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Literatas
                       Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista a um amigo               COMUNICADO
                                                                                          Abertas as inscrições (sem custos)
Sai às Terças-feiras

                                                                                          para Oficina Literária a ter lugar nos
                                                                                          dias 1 e 2 de Agosto com escritora
                                                                                          brasileira Ana Rusche que estará
                                                                                          em Maputo. Informações no Centro
                                                                                          Cultural Brasil-Moçambique ou
                                                                                          pelo email: kuphaluxa@gmail.com
                                                                                                Movimento Literário Kuphaluxa
                                Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona
Director Editorial: Eduardo Quive * Maputo * 26 de Julho de 2011 * Ano 01 * Nº 03 * E-Mail: kuphaluxa@sapo.mz




MoçaMbique
entra no acordo
ortográfico
                                                                                      Ressuscitar
                                                                                      para contar
                                                                                      estórias                              pg. 3




No Discurso Directo Victor Eustáquio fala de
“O Carrossel de Lúcifer”                                                                                                   pg. 6 e 7
2     BLA BLA BLA     Exero 01, 5555
    Terça-feira, 26 de Julho de 2011                                            https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                          2

Em primEira
 - Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
Educação será sector prioritário na introdução




                                              Albertina, Lourenço do Rosário e Calane da Silva, dirigentes da Comissão Nacional do IILP - Moçambique

     EDUARDO QUIvE - MApUTO                                          LoureNço do Rosário e a sua comissão, aconselham ainda         e peLo uso da expressão língua oficial como referência à LP
                                                                     ao Governo de Moçambique, a não menosprezar os técni-          (nunca tratada como língua nacional/moçambicana, apesar
                                                                     cos nacionais, no processo de participação do vocabulário      de ser símbolo da unidade nacional Resistência/Contesta-
                                                                     linguístico moçambicano.                                       ção/problematização do uso da Língua Portuguesa.

    Tendo em vista a divulgação do
                                                                     QuANto Aos custos, manteve-se a previsão dos mais de 108       “áfricA tem um problema único que deriva da sua situação
                                                                     milhões de dólares.                                            multilingue e do facto de haver línguas ex-coloniais lutando

      Acordo Ortográfico da Língua
                                                                                                                                    pela supremacia no continente. Uma vez que estas muitas
                                                                                                                                    línguas estrangeiras são conhecidas por um número insig-
                                                                     A Língua portuguesa é ou poderá ser
      portuguesa (AOLp), a nível
                                                                                                                                    nificante, a única forma de trazer muitos africanos para as
                                                                                                                                    nossas próprias iniciativas de desenvolvimento é através
                                                                     uma Língua Moçambicana (izada)?
      do país, a Comissão Nacional
                                                                                                                                    da mudança na política linguística.
                                                                                                                                     devemos deseNvoLver as nossas línguas para se conseguir

      do Instituto Internacional
                                                                     estA foi a questão de fundo da dissertação do docente          uma efectiva comunicação com as massas. Nós propuse-
                                                                     da Faculdade de Letras e Ciências Sociais na Universidade      mos o Kiswahili como a língua mais adequada para ser

      de Língua portuguesa (IILp)
                                                                     Eduardo Mondlane (UEM), Gregório Firmino, que defendia         desenvolvida como língua para a união africana. Se tal for
                                                                     igualmente haver aspectos Linguísticos Sócio-simbólicos        não fácil de obter a curto prazo, podemos desenvolver

      iniciou o ciclo de seminários,
                                                                     que justificam o pressuposto de que a Língua Portuguesa        inicialmente um número delínguas africanas.
                                                                     está num processo de nativação, justificando-se assim a         pArA este fim, podemos escolher Hausa na África Oci-

      pelo menos a nível da
                                                                     sua moçambicanização.                                          dental, Árabe no norte; Zulu na África do Sul, Kiswahili na
                                                                     A expLANAção deste docente, no que diz respeito a nativa-      África Central e Oriental, ao mesmo tempo que se encoraja

      cidade de Maputo, juntando
                                                                     ção da língua, teve base com os fundamentos do especial-       o desenvolvimento contínuo do Kiswahili. Se, por razões
                                                                     ista Kachru que define esse processo, também chamado           válidas, Kiswahili não é aceitável, eu votarei por uma outra

      as províncias de Gaza e
                                                                     de indigenização ou endogeneização.                            língua, desde que seja uma língua africana”
                                                                     “pode ser definida como um processo de aculturação             por outro lado, Gregório Firmino ainda continua a ques-

      Inhambane.
                                                                     através do qual uma língua ex-colonial se aproxima do          tionar sobre a situação do Português e se até onde a visão
                                                                     contexto sócio-cultural de um país pós-colonial.               generalizante de estudiosos africanistas se enquadra ao
                                                                     AtrAvés dA nativização, uma variedade não-nativa é cul-        caso do Português em Moçambique?
    A divuLgAção do AOLP tem como objectivo, o conheci-              turalmente integrada na ecologia social da pós-colónia e       gregório tAmBém questiona se pode haver uma língua
    mento do seu conteúdo, seu significado e de um modo              adquire novas funções sociais.                                 que seja símbolo da nação/língua da unidade nacional sem
    geral suas implicações, procurando-se auscultar a opinião        ALém disso, ela desenvolve inovações linguísticas que          ser língua nacional e por que geralmente não se aceita a
    geral e colher subsídios sobre a implicação da aplicação do      ganham significado comunicativo e social no contexto           designação línguas nacional/língua moçambicana para o
    acordo nas diversas áreas, como educação, comunicação            destas novas funções.”                                         Português?
    social escrita, administração pública, área editorial, artes e   gregório firmiNo, defende que essa nativação é motivada        “o português em Moçambique pode ser visto como um
    letras, entre outras.                                            pelo uso da expressão língua(s) moçambicana(s)/língua(s)       continuum que oscila desde as formas do “mau” Português
    No semiNário de Maputo, ficou decidido que o sector              naciona(l/is) como referência às línguas bantu (nunca trata-   (pejorativamente chamadopretoguês) até às formas mais
    da educação seria prioritário na introdução do Acordo            das como línguas étnicas)                                      próximas do Português europeu” respondeu
    Ortográfico, dado a relevância deste sector na compreen-
    são deste novo instrumento linguístico.
    seguNdo LoureNço do Rosário, presidente da Comissão
    Nacional do IILP, o encontro “ não visava discutir se Moçam-
    bique deve ou não ratificar o acordo, pois, o País, deve
    cumprir com os seus compromissos, uma vez que assinou
    a elaboração deste documento”.
    eNtretANto, “depois de ratificado, vamos aconselhar o
    governo a revisitar o texto do acordo, porque há questões
    que precisam de ser revistos a favor do nosso país, de modo
    a não entrar na onda dos outros.” Disse do Rosário.
    por outro lado, no seminário, não foi possível se saber se
    em quantos anos vai se implementar as normas do novo
    Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa em Moçambique
    e, para tal, vai-se submeter um estudo.
Exero 01, 5555   BLA BLA BLA      3
 Terça-feira, 26 de Julho de 2011                                               https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                            3


Em primEira

Contos do Fantástico
 JORGE DE OLIvEIRA - MApUTO                                     beleza acima do comum. Um estilo agradável, diferente do
                                                                usual, e que nos faz sorrir e perceber que a língua também
                                                                                                                                  que pareça, se tornarem defensáveis por alguns charla-
                                                                                                                                  tões. E alguns dos exemplos mostram isso, como o caso
                                                                é um espaço infinito de que nenhum humano se pode                 de um fantasma de mulher que apanha um mulherengo,
É uma obra de muitas culturas (religiosas, locais, naturais,    apropriar na totalidade;                                          das profecias amaldiçoadas que são feitas entre humanos
espirituais), mostrando o quão diversificado é este povo        5. A dado momento recorda o “Piratas das Caraíbas”, com           e se cumprem, de contactos com mortos, de Homens –
e, no fundo, olhando para esse tempo longínquo com a            seres meio humanos meio aquáticos a viverem em baixo da           Animais, de pessoas que não se pode prender ou bater e
possibilidade que a distância temporal permite...               água, com muita escravatura à mistura, e, por outro lado,         até sereias;
De Aníbal Aleluia, escritor moçambicano já falecido, pub-       vale pela mostra de aspectos culturais que, em tempo de           9. “E todos tinham medo dele. Os conselheiros, em vez de
licaram-se duas obras, “Mbelele e outros Contos”, “O gajo       colonização, diferenciavam a visão do colonizador da do           conselhos, gritavam ditirambos. O ‘censor público’ insti-
e os Outros” e, agora, “Contos do Fantástico”. Esta última,     colonizado;                                                       tuído pelo régulo velho para moralizar a corte e a socie-
escrita em 1988, é de natureza totalmente diferente do          6. “Meteu-se imediatamente no mato. Estava ansioso e já           dade não teve similar no Sudoeste. Aliás, Macarala não
que têm sido, ao longo dos últimos anos, as obras literárias    antegozava o seu triunfo sobre os javalis. Gostava que os         deixava os indunas falarem, salvo para proferirem elogios.
moçambicanas.                                                   animais alvejados dessem luta. Quando o javali eriçava            E o Sudoeste começou a empobrecer, acabando por cair
1. Com uma linguagem erudita, muito apurada, temáticas          as cerdas, expedindo chispas dos olhos pequenos, e o              numa indigência generalizada, enquanto o régulo vizinho,
comuns, mas tratadas de forma bastante diferente, a obra        seu rosnar transformava-se num som agudo, Luís sentia-            herdeiro do Velho, com uma política sã, desenvolvia as suas
trouxe estórias de ficção baseadas no além, naquilo que         se mais homem, porque o animal parecia lançar-lhe um              terras, promovendo a felicidade do seu povo”;
as pessoas muito falam, só que ninguém alcança. A maior         desafio. Então os seus músculos ganhavam dureza, rilhava          10. Contos do Fantástico deve ser lido para se ganhar
parte dessas peripécias são resultantes do que ouviu ao         os dentes e avançava afoito como se se quisesse entregar          várias coisas, dentre elas relembrar algumas realidades
longo das suas viagens por este país fora;                      a um violento corpo a corpo”;                                     dos tempos de outrora, desfrutar de uma leitura agradável




2. Até a leitura e crítica social apresentada tem um cunho      7. É uma obra de muitas culturas (religiosas, locais, naturais,   (até pelo desconhecimento de alguns termos, o que é
e uma forma não muito simplista, o que obriga o leitor a        espirituais), mostrando o quão diversificado é este povo e,       caricato), para se aprender novos termos (os tais arcaicos)
recorrer a uma análise baseada na conotação;                    no fundo, olhando para esse tempo longínquo com a pos-            e se poder avançar na direcção de novos momentos na
3. “Cria, inventa, procura, experimenta. Observa com os teus    sibilidade que a distância temporal permite, como vários          nossa civilização.
próprios olhos. A ti é que mais interessam os fracassos e       tabus e preconceitos (que sempre foram demasiados) foram          11. É um mergulho nas amarras de um povo que tem tanto
os triunfos. A eles não os afectam. Se tiveres aborrecimen-     sendo ultrapassados sem nunca terem sido explicados (o            de belo como de inexplicável.
tos não serão eles a saná-los, embora, caso tenhas louros,      que é óbvio, porque sempre se basearam em mentiras e
sejam os primeiros a enviar relatórios às suas direcções para
valorizarem as suas informações de cada ano, com vista a
                                                                lendas sem base científica nenhuma);
                                                                8. Livro de enorme riqueza narrativa, apresenta episódios
                                                                                                                                  Texto e Foto do Jornal O país de
futuras promoções”;                                             que se vêem, logo à partida, tratar-se de imaginações que         Moçambique.
4. É um texto com linguagem muito apurada, dir-se-ia            nunca existiram, assentes em dogmas e mentiras embuti-
mesmo um português arcaico que nem a todos atinge,              das, ao longo de décadas, nas pessoas, até, por mais incrível
exigindo muitas vezes o recurso ao dicionário, mas de uma




Poemas que surgem sem véu
 “As memórias escondem-se todas nas paredes impregnadas de nós mesmos e os sons
 dos passos soam como se sob os pés hibiscos murchos chorassem”, assim escreve Lica
 Sebastião em “Restos Intactos”, do livro “Poemas sem véu”.
LArgou o pincel e agarrou numa caneta para destapar as          NestA oBrA, que faz uma incursão a diversas sonoridades
palavras cobertas por um véu. Lica Sebastião, na sua estreia    artísticas, desperta para uma atenção que rebusca a                em“poemAs sem véu”, a autora desnuda a palavra no ver-
literária, enveredou por “Poemas sem véu”, que para Fran-       experiência de fruição curiosamente pontenciada pela               dadeiro sentido, ou seja, Lica destapa várias questões rela-
cisco Noa, que prefaciou a obra, “não haveria título mais       forma tensa, mas inteligente como se escolhem e se inter-          cionadas com o amor, desamores, o dia-dia, as crianças,
sugestivo e apropriado” para esta sua obra de estreia. Noa      ligam as palavras aqui trazida por Lica, tal como sugere no        a rua, entre outras. Quem leu os versos de Lica Sebastião
escreve ainda que “estamos perante uma escrita que afirma       fim do prefácio Francisco Noa.                                     vai ao encontro da ideia expressa no prefácio de Noa, de
de modo quase cortante a sua condição de poesia, num            mesmo escreveNdo há muito tempo, só agora Lica                     estarmos perante uma escrita que afirma de modo quase
intenso e concentrado investimento na própria palavra.          Sebastião estreou-se em livro com “Poemas sem Véu”, numa           cortante a sua condição de poesia. referimo-nos a forma
Esta, mais do que procurar desvendar mundos, institui           mistura de poesia e artes plásticas que procura explorar as        tensa como se escolhem as interligações
como que uma celebração de si própria, através da explo-
ração das suas múltiplas sonoridades, como, por exemplo,
                                                                diferentes vertentes da arte e vai desvendando os diversos
                                                                momentos que fazem uma sociedade como se estivesse a
                                                                                                                                  Texto e Foto do Jornal O país de
em “Condidências de uma sexta-feira”.                           celebrar sua própria existência.                                  Moçambique.
4    BLA BLA BLA   Exero 01, 5555
    Terça-feira, 26 de Julho de 2011                                             https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                       4

- Festival Internacional de Teatro de Língua Portuguesa
Moçambique abre o maior festival da CPLP
    ROSA LANGA* - RIO DE JANEIRO                               como instrumento a arma de fogo ou armas brancas para         30 e 31 de Julho corrente a partir das 20h00 locais no SESC
o festivAL internacional de teatro da língua portuguesa já     tirar a vida a sua vítima.                                    Rio, casa da Gávea (centro do Rio de Janeiro).
mexe com os amantes deste género de arte. Iniciaram as         A sALA do teatro estava cheia. As risadas eram constantes     recorde-se Que palestras, oficinas de teatro e amostras
exibições dos vários grupos convidados na última quinta-       pelo desenrolar de factos mas quando algumas cenas de         de gastronomia típica dos países convidados, fazem parte
feira em diversas salas da cidade carioca, Rio de Janeiro, e   pancadaria surgiam durante a peça, o silêncio era notório.    desta quarta edição do FESTLIP liderado pela prestigiada
um dos grupos de Moçambique, foi chamado à respons-            Algumas vezes, ouviam-se vozes exclamando em
abilidade de inaugurar a sessão de estreia.                    forma de piedade. Afinal estava-se diante de um
trAtA-se do grupo teatral Kudumba, liderado pela con-          facto comum entre os povos.
ceituada actriz Cândida Bila, que levou em cena a obra “Ser    com umA hora e quinze minutos em cena, “Ser
Mulher” cuja direcção de actores esteve a cargo da actriz.     Mulher”, foi repetida no dia 22 e será ainda, vista
A ceNogrAfiA da peça é de Mário Mabjaia, também de             no dia 30 de Julho corrente no teatro Nelson Rodri-
reconhecido mérito, com elenco constituído por Marga-          gues.
rida Madina, Messias Grachane, Paulo Sérgio, Nilza Utuy,       outrAs exiBições foram registadas em outras salas
Raimundo Manuel e Elliot Allex, este último chamado a          de teatro, casos dos grupos de Cabo Verde, Angola
substituir um dos actores ausentes.                            e Portugal.
A oBrA em questão reporta o grito de liberdade da Mulher,      pArA NA mesma semana, exibiram-se os grupos de
o estado de alerta para a consciencialização sobre o direito   Portugal, nomeadamente Grupo Teatral Peripécia
da mulher de fazer as próprias escolhas de rumo na vida,       com a obra “Novecentos”, Sikinadacia de teatro de
as mesmas oportunidades, acesso à educação, saúde, etc.        Cabo Verde com a obra “Um homem, uma mulher e
Mas como a violência doméstica, moral, verbal, física e        um frigorífico” e Angola com o grupo Elinga e a obra
sexual, constituem o pão diário de muitas mulheres, sobre      “o armário e a cama.”
as quais a directora do grupo, apresentou como proposta        de moçAmBiQue, estão igualmente convidados os
ao público do Rio de Janeiro.                                  grupos Lareira e Kuvona da actriz Lucrécia Paco.              actriz Tânia Pires em parceria com a jornalista Luciana Rodri-
os preseNtes na Sala Nelson Rodrigues (local da exibição),     o grupo Lareira constituído por Sérgio Mabombo, Diaz          gues, ambas produtoras da Talu Produções
foram unânimes ao afirmarem que a questão da violência         Santana, Rosa Langa e Elliot Allex, levam como principal
doméstica, é igualmente a realidade presente em muitos         atracção a obra “a Cavaqueira do poste”, obra que reporta     Rosa Langa é para além de atriz, Jornalista
lares dos brasileiros, mas com a diferença de que maior        a crise financeira mundial. O grupo estará em cena nos dias
parte dos homens, pautarem por crimes passionais usando
                                                                                                                             da Rádio Moçambique.


