLio mAnJAtE nAscEU Em mApUto Aos A 13 DE JAnEi-

  mentalmente essas duas                                                  O meu sonho é de que as
                                                                                                                                                   ro DE 1981,é Escritor, EnsAÍstA, critico LitErário, E
                                                                                                                                                   DocEntE DE LitErAtUrA nA UnivErsiDADE EDUArDo

         vertentes.                                                      pessoas acabem por desco-
                                                                                                                                                   monDLAnE, tEm DUAs oBrAs pUBLicADAs:
                                                                                                                                                   -mAniFEsto-prémio t.D.m-2006

                                                                         brir que o livro é uma das
                                                                                                                                                   -siLêncios Do nArrADor-prémio 10 DE novEmBro-
Literatas: E essas leituras deram-te as bas-                                                                                                       2010

es…                                                                     maiores invenções do homem,
4    BLA BLA BLA   Exero 01, 5555
    Terça-feira, 23 de Agosto de 2011                                              LITERATuRA MOçAMBIcANA                                                             4



Heliodoro Baptista
HELioDoro BAptistA nasceu a 19 de Maio.
                                                                                                                Alegoria
Faria este mês 65 anos. Era casado com a jor-
                                                                                                              HELIODORO BAPTISTA
nalista Celeste Mac-artur, editora fotográfica do

Diário de Moçambique, diário que se publica na                                                               Em inhaminga, meu amor,
                                                                                                             estão as armas apontadas para o céu
beira. Deixa viúva e quatro filhos.                                                                          mas só há pássaros.

o JornAListA, escritor e poeta nasceu em                                                                     E como as armas pensam no canudo do seu cérebro
                                                                                                             que as aves são inofensivos passarinhos
Gonhame, cidade de quelimane, capital da                                                                     estes aproveitam a confusão
                                                                                                             dos pára-quedistas já cansados.
província da zambézia. Deixou escritas várias
                                                                                                             por isso cada pássaro que voa pelo céu
obras não publicadas e publicou «por cima de                                                                 (luminoso como uma palavra boa)
                                                                                                             deixa cair melancolicamente
toda a folha», «Nos joelhos do silêncio», «a filha                                                           o seu depósito de agradecimento
                                                                                                             sobre as armas
de tandy», entre outras peças dispersas.                                                                     e a estupidez dos generais.

Foi jornalista do «Notícias da beira» onde chegou                                                            Vorazmente, meu amor,
                                                                                                             o destino da terra passa
a ser chefe da redacção. Deixou de exercer a                                                                 e cria-se entre o ventre das armas
                                                      HELIODORO BAPTISTA                                     e o círculo da esquadrilha voadora
profissão de jornalista quando se incompatibi-                                                               o futuro desta terra
                                                                                                             que alarga e fermenta.
lizou com a direcção do «Notícias” que se pub- ao Rui Knopfli e ao Eugénio de andrade
                                                                                                             tudo isto em inhaminga,
lica em Maputo, jornal de que na altura era o sim, de facto, «uma só e várias línguas                        com o tamanho deste país,
                                                     eram faladas e a isso,                                  meu amor
delegado na beira. trabalhou ainda no «Diário por estranho que pareça, também chamávamos pátria».

de Moçambique».                                      outros vieram e estão
                                                     na curva ambulatória do terreno,
                                                     entrecortando a escrita ao sol
                                                     com a que, na bruma, lascivo lugar                      Presságio, minha Ave
como um cão                                          dos malditos de esgares cínicos
                                                     mas persuasivos,
                                                                                                              HELIODORO BAPTISTA
    HELIODORO BAPTISTA                               estrangula, subverte também
                                                     a repulsa.
Como um cão curvo-me
e procuro ler nas marcas                             alguns reencarnam, voltam a nascer                      (ao Gringas e à Maria,
que a noite não pôde                                 de uma emoção que, anos atrás,                          poetas de outro blue-jazz)
recolher o tempo.                                    os condicionou, e isso tem sido notícia,
                                                     curiosidade incorporada                                 Estou doente como um cão
anima-me a superfície fabulária                      na astúcia discreta dos que triunfam                    num barco içado pela babugem
onde o olhar do dia revolve                          pelos propósitos trazidos                               no ritmo Índico puro da monção;
o que foi alvoroço vida                              há um quarto de século.
ou sinal ténue.                                                                                              o homem que eu disse ser,
                                                     palmeiras, casuarinas, eucaliptos,                      inescrupuloso, de rara penugem,
Detenho-me na pegada junto à cama                    micaias, planuras, mangueiras, enfim,                   é o capitão deste barco a arder
e a mão precavida incha a memo’ria                   a ainda inacabada totalidade do país amado,             no seu cachimbo em forma de coração;
nenhuma sensação acende                              tudo existe, não é mitológica passagem
o que já está perdido.                               de forças cujo núcleo, por estranho, também,            Longe, a ilha de seu destino, é vaga ideia
                                                     que pareça, é uma ordem desordenada,                    em qualquer privado jardim da consolação:
(perdidos os meus passos? a minha voz?               uma certeza de mil incertezas,                          céu, mar, gaivotas de fogo, o pé-de-meia
é assim tão terrível o amor ao homem?                mas isenta já de prodígios,                             de quando eu ainda pensava ter razão.
a justiça foi calcinada em que ritual?)              confusa e humana.
                                                                                                             Este homem recorta-se no vosso céu de aço;
pouso então devagarinho                              Nós outros, como vós, os que virão,                     Ventos temporais, estrelas caídas de fronte,
o ouvido na parede húmida                            baixos-relevos das mais remotas                         o cachimbo sem tabaco, o declinado horizonte
e eis que uma sombra volta-se                        e tranquilas paisagens onde o tempo urge                E o coqueiro híbrido na mão insurrecta, largo o espaço.
num largo aceno de simpatia.                         propostas originais,
                                                     desencadearemos talvez a infidelidade                   Já não estou, afinal, doente; para sempre fui e morri.
Na paz indizível sopra                               a outros mitos que a escrita, impressiva,               Mas pela noite áfrica, oceânica, regresso. Renasci
a fina aragem desanoitecida                          esconjura nos significantes.
a leve impressão                                     suportemos, como compensação, os impulsos dos néscios
de um cochichar
uma porta entreaberta
onde pulsa uma esperança

FicHA técnicA
                                                        Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa
  Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique* AV. 25 de Setembro nº 1728, Maputo, Caixa Postal nº 1167 * Celulares: (+258) 82 27 17 645 e (+258) 84 57 78 117 *
                                                     Fax: (+258) 21 02 05 84 * E-mail: kuphaluxa@sapo.mz
Director Editorial: Eduardo Quive (eduardoquive@gmail.com)
Coordenador: Amosse Mucavele (amosse1987@yahoo.com.br)
Editor - Canto da Poesia: Rafael Inguane (inguane.rafael@hotmail.com)
Redacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane.
Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza*
Brasil: Itapema - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin * Marcelo Soriano * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas.
Design e páginação: Eduardo Quive
Exero 01, 5555   BLA BLA BLA       5
Terça-feira, 23 de Agosto de 2011                                                            cRÓNIcA / cONTO                                                             5
                                                                                               FiLosoFonias                      rapsódicas
                                     ALERTA
                                     vERMELHOS                                   MARcELO SORIANO - BRASIL
                                                                                m.m.soriano@gmail.com

                                                                                Nota preliminar: Antes de
                                     JAPONE ARAuTO - MAPuTO                     prosseguir com este artigo,
                                                                                lembro ao leitor que me dirijo à
Começo por proferir uma expressão que adoro: “Olhem para Ver”, Olhem            CPLP (Comunidade dos Países
para esta dissertação e vêem (entendam) de maneira mais lúcida, de modo         de Língua Portuguesa), portanto,
que por menos flexíveis mentais que forem a compreendam de forma                podemos encontrar gerúndios,
simples. Os que desta inundarem-se de dúvidas a gotas do indico, perdoe-
me, assim como, também peço perdão os que acharem esta dissertação              futuros do pretérito, expressões
imoral, desprovida de patriotismo, um verdadeiro contra-senso, ou               etnocêntricas, familiares a certos leitores, porém, inusitadas a outros.
mesmo, um atentado ao ritual professado pelos homens trajados de casaco         Oxalá, que esta peculiaridade não seja pretexto para correções, mas
e gravata.                                                                      para integrações e enriquecimentos léxicos e culturais entre nós.
Espero que a provável inquietação não seja a sina preconcebida para que         Marcelo Soriano. Santa Maria - RS - BR. 14/07/2011.
os homens de casaco e gravata mostrem os seus dotes de censura carraça
a essa dissertação, que por convicção própria pretende chamar de “Alerta
Vermelhos”. E os que compreenderem, votos para que tirem bom proveito
nisso, aliás, que tenham melhor repreensão do conteúdo aqui abordado.           1. microcontos à BrAsiLEirA
Dando azo a causa primordial deste pobre gesto de exercitar a dita                       ...................................
liberdade de expressão, que o mesmo concebo embriagado por elevado
grau de legitimidade patriotica, arisco-me a afirmar que: Moçambique            O AlíviO de OlíviA... Duas vogais que mudavam de lugar...
ainda não é um país, muito menos uma nação, mas sim um lugar que pode
vir a ser, se realmente queremos, então podemos, como diz o bagágio             ...................................
popular: “Querer é Puder”. Espero não criar espanto em dizer que a
moçambicanidade, a unidade de nacional, são ainda sementes no celeiro,
por tanto ainda não foram lançadas e não se sabe em que época da história       Quebrou a cara com um soco no espelho.
isto a conterá. São, portanto, lindas utopias, que a sua aplicabilidade ainda
é um verdadeiro mito, igual ao mito da liberdade de expressão, no qual me       ...................................
inspiro. Lindas mitológicas teorias nas quais se comparam àquelas lindas
frases (políticas) que fazem parte do nosso léxico quotidiano, como é caso      Cobriu as idéias com palavras para que ficassem nuas...
da Jatrofa, Distrito pólo de Desenvolvimento, O registo do Cartões SIM, á
Inspecção de viaturas, o recém nado morto Cesta Básica, sem querer tirar o      ...................................
desmérito a teoria – mãe: A Luta contra Pobreza Absoluta, esta que dizem
ser um problema mental, eu saudavelmente concordo plenamente, pois,             Morreu de não rir.
esta insonhável luta sempre foi e é proferida por um punhado de gente,
aliás, sai sempre na mente de algumas pessoas, cá por nós conhecidas.           ...................................
Espero que sejam estes os principais patológicos.
O que não espero é que passa nalgumas mentes usados por outras mentes,          Doce menina se fez bela dona, que se fez linda senhora, que se fez sereno cadáver,
neste coitado momento a seguinte questão: Porque é que Moçambique               que se fez livre pó... E se refez nas tintas de Renoir.
é um lugar, é não um país? Por uma razão muito óbvia, primeiro deixem
me dizer que: os que já estiverem com esta questão pairando na sua              ...................................
desautónoma mente, eu acho que isto é, sem dúvida alguma, uma
actividade desprovida de rácio.
Bom, não quero em nenhum momento persuadir-vos para que usem
as vossas mentes vós mesmos, ou convencer-vos a acreditarem nesta               2. LitErAtUrA visUAL
premissa só para parecerem autónomos das vossas próprias mentes,
isto é um processo, um processo como alguns justificam o fracasso na
aplicabilidade de políticas. Pós concordo que todo aquele que se julga
cidadão moçambicano sabe mais do que ninguém que a sua pertença; a
força que lhe “governa”, para não dizer desgoverna, é um fiasco. Os que
continuarem à achar esta premissa inundada de disfunção, pensem no
seguinte: pelo memos este tem opinião num lugar onde a liberdade de
expressão é um mito. E se realmente disconcordão com premissa, mostre-
me pelo menos um dos ministérios a vossa escolha, que esteja melhor ou
que seja no mínimo sério. Ou que tragam evidências claras de políticas
traçadas e acabadas, sejam elas do governo dia (da noite), ou mesmo da
oposição. Sem querer entrar em detalhes, lembrem-se que alguém uma vez
disse “este país vai arder, arder mesmo!”, o mesmo disse que iria mobilizar
uma manifestação a escala nacional, pós para me são todos farinha do
mesmo parlamento, aliás puxadores do mesmo saco.
 E lembrem-se que somos viventes dum lugar da máfia (Moçambique um
dos maiores narco-estado do mundo), onde os crimes desorganizados
fazem manchetes nos jornais (por em quanto os publicados), onde é               3.monóLogos póstUmos com QUintAnA - pArtE v
bem sucedida à corrupção, o enriquecimento ilícito da minoria, abuso
de puder, estou sem tinta suficiente para enumerar todos monstros que
a apoquentam a nossa procissão ruma a transformação deste lugar num
país. Acredito em excepções, sem querer tira mérito a alguns que ousados                “ Esquece todos os poemas que fizeste. Que cada poema seja o número um.”
que tentaram dirigir esta marcha, e tiveram o final que todos sabemos,                                                                            Mário Quintana
no caso de Samora, Mondlane e outros. Isto mostra-nos claramente que
existe um grupo (à tal Máfia) que se sente bem nesta condição de Não-
País, de Não-Nação, de Não-República, e fazem questão de lutar à todo           Eu a ele: O Escritor é o verdadeiro mestre-cuca. Alimentos para as cucas.
custo para manterem este lugar assim como se encontra. As questões que          Macarronadas esferográficas.
vos faço são: quem são estes que se sentem muito bem com estas situação?
E o que fazem aqueles que pretendem transformar isto num país, num              Ele a mim: Assim como um louco que fala sozinho, os escritores são aqueles tipos
Moçambique nação, num Moçambique República? Que tal e qual numa                 que vivem escrevendo consigo mesmos.
República: com igualdade de direito, justiça, paz, democracia, etc. Onde
estão estes? Se é que existem, e você de que lado esta? Espero que não
deixa sua mente ser usada por outros nas respostas destas questões, espero      (3.) continUA nA próximA EDição..
que seja você comum cidadão moçambicano
6    BLA BLA BLA   Exero 01, 5555
     Terça-feira, 23 de Agosto de 2011                                             https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                         6


