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BRUNA DE LIMA SILVA




O USO DA INTERNET NA COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA:
        ANÁLISE DO PORTAL ÍNDIOS ONLINE




                   LONDRINA
                     2010
BRUNA DE LIMA SILVA




O USO DA INTERNET NA PRÁTICA DA COMUNICAÇÃO
                COMUNITÁRIA:
       ANÁLISE DO PORTAL ÍNDIOS ONLINE



                    Trabalho    de  Conclusão   de   Curso
                    apresentado    ao   Departamento     de
                    Comunicação da Universidade Estadual de
                    Londrina.

                    Orientador: Prof. Dr. Rozinaldo Antonio Miani




                  LONDRINA
                    2010
BRUNA DE LIMA SILVA




O USO DA INTERNET NA PRÁTICA DA COMUNICAÇÃO
                COMUNITÁRIA:
       ANÁLISE DO PORTAL ÍNDIOS ONLINE




                    Trabalho    de  Conclusão   de   Curso
                    apresentado    ao   Departamento     de
                    Comunicação da Universidade Estadual de
                    Londrina.


                            COMISSÃO EXAMINADORA




                    ____________________________________
                         Prof. Dr.Rozinaldo Antonio Miani
                        Universidade Estadual de Londrina




                    ____________________________________
                       Prof. Dra. Florentina das Neves Souza
                        Universidade Estadual de Londrina




                    ____________________________________
                        Prof. Dra. Rosane da Silva Borges
                        Universidade Estadual de Londrina




                      Londrina, _____de ___________de _____.
AGRADECIMENTO (S)


                A Deus, o primeiro e verdadeiro motor e incentivo de todas as ações
e etapas realizadas desde a idealização deste projeto, até sua finalização.

                Ao professor e orientador Rozinaldo Antonio Miani e todos os
demais professores da Universidade Estadual de Londrina que de alguma forma
contribuiram e apoiaram a elaboração e andamento deste trabalho em todas as suas
etapas.

                Aos amigos e colegas que serviram de incentivo durante a execução
do trabalho, sendo importante base de sustentação diante das limitações e
oferecendo apoio constante.

                Aos familiares pela presença imprescindível, o apoio, o carinho e a
dedicação pessoal em todos os momentos.

                Agradecimentos também a Anápuáka Muniz, da Web Brasil
Indígena, Potyra Tê Tupinambá e Sebastián Gerlic, da gestão da rede Índios Online,
pela receptividade e disposição em colaborar com informações via email para a
execução do trabalho.
SILVA, Bruna de Lima. O uso da Internet na prática da comunicação comunitária:
Análise do portal Índios Online. 2010. Número total de folhas. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social - Jornalismo) –
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2010.




                                    RESUMO


        O seguinte trabalho tem como objetivo analisar o projeto Índios Online e
através dele avaliar como a Internet e seus recursos de mídia digital podem ser
utilizados em benefício da comunicação comunitária. O portal Índios Online existe
desde 2004 e caracteriza-se no padrão de comunicação comunitária pois todo o seu
conteúdo é produzido e divulgado por grupos indígenas, além de ser voltado
também para esse público. É coordenado pela ONG Thydewá, com apoio do
Ministério da Cultura e do governo federal.
        Faremos uma abordagem sobre a história e desenvolvimento do site, além de
uma descrição estrutural. Observaremos de que maneira os recursos multimidia
(como vídeos e fotos) são utilizados e o padrão de conteúdo e de forma observado
nos textos e na linguagem. Além disso, avaliaremos quais são os meios usados para
interação com o público fora das comunidades indígenas que colaboram com o site,
os resultados positivos que o projeto da rede Índios Online trouxe para as
comunidades integrantes e quais expectativas ainda devem ser atendidas.



Palavras-chave: Comunicação. Comunidade. Indígenas. Interatividade. Internet.
SILVA, Bruna de Lima. Internet use in the practice of community communication :
Analysis of the project Índios Online. 2010. Número total de folhas. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social - Jornalismo) –
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2010.


                                     ABSTRACT


       The following study aims to analyze the project Índios Online and through it to
evaluate how the Internet and its digital media capabilities can be used to benefit the
community communication. Portal Índios Online exists since 2004 and characterized
the pattern of community communication for all its content is produced and
disseminated by indigenous groups, and is also directed to that audience. It is
coordinated by the NGO Thydewá, supported by the Ministry of Culture and the
federal government.
       We will make an approach on the history and development of the site, beyond
a structural description. We will see how the multimedia features (such as pictures
and videos) are used and the standard of content and form found in the texts and
language. In addition, we will assess what means are used to interact with the public
outside of indigenous communities that contribute to the site, the positive results that
the network project Índios Online brought to the community members and
expectations what still must be met

Key-words: Communication. Community. Interactivity. Internet. Native.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES




Figura 1 – Página inicial do portal Índios Online (05 de outubro de 2010) ... .......... 18
Figura 2 – Página do Google Maps mostrando as aldeias onde estão
presentes pontos do Índios Online: cada "@" marcada no mapa
representa uma aldeia diferente (06 de outubro de 2010) ....................................... 19
Figura 3 – Janela do chat do portal Índios Online (06 de outubro de 2010) ............ 20
Figura 4 – Perfil na rede social de comunicação Twitter do portal Índios
Online (06 de outubro de 2010)................................................................................ 21
Figura 5 – Página inicial do canal da Índios Online no portal Youtube
(06 de outubro de 2010) ........................................................................................... 24
Figura 6 – Página inicial do blog Retomada Tupinambá (13 de outubro de 2010) .. 29
Figura 7 – Fotografia tirada durante oficina realizada pelo projeto
Fotografia Tupinambá. Autor: Alessandro Tupinambá (13 de outubro de 2010) ..... 30
Figura 8 – Página do artigo "A beleza do Rio São Francisco", publicado
por Juayran (11 de outubro de 2010) ....................................................................... 33
Figura 9 – Página inicial do portal da rede Grumin (16 de outubro de 2010) .......... 41
Figura 10 – Página inicial do portal do grupo Esperança da Terra
(13 de outubro de 2010) ........................................................................................... 55
Figura 11 – Página inicial do portal da Web Brasil Indígena
(13 de outubro de 2010) ........................................................................................... 58
Figura 12 – Cartaz de divulgação da pré-estreia do documentário
Indígenas Digitais em Salvador - BA (18 de outubro de 2010)................................. 61
Figura 13– Página inicial do portal Indígenas Digitais (17 de outubro de 2010) ...... 64
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS




AJI – Ação dos Jovens Indígenas
AL - Alagoas
ANAI – Associação Nacional de Ação Indigenista
APOINME - Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste Minas Gerais e Espírito
Santo
BA - Bahia
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
Cedi – Centro Ecumênico de Documentação e Informação
CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço
Embratel – Empresa Brasileira de Telecomunicações
FUNAI – Fundação Nacional do Índio
Funarte – Fundação Nacional de Artes
FUNASA – Fundação Nacional de Saúde
GESAC – Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão
Inbrapi – Instituto Indígena para Propriedade Intelectual
ISA -Instituto Socioambiental
MinC – Ministério da Cultura
MS – Mato Grosso do Sul
NDI – Núcleo de Direitos Indígenas
ONG – Organização Não Governamental
PDF – Portable Document Format – Documento em Formato Portátil
PE - Pernambuco
PIB – Povos Indígenas no Brasil
RJ – Rio de Janeiro
S/A – Sociedade Anônima
SP – São Paulo
STF – Supremo Tribunal Federal
Unesco – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization -
Organização Educacional, Cultura e Científica das Nações Unidas
SUMÁRIO




1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 09


2 A REDE ÍNDIOS ONLINE E A PRESENÇA INDÍGENA NA INTERNET ............... 14
2.1 O PORTAL ÍNDIOS ONLINE E O ARCO DIGITAL ........................................................... 17
2.2 O QUE TÊM A DIZER OS ÍNDIOS ONLINE..................................................................... 27
2.3 A PRESENÇA INDÍGENA NA INTERNET ....................................................................... 37


3 A COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA NA INTERNET ............................................. 45


4 A WEB BRASIL INDÍGENA E O PROJETO ESPERANÇA DA TERRA .............. 54
4.1 O DOCUMENTÁRIO INDÍGENAS DIGITAIS ................................................................... 59
4.2 OBJETIVOS ATINGIDOS, EXPECTATIVAS E NECESSIDADES PENDENTES
NA COMUNICAÇÃO DIGITAL ............................................................................................ 70



5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 78


REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 80


ANEXOS ................................................................................................................... 83
ANEXO A – Documentário Indígenas Digitais ........................................................... 84
9

1. INTRODUÇÃO




      A profusão da Internet e das tecnologias mais recentes como alternativas de
comunicação de certo modo levou a mídia, que até o final do século XX se
concentrava em difundir seu conteúdo de forma massiva através dos meios
eletrônicos - rádio, TV e impressos -, a descobrir e explorar esse potencial ambiente
comunicativo    digital.   Em   seus   estudos   sobre   o   ciberespaço,    definido
superficialmente com “um espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial
dos computadores e de suas memórias” (LÉVY, 1999, p.92), o filósofo francês Pierre
Lévy já apresentava esse novo meio digital como um espaço de interações, de
práticas e relacionamentos humanos antes restritos apenas ao ambiente físico.
      A prática da comunicação comunitária, vista como uma alternativa de
sociabilidade dos grupos minoritários (FERNANDES, 2007), encontra nos meios
digitais e na Internet uma alternativa simples, relativamente barata e que não exige
experiência elevada. Entre os diferenciais da rede estão a estrutura basicamente
não-linear, ausente no material impresso, por exemplo, e as ligações hipertextuais,
que permitem ao usuário se movimentar mediante as estruturas de informação do
site sem uma sequência predeterminada, mas sim saltando entre os vários tipos e
dados que necessita (PINHO, 2003), com o auxílio dos chamados links.
      A Internet também se destaca pelo modo ágil e instantâneo como as
informações podem ser apuradas, publicadas e dispersas por todos os limites da
rede; a perenidade das informações, que ficam arquivadas (e muitas vezes
acessíveis a maioria das pessoas) por tempo indeterminado; e talvez um dos fatores
mais importantes, a interatividade digital: a Internet possibilitou uma grande
variedade de opções de interação online entre usuários, até então não explorada
pelos meios de comunicação convencionais. A interação é característica comum das
interações sociais do cotidiano, mas a ascensão das tecnologias e relações digitais
ajudou a ampliar esse conceito.
        O conceito de comunidade, incluindo aí o de comunicação comunitária, não
se restringe mais à prática social e comunicativa realizada dentro de um espaço
geográfico limitado:
10

                                         Há mudanças substanciais nas concepções de comunidade, ao
                                         mesmo tempo em que alguns de seus princípios ainda se
                                         verificam. O sentimento de pertença, a participação, a
                                         conjunção de interesses e a interação, por exemplo, são
                                         características que persistem ao longo da história, enquanto a
                                         noção de lócus territorial específico como elemento
                                         estruturante de comunidade está superada pelas alterações
                                         provocadas pela incorporação de novas tecnologias da
                                         informação e comunicação. Sem menosprezar que a questão
                                         do espaço geográfico continua sendo um importante fator de
                                         agregação social em determinados contextos e circunstâncias
                                         (PERUZZO, 2008, p.12).


         Os meios de comunicação digitais tecnicamente são um campo ainda pouco
explorado dentro da prática comunitária, mas com grande potencial de expansão e
utilização, como veremos a partir do exemplo do portal Índios Online 1, que desde
2004 serve como veículo de comunicação para grupos nativos indígenas e mesmo
não-indígenas de todo o país. No caso da criação da rede Índios Online, a partir da
iniciativa da Organização Não-Governamental (ONG) Thydewá (sediada em
Salvador - BA), é relevante lembrar que esta iniciativa de inclusão digital é paralela a
outras atividades de caráter voluntário: oficinas realizadas por facilitadores nas áreas
de saúde, jornalismo étnico, educação, cidadania e direitos, economia solidária e
agroflorestagem; atividades voltadas tanto para os próprios indígenas quanto para a
comunidade em geral.
         A     descoberta            e    exploração     adequada     de    todas   as    ferramentas
proporcionadas pelos meios digitais, além da superação dos desafios que ainda
separam a prática comunitária das novas tecnologias, como a necessidade de maior
iniciativa de inclusão digital, são questões fundamentais para potencializar o uso da
Internet como meio de comunicação comunitária. Como lembra Marili de Souza, em
seus estudos sobre a prática comunicativa no contexto das comunidades “o custo
dos equipamentos ainda é uma barreira que deixa de fora as populações pobres,
embora os telecentros e os softwares livres já enfrentem essa realidade, fazendo
aumentar a inclusão entre as camadas mais populares” (SOUZA, 2007, p. 02).
         A partir dessa iniciativa, é possível expandir os limites dos meios de
comunicação comunitários, fortalecendo os grupos e as iniciativas sociais que
sustentam esses veículos. No caso da rede Índios Online, de certo modo é possível,
inclusive, quebrar a ideia da perda de identidade étnica, a partir do momento que os

1
    http://www.indiosonline.org.br
11

indígenas passam a se expressar através da Internet: para esses povos, o contato
dinâmico com as redes digitais é um modo de se manter sintonizado às mudanças e
avanços sociais e tecnológicos. No entanto a Internet funciona principalmente como
uma forma de registrar, manter e globalizar as tradições indígenas, sem esquecer de
suas raízes.
      Através da análise do conteúdo, estrutura e funcionamento do portal Índios
Online, nosso objetivo é constatar como as funcionalidades da Internet, da rede
digital, podem ser exploradas na prática da comunicação comunitária. O uso da
Internet na comunicação comunitária ainda é uma ideia em ascensão, envolta em
preconceitos, mas que pode ser bem explorada. A rede tira as pessoas do papel de
meros espectadores ou ouvintes – comum na mídia tradicional – e as coloca como
difusoras e produtoras de conteúdo (PERUZZO, 2008). A Internet ajuda a romper
limites geográficos, quebrando a ideia de que a comunicação comunitária está
restrita a um limite territorial, além de possibilitar o uso de diversas mídias (som,
texto, imagens) simultaneamente (a chamada convergência) e de forma eficiente.
      Os desafios da prática da comunicação comunitária na Internet também serão
abordados. A administração de funções e objetivos dentro do grupo - comum em
qualquer prática comunitária -, a necessidade de recursos materiais para a prática
comunicativa, a habilitação adequada para o uso das ferramentas de comunicação.
No caso específico da rede Índios Online, a preocupação com a perda da identidade
indígena a partir do momento em que esses grupos se identificam na Internet
também é vista como um desafio a ser superado. Os próprios indígenas enxergam a
rede como uma forma de se integrarem ao mundo globalizado sem perder suas
raízes, perpetuando suas tradições e divulgando-as para o resto do mundo
(PEREIRA, 2008). São essas questões que abordaremos adiante.
      A pesquisa apresentada caracteriza-se como um trabalho de observação,
exploração, análise e descrição. Através da observação geral do funcionamento,
ferramentas e características do site Índios Online tentaremos aplicar estudos
teóricos sobre as funcionalidades da Internet e elementos que definem a prática da
comunicação comunitária, para mostrar que é possível unir de forma efetiva a rede
digital e o conceito comunitário.
      Estudaremos o site Índios Online em um período de aproximadamente duas
semanas, com suas atualizações e todo o material publicado (textos, vídeos,
imagens etc). É válido lembrar que os membros da rede Índios Online, os produtores
12

de conteúdo, são oficialmente de tribos indígenas da região nordeste, de estados
como Bahia, Alagoas e Pernambuco. No entanto, a participação no site e produção
de conteúdos é disponibilizada a qualquer membro da população indígena (e mesmo
não-indígena), contanto que o tema apresentado seja de interesse desses grupos,
sem teor ofensivo.
      Como explicado anteriormente, a análise do conteúdo e dos recursos
aplicados na estrutura e alimentação do portal Índios Online serão feitos com base
na observação, além do contato com representantes do grupo. A princípio a
distância geográfica da sede da ONG Thydewá, principal responsável pela
organização do projeto, poderia caracterizar uma certa limitação na realização da
pesquisa: o contato direto com o processo de produção de conteúdos para o site
proporcionaria uma abordagem mais delicada e aprofundada do assunto. No
entanto, considerando-se que um dos objetivos do site Índios Online é justamente
poder expandir fronteiras de comunicação, levando seu conteúdo para públicos
geograficamente mais distantes, pareceu adequado e conveniente manter toda a
comunicação necessária através da rede digital.
      Após a pesquisa teórica, cujo objetivo é coletar o máximo de conteúdo sobre
a comunicação digital na Internet e a prática da comunicação comunitária, a próxima
etapa é a análise do site e aplicação dos conceitos estudados no modelo do portal
Índios Online. Com isto posto, podemos concluir o cumprimento das expectativas já
apresentadas. Nos capítulos seguintes apresentaremos, inicialmente, uma descrição
geral da estrutura do portal Índios Online, a história do projeto, os principais
conteúdos abordados e recursos (que a rede digital disponibiliza) utilizados.
Também destacaremos as demais formas de presença indígena desenvolvidas
dentro da Internet, direta ou indiretamente inspiradas pelas atividades da rede Índios
Online. A partir dessa experiência, ofereceremos a seguir uma abordagem teórica de
como a Internet pode ter seus recursos utilizados em benefício da prática da
comunicação comunitária.
      Em destaque apresentaremos também três projetos desenvolvidos com
participação direta de membros da equipe da rede Índios Online, que utilizam
dinâmicas distintas e demonstram diferentes fases de desenvolvimento da presença
indígena na Internet: o portal Web Brasil Indígena, a rede de informação
compartilhada Esperança da Terra e o documentário Indígenas Digitais, iniciativa da
própria Thydewá que teve seu lançamento no início de 2010. Todas as iniciativas
13

citadas, que detalharemos mais adiante, caracterizam a tendência de se reafirmar a
presença indígena no ambiente digital pelas próprias aldeias, inserindo o cotidiano e
a cultura desses povos dentro da sociedade urbana sem que eles se percam de
suas origens e tradições. A ideia é mostrar que, embora ainda existam muitos limites
a ser superados (como falta de equipamentos e questões de acessibilidade, por
exemplo), a Internet se encaixa adequadamente na atividade da prática da
comunicação comunitária. Não só entre os indígenas, mas em todas as
comunidades e grupos que de alguma forma são considerados socialmente
excluídos.
      O ambiente digital tem se tornado não apenas uma extensão da comunicação
convencional, praticada no dia a dia, mas de todo tipo de atividade praticada no
cotidiano. As práticas sociais em geral aos poucos migraram e se adaptaram aos
caminhos e possibilidades digitais. A Internet, por ser um espaço relativamente
acessível a qualquer indivíduo e pela sua facilidade de compartilhamento e
divulgação de informações tem todo o potencial para ser uma ferramenta útil na
comunicação comunitária. É com essa constatação e seus desdobramentos que
concluímos nosso trabalho.
14

CAPÍTULO 2

A REDE ÍNDIOS ONLINE E A PRESENÇA INDÍGENA NA INTERNET



       Como explicamos, o meio digital é atualmente um campo bastante viável para
a prática da comunicação, por seus custos reduzidos, manejo simples, grande
abrangência e imensa possibilidade de liberdade de comunicação que garante. No
entanto, quando se pensa em comunicação na Internet é necessário planejar uma
estrutura atraente, prática e que ofereça o máximo de interatividade ao internauta. A
partir de uma apresentação do portal Índios Online e uma observação sobre alguns
de seus conteúdos, definiremos quais recursos digitais são explorados, suas
principais características e também o teor do conteúdo publicado: uma espécie de
linha editorial do site.
       Interessante recordar que o portal Índios Online é essencialmente de
comunicação, não de jornalismo; como veremos nos exemplos adiante, o material
publicado se caracteriza por possuir um teor opinativo visível. É certo dizer que a
maioria das notícias publicadas exprime o sentimento, a visão dos próprios
indígenas sobre os atos acontecidos no cotidiano desses grupos. Divulgação de
eventos, projetos realizados por ou para a comunidade indígena, denúncia de crimes
ou ilegalidades praticadas contra índios ou contra o meio ambiente, atividades do dia
a dia das comunidades indígenas, protestos, conflitos indígenas contra órgãos do
governo etc., qualquer assunto voltado ao universo indígena, de cultura à política,
tem espaço para ser abordado. O portal Índios Online passou a funcionar ativamente
a partir de abril de 2004. Foi uma iniciativa da Organização Não-Governamental
Thydewá, sediada em Salvador, na Bahia, com colaboração da rede de
supermercados Bompreço do Nordeste S/A e do Programa governamental
Fazcultura de incentivo ao patrocínio cultural.
       Em 2004 o governo da Bahia apoiou um projeto de conexão entre aldeias.
Foram comprados sete computadores com conexão pelo serviço Star One, da
Embratel, com o apoio da Unesco. Foi feito contato com diversas aldeias, das quais
foram escolhidos dois representantes de cada uma delas para uma oficina de
qualificação, a fim de orientar para o uso dos computadores. A primeira oficina foi
desenvolvida em uma semana, em horário integral, em Salvador, na sede da
15

Thydewá, e cada etnia saiu com um computador para ser instalado em suas aldeias,
num total de sete aparelhos, além de seis meses de conexão de Internet.
         O site do portal Índios Online é hospedado atualmente pelo serviço gratuito de
gerenciamento de conteúdos na Internet Wordpress 2, e elaborado pelo também
gratuito sistema de tecnologia digital Livresoft. Atualmente, onze nações indígenas
colaboram ativamente no portal: Kiriri, Tupinambá, Pataxó-Hãhãhãe, Tumbalalá na
Bahia, Xucuru-Kariri, Kariri-Xocó em Alagoas e os Pankararu em Pernambuco. No
próprio site o projeto Índios Online é descrito como uma oportunidade de diálogo,
encontro e troca de experiências entre indígenas e não-indígenas de tribos diversas.
A conexão com a Internet é feita dentro das próprias aldeias, buscando o benefício
dessas mesmas comunidades. Como explicado no site do portal:


                                  Nossos objetivos são: Facilitar o acesso à informação e
                                  comunicação para diferentes nações indígenas, estimular o
                                  dialogo intercultural. Promover aos próprios índios pesquisarem
                                  e estudarem as culturas indígenas. Resgatar, preservar,
                                  atualizar, valorizar e projetar as culturas indígenas. Promover o
                                  respeito pelas diferenças. Conhecer e refletir sobre o índio de
                                  hoje. Salvaguardar os bens imateriais mais antigos desta terra
                                  Brasil. Disponibilizar na internet arquivos (textos, fotos, vídeos)
                                  sobre os índios nordestinos para Brasil e o Mundo.
                                  Complementar e enriquecer os processos de educação escolar
                                  diferenciada multicultural indígena. Qualificar índios de
                                  diferentes etnias para garantir melhor seus direitos (ÍNDIOS
                                  ONLINE, 2010).


