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A ORDEM DO SILÊNCIO
Poesias
MARIA DA PENHA BOINA
A ORDEM DO SILÊNCIO
Poesias
MPAC DESIGN EDITORA
Espírito Santo, 2014
Edição original: 2014
Copyright © by MPAC DESIGN Ltda
Copyright © by Maria da Penha Boina
COLEÇÃO MPAC DESIGN - 2014
Editores: Antenor Cesar Dalvi e Maria da Penha Boina
Capa: Antenor Cesar Dalvi e Maria da Penha Boina
Fotos: divulgação
Direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19.02.1998. Nenhuma
parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sob qualquer forma
ou por qualquer meio, eletrônico ou sistemas magnéticos recuperáveis, sem
permissão, por escrito, do Editor.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
(CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil
Direitos desta edição: MPAC DESIGN Editora
Rua Dulce Brito Espíndula, 72, Jardim Camburi, Vitória - ES
http://vergeldebits.blogspot.com
(27) 3336.4916
Impresso no Brasil - 2014
Boina, Maria da Penha
SILÊNCIO, A ORDEM DO: Poesias;
Maria da Penha Boina; Vitória, ES.
MPAC DESIGN Editora, 2014.
93p; 19 cm.
ISBN Não requerido
1. Poesias Brasileiras 2. Poesias Capixabas
		 CDD-Não requerido
Já deixei bons livros para trás e os perdi, já deixei pessoas que
amei para trás e também as perdi, mas o que mais me dói foi
ter perdido os livros, eles não mudam de opinião sobre mim.
8
SUMÁRIO
A ORDEM DO SILÊNCIO			 15
AGONIA					 16
PEINHA						 17
MARIA						 18
PROMESSA					 19
PERTURBAÇÃO				 20
PANO DE FUNDO				 21
ERROS						 22
DESENGANADO				 23
ÚLTIMO DOS NEANDERTAIS			 24
LUSO-FUSCO					 25
O LAÇO E O NÓ				 26
AMOR I						 27
AMOR II					 28
AMOR III					 29
CASTIDADE?					 30
SILÊNCIO PERVERSO				 31
MULHER					 32
CORRUPTO					 33
CRITICIDADE					 34
9
ESPÍRITO SANTO				 35
ARLINDO VIDA’BOA				 36
SEM ANALOGIA DE ALMAS			 37
AS BARATINHAS				 38
MONSTRO					 39
SEGREGADA					 40
LIMITAÇÃO					 41
VERDUGO					 42
CONDENADO POR SI SÓ			 43
ELEGÂNCIA					 44
SUBLEVAÇÃO					 45
SUA EXISTÊNCIA				 46
SEM FIM					 47
DESEJAS-ME					 48
RELACIONAMENTO				 49
INVÍDIA						 50
TEMPO						 51
MUROS DA VIDA				 52
ESPERANÇA					 53
MEIO CAMINHO				 54
HOMEM DE RUA				 55
AMIGO						 56
ARMADILHA					 57
10
AMIGA ANACONDA				 58
REPRESÁLIA					 59
SAÍDA DA VITRINE				 60
VEJA						 61
COVARDIA					 62
MAL TEU					 63
PORTO MAIOR					 64
ÓCIO						 65
CONHECIMENTO				 66
FAÇA						 67
MULHER					 68
CONFORTAVELMENTE				 69
CINQUENTA ANOS				 70
VERGONHA					 71
SEGREDOS					 72
LICENÇA POÉTICA				 73
CASAR						 74
MULHER DE ESCORPIÃO			 75
RATO						 76
NOVOS TEMPOS				 77
METAMORFOSE				 78
E AGORA?					 79
PARALELAS					 80
11
PROSTRAÇÃO					 81
DIÁLOGO AOS CELULARES À BRASILEIRA
QUE OUÇO TODOS OS DIAS E, É MAIS
OU MENOS ASSIM:				 82
CHÁ						 83
EGOÍSMO					 84
DO MEU AMOR AO ÓDIO POR BETH		 85
VERGEL					 86
AO MEU OU MINHA, AUSTRALIANA		 87
VAIDADE					 88
FALSA FILOSOFIA				 89
CAIÇARA					 90
DA NEUROSE À PSICOSE			 91
ESTÉTICA					 92
TACITURNIDADE				 93
LÓGICA DO LOUCO				 94
12
13
14
Tenho hoje uma nova maneira de ver o mundo. As
cacetadas da vida nos ensina que devemos enfrentar as
realidades duras e sofríveis. Devemos tomar decisões
para podermos viver a exatidão de cada vértice, mesmo
que não seja a melhor decisão.
Sempre que toco com a ponta do dedo indicador na
água uma gota se prende. Fixo os olhos e vejo a minha
vida a passar dentro dela.
Sempre que entro no elevador e subo, os pensamentos
voam e tenho a sensação de subir aos céus, quando
desço, chego ao térreo.
Não quero nada do quanto posso, mas quero tudo do
quanto desejo.
Não leias mais às escondidas o que escrevo,
Não mostres mais a tua burrice que já conheço,
Ao ler sem saber interpretar.
Não, nunca fora amigo e muito menos amante,
Tu és um espaço vazio no horizonte
Que Deus se esqueceu de completar.
15
16
A ORDEM DO SILÊNCIO
Talvez seja tarde para ficar pensando
Escrever e, cair em sufrágio o leitor.
Então indago na proposição o silêncio
A não procura da hipótese verdadeira.
Predestinado ao nada fic a alguém
Quando o silêncio comanda a minha intuição.
Em conflito eu entraria neste momento,
E provaria do meu rancor.
Essa repugnância logo lhe diria
A montante o seu valor.
Não! Não tenha então esse direito suposto
Que de nada irá adiantar o seu esforço
Sua vaidade não terá razão.
O meu sentimento abortado
Deixou o espaço ao meu lado desbotado
Sem guardião para a minha base.
O que faço agora neste cair da tarde?
Abro a guarda à ocupação.
17
AGONIA				
O fardo que carregas agora
Não é nada perante o que está por vir.
Estarás na sofrível lida para tirar a nódoa
Do esfregaço criado pelo vinho derramado.
O que desejas que eu te dê agora?
O esquecimento, a dor em que agonizei...
A saudade desgarrada...
Não, dar-te-ei a verdade mais temida.
Dou-te a liberdade e o que ela oferece,
A natureza rústica
O cheiro das flores do agreste
A esperança mórbida da vida terrestre.
Tens tudo nas mãos para delinear a tua história
E quem sabe achar a mais nobre pepita
Que rola nas águas esquecidas.
E o que mais te dou para te consolares?
O bálsamo das palavras agastadas
Que com elas curei as minhas feridas.
18
PEINHA				
Muito prazer sou Penha
Intitularam-me Peinha
Uma coisinha sem senha
Que não se embrenha.
Muito prazer
Sou quem equilibra a barrenha
Na péinha
Não tem quem detenha.
Muito prazer
Gosto da sombra da carrasquenha,
Tampouco me importo
De vestir-me com estamenha.
Muito prazer
Sou pequenininha
Se contenha...
Que não sou inhenha.
19
MARIA				
Desistiu do teu jeito empertigado
Tudo toca no teu íntimo
Desse mundo conturbado
Amarrotado, desconcertado
Intricado e mal amado
Que não há quem possa conduzir.
Ah! Maria, Maria
Sempre esteve no teu âmago
Sem contrariedades
Que sempre foras
Especificamente cosmopolita.
20
PROMESSA				
Prometi! Então, não vá me deixar,
O resto são as queixas
Para suportar as madeixas
Que passaram em suas mãos.
Promessa feita
Não admite desleixo
Tem de cumpri-la com respeito
Só assim, cura o desfecho.
É promessa medida,
Que encerrará a paciente espera
Acender-se-ão as velas
E apagará a volatilidade da vida vivida.
21
PERTURBAÇÃO			
Eis que se abriu a primeira cortina
Nada vi naquele palco
Fiquei a espera e observando
O velho tecido que não sacudia.
Eis que se abriu a outra cortina
E nada vi naquele palco
Escutava a música de fundo
Inalando o mofo que ali envolvia.
Eis que se abriu a terceira cortina
Nada vi naquele palco
Um zum zum zum acontecia na plateia,
Reduzi-me a ler o encarte da peça de teatro.
Eis que se abriu a última cortina
Novamente, nada vi naquele palco,
Agora havia um silêncio aterrorizante
Mas era esta, a peça no teatro.
22
PANO DE FUNDO			
Saltei da tristeza à alegria
Qual foi a magia?
Foi o meu blefe à cilada.
Resgatei a variável
Do modelo, já descartada.
Foi no aguçar do pensamento
Que reformulei todo o problema
Com interações complexas do esquema
Simulei a resposta mais convicta
De não mais dar o próximo passo.
Deixei o estratagema intacto
Devolvi sutilmente o drama ao íntimo
Do infeliz criador do artifício,
Ficando por inteiro enredado.
23
ERROS				
Nunca me importei com os teus erros,
Eles são vãos;
Como poderia julgá-los
- Perante os meus?
Que tão vastos são...
24
DESENGANADO			
Existem em diálogos frases estreitas
- Confia em mim – é uma delas
Pesa demais escutá-la.
É perfeccionismo exacerbado
Idolatrando-se altruísta,
Causa de referência execrável.
No máximo, o aceitável,
Seria alguém que pudesse “acreditar”...
Afugentando um pouco o egoísmo.
Abstrair-se dessa persuasão
É eleger-se convicto,
É não deixar-se iludir
Através do mecanismo doloso
Do anti-herói à conquista do apogeu.
25
ÚLTIMO DOS NEANDERTAIS	
A qual tribo você pertence?
Deve existir alguma a que pertence...
Mas não consigo decifrar qual...
Não possui habilidade alguma
Não caça, não pesca
Não tem jeito, as mãos não fazem nada
O cérebro não cria
Não tem religião e nenhuma crença
Não entende de política
Não trabalha não se esforça
Não estuda nem pensa
Mas, deve existir uma tribo a que pertence...
Qual?
A tribo da ilusão?
Da satisfação sem esforço?
Da opinião sem o fato?
Sem fato não existe conceito...
A tribo dos necessitados?
Dos vampiros?
Dos pés descalços?
Dos afogados em mágoas?
Dos que vivem somente de solicitude?
A qual tribo você pertence?
Dos televisivos?
Dos sem compromissos?
Dos chateadores?
Dos furtivos?
A qual tribo você pertence?
Dos amantes idolatrados
Ou dos sacrificados?
A qual tribo você pertence?
Do uso da muleta humana?
Não, você ainda não possui uma tribo
É Homo neanderthalensis
O que sobrou e se adaptou
Da tribo sem evolução.
26
LUSO-FUSCO				
É tarde de final de verão
Clima ainda quente, ardente,
O dia cai numa rapidez de torrente,
Nesse crepúsculo que precede ao anoitecer.
Indago como fica a ternura nesse ocaso,
Numa intriga perene,
Literalmente, aguada.
27
O LAÇO E O NÓ			
Houve um enlace entre o laço e o nó
Triste acontecimento
O laço deve unir num desate
O nó retira a autonomia.
Que exista somente o laço
Mantendo a complacência entre seres
Mate o nó, para que exista alforria.
28
AMOR I				
Sinto por ti, amor sobre-humano,
Amor que estas palavras não descrevem
Amor de sentimento mais que profundo
Amor que o próprio Deus desconhece.
Sinto por ti, amor!
Amor cá de dentro...