 - discurso dirEcto

                Até amanhã coração
 FONTE: JORNAL O PAíS                                               que está cansado de o ver
                                                                                                                                 foi aquele massacre. impressionaram-me tanto as capulanas
                                                                                                                                 que iam embrulhar os corpos nas valas comuns. Foi impres-
                                                                                                                                 sionante como ele conseguiu captar a tristeza profunda,
um país travado pela burocracia e um                                 bater, de tomar as rédeas                                   a brutalidade da guerra. Fizemos o acordo de paz com os
poeta que acredita que o amor é capaz                                de sua vida. Ele desiste e
                                                                                                                                 nossos vivos, mas nunca o fizemos com os nossos mortos.
                                                                                                                                 Este país ainda vive uma grande dívida para com os seus
de vencer guerras. Eduardo White é dos                                                                                           mortos. Não os enterrámos condignamente nem fizemos
poetas que mostra como o lirismo pode                              diz que não quer mais esse                                    um acordo de paz com eles em relação a esta guerra que eu
                                                                                                                                 sempre disse que não tinha razão de ser. Depois, levou-se
ser uma forma de vida, apesar de ter                                  eterno apaixonado: “já                                     muito tempo para se fazer um acordo. Essa coisa da morte
certeza que fazer cultura é um acto de                               bateste muito na minha
                                                                                                                                 impressionou-me, por isso, que escrevi “Homoíne”, mas
                                                                                                                                 sempre com essa constante de que era preciso retomar as
loucos.                                                                                                                          armas do amor. o amor tem as suas armas que são o beijo,
                                                                     vida”. Provavelmente, se                                    o sexo... tem todas essas armas que são importantes, que
                                                                                                                                 falam melhor, que disparam melhor e têm outra pólvora.
“ELE é poeta!” – repetíamos mentalmente antes da entrevista,       for a fazer a sua contabili-                                  CREio quE a guerra é um fenómeno que incomoda qualquer
para não confundirmos esse lado com tantas outras áreas                                                                          pessoa que tenha sensibilidade. a guerra é atrofiadora.
em que ele se decidiu meter. No ano passado, escreveu uma            dade, será o homem que                                      para além de nos dizimar fisicamente, também nos dizima
ópera juntando stars como Chico antónio, Graça silva, Mário                                                                      em termos de alma e de sentimentos. Há um poeta, Jorge
Mabjaia e adelino branquinho. Este ano, voltou a colocar-se o      terá ficado sempre só entre                                   Rebelo, que durante a luta de libertação nacional escreveu
mesmo desafio, mas para a dança. Voltou ao seu companheiro                                                                       um poema lindíssimo que se chama “Liberdade pode Chegar
de longas viagens, Chico antónio, “entendemo-nos”, diz ele, e       ele e o coração. Esta carta                                  um Dia”. Essa carga de amor está sempre presente, não
chamou pérola “Deusa” Jaime por uma velha admiração: “é uma                                                                      pelas razões da guerra, porque acho que não podemos
bela bailarina e coreógrafa. sempre a admirei”, disse, antes de     é um pouco a história do                                     ter amor por uma coisa que nos pode levar à guerra, mas
começarmos a entrevista para o “Entre Letras”. Mas era uma                                                                       pelos objectivos que nós pretendemos atingir. No amor há
entrevista sobre literatura. Era preciso repetir o pensamento      poeta e o seu coração, uma                                    violência, há gente que faz guerra por amor e com amor.
“ele é poeta!” e organizar as ideias com base nos títulos de                                                                     Não sou de fazer guerra com amor, acho que o amor tem
alguns dos seus livros.                                              carta de despedida, mas                                     que fazer guerra à guerra.

                                                                    sempre a dizer “vou viver
poDia tER-sE contentado em “amar sobre o Índico”, mas o
massacre de “Homoíne” fez com que desse uma pausa a versos
de amor e contemplasse as fotografias de Jorge tomé e chorar            com outro coração”.
                                                                                                                                 Poetas da política
pelas mortes. No entanto, diferente de Knopfli, aqui onde                                                  Podemos falar dos “poetas de combate”, neste caso, Jorge
havia dor não era “o país dos outros”, mas sim “o país de Mim”,   Isso leva-nos a Rui Knopfli, no poema “A Despedida”,
                                                                                                           Rebelo, de quem falou, e podemos acrescentar Kalungano
o que obrigava a aprender “poemas da Ciência de Voar e da         onde evoca essa questão do silêncio. como é que Rui
                                                                                                           (Marcelino dos Santos), Sérgio vieira (…) cujos poemas
Engenharia de ser ave”.
                                                                  Knopfli entra na sua literatura?         são mais de esperança. como podemos, hoje, olhar para
EDuaRDo WHitE é esse poeta que podia oferecer-nos “os sou REsuLtaDo de muitas leituras(…). Rui Knopfli não esses poemas e poetas?
Materiais de amor seguido de Desafio à tristeza”, para depois     é o poeta que me influencia. Mas acho que o amor tem       a EspERaNça é um sentimento muito bonito. Com essa
ficar na “Janela para oriente”, ler pensamentos de Gandhi antes   sempre essa pequena indefinição, se é com a cabeça que     mensagem de esperança, encontramos poesia digna e lá
de “Dormir com Deus” e ouvir “as Falas do Escorpião”. podíamos    se vive ou se é com coração, e acaba por prevalecer o      está o amor à terra, amor à liberdade. é uma fase bonita
falar longamente dos seus livros enquanto folheávamos “o          coração. quando acaba o amor, é no coração onde a dor      essa, e há boa literatura. Nem tudo o que se escreveu nesse
Manual das Mãos”, observando “o Homem a sombra a Flor e           pesa mais, apesar da cabeça ser esse roteiro de memórias.  período é bom, mas há boa literatura e bons escritores.
algumas Cartas do interior” antes de nos despedirmos: “até        o amor é diário, mas é sempre uma memória de ontem,        penso que nos países africanos de língua portuguesa a
amanhã, Coração”.                                                 de hoje, com aquele encanto do futuro. Nunca se sabe       esperança marca esse percurso histórico da literatura.
                                                                  o que vai ser, mas sabe-se muito do que já foi. o amor é   agora, gostava de saber como é que essas pessoas que
EDuaRDo WHitE toma uma base romântica. “todos nós somos           sempre uma despedida, mal se começa, já se sonha com       ainda estão vivas e que escreveram tanto sobre a esperança
românticos, ou pelo menos devíamos ser”, acredita. Mas é          a despedida. principias a amar, já principias a despedir-te.
                                                                                                                             vêem hoje essa mesma esperança que cantaram. às vezes, é
sobre a esperança de que fala, ou melhor, das pessoas que         Lembro-me de um poema do angolano almeida santos,          engraçado como uma pessoa escreve sobre a esperança e a
sempre “cantaram sobre a esperança” no período da luta de         “Meu amor da Rua 11”, que é uma música lindíssima da       retira aos outros. a guerra não devia ser uma aprendizagem
libertação, mas que “hoje a retiram” ao povo. Esta entrevista,    banda Maravilha, que define esta coisa do amor estar       para a continuar, mas sim para não a repetir. penso que se
mais do que um rítmico caminhar pelos versos deste poeta, é       permanentemente a bater.                                   passou assim no nosso processo histórico, a guerra veio
um olhar à literatura moçambicana e à forma como a buroc-                                                                    e continuou, porque, infelizmente, a guerra é um grande
racia pode parar um país.                                         A sua poesia é marcada por versos de amor, entre a dor negócio para os que a fazem e os que a patrocinam. Gos-
                                                                  e a sua exaltação. É assumidamente um poeta român- taria de saber como é que esses escritores, hoje, vêem essa
Despedida de um poeta                                             tico?                                                      esperança que cantaram, o futuro que foi ontem e que é
                                                                                                                             presente hoje. e seria interessante, porque hoje eles deix-
                                                                  EM pRiNCÍpio todos deveriam ser (…) todos nós somos aram de escrever.
como é que um poeta consegue convocar toda a coragem              românticos. o amor é a melhor maneira com que com-
para ir embora? Melhor, por que um poeta decidi ir embora?        bato as tristezas e desavenças que tenho com o presente É possível um poeta deixar de o ser? Existe um ex-poeta?
                                                                  e que tive com o passado. quando decidi pela linha do
                                                                  amor, foi exactamente no período em que prevalecia na aCHo quE não. penso que eles não pararam de escrever,
                                                                  nossa condição literária a questão da guerra e da morte. provavelmente pararam de publicar. Não é nada disso de
  “Até Amanha, Coração” é                                         acho que muito embora não fôssemos soldados, todos processo político(...). se se envolveram muito no processo
                                                                  os dias eu acreditava que as armas se calariam, para se político, devo dizer que não foi muito bom, porque poetas
   carta de amor de alguém                                        fazer amor. acho que as armas acabam sempre por se a fazerem política não são muito bons, são as borradas que
                                                                  calar, para se fazer amor. o coração é uma grande bateria, sabemos. a utopia é boa até onde termina o argumento
  que está cansado dos deva-                                      dá-lhe aquele compasso, acho que fazes melhor uso a para fazer política, mas depois deixa de o ser. a política tem
                                                                  trabalhar apaixonado, do que a despedir-se do grande os seus próprios poetas, que são os políticos, e normalmente
 neios do seu coração, que pôs                                    amor.                                                      são maus poetas como também maus políticos.

 sempre o amor em primeiro
    plano; de alguém que o
                                                                  Parar a guerra para                                            É normal olhar-se para a sua geração como aquela que
                                                                                                                                 veio dar uma outra viragem à literatura. vocês têm essa

  seguiu fielmente, e como o
                                                                  fazer amor                                                     consciência de terem definido a literatura nacional?
                                                                                                                                 a LitERatuRa moçambicana nunca foi definida, é um pro-
                                                                  Faz uMa referência à guerra, que, curiosamente, vai            cesso que está em construção, é um processo que vai sendo.
 dono se cansou. É um pouco                                       recuperá-la no livro “Homoíne”, onde olha para a morte         Evidentemente que esse processo tem seus altos e baixos.
                                                                  com todo o pesar que se pode imaginar...                       Mas a geração Charrua não marca definitivamente qual o
 a história de alguém que se                                      EssE LiVRo, escrevo depois de ter visto fotografias de         estilo que a literatura moçambicana vai tomar, mas marcou
                                                                  Jorge tomé, fotojornalista do “o país”, quando trabalhava      uma ruptura com aquilo que se fazia no momento. Foi
 despede do seu coração e diz                                     na revista tempo. Ele tinha ido cobrir o resquício do que
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 Terça-feira, 23 de Agosto de 2011                                                 https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                       7


- discurso dirEcto
importante que a geração Charrua tenha aparecido para        preso?
demarcar essa cisão com a literatura que se fazia.
                                                                                                                              A sua literatura tem uma espécie de solidão permanente.
                                                             isso é de Gandhi. (o poema) nasce dessa coisa de ler             como se constrói essa imagem de poeta solitário?