         Todos colaboram na rede voluntariamente e, desde 2005, o projeto conta com
o apoio do Ministério da Cultura (MinC), que auxilia através dos programas Pontos
de Cultura Viva e Associação Nacional de Apoio ao Índio (ANAI). O Pontos de
Cultura Viva é uma parceria do MinC com os Ministérios das Telecomunicações e do
Trabalho e Renda criado em 2006 como parte do programa Governo Eletrônico –
Serviço de Atendimento ao Cidadão (GESAC). O programa trata exatamente da
disponibilização de computadores conectados à Internet em postos da Fundação
Nacional de Saúde (FUNASA) instalados nas aldeias. Novos povos se integraram à
rede e a ideia inicial era de que cada aldeia pudesse participar ativamente,
representando um ponto de cultura. Já a ANAI é uma ONG também sediada em
Salvador existente desde 1978 e que trabalha com práticas de inclusão e


2
    http://pt-br.wordpress.com/
16

reafirmação dos grupos indígenas na sociedade, cuidando pela manutenção dos
direitos dos povos indígenas e sua representatividade cultural e social.
      Em relação ao GESAC, é interessante recordar que este tipo de apoio do
Ministério da Cultura em recursos materiais e estruturais não significa que a rede
Índios Online se submeta a alguma gestão ou critério governamental: o trabalho não
perde seu perfil independente, alternativo, comunitário. A ideia da criação da rede
Índios Online surgiu depois da organização Águia Dourada, fundada pelo argentino
Sebastián Gerlic, radicado há 15 anos na Bahia, e constituída por grupos indígenas
e não-indígenas, criar a série de livros Índios na visão dos índios. A coleção continha
textos, fotos e desenhos feitos pelos indígenas das etnias Kiriri, Tupinambá e Truká.
Em 2001 os membros da Águia Dourada se dividiram e em 2002 foi fundada a ONG
Thydewá (“esperança da terra” no idioma Pankararu), coordenada por Gerlic. Entre
1997 e 2004 foram publicados oito livros pelas instituições. Sebastián Gerlic passou
a se dedicar à causa das comunidades indígenas depois que ele e um grupo de
índios foram vítimas de um ataque feito pela Polícia Militar, quando Gerlic gravava
um documentário na Bahia. A ideia das iniciativas da ONG seria dar mais espaço de
atuação e representatividade para os indígenas brasileiros.
      No ano de 2006, na ocasião de um encontro da rede Índios Online (chamado
de “Encontrão”), em Ilhéus, na Bahia, foi eleito um coordenador indígena geral para
o grupo (Alex Pankararu), além de outros responsáveis principais pela coordenação
de setores específicos como administração, informática, monitoramento, contatos
com parceiros etc. Até então os coordenadores responsáveis eram Ivana Cardoso,
Laura Juliani, Sebastián Gerlic e Luis Henrique Moreira. No Encontrão, além da
eleição dos novos administradores, feita por representantes das aldeias integrantes
da rede, também foram discutidas novas ideias de gestão, parceria, expansão e
trabalho em rede, além de atividades culturais e apresentação dos principais
trabalhos desenvolvidos até ali.
      Em 2007 a Thydewá, pelo projeto Índios Online, recebeu o selo de Iniciativa
Reconhecida Prêmio Cultura Viva, do MinC, através do Programa Cultura Viva, de
incentivo a práticas culturais executadas pelo Brasil. No ano de 2008 o projeto
recebeu o prêmio AREDE de inclusão digital. Em 2009, o Índios Online também
ganhou os prêmios Rodrigo Melo Franco de Andrade (por divulgação do patrimônio
nacional através da Internet, livros e campanhas) e Prêmio Mídias Livres do MinC. A
partir do recebimento deste último, a Índios Online se expandiu e com o objetivo de
17

afirmar ainda mais a presença indígena no projeto foi criado o método de Gestão
Compartilhada: a partir dele, representantes de todas as aldeias ligadas à Índios
Online e espalhadas pelo Brasil passaram a ter o mesmo peso, o mesmo poder de
gestão e administração. Isso eliminava a necessidade de um coordenador geral para
o conteúdo publicado no site, resultando numa atividade mais igualitária e bem
distribuída para todos. Inicialmente foram escolhidos oito representantes de povos
diferentes: dois Pankararu, dois Tupinambá, um Kariri-Xocó, um Guarani, um Terena
e um Potiguara. Em janeiro de 2010 a Thydewá organizou o I Encontro Nacional da
Rede Índios Online no Pontão de Cultura Esperança da Terra em São José da
Vitória, na Bahia.
      Hoje, lembra Sebastián, a Índios Online é uma rede independente,
administrada por seus próprios integrantes. A Thydewá, que antes era a principal
gestora da rede, hoje trabalha em um sistema de parceria. Nas palavras de Gerlic,


                          Entendemos que Índios On-Line é uma rede de comunicação
                          indígena, onde dá oportunidade e autonomia aos índios de
                          todos os povos brasileiros e não brasileiros, a expressar suas
                          opiniões e ser um etnojornalista, ciberativista, etnocelumetrista
                          e ser o protagonista de sua própria cultura, historia, costumes e
                          tradições. Para que assim possam ser compartilhada com
                          outros povos e vice versa (GERLIC, 2010).



2.1 O portal Índios Online e o Arco Digital


      O site da rede Índios Online é considerado um pioneiro na ideia da
organização, representação e interatividade das comunidades indígenas de diversas
etnias através da Internet. Atualizado pelos próprios indígenas, o site (figura 1)
apresenta conteúdo em formato de textos, fotos, vídeos (gravados através de
aparelhos celulares), além de ser aberto a comentários. Também é disponibilizado
um chat (sistema de bate papo virtual), promovendo a ideia do diálogo intercultural.
Atualmente são mais de 3000 matérias publicadas e 10000 comentários no site, que
conta com cerca 500 participantes de 25 etnias diferentes.
      Atualmente o grupo de gestão da rede Índios Online conta com oito
integrantes, de diferentes aldeias indígenas do Brasil: Alex Pankararu, Graciela
Guarani (Cunha Poty Rory), Ivana Cardoso (Potyra Tê Tupinambá), Jaborandy
Yandê Tupinambá, Diana Terena (Diana Davilã), Luciano Pankararu, Jaqueline
18

Potiguara (Irembé) e Nhenety Kariri Xocó. Todos os integrantes da rede podem
postar no site, com periodicidades variáveis. Aos membros da gestão é exigido
apenas que se comprometam a gerenciar e postar conteúdo no site, além de cuidar
do chat que o portal oferece. Os elementos gráficos que compõem a apresentação
visual do site, como os detalhes que lembram o desenho do trançado da fabricação
de cestos de sisal e os tons esverdeados e terrosos reforçam a ideia dos elementos
da cultura e do cotidiano indígenas mantidos firmemente mesmo no contexto da
presença no ambiente digital. Na página inicial do site estão organizados links para
todos os serviços oferecidos pelo portal, além das chamadas dos textos publicados
mais recentemente (com o link Leia mais para se acessar o texto completo).


                                                Figura 1




                        Página inicial do portal Índios Online (05 de outubro de 2010)


         No menu, localizado logo acima do logotipo Índios Online são visíveis os
seguintes botões de acesso:
         Oca – direciona para a página inicial do Índios Online.
         Mapa – através de imagem obtida pelo programa de mapeamento geográfico
                                         3
digital via satélite Google Maps             é mostrada a região das comunidades indígenas




3
    http://maps.google.com.br/
19

que integram a rede Índios Online. Cada “ponto” de acesso do programa é
representado pelo símbolo “@” (figura 2).
      Arquivos – são exibidos links das postagens mais recentes publicadas no site.
      Chat – é o programa de comunicação instantânea do portal. Para acessá-lo é
necessário criar um cadastro na página com email, uma senha e um nome de
usuário. No site Índios Online, o serviço é normalmente frequentado por fundações
ou grupos interessados na temática indígena, além de estudantes que buscam
informações para trabalhos escolares. A página exibe também o número de usuários
conectados no chat. Elaborado pelo Livresoft, o serviço é semelhante à estrutura de
uma sala de bate papo digital comum (figura 3): uma janela lateral com a listagem
dos usuários, uma janela onde se escreve a mensagem e outra maior, onde aparece
todo o conteúdo da conversa.
                                            Figura 2




  Página do Google Maps mostrando as aldeias onde estão presentes pontos do Índios Online:
     cada "@" marcada no mapa representa uma aldeia diferente (06 de outubro de 2010)


      Também é possível enviar emoticons (as “carinhas” animadas que ajudam a
expressar o que o usuário está sentindo, de forma bem humorada) e sinais sonoros
para chamar a atenção dos outros usuários. Além disso, existe a possibilidade de
compartilhar jogos com outros usuários, utilizar cores e fontes de texto
personalizadas e avatares, ilustrações que representam a figura do usuário dentro
do chat. O serviço conta ainda com um botão de registros, marcando as últimas
20

atividades do chat, e um link de ajuda com instruções (em inglês) de utilização dos
recursos do programa.
      Quem somos – a página contém uma espécie de editorial, com explicando o
que é e quais os objetivos e as metas do projeto Índios Online.
      Participe – uma espécie de convite para os indígenas ainda não incluídos na
rede Índios Online. Para o cadastro, é necessário apenas informar nome, email para
contato e a etnia, a “nação” a qual o indígena pertence.


                                       Figura 3




                 Janela do chat do portal Índios Online (06 de outubro de 2010)



      Contato – espaço aberto para comunicação direta com a administração do
portal. Para isto é apenas necessário informar o nome e email para contato,
deixando a mensagem desejada.
      Ainda no alto da página inicial, há um botão de busca onde o usuário pode
pesquisar um elemento desejado no conteúdo do site. Nos resultados da busca, são
exibidos integralmente artigos relacionados ao tema procurado. À esquerda da
página inicial, uma série de janelas/links levam a outros pontos ligados ao portal. De
cima para baixo, pode-se ver:
21

                                                                                        4
          Siga nosso Twitter – abre uma nova janela para o perfil no Twitter                (rede
social de que permite a troca de mensagens instantâneas curtas) do Índios Online
(figura 4). Atualmente o perfil do Índios Online, descrito por seus criadores como “um
portal de diálogo intercultural”, conta com 435 seguidores. No perfil do Twitter da
rede Índios Online são postadas algumas atualizações do portal, com as manchetes
e os links para cada texto publicado. O primeiro registro de atividade do perfil da
Índios Online no Twitter data do dia 5 de maio de 2010.


                                            Figura 4




           Perfil na rede social de comunicação Twitter do portal Índios Online (06 de outubro de
                                                  2010)


          Imprima e difunda a petição! - clicando nesta caixa, o usuário é direcionado
para um link do site da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do
Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME). A APOINME 5, sediada em
Olinda, Pernambuco (PE), integra 64 povos indígenas e atua em defesa dos direitos
e causas desses grupos: demarcação e identificação de terras; educação escolar
respeitando a cultura e tradições indígenas; assistência técnica e extensão rural
para as comunidades; respeito ao meio ambiente e uso consciente de recursos
naturais (APOINME, 2010). O link no portal da Índios Online redireciona para uma

4
    http://twitter.com/indiosonline
5
    http://www.apoinme.org.br/
22

página da APOINME, com um texto denominado “Campanha Opará – Povos
indígenas em defesa do rio São Francisco”. No artigo, a organização convoca os
povos indígenas a se manifestarem contra o trabalho de transposição do rio São
Francisco, operado pelo governo federal.
          A obra - ainda não concluída totalmente - teria como objetivo irrigar as regiões
do nordeste e semi-árido brasileiros, mas o argumento da APOINME é de que o
projeto danifica o ecossistema às margens do rio (onde estão localizadas aldeias
indígenas) e o próprio São Francisco, além de não suprir as necessidades da
população instalada na região do semi-árido. A transposição do rio beneficiaria
apenas o agronegócio, latifundiários e empresas multinacionais com instalações na
                                                                                       6
região. Em documento publicado no mês de junho de 2010 no Blog do Planalto                 –
site com informações gerais do governo mantido pela Presidência da República – o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que a previsão é de que o projeto seja
concluído no final de 2012, e a APOINME orienta a população a assinar uma petição
(disponível no site) contra o andamento do projeto, que posteriormente seria
encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF).
          No documento, a APOINME requere ao STF uma audiência pública dando
voz a especialistas na área do meio ambiente e ecologia, além dos residentes na
região afetada pelo trabalho de transposição, a fim de averiguar se os impactos
ambientais realmente têm ligação com a transposição do rio. Se comprovados os
danos ao ecossistema, o documento pede ainda que sejam aplicadas ações judiciais
referentes ao projeto. Além da versão digital, a instituição também orienta para que a
petição seja enviada via fax ou correio, disponibilizando cópias do documento para
download em cinco idiomas (português, alemão, francês, inglês e italiano). O foco
atual das reivindicações da APOINME é o prejuízo provocado pelo andamento das
obras do São Francisco, e informações gerais relativas ao tema estão publicadas no
site da organização.
          Índio off- line? Você é a nossa Rede. Fique on! - o link redireciona para a
página de cadastro dos usuários indígenas (em Participe).
          Novo chat no ar!!! Acesse aqui - redireciona para a página de login (entrada)
no chat, onde o usuário pode criar seu cadastro no bate papo (se ainda não possuir)
ou solicitar o reenvio de sua senha, caso se esqueça dela. Nesse caso, uma nova


6
    http://blog.planalto.gov.br/
23

página solicita o nome utilizado pelo usuário no chat e seu endereço de email, para
onde a respectiva senha será enviada.
         Indígenas Digitais – o filme - clicando na janela, o usuário é direcionado ao
site Indígenas Digitais 7. Nele, é possível assistir e saber mais detalhes sobre o
documentário Indígenas Digitais, com depoimentos de indígenas das nações
Tupinambá e Pataxó Hahahãe, da Bahia, Kariri-Xocó de Alagoas, Pankararu de
Pernambuco, Potiguara da Paraíba, Makuxi de Roraima e Bakairi de Mato Grosso. O
documentário foi produzido por indígenas e não indígenas integrantes da Thydewá,
além da empresa de capacitação e gerenciamento de projetos sociais, educacionais
e culturais Cardim Soluções Integradas, sediada em Salvador. Adiante detalharemos
com mais cuidado o projeto do documentário Indígenas Digitais.
         Login - clicando no link dentro da caixa de cor verde, o usuário é direcionado
para o site da APOINME, citado anteriormente. Abaixo da caixa há outro link
também escrito Login, mas este serve para que aqueles cadastrados no site (através
da página Participe) tenham acesso à administração do portal, publicando seu
material no Índios Online.
         Na página inicial do portal Índios Online também é possível visualizar a barra
Canal Celulares Indígenas Youtube. São vídeos produzidos pelos próprios
indígenas, com o uso de câmeras de aparelhos celulares, que também são
publicados na rede de compartilhamento de vídeos Youtube. Segundo Potyra Tê
Tupinambá, entre computadores, filmadoras e câmeras digitais os celulares são os
aparelhos mais comuns e utilizados pelos indígenas no dia a dia, justamente por
serem os de mais fácil transporte e praticidade. Os assuntos abordados são
variados: cultura, manifestações artísticas, opiniões, eventos, apresentação de
projetos realizados e dos integrantes da rede, até “tutoriais” que ensinam os demais
participantes da Índios Online a postar matérias no site principal da rede, por
exemplo. No portal Youtube é possível encontrar inclusive uma página exclusiva
                                          8
criada pela rede Índios Online                (figura 5) com todos os vídeos produzidos pelo
grupo. Esse tipo de serviço é totalmente gratuito; para ter acesso a ele basta possuir
um endereço de email e criar uma conta no site.
         No Canal somos informados de que ele foi criado no dia 28 de maio de 2009,
e até o último dia 07 de outubro tinha 70 vídeos publicados no total, que juntos foram

7
    http://www.indigenasdigitais.org/
8
    http://www.youtube.com/indiosonline
24

visualizados 15.173 vezes. A página da Índios Online no Youtube possuía 1223
acessos e 22 colaboradores, outros usuários do Youtube que podem se inscrever
para contribuir com o Canal na administração e em postagem de vídeos. Ao acessar
o site é possível aos demais usuários postar comentários nos vídeos, fazer
avaliações positivas ou negativas do conteúdo, pesquisar vídeos por ordem de
postagem no site, número de visualizações ou pela ordem dos melhor avaliados pelo
público. O usuário também pode recomendar e compartilhar os vídeos desejados
através de outras redes sociais, como Twitter, Orkut, blogs e mesmo por email.


