O documento descreve os três elementos principais da composição literária: invenção, disposição e elocução. A invenção refere-se à escolha e organização de ideias. A disposição é a distribuição ordenada dos materiais da obra. A elocução é a forma como as ideias são expressas através da linguagem.
2. Invenção
• Consiste na investigação, escolha e arranjo de ideias que o autor pretende expor.
• Se alcança por três etapas:
Dotes naturais
Método
Memória
• Fecundidade
• Vivacidade
• Justeza
• Atenção
• Reflexão
• Raciocínio
•
•
•
•
•
Verdade
Naturalidade
Novidade
Justeza
Clareza
3. Disposição
• Distribuição ordenada, ligada e movimentada dos materiais que formam a obra.
Ordem → Consiste em colocar as partes componentes da obra literária
nos seus devidos lugares.
Ligação → Consiste em prender as diferentes peças umas às outras pela
transição, constituindo um todo harmônico.
Movimento → É a progressão ascendente ou descendente dos pensamentos
que na composição marcham ordenadamente para o fim.
Unidade →
É o produto da ordem, da ligação e do movimento.
4. Elocução
• É a mais importante operação das artes da palavra.
• A elocução pode ser gramatical ou literária.
A elocução literária admite várias classificações:
Em relação as formas gerais da linguagem → Poético ou prosaico.
Relativo à quantidade de palavras que emprega → Conciso, preciso desenvolvido
ou difuso.
Quanto à qualidade das palavras → Tênue, temperado ou nobre.
Quanto aos lugares onde foi usado → Local, histórico ou individual.
5. Virtudes da Elocução
A excelência da composição literária depende das qualidades
pessoais do artista e dos preceitos da arte da natureza e do trabalho.
Natureza
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•
•
•
Facilidade de compor
Elegância de dicção
Nobreza de estilo
Veemência
Trabalho
•
•
•
•
•
•
Pureza
Correção
Clareza
Harmonia
Variedade
Convivência
6. Classificação das figuras
• Figura é a modificação ou a diferente forma que tomam as ideias ou
as palavras, para que a elocução tenha mais brilho, força e graça.
As figuras se classificam:
Figuras de palavras
Figuras de pensamentos
Formas Tranlatas (tropos)
7. •Figuras de palavras
As figuras de palavras se caracterizam por apresentar uma
mudança, substituição ou transposição do sentido real da
palavra, para assumir um sentido figurado mediante o contexto.
Esse recurso proporciona o exercício da criatividade linguística,
abrindo ao usuário da língua a possibilidade se expressar com
mais eficácia nos diversos contextos comunicativos.
8. Figuras de palavras – Anáfora
Figura de linguagem, também chamada epanáfora, consiste na repetição
de uma ou mais palavras no princípio de sucessivos versos ou no
início década um dos membros da frase:
Vi uma estrela tão alta, / Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo / Na minha vida vazia.
Era uma estrela tão alta! / Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha / Luzindo no fim do dia. (M. Bandeira)
"Grande no pensamento, grande na ação, grande na glória, grande no
infortúnio, ele morreu desconhecido e só." (Rocha Lima)
"Tudo cura o tempo, tudo gasta, tudo digere." (Vieira)
9. Figuras de palavras – Epístrofe
Consiste na repetição de uma ou mais palavras no fim
de sucessivos versos ou no fim de cada um dos membros da frase:
"Parece que eles vieram ao mundo para ser ladrões: nascem de
pais ladrões, criam-se em meio a ladrões, morrem
como ladrões." (Heitor Pinto)
"Os animais não são criaturas? As árvores não são criaturas? As
pedras não são criaturas?" (Vieira)
"Não sou nada / Nunca serei nada / Não posso querer
ser nada" (Álvaro de Campos)
10. Figuras de palavras – Clímax (gradação)
A gradação consiste em dispor as ideias em ordem crescente ou decrescente.
Quando o encadeamento das ideias se faz na ordem crescente temos o "clímax", ou
seja, o encadeamento caminha em direção ao "clímax"; quando em ordem
decrescente, ao "anticlímax".
Quando é necessário ir aumentando a carga emotiva ou a força dos argumentos,
como o faz António Vieira nos seus sermões, para conduzir a atenção dos seus
ouvintes até um ponto alto e decisivo das suas conjecturas:
"Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba."
(Vieira)
"O trigo... nasceu, cresceu, espinhou, amadureceu, colheu-se, mediu-se." (Vieira)
O discurso político, tentando convencer a totalidade dos ouvintes, frequentemente
lança mão do recurso da gradação.
11. Figuras de palavras – Assíndeto
Assíndeto é a falta ou a elipse da conjunção entre os elementos
coordenados, ou seja, é a eliminação do conetivo. O emprego adequado
desta figura comunica ao estilo brevidade e rapidez, e cria um efeito de
nivelamento:
Espero sejas feliz. (= Espero que sejas feliz.)
Veio à cidade, falou com o gerente, partiu. (..., e partiu.)
Chegou, viu; gostou, pediu; bebeu, cuspiu; pagou, saiu; tropeçou, caiu;
levantou e sumiu.
Luciana, inquieta, subia à janela da cozinha, (e) sondava os arredores, (e)
bradava com desespero, até ouvia duas notas estridentes, (e) localizava o
fugitivo, (e) saía de casa como [...] (Graciliano Ramos)
12. Figuras de palavras – Elipse
A Elipse é uma importante figura de construção ou sintática. Seu uso é
fundamental para que as frases não apresentem uma extensão exagerada, o que
prejudicaria o entendimento dela. A elipse é, na verdade, uma espécie de
economia de palavras. É o apagamento, intencional e facilmente identificado,
de um ou mais termos na frase, que ficaria desse modo, subentendido:
● No mar, tanta tormenta e tanto dano.