Amor de loucura e sofrimento
Num campo de força intransponível.
É tão grande o meu amor, amor!
Que não admite o teu sofrimento
Amor que fala tão alto e sem orgulho
Que é incapaz de deixar-te sem alimento.
Sinto por ti, amor!
Amor acima do meu tormento
Acima da dor que o meu corpo recente
Sinto por ti, amor! Amor cá de dentro...
29
AMOR II				
Seu amor, amor!
É amor frágil
Amor possessivo
Amor pequeno demais.
Seu amor, amor!
Não é amor de luta
Amor consistente
Amor de pouca labuta.
Seu amor, amor!
É amor para as “Helenas”
Pessoas pequenas
Com pequenos dotes que lhe interessam.
Seu amor, amor!
É amor arranjado
Amor dependente
Amor de boteco.
Seu amor, amor!
É amor passageiro
Amor de agradecimentos
Não é amor das Marias
Meu amor, amor!
É amor que suplanta as suas baixas ideologias
Que perdoa a sua insignificância
É amor cá de dentro.
Para o seu futuro amor, amor!
Não serão os haveres aos quais pertence
Que superarão as suas dores
Sempre serei eu, que estarei aí dentro.
30
AMOR III				
Se for amor o que sente por mim
Então fique caladinho
Respire bem de mansinho
Fale baixinho
Para não espantar os coelhinhos
Para não afugentar as borboletinhas
Pra não quebrar a taça de vinho.
Amor é assim, silencioso,
Sentimento sentido
É sem fim.
31
CASTIDADE?				
Mantive-me em castidade
Durante anos a fio
Para não trair pelo carnal
Mantendo a jura ao falo divino.
Ora, não foi possível,
Em saber por terceiros, tão grave desleixo,
Por quem tive apreço
E deixou-me a ver navios.
Não suportou o enorme desejo
Em derramar o líquido quente
Com prazer veemente
Entre as coxas das alcoviteiras.
E eu, diante de tamanha negligência,
Purificada ficaria?
Oh! Não, não tenha tamanha presunção,
E não me acuse com as suas queixas.
Que imaginação asquerosa
Tipo, homens de Atenas.
Que ingenuidade ordinária
Imaginando existentes as melenas.
Meu caro!
O tempo remontam outros
O que desejas para si
É imagem e semelhança para o outro.
O que dói é saber
Que outras dores iguais, provarás,
Se não modificares esse cérebro nefasto
E não aprenderes a perdoar.
32
SILÊNCIO PERVERSO		
Ações são acontecimentos naturais,
São as previsibilidades conforme as assimetrias
Que quando passado algum tempo
Tornam-se plausíveis.
Quando a fala articula argumentos
Extravasam-se inquietudes perturbadoras
Entra-se ao final em cooperação mental
Num entendimento consensual.
A voz deve dizer o que não se quer escutar
Ao anunciar muitos dissabores
Mas, pior é o mistério e inação,
Que prepara golpes aniquiladores.
Atormenta muito, o mundano silêncio,
Feito, integro por perversão,
Porque quem cala, consente a alguém imaginação,
E nessa calada, escuta-se golfadas de intenção.
33
MULHER				
(Para Elizabeth Boina)
Como é linda a mulher que passa
Passa todos os dias na mesma rua
Alta esquia e límpida
Brilhante como a lua.
Meu Deus! Quem é a mulher que passa?
Num balançar singular de cintura
Que o meu olhar se distrai
E o meu compromisso descontinua.
Que desejo ardente que tenho
E não posso fraquejar
Será que alguém sabe me informar
Quantas primaveras já se passaram por ela?
Procurei saber um pouco mais
E alguém confiante e clarividente, disse-me,
E mulher da mais pura desenvoltura.
Não caia nessa, amigo,
É mulher dos anos cinquenta que desfruta
Da inteligência, beleza e plenitude infindas.
34
CORRUPTO				
No mais nobre terno de linho branco
Caminhando no deserto vazio
Cabeça alucinada
A duna era um palco.
No seu topo e decentemente
A boca seca como depois de um porre
De aguardente
Declamou versos de Bandeira
Às areias infinitas.
Testamento era o poema
Sentimento agonizante da vida
Malfadado, desventurado
Calamitosa sina.
Reina o condenado
Com acabrunhada colheita
Dum monólogo terminado
Sem aclamação.
35
CRITICIDADE				
Aos tolos e iletrados
Falsos leitores de poesias
Julgam-se interpretes inatos
Na sua horrenda analogia.
As artes nascem de esforços hercúleos
Da solidão à perseverança
Engaiolada num verão de janeiro
Desabrocha a criação.
Muitas vezes vivo o que escrevo
Momentos que trago à clausura
Outras vezes do nada sai o pensamento
São palavras que se amoldam com formosura.
Os asnáticos nunca saberão
O que escrevo é somente à minha interpretação
O que eles leem...
Não é mais a minha poesia.
36
ESPÍRITO SANTO				
Espírito Santo, Estado da região sudeste,
Que no mapa do Brasil quase não aparece,
E que deve mesmo ter o “espírito santo”
Para não ser engolido pelo Atlântico.
Tem por capital o nome de rainha
Vitória, vulgarmente, Vitorinha,
Menininha lindinha
Misteriosa, uma ilha.
Aqui nascidos, somos tupiniquins,
Capixabas do roçado para milho e mandioca.
Os nativos com os imigrantes se entrelaçaram
Formando uma raça compatriota.
Dos imigrantes, o quê dizer?
Português a procriar
Formando a etnia popular.
Raças puras... Os alemães a labutar
A beleza italiana
Para o mundo se encantar.
Têm as praias, que lindeza!
A Bacutia, com a sua elegância,
É das pessoas belas da nobreza
É de entusiasmar.
Quem aqui vem, nunca mais volta,
Porque aqui, Deus não escreve por linhas tortas,
É o “espírito santo” a comandar.
37
ARLINDO VIDA’BOA			
Arlindo Vida’Boa fugiu da crise econômica de seu país,
Veio tentar, outra vida boa, aqui pelo Brasil.
Fincou pé numa metrópole, de águas quentes e boa brisa,
Esqueceu-se de se abstrair da realidade convincente das
grandes capitais.
Os arredores são cruéis, não são pintados a pincéis.
Arlindo Vida’Boa!
Não é de brisa que se vive em terras de coronéis.
38
SEM ANALOGIA DE ALMAS		
Sou puro sentimento, sou mulher,
É na constância sentimental que alimento a minha alma,
Os céticos que a lê, dizem que em mim não existe.
Digo com solidez que a vida não é arbitrária,
Tenho como princípio o antagonismo,
Para alimentar o meu sentimento, ajo com a razão.
Sou uma imperfeição de pessoa
Tenho como causa primária às exceções
Profano as regras capazes de eliminar a minha abstração.
Quem comigo conjumina, leva-me a uma triste impressão,
De tirar-me o privilégio do desvio, do habitual.
Quem clarividência minha alma, elimina a minha consciência
sutil.
Não aceito esse dogmatismo que dissimula a minha regalia
Sou uma semideusa, assim, onipotente,
Tenho uma alma conceitual sem similitude.
39
AS BARATINHAS			
Não gosto de baratinhas
De nenhuma delas precisamente,
Mas existem as francesinhas
São traquinas, brincalhonas,
Correm velozmente.
Por saberem do meu dissabor
Insistem em serem minhas amiguinhas
Ficam a brincar comigo persistentemente.
Quando no joguinho eu entro
E empunho a vassourinha
As danadinhas todas afáveis
Correm e imergem
Para dentro do ralinho.
40
MONSTRO				
Homem que possui o domínio
Eleva-se de formosa ternura
Com palavras simples e agradáveis
Emana a delicadeza das plumas,
Olhos claros, límpidos,
Que encanta o feminino
Com os louvores da doçura.
Homem que o domínio perde
No cume do ciúme enraivece
Como fera ferida enlouquece.
As paredes ressoam sons monstruosos,
Torna-se pétreo à doçura
E olhos matam as pessoas que mirar.
Mentecapto na humanidade já insana.
41
SEGREGADA				
Por estar sentada, trabalhar, construir e pensar
Escrever e exaltar sentimentos inerentes ao meu ser
Decidir, externar, incomoda?
Sim, torno-me inoportuna.
Sei que sou pouco, quase nada,
Diante de tudo que me circunda.
Mas ser capaz de corroer minha essência
Através da inveja e críticas infundadas
Pela fala que fere mais que bala.
Não, assim não vale nada,
Não poderei tirar proveito desse juízo
É ironia impensada
De quem julga livros pela lombada.
Diante de tão pequeno discernimento
Dou imenso valor em estar segregada.
42
LIMITAÇÃO				
Tenho uma coisa assim, sentida,
Que não pode ser entendida
Mas causa desilusão.
É de fato coisa séria
Traz sensação deletéria
Que melhor, não professar.
Caminhando com graça, vou seguindo,
Com diadema ornando a cabeça
E os pés encaixando na estreiteza,
Entre as valas do caminho.
43
VERDUGO				
Foram tantas as injurias
Foram tormentas ensurdecedoras
Que matou o prazer
Em que se deliciava
O imolado morreu,
Gritar, não é mais preciso.
Por certo, sente um vazio,
Escapou entre os seus dedos
A sua sensação mais deleitosa.
Não sofra por essa perda
Novos caminhos sempre se abrem
Para outros desatinados.
Viver de rancor é a sua bravura.
Portanto, não fique abatido,
Sua caça não será debalde.
Para os seus gritos
Outros ouvidos
Entrarão em dissabores.
E como carrasco que é
Deliciar-se-á certamente
Na perversidade que irás causar
No próximo desavisado.
44
CONDENADO POR SI SÓ		
Que lindo o mundo dos computadores e das tecnologias
Que linda a nanotecnologia,
Vamos com ela a todos os lados.
Tu não podes utilizá-las?
Mas o quê aconteceu a ti?
Naufragou neste mar revolto?
Fez coisas que te prejudicou
E agora estás no submundo tecnológico?
Usou-a de maneira incorreta
Trucidou a descoberta
E acabou com a própria liberdade,
Usando codinomes e tornou-te um stalker?
Porque será? E que belo codinome utiliza!
Casou com uma pequena, ilegalmente,
Usou pessoas como amantes para o próprio bem
Aniquilou a própria personalidade.
Que pessoa medíocre és tu?
Imagina que o telefone
Não registra a montante
Tudo o aquilo que dizes?
Ainda não percebeu que tens um chip incrustado
No teu antebraço
E tens por merecê-lo.
Não adianta mais a suas artimanhas
A falta de fotos e e-mails
As cartas que nunca envias,
E tudo mais que tens a esconder.
Os Juízes são absortos
Seus ordenados são por merecer,
Portanto, não darão folga,
As pessoas de vida torta que os subestimam,
Eles o colocarão como condenado
E verás o sol
Nascer quadrado.
45
ELEGÂNCIA				
Senta-te a mesa mais sofisticada
Com os talheres postos à francesa,
São tantos os adornos sobre o corpo
Que confunde o brio da nobreza.
O que queres dizer com tanta altivez?
Guardados nos inúteis pensamentos acres
Com gritos no olhar silencioso
E semblante de vileza?
Perdeste a faculdade de julgar,
Não sabes conceber a elegância
Que se apresenta como atributo mais sutil
Na mímica da prudência e da leveza.
46
SUBLEVAÇÃO				
Não te espante Doutor
Essa é só a minha dor,
Mas não toque o dedo na ferida
São os ais... Da minha vida.