Um pouco sobre Amin Nordine                                                                                                      BLOG DA REVISTA LITERATAS AGORA É
                                                                                                                                 NO SAPO MOÇAMBIQUE -
é um poeta pós-modernista. A sua poesia é epigrámica. Ou                                                                         http://literatas.blogs.sapo.mz
seja, compacta. Também é um poeta discreto. Nunca grita
para que o vejam. Ou o oiçam. Não se preocupa com as pes-
soas que o reconhecem ou deixam de o reconhecer. Porque
                                                                                                                                 Caros leitores da revista Literatas,
ele próprio sabe que é um poeta. Um poeta predestinado.                                                                          Este é o início de um novo percurso
Nunca se vai querer ser poeta, segundo suas palavras. ...Um                                                                      da Revista Literatas, no que concerne
poeta é. Amin Nordine publicou três obras que passaram mais                                                                      à criação de um novo espaço (http://
ou menos despercebidas. Mas elas transportam uma grande                                                                          literatas.blogs.sapo.mz),           onde
carga de sabedoria. E um dia as pessoas vão entendê-las.                                                                         possamos nos encontrar pela arte.
São elas Vagabundo Desgraçado, Duas Quadras para Rosa                                                                            Trata-se de um novo blogue que
Xicuachula e Do Lado da Ala-B. Agora tem Soladas, título com                                                                     criamos já com a terminologia MZ,
o qual concorreu para o prémio Muncipal/2007. E ganhou. Ele
diz que o mundo do poeta e tão hipotético e subjectivo que
                                                                                                                                 referindo-se ao país em que a revista
prefere ficar calado para não abalar a fé que transporta consigo.
                                                                                                                                 é editada (Moçambique), para além
Ele é um misto caneco, que os amigos chamam, a brincar, de                                                                       de que a entidade que nos concede o
mudjinthi, ou mujahidine. Mas o poeta diverte-se com isso e                                                                      alojamento é sem por cento lusófono,
diz: “sou um preto de cabelos desfrisados. Minha mãe tinha um                                                                    facto que, une-se aos objectivos da
salão de cabeleireiro no ventre dela”. E numa situação destas,                                                                   nossa revista.
não podíamos perder a oportunidade de entrevistar este poeta                                                                     Em deliberação, a Direcção Editorial da
da compactação. (entrevista de Alexandre Chaúque, no jornal                                                                      Revista Literatas, com o conhecimento
Notícias no ano 2007)                                                                                                            da Associação Movimento Literário
NOSSO LAR DA MAFALALA                                                                                                            Kuphaluxa, entidade proprietária deste
                                                                                                                                 órgão, pautamos por essa mudança,
                                                                                                                                 sem com isso pretendermos deixar de
    AMIN NORDINE                                                      DO LADO DA ALA-B                                           ser o que somos.
                                                                                                                                 A mudança do endereço da revista,
Nosso íNtimo lar, Zé                                                 AMIN NORDINE                                                não terá implicações na linha editorial
meio despedAço de zinco tonto ao cubo                                                                                            e na abrangência das colaborações.
NumA BANgA de tontono.                                              desAguAdA                                                    Apenas, pretendemos que mais artistas
petiscos soNs delirando                                             cAríciA deNtáriA                                             lusófonos, profissionais e amadores,
Nosso íNtimo lar da Mafalala, Zé                                    deseNfeijoAdA em desprateada meia-lua de xima                tenham um espaço inteiramente seu.
NossA A lua macua!
desmAscArAdA com carícias de m’siro                                 do LAdo da Ala-B
                                                                                                                                 Pelos transtornos que eventualmente
Nosso íNtimo lar da Mafalala, Zé                                    QuAL soL se atreva na treva!
                                                                                                                                 tenhamos causado, apresentamos as
por morAdA                                                                                                                       sinceras desculpas.
NossA eterNA namorada!                                              siNto sAudAde de mim...
                                                                                                                                                 A Direcção Editorial

ficHA técNicA
                                                        Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa
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Director Editorial: Eduardo Quive (eduardoquive@gmail.com)
Coordenador: Amosse Mucavele (amosse1987@yahoo.com.br)
Editor - Canto da Poesia: Rafael Inguane (inguane.rafael@hotmail.com)
Redacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane.
Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza*
Brasil: Itapema - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin * Marcelo Soriano * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas.
Design e páginação: Eduardo Quive
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Terça-feira, 26 de Julho de 2011                                                              CRÓNICA / OpINIÃO                                                         5
                                  pOEMAGRAFIA AO AZAGAIA                                          FiLosoFonias                          rapsódicas

                                  AMOSSE MUCAvELE - MApUTO                                            MARCELO SORIANO - BRASIL
                                                                                                      m.m.soriano@gmail.com

                                 A musica (o RAP) é uma bomba nuclear que explode no ouvido           Nota preliminar: Antes de
                                 de quem a escuta e a sua radioactividade desperta consciências       prosseguir com este artigo,
                                 adormecidas neste tapete politicamente correcto.                     lembro ao leitor que me
                                 No pais de mim (Eduardo white) existe um homem versus                dirijo à CPLP(Comunidade
                                 uma voz, que carrega uma trocha muito pesada,( estou a vos           dos Países de Língua
                                 segredar ele disse-me que não descarregara nunca, mas sim irá        Portuguesa),      portanto,
                                 aumentar o peso).                                                    podemos           encontrar
                                 Onde a cada viela e beco vai relatando as convulsões sociais         gerúndios, futuros do
                                que adentram a trocha por si carregada.                               pretérito, expressões etnocêntricas, familiares a certos leitores,
                                                                                                      porém, inusitadas a outros. Oxalá, que esta peculiaridade não seja
Este homem é a voz do povo( tal como sintetizou o povo e que esta no poder)
                                                                                                      pretexto para correções, mas para integrações e enriquecimentos
Colocaram-lhe pedras no seu caminho – não caiu continuo firme,                                        léxicos e culturais entre nós. Marcelo Soriano. Santa Maria - RS -
Mandaram-lhe parar, e ele respondeu – eu paro oh oh oh..............                                  BR. 14/07/2011.
Mandaram-lhe calar, e ele respondeu eu não calo oh oh....................
A sua babalaze é de turbilhões de homens desde os bêbados da cerveja, vinho, mal cuado,               1.     miNicoNto dA Auto-ApArição
cachaça, e.t.c.........
Por causa do seu factor interventivo chamaram – o de oposição                                      Acordei-me num dia taciturno, cinzento, inundado por
e agora pergunto eu que país democrático é este sem oposição?                                      pés-de-vento opacos. Dentre as cortinas enlouquecidas,
                                                                                                   aproximei-me da vasta, altíssima, intimidadora janela.
                                                                                                   Entreabri a veneziana. No vão, precipitei meu olhar para o
                                                                                                   nada, suicidando todo e qualquer presente possível. Lá fora,
                                                                       pROSA pOéTICA               estávamos nós, todos nós, mundo a dentro: eu criança feia;
                           ALINE pEREIRA - RIO DE JANEIRO                                          eu menino apagado; eu rapazola silencioso; eu homem dos
                           alinepereiraletras@hotmail.com                                          pontos cegos; das esquinas vencidas; eu velho indolente;
                                                                                                   eu cadáver desconhecido; eu poema desnaturado, ossos
                           Distraído ouvindo a gaiola canariar, o coronel palita os dentes quando, descarnados, alma sem luz... Almas sem melancolias...
                           de repente, um menino empregado interrompe a leitura da pequena Nadas atemporais...
                           hóspede de olhos verdes, que atende por Clara. O homem na cadeira O melhor - o mais humano - seria voltar a dormir.
                            de balanço é também o dono de todas as coisas ali. Na estranheza de
seu olhar a distância do impressentido amor: “Que é?” O menino responde: “Uma onça matou              2.     peQueNA cHAve
meu pai.” O silêncio das coisas que não estão acontecendo se fez. No estômago de Clara uma
perna de carneiro chutava com força. “Por favor, devo ser apresentada.” O menino empregado,           Não desperdicemos nosso precioso tempo a buscar respostas
que é também a infância do meu herói, parecia intratável, talvez uma pedra, talvez uma testa          para tudo. O caminho da verdade se estende a partir de uma
enorme e desfigurada, por isso os demais criados o levaram antes que pudesse devolver à jovem         única pergunta. A pergunta primordial. A primeira pergunta
o cumprimento. Clara mal abre a boca. O herói infante arqueja: “Sabe, hoje ouvi tantas modas!         feita a alguém. A pergunta original que impeliu o homem
Todas sobre peixes...” Cantava sempre uma que parecia ter sido escrito de propósito para ela. De      a manter-se vivo até aqui. Que pergunta? Encontremo-la e
algum modo livre, o menino aproxima a boca do ouvido de Clara: “Conheço uma adivinha, toda            tudo será respondido.
em poesia, e toda sobre peixes.” Ela queria ver tudo, numa sensação imediata da vida desperta. O
coronel só sabia da dívida que tinham com a terra e que era preciso pagar. A terra era uma prisão.    3.  moNóLogos póstumos com QuiNtANA -
Observando a aia parda que lhe atraía tanto, o velho proprietário pensou: “Que é que eu vou fazer?”   pArte ii
Uma das sobrancelhas erguidas, bateu o cajado-estaca no chão e levantou-se: “Onde está o criado
que devia responder?” A luz já não fazia parte do cenário. Seguiu-se então um confuso rumor.                       “A poesia não se explica, ela já é a explicação”
Eram as moscas. Na medida em que as moscas avançavam, os pombos fugiam. Confuso, o dono
                                                                                                                                                   Mário Quintana
                                                                              pediu aos pombos
que                                                                           v o l t a s s e m
                                                                              submissos. Então        [Literaltura Árvore]
                                                                              Clara, numa voz
que                                                                           parecia mais um         Eu a ele:
                                                                              arrulho: “Seria um
                                                                              prazer.” E voltando-    Homem-Deus!
s e                                                                           ao anfitrião de         Hoje avoei taum alto (tão auto),
                                                                              bigode: “Posso?” O
                                                                              bode não responde
                                                                                                      taum lã pra cima, que meu sol apareceu-me uma
sim: “Primeiro o peixe deve ser pescado, depois comprado.” Num sussurro simulado, a jovem             laranja pútrida adormecida na
olhou para o homem como se visse um condenado a morrer. “Muito obrigada, mas de fato não              sombra d’árvore meu pé.
preciso do seu lugar.” Nisso, o menino sentiu a existência embalar seu corpo e, então, eles dois,
Clara e o pequeno sertanejo, caminharam por cima das posses. Ele pôs a enxada ao ombro e
seguiu lentamente a caminho da roça, até que puderam ver o capim ainda molhado de sangue.             [Quadrinha Teórica Sobre a Ascensão e Queda da Amizade]
Do cenário exalava um cheiro novo, e ela reconheceu o contraste no ato. Era o sangue do soldado
morto tingindo o descampado verde. O menino não sabia que a cidade existia, nem mesmo                 Ele a mim:
que havia um país. Ele ignorava o que eram os pintores, mas conhecia a poesia. Ao ver Clara
perseguindo o xale que flutuava, enxergava também a música. A pequena era tão fria quanto a
terra, e porque o céu o odiava, ele começou a sacudi-la de um lado para outro com força. Ela não      Amizade, a mil, na tenra idade.
opôs a menor resistência, mas seu rosto foi ficando cada vez menor, e os olhos maiores, muito         Cresceu, na sociedade, com dinheiro e conveniência.
grandes e verdes a ponto de se fundirem em apenas um. O olho de mulher crescia como o sol             Morreu sem solidariedade, dor nas costas,
na alvorada, e o menino empregado não teve mais dúvidas. Era ela a bruxa que procuravam. No           Nenhum amigo, solitude e intransigência.
palco do desmantelo, a sombra que absolve os pecados da terra numa enorme cova. Só depois,
com a falta do sonho fugaz da realidade, o herói que perdera o pai maldisse todas as onças. Nesse     (3.) continua na próxima edição...
exato momento, a menina rosnou. Ele sabia, tristonho, que não tinha capacidade para matar a
                                                                                                                         ___________________
onça, mas podia tocar no segredo íntimo dela: “Em que você se transformou?” Clara respondeu:
“Na sua vida, tenho certeza.” O herói finalmente chorou: “Se você realmente estivesse no meu
                                                                                                      Marcelo Soriano é natural de Santa Maria - RS - Brasil (1967).
sonho teria gostado, ouvi tantos poemas, todos sobre peixes!” Enfim, algumas horas depois eles
                                                                                                      Engenheiro, poeta e novo autor (apesar de estar em estado de
retornaram. Pela primeira vez, pediu a morte o meu heróico infante. A menina voltaria logo
                                                                                                      literatura desde 1985). É cronista das Revistas Tempo e Literatas
para casa, tão longe dali, enquanto ele mastigava uma vida inteira para chegar ao seu destino
                                                                                                      (Moçambique)
6    BLA BLA BLA    Exero 01, 5555
     Terça-feira, 26 de Julho de 2011                                              https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                         6