Rompimento e buroc-                                          Ghandi. Do meu ponto de vista, há muita gente que está
                                                             livre, mesmo presa. Mas há muitas causas que têm feito os
                                                                                                                              a soLiDão é uma coisa de que tenho pavor enorme, porque
                                                                                                                              sou uma pessoa que normalmente se recolhe muito interior-

racia                                                        prisioneiros mais livres do que as pessoas que andam nas
                                                             ruas. Nós somos um país que tem muita gente presa nas
                                                             ruas, fechada nos limites que somos, sem acesso a tudo
                                                                                                                              mente. Dentro de mim, passam-se muitos tratados e preciso
                                                                                                                              de estar com os outros, gosto de estar com os outros. a
                                                                                                                              solidão é um facto marcante na minha vida. Muitas vezes,
O que vai diferenciar a literatura antes de charrua da       o que é essencial. Voltamos mais uma vez à cultura, que          os amores errados da minha vida, todas as paixões erradas
que se seguiu?                                               é uma particularidade chave para o desenvolvimento da            da minha vida, são desse processo de não saber tratar bem
                                                             cultura. tem que haver cultura de desenvolvimento.               a solidão a nível pessoal. E gerem uma frustração com essa
ERa o lado ficcional, o lado da criatividade e, sobretudo,                                                                    grande presença de solidão na minha vida.
o rompimento com o lado temático. a literatura estava
muito agarrada à questão da guerra da libertação, da         Parece não ter uma boa relação com a burocracia…                 É desta forma que conclui que o silêncio faz muito barulho?
revolução, não era contestatária. a Charrua veio con-
testar muitas coisas que precisavam de ser contesta-         CoM a gravata! a grava não é uma coisa que me fica bem.          ExaCtaMENtE, o silêncio tem muitos barulhos. acho que
das.                                                         Mas não gosto da burocracia e não tenho boa relação com          há poucos barulhos que têm silêncios, mas o silêncio tem
                                                             o poder. assusta-me o seu aparato, a sua demonstração            muitos barulhos dentro e fora dele. a solidão é propensa
O tema guerra de libertação não era só da
literatura, dominava igualmente a música,
assim como o teatro e a dança. como é que a
literatura surge a querer isolar-se?
aCHo quE isso aconteceu a nível de todas as
artes. Há uma geração que marca essa cisão
com o que se tocava. a nível do teatro, há,
e aparece com o grupo que dá origem ao
Mutumbela gogo, em que estavam Calane (da
silva), Manuela soeiro, João Manja, anabela
adrianoupolis. é um processo que se passa em
qualquer sociedade que está em transformação,
que está a nascer e que está a crescer, só que,
no caso da literatura, somos muito menos em
relação a outras disciplinas artísticas, e talvez
se tenha notado mais. a nossa confrontação
com o poder foi mais frontal. Nós temos essa
tarefa de não concordar que o poder tenha uma
governação quase bíblica, que diga “isto tem
que ser isto”. qualquer artista faz parte e con-
strói a memória colectiva de um povo. o que
está a passar-se no nosso país, muito embora
haja muita coisa digna de se assinalar como
positiva em relação à grande parte de áfrica,
é que há muita coisa má que não devemos ter
a vergonha de dizer isto está mal e não pode
continuar assim. Não podemos vir a cair numa
relação feudal do poder. E foi isso que fizemos,
ver um país nas suas múltiplas visões, nas suas
múltiplas maneiras de ser. um país é feito de
gente diferente, não é feito de gente igual.

No período a que se refere, o escritor não se
resumia simplesmente às suas produções
literárias, eram vozes sociais. Agora, parece
que eles se retiraram para o silencio?
                                                             de força, e a burocracia é uma espada, é aquilo que pára         ao silencio interior e exterior, como também é propensa ao
                                                             tudo. a burocracia é aquele polvo enorme com o qual não          barulho.
Fazer cultura neste país                                     me dou muito bem. acho que pouca gente se dá muito
                                                             bem, a não ser os burocratas, que são sempre cinzentos,          Quando olhamos para si, parece-nos que o Eduardo White
é um acto de loucos. Ser                                     engravatados, tomam chá àquela hora, falam ao telefone           poeta não se dissocia do indivíduo. como é que permite
                                                             sempre das mesmas coisas. são sempre uns senhores que
sujeito cultural é outro acto                                são bem comportadinhos, mas que fazem uma data de
                                                                                                                              que essa sua personalidade interfira no poeta?
                                                             coisas feias.
ainda mais louco! Toda a                                                                                                      O poeta é que interfere na
                                                             A partir daqui, podemos olhar para “O País De Mim”. É o
gente patrocina “pernas”,                                    espreitar de um país dentro de nós mesmos ou vamos               minha vida. Quase muitas
“mamas” e “dreads”. Nos                                      descobrindo pedaços de países por fora deste espaço que
                                                             somos?
                                                                                                                              vezes, alguma reputação que
governos que tivemos,                                        é aquELE país que está dentro de nós. para ser moçambica-        me fazem questão de dar tem
                                                             no, acho que nasci com esse Moçambique dentro de mim.
no tempo de Samora de                                        Nunca percebi essa coisa de original. origem de onde? a          que ver com essa interfer-
                                                             nossa primeira pátria é o útero da nossa mãe. acho que o
Machel e um pouco no de                                      nascermos num lugar, crescermos num lugar e gostarmos            ência. Não tem nada que ver
                                                             desse lugar é nos transmitido por dentro, tenha esse dentro
Joaquim Alberto Chissano,                                    as referências que tiver. Então, foi revisitar esse país. Cada   o poeta com o Eduardo White
                                                             um de nós tem um país dentro de si. “o país de mim” é essa
investiu-se na cultura como                                  história. Muitas vezes, as pessoas associam-me ao livro de       que sou eu.
                                                             Rui Knopfli “o país dos outros”. acho, também, que existe
uma coisa séria. A cultura                                   o país de mim, se há países dos outros. quase sempre, a          tEnHo pontos de vista muito diferentes da pessoa que
                                                             minha escrita é muito interiorizante. ponho o que vejo           escreve em mim. Não tem nada que ver com heterónimos,
não é para vender imagem,                                    cá dentro e transmito com uma nova roupagem e nova               nem com desmultiplicação de personalidades. na verdade, o
                                                             paisagem, de maneira a que cada livro seja uma rua do            eu que escrevo não é muito o que eu vivo, e muitas vezes sou
é para mostrar um país.                                      país que tenho dentro de mim.                                    apanhado a viver o poeta que o poeta a viver o homem

Em “Navio de Guerra Indiano” faz um trocadilho entre
a liberdade e a prisão. como se pode estar mais livre        Silêncio solitário
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Terça-feira, 23 de Agosto de 2011                                  https://literatas.blogs.sapo.mz                                                   8
no rEcanto dE apoLo...
Encantado silêncio das
areias de Maputo                                         Poesia na árvore                                Amanhecer
BáRBARA LIA - BRASIL                                                                                      PEDRO Du BOIS - BRASIL
Entre estrelas
                                                     SAMuEL cOSTA - ITAJAí - BRASIL
                                                                  Eu prefiro frases feitas...              amanheço em nuvens de inver-
entre algas
                                                             Lê-las, e pensar que são minhas!            no.
entre brancos lençóis
                                                                     Dizer: Eu te amo...                  No esfriar da hora sou corpo
e paredes brancas.
                                                                   usando velhos clichês                  despertado. sigo o leito do rio
Vermelha viagem da vida nas veias.
                                                                       Finjo ser poeta                    ao largo: estrito ao peito
instante que precede ao nascimento,
                                                                     Às vezes contista...                 da mulher amada no anunciar
também à morte.
                                                                     uso velhos clichés                   horas anteriores de refúgio. acordo
a morte é um silêncio suspenso
                                                                 ‘’porque dizer eu te amo...              e levanto em ensolarados passos.
e o sol, um silêncio vermelho.
                                                                   Não é dizer bom dia!’’
Nuvens em seu passeio
                                                                  Escuto velhas músicas!                             Da manhã retiro a necessidade
diante da janela deste apartamento.
                                                           E chego a pensar que a dor é minha.                       da utilidade. sou repositório
tem uma sinfonia em tons vários
                                                                        Mas não é!!!                                 da inatividade.
a gritar – silêncio!
                                                                  penso em ser prosador...
silencio.
                                                            para voltar para a minha infância...
branca, como estrelas e algas.
                                                              aonde corro e corro de novo...

                                                                                                         O preço e o
passeio brancas areias de Maputo,
                                                                Corro entre becos e vielas...
olhando ao redor em busca de Mia Couto

ansiando que ele me ensine a estrondar
                                                                    ...de braços abertos!
                                                                                                         sono
                                                                      Finjo ser poeta...
o encanto.
                                                                  ...na pós-modernidade!

                                                            a ignorar regras, rimas e métricas...
in Noir (2006)                                                                                           NELSON LINEu
                                                             a desdenhar de antigas elegias!

                                                       todas as velhas fórmulas prontas e acabadas.

Madrugada Madrugadora                                    Velhas formas de amar musas intocadas...

                                                                   Finjo ser versejador...                porquê tudo para mim

                                                                  Nos tempos modernos!                    tem que ter preço?
cELSO MuNGuAMBE - MAPuTO
                                                                     E em meus versos!                    será esse o preço por eu viver?
 a noite ronca eternamente, e internamente dorme
 a escuridão                                                  sinto que não fosses embora...
 Friamente as madrugadas nascem, congelando e
 Gelando o universo, madrugadas silenciam-se              Estas perdida...entre os meus versos...         Estando a reclamar
 Diante de tanto frio
                                                                      Mais profanos...                    é pedir a minha morte?
um ninho floresce com delicadeza
a madrugada vomita a cacimba aconchegante                  Finjo...que não te perdi para sempre,
Como um diamante delapidado e escalado
Num dos silêncios, a madrugada grita apelando                  Às vezes leio velhas poesias.              o pior de tudo
para lua
                                                                     Mas, só às vezes...                  tenho que ser eu a pagar
a madrugada delira de tanta solidão, sem exactidão
Ela faz um sarau                                                  E penso que são meus...                 comprando ou vendendo.
bisbilhotando na noite, ela procura afazeres
Desfazendo o movimento rotativo                                aqueles idílios de saudade...

a madrugada conversa com a manhã                                 Eu gostaria ser um poeta.                amigos eu não apanho sono,
uma conversa rápida e fria, mas não sombria
Lá esta ela, com uma cara murcha de solidão             para pensar que não te perdi para sempre...       eu compro o sono.
a madrugada é muito sacrificada.
                                                             imortalizar-te-ia em meus versos!

                                                                 Às vezes penso ser poeta!

                                                                   Na pós-modernidade!

                                                                   a usar velhos clichés!

                                                        E digo: ’’Dizer te amo...não é dizer bom dia’’
Exero 01, 5555   BLA BLA BLA   9
Terça-feira, 23 de Agosto de 2011                                          https://literatas.blogs.sapo.mz                                                             9