Observa Doutor
As minhas cordas vocais
Não são como as cordas das harpas
São pregas fenomenais.
Os ais que grito e ouves
São bem postos
Não duvide, eu não gosto,
São ais... De toda uma Nação.
Não te engane Doutor
Diagnosticando essa minha rouquidão.
Terás de dar o mesmo diagnóstico
A toda população.
Admita doutor
Que será muito difícil encontrar
Este mesmo sintoma
Em outros Doutores, discricionários.
Encontro-me doente Doutor?
Os meus ais não serão escutados?
Não existe paliativo para essa dor?
Ah! Doutor
Se a dor vai continuar
Vou subir no mais alto dos montes
Serão tantos os meus gritos em ais
Emitindo ondas sonoras
Intensamente vibrantes
Que perturbará as cordas das harpas
Fazendo-as tocar
Músicas infernais.
47
SUA EXISTÊNCIA			
Sua existência me conforta
Não importando saber se você,
Está rico ou pobre
Magro ou gordo
Com a aparência mais jovem ou envelhecida
Feliz ou infeliz
Acompanhado ou só
Viajando ou enclausurado
Comendo ou minguando
Nervoso ou apático
Com saudade ou desprezando
Drogado ou de cara
Orando ou resmungando
Sendo assim ou assado.
Assando.
O que mais me importa
É você existir,
Para que não desapareça
Este ser inconsequente
Que se tornou a minha fonte inspiradora
Dos meus momentos mais sublimes
Em que deslizo os meus dedos no teclado
Criando poesias.
48
SEM FIM				
O que você está fazendo aí parado em pé?
Para onde te levará essa fila?
Você tem certeza se ela terminará?
Sabe o que irá encontrar?
Sinto que você está bastante ansioso
Observando e esticando o pescoço
E é uma fila indiana
Parece mais uma romaria.
Suas mãos estão suadas?
Porque o seu corpo se move constantemente?
Será algo que você não poderá perder?
Existe uma hora marcada para chegar ao fim da fila?
Você está entorpecido por isso?
Tem de alcançar?
Você agora externa pela face certa raiva
Seu semblante mudou muito,
Foi pela certeza das vozes em sua mente,
Que disseram que não mais chegaria?
Agora você está agonizando na fila,
E olha para trás
Não existe mais ninguém?
A fila anda lentamente e você é o último da fila?
Não adianta se penalizar
Nada mais fará diferença,
Você se apossou da fila errada
Ela não tem fim nem começo
É uma fila em espiral, infinita.
49
DESEJAS-ME				
Desejas-me como quem deseja colher camélias em vasos de
varanda
Como quem sonha em surfar na mais alta das ondas
Ou escalar a mais íngreme montanha.
Desejas-me como quem deseja chegar por teletransporte
Como quem conta com a sorte
Ou desconsidera a morte.
Desejas-me pela ilusão do querer
Pela fantasia do ego
Ou imanência e transcendência de poder.
Desejas-me sem as camélias
Cingido pela epopeia
Transmutado pelo épico.
50
RELACIONAMENTO			
O relacionamento acabou mas existe amor?
O ódio, a vingança se apresenta.
E o vazio? Que tormenta!
E chora-se e ri-se.
O corpo fica esquálido.
Os olhos não veem os campos, as ruas e as cidades.
Não se escuta os cumprimentos, são sussurros desnexos.
Quer-se a amizade?
Não, não existe possibilidade – É amor.
Sente-se a senhora de cetim negro, mais próxima.
Caminha junto a todos os passos.
Então o que é melhor?
Lembrar-se que a vida é uma peça de teatro,
E o vivido não foi mais que meio ato.
51
INVÍDIA				
Estou tão longe,
Longe dos espíritos maus
Mas, que possuem uma fúria de bestas,
Que ecoam sons a esgoelar.
Esbravejam o meu nome
Na esperança de secá-lo
Com um amor de inveja
Prestes a lhes trucidar.
Não, não mereço tanto amor assim,
Não mereço que vivam a mim,
Não se degolem ainda
A hora não se faz.
Sei que sou este mal necessário
Que suplanta os desejos
Alimentando ódios
Nas meninas dos olhos.
É sofrimento que abunda
Nos sorrateiros
Que não possuem espírito próprio
Desejando ser a mim, por inteiros.
Ainda hão de se enganar,
Competir com a minha valente alma
Requer hercúleo esforço, e o meu espírito,
Não lhes irão encarnar.
52
TEMPO					
Você achou que o tempo não passaria?
Tentou se convencer de que nada aconteceria?
Fez com que o seu cérebro queimasse no alto-forno?
Esqueceu-se de que o fogo queima?
Mas o produto escorreu
Petrificou com o ar
Tentou a picareta para quebrar e nada
Tentou um componente químico
Mas a química não permitiu que se liquidificasse novamente
Pronto, você envelheceu e ficou pronto.
Nada mais é capaz de modificar
Nem os vermes conseguirão devorar
E você ainda nem percebeu
Que o tempo passou e se foi para bem longe
Nem é capaz de processar lembranças e a dor aumenta
Mas o que solidificou nem pensa
Só sofre e nem sabe discernir em que consiste.
53
MUROS DA VIDA			
Você deveria saber que para as pessoas civilizadas
E em mundos civilizados,
Existem tendências de derrubar muros.
Então como você pode imaginar-se civilizado
Possuindo a vertente contrária?
Criando um muro tão elevado
Que é impossível transpor.
E se um dia o seu muro cair?
Como você irá olhar para o outro lado?
Com a mesma estupidez, coragem insossa,
e imperícia que o fez construir?
Ou já tem na ponta da língua
As evasivas para o diálogo?
Possui tanta presunção de achar-se assim tão diplomático?
Você acredita que para a sua indulgência
Encontrará complacência?
Você deveria saber,
Que em todo ato de indiferença
Não existe a possibilidade de encontrar
Do outro lado do muro
Pessoas solícitas e afáveis.
54
ESPERANÇA				
Não nego que tenho esperanças
Fico a espreita para uma brecha
Alucino à beça.
É o meu estágio de loucura
Permanecer aqui sentada
Toda de verde e imóvel
A pugnar o nada.
Vejo a luz
É vermelha
Mas afunda lentamente
E vai ficando cada vez mais negra.
Qual a cor que se apresente?
Não, não sou inconsequente,
Tem de ser a transparente,
Que nas profundezas do mar
Sobrevive resplandecente.
55
MEIO CAMINHO			
O laço está apertado demais?
Não consegue fazer com que a corda deslize nas polias?
Folgue um pouco, a escalada é longa.
Mas não folgue tanto assim
Você poderá escorregar
E você já fez um terço da escalada
E não sabe das dificuldades que virão.
Faça uma coisa de cada vez no seu estribo de um degrau
E bem planejada.
Olhe para cima e veja os obstáculos.
Não verificou o tempo?
Chove e a pedra está escorregadia?
Verificou o sistema de ancoragem?
Você tem tantas primaveras
Mas é um novato.
Você sai rápido demais para as suas aventuras.
Agora já tão alto está com fobia.
Olha para o lado e não vê ninguém para ajudar.
Ficou a meio caminho pendurado
Entrou num dilema sem conseguir subir
Não consegue descer.
Tome qualquer decisão
Já que nunca decidiu por nada.
E hora de mostrar o seu valor.
Grite peça socorro
Desvincule-se da sua altivez
Ou prefere continuar na corda bamba
Para não ferir a sua soberba.
56
HOMEM DE RUA			
Depois de anos continuava ele ali sentado
Sempre a observar o nada
Ou a pedir uns trocados.
Sujo, imundo e maltrapilho,
Na sua liberdade ambulante
De súbito viu distante
Um brilho desconcertante.
Levantou com certa preguiça dada pela fome,
Caminhou lentamente,
Abaixou e pegou o diamante.
Ele não tinha por certo o que era,
Mas a intensidade do brilho
Fez guardar nos seus trapos.
Assustou-se com o que ali perto ocorria,
Aquietou-se nos seu espaço.
Era uma batida policial por um assalto.
Mandaram que se levantasse
E acharam a pedra maldita.
Perguntando quando a roubara
Ele nem chegou a abrir os lábios,
Colocaram nos seus pulsos e pés as algemas.
E o levaram ao delegado.
O desgraçado apanhara e fora preso,
O pobre que nem sabia o quanto valia
A pedra que achara ao acaso.
Agora lá sentado a olhar para as paredes
Que nunca tivera um dia,
Por causa de uma estranha pedra brilhante
Que para ele pouco valia.
A pedra lhe tirou a vida de vagamundo
A única liberdade que tinha.
57
AMIGO				
Amigo, o que queres de mim?
Todas as melhores pedras incrustadas no marfim?
Todas as minhas virtudes?
Quantas cobranças que me faz!
Pergunto ainda:
O que tens para mim?
Somente as loucuras dos seus lamentos?
Nunca esquece as minhas conjecturas?
Mas as suas, nunca haverás de lembrar?
Amigo, esqueço sempre as nossas desavenças,
Perdoo sempre, mas voltas a lesar.
Em cada mau trato, uma pedra se desprende do marfim,
A joia vai perdendo o seu valor
Ficando somente uma nuance
De uma amizade hesitante.
58
ARMADILHA				
A dor moral é a pior das dores
O estomago passa a ser uma úlcera
Veneno que o aniquilou.
São acusados,
O importunante e o importunado
Pois existem os que só veem
Apenas um dos lados.
Com as atitudes malogradas
Arma-se o alçapão
E tolhe toda a sorte que poderia advir.
59
AMIGA ANACONDA			
Encantei-me por uma anaconda
Acabei por adotá-la
Alimentei-a com animais inofensivos
Vivos.
Com o tempo fui me aproximado
Toquei-a, escamosa e fria,
Grande, aconchegante,
Era tudo que eu queria.
Começamos as nos enroscar
Eram toques suaves sem malícias.
Nesses anos de convivência
Encontrávamos sempre a luz do dia.
Numa noite fria ela veio até a mim
Como o remanso de um rio arrefecido
Lento e vagaroso
Esfregando sua textura
Como um gato preguiçoso.
Deixei-a enrolar em meu corpo,
Que de mansinho sentia a suas carícias.
Fui sentindo-a bem devagar
E encontrei-me em ardilosa companhia.
Seu abraço estava ficando cada vez mais apertado
Meus pelos ficaram eriçados
Os ossos com uma sensação desagradável.
Ei! Amiga anaconda! Gritei!
Foi um lapso, não te alimentei.
E ela não perdoou
O meu engano involuntário
Pela falta de comida.
60
REPRESÁLIA				
Eximir-se da atenção em momento delicado
Da hipocrisia e dissimulação de alguns
Quando a alma lastima por medo
E saber-se tolerante racional.
Os agastados necrófagos se alimentam
Deste equilíbrio frágil que em alguém se apresenta
Para mostrar-se viripotente
Sobre esperanças já pouco alicerças.
Grandes heróis valentes
Invocam a morte de um ente
“Que morra bem distante”
Para que não sintam o mau odor.
61
SAÍDA DA VITRINE			
Não pense que eu vou dizer um sim
Só para te agradar.
Não pense que o meu não
Será para te prejudicar.
Só pretendo ser assertiva
Não estou no mundo para satisfazer.
Não sou perfeita
Para que todos me admirem.
Não tenho vaidade ao ponto
De querer ser unanimidade.
Não gosto do que não gosto
Não vou admirar o que não admiro.
Não tenho que aceitar a tua opinião
E isto não me causa constrangimento.