                                             Figura 5




          Página inicial do canal da Índios Online no portal Youtube (06 de outubro de 2010)


         É importante lembrar que, no caso da rede Youtube, a participação indígena
não se restringe apenas ao canal do portal Índios Online. Outros índios, a maioria
ligados de alguma forma ao projeto Índios Online, mantém canais com vídeos
próprios mostrando entrevistas com representantes indígenas, o cotidiano das
aldeias, eventos etc. É o caso de Graciela Guarani, de Dourados, Mato Grosso do
Sul (MS). A jovem, além de ser membro da equipe de gestão da Índios Online, faz
parte do grupo de representação socio-cultural Ação de Jovens Indígenas (AJI) de
sua cidade. Em sua página no Youtube 9, Graciela, que mantém o perfil desde


9
    http://www.youtube.com/gracielaguarani
25

fevereiro de 2009, posta vídeos sobre manifestações e histórias que retratam o
cotidiano de sua aldeia.
        O uso de aparelhos celulares para a produção de vídeos na rede Índios
Online passou a ser facilitado a partir do estabelecimento do projeto Celulares
Indígenas, em 2009. O programa, uma parceria com o programa Oi Futuro, ofereceu
oficinas de etnojornalismo, publicação digital, fotografia e vídeo para sete
representantes indígenas em janeiro do ano passado. A partir daí, esses agentes
puderam reproduzir e integrar todos os conceitos aprendidos aos demais integrantes
da rede. Foram distribuídos 60 aparelhos celulares para representantes indígenas
de 24 nações diferentes. Vídeos de poucos minutos até pequenos documentários,
como o filme Indígenas Digitais, que aprofundaremos adiante, foram produzidos
basicamente com o uso desses celulares.
        Entre 2006 e 2007, também em parceria com o programa Oi Futuro, a
Thydewá criou dentro da rede Índios Online a proposta da comunidade colaborativa
de aprendizagem Arco Digital. A ideia do Arco Digital foi fornecer a indígenas de
todo o Brasil cursos de aprendizagem colaborativa através de um programa gratuito
                                            10
de educação digital à distância, o Moodle    . A metáfora do arco digital é associada
pelos próprios indígenas à figura do arco e flecha, ferramentas que simbolizam ao
mesmo tempo, caça (sustento) e arma (ataque e defesa). As novas tecnologias
representariam os mesmos significados da caça e da guerra no contexto da
sociedade informacional contemporânea.
        No projeto Arco Digital foram oferecidas oficinas realizadas por facilitadores
igualmente atuantes nas áreas de saúde indígena, jornalismo étnico, educação,
cidadania e direitos, economia solidária e agrofloresta, voltadas para qualquer
indígena, sem nenhum custo e dentro do princípio colaborativo. O objetivo
impulsionador do Arco Digital foi a troca de ideias e reflexão sobre desenvolvimento,
cidadania, tecnologias de Informação e comunicação, bem como compartilhar
experiências, práticas e saberes. A partir da realidade dos povos indígenas, tomou-
se a iniciativa do diálogo (como forma de construção coletiva de conhecimento e
interação para a transformação) no qual os próprios índios são protagonistas
responsáveis por decidir o caminho de suas comunidades, lutando e seguindo por
melhores condições de vida. O incentivo constante à autonomia entre os indígenas,
rompendo os estereótipos em relação a esses povos enraizados dentro da
1   0
        http://www.moodle.org
26

sociedade urbana e apresentando a real identidade e capacidade de independência
das comunidades e seus membros é um dos objetivos dessas iniciativas
desenvolvidas.
      Numa espécie de reflexão integrada em rede, esses povos passam a refletir,
planejar, elaborar e executar suas próprias ações e projetos. No ano de 2008, com o
apoio do MinC, a Thydewá lançou a publicação @rco Digital com 3000 exemplares,
narrando as experiências dos integrantes da Índios Online dentro do Arco Digital. O
livro é descrito por seus organizadores como uma oportunidade de refletir sobre a
tecnologia, a realidade contemporânea dos povos indígenas e suas relações com as
novas tecnologias, rompendo possíveis preconceitos e ajudando a estender as
iniciativas do Arco Digital. O “criador” do Arco Digital, Nhenety Kariri-Xocó, descreve
deste modo o início das atividades no programa e seus objetivos:

                           Pela primeira vez, índios de comunidades distantes se
                           encontravam num chat para dialogar sobre seus interesses...
                           intercambiar ideias, experiências...se apoiar...pesquisam e
                           projetam suas culturas publicando suas matérias no portal.
                           Abrem espaços para divulgar suas visões com o objetivo de
                           serem mais respeitados...dialogam com os internautas
                           promovendo a paz... (NHENETY KARIRI-XOCÓ, 2007).


      Nhenety ainda realça a importância do computador como ferramenta útil aos
povos indígenas:


                           Nós índios já estamos usando o computador como ferramenta
                           de buscar soluções. O computador nos serve para escrever
                           projetos ou cartas, que nos auxiliam para buscar melhorias na
                           saúde, educação, sustentabilidade e tudo que se refere a
                           nossa sobrevivência e desenvolvimento, servindo como um
                           Arco e Flecha.
                           O arco e flecha é um instrumento de defesa, de caça… Hoje
                           em dia, um computador com internet também pode ser utilizado
                           pelos índios como um instrumento de defesa e caça [...] Hoje
                           em dia, também nos reunimos em grupo e através do
                           computador e a Internet nós estudamos todas as
                           possibilidades: os órgãos do governo e seus editais e suas leis,
                           as agências de cooperação, os financiadores, os programas,
                           os     patrocínios    de    empresas,     o     mundo       das
                           parcerias...Preparamos nossos projetos e saímos na busca de
                           concretizar nossa caçada. (Idem, 2007).

      Para o índio online, ou “caçador eletrônico”, Nhenety recorda a necessidade
da prática no aprendizado do uso da informática. Com a Internet é possível descobrir
27

novas instituições, agências, empresas, como elas atuam... pesquisar na rede digital
para saber como se comunicar adequadamente, como atrair o “público” que se
quer. O fato do projeto Arco Digital não existir mais dentro da rede Índios Online não
significa que seus ideais, ações, práticas e projetos se perderam. As iniciativas e
propostas de reflexão e discussão levantadas pelo projeto continuam se propagando
por todas as vias da rede Índios Online, a cada nova geração que ingressa no
projeto, na produção de vídeos, textos e nos debates e discussões levantadas.


2.2 O que têm a dizer os Índios Online


      O conteúdo do portal Índios Online, totalmente produzido pelos próprios
indígenas membros da rede, é marcado por um forte teor opinativo, muitas vezes em
tom de denúncia, e não há uma preocupação rígida em relação à linguagem formal,
organização da página, harmonia estrutural entre texto e fotos, quantidade de
caracteres etc. É visível a liberdade que os autores dos artigos publicados no Índios
Online têm não só na seleção e produção de todo o conteúdo publicado, mas
também para reproduzir sua opinião no texto, denunciar ou criticar o que julgar
necessário, e mesmo organizar o modo como será publicado no site (ordem das
imagens, fonte de texto) da maneira que considerar mais adequada e de fácil leitura
para o internauta.
      O teor do material produzido e abordado no portal Índios Online demonstra
bem a força dessa proposta de reflexão, de autodescobrimento, a iniciativa que
conduz ao fortalecimento da cidadania, da representação social e cultural desses
grupos. Denúncias, artigos, opinião, material político, eventos, cotidiano das aldeias
indígenas: tudo isso atua em benefício da demarcação do espaço e inclusão desses
indígenas não só no campo geográfico, mas no ciberespaço, em todas as áreas da
sociedade, de forma independente, livre e realmente atuante. O portal Índios Online
pode ser visto como um canal sem restrições de comunicação dos indígenas de
qualquer lugar do país com toda a população, uma oportunidade de livre
manifestação de expressões.
      Questões sobre demarcação e posse de terras, resistência de grupos
indígenas, preservação do meio ambiente, histórias de antepassados, novidades na
área de tecnologia e infra-estrutura para os índios, tudo isso ganha espaço para
28

abordagem no Índios Online. Tudo isso sempre com um tom crítico e de análise, que
direciona para a reflexão dos próprios leitores. Em relação ao assunto de posse de
terras e resistência indígena, por exemplo, ou mesmo denúncia de atitudes violentas
contra as comunidades indígenas, é possível notar que sempre se ressalta a postura
pacífica entre os índios, cujo interesse maior é sempre a defesa dos próprios direitos
da maneira mais justa e organizada possível. No artigo “Retomada Tupinambá – Na
comunidade Santana” (11 de outubro de 2010), assinado por Bruno Tupi, o rapaz
retrata a retomada dos indígenas Tupinambás daquela região a uma fazenda cuja
terra lhes seria de direito. Segundo relato do próprio Bruno:


                                  Com o objetivo de reaver o que é nosso, e de maneira pacífica
                                  entramos na fazenda. Permanecemos ainda na fazenda, até o
                                  instante momento, e até agora graças ao nosso pai Tupã ainda
                                  não tivemos nenhum registro de conflito. Mas segundo o
                                  Administrador da FUNAI – Ilhéus – BA, a filha do Fazendeiro
                                  Juvenal que é o morador da fazenda retomada, foi informar a
                                  Polícia Federal, que nós estamos mantendo em cárcere
                                  privado, dois idosos hipertensos, mas isso não é um fato real,
                                  pois estamos abertos a diálogos pacíficos, pois não temos em
                                  mente maltratar ninguém, só apenas reaver o que é nosso e
                                  ampliar até porque essa fazenda se encontra dentro de nossa
                                  demarcação.
                                  Sendo assim reafirmamos mais uma vez, que essa retomada é
                                  pacífica, não queremos conflitos, só queremos o que é nosso
                                  de fato e se tem esses idosos com a gente é porque eles não
                                  tiveram tempo de se locomover ainda, e porque também não
                                  vamos colocar eles na rua de uma hora pra outra. Nesse
                                  instante estamos dentro da fazenda e se nosso pai Tupã
                                  permitir, nosso povo não sairá mais. Pois lá pertenceram os
                                  nossos ancestrais e agora pertenceram aos nossos herdeiros.
                                  (BRUNO TUPI, 2010).


        A causa da retomada de terras pelos Tupinambás também é um bom
exemplo da utilização da Internet, da rede digital para divulgação de algum tipo de
mobilização popular. Neste caso, ela não se limita apenas ao que é publicado na
                                                            11
rede Índios Online. No blog Retomada Tupinambá                   (figura 6) é possível fazer todo
um acompanhamento das atividades dos Tupinambás pela retomada de suas terras.
Textos, vídeos e fotos (a maior parte deles compartilhados com o portal Índios
Online) expõem depoimentos do cotidiano desses indígenas. Segundo o Retomada
Tupinambá, atualmente há cerca de 7000 Tupinambás no Brasil em um território


1   1
        http://www.retomadatupinamba.blogspot.com/
29

reconhecido pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI) de 47300 hectares, ao sul da
Bahia. No entanto nem todas essas áreas ainda foram demarcadas, e esta é a
principal luta atual dos indígenas.


                                                     Figura 6




                 Página inicial do blog Retomada Tupinambá (13 de outubro de 2010)


        Além da Índios Online, o Retomada Tupinambá ainda conta com sete
colaboradores oficiais e o apoio do projeto Fotografia Tupinambá. O programa nada
mais é do que oficinas de fotografia oferecidas aos indígenas Tupinambás da Bahia.
                                                12
No site do Fotografia Tupinambá                  , é possível se informar sobre as oficinas já
realizadas, ver fotografias tiradas durante os eventos (com direito a galerias de fotos
tiradas pelos participantes) (figura 7) e também um vídeo, realizado pela equipe da
rede Índios Online em parceria com a produtora Petei Xe Rajy, sobre a pintura e o
artesanato praticado pelos Tupinambás. As fotos exibidas nas galerias são
hospedadas          e     visualizadas         através     de   programas   de        distribuição   e
                                                                                 13
compartilhamento gratuito de imagens, como o PicLens e o Flickr                   , de 2004. Para
utilizar o PicLens é necessário instalar uma das versões do programa em seu
computador, através de portais especializados em informática que oferecem esse


1   2
        http://fotografiatupinamba.com/novo/
1   3
        http://www.flickr.com
30

tipo de serviço. Já no Flickr basta fazer um cadastro no site indicado. O projeto
Fotografia Tupinambá ainda conta com a colaboração da Fundação Nacional de
Artes (Funarte), do MinC e da Petrobrás.


                                        Figura 7




         Fotografia tirada durante oficina realizada pelo projeto Fotografia Tupinambá.
                     Autor: Alessandro Tupinambá (13 de outubro de 2010)

      Em alguns casos, o apelo mais explícito à comunidade não indígena a favor
das causas desses grupos também se mostra presente. No texto intitulado “Área
retomada sofre ataque de pistoleiros na tarde de ontem” (08 de outubro de 2010),
assinado por Fábio Titiá em nome da comunidade Pataxó Hãhãhãe, é relatado um
ataque violento a indígenas ocupantes de uma fazenda em terras que seriam de sua
propriedade.


                           Os Pataxó Hãhãhãe estão determinados a permanecer na
                           áreas, e pede a justiça possa agora fazer o seu papel,
                           devolvendo as nossas terras. As fazendas que antes servia
                           para criatório de gado, de hoje em diante acreditamos que ela
                           possa servir para buscar a sustentabilidade de várias familias
                           indígenas que vivem a margem da linha da pobreza. e assim
                           evitaríamos que mais de nossa terra fosse destruída, já que foi
                           comprovado desmatamento por parte dos fazendeiros.
                           Os índios Pataxó Hãhãhãe, está cansado de esperá pela a
                           justiça, que anda lenta como uma tartaruga. Enquanto as
                           “autoridade retarda o julgamento de nossas terras” tem índios
31

                         morrendo assassinados. por falta de condições melhores para
                         poder cuidar da saúde, de uma educação e alimentação de
                         qualidade. Sendo que essas terras nos pertence temos prova,
                         e a STF, continuam deixando o povo indígenas amingua.
                         Através da rede indios online, levamos para a sociedade que
                         nos ajude, a cobrar das autoridades desse país , que assuma a
                         nossa causa com carinho e não permita mais que um pai de
                         familias perca a sua vida nessa luta árdua e necessária.
                         (FÁBIO TITIÁ, 2010).

      O texto é um exemplo claro de como a rede Índios Online é vista e utilizada
como uma ponte de manifestação e contato entre os povos indígenas e a
comunidade em geral. E é uma estrada de duas vias, considerando que o internauta,
o público, também pode se comunicar de formas diversas com os autores do portal,
expressar sua opinião e suas ideias. A participação de indígenas e não-indígenas
nos comentários dos textos postados no site é constante, o que sinaliza um grande
comprometimento e interesse não só entre aqueles que já estão ingressos na rede
Índios Online, mas também da parte do público em geral. No artigo de Fábio Titiá,
por exemplo, são vistos os seguintes comentários:

                         Mauro Alessandro Zalcbergas – Salvador – BA - Estudante
                         de Direito disse:
                          sexta-feira, 08 de outubro de 2010 as 8:55
                         Diante de tal violência, procurem coletar o máximo de provas
                         possíveis,como fotos dos carros, pistoleiros, placa dos carros,
                         videos e testemunhas.
                         Com todas essas provas em mãos, divulguem em todos os
                         meios de comunicação, vamos fazer todo o Brasil saber quem
                         são essas pessoas, mas somente com relatos não é
                         suficientes, boas imagens são bem fortes e ajudam até nas
                         decisões da justiça. Conseguindo boas imagens e fotos, vamos
                         divulgar na internet e youtube, tenho certeza que a mobilização
                         terá muita repercursão.

                         ARATIMBÓ disse:

                         sexta-feira, 08 de outubro de 2010 as 18:30
                         É UMA VERGONHA PARA AS AUTORIDADES O QUE ESTÁ
                         ACONTECENDO, ELES FAZEM VISTA GROSSA QUE Ñ VER
                         OS PISTOLEIROS É UMA TERRA SEM LEI. [...]
                         SÓ PARA LEMBRAR A SOCIEDADE, QUE NA HISTORIA DE
                         LUTA DO POVO PATAXÓ HÃ-HÃ-HÃE, NO DECORRER DO
                         TEMPO ONDE FORAM MORTOS VÁRIAS LIDERANÇAS,
                         ATÉ QUEM FIM ONTEM FOI UM BANDIDO PRA CADEIA O
                         FAMOSO ”GILBERTO ALVES DE BRITO” ISSO DEPOIS DE
                         MUITAS QUEIXAS NO MINISTÉRIO PUBLICO E NA POLICIA
                         FEDERAL,       DE     ILHÉUS.    [...] ESPERO QUE AS
                         AUTORIDADES FAZ O SEU PAPEL QUE SEJAM
32

                         PROFICIONAIS, CHEGA DE IMPUNIDADE, VAMOS FAZER
                         JUSTIÇA, VAMOS COLOCAR OS CULPADOS NA CADEIA.

                         sebas disse:

                         domingo, 10 de outubro de 2010 as 6:07
                         Hoje de manha recebei varios recados no meu celular…
                         [...] o recado era: “A retomada foi invadida pelos pistoleros
                         hoje pela manha, só quem esta na área são os homens, as
                         mulheres foram obrigadas a sai. ESTA VENDO UMA GUERRA
                         HORRIVEL, por favor entre em contato com a funai para ajudar
                         no reforço, Yonana diretamente da retomada”
                         Existe uma corrente para divulgar os acontecimentos
                         diretamente da retomada… (ÍNDIOS ONLINE, 2010).


      A presença constante dos comentários serve não apenas como uma forma de
intervenção dos leitores, dos outros integrantes no conteúdo abordado, mas também
como um meio de estímulo ao trabalho dos Índios Online. Ao final de cada texto,
junto com o nome e uma breve descrição do usuário, é exibido o número de artigos
já postados por ele (com um link que leva para uma listagem desses textos). No
caso de Juayran, por exemplo, que no dia 05 de outubro de 2010 apresentou o texto
“A beleza do Rio São Francisco” (figura 8), descrevendo o rio São Francisco e
destacando a necessidade de sua preservação, podem ser vistos os seguintes
comentários sobre a matéria:

                         seredser disse:

                         quarta-feira, 06 de outubro de 2010 as 7:13
                         juayran sua materia é muito boa, nós temos o dever de
                         presevar o nosso querido velho chico, por que como vc falou
                         uma belesa como essa não passa despecebido por que o
                         nosso rio é lindo demais.

                         Josemar pires disse:

                         quarta-feira, 06 de outubro de 2010 as 9:52
                         ola juayran , o são francisco apesar de tanta poluição ainda
                         guarda suas belezas. (ÍNDIOS ONLINE, 2010).
33

                                       Figura 8




           Página do artigo "A beleza do Rio São Francisco", publicado por Juayran
                                   (11 de outubro de 2010)



      Para Juayran, que até o momento registrava oito artigos publicados na rede
Índios Online, os comentários sobre seu trabalho podem manifestar não apenas o
interesse pelo assunto abordado, mas o incentivo para prosseguir suas experiências
e seguir cada vez mais atuante na rede Índios Online, além de estender sua voz,
sua atividade para outras redes digitais de raiz indígena e não-indígena. Enfim,
buscar oportunidades de atuação e representação na Internet, na sociedade digital,
através da comunicação.
      Ainda em relação aos conteúdos observados nas matérias do Índios Online,
percebe-se de que modo práticas culturais, religiosas, tendências e mesmo vícios
antes considerados “não-indígenas” hoje se encontram inseridos, de alguma forma,
no cotidiano desses grupos de forma bastante natural. Não estamos nos referindo
apenas ao uso da Internet e da inclusão digital nessas tribos, mas de influências
relativas ao consumo em geral e mesmo à religião. Um exemplo interessante é o
texto publicado por Hemerson Pataxó no dia 27 de setembro de 2010, “Um dia sem
drogas”. Na matéria Hemerson destaca um seminário, organizado pelas próprias
instituições indígenas na cidade de Pau Brasil (BA), abordando os malefícios do
consumo de drogas em geral.
34

      O encontro contou com a presença de representantes indígenas da FUNASA
e psicólogos, além de depoimentos de índios ex-usuários de drogas. A matéria de
Hemerson Pataxó é só um exemplo de como as influências nascentes no centro das
sociedades urbanas tem afetado essas comunidades, tanto para o bem quanto para
o mal. Essa tendência é natural e praticamente inevitável, com a expansão da
globalização e a introdução cada vez mais profunda dos povos indígenas na
sociedade e no ciberespaço. A preocupação, no entanto, é de se saber selecionar
quais influências podem ser negativas ou positivas, usá-las com moderação
estabelecendo cada um seus devidos limites, e tomando iniciativas para repelir
aquilo de negativo que possa se aproximar. Trata-se de uma questão de
conscientização e bom senso que deveria estar presente e ser estimulada não só
entre os povos indígenas, mas em toda a sociedade.
      Outro ponto de miscigenação visível dentro da cultura indígena, e cujo teor
fica claro no contexto das matérias publicadas no Índios Online diz respeito à
religião. A inserção dos costumes das igrejas cristãs na cultura indígena é assunto
de bastante relevância e conflito para esses povos. Apesar da diversidade religiosa
presente entre as comunidades indígenas atuais, existe um grande esforço para que
sejam preservadas e respeitadas as tradições de culto de seus antepassados.
Embora exista espaço para manifestações de fé católica e evangélica dentro das
aldeias, para muitos índios algumas dessas igrejas ameaçam as tradições,
estruturas e direitos naturais dos povos indígenas.
      O desejo de preservação do patrimônio natural e passado histórico são
marcantes na discussão da cultura religiosa indígena. O ponto de equilíbrio seria
conciliar a liberdade de culto cristão (daqueles que realmente desejarem seguir este
caminho) sem desvalorizar os valores, cultos e tradições históricas indígenas. A
consciência crítica contra a simples imposição de tradições religiosas, sociais e
culturais, a liberdade de culto sem ameaças nem preconceitos: este é o padrão
buscado pela maioria dos representantes indígenas. As igrejas católica e evangélica
normalmente são criticadas por tentarem afastar os povos das aldeias de suas
crenças, valores e ideais tradicionais, o que é visto como abuso pelos indígenas.
Portanto, além do respeito e tolerância por parte das instituições religiosas, é
necessário estimular nos índios essa reflexão e visão crítica sobre os valores,
ideologias e crenças que lhes são apresentados.
35

      A preservação dos hábitos e tradições indígenas é tema de muitos artigos,
além de depoimentos e opiniões de vida dos próprios índios. No caso do texto de Fa
Tupinambá, autora de “Pintura Tupinambá” (22 de setembro de 2010), a arte da
pintura corporal indígena é mostrada como uma prova de resistência e
representação deste povo que se mantém viva através dos tempos:


                         Para nós Tupinambá a pintura é de muita importância, pois é
                         uma forma de nos afirmamos como uma comunidade indígena,
                         por conta que é uma pintura unica de nosso povo, fortalecendo
                         assim nossa identidade étnica. Nossa pintura tanto a corporal
                         como as diversas outras pinturas, que pertence ao nosso povo
                         é repassada de pai para filho, e tem diversos significados que
                         vai desde a pintura para guerrear até a pintura de festa. As
                         tintas para pintura corporal é feita de jenipapo ainda verde,
                         onde ralamos e esprememos para extrair o caldo do fruto,
                         desse caldo misturamos com carvão para que ele fique mais
                         escuro.
                         A tinta do jenipapo demora em media 15 dias para sair do
                         corpo, mesmo agente lavando e escovando bem a pele, a
                         permanecia da tinta em nossa pele é a mesma. [...] é de
                         costume da maioria dos índios se pintarem, assim quando
                         estivermos na caminhada nos mostramos com uma cultura
                         forte e resistente. Que mesmo depois de varias repressões,
                         massacres e discriminações, o nosso povo se fortalece cada
                         vez mais e mais, e a quem dizia que o povo Tupinambá era um
                         povo extinto, estamos aqui para mostrar que não, e que somos
                         um povo forte e resistente, com uma cultura forte e com
                         pinturas lindas e expressivas. (FÁ TUPINAMBÁ, 2010).