cabo VErdE

    Poesia de António de Névada
António de Névada, poeta cabo-verdiano, nasceu em 1967. viveu a infância e fez os estudos liceais em cabo verde
(Mindelo) e os estudos universitários em coimbra. começa a publicar em periódicos literários em fins de oitenta. Durante
os primeiros anos da década de noventa faz teatro universitário em coimbra. Em 1993, é editado pelo IcLD (Instituto
caboverdeano do Livro e do Disco) o seu primeiro livro de poesia, “Acto Primeiro ou o Desígnio das Paixões”. Em 1999,
lança pela Angelus Novus Editora o segundo livro de poesia, “Esteira cheia ou o Abismo das coisas”.
  canção Terceira                                               Na enseada onde os homens fazem as preces
                                                                o bravo retorna ao mar.
                                                                                                                 caem os homens moribundos.
                                                                                                                 E o sol brilhando
 ANTÓNIO NÉvADA                                                 ao longo da estrada, lado a lado,                acompanha a sementeira,
                                                                o penhor e o prumo da semeadura                  o corpo e seiva,
 a bia Didial                                                   descrevem o campo, a alfarrobeira,               porque a loucura
                                                                o grão da mostarda, essa aflição dolente.        perdura no âmago dos seres,
(canto à semeadura)        I                                                                                     troncos da mente folha gente sem semente.
                                                               IIo caminho é longo,                              Ó deuses, ó cantos, ó bravos.
 Não venho para redimir ou semear,                              a estrada deserta.                               Ó imensidade negando a têmpera dos dias!
 não viemos para colher ou situar.                              a densidade das palavras
 o luar fragmenta-se,                                           não encontra                                   III vozes são agora perecíveis,
                                                                                                                 as
 os momentos tecem o peso                                       o discurso necessário.                           o abandono alenta a paisagem,
 e não viemos para escolher, corroer ou perpetuar,              a magnanimidade vagueia                          sua sombra queda-se
 e nem as coisas preservam                                      pela vida, convivendo                            na monotonia do horizonte,
 o caudal dos tempos,                                           com as colinas agrestes do poente.               seus dedos contornam
 ou inutilmente pensamos, estimamos o afluente da dor.          E certamente,                                    o renascer das cores.
 Não venho para criar ou garantir,                              os sonhos serão acessíveis                       as folhas cobrem os detritos da vida,
 não viemos para aumentar ou instaurar. Cada enxugo ou rega,    na próxima alvorada, e as lágrimas               a areia possui os corpos,
 cada filho dizendo,                                            percorrerão as faces do cultivo:                 versos amorfos declamam a mudez do tempo.
 dizendo a morte e a sina nossa,                                a cana, a cevada e o milho,                      qual é o ente que colhe a alma triste?
 a cada filho o condão da rememoração.                          encontrarão a terra ferida.                      qual é a água que cala o abrasado cutelo1
 E se dizemos hoje dizendo cantos,                              os braços, as pisadas desoladas,                 [da minha póvoa?
 é porque dizendo hoje temperamos o espírito!                   na paisagem entreaberta,                         apascentamos o destino,
 ontem                                                          encontrando o corpo doente.                      sina diminuta ou prenhez que nos arrebata,
 descemos as encostas                                           oh!                                              tal a fecundidade, incontestável culto
 e bebemos a água da fonte,                                     Escolhemos a quietude, encolhemos a audácia.     onde os pássaros poisam e semeamos a afronta.
 a semeadura foi abençoada pelo poente,                         E o caminhar aviva o desejo de audiência,        seguimos rotos, famintos pelos campos da mente,
 pela poesia e pelo bater do tambor,                            de intermitência, inconsciente do seu dom        e palmas e membros hasteados
 e bendizemos o corpo vago,                                     que é dono da fugacidade.                        suplicam ao deus afónico?
 as fraquezas,                                                  - Rochas densas, elegias completas,              - apuramos mais uma vez a grandiloquência!
 alguns troços de alma.                                         como vos direi                                   E exibimos pelas ruas as mágoas,
 Hoje                                                           que o poema não é a almenara do silêncio         o nosso húmus, o que nos resta,
 sentamos à soleira da porta                                    nem a obra o seu mundo?                          ou simplesmente mais um dia,
 e dizemos hoje dizendo cantos,                                 Como vos direi,                                  a lida e a aresta do dia,
 porque dizendo hoje diremos o vento                            ó eloquência arrebatadora,                       a vida.
 à porta da aldeia,                                             que o verso que lhe falta                        Dúbios versos
 cantamos a terra ou o verso e rima.                            a serenidade toda                                que fluem no vazio da pena,
 Diremos a morte, a sensação de inexistência                    apascentará no seu leito?                        verbo que verga sob o vento,
 [que nos perturba.                                             E a terra, a natureza sua,                       membros densos e sobretudo abraços,
 E o homem                                                      que nos vê nascer e crescer,                     braços da mesma quietude
 cultiva sobre a terra estéril,                                 espera pacientemente a nossa morte               e ventania brusca buscando as lágrimas,
 e sobre ela ajoelha-se                                         para reedificar a substância telúrica            ou mãos que empunham a magnitude.
 para louvar ou barafustar,                                     [que lhe pertence.                               Lombos doridos, prantos nocturnos,
 para louvar ou possuir                                         pelos vales, pela ribeira,                       sustentam a geometria das sombras.
 o dom dos deuses.                                              o vento incansável,                              E caídas, sob o ripostar das ondas,
 Homem que espera a consumação                                  o regadio, a água do poço.                       nossas almas seguem vazias
 e o volume da vida,                                            os homens cavam,                                 por entre os cascos dos navios.
 homem que habita os seios da madrugada                         cavam e cantam                                   Ó homem brando de sonhos magos,
 ou os cios, cios nossos                                        embebidos no sexo e na sede.                     homem lânguido que vagueia pelos tempos
 e do tempo horto.                                              Nem horas nem palavras,                          sua mente sumarenta:
 será que vivemos,                                              inalteráveis cantos.                             qual vento louco,
 sobrevivemos,                                                  E pergunto,                                      o mar bate rouco, longo
 para estabelecer a causalidade da morte?                       que entranhas nos suportam,                      dentro do peito, sua
 ou o mundo é a rua toda,                                       que entranhas matamos com os dias?               vertente de tambor. o
 o regadio e a impunidade?                                      será que cavamos a própria sepultura?            mar bate tanto
 a rua toda, almas famintas,                                    inventamos os sonhos, vivemo-los                 que no mastro outro mastro,
 o afluente da dor?                                             com essa ânsia inexplicável, verosímil.          na vela outra vela
 Nas palmeiras,                                                 observamos o quotidiano,                         procura o porto de permeio
 no oráculo e em voz branda,                                    essa encadernação lenta, precisa.                onde o peito dorme.
 assumimos o cântico, dispensamos o corpo,                      ah!                                              Não construímos templos,
 e alagamos a ubiquidade.                                       canto inválido,                                  não louvamos o inexprimível.
 as ondas banham a alvorada,                                    vozes mutiladas                                  E a seu tempo,
 a areia reagrupa a linguagem,                                  gemendo no redizer do vento:                     assemelhando-se à ribeira,
 e a terra semeia o ramo e o suco.                              a alma abarca a existência.                      encontraremos o mar,
 a alma vai com o vento,                                        os olhos mergulham na nostalgia dos dias         afagaremos as chagas, o ardor.
 o infindável manto oculta as imagens,                          e um Deus inútil envolve o rebanho,              E direi mesmo:
 e as árvores da humanidade                                     o estanho e a profunda tristeza                  - julgaremos o homem, sua essência,
 caminham sem frutos                                            pelos movimentos da vida.                        como quem julga a negação dos deuses,
 sem raízes de imbondeiro.                                      Encontra o homem, rebelde,                       o infinito ou a irreferência das coisas!
 Cantos, breves cantos                                          arrastando o mar pela praia adentro:
 ó demência toda!                                               boca ávida,
 seguimos                                                       desespero trágico
 as pisadas nocturnas da brisa,                                 seus membros lânguidos,
 e a maré rasa                                                  sobre a terra grávida
 no rosto da maresia,
 e a secura do sal pela rua.                                    Extraído da antologia de poesia Contempoânea de Cabo Verde. organizada por Ricardo Riso.
Terça-feira, 23 de Agosto de 2011
10 BLA BLA BLA Exero 01, 5555
                                                                          https://literatas.blogs.sapo.mz                                                            10

Em outras paLaVras
 Nissa
Falta de livrarias preocupa Associação Progresso
 MAuRO BRITO - MAPuTO                                     então os estudante e professores pode comprar os          o desenvolvimento das comunidades de base , com
                                                          livros nestas feiras                                                                             particu-
   No âmbito do programa de promoção de um ambi-          pois os livros                                                                                   laridade
ente de leitura a associação progresso em parceria        estarão aces-                                                                                    a aten-
com direcção provincial da educação e cultura do          síveis”.                                                                                         ção as
Niassa promovem a V feira de livro e lançam a V edição       o objectivo                                                                                   crianças
do concurso literatura infantil na província de Niassa.   da feira é pro-                                                                                  e mul-
Na cidade de Lichinga a feira terá lugar de 23 a 25 do    mover no seio                                                                                    heres
mês corrente no balcão de informação turístico (bit)      dos estudantes e                                                                                   Estas
e na cidade de Cuamba 26 a 28 de agosto.                  as comunidades                                                                                   activi-
   alem da província do Niassa a associação progresso     em geral o gosto                                                                                 dades se
realiza estas actividades na província de cabo del-       pela leitura ,pois a                                                                             encaix-
egado e tem com apoio do Governo do Canadá                leitura é uma base                                                                               am no
   Conta com livros de editoras como Ndjinra, Kapicua,    de aprendizagem                                                                                  vigési-
JV, paulinas ,Minerva central ,plural e texto editoras    para todas as                                                                                    m      o
   Com cerca de 2.036 obras de entre didácticos,          áreas de sabedoria
infanto-juvenis e literários.                             da nossa ciência e assim sendo a realização desta feira   aniversário da associação progresso
   Em entrevista a revista Literatas, Maria Ema Miguel,   livro é uma oportunidade para os estudantes desta            E todos os cidadãos venha apreciar e crer comprar o
disse esperar que aja muitos visitantes principalmente    província de modo a adquirirem os matérias para a         livro e também temos o concurso de literatura infantil
a camada juvenil de modo que venha apreciar as            consulta e não só é também oportunidade para o            podendo escrever histórias para crianças e submeter
diversas obras que lá estarão expostas na feira, “uma     publico adquirir matérias para a leitura que é uma        a associação progresso.
vez que teremos várias obras entre didácticos ate         fonte de aquisição de conhecimentos e de salien-             o regulamento esta disponível na associação.
literárias e dizer que esta é uma oportunidade uma        tar que a associação é uma oNG sem fins lucrativos
vez que na província do Niassa não temos livrarias        mas como objectivo social geral de contribuir para