Meu íntimo é libertário
Igualdade para todos.
Não preciso de aceitação
Escravizando-me por opiniões.
Parece sentimento tirano
O sincero é ofensivo.
Mas, se assim eu não pensasse,
Seria uma hipócrita só para ter
A tua aprovação.
62
VEJA					
Veja, a cada primavera o tempo vai se tornado mais cruel.
O espelho em que você se vê está mais velho.
A sua visão sem a mesma nitidez
Mesmo assim, o espelho revela as rugas da face,
A flacidez do corpo.
Veja a razão, é mais elevada que a emoção.
Seus amigos também envelheceram.
Parecem mais jovens que você?
É que envelheceram juntos e não dá para perceber.
As canções que você gosta são as mais velhas
Aquelas escutadas na vitrolinha.
Veja os dias, estão mais curtos e as noites são mal dormidas.
À vontade de realizar é grande e o corpo não responde.
Os seus romances e paixões são coisas do passado
Agora só lhe resta a companhia sem seletividade.
Veja o que fez de incongruente todo esse tempo
O que plantou errado e não floresceu?
Não adubou e regou para que florescesse.
Veja o esforço mísero que fez em todo o tempo
Procurando se calçar sobre um pilar sem sapata.
Veja hoje o que o levou a esmorecer e a não fazer
O seu ser não fez nada por merecer.
Veja a sombra do seu passado
No que se tornou o seu presente
A falta de um futuro.
Veja o que lhe resta ao lado
Não é o bastante para o sonhado.
Veja o seu ponto mais forte o elo mais fraco
Seu calcanhar-de-Aquiles.
Veja a vida como vivida com seus encantos de época
O seu conhecimento ínfimo
A sua sabedoria impotente.
63
COVARDIA				
Aprendi o que é covardia
É tentar penetrar no pensamento do outro.
É tentar observar como o outro se sente,
O quanto o outro pouco difama o que viveu.
Sem que nada demonstre e permanece em sua segurança,
Dos valores que já concebeu.
Este é o meu ânimo traiçoeiro de viver
Sabendo que o outro não é meu.
64
MAL TEU				
Estás melancólico?
Estás magoado por teres mentido?
Mas a atitude não nega.
Não é fiel a ti próprio?
Fica embaraçado?
Finge ingenuidade?
Encontra-te acompanhado, mas em solidão?
Trai a ti mesmo.
Não és nem bom e nem mal?
Estás sem essência para viver?
Assegurou a sua alma?
E a ti, perdeste.
65
PORTO MAIOR			
O meu éden
O meu lugar de ócio, criativo.
O menor mundo
O mais vasto.
O que não atormenta
Não lamenta
Que sustenta a alma
Que faz viajar ao paraíso.
A cada segundo uma cor
Com as suas nuances loucas.
Histórias que nunca se repetem
Num movimento contínuo
Dando a cada instante
O início à felicidade.
E como melhor privilégio
Todos os caminhos levam
Ao Porto Maior.
66
ÓCIO					
Sempre foi vigilante para o ócio
Para fazer o que bem queria
Ficar com a sua amada todo o dia
Viajar e viajar.
Grandes são os prazeres inicialmente
Com o tempo um repente
O ócio passa a incomodar
Todos os dias tudo sempre igual
Sem trabalho para realizar
Com pouca habilidade para criar.
As mesmas anedotas
Os mesmos diálogos
O senso comum
Discutindo novelas
Futebol e pouca aquarela
A mesmice de fartar.
O dinheiro ficando escasso
A vida passando ao acaso
Um enjoo de matar.
67
CONHECIMENTO			
A importância do conhecimento
Trazida das experiências vividas
Devem ser passadas adiante.
Não tem razão
Guardá-las a sete chaves,
Isto não ajudaria uma pessoa
Ou uma Nação.
Experiências levam-se anos
A adquiri-las,
E quando repassadas
Se as são de negativas
Passam a condená-las
Como se fossem maquinação.
Não, não são,
Foi a dor que se alojou em meio ao peito
De cair em meio ao vão,
E que alguém de alguma forma registrou
Por escrito ou num contexto cerebral.
Mas quando na ignorância se assentam
As pessoas não se apercebem
Que não são conselhos dados
É critério é juízo,
São conhecimentos vividos e literários,
Que já estão prontos para protegê-las do itinerário
A que estão a se encerrar.
É a proteção para não cair no mesmo erro
De quem um dia o cometeu.
Mas quem destinado está
Para pagar com a sua experiência
Haverá de se lamentar um dia
Por ter ignorado todo o aramado
Que já lhe protegia.
68
FAÇA					
Está se lamentando de e do quê?
Leia o livro que ainda não leu
Escreva a carta que nunca escreveu
Dê a mão a quem nunca deu
Faça o elogio que nunca fez
Desculpe a quem nunca desculpou
Agradeça a quem nunca agradeceu
Use a tecnologia para o bem
Lamente menos e faça mais
Olhe menos para o seu umbigo
Olhe mais para o seu cérebro
Ainda dá tempo
Ame incondicionalmente.
69
MULHER				
Mulher
Porque estás ao meu lado?
Escolhi a ti sem pensar
Num espasmo de loucura
Com medo da solidão
Afoito e imediatista
Agonizo na mesma situação.
Hoje noto que, não tens a idade que eu queria,
Não possuis o corpo que eu pretendia,
Não me agarro a ti com os olhos da paixão.
Mulher
Tira-me deste dilema
Ainda preciso de ti,
Que pretensão,
Mas, o meu esquema,
Por linhas tortas foi traçado.
Não vês mulher
Que o teu sorriso é outro sorriso marcado em minha memória
Teu cabelo não tem a seda que eu imaginava
O teu cheiro vem de aromas artificiais,
E o teu dançar não é o da minha bailarina.
Mulher, o que te fiz, e agora não consigo,
Ser honesto em dizer-te
Vai-te embora.
70
CONFORTAVELMENTE	
Escuta, falo baixinho...
Estás confortável?
A dor está menos intensa?
Tente um sinal para que eu perceba
Faça um movimento com os olhos
Se não consegue por outra maneira.
Deseja que eu levante mais a cama?
Quer ver a luz da janela?
Por favor, dê-me um sinal,
A minha ânsia é muita
A sua não é?
Como é? Agora estou mais curiosa,
Como se sente agora?
Tem luz, tem frio ou calor?
Tem cor?
Estás confortavelmente
Em sua nova dimensão?
71
CINQUENTA ANOS			
Sempre estive com o bit ligado
Isto a mim sempre foi dito
Esta analogia não foi um desatino,
Acompanhou a minha anatomia.
A mente a mil estava conectada
A construir a cada momento.
À inércia, só por estar sentada,
De resto, nem melancolia.
Eis que os anos se passaram
O bit de paridade foi interrompido.
Agora me oriento pelo reverso
E o foda-se foi disparado.
72
VERGONHA			
Tenho vergonha de ter acreditado em quem eu não podia
Tenho vergonha de ter reverenciado perante mentes frouxas
Tenho vergonha de me ter deixado iludir
Tenho vergonha de não ter compreendido no momento
Tenho vergonha de ter amado o ser fracassado
Tenho vergonha de ter fraquejado perante o simplório
Tenho vergonha de ter sido cúmplice de algumas pessoas
Tenho vergonha de ter sido substituída pelo vulgar
Tenho vergonha da minha falta de esperteza
Tenho vergonha de não saber decifrar no tempo certo
Tenho vergonha dos meus momentos de ignorância
Tenho vergonha de ter dito verdades a quem não merecia
Tenho vergonha de ter tentado fazer crescer quem não queria
Tenho vergonha de ter tirado o prazer de pessoas fora do meu
alto nível
Tenho vergonha de ter feito sofrer por isso
Tenho vergonha de ter investido mal os meus sentimentos.
73
SEGREDOS				
Sim, não nego,
Tenho segredos e muitos
Não são segredos nocivos
São particularidades de futuro promissor
São engenharias de construtos
Elementos de traços retilíneos
De uma visão límpida
Com grandeza de ânimo
De pura verdade e generosidade.
Se descobertos ou revelados um dia
A jura constituirá a essência do prazer
Dará lugar até ao ódio pela cisma que existia
Por não poder vingar o desejo contrário
De uma imaginação que aos outros transmite
Que todo segredo por ser ele um segredo
Conduz a elementos contrários
Para a certeza do que é errado,
Do que machucará.
Os meus segredos são para os agrados
O contentamento determinado
A alçar venturas
Para o gozo do que é alvo de estima.
74
LICENÇA POÉTICA			
Escrever
É a essência da liberdade
Ousadia de pensamento sutil.
Não quero valores de gêneros e estilos
O barroco, o trovadorismo,
O lirismo, o narrativo ou dramático,
Nem mesmo o romantismo,
Nada contesto destes e outros,
São escritas de cada época no seu tempo
Que escondem com sutiliza os sentimentos
Associado a uma ética social.
Não quero a função poética
As rimas e emoção para encantar
Não me importa se vem em prosa ou versos,
Metafóricos para imaginar.
Quero os momentos de criatividade
Com os sentimentos em devaneios
Dar-me licença à poesia
Que nasce da autenticidade.
75
CASAR					
Hoje resolvi me casar
Não com gente
Gente é coisa indecente
Magoa, fere e mata.
Não faz companhia quando se necessita
Perturba na hora do silêncio
Bate a porta no momento indevido
Tira a concentração.
Gente é dependente
É o mais para o menos
Condiciona o pensamento
Subtrai o pouco que tenho.
Principalmente determinadas gentes
Que são as agentes sanguessugas
Que não leem os parênteses
No seu claustro foge pela tangente.
Casar-me-ei com a literatura
De todos os tipos
As de brilho às aventuras
Àquelas que desafiam o pensamento.
Essas sim são de grande valia
Causa provocação ao sentimento
Faz crescer e desenvolve muito
Muito o conhecimento.
76
MULHER DE ESCORPIÃO		
Profunda e misteriosa
Com seus olhos penetrantes
Até ao acender um cigarro
Magnetiza qualquer homem.
Mas o mesmo olhar que enfeitiça
Descobre os segredos dos mais reservados.
Os seus elogios, para ela não cogitados,
Serão analisados para as verdadeiras intenções.
Sua fúria incontrolável
Ciumenta e possessiva
Profundamente vingativa.
Perdoa com facilidade
Atos e fatos provados não intencionais
E manda no relacionamento.
Se existe uma inquietação por traí-la
Não há compaixão por ela medida.
Irá alimentar várias mentiras
Para fazê-lo sofrer até o chão.
Manhosa como uma gatinha
Carente fragilizada
Ao perder o controle das emoções
O furacão entra em atividade.
Ela poderá odiar amargamente
Sua tamanha dedicação
E ignorá-lo totalmente
Depois de tê-lo destruído.
77
RATO				
Foge como um rato de esgoto
Corre de um jeito meio torto
Mesmo todo desengonçado
Pula com facilidade os obstáculos
De um lugar fétido para o outro,
Come o que vier ao alcance
E ainda acha que é gostoso.
Mandrião cheio de talento
Na hora da guerra
Vira herói escondido
Em meio ao que está putrefato.
Aumenta o seu portfólio de cobiça
Para ter muitas crias
Agigantando seu exército de nojo.
Seu cantar é um guinchar
De dar arrepios
Que só pode encantar
Outros ratos do mesmo escoadouro.