      Além da arte e da cultura, manifestos, depoimentos e relatos de experiências
de vida também compõem o material da rede Índios Online. Texto publicado em
nome de Seu Gino, em julho de 2005, é um bom exemplo do registro histórico das
memórias das tribos indígenas; intitulado “Nossos avós levantavam cedo”, o artigo
traz uma visão crítica e pessoal da história da colonização e da atual situação
indígena. A tristeza pela exploração do passado e o desejo de um futuro melhor são
as marcas do pensamento expresso por Seu Gino:


                         Nossos avós levantavam cedo, pegavam seus arquinhos e iam
                         para o mato. Matavam um nambu, um preá, um tatu, viviam
                         comendo batatas do mato, tipã, gravitaia, agisaia, salbu (fruta
                         selvagem), mandaunhão, não trabalhavam que nem hoje. Ele
                         vivia do mato, caçando seus inhames. Depois o branco tomou
                         conta, desmatou a floresta, aí o índio não teve como viver
                         mais. Eles foram tomando as terras do índio, dizendo assim:
                         “Índio vamos trocar essa terra por uma cabeça de animal!”.
36

                          Depois o branco pegava a terra e dava só a cabeça do animal,
                          não era um animal inteiro, se aproveitava da fome para
                          enganar e pouco a pouco ia tirando nossas terras.
                          [...] Os costume da gente é a parte da Natureza que Deus
                          deixou aqui na terra e nós não podemos trocar essa sabedoria
                          pela sabedoria do branco. Não podemos só estudar e esquecer
                          nossos costumes. O branco quer que a gente esqueça até o
                          nome de Deus, porque nosso direito é levantar e dar benção ao
                          pai e a mãe, isso para o pai lembrar o nome de Deus todo dia.
                          O estudo trás bom dia pai, bom dia mãe e faz esquecer o nome
                          de Deus. Aqui na terra estamos todos juntos, com um Deus só.
                          Nós temos que ser todos por um e um por todos. Nós temos
                          que seguir um caminho. Estamos na beira do abismo, sem
                          promessas para o futuro, muitas pessoas fazendo as coisas
                          erradas, saindo do caminho. Nós temos que conversar, sentar
                          juntos e combinar as coisas. (SEU GINO, 2005).



       Manifestos de necessidade de luta, mobilização e atuação indígena, como o
artigo “Vida de Guerreiro”, assinado por Seredser em 07 de outubro de 2010,
também representam o apelo dos indígenas na necessidade de manter suas
culturas, raízes e objetivos, sem se deixar corromper por outros valores ou
ideologias que não sejam positivas.


                          Desde que o Brasil foi descoberto que nós índios viemos
                          lutando, lutando contra a escravidão, lutando pela democracia,
                          lutando por uma vida melhor. Hoje que estamos totalmente
                          civilizados, temos lutado pelos o que tiraram da nós,o que é
                          nosso por direito, que é a nossa língua e o que é mais
                          importante as nossas terras, quem é que não quer ter o seu
                          pedaço de terra para criar o seu gado, para plantar legumes,
                          fazer sua casinha e morar com sua família, fazer uma roda de
                          toré todas as noite e repassar sua cultura.
                          Guerreiro que é guerreiro luta pelos seus objetivos, luta para
                          que eles nunca venham desaparecer, cultiva os seus costume,
                          acredita que um dia vai vencer, nós podemos perde a batalha
                          mais a guerra nós nunca perdemos, por que quem acredita em
                          Deus enfrenta vários obstáculos mais no final sempre vence.
                          (SEREDSER, 2010).



      Além de depoimentos, denúncias e cenas do cotidiano das aldeias indígenas,
o Índios Online também procura dar destaque a todo assunto relativo à inclusão e
investimento digital entre os indígenas. Esse tipo de iniciativa também é ressaltada,
justamente para estimular e mostrar que é possível a realização desse tipo de
projeto. Vale lembrar que, estruturalmente, parte da estratégia de divulgação e
37

multiplicação do material publicado no portal Índios Online inclui as funções de
impressão e divulgação por email das matérias publicadas, representadas por
ícones dentro da própria página de texto, contribuindo assim para a expansão e
divulgação desses conteúdos para públicos mais amplos. Para facilitar a navegação
do internauta, cada página de texto também inclui links diretos para o último artigo
publicado anteriormente e o que tenha sido publicado depois.
      Um marco importante para o trabalho dos integrantes da rede Índios Online
foi a representação nos anos de 2009 e 2010 no Campus Party Brasil, evento
realizado anualmente em São Paulo desde 2008. A exposição, realizada no mês de
janeiro, reúne novidades, grupos, palestras, debates, oficinas, tudo relacionado à
Internet ou às novas tecnologias. Nas duas edições em que participou do evento, o
Índios Online manteve um estande próprio com exibição de vídeos, materiais e
conteúdo sobre o projeto. Durante os dias do evento, é feita uma cobertura diária,
pelos próprios indígenas, de tudo o que acontece por ali, além de suas impressões
particulares de tudo o que foi apresentado. No ano de 2009, por exemplo, quando o
Campus Party deu destaque especial às mídias digitais móveis, o Índios Online
aproveitou para promover a iniciativa Celulares Indígenas, além de apresentar
palestras e entrevistas sobre o tema. Naquele ano foram ao Campus Party sete
integrantes da Índios Online, seis da Bahia e um da Paraíba. A viagem e a estadia
em São Paulo, no período do evento, foi concedida pela própria organização do
Campus Party e pelo MinC.




2.3 A presença indígena na Internet


      O portal Índios Online, que de abril de 2004 até o dia 11 de outubro de 2010
registrara 1.866.860 acessos, é considerado uma inovação entre os meios de
comunicação digital feitos por e para os povos indígenas, pois ao contrário de outras
tentativas postas em prática anteriormente, o site permite o uso e associação de
ferramentas colaborativas, onde qualquer usuário de postar, enviar informações ou
colaborar, numa integração até então não experimentada na comunicação entre
indígenas (PEREIRA, 2008). A presença indígena na Internet, embora relativamente
pouco expressiva, tem se mostrado cada vez mais crescente, especialmente no
Brasil. Em levantamento realizado no mês de setembro de 2008 por Eliete da Silva
38

Pereira foi calculado um total de 39 sites brasileiros voltados para o público
indígena, alguns infelizmente até já desativados.
      No Brasil, os primeiros registros de participação indígena na Internet datam
de 2001, e de lá para cá essas manifestações se multiplicaram em sites, blogs,
comunidades virtuais e portais. O portal, como é o caso da rede Índios Online, se
difere dos sites comuns exatamente pelas múltiplas funções e possibilidades de
interatividade e comunicação entre usuário e produtor de informação que oferece.
Os participantes da rede podem se comunicar de qualquer distância em tempo real
(via chat, por exemplo) e pela troca de mensagens e comentários simples. Segundo
os dados da pesquisa de Pereira a presença indígena na Internet pode ser escalada
do seguinte modo: 70,27% de sites; 27,02% de blogs e 2,70% de portais,
equivalente à rede Índios Online. Desses, 56,7% utilizavam serviços de hospedagem
de sites gratuitos e 43,25% domínios de sites pagos.
      No total são 48,64% dos sites em plena atividade e atualização, embora esta
seja uma tendência crescente. Em 2008, 70,27% dos sites exploravam recursos de
interatividade. A Internet se tornou um importante ambiente interétnico e de
(re)formulação étnica não só para os indígenas, mas para todos os povos muitas
vezes considerados “excluídos”, à margem do contexto social. 62,71% dos sites e
portais de atuação indígena no Brasil são gerenciados por organizações derivadas
das próprias aldeias, de abrangência nacional, regional ou local. Isso demonstra o
quanto o ambiente digital tem sido visto e desenvolvido como meio propício à luta
por direitos, instrumento de reivindicações políticas e visibilidade étnica perante a
sociedade global.
      Aos poucos, essas organizações se aperfeiçoam no serviço de gestão de
informação e boa utilização dos recursos disponibilizados, criando mais experiência
e tomando consciência de como a comunicação pode servir positivamente aos
movimentos sociais. A atuação indígena na Internet, como vimos no exemplo do
projeto Arco Digital, vem associada a outras iniciativas de políticas públicas em
áreas como a saúde, educação, conscientização ambiental e uso de informática.
Portanto, é válido dizer que a inclusão digital nas aldeias reflete em benefícios e
desenvolvimento para toda a comunidade, que consequentemente propiciam o
incremento da experiência indígena na Internet. O protagonismo indígena
identificável nos sites, portais e mesmo em redes sociais de relacionamentos (como
o Twitter e em comunidades virtuais do Orkut) permite que esses indivíduos
39

exerçam sua cidadania de forma mais atuante, ativa e consciente: fiscalização da
gestão pública de recursos destinados às populações indígenas, denúncias contra
violação de direitos indígenas, articulações de apoio entre povos indígenas e não
indígenas para ações específicas em rede, direito à voz e acesso ao conhecimento.
         Observa-se um amadurecimento constante do movimento indígena e
crescimento no número e na diversidade de organizações nativas, dirigidas pelos
próprios índios, que buscam cada vez mais participar na formulação e execução das
políticas para os povos indígenas. Além disso, organizações não-governamentais
(ONGs) têm aumentado sua participação na formulação e execução de políticas
indigenistas, função antes atribuída exclusivamente ao Estado brasileiro. A rede
digital é importante também como instrumento político para as tribos indígenas, pois
é um bom instrumento de reforço e difusão de ideias de identidade, o que aumenta a
responsabilidade das organizações indígenas em difundir ideias para a obtenção de
ações e conquistas políticas justas. Enfim, a rede digital abriu, como define Yakuy
Tupinambá, do Índios Online, novas possibilidades para a comunidade indígena em
todas as áreas:


                                       A internet promoveu a abertura de horizontes – contrariando o
                                       pensamento de uma grande maioria interessada em nos
                                       manter amordaçados – trouxe-nos novos significados, sem que
                                       isso implique no abandono das nossas tradições. Devolvendo
                                       nossas vozes, que foram caladas por muito tempo, coberta
                                       pelas vozes dos que julgam especialistas. Conectar-se ao
                                       mundo através da internet é ter direito a ter um rosto, e fazer
                                       ouvir nossa voz é saber dos acontecimentos e interesses que
                                       envolvem toda a humanidade. Através desse mecanismo
                                       tecnológico conseguimos perceber uma janela para o mundo, a
                                       tão sonhada inclusão dos Povos Indígenas, como sociedade
                                       fundamentada, negada há décadas e décadas. (YAKUY
                                       TUPINAMBÁ, 2008).14



         A presença indígena na Internet é importante não só para apresentar o
cotidiano dessas tribos a um público mais extenso, mas também para que as
comunidades possam redefinir e atualizar a imagem que tem deles mesmo, e a que
querem passar a outros usuários indígenas e não indígenas. Esse processo de auto-


           O depoimento de Yakuy Tupinambá foi extraído do artigo Ciborgues Indígen@s.br: entre a atuação nativa no
1        4

ciberespaço e as (re)elaborações étnicas indígenas digitais, de Eliete da Silva Pereira, publicado no ano de 2008.
40

representação resulta num processo de fortalecimento cultural, elevando a auto
confiança desses povos muitas vezes tão sufocados por estigmas e preconceitos. O
fortalecimento cultural é justamente o conjunto da prática representativa, da atuação
dos grupos indígenas na rede. A presença dos índios no ambiente de comunicação
digital mostra formas de compartilhamento de significados que rompem, pelo menos
em      parte,    a     dependência   desses   indivíduos   em   relação   a   instituições
governamentais incumbidas de representá-los, oferecendo uma visão particular e
livre desses grupos.
         A ação comunicativa na rede digital tem resultados no modo em que esses
grupos são vistos pela sociedade não indígena e no modo como eles mesmos se
veem e se definem em rede. Um dos resultados dessa expansão da participação e
representação indígena na rede digital é demonstrado ativamente através da rede
Grumin, de representação de mulheres indígenas. A rede Grumin surgiu oficialmente
no ano de 1987, e foi fundada por Eliane Potiguara em cima da experiência de vida
de sua avó, Maria de Lourdes de Souza, índia nascida na Paraíba cuja história é
marcada pela sobrevivência física, moral e étnica. Eliane ainda é conselheira do
Instituto Indígena de Propriedade Intelectual (Inbrapi) – órgão promotor da defesa de
bens e direitos relativos ao meio ambiente e ao patrimônio intelectual dos povos
indígenas - e coordenadora da Rede de Escritores Indígenas na Internet.
         A Grumin atua basicamente na defesa dos direitos dos povos indígenas,
oferece projetos de capacitação e formação para mulheres em diversas áreas, atua
em parceria com diversas entidades de defesa do meio ambiente e movimentos
sociais, além de difundir informação sobre as ações do órgão através do portal
Grumin Online15 (figura 9). O Grumin dá prioridade e assistência a mulheres
indígenas ou afrodescendentes, de alguma forma excluídas socialmente. O site do
projeto Grumin, além de explicar as ações, objetivos, parceiros e iniciativas do
grupo, publica notícias referentes ao universo e às conquistas sociais, políticas e
culturais dos negros e indígenas, especialmente as mulheres, com espaço aberto
inclusive para comentários dos internautas.
         Além dessas iniciativas, o Instituto Socioambiental (ISA), ONG criada em
1994 que incorpora o patrimônio do Programa Povos Indígenas no Brasil do Centro
Ecumênico de Documentação e Informação (PIB/Cedi), e o Núcleo de Direitos
Indígenas (NDI), do Ministério da Justiça, em Brasília, também têm desenvolvido
1   5
         http://www.grumin.org.br/
41

trabalhos importantes na divulgação e preservação da cultura indígena. Todos esses
projetos estimulam e convergem para uma maior inserção e associação de todos os
grupos sociais considerados marginalizados ou não.


                                       Figura 9




               Página inicial do portal da rede Grumin (16 de outubro de 2010)



      Cada um deles, a sua maneira, com os recursos e apoio disponíveis, são
exemplos de como a rede digital, a Internet, pode ser campo fértil na prática da
comunicação popular. Com estrutura material disponível e gerenciamento adequado,
é possível administrar e expandir um projeto de comunicação de qualidade voltado
às comunidades, sem dependências governamentais e empresariais que aprisionem
e restrinjam a prática comunicacional. E esse trabalho bem sucedido reflete em
conquistas para toda a comunidade, não só em relação à comunicação, mas em
vários âmbitos. Na interação com as modalidades de comunicação digital, o
protagonismo indígena assume formas criativas em que o diálogo intercultural não é
mediado por instituições indigenistas que antes eram as únicas mediadoras. Em
muitos momentos essa independência dessas instituições possibilita que os próprios
indígenas exponham suas críticas em relação às entidades governamentais que os
representam. Para os próprios indígenas, no exemplo da rede Índios Online, a
criação   e desenvolvimento do projeto beneficia principalmente pelo intercâmbio
42

cultural, a troca de experiências entre os integrantes da rede. O que antes só podia
ser discutido, debatido e compartilhado através de encontros pessoais, de forma
muito limitada, a Internet ajudou a transformar para melhor.
      A Internet propicia um trabalho autônomo de comunicação e a não-
interferência de instituições e órgãos majoritários, que poderiam acabar “desviando”
o foco das necessidades e anseios dos povos indígenas também é vista como um
ponto positivo oferecido pelo ambiente da rede digital. Pela conexão e interação via
Internet os povos indígenas divulgam seus valores e pontos de vista para o mundo
formando redes de apoio, conhecendo pessoas, construindo relacionamentos e se
fazendo presentes além das aldeias e espaços territoriais demarcados. Como
explica Yakuy Tupinambá:


                           Novas realidades são construídas, sem que isso implique
                           abandono de nossas tradições. Toda a sociedade se move, se
                           expande, enquanto a nossa tem que permanecer fixa, imutável,
                           para atender à necessidade de uma saudade da tradição?
                           Tradições são sistemas intelectuais dinâmicos capazes de
                           mudar... conectar-se ao mundo através da Internet é ter direito
                           a ter um rosto e mostrar nossa voz. É saber dos
                           acontecimentos e interesses que envolvem toda a humanidade.
                           Fazemos parte desse contexto. (Idem, 2008).