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Revista literatas edição 1
 

Revista literatas edição 7

  • 1. Literatas Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista a um amigo Literatas agora é no SAPO Sai às Terças-feiras literatas.blogs. sapo.mz Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona Director editorial: Eduardo Quive * Maputo * 23 de Agosto de 2011 * Ano 01 * Nº 07 * E-Mail: kuphaluxa@sapo.mz Até AmAnhã CorAção Niassa sem livrarias pg. 10 Loucura pela escrita “O homem sai da escuridão para a luz. O escritor faz o inverso, da luz para a escuridão. Talvez por isso queremos sempre voltar para esse mundo de luz, e procurámos como loucos um papel em branco para acender a escuridão que nos persegue.” Veja a entrevista com Lucílio Manjate na página. 3
  • 2. 2 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 23 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 2 Em primEira Uma poesia de alto risco ------ Rubervam Du Nascimento exibiu seu livro através de “Konstantinos Kavafis”: “todas seu “Espólio” em Maputo essas coisas são muito velhas/o esboço, o barco e a tarde”. “Estrada da vitória não tem mais voz/ assiM Du Nascimento prepara-nos para o que sem rodas da máquina do horário podemos encontrar nesse “Espólio”. Mesmo antes da epígrafe, o poema (de) “introdução” já nos azul/acaba cantiga do relógio de chama atenção para toda a base (assim como os sol apressado” – é uma das estrofes detalhes) deste livro. “Não é fonte deste livro/meu dia perdido/ na con- extraídas do livro “Espólio”de fusão da noite/ nossa vida de cão/ passada a limpo/ Rubervam Du Nascimento, lançado desde que o anjo rebelde/ a serviço do criador/ armado de lasca de sol/ nos expulsou do paraíso”, em Maputo, onde o autor parece-nos escreve em “introdução”. levar a visitar detalhes do tempo mas EstaNDo pREpaRaDo, parece- abrir-nos para uma leitura não pré-definida que nos sujeitaríamos se sem nenhum saudosismo. nos baseássemos simplesmente no título “Espólio”. Mas ele avisa que este não surge de “manuscritos salvos de um arquivo de areia redigido com tinta REDAçãO - O PAíS deagua...” E, quaNDo nos prendemos no poema “Herança”, DizEM quE anda por cá por outras razões que não sejam que abre “Livro 1 – Da Carne”, vamos perceber clara- poéticas. Mas Rubervam Du Nascimento está a aproveitar mente a linha que o poeta nos remete. as terras do índico para falar de Craveirinha; falar da poesia “MaRiDo apRoVEitou a demora da festa/ testou e lançar, como fez na sexta-feira, o seu “Espólio”. com indicador a castidade da mulher/ ajudado pela DEsEMbaRCou CoMo um dos poetas brasileiros mais toalha da mesa cheia de rosas feias/ que cobria colo premiados – quatro prémios – e levou para o Centro Cul- e pernas dos convivas”. tural brasil- Moçambique o seu mais recente livro “Espólio”. Mas ao lermos os poemas de Rubervam Du Nas- izacyl Ferreira, que escreveria a apresentação desta obra, cimento temos sempre uma tendência de o vermos faz uma “visitação” religiosa a obra de Rubervam por sua a definiria como um livro de “desolação, de perdas, de fer- pelos olhos dos outros, daqueles que já o tinham lido antes, constante recorrência à religião, enquanto nos lembra que rugens, coisas e pessoas gastas e perdidas”. começando do seu “debut” com “a profissão dos peixes”. Este este poeta já foi um servo de Deus. Esta FoRMa simplista de definir o “Espólio”de Du Nasci- parece ser o seu livro e marca. Melhor, como diz Dalila teles “... as referências religiosas, bíblicas e extra-bíblicas são mento conduz-nos, de uma forma complexa, para um livro Veras, ele – Du Nascimento – já se auto-denominou “poeta abundantes no texto de Rubervam, veladas e claras. para que, ao ler, parece estar constantemente a nos conduzir de um livro só”, referindo-se “a profissão dos peixes”, obra quem não sabe, o Rubervam é um ex-pregador adventista ao passado, ou melhor, ao que nos resta da vida. Ferreira que demonstrou o desejo de reeditá-la em edições revistas com vivência e formação cristã e grande familiaridade com diz reiterar o dito arrulhos que defende a utilidade de e – cada vez mais – diminuídas. o texto bíblico.” reler as epígrafes de um livro para melhor entender o seu Mas EstáVaMos a falar dessa leitura que temos sempre conteúdo. Esta sugestão leva-nos a uma conclusão quase de fazer através dos olhos dos outros. Elias paz no artigo “o agressiva que Rubervam Du Nascimento busca para o engajamento p(r)o(f )ético em Rubervam Du Nascimento” Pão Amargo Finalmente chega um livro para a indústria dramaturga. Guilherme Silva é que escreve a obra “Pão Amargo” Um Livro de teatro como ções como “Mestre tamoda”, de Neto Mondlane, até linhas não surge há muito nas impressionantes de “aldeias dos Mistérios” de Dadivo José. prateleiras das livrarias são nomes que aparecem assim ao alto, mas podemos buscar nacionais é a sugestão de tantos outros que não aparecem em livro. Guilherme afonso e sua editora, “alcance”, em “pão mAs, contrA a corrente, Guilherme afonso, que chegou a amargo”. Nesta obra, o autor Maputo – ou é melhor dizer Lourenço Marques – em 1959 vai buscar pequenos detal- para ingressar no Corpo de polícia, curiosamente no período hes da vida desta sociedade em que se elevava a literatura nacionalista, oferece-nos “pão que é a moçambicana. amargo”, que sai pela alcance Editores. EstE é um país de actores – Há mUito que Guilherme afonso está na literatura, tendo de dramaturgos também. aparecido em 1988 com o livro de contos “Circuito”, pela a frase pode não ser nova associação dos Escritores Moçambicanos, e com poemas em e já deve ter cansado, mas “Memória inconsumível”, pela imprensa universitária. quando se volta à criativi- dade teatral em termos de Em “pão amargo”, aborda a problemática social, começando produção de livros parece pela confusão nas filas de “chapa”, como quem nos lembra que ganhar um outro sentido. a partida para a vida começa numa paragem. quando Lindo Lhongo, para EstA é a imagem que nos salta à vista quando começamos a alguns a maior referência folhear o livro e nos deparamos com este diálogo que acontece da dramaturgia nacional, na paragem: lançou “o Lobolo”, criou-se “mULHEr por momento um pequeno - EH! senhor... o seu lugar não é aqui. Chegou agora e quer ficar debate sobre a ausência de à frente! o que é isso?... livros de peças teatrais. inDivÍDUo intErpELADo A pAr da poesia e prosa – ou - orA essa! quem é que lhe disse isso? a senhora está muito romances – existiu sempre enganada...” uma clandestina vaga de dramaturgos, mas poucos EstE DiáLogo decorre perante a passividade dos outros pas- fizeram a aventura em livro. sageiros, o que desencadeia a ira da senhora devido à inca- podíamos recolher belas pacidade das pessoas de reagirem perante actos anormais. peças de teatro nacionais Este “pão amargo” é uma história da vida que foram seguindo o seu crescimento, entre adapta- tExto E Foto: JornAL o pAÍs
  • 3. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 3 Terça-feira, 23 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 3 Em primEira “A poesia não está fora de nós, nós é que inventamo-la” AMOSSE MucAvELE LUcÍLio mAnJAtE: Não há bases em literatura. Mesmo quando queremos vincular determinado escritor a um estilo determinado, não poderia o homem encontrar melhor forma esse é o nosso esforço, a nossa angústia de querer uma base, uma Literatas: O Lucílio Manjate começa a escrever referência, um ponto de apoio a partir do qual o mundo possa fazer de perpetuar a espécie. sentido. o problema é que esses sentidos, às vezes, são perniciosos, em 1996. Porquê, para quê e para quem? quando não valorizamos também a experiência vivencial do escri- Ainda não estamos em vias tor, como se o seu estilo se fizesse sentido somente em função das leituras que fez. obviamente que sim, mas isto significa que de extinção. Ou estamos? LUcÍLio mAnJAtE: penso que os escritores nunca sabem quando observar, cheirar, sentir, etc., são formas de ler, também. Mas ok, é é que começam a escrever, porque sendo o acto da escrita um como disse. isso foi o que, de facto, li primeiro. Mas li também poesia Precisamos da imag- processo, que se liga a um outro processo, o da leitura, nós vamos de Combate. Foi importante porque essa poesia tem uma força de escrevendo enquanto lemos, mas não registamos. é uma escrita expressão tal que me lembro que foi depois dela que estoirou a inação, da criatividade ao nível do subconsciente, do íntimo, e que vai ganhando forma bolsa que me guardava durante esse tempo de gestação. durante um tempo também impreciso, o tempo de gestação do Literatas: Mas essa poesia é questionada hoje para viver, e o livro dá-nos escritor. é o tempo da criação da forma e que um dia vem cá para fora; no meu caso isso aconteceu em 96. penso que nessa altura enquanto poesia? isso. O que o nosso país eu escrevia porque tinha que me situar, em termos geográficos, culturais, políticos, ideológicos, etc. talvez seja o primeiro passo, precisa é pessoas criativas, esse. Essa é a leitura que faço hoje, lendo os meus textos um pouco mais crescido; escrevia para, a partir desse pressuposto LUcÍLio mAnJAtE: questionar a poesia é uma questão estética, que constroem imagens e identitário, inventar os meus sonhos, como todos os outros escri- equivale a questionar as noções do belo. Então essa discussão pode tores inventam, e comunicar esses sonhos aos receptores dos não acabar. o que é belo para ti não o é para mim. podemos pergun- as experimentam nos seus meus textos. partilhar um mundo possível. tar se não é belo exaltar a pátria liberta, cantar os seus rios, os seus montes, as suas vitórias, a coragem do seu povo, o som das armas Literatas: Sugere que o escritor não nasce sectores de actividade. A da liberdade. a poesia não está fora de nós, nós é que inventamo- numa folha em branco cheia de gatafunhos? la, a partir dos nossos ideais. posso concordar que nem toda essa literatura dá isso tudo, e poesia seja bela, mas então existe aí alguma poesia, algo de belo. Mas é preciso, de facto, questionarmos as coisas, para avançarmos, muito mais, dá-te amor, LUcÍLio mAnJAtE: Exacto. podemos entender essa questão e a geração charrua, que propôs outras formas, entendeu isso. como quisermos, eu penso que no papel ele apenas acontece. Literatas: A geração charrua foi, aliás, objecto outra carência entre nós… perguntar quando é que o escritor nasce é sugerir uma discussão filosófica interessante, porque o texto primeiro acontece enquan- da tua análise enquanto estudante de litera- to ideia, o embrião, e isso é na nossa mente e não fora dela. a metáfora de “nascer” aqui não pega, porque o ser humano vem tura na universidade Eduardo Mondlane (uEM). para a luz, mas a luz do escritor está dentro dele, nunca fora. o Literatas: O teu olhar sobre a literatura homem sai da escuridão para a luz. o escritor faz o inverso, da luz LUcÍLio mAnJAtE: sim. Foi, porque achei que não existia um para a escuridão. talvez por isso queremos sempre voltar para estudo sistemático a respeito dessa geração… moçambicana? esse mundo de luz, e procurámos como loucos um papel em LUcÍLio mAnJAtE: positivo. pena é que essa crise alcançou branco para acender a escuridão que nos persegue. por isso o também as artes. ainda não fui a um lançamento, este ano. E tempo de nascimento é um tempo mental, psicológico, à procura Literatas: Que já não existe… nós ainda precisamos desse momento mágico, o do lançamen- de um signo que lhe dê a forma… Mesmo quando me pergunto to… a nossa literatura está muito boa. sinto que nos próximos quando é que nós, seres humanos, nascemos, penso que é já Lucílio Manjate: Há várias formas de existir. Existem escritores sem 5 anos teremos grandes revelações. Muitos dos escritores da no acto de amor que um dia uniu os nossos pais. Nascemos a livros publicados como existem músicos anónimos. Não são escri- minha geração, por exemplo, estará mais crescida nestas coisas partir daí. tores? Não são músicos? Existem correntes de pensamento que só da escrita e isso vai emprestar `a nossa literatura outro ar, e daqui a algum tempo tomaremos consciência delas porque alguém talvez outro destino. é verdade que, do que essa geração produ- Literatas: Falaste do signo. Que signo foi o ira analisar determinados fenómenos e verificar o seu compor- ziu, há boas coisas, mas penso que virão propostas melhores. tamento e os seus actores. Depois de identificadas, talvez já não que apagou essa tua escuridão? existam, terão existido. Literatas: Quais são os teus escritores, nessa nADA nos pode assegurar que o facto do grupo daqueles outrora geração? jovens da charrua não organizarem hoje as mesmas tardes e noita- LUcÍLio mAnJAtE: das, os mesmos saraus onde se discutia literatura e até o país, o O meu foi primeiro poético. facto desse grupo não se concentrar não significa que já não exista a LUcÍLio mAnJAtE: Rui Ligeiro. Mbate pedro. Celso Manguana. geração, até mesmo o grupo, porque a questão de nós pertencemos aurélio Furdela. sangare okapi. Clemente bata. Jesus. Chagas Primeiro escrevi versos que a um grupo é antes mental, de adesão e de comunhão de valores. Levene. tânia tomé. Dércio pedro. Dom Midó das Dores. Rogério o cErto é que ainda hoje, quando se encontram, nós, os mais Manjate. andes Chivangue. Domi Chirongo. Repare que nunca mostrei a ninguém jovens, ouvimos histórias, aprendemos algo. E isso, o que é? é preciso nenhum destes autores tem 3 livros publicados, eu, enquanto considerar também que grupos enquanto tal torna-se hoje difícil, apreciador, estou a espera. porque eram decalques da as pessoas não param, muito menos para discutir ideias. Estamos cada vez mais fechados em nós mesmos. E o homem é tão pequeno! Literatas: Para fechar: como vês o projecto da nossa revista? elegia de Craveirinha em Falemos talvez em grupos virtuais. Encontramo-nos no correio electrónico que me mandas de paris ou no facebook e por ai fora. Maria. Mas antes tinha LUcÍLio mAnJAtE: parabéns! admiro essa vossa maneira de Literatas: Hoje tu dás aulas de literatura. Qual divulgar as artes e cultura irmanadas no cruzamento entre essas é o teu sonho, considerando essa fraca adesão andando a decalcar as oceânicas águas, a água, a única coisa que nos une, a vida. das pessoas para a leitura? muitas vozes do Caliban, do Biografia Manuel Ferreira. Funda- LUcÍLio mAnJAtE: LUciLio mAnJAtE nAscEU Em mApUto Aos A 13 DE JAnEi- mentalmente essas duas O meu sonho é de que as ro DE 1981,é Escritor, EnsAÍstA, critico LitErário, E DocEntE DE LitErAtUrA nA UnivErsiDADE EDUArDo vertentes. pessoas acabem por desco- monDLAnE, tEm DUAs oBrAs pUBLicADAs: -mAniFEsto-prémio t.D.m-2006 brir que o livro é uma das -siLêncios Do nArrADor-prémio 10 DE novEmBro- Literatas: E essas leituras deram-te as bas- 2010 es… maiores invenções do homem,