78
NOVOS TEMPOS		
Não estamos mais no tempo dos coronéis
Naquele tempo que o homem tudo podia
Em que as mulheres escravizadas
Aceitavam as regras por intimidação,
As pobres Amélias consumidas.
Ainda existe por aí, homens coronéis,
Que vivem no passado
Achando que indo aos bordéis
Ainda serão reverenciados.
Pobres ignorantes do planeta
Irão ficar somente embriagados.
79
METAMORFOSE			
Abriste a caixa de Pandora
E agora, o que será de mim?
Faça algo que acalante esses males
Que me está a consumir.
Puseste-me neste desespero
Nesta desconfiança bombástica
Neste desconforto intolerável.
Sou essa borboleta pequena
De asas incontroláveis
Incerta dos desejos.
Caça-me com a tua rede entomológica
Tira-me dessa dança louca
A viver atrás de uma lanterna iluminada.
Quero acreditar na luz e não consigo
Ela pode ser a minha maior inimiga
Mesmo assim a sigo
E na armadilha posso cair.
Desafoga-me dessa desconfiança
Sem arrogância
Com palavras de esperança.
Faça de mim os teus desejos
Não disfarce as verdades com lampejos
Para fazer-me acreditar.
Saia do teu invólucro de lagarta
Transforma-te em borboleta
Venha me beijar.
80
E AGORA?				
O que devo fazer agora?
Lutar pelo que foi perdido?
Ficar mais pobre de espírito?
Jogar um jogo de cartas?
Empinar pipas na praça?
Movimentar a pedra no xadrez?
Olhar para a calopsita na gaiola?
Ficar por mais tempo livre?
Ler um livro em português?
Dominar a fúria que me consome?
Mirar o míssel para além do horizonte?
Colocar mais dinheiro no cofre?
Mandar flores por e-mail?
Escrever cartas românticas?
Ridicularizar as instâncias?
Fazer mágicas?
Beber uma bebida forte?
Olhar para o teto sem concentração?
Sentir aversão por tudo isso?
Enfrentar a flecha do inimigo?
Com muita coragem
Ficar na forca de frente para a multidão
Sem reverenciar os aplausos e risos à agonia
Que estão a festejar
Com o semblante mais brando
Escutando os risos e aplausos silenciando
Na minha mais sublime sensação
O ápice que se agiganta para minha bem-aventurança
Que estou a desfrutar.
81
PARALELAS					
Traço as retas
Infinitas retas num papel
Branco infinito
Retas que tendem ao infinito
Nunca se fecham
Não formam regiões
Poligonais.
Nas equações
Mais retas, retas
Para onde vão?
Já nem as traço
Com a régua
Essas equações das retas
O dia inteiro
No cansaço
Acompanhando as retas
As paralelas
Como no asfalto
Feitas pelos pneus do carro
Retas para onde?
Onde me levarão?
Para o infinito
Lá no final
O abismo
Morrendo em meio ao vão.
82
PROSTRAÇÃO					
Os teus olhos estão vermelhos.
E por que choras?
Perdeste o teu amor?
Já refletiste porque perdeste?
Achou que tiveste dado tudo de ti
Mas não foi o suficiente?
Agarraste no inútil pensamento
Que o concebido
Já era teu?
Agora achas que ao trocar as fotografias dos porta-retratos
Trará as forças para esquecer?
Olhará para ele
O quê verá?
Não será a nova foto que irá entrar pelas retinas de teus olhos
É a que já está registrada nos teus neurônios.
E todo o enxoval que te acompanha
Terás de queimar ou quebrar?
Faça todas as tuas cenas por agora
Destroçando tudo o que é material.
Estás a te sentir mais leve?
Mas não imaginas que em breve
Tudo que colocares na tona
Irás desaparecer nos rios de Goa
Levados ao mar.
Com o tempo e o oceano revolto
Devolverá os pertences
Devastados nas areias das praias.
Em todas elas encontrarás os pedaços
E toda a fantasia recomeçará.
Não, não é bem assim que te livrarás.
Acho que perdeste o senso
Não poderás reduzir à cinzas as memórias
De tudo o que te fez sonhar.
83
DIÁLOGO AOS CELULARES À BRASILEIRA QUE
OUÇO TODOS OS DIAS E, É MAIS OU MENOS
ASSIM:				
Tô no culto falando cum pastô
Cê num vem não?
Tem de vim, ora pra Jesus.
Ai! Só Jesus, pra intender ocê.
Mas se ocê vim, fecha a porta com treta chave
Aí tem muito ladrão drogado.
Dispois, meu namorado vem buscá nóis.
Então nóis vai até ao shopem.
Agente podemos olhá as vitrini.
Dispois ele leva nóis imbora.
Ispera, to ouvindo minha patroa.
- Num sei não onde tá-
Já que ce num sabe se vem
Coloca a comida pra esquentá
E o fango no fono.
Tem cuidado num si quemá.
Aí quando eu chegá
Posso cumê
Lá no shopem é tudo caro
E nóis num tem dinheiro pra gastá.
84
CHÁ						
Bebo chá de todos os tipos
Chás para ficar mais calma
Chás para as dores
Chás para tudo,
Mas sempre bastante cética
Da certeza sobre os chás.
Um belo dia resolvi beber um Xá
A partir de então aprendi literalmente,
Que chás são imprescindíveis
Para aliviar todos os males
Dos erros imprevisíveis.
85
EGOÍSMO					
Queria você sempre aqui
Do jeito que fosse eu queria
Que você continuasse aqui.
Quanta teimosia a minha!
Não compreender a sua dor
A sua agonia,
Só queria que você continuasse aqui
Para que eu tivesse a sua companhia,
Para que eu pudesse compartilhar as minhas palavras
Mesmo que você não compreendesse mais, o que eu dizia.
Eu queria que você ficasse aqui
Só por mim, nem era por você.
Só você sabia o que sentia
E com toda a sua sabedoria
Desafogou a sua dor
Silenciou.
Deixou-me e nem explicou.
E eu egoísta que sou
Ainda choro e grito a te procurar.
Imagino você aí no paraíso
O que deve estar a pensar?
Deve ser sobre a minha insensatez
A minha pouca compreensão
Sobre tudo que você me passou,
Que a vida é assim
Um holocausto dentro do uno.
E eu egoísta que sou
Paralisei na angustia
De não compreender que o lugar onde está
É o mais aprazível
E iremos nos encontrar.
86
DO MEU AMOR AO ÓDIO POR BETH		
Beth, com a sua varanda cheia de pó,
Suas chaves a darem nó
Seu telefone é de dar dó
Seu e-mail é um bagulho só.
E eu aqui tão inútil
Queria ter Beth para mim
Talvez mais, ser Beth,
Com a sua clássica elegância e sabedoria.
Fico a penar
Sonhando com seu baú
Correndo atrás, com atitude ineficaz,
Beth, rainha.
Eu esqueci a minha alma.
Estrago o meu amor,
Não vejo mais as flores nem as Marias,
Só vejo Beth, a todo vapor.
Não sei mais o que é vida
Viver é estar no encalço de Beth
Quero molestar, importunar, fatigar, do amor ao ódio,
Já que eu não tenho Beth, minha rainha.
Como seria bom esquecer Beth,
Gostar de uma mulher feia e sem vida
Mas, o meu amor não tem bondade alguma,
É fraco, como filhotes de passarinho.
E Beth, nem aí para tudo isso.
Parto da minha inveja à vigília e vejo Beth,
Indo e vindo, com seu andar de garça,
Lindo! Lindo!
87
VERGEL					
Meu querido Vergel, mesmo sendo de bits.
Hoje me despeço, pois vou estar fora por uns dias,
Vou buscar novas aventuras
Para te alimentar de fantasias.
Não fique com ciúmes,
Será um tempo de passagem
Mesmo longe posso te acompanhar
Mas não prometo que será realidade.
A liberdade que tenho
Está em seu jardim mais florido
Têm canteiros mais nobres
E outros esmaecidos.
Meu querido Vergel
Desde que te adotei, mudei de essência,
Vou criá-lo até a minha morte
É o que constrói a minha essência.
88
AO MEU OU MINHA, AUSTRALIANA		
Não sei quem és
Mas agradeço todas as visitas
No meu Vergel.
Nunca se pronuncias
E ao longe ou mais perto
Ficarei.
Vou sair para curtir
Um pouco mais da Europa, minha rota,
Mochila nas costas, tênis nos pés e muita loucura na cabeça.
Liberdade
Liberdade
Sem fim e no começo estarei.
89
VAIDADE					
Beber para ter coragem de gritar
O grito dos indecentes
Da inconsequência
Da justificação que não convence.
Viajar para fugir da própria verdade
A verdade que está enraizada
Que acompanha em toda a caminhada
E da redoma não sairá.
Pássaro negro camuflado de mil cores
Para manter os milhares de amores,
Mas a chuva cairá
E as cores irão desbotar.
Manter um tapete vermelho estendido
Caminhar sobre ele desmilinguido
Com a bebida, as viagens e as cores,
Que causam dissabores.
Que presunção mal fundada
De quem mantém ostentação
Para merecer admiração
De uma qualidade do que é vão.
90
FALSA FILOSOFIA				
Eu sou quem deseja compreender
Essa sua doutrina de bem viver
Que andas a defender
Da literatura ficcional árabe e europeia
Da Idade Média,
Através dos sete mares,
- Que se vive sem ordenado -.
E se manifesta com veemência
Exteriorizando os sentimentos e pensamentos
Com ardor e entusiasmo,
- O que alimenta a vida é viver do amor -.
Estou a dar o devido apreço
A essa ideia triunfal.
Mas, como posso acreditar nisso, nessa sua espiritualidade?
Nessa vã filosofia?
E o vinho, o pão de onde virão?
Pois acordo todos os dias,
Vejo com transparência
Famílias inteiras em penúrias
Na míngua de víveres.
Ah! Não sei se caio nessa cilada
De um dia possuir
A pedra filosofal.
91
CAIÇARA					
Caiçara, paira na praia,
Vagabundo sem toalha
Sem préstimos para a gandaia
Malandro que gosta de rabo de saia.
Caiçara, em sua estupidez de canalha,
Vive na orla ordinária
Tolamente selvagem
Não se embaraça.
Caiçara, pouco polido,
Medíocre, sem nada de extraordinário,
Vivendo do conto do vigário,
Inteiramente grosseiro e mal-educado.
Caiçara, mil quilos a mais sobre a terra,
Que pesa pela sua ignorância
Dividindo-a sem elegância,
Humanidade humilhada pela sua hipocrisia.
Caiçara, veste a sua carapuça,
Saia de mansinho
Bem devagarzinho
Assim, não nos atrapalha.
92
DA NEUROSE À PSICOSE			
Tens a neurose furtiva,
Vives alucinado e em delírios.
Na tua neura temos diálogos,
Na tua psicose, espasmos.
Nos diálogos rouba-me a distinção,
Sente-te sobranceiro
Denodado em seu valor.
Quando entras na alma das sombras
Veste-te de altivez,
Dos teus delírios à empáfia
Rebusca com apreensão
Com esmero excessivo
À sensação que precede o ataque,
Que já na crise aflitiva
Suga-me toda a energia,
Abrindo sulcos na terra.
Vejo pelos profundos rastros
Deslizando abaixo
O primor que fostes um dia.
Entro em profundo desassossego
De ver-te neste estágio iminente
Indo ao encontro do desenlace fatal.
Sinto-me rigorosamente impotente
De controlar os teus propósitos
Desde logo, subsistentes.
93
ESTÉTICA					
Estás linda, estás magra e eu gorda!