 - discurso dirEcto

“O Carrossel de Lúcifer” -                                                                                                        E lá voltamos ao mal como uma condenação. Em síntese,
primeiro de janeiro (pj): Antes de mais nada inquietação que reside a razão deste livro. Contudo, tentei construir uma narrativa sobre o fim dos tempos, com
começo por lhe pedir que desmonte o título do gostava também que ficasse claro que este é apenas uma textura e cadência próprias de um thriller psicológico
seu livro – «o carrossel de Lúcifer».         o fio condutor, o fundamento da cosmogonia que (que é um formato que me agrada particularmente, e digo
                                                                     tento descrever no romance. Não escondo que é uma            formato em vez de género literário, para fugir precisamente
   Victor Eustáquio (VE): Pensei que podia dar uma boa capa          história do mal, uma possível abordagem do mal, mas          a essa catalogação que, do meu ponto de vista, seria muito
(risos). Na verdade, foi um desafio para a Bertrand: como inter-     «O Carrossel de Lúcifer» não é só isso. Pelo contrário, é    redutora para aquilo que tento exprimir), exorcizando
pretar no plano gráfico um título destes de forma a evitar           também uma história intensa de amor, um triângulo            demónios pessoais nos quais, julgo eu, muitas pessoas se
um posicionamento transversal? Já vi o livro em pelo menos           amoroso aliás, uma história do primeiro amor, da perda       podem rever.
duas livrarias de renome na secção da ficção estrangeira em          da inocência, é uma história sobre vivências no campo
inglês, ou seja, por traduzir, na categoria de terror... Bom, pelo   e na cidade e a forma como realidades sociológicas           pj: Além de maquiavel, outros ‘monstros’ da
menos estava ao lado de Stephen King (risos). O que
quero dizer, ao contar este episódio que faz ressaltar
a dificuldade que alguns livreiros têm em catalogar
o livro (e ainda bem que assim é), é que o título é
deliberadamente provocador, porque é esse o seu
mote mas no sentido de induzir no leitor sentimentos
diversos, dúvidas, interrogações. Afinal, do que trata
este romance? Porque lá dentro, cada leitor pode
encontrar vários caminhos, várias interrogações, e
catalogá-lo como bem entender. E é esse precisa-
mente o objectivo da narrativa: não ser simplista ao
ponto de se descobrir nela uma única camada de
leitura, mesmo correndo o risco de a envolver numa
forte carga simbólica. Para isso, precisava de ter um
título que não fosse redutor, que traduzisse na medida
do possível algumas ideias centrais, o fio condutor
de uma história em aberto que espero que possa ser
lida de modos bastante diferenciados. Agora, é óbvio
que eu tenho a minha leitura pessoal do título, que
presidiu à sua escolha, embora, como disse, fico feliz
que outros o desmontem doutra maneira. Assim, e
respondendo finalmente à sua questão, para mim, o
título «O Carrossel de Lúcifer» remete acima de tudo
para a luta entre o bem e mal, usando dois universos:
o das crianças, simbolizado pelo carrossel, e o mundo
dos adultos (um mundo manietado por Lúcifer, o
Diabo, como metáfora da descida aos infernos que é
preconizada por algumas personagens do romance).
Uma segunda abordagem possível é a ideia da des-
ordem, do caos, das doenças da sociedade moderna,
não só no sentido patológico mas também metafísico.
No fundo, é uma síntese possível da descrição de uma
cosmogonia que vê a realidade, o nosso quotidiano,
como o próprio Inferno, como um carrossel desgov-
ernado em que todos somos obrigados a andar, em
círculos, como se se tratasse de uma condenação dos
seres humanos. E daqui resulta a segunda provocação
que se segue ao título: «uma visão do mal com acto
estratégico de Deus”.

pj: Acha realmente que se pode resumir
esta história a “uma visão do mal como
acto estratégico de deus”? Acredita,
então, que “os homens acabam sempre
por se revelar maus se a necessidade
não os obriga a ser bons”, como um dia
escreveu maquiavel.

  VE: Por muito que possa incomodar, é uma pre-
misssa defendida pela Igreja católica: a de que os
homens são maus por natureza. E o que Maquiavel faz,
mais não é do inclui-la no seu célebre manual de gov-
ernação política, «O Príncipe», escrito curiosamente
para cair nas boas graças de um príncipe florentino e
obter benesses políticas. Mas isso já é outra história.
Para responder à sua pergunta, permita-me que vá
por partes. A história de «O Carrossel de Lúcifer»,
enquanto obra de ficção, é uma possível abordagem
do mal. E dizer que é um acto estratégico de Deus é
simplesmente recuperar a própria explicação teológi-
ca da origem do mal no mundo. Porquê? Por que
Deus concedeu-nos o livre arbítrio, a possibilidade de
escolha. E isso mais não é do que uma estratégia, um
teste à nossa capacidade de optar entre o bem o mal.
De resto, é esse o príncipio recorrente na Bíblia. Logo, diria       distintas podem afectar a nossa relação com os outros.       literatura são recorrentes nesta sua obra,
que sim, pode resumir-se esta história a “uma visão do mal           Ou como a forma com que vivemos a infância e a ado-          nomeadamente sófocles, sartre, Nabokov,
como acto estratégico de Deus”. E mesmo acreditando ou não           lescência pode determinar o nosso rumo. É uma história       camus, André malraux, trotsky, steinbeck ou
na existência de Deus, de uma maneira ou de outra – basta            sobre comportamentos patológicos, situações-limite,          dostoievski. porque recorreu a eles, são estas
olhar o mundo que nos rodeia e ler os seus sintomas – somos          desvios sexuais, a eterna discussão entre loucura e sani-    também as suas influências?
forçados a chegar à mesma conclusão de Maquiavel. Daí                dade e a definição da fronteira a partir da qual os nossos
ter de lhe responder também que sim, que suspeito que os             actos passam a ser considerados erráticos. É finalmente        VE: Como leitor, tenho o pecado de venerar certos autores.
homens são maus por natureza, o que infelizmente poderá              uma viagem em busca da redenção, uma espécie de              Para mim, há escritores de livros (que vendem um produto,
contrariar os princípios românticos de Rosseau e o mito do           «road-book espiritual», uma demanda pela reposição           que é o livro, como podiam vender outra coisa qualquer) e
“Bom Selvagem”, mas ainda bem que assim é, pois é nessa              da ordem moral num mundo manifestamente imoral.              autores de literatura. Está na moda ser escritor. Não tenho
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 Terça-feira, 26 de Julho de 2011                                                https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                            7

- discurso dirEcto

uma visão do mal como acto estratégico de Deus
                                                                   de trABALHAr o mAteriAL Que
nada contra. Ainda bem. Lê-se mais também. Agora,                  Quisermos, ApropriANdo-Nos                                   natureza cultural e sociológica com que trabalho). A outra
incomoda-me seriamente a presunção de que se se                                                                                 questão é à inspiração mórbida propriamente dita. Devo
vende é porque é bom. Há já uns bons anos, quando
                                                                   de HistóriAs ALHeiAs, usANdo                                 dizer que ela criou e continua a criar grandes autores de
era jornalista, entrevistei um escritor português, que              experiêNciAs pessoAis, sejA o                               ficção e nada tem de pejorativo. Agora, no meu caso, não sei
havia acabado de publicar o seu primeiro romance e                   Que for. AgorA, porQuê este                                se se trata de inspiração mórbida mas sinceramente também
estava a tornar-se campeão de vendas... e também de                                                                             creio que não me compete ajuizar sobre isso. Prefiro deixar a
críticas demolidoras. Não está em causa se a sua prosa
                                                                  romANce em coNcreto? tALvez                                   questão para os leitores, pois é a eles que se destina esta obra
é boa ou não. Cada um é livre de escrever o que lhe                respoNdA A isso dAQui A mAis                                 e é o crivo deles que decide da natureza das minhas pulsões
apetecer, ser editado e ter grande sucesso. O que me                ciNco ou seis Livros, QuANdo                                narrativas. É evidente que escrevi «O Carrossel de Lúcifer»
chocou foi uma afirmação que essa pessoa fez durante                                                                            com a intenção clara de provocar sensações. Deixar-me-á
a entrevista: “Eu, como o Hemingway, escrevo sobre...”.
                                                                       tiver oBrA e estAtuto Que                                infeliz, porque significa que não consegui atingir o meu o
Nem queria acreditar no que estava a ouvir! Ou seja,               torNem iNteressANte pArA os                                  objectivo, se alguém ficar indiferente a este romance. No
não me incomoda que cada um ponha no papel o que                 Leitores A miNHA LoNgA e iNtri-                                seu caso, vê o livro como fruto de uma inspiração mórbida.
quiser, mas daí dizer que se trata de literatura vai uma                                                                        Fanstástico! Há quem o veja como sanguinário, angustiante,
grande distância. Escrever ficção não é propriamente,
                                                                cAdA reLAção pessoAL com este                                   há quem chegue ao fim e me diga: “Podias ter ido mais longe”
ou não devia ser, encher páginas de disparates e apelar           uNiverso dAs forçAs do Bem e                                  ou “Não vejo em que é que este livro seja pesado. Até me
à mediocridade. A literatura é uma manifestação de                                        do mAL.                               deu vontade de rir em certas passagens”. É isso que procuro:
arte e talento. Requer no mínimo domínio da língua e                                                                            reacções. E quanto mais díspares melhor.
verosimilhança. E já agora convém que se tenha algo
minimamente interessante para contar. Talvez eu seja          pj: os nomes das personagens são quase                            pj: é mesmo preciso “fazer crer que somos
demasiado purista e daí dizer que tenha o pecado de           todos bíblicos: joão de deus, pedro cruz,                         bons, mesmo que sejamos odiosos”, porque
venerar certos autores. Todos os nomes que citou, e           madalena, damásio Assunção, miguel (como                          “só assim nos toleram”?
outros, fazem parte da galeria de autores cuja obra           o arcanjo). Há alguma razão por detrás desta
me marcou profundamente em diferentes fases da                escolha ou foi aleatória?                                           VE: Nada a dizer. A tese, que cito no romance, entre outras,
minha vida e pelos quais tenho um profundo respeito                                                                             é de Maquiavel. Por muito que possa incomodar, Maquiavel
que me obriga, em privado e em jeito de desabafo, a             VE: Foi intencional pois queria reforçar a simbologia           teve a coragem de dizer o que muitos pensam sem jamais
fazer o papel de advogado do Diabo: “Alto lá!” – digo eu      do romance com elementos cristológicos e messiânicos.             ousarem em verbalizá-lo. Deixo-a para reflexão do leitor.
para mim próprio, indignado por vezes com o vejo ou           Alguém poderá dizer que é redudante e perigoso para
leio. – Há escritores e escritores. Esta história dos best-   a verosimilhança da narrativa, mas se estava a escrever           pj: considera que este seu livro é um elogio
sellers faz parte da venda do livro como produto: não         sobre o fim do milénio e os tempos do fim, tentando criar         ao mal, ou tal com a personagem pedro cruz,
é uma questão de literatura”. Agora, por que recorri a        uma visão apocalíptica do mal, decidi correr o risco de usar      acredita que a nossa vida se resume “a uma
tantos destes “monstros” da literatura? Objectivamente,       nomes que apelam no imaginário do leitor justamente a             tremenda obsessão pelo sexo e pela morte”?
porque se tornou uma necessidade da narrativa: uma            essa dimensão bíblica.
das personagens de «O Carrossel de Lúcifer» tem a                                                                                  VE: Este romance pretende ser apenas uma metáfora dos
mania de usar citações de livros para justificar tudo o       pj: Neste seu livro transparecem histórias                        tempos modernos que observa o mal como uma condição
que lhe acontece, com vista a provar aquilo a que ele         de amor a um nível platónico, veja-se o caso                      inalienável da existência humana. Não há nesta narrativa
chama de «infabilidade da literatura». É uma brinca-          de joão de deus/madalena, ou pedro cruz/                          juízos de valor. Apenas interrogações, inquietações. Este livro
deira e se calhar, inconscientemente, uma forma de            madalena, ou ainda, a obsessão de pedro                           trata do mal, é certo, e convida o leitor a mergulhar nalgumas
prestar homenagem a alguns desses autores que tanto           cruz por sara, sem esquecer a atracção                            das suas possíveis manifestações e mecanismos, mas o mal é
respeito e de extravasar a minha ira contra a presunção       doentia que sente por maria. isto ao mesmo                        sempre descrito como um indício, como um sintoma de uma
desses tantos “escritores” que por aí abundam.                tempo que estabelece um paralelismo entre                         sociedade doente, pelo que cabe a cada um de nós exercer
                                                              o passado e o presente das vidas das suas                         o seu livre arbítrio e fazer as suas escolhas. Por isso, «O Car-
pj: o que o motivou a escrever este                           personagens. Não teme que o seu romance                           rossel de Lúcifer» está muito longe de fazer o elogio do mal.
romance?                                                      se assemelhe demasiado à realidade?                               Pelo contrário. Aliás, a missão de Pedro Cruz, uma das duas
                                                                                                                                principais personagens do romance que acabou agora de
   VE: A mesma razão que me levou a rabiscar duas                VE: Pelo contrário, se o leitor sentir que estou próximo da    referir, é precisamente descobrir a forma de expurgar o mal
novelas e não sei quantos contos e centenas de textos         realidade ou que as minhas histórias de amor são reais, é         do mundo. Porque ele não sabe lidar com a sua “obsessão
dispersos desde os meus 11 anos, que terá sido mais           porque a minha ficção é verosímil. E isso, penso eu, é o que      pelo sexo e pela morte”, algo que ele pensa partilhar com
ou menos a época em que descobri a minha paixão               um escritor mais deseja: que as pessoas se identifiquem e         muitas pessoas em seu redor, algo que o angustia profunda-
pela escrita: escrevi este romance porque precisava de        se revejam ao máximo na história. Não é por acaso que o           mente. E, por essa razão, Pedro tem a necessidade urgente
o fazer. Na verdade, se pudesse seria a única coisa que       “true story” ou o “baseado em acontecimentos reais” atraia        de encontrar um antídoto para a maldade. Só que o faz com
gostaria de fazer na vida. Mas apenas ficção. Sei que soa     sempre mais audiências. Pena que não o possa fazer aqui,          a prática do próprio mal. Parece irónico, mas não vemos isto
a rebuscado e a frase feita, mas preciso da ficção para       porque as histórias de amor de «O Carrossel de Lúcifer» são       todos os dias à nossa volta, no nosso mundo real?
reinventar o mundo à minha medida. Numa palavra,              pura ficção, embora evidentemente relevem de vivências
catarse. É claro que tento comunicar, porque só assim         pessoais ou de terceiros das quais eu me apropriei como           pj: para finalizar, diga-me: tudo se resume à
faz sentido ser publicado. Um romance, ou qualquer            material para trabalhar. Tal como disse, o fantástico de          maldade que todos temos dentro de nós, à
outra coisa transformada em livro, não passa de um            escrever ficção é poder reinventar e reconstruir a realidade      semelhança do que defendia maquiavel?
conjunto de folhas e palavras impressas se não tiver          com total liberdade criativa.
leitores. Não passa de um objecto. Só adquire sentido                                                                             VE: Não, por todas as razões que já apontei, mas que ele
quando alguém pega nele e começa a lê-lo. Mas como            pj: em «o carrossel de Lúcifer» também                            está entre nós lá isso está. E está a revelar-se cada vez mais.
dizia, nem é tanto pela necessidade de comunicar que          sobressaem os sentimentos mais crus e                             Como disse, é um dos sintomas mais evidentes de que vive-
escrevo; é sobretudo pelo subterfúgio que descobri            animalescos que um homem pode ter dentro                          mos numa sociedade doente.
na escrita enquanto forma de exorcizar inquietações           de si. A cada linha, a cada parágrafo sentem-
pessoais.                                                     se gestos intensos de dor e de uma crueldade,                     pj: gostava de terminar com uma pequena
  E o fantástico que a ficção tem é que                       por vezes brutal, como é o caso da morte                          provocação: “só se escolhe a loucura quando
                                                              dos animais, mas também a descrição do                            se sabe que não vale a pena ser são”?
    posso fazê-lo à minha medida, tAL
                                                              assassínio de damásio Assunção. de onde lhe
      como diziA, reiNveNtANdo                                vem esta inspiração mórbida? (perdoe-me a                           VE: Não vou entrar na eterna discussão da fronteira entre
   todos os meus demóNios dA                                  expressão!)                                                       loucura e sanidade, mas no meio de tanta insanidade, que
                                                                                                                                reconhemos às vezes nos mais pequenos pormenores, nos
 formA Que Bem eNteNder. Não                                    VE: Há duas questões aqui. Uma é que este romance               mais pequenos gestos, não há a tentação por vezes de
     precisA de ser AutoBiográ-                               contém deliberadamente muitos “ruídos de fundo”, a                termos um dia de raiva, de completa loucura, de agirmos
     fico. somos Nós Que defiNi-                              descrição de actos isolados de crueldade e violência, que         da forma mais tresloucada possível, mesmo que seja para
                                                              não interferem no avanço da história e que só existem,            repor, lá está, uma determinada ordem moral, a nossa ordem,
     mos o grAu de exposição A                                por um lado, para manter um clima de tensão e angústia            a ordem que consideramos que deveria ser a adoptada? No
  Que Queremos Nos suBmeter.                                  permanente e, por outro, para dar indícios adicionais, à          meio de tanta insanidade, não apetece às vezes imaginar
  é Que A ficção permite recor-                               margem da narrativa, dessa maldade inerente à natureza            que, afinal, os loucos é que são os sãos? Deixe-me ser eu a
                                                              humana, quer no campo quer na cidade, a tal descida               deixar uma pequena provocação: se se reconhece o mal por
        rer A ALgo simpLesmeNte                               aos infernos que pretendia retratar. De resto, não há uma         oposição ao bem, talvez só se possa reconhecer a insani-
  extAsiANte: Ao iNesgotáveL e                                localização espacial concreta para a narrativa justamente         dade, quando a sanidade não nos basta..
 mArAviLHoso muNdo dA imAg-                                   porque procurei imprimir um sentido de universalidade. O
                                                              que acontece em «O Carrossel de Lúcifer» pode situar-se
iNAção oNde tudo é permitido.                                 em qualquer país (pelo menos europeu, já que seria difícil       Entrevista publicada no diário «primeiro de
     somos iNteirAmeNte Livres                                extrapolar para outras regiões determinados elementos de
                                                                                                                               Janeiro», em portugal, em Fevereiro de 2008
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Terça-feira, 26 de Julho de 2011                                             https://literatas.blogs.sapo.mz                                                       10
no rEcanto dE apoLo...
A Rua e o Menino
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CELSO MUNGUAMBE - MApUTO
 Menino da rua
                                                                   Gurúè
 Sob o olhar do imenso lixo                                        JApONE ARIJUANE - MApUTO                    pEDRO DU BOIS - BRASIL
 Menino da rua
 Caminhando sem destino                                            O Mundo onde o nada diz tudo.
 Menino da rua                                                     Bendito seja dito somente para ti!          Realizo o sonho ao destino
 Nas noites sombrias e frias                                       Obra da arte natural                        ofertado. Retiro a irrealidade
 Menino da rua                                                     Verde com nunca                             e a contemplo em matéria
 Caminhando na rua                                                 Firme com sempre                            rio do segredo
 Menino da rua, menino da rua                                      A mãe natureza tem aqui um sossego divino   descubro
 Olhar brilhante                                                   A contemplação infinita                     avanço o tempo
 Esperança inoperante                                              reside nas entranhas desta vista            à semeadura
 Tristeza inquietante                                              Beleza, as fertilidades ostentadas          e retorno em colheitas
 Temor vibrante                                                    pela sua superfície
 Dor consistente                                                   Fazem de ti,                                a casa serve ao senhor
 Agora já não sou mais                                             O pulmão,                                   o estio ao crescimento da planta
 Menino da rua mas sim                                             O celeiro,
 Menino das avenidas                                               O oxigénio,                                 depois do cultivo
 Do nosso Maputo                                                   O tudo zambeziano                           sobre a terra
 Vestes rasgadas                                                   Se foi deus adeus pelo embelezamento,       em inundações lavo a sombra
 Imundas, de cheiro insuportável                                   Alias, que haja deus embelezador.           da irrealidade. Deposito
 Como a vida k levo                                                                                            diante do homem
 Sem saber se existirá o                                                                                       a sobra na satisfação
 Amanhã para mim                                                                                                      do todo.
 Se até o presente é incerto
 Sobrevivo na esperança