  • 4. 4 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 23 de Agosto de 2011 LITERATuRA MOçAMBIcANA 4 Heliodoro Baptista HELioDoro BAptistA nasceu a 19 de Maio. Alegoria Faria este mês 65 anos. Era casado com a jor- HELIODORO BAPTISTA nalista Celeste Mac-artur, editora fotográfica do Diário de Moçambique, diário que se publica na Em inhaminga, meu amor, estão as armas apontadas para o céu beira. Deixa viúva e quatro filhos. mas só há pássaros. o JornAListA, escritor e poeta nasceu em E como as armas pensam no canudo do seu cérebro que as aves são inofensivos passarinhos Gonhame, cidade de quelimane, capital da estes aproveitam a confusão dos pára-quedistas já cansados. província da zambézia. Deixou escritas várias por isso cada pássaro que voa pelo céu obras não publicadas e publicou «por cima de (luminoso como uma palavra boa) deixa cair melancolicamente toda a folha», «Nos joelhos do silêncio», «a filha o seu depósito de agradecimento sobre as armas de tandy», entre outras peças dispersas. e a estupidez dos generais. Foi jornalista do «Notícias da beira» onde chegou Vorazmente, meu amor, o destino da terra passa a ser chefe da redacção. Deixou de exercer a e cria-se entre o ventre das armas HELIODORO BAPTISTA e o círculo da esquadrilha voadora profissão de jornalista quando se incompatibi- o futuro desta terra que alarga e fermenta. lizou com a direcção do «Notícias” que se pub- ao Rui Knopfli e ao Eugénio de andrade tudo isto em inhaminga, lica em Maputo, jornal de que na altura era o sim, de facto, «uma só e várias línguas com o tamanho deste país, eram faladas e a isso, meu amor delegado na beira. trabalhou ainda no «Diário por estranho que pareça, também chamávamos pátria». de Moçambique». outros vieram e estão na curva ambulatória do terreno, entrecortando a escrita ao sol com a que, na bruma, lascivo lugar Presságio, minha Ave como um cão dos malditos de esgares cínicos mas persuasivos, HELIODORO BAPTISTA HELIODORO BAPTISTA estrangula, subverte também a repulsa. Como um cão curvo-me e procuro ler nas marcas alguns reencarnam, voltam a nascer (ao Gringas e à Maria, que a noite não pôde de uma emoção que, anos atrás, poetas de outro blue-jazz) recolher o tempo. os condicionou, e isso tem sido notícia, curiosidade incorporada Estou doente como um cão anima-me a superfície fabulária na astúcia discreta dos que triunfam num barco içado pela babugem onde o olhar do dia revolve pelos propósitos trazidos no ritmo Índico puro da monção; o que foi alvoroço vida há um quarto de século. ou sinal ténue. o homem que eu disse ser, palmeiras, casuarinas, eucaliptos, inescrupuloso, de rara penugem, Detenho-me na pegada junto à cama micaias, planuras, mangueiras, enfim, é o capitão deste barco a arder e a mão precavida incha a memo’ria a ainda inacabada totalidade do país amado, no seu cachimbo em forma de coração; nenhuma sensação acende tudo existe, não é mitológica passagem o que já está perdido. de forças cujo núcleo, por estranho, também, Longe, a ilha de seu destino, é vaga ideia que pareça, é uma ordem desordenada, em qualquer privado jardim da consolação: (perdidos os meus passos? a minha voz? uma certeza de mil incertezas, céu, mar, gaivotas de fogo, o pé-de-meia é assim tão terrível o amor ao homem? mas isenta já de prodígios, de quando eu ainda pensava ter razão. a justiça foi calcinada em que ritual?) confusa e humana. Este homem recorta-se no vosso céu de aço; pouso então devagarinho Nós outros, como vós, os que virão, Ventos temporais, estrelas caídas de fronte, o ouvido na parede húmida baixos-relevos das mais remotas o cachimbo sem tabaco, o declinado horizonte e eis que uma sombra volta-se e tranquilas paisagens onde o tempo urge E o coqueiro híbrido na mão insurrecta, largo o espaço. num largo aceno de simpatia. propostas originais, desencadearemos talvez a infidelidade Já não estou, afinal, doente; para sempre fui e morri. Na paz indizível sopra a outros mitos que a escrita, impressiva, Mas pela noite áfrica, oceânica, regresso. Renasci a fina aragem desanoitecida esconjura nos significantes. a leve impressão suportemos, como compensação, os impulsos dos néscios de um cochichar uma porta entreaberta onde pulsa uma esperança FicHA técnicA Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique* AV. 25 de Setembro nº 1728, Maputo, Caixa Postal nº 1167 * Celulares: (+258) 82 27 17 645 e (+258) 84 57 78 117 * Fax: (+258) 21 02 05 84 * E-mail: kuphaluxa@sapo.mz Director Editorial: Eduardo Quive (eduardoquive@gmail.com) Coordenador: Amosse Mucavele (amosse1987@yahoo.com.br) Editor - Canto da Poesia: Rafael Inguane (inguane.rafael@hotmail.com) Redacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane. Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza* Brasil: Itapema - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin * Marcelo Soriano * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas. Design e páginação: Eduardo Quive
  • 5. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 5 Terça-feira, 23 de Agosto de 2011 cRÓNIcA / cONTO 5 FiLosoFonias rapsódicas ALERTA vERMELHOS MARcELO SORIANO - BRASIL m.m.soriano@gmail.com Nota preliminar: Antes de JAPONE ARAuTO - MAPuTO prosseguir com este artigo, lembro ao leitor que me dirijo à Começo por proferir uma expressão que adoro: “Olhem para Ver”, Olhem CPLP (Comunidade dos Países para esta dissertação e vêem (entendam) de maneira mais lúcida, de modo de Língua Portuguesa), portanto, que por menos flexíveis mentais que forem a compreendam de forma podemos encontrar gerúndios, simples. Os que desta inundarem-se de dúvidas a gotas do indico, perdoe- me, assim como, também peço perdão os que acharem esta dissertação futuros do pretérito, expressões imoral, desprovida de patriotismo, um verdadeiro contra-senso, ou etnocêntricas, familiares a certos leitores, porém, inusitadas a outros. mesmo, um atentado ao ritual professado pelos homens trajados de casaco Oxalá, que esta peculiaridade não seja pretexto para correções, mas e gravata. para integrações e enriquecimentos léxicos e culturais entre nós. Espero que a provável inquietação não seja a sina preconcebida para que Marcelo Soriano. Santa Maria - RS - BR. 14/07/2011. os homens de casaco e gravata mostrem os seus dotes de censura carraça a essa dissertação, que por convicção própria pretende chamar de “Alerta Vermelhos”. E os que compreenderem, votos para que tirem bom proveito nisso, aliás, que tenham melhor repreensão do conteúdo aqui abordado. 1. microcontos à BrAsiLEirA Dando azo a causa primordial deste pobre gesto de exercitar a dita ................................... liberdade de expressão, que o mesmo concebo embriagado por elevado grau de legitimidade patriotica, arisco-me a afirmar que: Moçambique O AlíviO de OlíviA... Duas vogais que mudavam de lugar... ainda não é um país, muito menos uma nação, mas sim um lugar que pode vir a ser, se realmente queremos, então podemos, como diz o bagágio ................................... popular: “Querer é Puder”. Espero não criar espanto em dizer que a moçambicanidade, a unidade de nacional, são ainda sementes no celeiro, por tanto ainda não foram lançadas e não se sabe em que época da história Quebrou a cara com um soco no espelho. isto a conterá. São, portanto, lindas utopias, que a sua aplicabilidade ainda é um verdadeiro mito, igual ao mito da liberdade de expressão, no qual me ................................... inspiro. Lindas mitológicas teorias nas quais se comparam àquelas lindas frases (políticas) que fazem parte do nosso léxico quotidiano, como é caso Cobriu as idéias com palavras para que ficassem nuas... da Jatrofa, Distrito pólo de Desenvolvimento, O registo do Cartões SIM, á Inspecção de viaturas, o recém nado morto Cesta Básica, sem querer tirar o ................................... desmérito a teoria – mãe: A Luta contra Pobreza Absoluta, esta que dizem ser um problema mental, eu saudavelmente concordo plenamente, pois, Morreu de não rir. esta insonhável luta sempre foi e é proferida por um punhado de gente, aliás, sai sempre na mente de algumas pessoas, cá por nós conhecidas. ................................... Espero que sejam estes os principais patológicos. O que não espero é que passa nalgumas mentes usados por outras mentes, Doce menina se fez bela dona, que se fez linda senhora, que se fez sereno cadáver, neste coitado momento a seguinte questão: Porque é que Moçambique que se fez livre pó... E se refez nas tintas de Renoir. é um lugar, é não um país? Por uma razão muito óbvia, primeiro deixem me dizer que: os que já estiverem com esta questão pairando na sua ................................... desautónoma mente, eu acho que isto é, sem dúvida alguma, uma actividade desprovida de rácio. Bom, não quero em nenhum momento persuadir-vos para que usem as vossas mentes vós mesmos, ou convencer-vos a acreditarem nesta 2. LitErAtUrA visUAL premissa só para parecerem autónomos das vossas próprias mentes, isto é um processo, um processo como alguns justificam o fracasso na aplicabilidade de políticas. Pós concordo que todo aquele que se julga cidadão moçambicano sabe mais do que ninguém que a sua pertença; a força que lhe “governa”, para não dizer desgoverna, é um fiasco. Os que continuarem à achar esta premissa inundada de disfunção, pensem no seguinte: pelo memos este tem opinião num lugar onde a liberdade de expressão é um mito. E se realmente disconcordão com premissa, mostre- me pelo menos um dos ministérios a vossa escolha, que esteja melhor ou que seja no mínimo sério. Ou que tragam evidências claras de políticas traçadas e acabadas, sejam elas do governo dia (da noite), ou mesmo da oposição. Sem querer entrar em detalhes, lembrem-se que alguém uma vez disse “este país vai arder, arder mesmo!”, o mesmo disse que iria mobilizar uma manifestação a escala nacional, pós para me são todos farinha do mesmo parlamento, aliás puxadores do mesmo saco. E lembrem-se que somos viventes dum lugar da máfia (Moçambique um dos maiores narco-estado do mundo), onde os crimes desorganizados fazem manchetes nos jornais (por em quanto os publicados), onde é 3.monóLogos póstUmos com QUintAnA - pArtE v bem sucedida à corrupção, o enriquecimento ilícito da minoria, abuso de puder, estou sem tinta suficiente para enumerar todos monstros que a apoquentam a nossa procissão ruma a transformação deste lugar num país. Acredito em excepções, sem querer tira mérito a alguns que ousados “ Esquece todos os poemas que fizeste. Que cada poema seja o número um.” que tentaram dirigir esta marcha, e tiveram o final que todos sabemos, Mário Quintana no caso de Samora, Mondlane e outros. Isto mostra-nos claramente que existe um grupo (à tal Máfia) que se sente bem nesta condição de Não- País, de Não-Nação, de Não-República, e fazem questão de lutar à todo Eu a ele: O Escritor é o verdadeiro mestre-cuca. Alimentos para as cucas. custo para manterem este lugar assim como se encontra. As questões que Macarronadas esferográficas. vos faço são: quem são estes que se sentem muito bem com estas situação? E o que fazem aqueles que pretendem transformar isto num país, num Ele a mim: Assim como um louco que fala sozinho, os escritores são aqueles tipos Moçambique nação, num Moçambique República? Que tal e qual numa que vivem escrevendo consigo mesmos. República: com igualdade de direito, justiça, paz, democracia, etc. Onde estão estes? Se é que existem, e você de que lado esta? Espero que não deixa sua mente ser usada por outros nas respostas destas questões, espero (3.) continUA nA próximA EDição.. que seja você comum cidadão moçambicano