      Em artigo publicado por Rodrigo Diego dos Santos (Rodrigo Makuxi) no dia 29
de setembro de 2010, integrantes da rede expõem suas opiniões em relação ao
trabalho do Índios Online como um movimento social indígena e as parcerias futuras
(ou já realizadas) com organizações de iniciativas semelhantes dispostas a ajudar
de alguma forma (principalmente na questão estrutural) no desenvolvimento da rede:


                           RODRIGO MAKUXI - 'Quanto mais parcerias tivermos dos
                           nossos parentes será muito melhor, pois é nelas que estão e
                           saem as demandas do que realmente acontecem em nossas
                           aldeias e comunidades indigenas. E nisso também ajudara a
                           ficarmos muito mais autonomos contando com o apoio de cada
                           uma delas. E rede ajudara a circula as necessidades e outros
                           parentes puderam dar ideias. E sobre a reflexão acho que não
                           diretamente mas a Rede Indios Online é sim movimento que
                           esta se repercutindo no brasil.'
                           ALEX MAKUXI - 'Somos sim um movimento social indígenas.
                           E isso está nas petições on line que fazemos. No apoio,
                           quando fazemos matérias sobre o que acontece nas aldeias e
                           nos estados. Mais de certa forma também estamos distantes. E
                           acredito que com essa parceria podemos sim estar cada dia
                           mais presentes nos movimentos sociais indígenas, e da
43

                          mesma forma que contribuimos com cada uma elas também
                          contribuem com a rede'
                          FABIO TITIÁ - 'para que serve o indios online se não poder
                          ajudar o seu povo. Para que servem a internet para nós classe
                          em grande parte excluida, vivendo em situações desumana, se
                          não for para mostrarmos a realidade e buscar ajuda pelo o
                          mundo afora, que tem senso de justiça. Indios Online, é preciso
                          que nos fortalecemos para ajudar o nosso povo no momento
                          certo, ou seja está presente na hora certa seja fisico ou em
                          espirito. A nossa rede está sendo motivada a fazer de fato o
                          papel de um índio online. Parabens parentes todos são felizes
                          nos seus texto, bola para frente, rumo em defesa de nossos
                          direitos.' (SANTOS, 2010)



      Pelos depoimentos apresentados, é possível avaliar a relevância que o canal
Índios Online tem como ferramenta de comunicação e desenvolvimento geral das
comunidades para os povos indígenas. As parcerias com instituições de interesses e
objetivos semelhantes ajudam na expansão dessas redes, contribuindo para uma
independência maior e atividade mais eficiente. A iniciativa do projeto Índios Online
também ajuda a aproximar essas pessoas e organizações, muitas vezes
geograficamente distantes, levando mais eficiência ao trabalho da rede. A Internet
representa uma voz para os povos indígenas, uma forma de serem incluídos e
expressarem sua diferença, possibilidade de auto representação sem a mediação de
nenhuma instituição. As transformações culturais desde o período colonial,
passando pelo etnocídio e esquemas de assimilação e mistura, até as mudanças
sofridas durante esses processos não provocaram uma perda ou desaparecimento
das referências étnicas indígenas por esses sujeitos e grupos.
      A luta dos indígenas pelo direito à assistência e demarcação de terras passa
pela intermediação comunicativa, seja na divulgação de denúncias e reivindicações
por meio da rede, seja pelo contato com pessoas e apoiadores envolvidos com a
questão indígena. A rede digital serve como um recurso essencial para auto
desenvolvimento dos povos indígenas participantes, ávidos em buscar novos
caminhos com o estudo de formas alternativas de sustentabilidade. A Internet atesta
uma permanente e ativa presença indígena, num contexto muitas vezes de
invisibilidade étnica por parte do próprio Estado. Ainda há o que se fazer no sentido
da inclusão indígena no uso das tecnologias digitais, como lembra Potyra Tê
Tupinambá: “Este mundo (das tecnologias) já está presente em nossas
comunidades. No Brasil existem duas realidades indígenas distantes. Os índios da
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A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