                                                                   Teatro                                      Tarde de domingo
 De no futuro me tornar
 Algo melhor.

vista a Minha pele                                                 NILTON pAvIN - BRASIL                       AFONSO ALMEIDA BRANDÃO
SILAS CORREIA LEITE - ITARARé
                                                                   Furtaram o pseudônimo do ator.                                                              (para Anifa)
                              Para Júlio Hendrix Silva Rodrigues   Delinquência de ação nefasta,
                                                                   Tórrida intriga burra, insensata.            A monotonia
 Assuma a minha cor                                                Código soslaio de pavor, louvor              o acaso
 Seja você quem for                                                                                             o tempo que se alonga.
 Capture radicalmente a minha dor                                  Minuta de um ente protuberante
 Bem lá dentro de mim                                              Que agoniza na vida pústula,                 Tardes de domingo
 E procure me compreender melhor assim                             Intenção maligna de uma fístula
                                                                   Reinante em um submundo rutilante            O calor aceso nas janelas
 Vista a minha pele                                                                                             como uma flor ao Sol.
 Eu sou igualzinho a você                                          Filmico de sensível infausto
 Ser Humano, porque                                                Repleto de atos e rumo funesto              E o teu corpo
 Corpo, Mente, Banzo, Coração                                      De uma vida simples e inclemente            quieto e perfumado
 Então questione racismo e discriminação                                                                       no branco do lençol.
                                                                   Reluz de um ato vil e sincrético,
 Vista a minha pele                                                Ao transformar o mundo maléfico
 Sou vermelho por dentro                                           Em um pandemônio atroz e inerente                    (in «Reconciliação das Palavras», a sair brevemente)
 E negro sempre cem por cento
 Afrobrasilis, Afrodescendente


                                                                   A Xitsuketa                                                      Que culpa temos
 Muito além de para sempre
 Inteiramente ser humano e sobretudo gente

 Vista a minha pele
 Vista-se epidermicamente de mim
                                                                   AMéLIA MATAvELE - MApUTO
                                                                                                                                    nós?
 E procure me entender como seu igual assim                        Somos dois…
 Seu irmão da humana cósmica raça                                  Dois corpos, duas almas, dois animais
 E sinta tudo o que dentro de mim se passa                         Mas quem somos?

 Assim você muito bem confere                                      Podemos até ser três!                                            MUKURRUZA - LIChINGA
 Assim você vai realmente se sentir                                Vigora a dita geração de viragem
 Lá dentro da minha própria pele                                   Mas quantos somos?
 Como eu quero ser árvore de leite e florir                                                                                                                  Á Jorge Viegas
 Como eu quero ser janela de pão e me abrir                        Somente saberemos isso
 Como eu quero ser estrada de açúcar e prosseguir                  Ao gosto das palmas
 Como eu quero o fim de diáporas e sorrir                          A lua aberta, a sol nú                      Gentil nossa alma,
 Sem nenhum branco para me ferir                                   E a estrelas ousadas…                       Nossa esperança, dores, mágoas, enfim, roubadas.
 E você vai captar essencialmente então                                                                        Penúrias penduradas n’angústias
 A verdadeira pureza do que é primordial                           Somos um!                                   Desfeitas de graças.
 E o que eu quero é total libertação                               Mesmo desejo e agressividade animal         Estas vaidades traduzidas nas danças de batuques
 E todos iguais na aquarela da coloração                           Que faz gerar dinamismo no brutalismo       marimba, enfim.
 Numa brasileiríssima democracia racial                            Dum sentimentalismo
                                                                                                               Oh! danças de ekuetthe danças desconhecidas!
 Vista a minha pele                                                Hum! E assim começamos                      -Será que não lembram destas danças?
 Seja um pouco eu mesmo um negrão aí                               Dois corpos, dois instintos                 -Isto é mesmo que não lembrar
 Dentro de você - Para você sentir                                 Uma lua aberta                              do filho desta terra esquecida
 Sou preto brasileirinho                                           Um sol nú e estrelas
 Sou negrão e sou negrinho                                         Aplaudindo a nossa mais nova dança!         ah! Que esperança falhada nesta terra de moldes,
 Sou Negro e Ser Humano de igual valor                                                                         desfeita de estragar tijolos de adobe!
 E tenho a África nas moendas e engenhos no meu interior           Uma dança…                                  Tristeza é a palavra que só se vos diz.
                                                                   Uns instintos únicos…                       Nestes gritos esquecidos;
 Depois de me vestir e depois de se sair de si                     Uma xitsuketa!                              Gritos sem referentes, sem donos.
 Deixando de ser eu negro aí                                       Abalando os corações dos que a assistem     Ah! que tristeza nos acolhe nestes abrigos sem reflexos!
 Venha me estender a sua mão                                                                                   Que pena nos impedem de sonhar!
 E, de coração para coração                                        Uma dança com dois                          Esperança desfeita de mistérios dos magnos xicuembos
 Abrace-me como um seu completo irmão                              Pode até ser com três!
 A pele espiritual sendo uma só então                              Dança que renasce após a adolescência…
 Numa sagrada e sideral celebração.                                A dois!
Exero 01, 5555     BLA BLA BLA           9
   Terça-feira, 26 de Julho de 2011                                                        https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                                        9

  “canto da poEsia”
Mulher mecânica                                                                     pALAvRAS LATEJANTES
RAFFAEL INGUANE
                                                                                    AUGUSTO ALMEIDA
 Deixa-me sentar nos assentos do teu corpo
 Apalpando a tua chaparia
                                                                                                                                                      p’ra quê lágrimas?
 Aconchegando-me em ti,                                                             é tudo tão escuro                                      NICO TEMBE
 protegido pelos teus braços de segurança                                           é tudo tão eu, um bocado obscuro
 Espelhando-me no retrovisor dos teus olhos                                         Ouve o sussurro que se espalha pelo furo                 p’ra quê lágrimas?
                                                                                    Que se abre na traseira do teu canal                     Se tenho um lugar
 A muito vens dizendo que és boa na cama                                            Não faz mal, uma apologia meio sexual                    para magoas desabafar
 Robusta como um “four by four” na lama
 Deitada de cócoras                                                                 Até dá prazer sentir assim o mal a gotejar               p’ra quê lágrimas?
 por cima das quatro patas                                                          A lacrimejar desejo impuro e corrente                    Se a natureza tenho a merecer
 Ou melhor, com as rodas arreadas                                                   Assente no teu dia-a-dia de pura correria.               vendo flores florecer
 pronta para obedecer as minhas manobras                                            Alia a tua fome por um novo dia
                                                                                    Com o medo que se espelha na tua face                    p’ra quê lágrimas?
                                                                                    Dá um volte e face e pensa como se ele se calasse        Se não tenho porquê mentir
 Deixa-me manejar a tua caixa de velocidades                                        Como se ele acabasse e teu mundo acabasse hoje.          pois no fim irás descobrir
 Dominar teu corpo a cada mudança que eu for a engrenar
 Farei da nossa cama um auto-estrada                                                Ele, te curva e te penetra como se fosse um penetra      p’ra quê lágrimas?
 Enfrentando as mais perigosas curvas do teu corpo                                  Motivado por um desejo que brilha a cada novo dia        Sem que viva um horror
 Quiçá cair no precipício perto do teu canal vaginal                                porque trilha um caminho doloroso enquanto chia          Se somente precido d’um verdadeiro amor
 E sem tirar o pé do acelerador                                                     A revelia dos teus esforços de dar a receber
                                                                                    Sem perceber se isso é sexo ou prazer de sofrer.         p’ra quê lágrimas?
 Contigo subirei as zonas mais montanhosas da nossa casa                            Cada pedaço de ti é uma montanha de masoquismo           Não tenho mais nada a dizer
 Transpassarei desertos enfrentado todas dunas                                      Mas eu sei subir de nível em alpinismo                   Não é só de lágrimas que irei viver.
 Quero pôr a funcionar as válvulas do teu motor                                     Muda-se o ismo mas o prazer te conflitua
 violar os teus filtros e o radiador                                                Não compactua com o teu desejo de me esbranquiçar
 Farei subir o ponteiro do teu conta-quilómetros                                    De me iluminar como se eu portasse o mal
 pegarei com uma mão o volante dos teus cabelos                                     E fosse fundamental encontrar a luz
 E a outra mão apalpará a tua bunda bagageira                                       Na verdade mentida numa bênção papal.
 Acelerarei o teu corpo,                                                                                                                    A pROSA DA NOITE
 Nas mais altas velocidades sexo-automobilísticas                                   Eu sou um sinal bem na ponta do teu peito
 Até acabar o combustível que alimenta o teu carro corpo.                           Dou aquele pinar bem no centro do teu leito
                                                                                    Não tem outro jeito de caracterizar o meu feito
                                                                                                                                           IZIDINE JAIME
                                                                                    palavras são estímulos com fins pré-determinados        - Mulher que nunca tive.
                                                                                    Mas mesmo que eu fosse mudo, os meios
                                                                                    podiam ilustrar-se no lamber dos teus peitos            Os segredos do silêncio na noite calma,
MAR AMOR                                                                            Como um pasteleiro a pintar bolos
                                                                                    Com rolos a pingar saliva pelo teu corpo
                                                                                                                                            São uma nova nota a melodia da lembrança
                                                                                                                                            Em mim se cala o infinito dos meus desejos
                                                                                    Não para embelezar, não para aclamar                    Os caminhos se metamorfam onde nunca houve nada
pIETRO pETROSSE                                                                     Simplesmente para abrir a tua história por um mar       Os medos me afogam na incerteza do que faço,
                                                                                    Onde eu possa nadar sem respirar                        “Mas o que sepulta não é o medo de fazer, mas a coragem de não fazer”
 Na nau embarquei,                                                                  E caminhar sem pisar, mas a penetrar.                   preciso acreditar, a confiança tem poder.
 Em suas aguas singrei.                                                                                                                     Dobram-me os sentidos e as sensações se exaltam.
 Tempestades, enfrentei                                                             Neste meu crime perfeito
 E delas escapei.                                                                   A cena do crime aperfeiçoa-se deixando marcas           Baloiço os olhos famintos de um corpo relusente de todas as raças. Não!
                                                                                    Uma mordidela seria uma imagem bela                     Orbitro o rosto, há mais coisas por olhar no mundo.
 Com suplicios me deparei,                                                          Enquanto as minhas mãos tipo barcos a vela              A árvore da vida, me chama com um nome,
 Nao desaminei,                                                                     Navegariam o teu mar a salgar-se pelo suor              Quem sou? – O sonho é incompleto
 velas icei                                                                         A pingar pelos poros da tua pele em ebulição            O dia me acorda na voz da luz,
 E em tua sanha continuei.                                                          Arde com todo fogo que me deixa fazer furor             O galo grita o temor da morte, mas a morte é bela,
                                                                                    porque quando passas por mim                            Democrática, nem os homens conseguem suborna-la.
 Sem forxas e nortes naufraguei,                                                    Eu sou estupidamente desrespeitoso.
 Como vencido nao me dei,                                                                                                                   Coitados são vós todos que tendes o mesmo destino que eu!
 E continuar a nado tentei.                                                         primeiro veio a provocação                              Mas eu, nem destino tenho. A vida não me leva,
                                                                                    Depois veio o pré-eliminar dessa tua ebulição           A vida não sabe levar nada, ela só é ela.
 Nao aguentei e me afoguei,                                                         Agora tenho o teu ângulo aberto bem de perto            Cada um se leva na vida e eu vou me levando,
 Quando despertei,                                                                  Numa imagem de Monalisa a derreter                      De verdade e espírito conhecendo-me como ninguém.
 Em teu seio me encontrei.                                                          E eu só a pensar em meter.                              Minhas fraquezas estão nas vírgulas mais fortes que tenho
                                                                                    Grita tudo que quiseres que eu dou-te volume            por onde a minha fortaleza as apalpa pedaço a gota.
                                                                                    Sou o teu Ferrari então chama-me Shumi                  Os desafios so me procuram coroar vencedor.
                                                                                    Estou no cume da vida a querer descer para o inferno    Ah, Essa vida!
                                                                                    para ser julgado pelo pecado capital sem terno
                 Triste paisagem no escuro                                          porque aqui a imagem é sempre figura de montra.         Meus reflexos farejam pedaços de mim,
                                                                                                                                            As sombras não me apelidam, o subdito canto me entrelaça
                              NECROMANTE MANES
                                                                                  Fabião                                                    E envolve-me no inconsciente. Ah, cá estou eu!
                                                                                                                                            pensando inutilmente como quem abre o olhar fechando os olhos.
                      Encontrei te deserta perdida num bosque                       RUTh BOANE                                              As sílabas prosam e a verdade me mostra o seu garimpo.
               feita a noiva vestido ensanguentado figurava a morte                                                                         As mentiras me apetrecham tanto que já nem é segredo aos ventos,
                         cabelos desfeitos pulmões sem vida                                                                                 Mas em que labirinto há mais pedras que a minha vida?
                   será devido ao vício ou a atmosfera dessa mira                   Quanta tolice!
             mal respiravas senão fôlego de uma substância medonha                  padeces de uma estúpida doença, a criancice             A poeira cansou-se de beijar-me os pés
   o álcool com o qual ti relacionavas traíra-te segredamente sem dares a conta     Embora te foste, seu cão                                Meu peito se lembra de todos os rostos,
             num passado ou num presente que desconheço sua fronta                  Oh, Fabião!                                             Mas há um que não soa na lembrança porque nunca tive,
                          alias como eu e tu viemos cá parar                        Te foste na calada da noite                             O Y sabe o nome dela, quando me embalo no frio do AC
            não vejo o sol, apenas uma pequena fonte luminosa a brotar              Como um ladrão te foste                                 Me lembro do nome que o Y me diz.
                 sinto frio, o coração palpita mas não sinto o pulsar               Te foste como o Julião
               tenho a sensação da matéria porém perco ao caminhar                  O ladrão da rua Marcos Sebastião                        Eis-me aqui escrevendo pateticamente como quem ama sem o saber dizer,
              da última vez que ti vi estavas tão feliz por cima do altar           Na calada da noite                                      A luz se invoca em minha alma, meus dedos transpiram letras,
         dizias que ele é o homem da sua vida e que fariam juntos um lar            Te foste com tudo                                       Me escondo de mim onde me encontro, o pensamento não me obedece,
                onde esta todo mundo sinto algo que desconforta-me                  Os meus sentimentos                                     As janelas despem a rua. Não há lá ninguém? Ninguém passa.
                 não é presente, é infinito é algo que assombra-me                  Os meus pensamentos                                     A rua está só como eu, mas eu tenho a mim, e a rua que tem?
                              gritei por ti e não me ouvias                         Oh! Te foste seu cão                                    Se for para passar alguém que seja ela, assim poderei ter ela comigo
         gargalhadas sinistras amorteciam em ecos as minhas suplicas....            Nem pintado de ouro                                     E a rua já não mais estará solteira porque nos terá a nós.
                                                                                    Te quero mais ver
                     Oh! tempo dai me de volta a sua miragem!                       Seu Sacana!