  • 6. 6 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 23 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 6 - discurso dirEcto Até amanhã coração FONTE: JORNAL O PAíS que está cansado de o ver foi aquele massacre. impressionaram-me tanto as capulanas que iam embrulhar os corpos nas valas comuns. Foi impres- sionante como ele conseguiu captar a tristeza profunda, um país travado pela burocracia e um bater, de tomar as rédeas a brutalidade da guerra. Fizemos o acordo de paz com os poeta que acredita que o amor é capaz de sua vida. Ele desiste e nossos vivos, mas nunca o fizemos com os nossos mortos. Este país ainda vive uma grande dívida para com os seus de vencer guerras. Eduardo White é dos mortos. Não os enterrámos condignamente nem fizemos poetas que mostra como o lirismo pode diz que não quer mais esse um acordo de paz com eles em relação a esta guerra que eu sempre disse que não tinha razão de ser. Depois, levou-se ser uma forma de vida, apesar de ter eterno apaixonado: “já muito tempo para se fazer um acordo. Essa coisa da morte certeza que fazer cultura é um acto de bateste muito na minha impressionou-me, por isso, que escrevi “Homoíne”, mas sempre com essa constante de que era preciso retomar as loucos. armas do amor. o amor tem as suas armas que são o beijo, vida”. Provavelmente, se o sexo... tem todas essas armas que são importantes, que falam melhor, que disparam melhor e têm outra pólvora. “ELE é poeta!” – repetíamos mentalmente antes da entrevista, for a fazer a sua contabili- CREio quE a guerra é um fenómeno que incomoda qualquer para não confundirmos esse lado com tantas outras áreas pessoa que tenha sensibilidade. a guerra é atrofiadora. em que ele se decidiu meter. No ano passado, escreveu uma dade, será o homem que para além de nos dizimar fisicamente, também nos dizima ópera juntando stars como Chico antónio, Graça silva, Mário em termos de alma e de sentimentos. Há um poeta, Jorge Mabjaia e adelino branquinho. Este ano, voltou a colocar-se o terá ficado sempre só entre Rebelo, que durante a luta de libertação nacional escreveu mesmo desafio, mas para a dança. Voltou ao seu companheiro um poema lindíssimo que se chama “Liberdade pode Chegar de longas viagens, Chico antónio, “entendemo-nos”, diz ele, e ele e o coração. Esta carta um Dia”. Essa carga de amor está sempre presente, não chamou pérola “Deusa” Jaime por uma velha admiração: “é uma pelas razões da guerra, porque acho que não podemos bela bailarina e coreógrafa. sempre a admirei”, disse, antes de é um pouco a história do ter amor por uma coisa que nos pode levar à guerra, mas começarmos a entrevista para o “Entre Letras”. Mas era uma pelos objectivos que nós pretendemos atingir. No amor há entrevista sobre literatura. Era preciso repetir o pensamento poeta e o seu coração, uma violência, há gente que faz guerra por amor e com amor. “ele é poeta!” e organizar as ideias com base nos títulos de Não sou de fazer guerra com amor, acho que o amor tem alguns dos seus livros. carta de despedida, mas que fazer guerra à guerra. sempre a dizer “vou viver poDia tER-sE contentado em “amar sobre o Índico”, mas o massacre de “Homoíne” fez com que desse uma pausa a versos de amor e contemplasse as fotografias de Jorge tomé e chorar com outro coração”. Poetas da política pelas mortes. No entanto, diferente de Knopfli, aqui onde Podemos falar dos “poetas de combate”, neste caso, Jorge havia dor não era “o país dos outros”, mas sim “o país de Mim”, Isso leva-nos a Rui Knopfli, no poema “A Despedida”, Rebelo, de quem falou, e podemos acrescentar Kalungano o que obrigava a aprender “poemas da Ciência de Voar e da onde evoca essa questão do silêncio. como é que Rui (Marcelino dos Santos), Sérgio vieira (…) cujos poemas Engenharia de ser ave”. Knopfli entra na sua literatura? são mais de esperança. como podemos, hoje, olhar para EDuaRDo WHitE é esse poeta que podia oferecer-nos “os sou REsuLtaDo de muitas leituras(…). Rui Knopfli não esses poemas e poetas? Materiais de amor seguido de Desafio à tristeza”, para depois é o poeta que me influencia. Mas acho que o amor tem a EspERaNça é um sentimento muito bonito. Com essa ficar na “Janela para oriente”, ler pensamentos de Gandhi antes sempre essa pequena indefinição, se é com a cabeça que mensagem de esperança, encontramos poesia digna e lá de “Dormir com Deus” e ouvir “as Falas do Escorpião”. podíamos se vive ou se é com coração, e acaba por prevalecer o está o amor à terra, amor à liberdade. é uma fase bonita falar longamente dos seus livros enquanto folheávamos “o coração. quando acaba o amor, é no coração onde a dor essa, e há boa literatura. Nem tudo o que se escreveu nesse Manual das Mãos”, observando “o Homem a sombra a Flor e pesa mais, apesar da cabeça ser esse roteiro de memórias. período é bom, mas há boa literatura e bons escritores. algumas Cartas do interior” antes de nos despedirmos: “até o amor é diário, mas é sempre uma memória de ontem, penso que nos países africanos de língua portuguesa a amanhã, Coração”. de hoje, com aquele encanto do futuro. Nunca se sabe esperança marca esse percurso histórico da literatura. o que vai ser, mas sabe-se muito do que já foi. o amor é agora, gostava de saber como é que essas pessoas que EDuaRDo WHitE toma uma base romântica. “todos nós somos sempre uma despedida, mal se começa, já se sonha com ainda estão vivas e que escreveram tanto sobre a esperança românticos, ou pelo menos devíamos ser”, acredita. Mas é a despedida. principias a amar, já principias a despedir-te. vêem hoje essa mesma esperança que cantaram. às vezes, é sobre a esperança de que fala, ou melhor, das pessoas que Lembro-me de um poema do angolano almeida santos, engraçado como uma pessoa escreve sobre a esperança e a sempre “cantaram sobre a esperança” no período da luta de “Meu amor da Rua 11”, que é uma música lindíssima da retira aos outros. a guerra não devia ser uma aprendizagem libertação, mas que “hoje a retiram” ao povo. Esta entrevista, banda Maravilha, que define esta coisa do amor estar para a continuar, mas sim para não a repetir. penso que se mais do que um rítmico caminhar pelos versos deste poeta, é permanentemente a bater. passou assim no nosso processo histórico, a guerra veio um olhar à literatura moçambicana e à forma como a buroc- e continuou, porque, infelizmente, a guerra é um grande racia pode parar um país. A sua poesia é marcada por versos de amor, entre a dor negócio para os que a fazem e os que a patrocinam. Gos- e a sua exaltação. É assumidamente um poeta român- taria de saber como é que esses escritores, hoje, vêem essa Despedida de um poeta tico? esperança que cantaram, o futuro que foi ontem e que é presente hoje. e seria interessante, porque hoje eles deix- EM pRiNCÍpio todos deveriam ser (…) todos nós somos aram de escrever. como é que um poeta consegue convocar toda a coragem românticos. o amor é a melhor maneira com que com- para ir embora? Melhor, por que um poeta decidi ir embora? bato as tristezas e desavenças que tenho com o presente É possível um poeta deixar de o ser? Existe um ex-poeta? e que tive com o passado. quando decidi pela linha do amor, foi exactamente no período em que prevalecia na aCHo quE não. penso que eles não pararam de escrever, nossa condição literária a questão da guerra e da morte. provavelmente pararam de publicar. Não é nada disso de “Até Amanha, Coração” é acho que muito embora não fôssemos soldados, todos processo político(...). se se envolveram muito no processo os dias eu acreditava que as armas se calariam, para se político, devo dizer que não foi muito bom, porque poetas carta de amor de alguém fazer amor. acho que as armas acabam sempre por se a fazerem política não são muito bons, são as borradas que calar, para se fazer amor. o coração é uma grande bateria, sabemos. a utopia é boa até onde termina o argumento que está cansado dos deva- dá-lhe aquele compasso, acho que fazes melhor uso a para fazer política, mas depois deixa de o ser. a política tem trabalhar apaixonado, do que a despedir-se do grande os seus próprios poetas, que são os políticos, e normalmente neios do seu coração, que pôs amor. são maus poetas como também maus políticos. sempre o amor em primeiro plano; de alguém que o Parar a guerra para É normal olhar-se para a sua geração como aquela que veio dar uma outra viragem à literatura. vocês têm essa seguiu fielmente, e como o fazer amor consciência de terem definido a literatura nacional? a LitERatuRa moçambicana nunca foi definida, é um pro- Faz uMa referência à guerra, que, curiosamente, vai cesso que está em construção, é um processo que vai sendo. dono se cansou. É um pouco recuperá-la no livro “Homoíne”, onde olha para a morte Evidentemente que esse processo tem seus altos e baixos. com todo o pesar que se pode imaginar... Mas a geração Charrua não marca definitivamente qual o a história de alguém que se EssE LiVRo, escrevo depois de ter visto fotografias de estilo que a literatura moçambicana vai tomar, mas marcou Jorge tomé, fotojornalista do “o país”, quando trabalhava uma ruptura com aquilo que se fazia no momento. Foi despede do seu coração e diz na revista tempo. Ele tinha ido cobrir o resquício do que
  • 7. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 7 Terça-feira, 23 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 7 - discurso dirEcto importante que a geração Charrua tenha aparecido para preso? demarcar essa cisão com a literatura que se fazia. A sua literatura tem uma espécie de solidão permanente. isso é de Gandhi. (o poema) nasce dessa coisa de ler como se constrói essa imagem de poeta solitário? Rompimento e buroc- Ghandi. Do meu ponto de vista, há muita gente que está livre, mesmo presa. Mas há muitas causas que têm feito os a soLiDão é uma coisa de que tenho pavor enorme, porque sou uma pessoa que normalmente se recolhe muito interior- racia prisioneiros mais livres do que as pessoas que andam nas ruas. Nós somos um país que tem muita gente presa nas ruas, fechada nos limites que somos, sem acesso a tudo mente. Dentro de mim, passam-se muitos tratados e preciso de estar com os outros, gosto de estar com os outros. a solidão é um facto marcante na minha vida. Muitas vezes, O que vai diferenciar a literatura antes de charrua da o que é essencial. Voltamos mais uma vez à cultura, que os amores errados da minha vida, todas as paixões erradas que se seguiu? é uma particularidade chave para o desenvolvimento da da minha vida, são desse processo de não saber tratar bem cultura. tem que haver cultura de desenvolvimento. a solidão a nível pessoal. E gerem uma frustração com essa ERa o lado ficcional, o lado da criatividade e, sobretudo, grande presença de solidão na minha vida. o rompimento com o lado temático. a literatura estava muito agarrada à questão da guerra da libertação, da Parece não ter uma boa relação com a burocracia… É desta forma que conclui que o silêncio faz muito barulho? revolução, não era contestatária. a Charrua veio con- testar muitas coisas que precisavam de ser contesta- CoM a gravata! a grava não é uma coisa que me fica bem. ExaCtaMENtE, o silêncio tem muitos barulhos. acho que das. Mas não gosto da burocracia e não tenho boa relação com há poucos barulhos que têm silêncios, mas o silêncio tem o poder. assusta-me o seu aparato, a sua demonstração muitos barulhos dentro e fora dele. a solidão é propensa O tema guerra de libertação não era só da literatura, dominava igualmente a música, assim como o teatro e a dança. como é que a literatura surge a querer isolar-se? aCHo quE isso aconteceu a nível de todas as artes. Há uma geração que marca essa cisão com o que se tocava. a nível do teatro, há, e aparece com o grupo que dá origem ao Mutumbela gogo, em que estavam Calane (da silva), Manuela soeiro, João Manja, anabela adrianoupolis. é um processo que se passa em qualquer sociedade que está em transformação, que está a nascer e que está a crescer, só que, no caso da literatura, somos muito menos em relação a outras disciplinas artísticas, e talvez se tenha notado mais. a nossa confrontação com o poder foi mais frontal. Nós temos essa tarefa de não concordar que o poder tenha uma governação quase bíblica, que diga “isto tem que ser isto”. qualquer artista faz parte e con- strói a memória colectiva de um povo. o que está a passar-se no nosso país, muito embora haja muita coisa digna de se assinalar como positiva em relação à grande parte de áfrica, é que há muita coisa má que não devemos ter a vergonha de dizer isto está mal e não pode continuar assim. Não podemos vir a cair numa relação feudal do poder. E foi isso que fizemos, ver um país nas suas múltiplas visões, nas suas múltiplas maneiras de ser. um país é feito de gente diferente, não é feito de gente igual. No período a que se refere, o escritor não se resumia simplesmente às suas produções literárias, eram vozes sociais. Agora, parece que eles se retiraram para o silencio? de força, e a burocracia é uma espada, é aquilo que pára ao silencio interior e exterior, como também é propensa ao tudo. a burocracia é aquele polvo enorme com o qual não barulho. Fazer cultura neste país me dou muito bem. acho que pouca gente se dá muito bem, a não ser os burocratas, que são sempre cinzentos, Quando olhamos para si, parece-nos que o Eduardo White é um acto de loucos. Ser engravatados, tomam chá àquela hora, falam ao telefone poeta não se dissocia do indivíduo. como é que permite sempre das mesmas coisas. são sempre uns senhores que sujeito cultural é outro acto são bem comportadinhos, mas que fazem uma data de que essa sua personalidade interfira no poeta? coisas feias. ainda mais louco! Toda a O poeta é que interfere na A partir daqui, podemos olhar para “O País De Mim”. É o gente patrocina “pernas”, espreitar de um país dentro de nós mesmos ou vamos minha vida. Quase muitas “mamas” e “dreads”. Nos descobrindo pedaços de países por fora deste espaço que somos? vezes, alguma reputação que governos que tivemos, é aquELE país que está dentro de nós. para ser moçambica- me fazem questão de dar tem no, acho que nasci com esse Moçambique dentro de mim. no tempo de Samora de Nunca percebi essa coisa de original. origem de onde? a que ver com essa interfer- nossa primeira pátria é o útero da nossa mãe. acho que o Machel e um pouco no de nascermos num lugar, crescermos num lugar e gostarmos ência. Não tem nada que ver desse lugar é nos transmitido por dentro, tenha esse dentro Joaquim Alberto Chissano, as referências que tiver. Então, foi revisitar esse país. Cada o poeta com o Eduardo White um de nós tem um país dentro de si. “o país de mim” é essa investiu-se na cultura como história. Muitas vezes, as pessoas associam-me ao livro de que sou eu. Rui Knopfli “o país dos outros”. acho, também, que existe uma coisa séria. A cultura o país de mim, se há países dos outros. quase sempre, a tEnHo pontos de vista muito diferentes da pessoa que minha escrita é muito interiorizante. ponho o que vejo escreve em mim. Não tem nada que ver com heterónimos, não é para vender imagem, cá dentro e transmito com uma nova roupagem e nova nem com desmultiplicação de personalidades. na verdade, o paisagem, de maneira a que cada livro seja uma rua do eu que escrevo não é muito o que eu vivo, e muitas vezes sou é para mostrar um país. país que tenho dentro de mim. apanhado a viver o poeta que o poeta a viver o homem Em “Navio de Guerra Indiano” faz um trocadilho entre a liberdade e a prisão. como se pode estar mais livre Silêncio solitário