  • 1. BRUNA DE LIMA SILVA O USO DA INTERNET NA COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA: ANÁLISE DO PORTAL ÍNDIOS ONLINE LONDRINA 2010
  • 2. BRUNA DE LIMA SILVA O USO DA INTERNET NA PRÁTICA DA COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA: ANÁLISE DO PORTAL ÍNDIOS ONLINE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina. Orientador: Prof. Dr. Rozinaldo Antonio Miani LONDRINA 2010
  • 3.
  • 4. BRUNA DE LIMA SILVA O USO DA INTERNET NA PRÁTICA DA COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA: ANÁLISE DO PORTAL ÍNDIOS ONLINE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina. COMISSÃO EXAMINADORA ____________________________________ Prof. Dr.Rozinaldo Antonio Miani Universidade Estadual de Londrina ____________________________________ Prof. Dra. Florentina das Neves Souza Universidade Estadual de Londrina ____________________________________ Prof. Dra. Rosane da Silva Borges Universidade Estadual de Londrina Londrina, _____de ___________de _____.
  • 5. AGRADECIMENTO (S) A Deus, o primeiro e verdadeiro motor e incentivo de todas as ações e etapas realizadas desde a idealização deste projeto, até sua finalização. Ao professor e orientador Rozinaldo Antonio Miani e todos os demais professores da Universidade Estadual de Londrina que de alguma forma contribuiram e apoiaram a elaboração e andamento deste trabalho em todas as suas etapas. Aos amigos e colegas que serviram de incentivo durante a execução do trabalho, sendo importante base de sustentação diante das limitações e oferecendo apoio constante. Aos familiares pela presença imprescindível, o apoio, o carinho e a dedicação pessoal em todos os momentos. Agradecimentos também a Anápuáka Muniz, da Web Brasil Indígena, Potyra Tê Tupinambá e Sebastián Gerlic, da gestão da rede Índios Online, pela receptividade e disposição em colaborar com informações via email para a execução do trabalho.
  • 6. SILVA, Bruna de Lima. O uso da Internet na prática da comunicação comunitária: Análise do portal Índios Online. 2010. Número total de folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social - Jornalismo) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2010. RESUMO O seguinte trabalho tem como objetivo analisar o projeto Índios Online e através dele avaliar como a Internet e seus recursos de mídia digital podem ser utilizados em benefício da comunicação comunitária. O portal Índios Online existe desde 2004 e caracteriza-se no padrão de comunicação comunitária pois todo o seu conteúdo é produzido e divulgado por grupos indígenas, além de ser voltado também para esse público. É coordenado pela ONG Thydewá, com apoio do Ministério da Cultura e do governo federal. Faremos uma abordagem sobre a história e desenvolvimento do site, além de uma descrição estrutural. Observaremos de que maneira os recursos multimidia (como vídeos e fotos) são utilizados e o padrão de conteúdo e de forma observado nos textos e na linguagem. Além disso, avaliaremos quais são os meios usados para interação com o público fora das comunidades indígenas que colaboram com o site, os resultados positivos que o projeto da rede Índios Online trouxe para as comunidades integrantes e quais expectativas ainda devem ser atendidas. Palavras-chave: Comunicação. Comunidade. Indígenas. Interatividade. Internet.
  • 7. SILVA, Bruna de Lima. Internet use in the practice of community communication : Analysis of the project Índios Online. 2010. Número total de folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social - Jornalismo) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2010. ABSTRACT The following study aims to analyze the project Índios Online and through it to evaluate how the Internet and its digital media capabilities can be used to benefit the community communication. Portal Índios Online exists since 2004 and characterized the pattern of community communication for all its content is produced and disseminated by indigenous groups, and is also directed to that audience. It is coordinated by the NGO Thydewá, supported by the Ministry of Culture and the federal government. We will make an approach on the history and development of the site, beyond a structural description. We will see how the multimedia features (such as pictures and videos) are used and the standard of content and form found in the texts and language. In addition, we will assess what means are used to interact with the public outside of indigenous communities that contribute to the site, the positive results that the network project Índios Online brought to the community members and expectations what still must be met Key-words: Communication. Community. Interactivity. Internet. Native.
  • 8. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Página inicial do portal Índios Online (05 de outubro de 2010) ... .......... 18 Figura 2 – Página do Google Maps mostrando as aldeias onde estão presentes pontos do Índios Online: cada "@" marcada no mapa representa uma aldeia diferente (06 de outubro de 2010) ....................................... 19 Figura 3 – Janela do chat do portal Índios Online (06 de outubro de 2010) ............ 20 Figura 4 – Perfil na rede social de comunicação Twitter do portal Índios Online (06 de outubro de 2010)................................................................................ 21 Figura 5 – Página inicial do canal da Índios Online no portal Youtube (06 de outubro de 2010) ........................................................................................... 24 Figura 6 – Página inicial do blog Retomada Tupinambá (13 de outubro de 2010) .. 29 Figura 7 – Fotografia tirada durante oficina realizada pelo projeto Fotografia Tupinambá. Autor: Alessandro Tupinambá (13 de outubro de 2010) ..... 30 Figura 8 – Página do artigo "A beleza do Rio São Francisco", publicado por Juayran (11 de outubro de 2010) ....................................................................... 33 Figura 9 – Página inicial do portal da rede Grumin (16 de outubro de 2010) .......... 41 Figura 10 – Página inicial do portal do grupo Esperança da Terra (13 de outubro de 2010) ........................................................................................... 55 Figura 11 – Página inicial do portal da Web Brasil Indígena (13 de outubro de 2010) ........................................................................................... 58 Figura 12 – Cartaz de divulgação da pré-estreia do documentário Indígenas Digitais em Salvador - BA (18 de outubro de 2010)................................. 61 Figura 13– Página inicial do portal Indígenas Digitais (17 de outubro de 2010) ...... 64
  • 9. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AJI – Ação dos Jovens Indígenas AL - Alagoas ANAI – Associação Nacional de Ação Indigenista APOINME - Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste Minas Gerais e Espírito Santo BA - Bahia BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Cedi – Centro Ecumênico de Documentação e Informação CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço Embratel – Empresa Brasileira de Telecomunicações FUNAI – Fundação Nacional do Índio Funarte – Fundação Nacional de Artes FUNASA – Fundação Nacional de Saúde GESAC – Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão Inbrapi – Instituto Indígena para Propriedade Intelectual ISA -Instituto Socioambiental MinC – Ministério da Cultura MS – Mato Grosso do Sul NDI – Núcleo de Direitos Indígenas ONG – Organização Não Governamental PDF – Portable Document Format – Documento em Formato Portátil PE - Pernambuco PIB – Povos Indígenas no Brasil RJ – Rio de Janeiro S/A – Sociedade Anônima SP – São Paulo STF – Supremo Tribunal Federal Unesco – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization - Organização Educacional, Cultura e Científica das Nações Unidas
  • 10. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 09 2 A REDE ÍNDIOS ONLINE E A PRESENÇA INDÍGENA NA INTERNET ............... 14 2.1 O PORTAL ÍNDIOS ONLINE E O ARCO DIGITAL ........................................................... 17 2.2 O QUE TÊM A DIZER OS ÍNDIOS ONLINE..................................................................... 27 2.3 A PRESENÇA INDÍGENA NA INTERNET ....................................................................... 37 3 A COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA NA INTERNET ............................................. 45 4 A WEB BRASIL INDÍGENA E O PROJETO ESPERANÇA DA TERRA .............. 54 4.1 O DOCUMENTÁRIO INDÍGENAS DIGITAIS ................................................................... 59 4.2 OBJETIVOS ATINGIDOS, EXPECTATIVAS E NECESSIDADES PENDENTES NA COMUNICAÇÃO DIGITAL ............................................................................................ 70 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 78 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 80 ANEXOS ................................................................................................................... 83 ANEXO A – Documentário Indígenas Digitais ........................................................... 84
  • 11. 9 1. INTRODUÇÃO A profusão da Internet e das tecnologias mais recentes como alternativas de comunicação de certo modo levou a mídia, que até o final do século XX se concentrava em difundir seu conteúdo de forma massiva através dos meios eletrônicos - rádio, TV e impressos -, a descobrir e explorar esse potencial ambiente comunicativo digital. Em seus estudos sobre o ciberespaço, definido superficialmente com “um espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e de suas memórias” (LÉVY, 1999, p.92), o filósofo francês Pierre Lévy já apresentava esse novo meio digital como um espaço de interações, de práticas e relacionamentos humanos antes restritos apenas ao ambiente físico. A prática da comunicação comunitária, vista como uma alternativa de sociabilidade dos grupos minoritários (FERNANDES, 2007), encontra nos meios digitais e na Internet uma alternativa simples, relativamente barata e que não exige experiência elevada. Entre os diferenciais da rede estão a estrutura basicamente não-linear, ausente no material impresso, por exemplo, e as ligações hipertextuais, que permitem ao usuário se movimentar mediante as estruturas de informação do site sem uma sequência predeterminada, mas sim saltando entre os vários tipos e dados que necessita (PINHO, 2003), com o auxílio dos chamados links. A Internet também se destaca pelo modo ágil e instantâneo como as informações podem ser apuradas, publicadas e dispersas por todos os limites da rede; a perenidade das informações, que ficam arquivadas (e muitas vezes acessíveis a maioria das pessoas) por tempo indeterminado; e talvez um dos fatores mais importantes, a interatividade digital: a Internet possibilitou uma grande variedade de opções de interação online entre usuários, até então não explorada pelos meios de comunicação convencionais. A interação é característica comum das interações sociais do cotidiano, mas a ascensão das tecnologias e relações digitais ajudou a ampliar esse conceito. O conceito de comunidade, incluindo aí o de comunicação comunitária, não se restringe mais à prática social e comunicativa realizada dentro de um espaço geográfico limitado:
  • 12. 10 Há mudanças substanciais nas concepções de comunidade, ao mesmo tempo em que alguns de seus princípios ainda se verificam. O sentimento de pertença, a participação, a conjunção de interesses e a interação, por exemplo, são características que persistem ao longo da história, enquanto a noção de lócus territorial específico como elemento estruturante de comunidade está superada pelas alterações provocadas pela incorporação de novas tecnologias da informação e comunicação. Sem menosprezar que a questão do espaço geográfico continua sendo um importante fator de agregação social em determinados contextos e circunstâncias (PERUZZO, 2008, p.12). Os meios de comunicação digitais tecnicamente são um campo ainda pouco explorado dentro da prática comunitária, mas com grande potencial de expansão e utilização, como veremos a partir do exemplo do portal Índios Online 1, que desde 2004 serve como veículo de comunicação para grupos nativos indígenas e mesmo não-indígenas de todo o país. No caso da criação da rede Índios Online, a partir da iniciativa da Organização Não-Governamental (ONG) Thydewá (sediada em Salvador - BA), é relevante lembrar que esta iniciativa de inclusão digital é paralela a outras atividades de caráter voluntário: oficinas realizadas por facilitadores nas áreas de saúde, jornalismo étnico, educação, cidadania e direitos, economia solidária e agroflorestagem; atividades voltadas tanto para os próprios indígenas quanto para a comunidade em geral. A descoberta e exploração adequada de todas as ferramentas proporcionadas pelos meios digitais, além da superação dos desafios que ainda separam a prática comunitária das novas tecnologias, como a necessidade de maior iniciativa de inclusão digital, são questões fundamentais para potencializar o uso da Internet como meio de comunicação comunitária. Como lembra Marili de Souza, em seus estudos sobre a prática comunicativa no contexto das comunidades “o custo dos equipamentos ainda é uma barreira que deixa de fora as populações pobres, embora os telecentros e os softwares livres já enfrentem essa realidade, fazendo aumentar a inclusão entre as camadas mais populares” (SOUZA, 2007, p. 02). A partir dessa iniciativa, é possível expandir os limites dos meios de comunicação comunitários, fortalecendo os grupos e as iniciativas sociais que sustentam esses veículos. No caso da rede Índios Online, de certo modo é possível, inclusive, quebrar a ideia da perda de identidade étnica, a partir do momento que os 1 http://www.indiosonline.org.br
  • 13. 11 indígenas passam a se expressar através da Internet: para esses povos, o contato dinâmico com as redes digitais é um modo de se manter sintonizado às mudanças e avanços sociais e tecnológicos. No entanto a Internet funciona principalmente como uma forma de registrar, manter e globalizar as tradições indígenas, sem esquecer de suas raízes. Através da análise do conteúdo, estrutura e funcionamento do portal Índios Online, nosso objetivo é constatar como as funcionalidades da Internet, da rede digital, podem ser exploradas na prática da comunicação comunitária. O uso da Internet na comunicação comunitária ainda é uma ideia em ascensão, envolta em preconceitos, mas que pode ser bem explorada. A rede tira as pessoas do papel de meros espectadores ou ouvintes – comum na mídia tradicional – e as coloca como difusoras e produtoras de conteúdo (PERUZZO, 2008). A Internet ajuda a romper limites geográficos, quebrando a ideia de que a comunicação comunitária está restrita a um limite territorial, além de possibilitar o uso de diversas mídias (som, texto, imagens) simultaneamente (a chamada convergência) e de forma eficiente. Os desafios da prática da comunicação comunitária na Internet também serão abordados. A administração de funções e objetivos dentro do grupo - comum em qualquer prática comunitária -, a necessidade de recursos materiais para a prática comunicativa, a habilitação adequada para o uso das ferramentas de comunicação. No caso específico da rede Índios Online, a preocupação com a perda da identidade indígena a partir do momento em que esses grupos se identificam na Internet também é vista como um desafio a ser superado. Os próprios indígenas enxergam a rede como uma forma de se integrarem ao mundo globalizado sem perder suas raízes, perpetuando suas tradições e divulgando-as para o resto do mundo (PEREIRA, 2008). São essas questões que abordaremos adiante. A pesquisa apresentada caracteriza-se como um trabalho de observação, exploração, análise e descrição. Através da observação geral do funcionamento, ferramentas e características do site Índios Online tentaremos aplicar estudos teóricos sobre as funcionalidades da Internet e elementos que definem a prática da comunicação comunitária, para mostrar que é possível unir de forma efetiva a rede digital e o conceito comunitário. Estudaremos o site Índios Online em um período de aproximadamente duas semanas, com suas atualizações e todo o material publicado (textos, vídeos, imagens etc). É válido lembrar que os membros da rede Índios Online, os produtores
  • 14. 12 de conteúdo, são oficialmente de tribos indígenas da região nordeste, de estados como Bahia, Alagoas e Pernambuco. No entanto, a participação no site e produção de conteúdos é disponibilizada a qualquer membro da população indígena (e mesmo não-indígena), contanto que o tema apresentado seja de interesse desses grupos, sem teor ofensivo. Como explicado anteriormente, a análise do conteúdo e dos recursos aplicados na estrutura e alimentação do portal Índios Online serão feitos com base na observação, além do contato com representantes do grupo. A princípio a distância geográfica da sede da ONG Thydewá, principal responsável pela organização do projeto, poderia caracterizar uma certa limitação na realização da pesquisa: o contato direto com o processo de produção de conteúdos para o site proporcionaria uma abordagem mais delicada e aprofundada do assunto. No entanto, considerando-se que um dos objetivos do site Índios Online é justamente poder expandir fronteiras de comunicação, levando seu conteúdo para públicos geograficamente mais distantes, pareceu adequado e conveniente manter toda a comunicação necessária através da rede digital. Após a pesquisa teórica, cujo objetivo é coletar o máximo de conteúdo sobre a comunicação digital na Internet e a prática da comunicação comunitária, a próxima etapa é a análise do site e aplicação dos conceitos estudados no modelo do portal Índios Online. Com isto posto, podemos concluir o cumprimento das expectativas já apresentadas. Nos capítulos seguintes apresentaremos, inicialmente, uma descrição geral da estrutura do portal Índios Online, a história do projeto, os principais conteúdos abordados e recursos (que a rede digital disponibiliza) utilizados. Também destacaremos as demais formas de presença indígena desenvolvidas dentro da Internet, direta ou indiretamente inspiradas pelas atividades da rede Índios Online. A partir dessa experiência, ofereceremos a seguir uma abordagem teórica de como a Internet pode ter seus recursos utilizados em benefício da prática da comunicação comunitária. Em destaque apresentaremos também três projetos desenvolvidos com participação direta de membros da equipe da rede Índios Online, que utilizam dinâmicas distintas e demonstram diferentes fases de desenvolvimento da presença indígena na Internet: o portal Web Brasil Indígena, a rede de informação compartilhada Esperança da Terra e o documentário Indígenas Digitais, iniciativa da própria Thydewá que teve seu lançamento no início de 2010. Todas as iniciativas
  • 15. 13 citadas, que detalharemos mais adiante, caracterizam a tendência de se reafirmar a presença indígena no ambiente digital pelas próprias aldeias, inserindo o cotidiano e a cultura desses povos dentro da sociedade urbana sem que eles se percam de suas origens e tradições. A ideia é mostrar que, embora ainda existam muitos limites a ser superados (como falta de equipamentos e questões de acessibilidade, por exemplo), a Internet se encaixa adequadamente na atividade da prática da comunicação comunitária. Não só entre os indígenas, mas em todas as comunidades e grupos que de alguma forma são considerados socialmente excluídos. O ambiente digital tem se tornado não apenas uma extensão da comunicação convencional, praticada no dia a dia, mas de todo tipo de atividade praticada no cotidiano. As práticas sociais em geral aos poucos migraram e se adaptaram aos caminhos e possibilidades digitais. A Internet, por ser um espaço relativamente acessível a qualquer indivíduo e pela sua facilidade de compartilhamento e divulgação de informações tem todo o potencial para ser uma ferramenta útil na comunicação comunitária. É com essa constatação e seus desdobramentos que concluímos nosso trabalho.
  • 16. 14 CAPÍTULO 2 A REDE ÍNDIOS ONLINE E A PRESENÇA INDÍGENA NA INTERNET Como explicamos, o meio digital é atualmente um campo bastante viável para a prática da comunicação, por seus custos reduzidos, manejo simples, grande abrangência e imensa possibilidade de liberdade de comunicação que garante. No entanto, quando se pensa em comunicação na Internet é necessário planejar uma estrutura atraente, prática e que ofereça o máximo de interatividade ao internauta. A partir de uma apresentação do portal Índios Online e uma observação sobre alguns de seus conteúdos, definiremos quais recursos digitais são explorados, suas principais características e também o teor do conteúdo publicado: uma espécie de linha editorial do site. Interessante recordar que o portal Índios Online é essencialmente de comunicação, não de jornalismo; como veremos nos exemplos adiante, o material publicado se caracteriza por possuir um teor opinativo visível. É certo dizer que a maioria das notícias publicadas exprime o sentimento, a visão dos próprios indígenas sobre os atos acontecidos no cotidiano desses grupos. Divulgação de eventos, projetos realizados por ou para a comunidade indígena, denúncia de crimes ou ilegalidades praticadas contra índios ou contra o meio ambiente, atividades do dia a dia das comunidades indígenas, protestos, conflitos indígenas contra órgãos do governo etc., qualquer assunto voltado ao universo indígena, de cultura à política, tem espaço para ser abordado. O portal Índios Online passou a funcionar ativamente a partir de abril de 2004. Foi uma iniciativa da Organização Não-Governamental Thydewá, sediada em Salvador, na Bahia, com colaboração da rede de supermercados Bompreço do Nordeste S/A e do Programa governamental Fazcultura de incentivo ao patrocínio cultural. Em 2004 o governo da Bahia apoiou um projeto de conexão entre aldeias. Foram comprados sete computadores com conexão pelo serviço Star One, da Embratel, com o apoio da Unesco. Foi feito contato com diversas aldeias, das quais foram escolhidos dois representantes de cada uma delas para uma oficina de qualificação, a fim de orientar para o uso dos computadores. A primeira oficina foi desenvolvida em uma semana, em horário integral, em Salvador, na sede da
  • 17. 15 Thydewá, e cada etnia saiu com um computador para ser instalado em suas aldeias, num total de sete aparelhos, além de seis meses de conexão de Internet. O site do portal Índios Online é hospedado atualmente pelo serviço gratuito de gerenciamento de conteúdos na Internet Wordpress 2, e elaborado pelo também gratuito sistema de tecnologia digital Livresoft. Atualmente, onze nações indígenas colaboram ativamente no portal: Kiriri, Tupinambá, Pataxó-Hãhãhãe, Tumbalalá na Bahia, Xucuru-Kariri, Kariri-Xocó em Alagoas e os Pankararu em Pernambuco. No próprio site o projeto Índios Online é descrito como uma oportunidade de diálogo, encontro e troca de experiências entre indígenas e não-indígenas de tribos diversas. A conexão com a Internet é feita dentro das próprias aldeias, buscando o benefício dessas mesmas comunidades. Como explicado no site do portal: Nossos objetivos são: Facilitar o acesso à informação e comunicação para diferentes nações indígenas, estimular o dialogo intercultural. Promover aos próprios índios pesquisarem e estudarem as culturas indígenas. Resgatar, preservar, atualizar, valorizar e projetar as culturas indígenas. Promover o respeito pelas diferenças. Conhecer e refletir sobre o índio de hoje. Salvaguardar os bens imateriais mais antigos desta terra Brasil. Disponibilizar na internet arquivos (textos, fotos, vídeos) sobre os índios nordestinos para Brasil e o Mundo. Complementar e enriquecer os processos de educação escolar diferenciada multicultural indígena. Qualificar índios de diferentes etnias para garantir melhor seus direitos (ÍNDIOS ONLINE, 2010). Todos colaboram na rede voluntariamente e, desde 2005, o projeto conta com o apoio do Ministério da Cultura (MinC), que auxilia através dos programas Pontos de Cultura Viva e Associação Nacional de Apoio ao Índio (ANAI). O Pontos de Cultura Viva é uma parceria do MinC com os Ministérios das Telecomunicações e do Trabalho e Renda criado em 2006 como parte do programa Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão (GESAC). O programa trata exatamente da disponibilização de computadores conectados à Internet em postos da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) instalados nas aldeias. Novos povos se integraram à rede e a ideia inicial era de que cada aldeia pudesse participar ativamente, representando um ponto de cultura. Já a ANAI é uma ONG também sediada em Salvador existente desde 1978 e que trabalha com práticas de inclusão e 2 http://pt-br.wordpress.com/
  • 18. 16 reafirmação dos grupos indígenas na sociedade, cuidando pela manutenção dos direitos dos povos indígenas e sua representatividade cultural e social. Em relação ao GESAC, é interessante recordar que este tipo de apoio do Ministério da Cultura em recursos materiais e estruturais não significa que a rede Índios Online se submeta a alguma gestão ou critério governamental: o trabalho não perde seu perfil independente, alternativo, comunitário. A ideia da criação da rede Índios Online surgiu depois da organização Águia Dourada, fundada pelo argentino Sebastián Gerlic, radicado há 15 anos na Bahia, e constituída por grupos indígenas e não-indígenas, criar a série de livros Índios na visão dos índios. A coleção continha textos, fotos e desenhos feitos pelos indígenas das etnias Kiriri, Tupinambá e Truká. Em 2001 os membros da Águia Dourada se dividiram e em 2002 foi fundada a ONG Thydewá (“esperança da terra” no idioma Pankararu), coordenada por Gerlic. Entre 1997 e 2004 foram publicados oito livros pelas instituições. Sebastián Gerlic passou a se dedicar à causa das comunidades indígenas depois que ele e um grupo de índios foram vítimas de um ataque feito pela Polícia Militar, quando Gerlic gravava um documentário na Bahia. A ideia das iniciativas da ONG seria dar mais espaço de atuação e representatividade para os indígenas brasileiros. No ano de 2006, na ocasião de um encontro da rede Índios Online (chamado de “Encontrão”), em Ilhéus, na Bahia, foi eleito um coordenador indígena geral para o grupo (Alex Pankararu), além de outros responsáveis principais pela coordenação de setores específicos como administração, informática, monitoramento, contatos com parceiros etc. Até então os coordenadores responsáveis eram Ivana Cardoso, Laura Juliani, Sebastián Gerlic e Luis Henrique Moreira. No Encontrão, além da eleição dos novos administradores, feita por representantes das aldeias integrantes da rede, também foram discutidas novas ideias de gestão, parceria, expansão e trabalho em rede, além de atividades culturais e apresentação dos principais trabalhos desenvolvidos até ali. Em 2007 a Thydewá, pelo projeto Índios Online, recebeu o selo de Iniciativa Reconhecida Prêmio Cultura Viva, do MinC, através do Programa Cultura Viva, de incentivo a práticas culturais executadas pelo Brasil. No ano de 2008 o projeto recebeu o prêmio AREDE de inclusão digital. Em 2009, o Índios Online também ganhou os prêmios Rodrigo Melo Franco de Andrade (por divulgação do patrimônio nacional através da Internet, livros e campanhas) e Prêmio Mídias Livres do MinC. A partir do recebimento deste último, a Índios Online se expandiu e com o objetivo de