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Revista literatas   edição 3

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  • 1. Literatas Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista a um amigo COMUNICADO Abertas as inscrições (sem custos) Sai às Terças-feiras para Oficina Literária a ter lugar nos dias 1 e 2 de Agosto com escritora brasileira Ana Rusche que estará em Maputo. Informações no Centro Cultural Brasil-Moçambique ou pelo email: kuphaluxa@gmail.com Movimento Literário Kuphaluxa Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona Director Editorial: Eduardo Quive * Maputo * 26 de Julho de 2011 * Ano 01 * Nº 03 * E-Mail: kuphaluxa@sapo.mz MoçaMbique entra no acordo ortográfico Ressuscitar para contar estórias pg. 3 No Discurso Directo Victor Eustáquio fala de “O Carrossel de Lúcifer” pg. 6 e 7
  • 2. 2 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 26 de Julho de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 2 Em primEira - Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa Educação será sector prioritário na introdução Albertina, Lourenço do Rosário e Calane da Silva, dirigentes da Comissão Nacional do IILP - Moçambique EDUARDO QUIvE - MApUTO LoureNço do Rosário e a sua comissão, aconselham ainda e peLo uso da expressão língua oficial como referência à LP ao Governo de Moçambique, a não menosprezar os técni- (nunca tratada como língua nacional/moçambicana, apesar cos nacionais, no processo de participação do vocabulário de ser símbolo da unidade nacional Resistência/Contesta- linguístico moçambicano. ção/problematização do uso da Língua Portuguesa. Tendo em vista a divulgação do QuANto Aos custos, manteve-se a previsão dos mais de 108 “áfricA tem um problema único que deriva da sua situação milhões de dólares. multilingue e do facto de haver línguas ex-coloniais lutando Acordo Ortográfico da Língua pela supremacia no continente. Uma vez que estas muitas línguas estrangeiras são conhecidas por um número insig- A Língua portuguesa é ou poderá ser portuguesa (AOLp), a nível nificante, a única forma de trazer muitos africanos para as nossas próprias iniciativas de desenvolvimento é através uma Língua Moçambicana (izada)? do país, a Comissão Nacional da mudança na política linguística. devemos deseNvoLver as nossas línguas para se conseguir do Instituto Internacional estA foi a questão de fundo da dissertação do docente uma efectiva comunicação com as massas. Nós propuse- da Faculdade de Letras e Ciências Sociais na Universidade mos o Kiswahili como a língua mais adequada para ser de Língua portuguesa (IILp) Eduardo Mondlane (UEM), Gregório Firmino, que defendia desenvolvida como língua para a união africana. Se tal for igualmente haver aspectos Linguísticos Sócio-simbólicos não fácil de obter a curto prazo, podemos desenvolver iniciou o ciclo de seminários, que justificam o pressuposto de que a Língua Portuguesa inicialmente um número delínguas africanas. está num processo de nativação, justificando-se assim a pArA este fim, podemos escolher Hausa na África Oci- pelo menos a nível da sua moçambicanização. dental, Árabe no norte; Zulu na África do Sul, Kiswahili na A expLANAção deste docente, no que diz respeito a nativa- África Central e Oriental, ao mesmo tempo que se encoraja cidade de Maputo, juntando ção da língua, teve base com os fundamentos do especial- o desenvolvimento contínuo do Kiswahili. Se, por razões ista Kachru que define esse processo, também chamado válidas, Kiswahili não é aceitável, eu votarei por uma outra as províncias de Gaza e de indigenização ou endogeneização. língua, desde que seja uma língua africana” “pode ser definida como um processo de aculturação por outro lado, Gregório Firmino ainda continua a ques- Inhambane. através do qual uma língua ex-colonial se aproxima do tionar sobre a situação do Português e se até onde a visão contexto sócio-cultural de um país pós-colonial. generalizante de estudiosos africanistas se enquadra ao AtrAvés dA nativização, uma variedade não-nativa é cul- caso do Português em Moçambique? A divuLgAção do AOLP tem como objectivo, o conheci- turalmente integrada na ecologia social da pós-colónia e gregório tAmBém questiona se pode haver uma língua mento do seu conteúdo, seu significado e de um modo adquire novas funções sociais. que seja símbolo da nação/língua da unidade nacional sem geral suas implicações, procurando-se auscultar a opinião ALém disso, ela desenvolve inovações linguísticas que ser língua nacional e por que geralmente não se aceita a geral e colher subsídios sobre a implicação da aplicação do ganham significado comunicativo e social no contexto designação línguas nacional/língua moçambicana para o acordo nas diversas áreas, como educação, comunicação destas novas funções.” Português? social escrita, administração pública, área editorial, artes e gregório firmiNo, defende que essa nativação é motivada “o português em Moçambique pode ser visto como um letras, entre outras. pelo uso da expressão língua(s) moçambicana(s)/língua(s) continuum que oscila desde as formas do “mau” Português No semiNário de Maputo, ficou decidido que o sector naciona(l/is) como referência às línguas bantu (nunca trata- (pejorativamente chamadopretoguês) até às formas mais da educação seria prioritário na introdução do Acordo das como línguas étnicas) próximas do Português europeu” respondeu Ortográfico, dado a relevância deste sector na compreen- são deste novo instrumento linguístico. seguNdo LoureNço do Rosário, presidente da Comissão Nacional do IILP, o encontro “ não visava discutir se Moçam- bique deve ou não ratificar o acordo, pois, o País, deve cumprir com os seus compromissos, uma vez que assinou a elaboração deste documento”. eNtretANto, “depois de ratificado, vamos aconselhar o governo a revisitar o texto do acordo, porque há questões que precisam de ser revistos a favor do nosso país, de modo a não entrar na onda dos outros.” Disse do Rosário. por outro lado, no seminário, não foi possível se saber se em quantos anos vai se implementar as normas do novo Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa em Moçambique e, para tal, vai-se submeter um estudo.
  • 3. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 3 Terça-feira, 26 de Julho de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 3 Em primEira Contos do Fantástico JORGE DE OLIvEIRA - MApUTO beleza acima do comum. Um estilo agradável, diferente do usual, e que nos faz sorrir e perceber que a língua também que pareça, se tornarem defensáveis por alguns charla- tões. E alguns dos exemplos mostram isso, como o caso é um espaço infinito de que nenhum humano se pode de um fantasma de mulher que apanha um mulherengo, É uma obra de muitas culturas (religiosas, locais, naturais, apropriar na totalidade; das profecias amaldiçoadas que são feitas entre humanos espirituais), mostrando o quão diversificado é este povo 5. A dado momento recorda o “Piratas das Caraíbas”, com e se cumprem, de contactos com mortos, de Homens – e, no fundo, olhando para esse tempo longínquo com a seres meio humanos meio aquáticos a viverem em baixo da Animais, de pessoas que não se pode prender ou bater e possibilidade que a distância temporal permite... água, com muita escravatura à mistura, e, por outro lado, até sereias; De Aníbal Aleluia, escritor moçambicano já falecido, pub- vale pela mostra de aspectos culturais que, em tempo de 9. “E todos tinham medo dele. Os conselheiros, em vez de licaram-se duas obras, “Mbelele e outros Contos”, “O gajo colonização, diferenciavam a visão do colonizador da do conselhos, gritavam ditirambos. O ‘censor público’ insti- e os Outros” e, agora, “Contos do Fantástico”. Esta última, colonizado; tuído pelo régulo velho para moralizar a corte e a socie- escrita em 1988, é de natureza totalmente diferente do 6. “Meteu-se imediatamente no mato. Estava ansioso e já dade não teve similar no Sudoeste. Aliás, Macarala não que têm sido, ao longo dos últimos anos, as obras literárias antegozava o seu triunfo sobre os javalis. Gostava que os deixava os indunas falarem, salvo para proferirem elogios. moçambicanas. animais alvejados dessem luta. Quando o javali eriçava E o Sudoeste começou a empobrecer, acabando por cair 1. Com uma linguagem erudita, muito apurada, temáticas as cerdas, expedindo chispas dos olhos pequenos, e o numa indigência generalizada, enquanto o régulo vizinho, comuns, mas tratadas de forma bastante diferente, a obra seu rosnar transformava-se num som agudo, Luís sentia- herdeiro do Velho, com uma política sã, desenvolvia as suas trouxe estórias de ficção baseadas no além, naquilo que se mais homem, porque o animal parecia lançar-lhe um terras, promovendo a felicidade do seu povo”; as pessoas muito falam, só que ninguém alcança. A maior desafio. Então os seus músculos ganhavam dureza, rilhava 10. Contos do Fantástico deve ser lido para se ganhar parte dessas peripécias são resultantes do que ouviu ao os dentes e avançava afoito como se se quisesse entregar várias coisas, dentre elas relembrar algumas realidades longo das suas viagens por este país fora; a um violento corpo a corpo”; dos tempos de outrora, desfrutar de uma leitura agradável 2. Até a leitura e crítica social apresentada tem um cunho 7. É uma obra de muitas culturas (religiosas, locais, naturais, (até pelo desconhecimento de alguns termos, o que é e uma forma não muito simplista, o que obriga o leitor a espirituais), mostrando o quão diversificado é este povo e, caricato), para se aprender novos termos (os tais arcaicos) recorrer a uma análise baseada na conotação; no fundo, olhando para esse tempo longínquo com a pos- e se poder avançar na direcção de novos momentos na 3. “Cria, inventa, procura, experimenta. Observa com os teus sibilidade que a distância temporal permite, como vários nossa civilização. próprios olhos. A ti é que mais interessam os fracassos e tabus e preconceitos (que sempre foram demasiados) foram 11. É um mergulho nas amarras de um povo que tem tanto os triunfos. A eles não os afectam. Se tiveres aborrecimen- sendo ultrapassados sem nunca terem sido explicados (o de belo como de inexplicável. tos não serão eles a saná-los, embora, caso tenhas louros, que é óbvio, porque sempre se basearam em mentiras e sejam os primeiros a enviar relatórios às suas direcções para valorizarem as suas informações de cada ano, com vista a lendas sem base científica nenhuma); 8. Livro de enorme riqueza narrativa, apresenta episódios Texto e Foto do Jornal O país de futuras promoções”; que se vêem, logo à partida, tratar-se de imaginações que Moçambique. 4. É um texto com linguagem muito apurada, dir-se-ia nunca existiram, assentes em dogmas e mentiras embuti- mesmo um português arcaico que nem a todos atinge, das, ao longo de décadas, nas pessoas, até, por mais incrível exigindo muitas vezes o recurso ao dicionário, mas de uma Poemas que surgem sem véu “As memórias escondem-se todas nas paredes impregnadas de nós mesmos e os sons dos passos soam como se sob os pés hibiscos murchos chorassem”, assim escreve Lica Sebastião em “Restos Intactos”, do livro “Poemas sem véu”. LArgou o pincel e agarrou numa caneta para destapar as NestA oBrA, que faz uma incursão a diversas sonoridades palavras cobertas por um véu. Lica Sebastião, na sua estreia artísticas, desperta para uma atenção que rebusca a em“poemAs sem véu”, a autora desnuda a palavra no ver- literária, enveredou por “Poemas sem véu”, que para Fran- experiência de fruição curiosamente pontenciada pela dadeiro sentido, ou seja, Lica destapa várias questões rela- cisco Noa, que prefaciou a obra, “não haveria título mais forma tensa, mas inteligente como se escolhem e se inter- cionadas com o amor, desamores, o dia-dia, as crianças, sugestivo e apropriado” para esta sua obra de estreia. Noa ligam as palavras aqui trazida por Lica, tal como sugere no a rua, entre outras. Quem leu os versos de Lica Sebastião escreve ainda que “estamos perante uma escrita que afirma fim do prefácio Francisco Noa. vai ao encontro da ideia expressa no prefácio de Noa, de de modo quase cortante a sua condição de poesia, num mesmo escreveNdo há muito tempo, só agora Lica estarmos perante uma escrita que afirma de modo quase intenso e concentrado investimento na própria palavra. Sebastião estreou-se em livro com “Poemas sem Véu”, numa cortante a sua condição de poesia. referimo-nos a forma Esta, mais do que procurar desvendar mundos, institui mistura de poesia e artes plásticas que procura explorar as tensa como se escolhem as interligações como que uma celebração de si própria, através da explo- ração das suas múltiplas sonoridades, como, por exemplo, diferentes vertentes da arte e vai desvendando os diversos momentos que fazem uma sociedade como se estivesse a Texto e Foto do Jornal O país de em “Condidências de uma sexta-feira”. celebrar sua própria existência. Moçambique.