Estás linda, estás gorda e eu macérrima!
Então, quem é a mais linda, a mais atraente?
A gorda infeliz por não ser magra?
A magra com o mesmo presságio da gorda?
O hipopótamo fêmea é feia por ser gorda?
A libélula é horrenda por sua magreza?
Não, ambas são lindas.
Elas possuem o próprio palco para desfilar,
Não vivem da ovação iniludível,
Possuem originalidade.
94
TACITURNIDADE				
Zetalhões de poesias a disposição.
Quanta literatura
Livre para ler.
Tanta manifestação
De falsas virtudes.
Tenho saudade dos filmes mudos
Estes sim, diziam muito.
95
LÓGICA DO LOUCO			
Vem..., louco
Atraído pela ira dos desencantos
Em pele de cordeiro
Voz doce
Sonhos a realizar.
Vem..., louco
Amaciando a vítima
Encorajando-a com malícia
Desconcertando o enredo
Espreitando na contramão.
Vem louco, nas suas diferentes formas,
Surpreender com a sua metamorfose
Com sua opaca e colorida aparência,
Tentar através da fresa
Enviar um friso da sua maldita luz.
Vem...
Mais uma vez como veludo,
Emerge do seu submundo com a sua maleficência
A repousar no colo amigo
O seu mundo hostil.
96
Gosto disso
Mais que daquilo
Não sei por que gosto disso
Se não conheço a quilo.
97
CÓLOFON
Explicit.
Este livro foi composto em fonte Life BT corpo 11, e paginado em
InDesign. A impressão e o acabamento foram feitos por Gráfica
MPAC, em Vitória -ES, O papel utilizado na impressão do livro
é o alcalino original, alto alvura, opacidade 92 e gramatura 90 g/
m², na cor branca e com espessura de 110 µm em abril de 2014.
Livro 02 - A Ordem do Silêncio

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  • 3.
  • 4. MARIA DA PENHA BOINA A ORDEM DO SILÊNCIO Poesias MPAC DESIGN EDITORA Espírito Santo, 2014
  • 5. Edição original: 2014 Copyright © by MPAC DESIGN Ltda Copyright © by Maria da Penha Boina COLEÇÃO MPAC DESIGN - 2014 Editores: Antenor Cesar Dalvi e Maria da Penha Boina Capa: Antenor Cesar Dalvi e Maria da Penha Boina Fotos: divulgação Direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19.02.1998. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou sistemas magnéticos recuperáveis, sem permissão, por escrito, do Editor. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil Direitos desta edição: MPAC DESIGN Editora Rua Dulce Brito Espíndula, 72, Jardim Camburi, Vitória - ES http://vergeldebits.blogspot.com (27) 3336.4916 Impresso no Brasil - 2014 Boina, Maria da Penha SILÊNCIO, A ORDEM DO: Poesias; Maria da Penha Boina; Vitória, ES. MPAC DESIGN Editora, 2014. 93p; 19 cm. ISBN Não requerido 1. Poesias Brasileiras 2. Poesias Capixabas CDD-Não requerido
  • 6. Já deixei bons livros para trás e os perdi, já deixei pessoas que amei para trás e também as perdi, mas o que mais me dói foi ter perdido os livros, eles não mudam de opinião sobre mim.
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  • 8. 8 SUMÁRIO A ORDEM DO SILÊNCIO 15 AGONIA 16 PEINHA 17 MARIA 18 PROMESSA 19 PERTURBAÇÃO 20 PANO DE FUNDO 21 ERROS 22 DESENGANADO 23 ÚLTIMO DOS NEANDERTAIS 24 LUSO-FUSCO 25 O LAÇO E O NÓ 26 AMOR I 27 AMOR II 28 AMOR III 29 CASTIDADE? 30 SILÊNCIO PERVERSO 31 MULHER 32 CORRUPTO 33 CRITICIDADE 34
  • 9. 9 ESPÍRITO SANTO 35 ARLINDO VIDA’BOA 36 SEM ANALOGIA DE ALMAS 37 AS BARATINHAS 38 MONSTRO 39 SEGREGADA 40 LIMITAÇÃO 41 VERDUGO 42 CONDENADO POR SI SÓ 43 ELEGÂNCIA 44 SUBLEVAÇÃO 45 SUA EXISTÊNCIA 46 SEM FIM 47 DESEJAS-ME 48 RELACIONAMENTO 49 INVÍDIA 50 TEMPO 51 MUROS DA VIDA 52 ESPERANÇA 53 MEIO CAMINHO 54 HOMEM DE RUA 55 AMIGO 56 ARMADILHA 57
  • 10. 10 AMIGA ANACONDA 58 REPRESÁLIA 59 SAÍDA DA VITRINE 60 VEJA 61 COVARDIA 62 MAL TEU 63 PORTO MAIOR 64 ÓCIO 65 CONHECIMENTO 66 FAÇA 67 MULHER 68 CONFORTAVELMENTE 69 CINQUENTA ANOS 70 VERGONHA 71 SEGREDOS 72 LICENÇA POÉTICA 73 CASAR 74 MULHER DE ESCORPIÃO 75 RATO 76 NOVOS TEMPOS 77 METAMORFOSE 78 E AGORA? 79 PARALELAS 80
  • 11. 11 PROSTRAÇÃO 81 DIÁLOGO AOS CELULARES À BRASILEIRA QUE OUÇO TODOS OS DIAS E, É MAIS OU MENOS ASSIM: 82 CHÁ 83 EGOÍSMO 84 DO MEU AMOR AO ÓDIO POR BETH 85 VERGEL 86 AO MEU OU MINHA, AUSTRALIANA 87 VAIDADE 88 FALSA FILOSOFIA 89 CAIÇARA 90 DA NEUROSE À PSICOSE 91 ESTÉTICA 92 TACITURNIDADE 93 LÓGICA DO LOUCO 94
  • 12. 12
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  • 14. 14 Tenho hoje uma nova maneira de ver o mundo. As cacetadas da vida nos ensina que devemos enfrentar as realidades duras e sofríveis. Devemos tomar decisões para podermos viver a exatidão de cada vértice, mesmo que não seja a melhor decisão. Sempre que toco com a ponta do dedo indicador na água uma gota se prende. Fixo os olhos e vejo a minha vida a passar dentro dela. Sempre que entro no elevador e subo, os pensamentos voam e tenho a sensação de subir aos céus, quando desço, chego ao térreo. Não quero nada do quanto posso, mas quero tudo do quanto desejo. Não leias mais às escondidas o que escrevo, Não mostres mais a tua burrice que já conheço, Ao ler sem saber interpretar. Não, nunca fora amigo e muito menos amante, Tu és um espaço vazio no horizonte Que Deus se esqueceu de completar.
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  • 16. 16 A ORDEM DO SILÊNCIO Talvez seja tarde para ficar pensando Escrever e, cair em sufrágio o leitor. Então indago na proposição o silêncio A não procura da hipótese verdadeira. Predestinado ao nada fic a alguém Quando o silêncio comanda a minha intuição. Em conflito eu entraria neste momento, E provaria do meu rancor. Essa repugnância logo lhe diria A montante o seu valor. Não! Não tenha então esse direito suposto Que de nada irá adiantar o seu esforço Sua vaidade não terá razão. O meu sentimento abortado Deixou o espaço ao meu lado desbotado Sem guardião para a minha base. O que faço agora neste cair da tarde? Abro a guarda à ocupação.
  • 17. 17 AGONIA O fardo que carregas agora Não é nada perante o que está por vir. Estarás na sofrível lida para tirar a nódoa Do esfregaço criado pelo vinho derramado. O que desejas que eu te dê agora? O esquecimento, a dor em que agonizei... A saudade desgarrada... Não, dar-te-ei a verdade mais temida. Dou-te a liberdade e o que ela oferece, A natureza rústica O cheiro das flores do agreste A esperança mórbida da vida terrestre. Tens tudo nas mãos para delinear a tua história E quem sabe achar a mais nobre pepita Que rola nas águas esquecidas. E o que mais te dou para te consolares? O bálsamo das palavras agastadas Que com elas curei as minhas feridas.
  • 18. 18 PEINHA Muito prazer sou Penha Intitularam-me Peinha Uma coisinha sem senha Que não se embrenha. Muito prazer Sou quem equilibra a barrenha Na péinha Não tem quem detenha. Muito prazer Gosto da sombra da carrasquenha, Tampouco me importo De vestir-me com estamenha. Muito prazer Sou pequenininha Se contenha... Que não sou inhenha.
  • 19. 19 MARIA Desistiu do teu jeito empertigado Tudo toca no teu íntimo Desse mundo conturbado Amarrotado, desconcertado Intricado e mal amado Que não há quem possa conduzir. Ah! Maria, Maria Sempre esteve no teu âmago Sem contrariedades Que sempre foras Especificamente cosmopolita.
  • 20. 20 PROMESSA Prometi! Então, não vá me deixar, O resto são as queixas Para suportar as madeixas Que passaram em suas mãos. Promessa feita Não admite desleixo Tem de cumpri-la com respeito Só assim, cura o desfecho. É promessa medida, Que encerrará a paciente espera Acender-se-ão as velas E apagará a volatilidade da vida vivida.
  • 21. 21 PERTURBAÇÃO Eis que se abriu a primeira cortina Nada vi naquele palco Fiquei a espera e observando O velho tecido que não sacudia. Eis que se abriu a outra cortina E nada vi naquele palco Escutava a música de fundo Inalando o mofo que ali envolvia. Eis que se abriu a terceira cortina Nada vi naquele palco Um zum zum zum acontecia na plateia, Reduzi-me a ler o encarte da peça de teatro. Eis que se abriu a última cortina Novamente, nada vi naquele palco, Agora havia um silêncio aterrorizante Mas era esta, a peça no teatro.
  • 22. 22 PANO DE FUNDO Saltei da tristeza à alegria Qual foi a magia? Foi o meu blefe à cilada. Resgatei a variável Do modelo, já descartada. Foi no aguçar do pensamento Que reformulei todo o problema Com interações complexas do esquema Simulei a resposta mais convicta De não mais dar o próximo passo. Deixei o estratagema intacto Devolvi sutilmente o drama ao íntimo Do infeliz criador do artifício, Ficando por inteiro enredado.
  • 23. 23 ERROS Nunca me importei com os teus erros, Eles são vãos; Como poderia julgá-los - Perante os meus? Que tão vastos são...
  • 24. 24 DESENGANADO Existem em diálogos frases estreitas - Confia em mim – é uma delas Pesa demais escutá-la. É perfeccionismo exacerbado Idolatrando-se altruísta, Causa de referência execrável. No máximo, o aceitável, Seria alguém que pudesse “acreditar”... Afugentando um pouco o egoísmo. Abstrair-se dessa persuasão É eleger-se convicto, É não deixar-se iludir Através do mecanismo doloso Do anti-herói à conquista do apogeu.
  • 25. 25 ÚLTIMO DOS NEANDERTAIS A qual tribo você pertence? Deve existir alguma a que pertence... Mas não consigo decifrar qual... Não possui habilidade alguma Não caça, não pesca Não tem jeito, as mãos não fazem nada O cérebro não cria Não tem religião e nenhuma crença Não entende de política Não trabalha não se esforça Não estuda nem pensa Mas, deve existir uma tribo a que pertence... Qual? A tribo da ilusão? Da satisfação sem esforço? Da opinião sem o fato? Sem fato não existe conceito... A tribo dos necessitados? Dos vampiros? Dos pés descalços? Dos afogados em mágoas? Dos que vivem somente de solicitude? A qual tribo você pertence? Dos televisivos? Dos sem compromissos? Dos chateadores? Dos furtivos? A qual tribo você pertence? Dos amantes idolatrados Ou dos sacrificados? A qual tribo você pertence? Do uso da muleta humana? Não, você ainda não possui uma tribo É Homo neanderthalensis O que sobrou e se adaptou Da tribo sem evolução.