Nesse verso de Os Lusíadas, Camões, intencionalmente, apaga o verbo haver,
deixando-o elíptico e facilmente identificável. Evita, assim, o mestre português,
a repetição desnecessária do verbo e a redundância:
● No mar, há tanta tormenta e há tanto dano.
13. Figuras de palavras – Hipérbato
Caracteriza-se pela inversão da ordem natural e direta dos termos da oração,
ou da ordem natural das orações no período. Empregado deliberadamente, o
hipérbato visa obter determinado efeito estilístico. Camões em Os lusíadas, fez
o seguinte hipérbato:
"O coração no peito que estremece
De quem os olha, se alvoroça e teme."
Embora pareça, à primeira vista, a oração [que estremece] referir-se a "peito",
na verdade, prende-se a "coração". A ordem natural é essa:
O coração, que estremece no peito
De quem os olha, se alvoroça e treme.
14. Figuras de palavras – Anástrofe
Aplica-se somente à inversão da ordem normal dos termos
numa frase (palavras vizinhas), ao passo que hipérbato tem
maior número de possibilidades de aplicação, como uma
inversão completa de membros da oração, ou das orações no
período. Rigorosamente é esta a diferença.
Observe esta frase do poeta Mário Quintana:
"Tão leve estou (= Estou tão leve), que nem sombra tenho."
15. Figuras de pensamentos
As figuras de pensamento podem dispor em três séries: umas são
espontâneas e sentimentais, produzidas imediatamente pela
imaginação, representativa do estado d’alma do artista; outras são
puramente convencionais, produtos da reflexão e simples artifícios
retóricos; outras, finalmente, têm caráter comuns a primeira série,
mas apresentam-se com significação translata.
16. Figuras de pensamentos – interrogação
A Interrogação consiste na substituição de uma afirmação simples por
uma pergunta sem intenção de obter ou dar qualquer resposta. A
interrogação tem como finalidade realçar o pensamento e levar o
leitor a refletir sobre algo que é inquestionável...
Você não vê que pisa no meu pé?
"Pode o anjo do mal desafiar o Eterno?" (Pedro Luís)
"Homens, mulheres, que é isto? Quem vos trouxe a este estado? Quem
vos antecipou a morte? Quem vos amortalhou nesses tormentos?
Quem vos meteu nessas sepulturas? Quem?" (Padre A. Vieira)
"Quanta mentira não há num beijo? Quanto veneno? Quanta traição?
[...]" (Padre A. Vieira)
17. Figuras de pensamentos - Imprecação
A Imprecação é uma figura de pensamento que consiste em exprimir uma ameaça ou uma
maldição ditada pela raiva, desespero, ou desejo de vingança, rogada contra uma pessoa ou
entidade. Não se trata de um diálogo e sim de um monólogo, pois apenas um dos interlocutores é
quem a faz. Este fala para acusar, ameaçar, ou injuriar. O outro interlocutor é passivo, apenas,
escuta não se defende, não tem o direito a palavra. Sente-se incapaz de reverter a situação:
● Que o Diabo te carregue!
● Vai para raio que te parta!
● Que você fique seca como palha!
● Desejo-te tantos anos de vida, como os que me desejas!
● Que você viva a vida toda desassossegada, como fez com a minha!
● Maldita a hora em que meus olhos te enxergaram!
A imprecação também pode aparecer em maus exemplos de oração:
Entre o Cálice e a Hóstia
Meu Deus, eu vos peço:
Que fulano tenha tantas fadigas
Como as que afligem a mim.
18. Figuras de pensamentos - preterição
É a figura pelo qual o escritor ou orador finge que não vai tratar um
determinado assunto, mas dele vai falando, seja para efeito de ironia,
seja de realce. Esta estratégia tem, também, a finalidade de afastar
as réplicas do público à teoria que se expõe:
• Sem querer falar de suas mentiras, mas já falando [...].
• Não pretendo aqui lembrar que o réu é um herói de guerra [...].
• "Não vos direi, pois, senhores, quão grandes e quão afortunados
foram seus feitos na paz e na guerra, por terra e por mar
[...]." (Cícero)
19. Figuras de pensamentos - Permissão
Figura pela qual o orador deixa ao juízo dos ouvintes a decisão
de alguma coisa:
“Se o que eu estou dizendo é justo ou injusto, julgae-o vós”
20. Metáfora
O primeiro conceito acerca de metáfora deve-se a Aristóteles (Poética):
“A metáfora consiste no transportar para uma coisa o nome de outra, (...)”.
Daqueles anos Aristotélicos aos dias de hoje, a metáfora tornou-se um assunto controvertido.
Considerável parcela da complexidade advém de suas profundas ramificações com outras figuras
de linguagem.
Em termos práticos, a metáfora consiste na transferência de um termo para uma esfera de
significação que não lhe é comum ou próprio, a partir de uma relação de semelhança (analogia)
entre dois termos. Quando alguém diz: Maria está mergulhada na tristeza, não podemos entender
o verbo [mergulhar] em seu sentido exato, denotativo, dicionarizado, que é o de afundar-se
inteiramente em água. Entretanto, há um ponto comum entre este significado e o significado que
o verbo adquiriu na frase: assim como a água cobre completamente o corpo que nela é
mergulhado, também a tristeza “cobre”, completamente, Maria. Pois é graças a esse caráter de
semelhança que a metáfora transporta o nome de um objeto a outro. A base da metáfora é,
portanto, a semelhança. Exemplos:
- A vergonha queimava-lhe o rosto.
- Suas palavras cortaram o silêncio.
- O relógio pingava as horas, uma a uma, vagarosamente.