  • 4. 4 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 26 de Julho de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 4 - Festival Internacional de Teatro de Língua Portuguesa Moçambique abre o maior festival da CPLP ROSA LANGA* - RIO DE JANEIRO como instrumento a arma de fogo ou armas brancas para 30 e 31 de Julho corrente a partir das 20h00 locais no SESC o festivAL internacional de teatro da língua portuguesa já tirar a vida a sua vítima. Rio, casa da Gávea (centro do Rio de Janeiro). mexe com os amantes deste género de arte. Iniciaram as A sALA do teatro estava cheia. As risadas eram constantes recorde-se Que palestras, oficinas de teatro e amostras exibições dos vários grupos convidados na última quinta- pelo desenrolar de factos mas quando algumas cenas de de gastronomia típica dos países convidados, fazem parte feira em diversas salas da cidade carioca, Rio de Janeiro, e pancadaria surgiam durante a peça, o silêncio era notório. desta quarta edição do FESTLIP liderado pela prestigiada um dos grupos de Moçambique, foi chamado à respons- Algumas vezes, ouviam-se vozes exclamando em abilidade de inaugurar a sessão de estreia. forma de piedade. Afinal estava-se diante de um trAtA-se do grupo teatral Kudumba, liderado pela con- facto comum entre os povos. ceituada actriz Cândida Bila, que levou em cena a obra “Ser com umA hora e quinze minutos em cena, “Ser Mulher” cuja direcção de actores esteve a cargo da actriz. Mulher”, foi repetida no dia 22 e será ainda, vista A ceNogrAfiA da peça é de Mário Mabjaia, também de no dia 30 de Julho corrente no teatro Nelson Rodri- reconhecido mérito, com elenco constituído por Marga- gues. rida Madina, Messias Grachane, Paulo Sérgio, Nilza Utuy, outrAs exiBições foram registadas em outras salas Raimundo Manuel e Elliot Allex, este último chamado a de teatro, casos dos grupos de Cabo Verde, Angola substituir um dos actores ausentes. e Portugal. A oBrA em questão reporta o grito de liberdade da Mulher, pArA NA mesma semana, exibiram-se os grupos de o estado de alerta para a consciencialização sobre o direito Portugal, nomeadamente Grupo Teatral Peripécia da mulher de fazer as próprias escolhas de rumo na vida, com a obra “Novecentos”, Sikinadacia de teatro de as mesmas oportunidades, acesso à educação, saúde, etc. Cabo Verde com a obra “Um homem, uma mulher e Mas como a violência doméstica, moral, verbal, física e um frigorífico” e Angola com o grupo Elinga e a obra sexual, constituem o pão diário de muitas mulheres, sobre “o armário e a cama.” as quais a directora do grupo, apresentou como proposta de moçAmBiQue, estão igualmente convidados os ao público do Rio de Janeiro. grupos Lareira e Kuvona da actriz Lucrécia Paco. actriz Tânia Pires em parceria com a jornalista Luciana Rodri- os preseNtes na Sala Nelson Rodrigues (local da exibição), o grupo Lareira constituído por Sérgio Mabombo, Diaz gues, ambas produtoras da Talu Produções foram unânimes ao afirmarem que a questão da violência Santana, Rosa Langa e Elliot Allex, levam como principal doméstica, é igualmente a realidade presente em muitos atracção a obra “a Cavaqueira do poste”, obra que reporta Rosa Langa é para além de atriz, Jornalista lares dos brasileiros, mas com a diferença de que maior a crise financeira mundial. O grupo estará em cena nos dias parte dos homens, pautarem por crimes passionais usando da Rádio Moçambique. Um pouco sobre Amin Nordine BLOG DA REVISTA LITERATAS AGORA É NO SAPO MOÇAMBIQUE - é um poeta pós-modernista. A sua poesia é epigrámica. Ou http://literatas.blogs.sapo.mz seja, compacta. Também é um poeta discreto. Nunca grita para que o vejam. Ou o oiçam. Não se preocupa com as pes- soas que o reconhecem ou deixam de o reconhecer. Porque Caros leitores da revista Literatas, ele próprio sabe que é um poeta. Um poeta predestinado. Este é o início de um novo percurso Nunca se vai querer ser poeta, segundo suas palavras. ...Um da Revista Literatas, no que concerne poeta é. Amin Nordine publicou três obras que passaram mais à criação de um novo espaço (http:// ou menos despercebidas. Mas elas transportam uma grande literatas.blogs.sapo.mz), onde carga de sabedoria. E um dia as pessoas vão entendê-las. possamos nos encontrar pela arte. São elas Vagabundo Desgraçado, Duas Quadras para Rosa Trata-se de um novo blogue que Xicuachula e Do Lado da Ala-B. Agora tem Soladas, título com criamos já com a terminologia MZ, o qual concorreu para o prémio Muncipal/2007. E ganhou. Ele diz que o mundo do poeta e tão hipotético e subjectivo que referindo-se ao país em que a revista prefere ficar calado para não abalar a fé que transporta consigo. é editada (Moçambique), para além Ele é um misto caneco, que os amigos chamam, a brincar, de de que a entidade que nos concede o mudjinthi, ou mujahidine. Mas o poeta diverte-se com isso e alojamento é sem por cento lusófono, diz: “sou um preto de cabelos desfrisados. Minha mãe tinha um facto que, une-se aos objectivos da salão de cabeleireiro no ventre dela”. E numa situação destas, nossa revista. não podíamos perder a oportunidade de entrevistar este poeta Em deliberação, a Direcção Editorial da da compactação. (entrevista de Alexandre Chaúque, no jornal Revista Literatas, com o conhecimento Notícias no ano 2007) da Associação Movimento Literário NOSSO LAR DA MAFALALA Kuphaluxa, entidade proprietária deste órgão, pautamos por essa mudança, sem com isso pretendermos deixar de AMIN NORDINE DO LADO DA ALA-B ser o que somos. A mudança do endereço da revista, Nosso íNtimo lar, Zé AMIN NORDINE não terá implicações na linha editorial meio despedAço de zinco tonto ao cubo e na abrangência das colaborações. NumA BANgA de tontono. desAguAdA Apenas, pretendemos que mais artistas petiscos soNs delirando cAríciA deNtáriA lusófonos, profissionais e amadores, Nosso íNtimo lar da Mafalala, Zé deseNfeijoAdA em desprateada meia-lua de xima tenham um espaço inteiramente seu. NossA A lua macua! desmAscArAdA com carícias de m’siro do LAdo da Ala-B Pelos transtornos que eventualmente Nosso íNtimo lar da Mafalala, Zé QuAL soL se atreva na treva! tenhamos causado, apresentamos as por morAdA sinceras desculpas. NossA eterNA namorada! siNto sAudAde de mim... A Direcção Editorial ficHA técNicA Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique* AV. 25 de Setembro nº 1728, Maputo, Caixa Postal nº 1167 * Celulares: (+258) 82 27 17 645 e (+258) 84 57 78 117 * Fax: (+258) 21 02 05 84 * E-mail: kuphaluxa@sapo.mz Director Editorial: Eduardo Quive (eduardoquive@gmail.com) Coordenador: Amosse Mucavele (amosse1987@yahoo.com.br) Editor - Canto da Poesia: Rafael Inguane (inguane.rafael@hotmail.com) Redacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane. Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza* Brasil: Itapema - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin * Marcelo Soriano * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas. Design e páginação: Eduardo Quive
  • 5. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 5 Terça-feira, 26 de Julho de 2011 CRÓNICA / OpINIÃO 5 pOEMAGRAFIA AO AZAGAIA FiLosoFonias rapsódicas AMOSSE MUCAvELE - MApUTO MARCELO SORIANO - BRASIL m.m.soriano@gmail.com A musica (o RAP) é uma bomba nuclear que explode no ouvido Nota preliminar: Antes de de quem a escuta e a sua radioactividade desperta consciências prosseguir com este artigo, adormecidas neste tapete politicamente correcto. lembro ao leitor que me No pais de mim (Eduardo white) existe um homem versus dirijo à CPLP(Comunidade uma voz, que carrega uma trocha muito pesada,( estou a vos dos Países de Língua segredar ele disse-me que não descarregara nunca, mas sim irá Portuguesa), portanto, aumentar o peso). podemos encontrar Onde a cada viela e beco vai relatando as convulsões sociais gerúndios, futuros do que adentram a trocha por si carregada. pretérito, expressões etnocêntricas, familiares a certos leitores, porém, inusitadas a outros. Oxalá, que esta peculiaridade não seja Este homem é a voz do povo( tal como sintetizou o povo e que esta no poder) pretexto para correções, mas para integrações e enriquecimentos Colocaram-lhe pedras no seu caminho – não caiu continuo firme, léxicos e culturais entre nós. Marcelo Soriano. Santa Maria - RS - Mandaram-lhe parar, e ele respondeu – eu paro oh oh oh.............. BR. 14/07/2011. Mandaram-lhe calar, e ele respondeu eu não calo oh oh.................... A sua babalaze é de turbilhões de homens desde os bêbados da cerveja, vinho, mal cuado, 1. miNicoNto dA Auto-ApArição cachaça, e.t.c......... Por causa do seu factor interventivo chamaram – o de oposição Acordei-me num dia taciturno, cinzento, inundado por e agora pergunto eu que país democrático é este sem oposição? pés-de-vento opacos. Dentre as cortinas enlouquecidas, aproximei-me da vasta, altíssima, intimidadora janela. Entreabri a veneziana. No vão, precipitei meu olhar para o nada, suicidando todo e qualquer presente possível. Lá fora, pROSA pOéTICA estávamos nós, todos nós, mundo a dentro: eu criança feia; ALINE pEREIRA - RIO DE JANEIRO eu menino apagado; eu rapazola silencioso; eu homem dos alinepereiraletras@hotmail.com pontos cegos; das esquinas vencidas; eu velho indolente; eu cadáver desconhecido; eu poema desnaturado, ossos Distraído ouvindo a gaiola canariar, o coronel palita os dentes quando, descarnados, alma sem luz... Almas sem melancolias... de repente, um menino empregado interrompe a leitura da pequena Nadas atemporais... hóspede de olhos verdes, que atende por Clara. O homem na cadeira O melhor - o mais humano - seria voltar a dormir. de balanço é também o dono de todas as coisas ali. Na estranheza de seu olhar a distância do impressentido amor: “Que é?” O menino responde: “Uma onça matou 2. peQueNA cHAve meu pai.” O silêncio das coisas que não estão acontecendo se fez. No estômago de Clara uma perna de carneiro chutava com força. “Por favor, devo ser apresentada.” O menino empregado, Não desperdicemos nosso precioso tempo a buscar respostas que é também a infância do meu herói, parecia intratável, talvez uma pedra, talvez uma testa para tudo. O caminho da verdade se estende a partir de uma enorme e desfigurada, por isso os demais criados o levaram antes que pudesse devolver à jovem única pergunta. A pergunta primordial. A primeira pergunta o cumprimento. Clara mal abre a boca. O herói infante arqueja: “Sabe, hoje ouvi tantas modas! feita a alguém. A pergunta original que impeliu o homem Todas sobre peixes...” Cantava sempre uma que parecia ter sido escrito de propósito para ela. De a manter-se vivo até aqui. Que pergunta? Encontremo-la e algum modo livre, o menino aproxima a boca do ouvido de Clara: “Conheço uma adivinha, toda tudo será respondido. em poesia, e toda sobre peixes.” Ela queria ver tudo, numa sensação imediata da vida desperta. O coronel só sabia da dívida que tinham com a terra e que era preciso pagar. A terra era uma prisão. 3. moNóLogos póstumos com QuiNtANA - Observando a aia parda que lhe atraía tanto, o velho proprietário pensou: “Que é que eu vou fazer?” pArte ii Uma das sobrancelhas erguidas, bateu o cajado-estaca no chão e levantou-se: “Onde está o criado que devia responder?” A luz já não fazia parte do cenário. Seguiu-se então um confuso rumor. “A poesia não se explica, ela já é a explicação” Eram as moscas. Na medida em que as moscas avançavam, os pombos fugiam. Confuso, o dono Mário Quintana pediu aos pombos que v o l t a s s e m submissos. Então [Literaltura Árvore] Clara, numa voz que parecia mais um Eu a ele: arrulho: “Seria um prazer.” E voltando- Homem-Deus! s e ao anfitrião de Hoje avoei taum alto (tão auto), bigode: “Posso?” O bode não responde taum lã pra cima, que meu sol apareceu-me uma sim: “Primeiro o peixe deve ser pescado, depois comprado.” Num sussurro simulado, a jovem laranja pútrida adormecida na olhou para o homem como se visse um condenado a morrer. “Muito obrigada, mas de fato não sombra d’árvore meu pé. preciso do seu lugar.” Nisso, o menino sentiu a existência embalar seu corpo e, então, eles dois, Clara e o pequeno sertanejo, caminharam por cima das posses. Ele pôs a enxada ao ombro e seguiu lentamente a caminho da roça, até que puderam ver o capim ainda molhado de sangue. [Quadrinha Teórica Sobre a Ascensão e Queda da Amizade] Do cenário exalava um cheiro novo, e ela reconheceu o contraste no ato. Era o sangue do soldado morto tingindo o descampado verde. O menino não sabia que a cidade existia, nem mesmo Ele a mim: que havia um país. Ele ignorava o que eram os pintores, mas conhecia a poesia. Ao ver Clara perseguindo o xale que flutuava, enxergava também a música. A pequena era tão fria quanto a terra, e porque o céu o odiava, ele começou a sacudi-la de um lado para outro com força. Ela não Amizade, a mil, na tenra idade. opôs a menor resistência, mas seu rosto foi ficando cada vez menor, e os olhos maiores, muito Cresceu, na sociedade, com dinheiro e conveniência. grandes e verdes a ponto de se fundirem em apenas um. O olho de mulher crescia como o sol Morreu sem solidariedade, dor nas costas, na alvorada, e o menino empregado não teve mais dúvidas. Era ela a bruxa que procuravam. No Nenhum amigo, solitude e intransigência. palco do desmantelo, a sombra que absolve os pecados da terra numa enorme cova. Só depois, com a falta do sonho fugaz da realidade, o herói que perdera o pai maldisse todas as onças. Nesse (3.) continua na próxima edição... exato momento, a menina rosnou. Ele sabia, tristonho, que não tinha capacidade para matar a ___________________ onça, mas podia tocar no segredo íntimo dela: “Em que você se transformou?” Clara respondeu: “Na sua vida, tenho certeza.” O herói finalmente chorou: “Se você realmente estivesse no meu Marcelo Soriano é natural de Santa Maria - RS - Brasil (1967). sonho teria gostado, ouvi tantos poemas, todos sobre peixes!” Enfim, algumas horas depois eles Engenheiro, poeta e novo autor (apesar de estar em estado de retornaram. Pela primeira vez, pediu a morte o meu heróico infante. A menina voltaria logo literatura desde 1985). É cronista das Revistas Tempo e Literatas para casa, tão longe dali, enquanto ele mastigava uma vida inteira para chegar ao seu destino (Moçambique)