  • 26. 26 LUSO-FUSCO É tarde de final de verão Clima ainda quente, ardente, O dia cai numa rapidez de torrente, Nesse crepúsculo que precede ao anoitecer. Indago como fica a ternura nesse ocaso, Numa intriga perene, Literalmente, aguada.
  • 27. 27 O LAÇO E O NÓ Houve um enlace entre o laço e o nó Triste acontecimento O laço deve unir num desate O nó retira a autonomia. Que exista somente o laço Mantendo a complacência entre seres Mate o nó, para que exista alforria.
  • 28. 28 AMOR I Sinto por ti, amor sobre-humano, Amor que estas palavras não descrevem Amor de sentimento mais que profundo Amor que o próprio Deus desconhece. Sinto por ti, amor! Amor cá de dentro... Amor de loucura e sofrimento Num campo de força intransponível. É tão grande o meu amor, amor! Que não admite o teu sofrimento Amor que fala tão alto e sem orgulho Que é incapaz de deixar-te sem alimento. Sinto por ti, amor! Amor acima do meu tormento Acima da dor que o meu corpo recente Sinto por ti, amor! Amor cá de dentro...
  • 29. 29 AMOR II Seu amor, amor! É amor frágil Amor possessivo Amor pequeno demais. Seu amor, amor! Não é amor de luta Amor consistente Amor de pouca labuta. Seu amor, amor! É amor para as “Helenas” Pessoas pequenas Com pequenos dotes que lhe interessam. Seu amor, amor! É amor arranjado Amor dependente Amor de boteco. Seu amor, amor! É amor passageiro Amor de agradecimentos Não é amor das Marias Meu amor, amor! É amor que suplanta as suas baixas ideologias Que perdoa a sua insignificância É amor cá de dentro. Para o seu futuro amor, amor! Não serão os haveres aos quais pertence Que superarão as suas dores Sempre serei eu, que estarei aí dentro.
  • 30. 30 AMOR III Se for amor o que sente por mim Então fique caladinho Respire bem de mansinho Fale baixinho Para não espantar os coelhinhos Para não afugentar as borboletinhas Pra não quebrar a taça de vinho. Amor é assim, silencioso, Sentimento sentido É sem fim.
  • 31. 31 CASTIDADE? Mantive-me em castidade Durante anos a fio Para não trair pelo carnal Mantendo a jura ao falo divino. Ora, não foi possível, Em saber por terceiros, tão grave desleixo, Por quem tive apreço E deixou-me a ver navios. Não suportou o enorme desejo Em derramar o líquido quente Com prazer veemente Entre as coxas das alcoviteiras. E eu, diante de tamanha negligência, Purificada ficaria? Oh! Não, não tenha tamanha presunção, E não me acuse com as suas queixas. Que imaginação asquerosa Tipo, homens de Atenas. Que ingenuidade ordinária Imaginando existentes as melenas. Meu caro! O tempo remontam outros O que desejas para si É imagem e semelhança para o outro. O que dói é saber Que outras dores iguais, provarás, Se não modificares esse cérebro nefasto E não aprenderes a perdoar.
  • 32. 32 SILÊNCIO PERVERSO Ações são acontecimentos naturais, São as previsibilidades conforme as assimetrias Que quando passado algum tempo Tornam-se plausíveis. Quando a fala articula argumentos Extravasam-se inquietudes perturbadoras Entra-se ao final em cooperação mental Num entendimento consensual. A voz deve dizer o que não se quer escutar Ao anunciar muitos dissabores Mas, pior é o mistério e inação, Que prepara golpes aniquiladores. Atormenta muito, o mundano silêncio, Feito, integro por perversão, Porque quem cala, consente a alguém imaginação, E nessa calada, escuta-se golfadas de intenção.
  • 33. 33 MULHER (Para Elizabeth Boina) Como é linda a mulher que passa Passa todos os dias na mesma rua Alta esquia e límpida Brilhante como a lua. Meu Deus! Quem é a mulher que passa? Num balançar singular de cintura Que o meu olhar se distrai E o meu compromisso descontinua. Que desejo ardente que tenho E não posso fraquejar Será que alguém sabe me informar Quantas primaveras já se passaram por ela? Procurei saber um pouco mais E alguém confiante e clarividente, disse-me, E mulher da mais pura desenvoltura. Não caia nessa, amigo, É mulher dos anos cinquenta que desfruta Da inteligência, beleza e plenitude infindas.
  • 34. 34 CORRUPTO No mais nobre terno de linho branco Caminhando no deserto vazio Cabeça alucinada A duna era um palco. No seu topo e decentemente A boca seca como depois de um porre De aguardente Declamou versos de Bandeira Às areias infinitas. Testamento era o poema Sentimento agonizante da vida Malfadado, desventurado Calamitosa sina. Reina o condenado Com acabrunhada colheita Dum monólogo terminado Sem aclamação.
  • 35. 35 CRITICIDADE Aos tolos e iletrados Falsos leitores de poesias Julgam-se interpretes inatos Na sua horrenda analogia. As artes nascem de esforços hercúleos Da solidão à perseverança Engaiolada num verão de janeiro Desabrocha a criação. Muitas vezes vivo o que escrevo Momentos que trago à clausura Outras vezes do nada sai o pensamento São palavras que se amoldam com formosura. Os asnáticos nunca saberão O que escrevo é somente à minha interpretação O que eles leem... Não é mais a minha poesia.
  • 36. 36 ESPÍRITO SANTO Espírito Santo, Estado da região sudeste, Que no mapa do Brasil quase não aparece, E que deve mesmo ter o “espírito santo” Para não ser engolido pelo Atlântico. Tem por capital o nome de rainha Vitória, vulgarmente, Vitorinha, Menininha lindinha Misteriosa, uma ilha. Aqui nascidos, somos tupiniquins, Capixabas do roçado para milho e mandioca. Os nativos com os imigrantes se entrelaçaram Formando uma raça compatriota. Dos imigrantes, o quê dizer? Português a procriar Formando a etnia popular. Raças puras... Os alemães a labutar A beleza italiana Para o mundo se encantar. Têm as praias, que lindeza! A Bacutia, com a sua elegância, É das pessoas belas da nobreza É de entusiasmar. Quem aqui vem, nunca mais volta, Porque aqui, Deus não escreve por linhas tortas, É o “espírito santo” a comandar.
  • 37. 37 ARLINDO VIDA’BOA Arlindo Vida’Boa fugiu da crise econômica de seu país, Veio tentar, outra vida boa, aqui pelo Brasil. Fincou pé numa metrópole, de águas quentes e boa brisa, Esqueceu-se de se abstrair da realidade convincente das grandes capitais. Os arredores são cruéis, não são pintados a pincéis. Arlindo Vida’Boa! Não é de brisa que se vive em terras de coronéis.
  • 38. 38 SEM ANALOGIA DE ALMAS Sou puro sentimento, sou mulher, É na constância sentimental que alimento a minha alma, Os céticos que a lê, dizem que em mim não existe. Digo com solidez que a vida não é arbitrária, Tenho como princípio o antagonismo, Para alimentar o meu sentimento, ajo com a razão. Sou uma imperfeição de pessoa Tenho como causa primária às exceções Profano as regras capazes de eliminar a minha abstração. Quem comigo conjumina, leva-me a uma triste impressão, De tirar-me o privilégio do desvio, do habitual. Quem clarividência minha alma, elimina a minha consciência sutil. Não aceito esse dogmatismo que dissimula a minha regalia Sou uma semideusa, assim, onipotente, Tenho uma alma conceitual sem similitude.
  • 39. 39 AS BARATINHAS Não gosto de baratinhas De nenhuma delas precisamente, Mas existem as francesinhas São traquinas, brincalhonas, Correm velozmente. Por saberem do meu dissabor Insistem em serem minhas amiguinhas Ficam a brincar comigo persistentemente. Quando no joguinho eu entro E empunho a vassourinha As danadinhas todas afáveis Correm e imergem Para dentro do ralinho.
  • 40. 40 MONSTRO Homem que possui o domínio Eleva-se de formosa ternura Com palavras simples e agradáveis Emana a delicadeza das plumas, Olhos claros, límpidos, Que encanta o feminino Com os louvores da doçura. Homem que o domínio perde No cume do ciúme enraivece Como fera ferida enlouquece. As paredes ressoam sons monstruosos, Torna-se pétreo à doçura E olhos matam as pessoas que mirar. Mentecapto na humanidade já insana.
  • 41. 41 SEGREGADA Por estar sentada, trabalhar, construir e pensar Escrever e exaltar sentimentos inerentes ao meu ser Decidir, externar, incomoda? Sim, torno-me inoportuna. Sei que sou pouco, quase nada, Diante de tudo que me circunda. Mas ser capaz de corroer minha essência Através da inveja e críticas infundadas Pela fala que fere mais que bala. Não, assim não vale nada, Não poderei tirar proveito desse juízo É ironia impensada De quem julga livros pela lombada. Diante de tão pequeno discernimento Dou imenso valor em estar segregada.
  • 42. 42 LIMITAÇÃO Tenho uma coisa assim, sentida, Que não pode ser entendida Mas causa desilusão. É de fato coisa séria Traz sensação deletéria Que melhor, não professar. Caminhando com graça, vou seguindo, Com diadema ornando a cabeça E os pés encaixando na estreiteza, Entre as valas do caminho.
  • 43. 43 VERDUGO Foram tantas as injurias Foram tormentas ensurdecedoras Que matou o prazer Em que se deliciava O imolado morreu, Gritar, não é mais preciso. Por certo, sente um vazio, Escapou entre os seus dedos A sua sensação mais deleitosa. Não sofra por essa perda Novos caminhos sempre se abrem Para outros desatinados. Viver de rancor é a sua bravura. Portanto, não fique abatido, Sua caça não será debalde. Para os seus gritos Outros ouvidos Entrarão em dissabores. E como carrasco que é Deliciar-se-á certamente Na perversidade que irás causar No próximo desavisado.
  • 44. 44 CONDENADO POR SI SÓ Que lindo o mundo dos computadores e das tecnologias Que linda a nanotecnologia, Vamos com ela a todos os lados. Tu não podes utilizá-las? Mas o quê aconteceu a ti? Naufragou neste mar revolto? Fez coisas que te prejudicou E agora estás no submundo tecnológico? Usou-a de maneira incorreta Trucidou a descoberta E acabou com a própria liberdade, Usando codinomes e tornou-te um stalker? Porque será? E que belo codinome utiliza! Casou com uma pequena, ilegalmente, Usou pessoas como amantes para o próprio bem Aniquilou a própria personalidade. Que pessoa medíocre és tu? Imagina que o telefone Não registra a montante Tudo o aquilo que dizes? Ainda não percebeu que tens um chip incrustado No teu antebraço E tens por merecê-lo. Não adianta mais a suas artimanhas A falta de fotos e e-mails As cartas que nunca envias, E tudo mais que tens a esconder. Os Juízes são absortos Seus ordenados são por merecer, Portanto, não darão folga, As pessoas de vida torta que os subestimam, Eles o colocarão como condenado E verás o sol Nascer quadrado.