  • 8. 8 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 23 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 8 no rEcanto dE apoLo... Encantado silêncio das areias de Maputo Poesia na árvore Amanhecer BáRBARA LIA - BRASIL PEDRO Du BOIS - BRASIL Entre estrelas SAMuEL cOSTA - ITAJAí - BRASIL Eu prefiro frases feitas... amanheço em nuvens de inver- entre algas Lê-las, e pensar que são minhas! no. entre brancos lençóis Dizer: Eu te amo... No esfriar da hora sou corpo e paredes brancas. usando velhos clichês despertado. sigo o leito do rio Vermelha viagem da vida nas veias. Finjo ser poeta ao largo: estrito ao peito instante que precede ao nascimento, Às vezes contista... da mulher amada no anunciar também à morte. uso velhos clichés horas anteriores de refúgio. acordo a morte é um silêncio suspenso ‘’porque dizer eu te amo... e levanto em ensolarados passos. e o sol, um silêncio vermelho. Não é dizer bom dia!’’ Nuvens em seu passeio Escuto velhas músicas! Da manhã retiro a necessidade diante da janela deste apartamento. E chego a pensar que a dor é minha. da utilidade. sou repositório tem uma sinfonia em tons vários Mas não é!!! da inatividade. a gritar – silêncio! penso em ser prosador... silencio. para voltar para a minha infância... branca, como estrelas e algas. aonde corro e corro de novo... O preço e o passeio brancas areias de Maputo, Corro entre becos e vielas... olhando ao redor em busca de Mia Couto ansiando que ele me ensine a estrondar ...de braços abertos! sono Finjo ser poeta... o encanto. ...na pós-modernidade! a ignorar regras, rimas e métricas... in Noir (2006) NELSON LINEu a desdenhar de antigas elegias! todas as velhas fórmulas prontas e acabadas. Madrugada Madrugadora Velhas formas de amar musas intocadas... Finjo ser versejador... porquê tudo para mim Nos tempos modernos! tem que ter preço? cELSO MuNGuAMBE - MAPuTO E em meus versos! será esse o preço por eu viver? a noite ronca eternamente, e internamente dorme a escuridão sinto que não fosses embora... Friamente as madrugadas nascem, congelando e Gelando o universo, madrugadas silenciam-se Estas perdida...entre os meus versos... Estando a reclamar Diante de tanto frio Mais profanos... é pedir a minha morte? um ninho floresce com delicadeza a madrugada vomita a cacimba aconchegante Finjo...que não te perdi para sempre, Como um diamante delapidado e escalado Num dos silêncios, a madrugada grita apelando Às vezes leio velhas poesias. o pior de tudo para lua Mas, só às vezes... tenho que ser eu a pagar a madrugada delira de tanta solidão, sem exactidão Ela faz um sarau E penso que são meus... comprando ou vendendo. bisbilhotando na noite, ela procura afazeres Desfazendo o movimento rotativo aqueles idílios de saudade... a madrugada conversa com a manhã Eu gostaria ser um poeta. amigos eu não apanho sono, uma conversa rápida e fria, mas não sombria Lá esta ela, com uma cara murcha de solidão para pensar que não te perdi para sempre... eu compro o sono. a madrugada é muito sacrificada. imortalizar-te-ia em meus versos! Às vezes penso ser poeta! Na pós-modernidade! a usar velhos clichés! E digo: ’’Dizer te amo...não é dizer bom dia’’
  • 9. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 9 Terça-feira, 23 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 9 cabo VErdE Poesia de António de Névada António de Névada, poeta cabo-verdiano, nasceu em 1967. viveu a infância e fez os estudos liceais em cabo verde (Mindelo) e os estudos universitários em coimbra. começa a publicar em periódicos literários em fins de oitenta. Durante os primeiros anos da década de noventa faz teatro universitário em coimbra. Em 1993, é editado pelo IcLD (Instituto caboverdeano do Livro e do Disco) o seu primeiro livro de poesia, “Acto Primeiro ou o Desígnio das Paixões”. Em 1999, lança pela Angelus Novus Editora o segundo livro de poesia, “Esteira cheia ou o Abismo das coisas”. canção Terceira Na enseada onde os homens fazem as preces o bravo retorna ao mar. caem os homens moribundos. E o sol brilhando ANTÓNIO NÉvADA ao longo da estrada, lado a lado, acompanha a sementeira, o penhor e o prumo da semeadura o corpo e seiva, a bia Didial descrevem o campo, a alfarrobeira, porque a loucura o grão da mostarda, essa aflição dolente. perdura no âmago dos seres, (canto à semeadura) I troncos da mente folha gente sem semente. IIo caminho é longo, Ó deuses, ó cantos, ó bravos. Não venho para redimir ou semear, a estrada deserta. Ó imensidade negando a têmpera dos dias! não viemos para colher ou situar. a densidade das palavras o luar fragmenta-se, não encontra III vozes são agora perecíveis, as os momentos tecem o peso o discurso necessário. o abandono alenta a paisagem, e não viemos para escolher, corroer ou perpetuar, a magnanimidade vagueia sua sombra queda-se e nem as coisas preservam pela vida, convivendo na monotonia do horizonte, o caudal dos tempos, com as colinas agrestes do poente. seus dedos contornam ou inutilmente pensamos, estimamos o afluente da dor. E certamente, o renascer das cores. Não venho para criar ou garantir, os sonhos serão acessíveis as folhas cobrem os detritos da vida, não viemos para aumentar ou instaurar. Cada enxugo ou rega, na próxima alvorada, e as lágrimas a areia possui os corpos, cada filho dizendo, percorrerão as faces do cultivo: versos amorfos declamam a mudez do tempo. dizendo a morte e a sina nossa, a cana, a cevada e o milho, qual é o ente que colhe a alma triste? a cada filho o condão da rememoração. encontrarão a terra ferida. qual é a água que cala o abrasado cutelo1 E se dizemos hoje dizendo cantos, os braços, as pisadas desoladas, [da minha póvoa? é porque dizendo hoje temperamos o espírito! na paisagem entreaberta, apascentamos o destino, ontem encontrando o corpo doente. sina diminuta ou prenhez que nos arrebata, descemos as encostas oh! tal a fecundidade, incontestável culto e bebemos a água da fonte, Escolhemos a quietude, encolhemos a audácia. onde os pássaros poisam e semeamos a afronta. a semeadura foi abençoada pelo poente, E o caminhar aviva o desejo de audiência, seguimos rotos, famintos pelos campos da mente, pela poesia e pelo bater do tambor, de intermitência, inconsciente do seu dom e palmas e membros hasteados e bendizemos o corpo vago, que é dono da fugacidade. suplicam ao deus afónico? as fraquezas, - Rochas densas, elegias completas, - apuramos mais uma vez a grandiloquência! alguns troços de alma. como vos direi E exibimos pelas ruas as mágoas, Hoje que o poema não é a almenara do silêncio o nosso húmus, o que nos resta, sentamos à soleira da porta nem a obra o seu mundo? ou simplesmente mais um dia, e dizemos hoje dizendo cantos, Como vos direi, a lida e a aresta do dia, porque dizendo hoje diremos o vento ó eloquência arrebatadora, a vida. à porta da aldeia, que o verso que lhe falta Dúbios versos cantamos a terra ou o verso e rima. a serenidade toda que fluem no vazio da pena, Diremos a morte, a sensação de inexistência apascentará no seu leito? verbo que verga sob o vento, [que nos perturba. E a terra, a natureza sua, membros densos e sobretudo abraços, E o homem que nos vê nascer e crescer, braços da mesma quietude cultiva sobre a terra estéril, espera pacientemente a nossa morte e ventania brusca buscando as lágrimas, e sobre ela ajoelha-se para reedificar a substância telúrica ou mãos que empunham a magnitude. para louvar ou barafustar, [que lhe pertence. Lombos doridos, prantos nocturnos, para louvar ou possuir pelos vales, pela ribeira, sustentam a geometria das sombras. o dom dos deuses. o vento incansável, E caídas, sob o ripostar das ondas, Homem que espera a consumação o regadio, a água do poço. nossas almas seguem vazias e o volume da vida, os homens cavam, por entre os cascos dos navios. homem que habita os seios da madrugada cavam e cantam Ó homem brando de sonhos magos, ou os cios, cios nossos embebidos no sexo e na sede. homem lânguido que vagueia pelos tempos e do tempo horto. Nem horas nem palavras, sua mente sumarenta: será que vivemos, inalteráveis cantos. qual vento louco, sobrevivemos, E pergunto, o mar bate rouco, longo para estabelecer a causalidade da morte? que entranhas nos suportam, dentro do peito, sua ou o mundo é a rua toda, que entranhas matamos com os dias? vertente de tambor. o o regadio e a impunidade? será que cavamos a própria sepultura? mar bate tanto a rua toda, almas famintas, inventamos os sonhos, vivemo-los que no mastro outro mastro, o afluente da dor? com essa ânsia inexplicável, verosímil. na vela outra vela Nas palmeiras, observamos o quotidiano, procura o porto de permeio no oráculo e em voz branda, essa encadernação lenta, precisa. onde o peito dorme. assumimos o cântico, dispensamos o corpo, ah! Não construímos templos, e alagamos a ubiquidade. canto inválido, não louvamos o inexprimível. as ondas banham a alvorada, vozes mutiladas E a seu tempo, a areia reagrupa a linguagem, gemendo no redizer do vento: assemelhando-se à ribeira, e a terra semeia o ramo e o suco. a alma abarca a existência. encontraremos o mar, a alma vai com o vento, os olhos mergulham na nostalgia dos dias afagaremos as chagas, o ardor. o infindável manto oculta as imagens, e um Deus inútil envolve o rebanho, E direi mesmo: e as árvores da humanidade o estanho e a profunda tristeza - julgaremos o homem, sua essência, caminham sem frutos pelos movimentos da vida. como quem julga a negação dos deuses, sem raízes de imbondeiro. Encontra o homem, rebelde, o infinito ou a irreferência das coisas! Cantos, breves cantos arrastando o mar pela praia adentro: ó demência toda! boca ávida, seguimos desespero trágico as pisadas nocturnas da brisa, seus membros lânguidos, e a maré rasa sobre a terra grávida no rosto da maresia, e a secura do sal pela rua. Extraído da antologia de poesia Contempoânea de Cabo Verde. organizada por Ricardo Riso.
  • 10. Terça-feira, 23 de Agosto de 2011 10 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 https://literatas.blogs.sapo.mz 10 Em outras paLaVras Nissa Falta de livrarias preocupa Associação Progresso MAuRO BRITO - MAPuTO então os estudante e professores pode comprar os o desenvolvimento das comunidades de base , com livros nestas feiras particu- No âmbito do programa de promoção de um ambi- pois os livros laridade ente de leitura a associação progresso em parceria estarão aces- a aten- com direcção provincial da educação e cultura do síveis”. ção as Niassa promovem a V feira de livro e lançam a V edição o objectivo crianças do concurso literatura infantil na província de Niassa. da feira é pro- e mul- Na cidade de Lichinga a feira terá lugar de 23 a 25 do mover no seio heres mês corrente no balcão de informação turístico (bit) dos estudantes e Estas e na cidade de Cuamba 26 a 28 de agosto. as comunidades activi- alem da província do Niassa a associação progresso em geral o gosto dades se realiza estas actividades na província de cabo del- pela leitura ,pois a encaix- egado e tem com apoio do Governo do Canadá leitura é uma base am no Conta com livros de editoras como Ndjinra, Kapicua, de aprendizagem vigési- JV, paulinas ,Minerva central ,plural e texto editoras para todas as m o Com cerca de 2.036 obras de entre didácticos, áreas de sabedoria infanto-juvenis e literários. da nossa ciência e assim sendo a realização desta feira aniversário da associação progresso Em entrevista a revista Literatas, Maria Ema Miguel, livro é uma oportunidade para os estudantes desta E todos os cidadãos venha apreciar e crer comprar o disse esperar que aja muitos visitantes principalmente província de modo a adquirirem os matérias para a livro e também temos o concurso de literatura infantil a camada juvenil de modo que venha apreciar as consulta e não só é também oportunidade para o podendo escrever histórias para crianças e submeter diversas obras que lá estarão expostas na feira, “uma publico adquirir matérias para a leitura que é uma a associação progresso. vez que teremos várias obras entre didácticos ate fonte de aquisição de conhecimentos e de salien- o regulamento esta disponível na associação. literárias e dizer que esta é uma oportunidade uma tar que a associação é uma oNG sem fins lucrativos vez que na província do Niassa não temos livrarias mas como objectivo social geral de contribuir para