  • 6. 6 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 26 de Julho de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 6 - discurso dirEcto “O Carrossel de Lúcifer” - E lá voltamos ao mal como uma condenação. Em síntese, primeiro de janeiro (pj): Antes de mais nada inquietação que reside a razão deste livro. Contudo, tentei construir uma narrativa sobre o fim dos tempos, com começo por lhe pedir que desmonte o título do gostava também que ficasse claro que este é apenas uma textura e cadência próprias de um thriller psicológico seu livro – «o carrossel de Lúcifer». o fio condutor, o fundamento da cosmogonia que (que é um formato que me agrada particularmente, e digo tento descrever no romance. Não escondo que é uma formato em vez de género literário, para fugir precisamente Victor Eustáquio (VE): Pensei que podia dar uma boa capa história do mal, uma possível abordagem do mal, mas a essa catalogação que, do meu ponto de vista, seria muito (risos). Na verdade, foi um desafio para a Bertrand: como inter- «O Carrossel de Lúcifer» não é só isso. Pelo contrário, é redutora para aquilo que tento exprimir), exorcizando pretar no plano gráfico um título destes de forma a evitar também uma história intensa de amor, um triângulo demónios pessoais nos quais, julgo eu, muitas pessoas se um posicionamento transversal? Já vi o livro em pelo menos amoroso aliás, uma história do primeiro amor, da perda podem rever. duas livrarias de renome na secção da ficção estrangeira em da inocência, é uma história sobre vivências no campo inglês, ou seja, por traduzir, na categoria de terror... Bom, pelo e na cidade e a forma como realidades sociológicas pj: Além de maquiavel, outros ‘monstros’ da menos estava ao lado de Stephen King (risos). O que quero dizer, ao contar este episódio que faz ressaltar a dificuldade que alguns livreiros têm em catalogar o livro (e ainda bem que assim é), é que o título é deliberadamente provocador, porque é esse o seu mote mas no sentido de induzir no leitor sentimentos diversos, dúvidas, interrogações. Afinal, do que trata este romance? Porque lá dentro, cada leitor pode encontrar vários caminhos, várias interrogações, e catalogá-lo como bem entender. E é esse precisa- mente o objectivo da narrativa: não ser simplista ao ponto de se descobrir nela uma única camada de leitura, mesmo correndo o risco de a envolver numa forte carga simbólica. Para isso, precisava de ter um título que não fosse redutor, que traduzisse na medida do possível algumas ideias centrais, o fio condutor de uma história em aberto que espero que possa ser lida de modos bastante diferenciados. Agora, é óbvio que eu tenho a minha leitura pessoal do título, que presidiu à sua escolha, embora, como disse, fico feliz que outros o desmontem doutra maneira. Assim, e respondendo finalmente à sua questão, para mim, o título «O Carrossel de Lúcifer» remete acima de tudo para a luta entre o bem e mal, usando dois universos: o das crianças, simbolizado pelo carrossel, e o mundo dos adultos (um mundo manietado por Lúcifer, o Diabo, como metáfora da descida aos infernos que é preconizada por algumas personagens do romance). Uma segunda abordagem possível é a ideia da des- ordem, do caos, das doenças da sociedade moderna, não só no sentido patológico mas também metafísico. No fundo, é uma síntese possível da descrição de uma cosmogonia que vê a realidade, o nosso quotidiano, como o próprio Inferno, como um carrossel desgov- ernado em que todos somos obrigados a andar, em círculos, como se se tratasse de uma condenação dos seres humanos. E daqui resulta a segunda provocação que se segue ao título: «uma visão do mal com acto estratégico de Deus”. pj: Acha realmente que se pode resumir esta história a “uma visão do mal como acto estratégico de deus”? Acredita, então, que “os homens acabam sempre por se revelar maus se a necessidade não os obriga a ser bons”, como um dia escreveu maquiavel. VE: Por muito que possa incomodar, é uma pre- misssa defendida pela Igreja católica: a de que os homens são maus por natureza. E o que Maquiavel faz, mais não é do inclui-la no seu célebre manual de gov- ernação política, «O Príncipe», escrito curiosamente para cair nas boas graças de um príncipe florentino e obter benesses políticas. Mas isso já é outra história. Para responder à sua pergunta, permita-me que vá por partes. A história de «O Carrossel de Lúcifer», enquanto obra de ficção, é uma possível abordagem do mal. E dizer que é um acto estratégico de Deus é simplesmente recuperar a própria explicação teológi- ca da origem do mal no mundo. Porquê? Por que Deus concedeu-nos o livre arbítrio, a possibilidade de escolha. E isso mais não é do que uma estratégia, um teste à nossa capacidade de optar entre o bem o mal. De resto, é esse o príncipio recorrente na Bíblia. Logo, diria distintas podem afectar a nossa relação com os outros. literatura são recorrentes nesta sua obra, que sim, pode resumir-se esta história a “uma visão do mal Ou como a forma com que vivemos a infância e a ado- nomeadamente sófocles, sartre, Nabokov, como acto estratégico de Deus”. E mesmo acreditando ou não lescência pode determinar o nosso rumo. É uma história camus, André malraux, trotsky, steinbeck ou na existência de Deus, de uma maneira ou de outra – basta sobre comportamentos patológicos, situações-limite, dostoievski. porque recorreu a eles, são estas olhar o mundo que nos rodeia e ler os seus sintomas – somos desvios sexuais, a eterna discussão entre loucura e sani- também as suas influências? forçados a chegar à mesma conclusão de Maquiavel. Daí dade e a definição da fronteira a partir da qual os nossos ter de lhe responder também que sim, que suspeito que os actos passam a ser considerados erráticos. É finalmente VE: Como leitor, tenho o pecado de venerar certos autores. homens são maus por natureza, o que infelizmente poderá uma viagem em busca da redenção, uma espécie de Para mim, há escritores de livros (que vendem um produto, contrariar os princípios românticos de Rosseau e o mito do «road-book espiritual», uma demanda pela reposição que é o livro, como podiam vender outra coisa qualquer) e “Bom Selvagem”, mas ainda bem que assim é, pois é nessa da ordem moral num mundo manifestamente imoral. autores de literatura. Está na moda ser escritor. Não tenho
  • 7. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 7 Terça-feira, 26 de Julho de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 7 - discurso dirEcto uma visão do mal como acto estratégico de Deus de trABALHAr o mAteriAL Que nada contra. Ainda bem. Lê-se mais também. Agora, Quisermos, ApropriANdo-Nos natureza cultural e sociológica com que trabalho). A outra incomoda-me seriamente a presunção de que se se questão é à inspiração mórbida propriamente dita. Devo vende é porque é bom. Há já uns bons anos, quando de HistóriAs ALHeiAs, usANdo dizer que ela criou e continua a criar grandes autores de era jornalista, entrevistei um escritor português, que experiêNciAs pessoAis, sejA o ficção e nada tem de pejorativo. Agora, no meu caso, não sei havia acabado de publicar o seu primeiro romance e Que for. AgorA, porQuê este se se trata de inspiração mórbida mas sinceramente também estava a tornar-se campeão de vendas... e também de creio que não me compete ajuizar sobre isso. Prefiro deixar a críticas demolidoras. Não está em causa se a sua prosa romANce em coNcreto? tALvez questão para os leitores, pois é a eles que se destina esta obra é boa ou não. Cada um é livre de escrever o que lhe respoNdA A isso dAQui A mAis e é o crivo deles que decide da natureza das minhas pulsões apetecer, ser editado e ter grande sucesso. O que me ciNco ou seis Livros, QuANdo narrativas. É evidente que escrevi «O Carrossel de Lúcifer» chocou foi uma afirmação que essa pessoa fez durante com a intenção clara de provocar sensações. Deixar-me-á a entrevista: “Eu, como o Hemingway, escrevo sobre...”. tiver oBrA e estAtuto Que infeliz, porque significa que não consegui atingir o meu o Nem queria acreditar no que estava a ouvir! Ou seja, torNem iNteressANte pArA os objectivo, se alguém ficar indiferente a este romance. No não me incomoda que cada um ponha no papel o que Leitores A miNHA LoNgA e iNtri- seu caso, vê o livro como fruto de uma inspiração mórbida. quiser, mas daí dizer que se trata de literatura vai uma Fanstástico! Há quem o veja como sanguinário, angustiante, grande distância. Escrever ficção não é propriamente, cAdA reLAção pessoAL com este há quem chegue ao fim e me diga: “Podias ter ido mais longe” ou não devia ser, encher páginas de disparates e apelar uNiverso dAs forçAs do Bem e ou “Não vejo em que é que este livro seja pesado. Até me à mediocridade. A literatura é uma manifestação de do mAL. deu vontade de rir em certas passagens”. É isso que procuro: arte e talento. Requer no mínimo domínio da língua e reacções. E quanto mais díspares melhor. verosimilhança. E já agora convém que se tenha algo minimamente interessante para contar. Talvez eu seja pj: os nomes das personagens são quase pj: é mesmo preciso “fazer crer que somos demasiado purista e daí dizer que tenha o pecado de todos bíblicos: joão de deus, pedro cruz, bons, mesmo que sejamos odiosos”, porque venerar certos autores. Todos os nomes que citou, e madalena, damásio Assunção, miguel (como “só assim nos toleram”? outros, fazem parte da galeria de autores cuja obra o arcanjo). Há alguma razão por detrás desta me marcou profundamente em diferentes fases da escolha ou foi aleatória? VE: Nada a dizer. A tese, que cito no romance, entre outras, minha vida e pelos quais tenho um profundo respeito é de Maquiavel. Por muito que possa incomodar, Maquiavel que me obriga, em privado e em jeito de desabafo, a VE: Foi intencional pois queria reforçar a simbologia teve a coragem de dizer o que muitos pensam sem jamais fazer o papel de advogado do Diabo: “Alto lá!” – digo eu do romance com elementos cristológicos e messiânicos. ousarem em verbalizá-lo. Deixo-a para reflexão do leitor. para mim próprio, indignado por vezes com o vejo ou Alguém poderá dizer que é redudante e perigoso para leio. – Há escritores e escritores. Esta história dos best- a verosimilhança da narrativa, mas se estava a escrever pj: considera que este seu livro é um elogio sellers faz parte da venda do livro como produto: não sobre o fim do milénio e os tempos do fim, tentando criar ao mal, ou tal com a personagem pedro cruz, é uma questão de literatura”. Agora, por que recorri a uma visão apocalíptica do mal, decidi correr o risco de usar acredita que a nossa vida se resume “a uma tantos destes “monstros” da literatura? Objectivamente, nomes que apelam no imaginário do leitor justamente a tremenda obsessão pelo sexo e pela morte”? porque se tornou uma necessidade da narrativa: uma essa dimensão bíblica. das personagens de «O Carrossel de Lúcifer» tem a VE: Este romance pretende ser apenas uma metáfora dos mania de usar citações de livros para justificar tudo o pj: Neste seu livro transparecem histórias tempos modernos que observa o mal como uma condição que lhe acontece, com vista a provar aquilo a que ele de amor a um nível platónico, veja-se o caso inalienável da existência humana. Não há nesta narrativa chama de «infabilidade da literatura». É uma brinca- de joão de deus/madalena, ou pedro cruz/ juízos de valor. Apenas interrogações, inquietações. Este livro deira e se calhar, inconscientemente, uma forma de madalena, ou ainda, a obsessão de pedro trata do mal, é certo, e convida o leitor a mergulhar nalgumas prestar homenagem a alguns desses autores que tanto cruz por sara, sem esquecer a atracção das suas possíveis manifestações e mecanismos, mas o mal é respeito e de extravasar a minha ira contra a presunção doentia que sente por maria. isto ao mesmo sempre descrito como um indício, como um sintoma de uma desses tantos “escritores” que por aí abundam. tempo que estabelece um paralelismo entre sociedade doente, pelo que cabe a cada um de nós exercer o passado e o presente das vidas das suas o seu livre arbítrio e fazer as suas escolhas. Por isso, «O Car- pj: o que o motivou a escrever este personagens. Não teme que o seu romance rossel de Lúcifer» está muito longe de fazer o elogio do mal. romance? se assemelhe demasiado à realidade? Pelo contrário. Aliás, a missão de Pedro Cruz, uma das duas principais personagens do romance que acabou agora de VE: A mesma razão que me levou a rabiscar duas VE: Pelo contrário, se o leitor sentir que estou próximo da referir, é precisamente descobrir a forma de expurgar o mal novelas e não sei quantos contos e centenas de textos realidade ou que as minhas histórias de amor são reais, é do mundo. Porque ele não sabe lidar com a sua “obsessão dispersos desde os meus 11 anos, que terá sido mais porque a minha ficção é verosímil. E isso, penso eu, é o que pelo sexo e pela morte”, algo que ele pensa partilhar com ou menos a época em que descobri a minha paixão um escritor mais deseja: que as pessoas se identifiquem e muitas pessoas em seu redor, algo que o angustia profunda- pela escrita: escrevi este romance porque precisava de se revejam ao máximo na história. Não é por acaso que o mente. E, por essa razão, Pedro tem a necessidade urgente o fazer. Na verdade, se pudesse seria a única coisa que “true story” ou o “baseado em acontecimentos reais” atraia de encontrar um antídoto para a maldade. Só que o faz com gostaria de fazer na vida. Mas apenas ficção. Sei que soa sempre mais audiências. Pena que não o possa fazer aqui, a prática do próprio mal. Parece irónico, mas não vemos isto a rebuscado e a frase feita, mas preciso da ficção para porque as histórias de amor de «O Carrossel de Lúcifer» são todos os dias à nossa volta, no nosso mundo real? reinventar o mundo à minha medida. Numa palavra, pura ficção, embora evidentemente relevem de vivências catarse. É claro que tento comunicar, porque só assim pessoais ou de terceiros das quais eu me apropriei como pj: para finalizar, diga-me: tudo se resume à faz sentido ser publicado. Um romance, ou qualquer material para trabalhar. Tal como disse, o fantástico de maldade que todos temos dentro de nós, à outra coisa transformada em livro, não passa de um escrever ficção é poder reinventar e reconstruir a realidade semelhança do que defendia maquiavel? conjunto de folhas e palavras impressas se não tiver com total liberdade criativa. leitores. Não passa de um objecto. Só adquire sentido VE: Não, por todas as razões que já apontei, mas que ele quando alguém pega nele e começa a lê-lo. Mas como pj: em «o carrossel de Lúcifer» também está entre nós lá isso está. E está a revelar-se cada vez mais. dizia, nem é tanto pela necessidade de comunicar que sobressaem os sentimentos mais crus e Como disse, é um dos sintomas mais evidentes de que vive- escrevo; é sobretudo pelo subterfúgio que descobri animalescos que um homem pode ter dentro mos numa sociedade doente. na escrita enquanto forma de exorcizar inquietações de si. A cada linha, a cada parágrafo sentem- pessoais. se gestos intensos de dor e de uma crueldade, pj: gostava de terminar com uma pequena E o fantástico que a ficção tem é que por vezes brutal, como é o caso da morte provocação: “só se escolhe a loucura quando dos animais, mas também a descrição do se sabe que não vale a pena ser são”? posso fazê-lo à minha medida, tAL assassínio de damásio Assunção. de onde lhe como diziA, reiNveNtANdo vem esta inspiração mórbida? (perdoe-me a VE: Não vou entrar na eterna discussão da fronteira entre todos os meus demóNios dA expressão!) loucura e sanidade, mas no meio de tanta insanidade, que reconhemos às vezes nos mais pequenos pormenores, nos formA Que Bem eNteNder. Não VE: Há duas questões aqui. Uma é que este romance mais pequenos gestos, não há a tentação por vezes de precisA de ser AutoBiográ- contém deliberadamente muitos “ruídos de fundo”, a termos um dia de raiva, de completa loucura, de agirmos fico. somos Nós Que defiNi- descrição de actos isolados de crueldade e violência, que da forma mais tresloucada possível, mesmo que seja para não interferem no avanço da história e que só existem, repor, lá está, uma determinada ordem moral, a nossa ordem, mos o grAu de exposição A por um lado, para manter um clima de tensão e angústia a ordem que consideramos que deveria ser a adoptada? No Que Queremos Nos suBmeter. permanente e, por outro, para dar indícios adicionais, à meio de tanta insanidade, não apetece às vezes imaginar é Que A ficção permite recor- margem da narrativa, dessa maldade inerente à natureza que, afinal, os loucos é que são os sãos? Deixe-me ser eu a humana, quer no campo quer na cidade, a tal descida deixar uma pequena provocação: se se reconhece o mal por rer A ALgo simpLesmeNte aos infernos que pretendia retratar. De resto, não há uma oposição ao bem, talvez só se possa reconhecer a insani- extAsiANte: Ao iNesgotáveL e localização espacial concreta para a narrativa justamente dade, quando a sanidade não nos basta.. mArAviLHoso muNdo dA imAg- porque procurei imprimir um sentido de universalidade. O que acontece em «O Carrossel de Lúcifer» pode situar-se iNAção oNde tudo é permitido. em qualquer país (pelo menos europeu, já que seria difícil Entrevista publicada no diário «primeiro de somos iNteirAmeNte Livres extrapolar para outras regiões determinados elementos de Janeiro», em portugal, em Fevereiro de 2008