  • 19. 17 afirmar ainda mais a presença indígena no projeto foi criado o método de Gestão Compartilhada: a partir dele, representantes de todas as aldeias ligadas à Índios Online e espalhadas pelo Brasil passaram a ter o mesmo peso, o mesmo poder de gestão e administração. Isso eliminava a necessidade de um coordenador geral para o conteúdo publicado no site, resultando numa atividade mais igualitária e bem distribuída para todos. Inicialmente foram escolhidos oito representantes de povos diferentes: dois Pankararu, dois Tupinambá, um Kariri-Xocó, um Guarani, um Terena e um Potiguara. Em janeiro de 2010 a Thydewá organizou o I Encontro Nacional da Rede Índios Online no Pontão de Cultura Esperança da Terra em São José da Vitória, na Bahia. Hoje, lembra Sebastián, a Índios Online é uma rede independente, administrada por seus próprios integrantes. A Thydewá, que antes era a principal gestora da rede, hoje trabalha em um sistema de parceria. Nas palavras de Gerlic, Entendemos que Índios On-Line é uma rede de comunicação indígena, onde dá oportunidade e autonomia aos índios de todos os povos brasileiros e não brasileiros, a expressar suas opiniões e ser um etnojornalista, ciberativista, etnocelumetrista e ser o protagonista de sua própria cultura, historia, costumes e tradições. Para que assim possam ser compartilhada com outros povos e vice versa (GERLIC, 2010). 2.1 O portal Índios Online e o Arco Digital O site da rede Índios Online é considerado um pioneiro na ideia da organização, representação e interatividade das comunidades indígenas de diversas etnias através da Internet. Atualizado pelos próprios indígenas, o site (figura 1) apresenta conteúdo em formato de textos, fotos, vídeos (gravados através de aparelhos celulares), além de ser aberto a comentários. Também é disponibilizado um chat (sistema de bate papo virtual), promovendo a ideia do diálogo intercultural. Atualmente são mais de 3000 matérias publicadas e 10000 comentários no site, que conta com cerca 500 participantes de 25 etnias diferentes. Atualmente o grupo de gestão da rede Índios Online conta com oito integrantes, de diferentes aldeias indígenas do Brasil: Alex Pankararu, Graciela Guarani (Cunha Poty Rory), Ivana Cardoso (Potyra Tê Tupinambá), Jaborandy Yandê Tupinambá, Diana Terena (Diana Davilã), Luciano Pankararu, Jaqueline
  • 20. 18 Potiguara (Irembé) e Nhenety Kariri Xocó. Todos os integrantes da rede podem postar no site, com periodicidades variáveis. Aos membros da gestão é exigido apenas que se comprometam a gerenciar e postar conteúdo no site, além de cuidar do chat que o portal oferece. Os elementos gráficos que compõem a apresentação visual do site, como os detalhes que lembram o desenho do trançado da fabricação de cestos de sisal e os tons esverdeados e terrosos reforçam a ideia dos elementos da cultura e do cotidiano indígenas mantidos firmemente mesmo no contexto da presença no ambiente digital. Na página inicial do site estão organizados links para todos os serviços oferecidos pelo portal, além das chamadas dos textos publicados mais recentemente (com o link Leia mais para se acessar o texto completo). Figura 1 Página inicial do portal Índios Online (05 de outubro de 2010) No menu, localizado logo acima do logotipo Índios Online são visíveis os seguintes botões de acesso: Oca – direciona para a página inicial do Índios Online. Mapa – através de imagem obtida pelo programa de mapeamento geográfico 3 digital via satélite Google Maps é mostrada a região das comunidades indígenas 3 http://maps.google.com.br/
  • 21. 19 que integram a rede Índios Online. Cada “ponto” de acesso do programa é representado pelo símbolo “@” (figura 2). Arquivos – são exibidos links das postagens mais recentes publicadas no site. Chat – é o programa de comunicação instantânea do portal. Para acessá-lo é necessário criar um cadastro na página com email, uma senha e um nome de usuário. No site Índios Online, o serviço é normalmente frequentado por fundações ou grupos interessados na temática indígena, além de estudantes que buscam informações para trabalhos escolares. A página exibe também o número de usuários conectados no chat. Elaborado pelo Livresoft, o serviço é semelhante à estrutura de uma sala de bate papo digital comum (figura 3): uma janela lateral com a listagem dos usuários, uma janela onde se escreve a mensagem e outra maior, onde aparece todo o conteúdo da conversa. Figura 2 Página do Google Maps mostrando as aldeias onde estão presentes pontos do Índios Online: cada "@" marcada no mapa representa uma aldeia diferente (06 de outubro de 2010) Também é possível enviar emoticons (as “carinhas” animadas que ajudam a expressar o que o usuário está sentindo, de forma bem humorada) e sinais sonoros para chamar a atenção dos outros usuários. Além disso, existe a possibilidade de compartilhar jogos com outros usuários, utilizar cores e fontes de texto personalizadas e avatares, ilustrações que representam a figura do usuário dentro do chat. O serviço conta ainda com um botão de registros, marcando as últimas
  • 22. 20 atividades do chat, e um link de ajuda com instruções (em inglês) de utilização dos recursos do programa. Quem somos – a página contém uma espécie de editorial, com explicando o que é e quais os objetivos e as metas do projeto Índios Online. Participe – uma espécie de convite para os indígenas ainda não incluídos na rede Índios Online. Para o cadastro, é necessário apenas informar nome, email para contato e a etnia, a “nação” a qual o indígena pertence. Figura 3 Janela do chat do portal Índios Online (06 de outubro de 2010) Contato – espaço aberto para comunicação direta com a administração do portal. Para isto é apenas necessário informar o nome e email para contato, deixando a mensagem desejada. Ainda no alto da página inicial, há um botão de busca onde o usuário pode pesquisar um elemento desejado no conteúdo do site. Nos resultados da busca, são exibidos integralmente artigos relacionados ao tema procurado. À esquerda da página inicial, uma série de janelas/links levam a outros pontos ligados ao portal. De cima para baixo, pode-se ver:
  • 23. 21 4 Siga nosso Twitter – abre uma nova janela para o perfil no Twitter (rede social de que permite a troca de mensagens instantâneas curtas) do Índios Online (figura 4). Atualmente o perfil do Índios Online, descrito por seus criadores como “um portal de diálogo intercultural”, conta com 435 seguidores. No perfil do Twitter da rede Índios Online são postadas algumas atualizações do portal, com as manchetes e os links para cada texto publicado. O primeiro registro de atividade do perfil da Índios Online no Twitter data do dia 5 de maio de 2010. Figura 4 Perfil na rede social de comunicação Twitter do portal Índios Online (06 de outubro de 2010) Imprima e difunda a petição! - clicando nesta caixa, o usuário é direcionado para um link do site da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME). A APOINME 5, sediada em Olinda, Pernambuco (PE), integra 64 povos indígenas e atua em defesa dos direitos e causas desses grupos: demarcação e identificação de terras; educação escolar respeitando a cultura e tradições indígenas; assistência técnica e extensão rural para as comunidades; respeito ao meio ambiente e uso consciente de recursos naturais (APOINME, 2010). O link no portal da Índios Online redireciona para uma 4 http://twitter.com/indiosonline 5 http://www.apoinme.org.br/
  • 24. 22 página da APOINME, com um texto denominado “Campanha Opará – Povos indígenas em defesa do rio São Francisco”. No artigo, a organização convoca os povos indígenas a se manifestarem contra o trabalho de transposição do rio São Francisco, operado pelo governo federal. A obra - ainda não concluída totalmente - teria como objetivo irrigar as regiões do nordeste e semi-árido brasileiros, mas o argumento da APOINME é de que o projeto danifica o ecossistema às margens do rio (onde estão localizadas aldeias indígenas) e o próprio São Francisco, além de não suprir as necessidades da população instalada na região do semi-árido. A transposição do rio beneficiaria apenas o agronegócio, latifundiários e empresas multinacionais com instalações na 6 região. Em documento publicado no mês de junho de 2010 no Blog do Planalto – site com informações gerais do governo mantido pela Presidência da República – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que a previsão é de que o projeto seja concluído no final de 2012, e a APOINME orienta a população a assinar uma petição (disponível no site) contra o andamento do projeto, que posteriormente seria encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF). No documento, a APOINME requere ao STF uma audiência pública dando voz a especialistas na área do meio ambiente e ecologia, além dos residentes na região afetada pelo trabalho de transposição, a fim de averiguar se os impactos ambientais realmente têm ligação com a transposição do rio. Se comprovados os danos ao ecossistema, o documento pede ainda que sejam aplicadas ações judiciais referentes ao projeto. Além da versão digital, a instituição também orienta para que a petição seja enviada via fax ou correio, disponibilizando cópias do documento para download em cinco idiomas (português, alemão, francês, inglês e italiano). O foco atual das reivindicações da APOINME é o prejuízo provocado pelo andamento das obras do São Francisco, e informações gerais relativas ao tema estão publicadas no site da organização. Índio off- line? Você é a nossa Rede. Fique on! - o link redireciona para a página de cadastro dos usuários indígenas (em Participe). Novo chat no ar!!! Acesse aqui - redireciona para a página de login (entrada) no chat, onde o usuário pode criar seu cadastro no bate papo (se ainda não possuir) ou solicitar o reenvio de sua senha, caso se esqueça dela. Nesse caso, uma nova 6 http://blog.planalto.gov.br/
  • 25. 23 página solicita o nome utilizado pelo usuário no chat e seu endereço de email, para onde a respectiva senha será enviada. Indígenas Digitais – o filme - clicando na janela, o usuário é direcionado ao site Indígenas Digitais 7. Nele, é possível assistir e saber mais detalhes sobre o documentário Indígenas Digitais, com depoimentos de indígenas das nações Tupinambá e Pataxó Hahahãe, da Bahia, Kariri-Xocó de Alagoas, Pankararu de Pernambuco, Potiguara da Paraíba, Makuxi de Roraima e Bakairi de Mato Grosso. O documentário foi produzido por indígenas e não indígenas integrantes da Thydewá, além da empresa de capacitação e gerenciamento de projetos sociais, educacionais e culturais Cardim Soluções Integradas, sediada em Salvador. Adiante detalharemos com mais cuidado o projeto do documentário Indígenas Digitais. Login - clicando no link dentro da caixa de cor verde, o usuário é direcionado para o site da APOINME, citado anteriormente. Abaixo da caixa há outro link também escrito Login, mas este serve para que aqueles cadastrados no site (através da página Participe) tenham acesso à administração do portal, publicando seu material no Índios Online. Na página inicial do portal Índios Online também é possível visualizar a barra Canal Celulares Indígenas Youtube. São vídeos produzidos pelos próprios indígenas, com o uso de câmeras de aparelhos celulares, que também são publicados na rede de compartilhamento de vídeos Youtube. Segundo Potyra Tê Tupinambá, entre computadores, filmadoras e câmeras digitais os celulares são os aparelhos mais comuns e utilizados pelos indígenas no dia a dia, justamente por serem os de mais fácil transporte e praticidade. Os assuntos abordados são variados: cultura, manifestações artísticas, opiniões, eventos, apresentação de projetos realizados e dos integrantes da rede, até “tutoriais” que ensinam os demais participantes da Índios Online a postar matérias no site principal da rede, por exemplo. No portal Youtube é possível encontrar inclusive uma página exclusiva 8 criada pela rede Índios Online (figura 5) com todos os vídeos produzidos pelo grupo. Esse tipo de serviço é totalmente gratuito; para ter acesso a ele basta possuir um endereço de email e criar uma conta no site. No Canal somos informados de que ele foi criado no dia 28 de maio de 2009, e até o último dia 07 de outubro tinha 70 vídeos publicados no total, que juntos foram 7 http://www.indigenasdigitais.org/ 8 http://www.youtube.com/indiosonline
  • 26. 24 visualizados 15.173 vezes. A página da Índios Online no Youtube possuía 1223 acessos e 22 colaboradores, outros usuários do Youtube que podem se inscrever para contribuir com o Canal na administração e em postagem de vídeos. Ao acessar o site é possível aos demais usuários postar comentários nos vídeos, fazer avaliações positivas ou negativas do conteúdo, pesquisar vídeos por ordem de postagem no site, número de visualizações ou pela ordem dos melhor avaliados pelo público. O usuário também pode recomendar e compartilhar os vídeos desejados através de outras redes sociais, como Twitter, Orkut, blogs e mesmo por email. Figura 5 Página inicial do canal da Índios Online no portal Youtube (06 de outubro de 2010) É importante lembrar que, no caso da rede Youtube, a participação indígena não se restringe apenas ao canal do portal Índios Online. Outros índios, a maioria ligados de alguma forma ao projeto Índios Online, mantém canais com vídeos próprios mostrando entrevistas com representantes indígenas, o cotidiano das aldeias, eventos etc. É o caso de Graciela Guarani, de Dourados, Mato Grosso do Sul (MS). A jovem, além de ser membro da equipe de gestão da Índios Online, faz parte do grupo de representação socio-cultural Ação de Jovens Indígenas (AJI) de sua cidade. Em sua página no Youtube 9, Graciela, que mantém o perfil desde 9 http://www.youtube.com/gracielaguarani
  • 27. 25 fevereiro de 2009, posta vídeos sobre manifestações e histórias que retratam o cotidiano de sua aldeia. O uso de aparelhos celulares para a produção de vídeos na rede Índios Online passou a ser facilitado a partir do estabelecimento do projeto Celulares Indígenas, em 2009. O programa, uma parceria com o programa Oi Futuro, ofereceu oficinas de etnojornalismo, publicação digital, fotografia e vídeo para sete representantes indígenas em janeiro do ano passado. A partir daí, esses agentes puderam reproduzir e integrar todos os conceitos aprendidos aos demais integrantes da rede. Foram distribuídos 60 aparelhos celulares para representantes indígenas de 24 nações diferentes. Vídeos de poucos minutos até pequenos documentários, como o filme Indígenas Digitais, que aprofundaremos adiante, foram produzidos basicamente com o uso desses celulares. Entre 2006 e 2007, também em parceria com o programa Oi Futuro, a Thydewá criou dentro da rede Índios Online a proposta da comunidade colaborativa de aprendizagem Arco Digital. A ideia do Arco Digital foi fornecer a indígenas de todo o Brasil cursos de aprendizagem colaborativa através de um programa gratuito 10 de educação digital à distância, o Moodle . A metáfora do arco digital é associada pelos próprios indígenas à figura do arco e flecha, ferramentas que simbolizam ao mesmo tempo, caça (sustento) e arma (ataque e defesa). As novas tecnologias representariam os mesmos significados da caça e da guerra no contexto da sociedade informacional contemporânea. No projeto Arco Digital foram oferecidas oficinas realizadas por facilitadores igualmente atuantes nas áreas de saúde indígena, jornalismo étnico, educação, cidadania e direitos, economia solidária e agrofloresta, voltadas para qualquer indígena, sem nenhum custo e dentro do princípio colaborativo. O objetivo impulsionador do Arco Digital foi a troca de ideias e reflexão sobre desenvolvimento, cidadania, tecnologias de Informação e comunicação, bem como compartilhar experiências, práticas e saberes. A partir da realidade dos povos indígenas, tomou- se a iniciativa do diálogo (como forma de construção coletiva de conhecimento e interação para a transformação) no qual os próprios índios são protagonistas responsáveis por decidir o caminho de suas comunidades, lutando e seguindo por melhores condições de vida. O incentivo constante à autonomia entre os indígenas, rompendo os estereótipos em relação a esses povos enraizados dentro da 1 0 http://www.moodle.org
  • 28. 26 sociedade urbana e apresentando a real identidade e capacidade de independência das comunidades e seus membros é um dos objetivos dessas iniciativas desenvolvidas. Numa espécie de reflexão integrada em rede, esses povos passam a refletir, planejar, elaborar e executar suas próprias ações e projetos. No ano de 2008, com o apoio do MinC, a Thydewá lançou a publicação @rco Digital com 3000 exemplares, narrando as experiências dos integrantes da Índios Online dentro do Arco Digital. O livro é descrito por seus organizadores como uma oportunidade de refletir sobre a tecnologia, a realidade contemporânea dos povos indígenas e suas relações com as novas tecnologias, rompendo possíveis preconceitos e ajudando a estender as iniciativas do Arco Digital. O “criador” do Arco Digital, Nhenety Kariri-Xocó, descreve deste modo o início das atividades no programa e seus objetivos: Pela primeira vez, índios de comunidades distantes se encontravam num chat para dialogar sobre seus interesses... intercambiar ideias, experiências...se apoiar...pesquisam e projetam suas culturas publicando suas matérias no portal. Abrem espaços para divulgar suas visões com o objetivo de serem mais respeitados...dialogam com os internautas promovendo a paz... (NHENETY KARIRI-XOCÓ, 2007). Nhenety ainda realça a importância do computador como ferramenta útil aos povos indígenas: Nós índios já estamos usando o computador como ferramenta de buscar soluções. O computador nos serve para escrever projetos ou cartas, que nos auxiliam para buscar melhorias na saúde, educação, sustentabilidade e tudo que se refere a nossa sobrevivência e desenvolvimento, servindo como um Arco e Flecha. O arco e flecha é um instrumento de defesa, de caça… Hoje em dia, um computador com internet também pode ser utilizado pelos índios como um instrumento de defesa e caça [...] Hoje em dia, também nos reunimos em grupo e através do computador e a Internet nós estudamos todas as possibilidades: os órgãos do governo e seus editais e suas leis, as agências de cooperação, os financiadores, os programas, os patrocínios de empresas, o mundo das parcerias...Preparamos nossos projetos e saímos na busca de concretizar nossa caçada. (Idem, 2007). Para o índio online, ou “caçador eletrônico”, Nhenety recorda a necessidade da prática no aprendizado do uso da informática. Com a Internet é possível descobrir
  • 29. 27 novas instituições, agências, empresas, como elas atuam... pesquisar na rede digital para saber como se comunicar adequadamente, como atrair o “público” que se quer. O fato do projeto Arco Digital não existir mais dentro da rede Índios Online não significa que seus ideais, ações, práticas e projetos se perderam. As iniciativas e propostas de reflexão e discussão levantadas pelo projeto continuam se propagando por todas as vias da rede Índios Online, a cada nova geração que ingressa no projeto, na produção de vídeos, textos e nos debates e discussões levantadas. 2.2 O que têm a dizer os Índios Online O conteúdo do portal Índios Online, totalmente produzido pelos próprios indígenas membros da rede, é marcado por um forte teor opinativo, muitas vezes em tom de denúncia, e não há uma preocupação rígida em relação à linguagem formal, organização da página, harmonia estrutural entre texto e fotos, quantidade de caracteres etc. É visível a liberdade que os autores dos artigos publicados no Índios Online têm não só na seleção e produção de todo o conteúdo publicado, mas também para reproduzir sua opinião no texto, denunciar ou criticar o que julgar necessário, e mesmo organizar o modo como será publicado no site (ordem das imagens, fonte de texto) da maneira que considerar mais adequada e de fácil leitura para o internauta. O teor do material produzido e abordado no portal Índios Online demonstra bem a força dessa proposta de reflexão, de autodescobrimento, a iniciativa que conduz ao fortalecimento da cidadania, da representação social e cultural desses grupos. Denúncias, artigos, opinião, material político, eventos, cotidiano das aldeias indígenas: tudo isso atua em benefício da demarcação do espaço e inclusão desses indígenas não só no campo geográfico, mas no ciberespaço, em todas as áreas da sociedade, de forma independente, livre e realmente atuante. O portal Índios Online pode ser visto como um canal sem restrições de comunicação dos indígenas de qualquer lugar do país com toda a população, uma oportunidade de livre manifestação de expressões. Questões sobre demarcação e posse de terras, resistência de grupos indígenas, preservação do meio ambiente, histórias de antepassados, novidades na área de tecnologia e infra-estrutura para os índios, tudo isso ganha espaço para
  • 30. 28 abordagem no Índios Online. Tudo isso sempre com um tom crítico e de análise, que direciona para a reflexão dos próprios leitores. Em relação ao assunto de posse de terras e resistência indígena, por exemplo, ou mesmo denúncia de atitudes violentas contra as comunidades indígenas, é possível notar que sempre se ressalta a postura pacífica entre os índios, cujo interesse maior é sempre a defesa dos próprios direitos da maneira mais justa e organizada possível. No artigo “Retomada Tupinambá – Na comunidade Santana” (11 de outubro de 2010), assinado por Bruno Tupi, o rapaz retrata a retomada dos indígenas Tupinambás daquela região a uma fazenda cuja terra lhes seria de direito. Segundo relato do próprio Bruno: Com o objetivo de reaver o que é nosso, e de maneira pacífica entramos na fazenda. Permanecemos ainda na fazenda, até o instante momento, e até agora graças ao nosso pai Tupã ainda não tivemos nenhum registro de conflito. Mas segundo o Administrador da FUNAI – Ilhéus – BA, a filha do Fazendeiro Juvenal que é o morador da fazenda retomada, foi informar a Polícia Federal, que nós estamos mantendo em cárcere privado, dois idosos hipertensos, mas isso não é um fato real, pois estamos abertos a diálogos pacíficos, pois não temos em mente maltratar ninguém, só apenas reaver o que é nosso e ampliar até porque essa fazenda se encontra dentro de nossa demarcação. Sendo assim reafirmamos mais uma vez, que essa retomada é pacífica, não queremos conflitos, só queremos o que é nosso de fato e se tem esses idosos com a gente é porque eles não tiveram tempo de se locomover ainda, e porque também não vamos colocar eles na rua de uma hora pra outra. Nesse instante estamos dentro da fazenda e se nosso pai Tupã permitir, nosso povo não sairá mais. Pois lá pertenceram os nossos ancestrais e agora pertenceram aos nossos herdeiros. (BRUNO TUPI, 2010). A causa da retomada de terras pelos Tupinambás também é um bom exemplo da utilização da Internet, da rede digital para divulgação de algum tipo de mobilização popular. Neste caso, ela não se limita apenas ao que é publicado na 11 rede Índios Online. No blog Retomada Tupinambá (figura 6) é possível fazer todo um acompanhamento das atividades dos Tupinambás pela retomada de suas terras. Textos, vídeos e fotos (a maior parte deles compartilhados com o portal Índios Online) expõem depoimentos do cotidiano desses indígenas. Segundo o Retomada Tupinambá, atualmente há cerca de 7000 Tupinambás no Brasil em um território 1 1 http://www.retomadatupinamba.blogspot.com/
  • 31. 29 reconhecido pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI) de 47300 hectares, ao sul da Bahia. No entanto nem todas essas áreas ainda foram demarcadas, e esta é a principal luta atual dos indígenas. Figura 6 Página inicial do blog Retomada Tupinambá (13 de outubro de 2010) Além da Índios Online, o Retomada Tupinambá ainda conta com sete colaboradores oficiais e o apoio do projeto Fotografia Tupinambá. O programa nada mais é do que oficinas de fotografia oferecidas aos indígenas Tupinambás da Bahia. 12 No site do Fotografia Tupinambá , é possível se informar sobre as oficinas já realizadas, ver fotografias tiradas durante os eventos (com direito a galerias de fotos tiradas pelos participantes) (figura 7) e também um vídeo, realizado pela equipe da rede Índios Online em parceria com a produtora Petei Xe Rajy, sobre a pintura e o artesanato praticado pelos Tupinambás. As fotos exibidas nas galerias são hospedadas e visualizadas através de programas de distribuição e 13 compartilhamento gratuito de imagens, como o PicLens e o Flickr , de 2004. Para utilizar o PicLens é necessário instalar uma das versões do programa em seu computador, através de portais especializados em informática que oferecem esse 1 2 http://fotografiatupinamba.com/novo/ 1 3 http://www.flickr.com
  • 32. 30 tipo de serviço. Já no Flickr basta fazer um cadastro no site indicado. O projeto Fotografia Tupinambá ainda conta com a colaboração da Fundação Nacional de Artes (Funarte), do MinC e da Petrobrás. Figura 7 Fotografia tirada durante oficina realizada pelo projeto Fotografia Tupinambá. Autor: Alessandro Tupinambá (13 de outubro de 2010) Em alguns casos, o apelo mais explícito à comunidade não indígena a favor das causas desses grupos também se mostra presente. No texto intitulado “Área retomada sofre ataque de pistoleiros na tarde de ontem” (08 de outubro de 2010), assinado por Fábio Titiá em nome da comunidade Pataxó Hãhãhãe, é relatado um ataque violento a indígenas ocupantes de uma fazenda em terras que seriam de sua propriedade. Os Pataxó Hãhãhãe estão determinados a permanecer na áreas, e pede a justiça possa agora fazer o seu papel, devolvendo as nossas terras. As fazendas que antes servia para criatório de gado, de hoje em diante acreditamos que ela possa servir para buscar a sustentabilidade de várias familias indígenas que vivem a margem da linha da pobreza. e assim evitaríamos que mais de nossa terra fosse destruída, já que foi comprovado desmatamento por parte dos fazendeiros. Os índios Pataxó Hãhãhãe, está cansado de esperá pela a justiça, que anda lenta como uma tartaruga. Enquanto as “autoridade retarda o julgamento de nossas terras” tem índios
  • 33. 31 morrendo assassinados. por falta de condições melhores para poder cuidar da saúde, de uma educação e alimentação de qualidade. Sendo que essas terras nos pertence temos prova, e a STF, continuam deixando o povo indígenas amingua. Através da rede indios online, levamos para a sociedade que nos ajude, a cobrar das autoridades desse país , que assuma a nossa causa com carinho e não permita mais que um pai de familias perca a sua vida nessa luta árdua e necessária. (FÁBIO TITIÁ, 2010). O texto é um exemplo claro de como a rede Índios Online é vista e utilizada como uma ponte de manifestação e contato entre os povos indígenas e a comunidade em geral. E é uma estrada de duas vias, considerando que o internauta, o público, também pode se comunicar de formas diversas com os autores do portal, expressar sua opinião e suas ideias. A participação de indígenas e não-indígenas nos comentários dos textos postados no site é constante, o que sinaliza um grande comprometimento e interesse não só entre aqueles que já estão ingressos na rede Índios Online, mas também da parte do público em geral. No artigo de Fábio Titiá, por exemplo, são vistos os seguintes comentários: Mauro Alessandro Zalcbergas – Salvador – BA - Estudante de Direito disse: sexta-feira, 08 de outubro de 2010 as 8:55 Diante de tal violência, procurem coletar o máximo de provas possíveis,como fotos dos carros, pistoleiros, placa dos carros, videos e testemunhas. Com todas essas provas em mãos, divulguem em todos os meios de comunicação, vamos fazer todo o Brasil saber quem são essas pessoas, mas somente com relatos não é suficientes, boas imagens são bem fortes e ajudam até nas decisões da justiça. Conseguindo boas imagens e fotos, vamos divulgar na internet e youtube, tenho certeza que a mobilização terá muita repercursão. ARATIMBÓ disse: sexta-feira, 08 de outubro de 2010 as 18:30 É UMA VERGONHA PARA AS AUTORIDADES O QUE ESTÁ ACONTECENDO, ELES FAZEM VISTA GROSSA QUE Ñ VER OS PISTOLEIROS É UMA TERRA SEM LEI. [...] SÓ PARA LEMBRAR A SOCIEDADE, QUE NA HISTORIA DE LUTA DO POVO PATAXÓ HÃ-HÃ-HÃE, NO DECORRER DO TEMPO ONDE FORAM MORTOS VÁRIAS LIDERANÇAS, ATÉ QUEM FIM ONTEM FOI UM BANDIDO PRA CADEIA O FAMOSO ”GILBERTO ALVES DE BRITO” ISSO DEPOIS DE MUITAS QUEIXAS NO MINISTÉRIO PUBLICO E NA POLICIA FEDERAL, DE ILHÉUS. [...] ESPERO QUE AS AUTORIDADES FAZ O SEU PAPEL QUE SEJAM