  • 8. 8 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 26 de Julho de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 10 no rEcanto dE apoLo... A Rua e o Menino Realizar CELSO MUNGUAMBE - MApUTO Menino da rua Gurúè Sob o olhar do imenso lixo JApONE ARIJUANE - MApUTO pEDRO DU BOIS - BRASIL Menino da rua Caminhando sem destino O Mundo onde o nada diz tudo. Menino da rua Bendito seja dito somente para ti! Realizo o sonho ao destino Nas noites sombrias e frias Obra da arte natural ofertado. Retiro a irrealidade Menino da rua Verde com nunca e a contemplo em matéria Caminhando na rua Firme com sempre rio do segredo Menino da rua, menino da rua A mãe natureza tem aqui um sossego divino descubro Olhar brilhante A contemplação infinita avanço o tempo Esperança inoperante reside nas entranhas desta vista à semeadura Tristeza inquietante Beleza, as fertilidades ostentadas e retorno em colheitas Temor vibrante pela sua superfície Dor consistente Fazem de ti, a casa serve ao senhor Agora já não sou mais O pulmão, o estio ao crescimento da planta Menino da rua mas sim O celeiro, Menino das avenidas O oxigénio, depois do cultivo Do nosso Maputo O tudo zambeziano sobre a terra Vestes rasgadas Se foi deus adeus pelo embelezamento, em inundações lavo a sombra Imundas, de cheiro insuportável Alias, que haja deus embelezador. da irrealidade. Deposito Como a vida k levo diante do homem Sem saber se existirá o a sobra na satisfação Amanhã para mim do todo. Se até o presente é incerto Sobrevivo na esperança Teatro Tarde de domingo De no futuro me tornar Algo melhor. vista a Minha pele NILTON pAvIN - BRASIL AFONSO ALMEIDA BRANDÃO SILAS CORREIA LEITE - ITARARé Furtaram o pseudônimo do ator. (para Anifa) Para Júlio Hendrix Silva Rodrigues Delinquência de ação nefasta, Tórrida intriga burra, insensata. A monotonia Assuma a minha cor Código soslaio de pavor, louvor o acaso Seja você quem for o tempo que se alonga. Capture radicalmente a minha dor Minuta de um ente protuberante Bem lá dentro de mim Que agoniza na vida pústula, Tardes de domingo E procure me compreender melhor assim Intenção maligna de uma fístula Reinante em um submundo rutilante O calor aceso nas janelas Vista a minha pele como uma flor ao Sol. Eu sou igualzinho a você Filmico de sensível infausto Ser Humano, porque Repleto de atos e rumo funesto E o teu corpo Corpo, Mente, Banzo, Coração De uma vida simples e inclemente quieto e perfumado Então questione racismo e discriminação no branco do lençol. Reluz de um ato vil e sincrético, Vista a minha pele Ao transformar o mundo maléfico Sou vermelho por dentro Em um pandemônio atroz e inerente (in «Reconciliação das Palavras», a sair brevemente) E negro sempre cem por cento Afrobrasilis, Afrodescendente A Xitsuketa Que culpa temos Muito além de para sempre Inteiramente ser humano e sobretudo gente Vista a minha pele Vista-se epidermicamente de mim AMéLIA MATAvELE - MApUTO nós? E procure me entender como seu igual assim Somos dois… Seu irmão da humana cósmica raça Dois corpos, duas almas, dois animais E sinta tudo o que dentro de mim se passa Mas quem somos? Assim você muito bem confere Podemos até ser três! MUKURRUZA - LIChINGA Assim você vai realmente se sentir Vigora a dita geração de viragem Lá dentro da minha própria pele Mas quantos somos? Como eu quero ser árvore de leite e florir Á Jorge Viegas Como eu quero ser janela de pão e me abrir Somente saberemos isso Como eu quero ser estrada de açúcar e prosseguir Ao gosto das palmas Como eu quero o fim de diáporas e sorrir A lua aberta, a sol nú Gentil nossa alma, Sem nenhum branco para me ferir E a estrelas ousadas… Nossa esperança, dores, mágoas, enfim, roubadas. E você vai captar essencialmente então Penúrias penduradas n’angústias A verdadeira pureza do que é primordial Somos um! Desfeitas de graças. E o que eu quero é total libertação Mesmo desejo e agressividade animal Estas vaidades traduzidas nas danças de batuques E todos iguais na aquarela da coloração Que faz gerar dinamismo no brutalismo marimba, enfim. Numa brasileiríssima democracia racial Dum sentimentalismo Oh! danças de ekuetthe danças desconhecidas! Vista a minha pele Hum! E assim começamos -Será que não lembram destas danças? Seja um pouco eu mesmo um negrão aí Dois corpos, dois instintos -Isto é mesmo que não lembrar Dentro de você - Para você sentir Uma lua aberta do filho desta terra esquecida Sou preto brasileirinho Um sol nú e estrelas Sou negrão e sou negrinho Aplaudindo a nossa mais nova dança! ah! Que esperança falhada nesta terra de moldes, Sou Negro e Ser Humano de igual valor desfeita de estragar tijolos de adobe! E tenho a África nas moendas e engenhos no meu interior Uma dança… Tristeza é a palavra que só se vos diz. Uns instintos únicos… Nestes gritos esquecidos; Depois de me vestir e depois de se sair de si Uma xitsuketa! Gritos sem referentes, sem donos. Deixando de ser eu negro aí Abalando os corações dos que a assistem Ah! que tristeza nos acolhe nestes abrigos sem reflexos! Venha me estender a sua mão Que pena nos impedem de sonhar! E, de coração para coração Uma dança com dois Esperança desfeita de mistérios dos magnos xicuembos Abrace-me como um seu completo irmão Pode até ser com três! A pele espiritual sendo uma só então Dança que renasce após a adolescência… Numa sagrada e sideral celebração. A dois!
  • 9. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 9 Terça-feira, 26 de Julho de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 9 “canto da poEsia” Mulher mecânica pALAvRAS LATEJANTES RAFFAEL INGUANE AUGUSTO ALMEIDA Deixa-me sentar nos assentos do teu corpo Apalpando a tua chaparia p’ra quê lágrimas? Aconchegando-me em ti, é tudo tão escuro NICO TEMBE protegido pelos teus braços de segurança é tudo tão eu, um bocado obscuro Espelhando-me no retrovisor dos teus olhos Ouve o sussurro que se espalha pelo furo p’ra quê lágrimas? Que se abre na traseira do teu canal Se tenho um lugar A muito vens dizendo que és boa na cama Não faz mal, uma apologia meio sexual para magoas desabafar Robusta como um “four by four” na lama Deitada de cócoras Até dá prazer sentir assim o mal a gotejar p’ra quê lágrimas? por cima das quatro patas A lacrimejar desejo impuro e corrente Se a natureza tenho a merecer Ou melhor, com as rodas arreadas Assente no teu dia-a-dia de pura correria. vendo flores florecer pronta para obedecer as minhas manobras Alia a tua fome por um novo dia Com o medo que se espelha na tua face p’ra quê lágrimas? Dá um volte e face e pensa como se ele se calasse Se não tenho porquê mentir Deixa-me manejar a tua caixa de velocidades Como se ele acabasse e teu mundo acabasse hoje. pois no fim irás descobrir Dominar teu corpo a cada mudança que eu for a engrenar Farei da nossa cama um auto-estrada Ele, te curva e te penetra como se fosse um penetra p’ra quê lágrimas? Enfrentando as mais perigosas curvas do teu corpo Motivado por um desejo que brilha a cada novo dia Sem que viva um horror Quiçá cair no precipício perto do teu canal vaginal porque trilha um caminho doloroso enquanto chia Se somente precido d’um verdadeiro amor E sem tirar o pé do acelerador A revelia dos teus esforços de dar a receber Sem perceber se isso é sexo ou prazer de sofrer. p’ra quê lágrimas? Contigo subirei as zonas mais montanhosas da nossa casa Cada pedaço de ti é uma montanha de masoquismo Não tenho mais nada a dizer Transpassarei desertos enfrentado todas dunas Mas eu sei subir de nível em alpinismo Não é só de lágrimas que irei viver. Quero pôr a funcionar as válvulas do teu motor Muda-se o ismo mas o prazer te conflitua violar os teus filtros e o radiador Não compactua com o teu desejo de me esbranquiçar Farei subir o ponteiro do teu conta-quilómetros De me iluminar como se eu portasse o mal pegarei com uma mão o volante dos teus cabelos E fosse fundamental encontrar a luz E a outra mão apalpará a tua bunda bagageira Na verdade mentida numa bênção papal. Acelerarei o teu corpo, A pROSA DA NOITE Nas mais altas velocidades sexo-automobilísticas Eu sou um sinal bem na ponta do teu peito Até acabar o combustível que alimenta o teu carro corpo. Dou aquele pinar bem no centro do teu leito Não tem outro jeito de caracterizar o meu feito IZIDINE JAIME palavras são estímulos com fins pré-determinados - Mulher que nunca tive. Mas mesmo que eu fosse mudo, os meios podiam ilustrar-se no lamber dos teus peitos Os segredos do silêncio na noite calma, MAR AMOR Como um pasteleiro a pintar bolos Com rolos a pingar saliva pelo teu corpo São uma nova nota a melodia da lembrança Em mim se cala o infinito dos meus desejos Não para embelezar, não para aclamar Os caminhos se metamorfam onde nunca houve nada pIETRO pETROSSE Simplesmente para abrir a tua história por um mar Os medos me afogam na incerteza do que faço, Onde eu possa nadar sem respirar “Mas o que sepulta não é o medo de fazer, mas a coragem de não fazer” Na nau embarquei, E caminhar sem pisar, mas a penetrar. preciso acreditar, a confiança tem poder. Em suas aguas singrei. Dobram-me os sentidos e as sensações se exaltam. Tempestades, enfrentei Neste meu crime perfeito E delas escapei. A cena do crime aperfeiçoa-se deixando marcas Baloiço os olhos famintos de um corpo relusente de todas as raças. Não! Uma mordidela seria uma imagem bela Orbitro o rosto, há mais coisas por olhar no mundo. Com suplicios me deparei, Enquanto as minhas mãos tipo barcos a vela A árvore da vida, me chama com um nome, Nao desaminei, Navegariam o teu mar a salgar-se pelo suor Quem sou? – O sonho é incompleto velas icei A pingar pelos poros da tua pele em ebulição O dia me acorda na voz da luz, E em tua sanha continuei. Arde com todo fogo que me deixa fazer furor O galo grita o temor da morte, mas a morte é bela, porque quando passas por mim Democrática, nem os homens conseguem suborna-la. Sem forxas e nortes naufraguei, Eu sou estupidamente desrespeitoso. Como vencido nao me dei, Coitados são vós todos que tendes o mesmo destino que eu! E continuar a nado tentei. primeiro veio a provocação Mas eu, nem destino tenho. A vida não me leva, Depois veio o pré-eliminar dessa tua ebulição A vida não sabe levar nada, ela só é ela. Nao aguentei e me afoguei, Agora tenho o teu ângulo aberto bem de perto Cada um se leva na vida e eu vou me levando, Quando despertei, Numa imagem de Monalisa a derreter De verdade e espírito conhecendo-me como ninguém. Em teu seio me encontrei. E eu só a pensar em meter. Minhas fraquezas estão nas vírgulas mais fortes que tenho Grita tudo que quiseres que eu dou-te volume por onde a minha fortaleza as apalpa pedaço a gota. Sou o teu Ferrari então chama-me Shumi Os desafios so me procuram coroar vencedor. Estou no cume da vida a querer descer para o inferno Ah, Essa vida! para ser julgado pelo pecado capital sem terno Triste paisagem no escuro porque aqui a imagem é sempre figura de montra. Meus reflexos farejam pedaços de mim, As sombras não me apelidam, o subdito canto me entrelaça NECROMANTE MANES Fabião E envolve-me no inconsciente. Ah, cá estou eu! pensando inutilmente como quem abre o olhar fechando os olhos. Encontrei te deserta perdida num bosque RUTh BOANE As sílabas prosam e a verdade me mostra o seu garimpo. feita a noiva vestido ensanguentado figurava a morte As mentiras me apetrecham tanto que já nem é segredo aos ventos, cabelos desfeitos pulmões sem vida Mas em que labirinto há mais pedras que a minha vida? será devido ao vício ou a atmosfera dessa mira Quanta tolice! mal respiravas senão fôlego de uma substância medonha padeces de uma estúpida doença, a criancice A poeira cansou-se de beijar-me os pés o álcool com o qual ti relacionavas traíra-te segredamente sem dares a conta Embora te foste, seu cão Meu peito se lembra de todos os rostos, num passado ou num presente que desconheço sua fronta Oh, Fabião! Mas há um que não soa na lembrança porque nunca tive, alias como eu e tu viemos cá parar Te foste na calada da noite O Y sabe o nome dela, quando me embalo no frio do AC não vejo o sol, apenas uma pequena fonte luminosa a brotar Como um ladrão te foste Me lembro do nome que o Y me diz. sinto frio, o coração palpita mas não sinto o pulsar Te foste como o Julião tenho a sensação da matéria porém perco ao caminhar O ladrão da rua Marcos Sebastião Eis-me aqui escrevendo pateticamente como quem ama sem o saber dizer, da última vez que ti vi estavas tão feliz por cima do altar Na calada da noite A luz se invoca em minha alma, meus dedos transpiram letras, dizias que ele é o homem da sua vida e que fariam juntos um lar Te foste com tudo Me escondo de mim onde me encontro, o pensamento não me obedece, onde esta todo mundo sinto algo que desconforta-me Os meus sentimentos As janelas despem a rua. Não há lá ninguém? Ninguém passa. não é presente, é infinito é algo que assombra-me Os meus pensamentos A rua está só como eu, mas eu tenho a mim, e a rua que tem? gritei por ti e não me ouvias Oh! Te foste seu cão Se for para passar alguém que seja ela, assim poderei ter ela comigo gargalhadas sinistras amorteciam em ecos as minhas suplicas.... Nem pintado de ouro E a rua já não mais estará solteira porque nos terá a nós. Te quero mais ver Oh! tempo dai me de volta a sua miragem! Seu Sacana! GRUpO DO FACEBOOK: hTTp://www.FACEBOOK.COM/hOME.php?SK=GROUp_185846178099556&Ap=1