  • 34. 32 PROFICIONAIS, CHEGA DE IMPUNIDADE, VAMOS FAZER JUSTIÇA, VAMOS COLOCAR OS CULPADOS NA CADEIA. sebas disse: domingo, 10 de outubro de 2010 as 6:07 Hoje de manha recebei varios recados no meu celular… [...] o recado era: “A retomada foi invadida pelos pistoleros hoje pela manha, só quem esta na área são os homens, as mulheres foram obrigadas a sai. ESTA VENDO UMA GUERRA HORRIVEL, por favor entre em contato com a funai para ajudar no reforço, Yonana diretamente da retomada” Existe uma corrente para divulgar os acontecimentos diretamente da retomada… (ÍNDIOS ONLINE, 2010). A presença constante dos comentários serve não apenas como uma forma de intervenção dos leitores, dos outros integrantes no conteúdo abordado, mas também como um meio de estímulo ao trabalho dos Índios Online. Ao final de cada texto, junto com o nome e uma breve descrição do usuário, é exibido o número de artigos já postados por ele (com um link que leva para uma listagem desses textos). No caso de Juayran, por exemplo, que no dia 05 de outubro de 2010 apresentou o texto “A beleza do Rio São Francisco” (figura 8), descrevendo o rio São Francisco e destacando a necessidade de sua preservação, podem ser vistos os seguintes comentários sobre a matéria: seredser disse: quarta-feira, 06 de outubro de 2010 as 7:13 juayran sua materia é muito boa, nós temos o dever de presevar o nosso querido velho chico, por que como vc falou uma belesa como essa não passa despecebido por que o nosso rio é lindo demais. Josemar pires disse: quarta-feira, 06 de outubro de 2010 as 9:52 ola juayran , o são francisco apesar de tanta poluição ainda guarda suas belezas. (ÍNDIOS ONLINE, 2010).
  • 35. 33 Figura 8 Página do artigo "A beleza do Rio São Francisco", publicado por Juayran (11 de outubro de 2010) Para Juayran, que até o momento registrava oito artigos publicados na rede Índios Online, os comentários sobre seu trabalho podem manifestar não apenas o interesse pelo assunto abordado, mas o incentivo para prosseguir suas experiências e seguir cada vez mais atuante na rede Índios Online, além de estender sua voz, sua atividade para outras redes digitais de raiz indígena e não-indígena. Enfim, buscar oportunidades de atuação e representação na Internet, na sociedade digital, através da comunicação. Ainda em relação aos conteúdos observados nas matérias do Índios Online, percebe-se de que modo práticas culturais, religiosas, tendências e mesmo vícios antes considerados “não-indígenas” hoje se encontram inseridos, de alguma forma, no cotidiano desses grupos de forma bastante natural. Não estamos nos referindo apenas ao uso da Internet e da inclusão digital nessas tribos, mas de influências relativas ao consumo em geral e mesmo à religião. Um exemplo interessante é o texto publicado por Hemerson Pataxó no dia 27 de setembro de 2010, “Um dia sem drogas”. Na matéria Hemerson destaca um seminário, organizado pelas próprias instituições indígenas na cidade de Pau Brasil (BA), abordando os malefícios do consumo de drogas em geral.
  • 36. 34 O encontro contou com a presença de representantes indígenas da FUNASA e psicólogos, além de depoimentos de índios ex-usuários de drogas. A matéria de Hemerson Pataxó é só um exemplo de como as influências nascentes no centro das sociedades urbanas tem afetado essas comunidades, tanto para o bem quanto para o mal. Essa tendência é natural e praticamente inevitável, com a expansão da globalização e a introdução cada vez mais profunda dos povos indígenas na sociedade e no ciberespaço. A preocupação, no entanto, é de se saber selecionar quais influências podem ser negativas ou positivas, usá-las com moderação estabelecendo cada um seus devidos limites, e tomando iniciativas para repelir aquilo de negativo que possa se aproximar. Trata-se de uma questão de conscientização e bom senso que deveria estar presente e ser estimulada não só entre os povos indígenas, mas em toda a sociedade. Outro ponto de miscigenação visível dentro da cultura indígena, e cujo teor fica claro no contexto das matérias publicadas no Índios Online diz respeito à religião. A inserção dos costumes das igrejas cristãs na cultura indígena é assunto de bastante relevância e conflito para esses povos. Apesar da diversidade religiosa presente entre as comunidades indígenas atuais, existe um grande esforço para que sejam preservadas e respeitadas as tradições de culto de seus antepassados. Embora exista espaço para manifestações de fé católica e evangélica dentro das aldeias, para muitos índios algumas dessas igrejas ameaçam as tradições, estruturas e direitos naturais dos povos indígenas. O desejo de preservação do patrimônio natural e passado histórico são marcantes na discussão da cultura religiosa indígena. O ponto de equilíbrio seria conciliar a liberdade de culto cristão (daqueles que realmente desejarem seguir este caminho) sem desvalorizar os valores, cultos e tradições históricas indígenas. A consciência crítica contra a simples imposição de tradições religiosas, sociais e culturais, a liberdade de culto sem ameaças nem preconceitos: este é o padrão buscado pela maioria dos representantes indígenas. As igrejas católica e evangélica normalmente são criticadas por tentarem afastar os povos das aldeias de suas crenças, valores e ideais tradicionais, o que é visto como abuso pelos indígenas. Portanto, além do respeito e tolerância por parte das instituições religiosas, é necessário estimular nos índios essa reflexão e visão crítica sobre os valores, ideologias e crenças que lhes são apresentados.
  • 37. 35 A preservação dos hábitos e tradições indígenas é tema de muitos artigos, além de depoimentos e opiniões de vida dos próprios índios. No caso do texto de Fa Tupinambá, autora de “Pintura Tupinambá” (22 de setembro de 2010), a arte da pintura corporal indígena é mostrada como uma prova de resistência e representação deste povo que se mantém viva através dos tempos: Para nós Tupinambá a pintura é de muita importância, pois é uma forma de nos afirmamos como uma comunidade indígena, por conta que é uma pintura unica de nosso povo, fortalecendo assim nossa identidade étnica. Nossa pintura tanto a corporal como as diversas outras pinturas, que pertence ao nosso povo é repassada de pai para filho, e tem diversos significados que vai desde a pintura para guerrear até a pintura de festa. As tintas para pintura corporal é feita de jenipapo ainda verde, onde ralamos e esprememos para extrair o caldo do fruto, desse caldo misturamos com carvão para que ele fique mais escuro. A tinta do jenipapo demora em media 15 dias para sair do corpo, mesmo agente lavando e escovando bem a pele, a permanecia da tinta em nossa pele é a mesma. [...] é de costume da maioria dos índios se pintarem, assim quando estivermos na caminhada nos mostramos com uma cultura forte e resistente. Que mesmo depois de varias repressões, massacres e discriminações, o nosso povo se fortalece cada vez mais e mais, e a quem dizia que o povo Tupinambá era um povo extinto, estamos aqui para mostrar que não, e que somos um povo forte e resistente, com uma cultura forte e com pinturas lindas e expressivas. (FÁ TUPINAMBÁ, 2010). Além da arte e da cultura, manifestos, depoimentos e relatos de experiências de vida também compõem o material da rede Índios Online. Texto publicado em nome de Seu Gino, em julho de 2005, é um bom exemplo do registro histórico das memórias das tribos indígenas; intitulado “Nossos avós levantavam cedo”, o artigo traz uma visão crítica e pessoal da história da colonização e da atual situação indígena. A tristeza pela exploração do passado e o desejo de um futuro melhor são as marcas do pensamento expresso por Seu Gino: Nossos avós levantavam cedo, pegavam seus arquinhos e iam para o mato. Matavam um nambu, um preá, um tatu, viviam comendo batatas do mato, tipã, gravitaia, agisaia, salbu (fruta selvagem), mandaunhão, não trabalhavam que nem hoje. Ele vivia do mato, caçando seus inhames. Depois o branco tomou conta, desmatou a floresta, aí o índio não teve como viver mais. Eles foram tomando as terras do índio, dizendo assim: “Índio vamos trocar essa terra por uma cabeça de animal!”.
  • 38. 36 Depois o branco pegava a terra e dava só a cabeça do animal, não era um animal inteiro, se aproveitava da fome para enganar e pouco a pouco ia tirando nossas terras. [...] Os costume da gente é a parte da Natureza que Deus deixou aqui na terra e nós não podemos trocar essa sabedoria pela sabedoria do branco. Não podemos só estudar e esquecer nossos costumes. O branco quer que a gente esqueça até o nome de Deus, porque nosso direito é levantar e dar benção ao pai e a mãe, isso para o pai lembrar o nome de Deus todo dia. O estudo trás bom dia pai, bom dia mãe e faz esquecer o nome de Deus. Aqui na terra estamos todos juntos, com um Deus só. Nós temos que ser todos por um e um por todos. Nós temos que seguir um caminho. Estamos na beira do abismo, sem promessas para o futuro, muitas pessoas fazendo as coisas erradas, saindo do caminho. Nós temos que conversar, sentar juntos e combinar as coisas. (SEU GINO, 2005). Manifestos de necessidade de luta, mobilização e atuação indígena, como o artigo “Vida de Guerreiro”, assinado por Seredser em 07 de outubro de 2010, também representam o apelo dos indígenas na necessidade de manter suas culturas, raízes e objetivos, sem se deixar corromper por outros valores ou ideologias que não sejam positivas. Desde que o Brasil foi descoberto que nós índios viemos lutando, lutando contra a escravidão, lutando pela democracia, lutando por uma vida melhor. Hoje que estamos totalmente civilizados, temos lutado pelos o que tiraram da nós,o que é nosso por direito, que é a nossa língua e o que é mais importante as nossas terras, quem é que não quer ter o seu pedaço de terra para criar o seu gado, para plantar legumes, fazer sua casinha e morar com sua família, fazer uma roda de toré todas as noite e repassar sua cultura. Guerreiro que é guerreiro luta pelos seus objetivos, luta para que eles nunca venham desaparecer, cultiva os seus costume, acredita que um dia vai vencer, nós podemos perde a batalha mais a guerra nós nunca perdemos, por que quem acredita em Deus enfrenta vários obstáculos mais no final sempre vence. (SEREDSER, 2010). Além de depoimentos, denúncias e cenas do cotidiano das aldeias indígenas, o Índios Online também procura dar destaque a todo assunto relativo à inclusão e investimento digital entre os indígenas. Esse tipo de iniciativa também é ressaltada, justamente para estimular e mostrar que é possível a realização desse tipo de projeto. Vale lembrar que, estruturalmente, parte da estratégia de divulgação e
  • 39. 37 multiplicação do material publicado no portal Índios Online inclui as funções de impressão e divulgação por email das matérias publicadas, representadas por ícones dentro da própria página de texto, contribuindo assim para a expansão e divulgação desses conteúdos para públicos mais amplos. Para facilitar a navegação do internauta, cada página de texto também inclui links diretos para o último artigo publicado anteriormente e o que tenha sido publicado depois. Um marco importante para o trabalho dos integrantes da rede Índios Online foi a representação nos anos de 2009 e 2010 no Campus Party Brasil, evento realizado anualmente em São Paulo desde 2008. A exposição, realizada no mês de janeiro, reúne novidades, grupos, palestras, debates, oficinas, tudo relacionado à Internet ou às novas tecnologias. Nas duas edições em que participou do evento, o Índios Online manteve um estande próprio com exibição de vídeos, materiais e conteúdo sobre o projeto. Durante os dias do evento, é feita uma cobertura diária, pelos próprios indígenas, de tudo o que acontece por ali, além de suas impressões particulares de tudo o que foi apresentado. No ano de 2009, por exemplo, quando o Campus Party deu destaque especial às mídias digitais móveis, o Índios Online aproveitou para promover a iniciativa Celulares Indígenas, além de apresentar palestras e entrevistas sobre o tema. Naquele ano foram ao Campus Party sete integrantes da Índios Online, seis da Bahia e um da Paraíba. A viagem e a estadia em São Paulo, no período do evento, foi concedida pela própria organização do Campus Party e pelo MinC. 2.3 A presença indígena na Internet O portal Índios Online, que de abril de 2004 até o dia 11 de outubro de 2010 registrara 1.866.860 acessos, é considerado uma inovação entre os meios de comunicação digital feitos por e para os povos indígenas, pois ao contrário de outras tentativas postas em prática anteriormente, o site permite o uso e associação de ferramentas colaborativas, onde qualquer usuário de postar, enviar informações ou colaborar, numa integração até então não experimentada na comunicação entre indígenas (PEREIRA, 2008). A presença indígena na Internet, embora relativamente pouco expressiva, tem se mostrado cada vez mais crescente, especialmente no Brasil. Em levantamento realizado no mês de setembro de 2008 por Eliete da Silva
  • 40. 38 Pereira foi calculado um total de 39 sites brasileiros voltados para o público indígena, alguns infelizmente até já desativados. No Brasil, os primeiros registros de participação indígena na Internet datam de 2001, e de lá para cá essas manifestações se multiplicaram em sites, blogs, comunidades virtuais e portais. O portal, como é o caso da rede Índios Online, se difere dos sites comuns exatamente pelas múltiplas funções e possibilidades de interatividade e comunicação entre usuário e produtor de informação que oferece. Os participantes da rede podem se comunicar de qualquer distância em tempo real (via chat, por exemplo) e pela troca de mensagens e comentários simples. Segundo os dados da pesquisa de Pereira a presença indígena na Internet pode ser escalada do seguinte modo: 70,27% de sites; 27,02% de blogs e 2,70% de portais, equivalente à rede Índios Online. Desses, 56,7% utilizavam serviços de hospedagem de sites gratuitos e 43,25% domínios de sites pagos. No total são 48,64% dos sites em plena atividade e atualização, embora esta seja uma tendência crescente. Em 2008, 70,27% dos sites exploravam recursos de interatividade. A Internet se tornou um importante ambiente interétnico e de (re)formulação étnica não só para os indígenas, mas para todos os povos muitas vezes considerados “excluídos”, à margem do contexto social. 62,71% dos sites e portais de atuação indígena no Brasil são gerenciados por organizações derivadas das próprias aldeias, de abrangência nacional, regional ou local. Isso demonstra o quanto o ambiente digital tem sido visto e desenvolvido como meio propício à luta por direitos, instrumento de reivindicações políticas e visibilidade étnica perante a sociedade global. Aos poucos, essas organizações se aperfeiçoam no serviço de gestão de informação e boa utilização dos recursos disponibilizados, criando mais experiência e tomando consciência de como a comunicação pode servir positivamente aos movimentos sociais. A atuação indígena na Internet, como vimos no exemplo do projeto Arco Digital, vem associada a outras iniciativas de políticas públicas em áreas como a saúde, educação, conscientização ambiental e uso de informática. Portanto, é válido dizer que a inclusão digital nas aldeias reflete em benefícios e desenvolvimento para toda a comunidade, que consequentemente propiciam o incremento da experiência indígena na Internet. O protagonismo indígena identificável nos sites, portais e mesmo em redes sociais de relacionamentos (como o Twitter e em comunidades virtuais do Orkut) permite que esses indivíduos
  • 41. 39 exerçam sua cidadania de forma mais atuante, ativa e consciente: fiscalização da gestão pública de recursos destinados às populações indígenas, denúncias contra violação de direitos indígenas, articulações de apoio entre povos indígenas e não indígenas para ações específicas em rede, direito à voz e acesso ao conhecimento. Observa-se um amadurecimento constante do movimento indígena e crescimento no número e na diversidade de organizações nativas, dirigidas pelos próprios índios, que buscam cada vez mais participar na formulação e execução das políticas para os povos indígenas. Além disso, organizações não-governamentais (ONGs) têm aumentado sua participação na formulação e execução de políticas indigenistas, função antes atribuída exclusivamente ao Estado brasileiro. A rede digital é importante também como instrumento político para as tribos indígenas, pois é um bom instrumento de reforço e difusão de ideias de identidade, o que aumenta a responsabilidade das organizações indígenas em difundir ideias para a obtenção de ações e conquistas políticas justas. Enfim, a rede digital abriu, como define Yakuy Tupinambá, do Índios Online, novas possibilidades para a comunidade indígena em todas as áreas: A internet promoveu a abertura de horizontes – contrariando o pensamento de uma grande maioria interessada em nos manter amordaçados – trouxe-nos novos significados, sem que isso implique no abandono das nossas tradições. Devolvendo nossas vozes, que foram caladas por muito tempo, coberta pelas vozes dos que julgam especialistas. Conectar-se ao mundo através da internet é ter direito a ter um rosto, e fazer ouvir nossa voz é saber dos acontecimentos e interesses que envolvem toda a humanidade. Através desse mecanismo tecnológico conseguimos perceber uma janela para o mundo, a tão sonhada inclusão dos Povos Indígenas, como sociedade fundamentada, negada há décadas e décadas. (YAKUY TUPINAMBÁ, 2008).14 A presença indígena na Internet é importante não só para apresentar o cotidiano dessas tribos a um público mais extenso, mas também para que as comunidades possam redefinir e atualizar a imagem que tem deles mesmo, e a que querem passar a outros usuários indígenas e não indígenas. Esse processo de auto- O depoimento de Yakuy Tupinambá foi extraído do artigo Ciborgues Indígen@s.br: entre a atuação nativa no 1 4 ciberespaço e as (re)elaborações étnicas indígenas digitais, de Eliete da Silva Pereira, publicado no ano de 2008.
  • 42. 40 representação resulta num processo de fortalecimento cultural, elevando a auto confiança desses povos muitas vezes tão sufocados por estigmas e preconceitos. O fortalecimento cultural é justamente o conjunto da prática representativa, da atuação dos grupos indígenas na rede. A presença dos índios no ambiente de comunicação digital mostra formas de compartilhamento de significados que rompem, pelo menos em parte, a dependência desses indivíduos em relação a instituições governamentais incumbidas de representá-los, oferecendo uma visão particular e livre desses grupos. A ação comunicativa na rede digital tem resultados no modo em que esses grupos são vistos pela sociedade não indígena e no modo como eles mesmos se veem e se definem em rede. Um dos resultados dessa expansão da participação e representação indígena na rede digital é demonstrado ativamente através da rede Grumin, de representação de mulheres indígenas. A rede Grumin surgiu oficialmente no ano de 1987, e foi fundada por Eliane Potiguara em cima da experiência de vida de sua avó, Maria de Lourdes de Souza, índia nascida na Paraíba cuja história é marcada pela sobrevivência física, moral e étnica. Eliane ainda é conselheira do Instituto Indígena de Propriedade Intelectual (Inbrapi) – órgão promotor da defesa de bens e direitos relativos ao meio ambiente e ao patrimônio intelectual dos povos indígenas - e coordenadora da Rede de Escritores Indígenas na Internet. A Grumin atua basicamente na defesa dos direitos dos povos indígenas, oferece projetos de capacitação e formação para mulheres em diversas áreas, atua em parceria com diversas entidades de defesa do meio ambiente e movimentos sociais, além de difundir informação sobre as ações do órgão através do portal Grumin Online15 (figura 9). O Grumin dá prioridade e assistência a mulheres indígenas ou afrodescendentes, de alguma forma excluídas socialmente. O site do projeto Grumin, além de explicar as ações, objetivos, parceiros e iniciativas do grupo, publica notícias referentes ao universo e às conquistas sociais, políticas e culturais dos negros e indígenas, especialmente as mulheres, com espaço aberto inclusive para comentários dos internautas. Além dessas iniciativas, o Instituto Socioambiental (ISA), ONG criada em 1994 que incorpora o patrimônio do Programa Povos Indígenas no Brasil do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (PIB/Cedi), e o Núcleo de Direitos Indígenas (NDI), do Ministério da Justiça, em Brasília, também têm desenvolvido 1 5 http://www.grumin.org.br/
  • 43. 41 trabalhos importantes na divulgação e preservação da cultura indígena. Todos esses projetos estimulam e convergem para uma maior inserção e associação de todos os grupos sociais considerados marginalizados ou não. Figura 9 Página inicial do portal da rede Grumin (16 de outubro de 2010) Cada um deles, a sua maneira, com os recursos e apoio disponíveis, são exemplos de como a rede digital, a Internet, pode ser campo fértil na prática da comunicação popular. Com estrutura material disponível e gerenciamento adequado, é possível administrar e expandir um projeto de comunicação de qualidade voltado às comunidades, sem dependências governamentais e empresariais que aprisionem e restrinjam a prática comunicacional. E esse trabalho bem sucedido reflete em conquistas para toda a comunidade, não só em relação à comunicação, mas em vários âmbitos. Na interação com as modalidades de comunicação digital, o protagonismo indígena assume formas criativas em que o diálogo intercultural não é mediado por instituições indigenistas que antes eram as únicas mediadoras. Em muitos momentos essa independência dessas instituições possibilita que os próprios indígenas exponham suas críticas em relação às entidades governamentais que os representam. Para os próprios indígenas, no exemplo da rede Índios Online, a criação e desenvolvimento do projeto beneficia principalmente pelo intercâmbio
  • 44. 42 cultural, a troca de experiências entre os integrantes da rede. O que antes só podia ser discutido, debatido e compartilhado através de encontros pessoais, de forma muito limitada, a Internet ajudou a transformar para melhor. A Internet propicia um trabalho autônomo de comunicação e a não- interferência de instituições e órgãos majoritários, que poderiam acabar “desviando” o foco das necessidades e anseios dos povos indígenas também é vista como um ponto positivo oferecido pelo ambiente da rede digital. Pela conexão e interação via Internet os povos indígenas divulgam seus valores e pontos de vista para o mundo formando redes de apoio, conhecendo pessoas, construindo relacionamentos e se fazendo presentes além das aldeias e espaços territoriais demarcados. Como explica Yakuy Tupinambá: Novas realidades são construídas, sem que isso implique abandono de nossas tradições. Toda a sociedade se move, se expande, enquanto a nossa tem que permanecer fixa, imutável, para atender à necessidade de uma saudade da tradição? Tradições são sistemas intelectuais dinâmicos capazes de mudar... conectar-se ao mundo através da Internet é ter direito a ter um rosto e mostrar nossa voz. É saber dos acontecimentos e interesses que envolvem toda a humanidade. Fazemos parte desse contexto. (Idem, 2008). Em artigo publicado por Rodrigo Diego dos Santos (Rodrigo Makuxi) no dia 29 de setembro de 2010, integrantes da rede expõem suas opiniões em relação ao trabalho do Índios Online como um movimento social indígena e as parcerias futuras (ou já realizadas) com organizações de iniciativas semelhantes dispostas a ajudar de alguma forma (principalmente na questão estrutural) no desenvolvimento da rede: RODRIGO MAKUXI - 'Quanto mais parcerias tivermos dos nossos parentes será muito melhor, pois é nelas que estão e saem as demandas do que realmente acontecem em nossas aldeias e comunidades indigenas. E nisso também ajudara a ficarmos muito mais autonomos contando com o apoio de cada uma delas. E rede ajudara a circula as necessidades e outros parentes puderam dar ideias. E sobre a reflexão acho que não diretamente mas a Rede Indios Online é sim movimento que esta se repercutindo no brasil.' ALEX MAKUXI - 'Somos sim um movimento social indígenas. E isso está nas petições on line que fazemos. No apoio, quando fazemos matérias sobre o que acontece nas aldeias e nos estados. Mais de certa forma também estamos distantes. E acredito que com essa parceria podemos sim estar cada dia mais presentes nos movimentos sociais indígenas, e da
  • 45. 43 mesma forma que contribuimos com cada uma elas também contribuem com a rede' FABIO TITIÁ - 'para que serve o indios online se não poder ajudar o seu povo. Para que servem a internet para nós classe em grande parte excluida, vivendo em situações desumana, se não for para mostrarmos a realidade e buscar ajuda pelo o mundo afora, que tem senso de justiça. Indios Online, é preciso que nos fortalecemos para ajudar o nosso povo no momento certo, ou seja está presente na hora certa seja fisico ou em espirito. A nossa rede está sendo motivada a fazer de fato o papel de um índio online. Parabens parentes todos são felizes nos seus texto, bola para frente, rumo em defesa de nossos direitos.' (SANTOS, 2010) Pelos depoimentos apresentados, é possível avaliar a relevância que o canal Índios Online tem como ferramenta de comunicação e desenvolvimento geral das comunidades para os povos indígenas. As parcerias com instituições de interesses e objetivos semelhantes ajudam na expansão dessas redes, contribuindo para uma independência maior e atividade mais eficiente. A iniciativa do projeto Índios Online também ajuda a aproximar essas pessoas e organizações, muitas vezes geograficamente distantes, levando mais eficiência ao trabalho da rede. A Internet representa uma voz para os povos indígenas, uma forma de serem incluídos e expressarem sua diferença, possibilidade de auto representação sem a mediação de nenhuma instituição. As transformações culturais desde o período colonial, passando pelo etnocídio e esquemas de assimilação e mistura, até as mudanças sofridas durante esses processos não provocaram uma perda ou desaparecimento das referências étnicas indígenas por esses sujeitos e grupos. A luta dos indígenas pelo direito à assistência e demarcação de terras passa pela intermediação comunicativa, seja na divulgação de denúncias e reivindicações por meio da rede, seja pelo contato com pessoas e apoiadores envolvidos com a questão indígena. A rede digital serve como um recurso essencial para auto desenvolvimento dos povos indígenas participantes, ávidos em buscar novos caminhos com o estudo de formas alternativas de sustentabilidade. A Internet atesta uma permanente e ativa presença indígena, num contexto muitas vezes de invisibilidade étnica por parte do próprio Estado. Ainda há o que se fazer no sentido da inclusão indígena no uso das tecnologias digitais, como lembra Potyra Tê Tupinambá: “Este mundo (das tecnologias) já está presente em nossas comunidades. No Brasil existem duas realidades indígenas distantes. Os índios da