  • 45. 45 ELEGÂNCIA Senta-te a mesa mais sofisticada Com os talheres postos à francesa, São tantos os adornos sobre o corpo Que confunde o brio da nobreza. O que queres dizer com tanta altivez? Guardados nos inúteis pensamentos acres Com gritos no olhar silencioso E semblante de vileza? Perdeste a faculdade de julgar, Não sabes conceber a elegância Que se apresenta como atributo mais sutil Na mímica da prudência e da leveza.
  • 46. 46 SUBLEVAÇÃO Não te espante Doutor Essa é só a minha dor, Mas não toque o dedo na ferida São os ais... Da minha vida. Observa Doutor As minhas cordas vocais Não são como as cordas das harpas São pregas fenomenais. Os ais que grito e ouves São bem postos Não duvide, eu não gosto, São ais... De toda uma Nação. Não te engane Doutor Diagnosticando essa minha rouquidão. Terás de dar o mesmo diagnóstico A toda população. Admita doutor Que será muito difícil encontrar Este mesmo sintoma Em outros Doutores, discricionários. Encontro-me doente Doutor? Os meus ais não serão escutados? Não existe paliativo para essa dor? Ah! Doutor Se a dor vai continuar Vou subir no mais alto dos montes Serão tantos os meus gritos em ais Emitindo ondas sonoras Intensamente vibrantes Que perturbará as cordas das harpas Fazendo-as tocar Músicas infernais.
  • 47. 47 SUA EXISTÊNCIA Sua existência me conforta Não importando saber se você, Está rico ou pobre Magro ou gordo Com a aparência mais jovem ou envelhecida Feliz ou infeliz Acompanhado ou só Viajando ou enclausurado Comendo ou minguando Nervoso ou apático Com saudade ou desprezando Drogado ou de cara Orando ou resmungando Sendo assim ou assado. Assando. O que mais me importa É você existir, Para que não desapareça Este ser inconsequente Que se tornou a minha fonte inspiradora Dos meus momentos mais sublimes Em que deslizo os meus dedos no teclado Criando poesias.
  • 48. 48 SEM FIM O que você está fazendo aí parado em pé? Para onde te levará essa fila? Você tem certeza se ela terminará? Sabe o que irá encontrar? Sinto que você está bastante ansioso Observando e esticando o pescoço E é uma fila indiana Parece mais uma romaria. Suas mãos estão suadas? Porque o seu corpo se move constantemente? Será algo que você não poderá perder? Existe uma hora marcada para chegar ao fim da fila? Você está entorpecido por isso? Tem de alcançar? Você agora externa pela face certa raiva Seu semblante mudou muito, Foi pela certeza das vozes em sua mente, Que disseram que não mais chegaria? Agora você está agonizando na fila, E olha para trás Não existe mais ninguém? A fila anda lentamente e você é o último da fila? Não adianta se penalizar Nada mais fará diferença, Você se apossou da fila errada Ela não tem fim nem começo É uma fila em espiral, infinita.
  • 49. 49 DESEJAS-ME Desejas-me como quem deseja colher camélias em vasos de varanda Como quem sonha em surfar na mais alta das ondas Ou escalar a mais íngreme montanha. Desejas-me como quem deseja chegar por teletransporte Como quem conta com a sorte Ou desconsidera a morte. Desejas-me pela ilusão do querer Pela fantasia do ego Ou imanência e transcendência de poder. Desejas-me sem as camélias Cingido pela epopeia Transmutado pelo épico.
  • 50. 50 RELACIONAMENTO O relacionamento acabou mas existe amor? O ódio, a vingança se apresenta. E o vazio? Que tormenta! E chora-se e ri-se. O corpo fica esquálido. Os olhos não veem os campos, as ruas e as cidades. Não se escuta os cumprimentos, são sussurros desnexos. Quer-se a amizade? Não, não existe possibilidade – É amor. Sente-se a senhora de cetim negro, mais próxima. Caminha junto a todos os passos. Então o que é melhor? Lembrar-se que a vida é uma peça de teatro, E o vivido não foi mais que meio ato.
  • 51. 51 INVÍDIA Estou tão longe, Longe dos espíritos maus Mas, que possuem uma fúria de bestas, Que ecoam sons a esgoelar. Esbravejam o meu nome Na esperança de secá-lo Com um amor de inveja Prestes a lhes trucidar. Não, não mereço tanto amor assim, Não mereço que vivam a mim, Não se degolem ainda A hora não se faz. Sei que sou este mal necessário Que suplanta os desejos Alimentando ódios Nas meninas dos olhos. É sofrimento que abunda Nos sorrateiros Que não possuem espírito próprio Desejando ser a mim, por inteiros. Ainda hão de se enganar, Competir com a minha valente alma Requer hercúleo esforço, e o meu espírito, Não lhes irão encarnar.
  • 52. 52 TEMPO Você achou que o tempo não passaria? Tentou se convencer de que nada aconteceria? Fez com que o seu cérebro queimasse no alto-forno? Esqueceu-se de que o fogo queima? Mas o produto escorreu Petrificou com o ar Tentou a picareta para quebrar e nada Tentou um componente químico Mas a química não permitiu que se liquidificasse novamente Pronto, você envelheceu e ficou pronto. Nada mais é capaz de modificar Nem os vermes conseguirão devorar E você ainda nem percebeu Que o tempo passou e se foi para bem longe Nem é capaz de processar lembranças e a dor aumenta Mas o que solidificou nem pensa Só sofre e nem sabe discernir em que consiste.
  • 53. 53 MUROS DA VIDA Você deveria saber que para as pessoas civilizadas E em mundos civilizados, Existem tendências de derrubar muros. Então como você pode imaginar-se civilizado Possuindo a vertente contrária? Criando um muro tão elevado Que é impossível transpor. E se um dia o seu muro cair? Como você irá olhar para o outro lado? Com a mesma estupidez, coragem insossa, e imperícia que o fez construir? Ou já tem na ponta da língua As evasivas para o diálogo? Possui tanta presunção de achar-se assim tão diplomático? Você acredita que para a sua indulgência Encontrará complacência? Você deveria saber, Que em todo ato de indiferença Não existe a possibilidade de encontrar Do outro lado do muro Pessoas solícitas e afáveis.
  • 54. 54 ESPERANÇA Não nego que tenho esperanças Fico a espreita para uma brecha Alucino à beça. É o meu estágio de loucura Permanecer aqui sentada Toda de verde e imóvel A pugnar o nada. Vejo a luz É vermelha Mas afunda lentamente E vai ficando cada vez mais negra. Qual a cor que se apresente? Não, não sou inconsequente, Tem de ser a transparente, Que nas profundezas do mar Sobrevive resplandecente.
  • 55. 55 MEIO CAMINHO O laço está apertado demais? Não consegue fazer com que a corda deslize nas polias? Folgue um pouco, a escalada é longa. Mas não folgue tanto assim Você poderá escorregar E você já fez um terço da escalada E não sabe das dificuldades que virão. Faça uma coisa de cada vez no seu estribo de um degrau E bem planejada. Olhe para cima e veja os obstáculos. Não verificou o tempo? Chove e a pedra está escorregadia? Verificou o sistema de ancoragem? Você tem tantas primaveras Mas é um novato. Você sai rápido demais para as suas aventuras. Agora já tão alto está com fobia. Olha para o lado e não vê ninguém para ajudar. Ficou a meio caminho pendurado Entrou num dilema sem conseguir subir Não consegue descer. Tome qualquer decisão Já que nunca decidiu por nada. E hora de mostrar o seu valor. Grite peça socorro Desvincule-se da sua altivez Ou prefere continuar na corda bamba Para não ferir a sua soberba.
  • 56. 56 HOMEM DE RUA Depois de anos continuava ele ali sentado Sempre a observar o nada Ou a pedir uns trocados. Sujo, imundo e maltrapilho, Na sua liberdade ambulante De súbito viu distante Um brilho desconcertante. Levantou com certa preguiça dada pela fome, Caminhou lentamente, Abaixou e pegou o diamante. Ele não tinha por certo o que era, Mas a intensidade do brilho Fez guardar nos seus trapos. Assustou-se com o que ali perto ocorria, Aquietou-se nos seu espaço. Era uma batida policial por um assalto. Mandaram que se levantasse E acharam a pedra maldita. Perguntando quando a roubara Ele nem chegou a abrir os lábios, Colocaram nos seus pulsos e pés as algemas. E o levaram ao delegado. O desgraçado apanhara e fora preso, O pobre que nem sabia o quanto valia A pedra que achara ao acaso. Agora lá sentado a olhar para as paredes Que nunca tivera um dia, Por causa de uma estranha pedra brilhante Que para ele pouco valia. A pedra lhe tirou a vida de vagamundo A única liberdade que tinha.
  • 57. 57 AMIGO Amigo, o que queres de mim? Todas as melhores pedras incrustadas no marfim? Todas as minhas virtudes? Quantas cobranças que me faz! Pergunto ainda: O que tens para mim? Somente as loucuras dos seus lamentos? Nunca esquece as minhas conjecturas? Mas as suas, nunca haverás de lembrar? Amigo, esqueço sempre as nossas desavenças, Perdoo sempre, mas voltas a lesar. Em cada mau trato, uma pedra se desprende do marfim, A joia vai perdendo o seu valor Ficando somente uma nuance De uma amizade hesitante.
  • 58. 58 ARMADILHA A dor moral é a pior das dores O estomago passa a ser uma úlcera Veneno que o aniquilou. São acusados, O importunante e o importunado Pois existem os que só veem Apenas um dos lados. Com as atitudes malogradas Arma-se o alçapão E tolhe toda a sorte que poderia advir.
  • 59. 59 AMIGA ANACONDA Encantei-me por uma anaconda Acabei por adotá-la Alimentei-a com animais inofensivos Vivos. Com o tempo fui me aproximado Toquei-a, escamosa e fria, Grande, aconchegante, Era tudo que eu queria. Começamos as nos enroscar Eram toques suaves sem malícias. Nesses anos de convivência Encontrávamos sempre a luz do dia. Numa noite fria ela veio até a mim Como o remanso de um rio arrefecido Lento e vagaroso Esfregando sua textura Como um gato preguiçoso. Deixei-a enrolar em meu corpo, Que de mansinho sentia a suas carícias. Fui sentindo-a bem devagar E encontrei-me em ardilosa companhia. Seu abraço estava ficando cada vez mais apertado Meus pelos ficaram eriçados Os ossos com uma sensação desagradável. Ei! Amiga anaconda! Gritei! Foi um lapso, não te alimentei. E ela não perdoou O meu engano involuntário Pela falta de comida.
  • 60. 60 REPRESÁLIA Eximir-se da atenção em momento delicado Da hipocrisia e dissimulação de alguns Quando a alma lastima por medo E saber-se tolerante racional. Os agastados necrófagos se alimentam Deste equilíbrio frágil que em alguém se apresenta Para mostrar-se viripotente Sobre esperanças já pouco alicerças. Grandes heróis valentes Invocam a morte de um ente “Que morra bem distante” Para que não sintam o mau odor.
  • 61. 61 SAÍDA DA VITRINE Não pense que eu vou dizer um sim Só para te agradar. Não pense que o meu não Será para te prejudicar. Só pretendo ser assertiva Não estou no mundo para satisfazer. Não sou perfeita Para que todos me admirem. Não tenho vaidade ao ponto De querer ser unanimidade. Não gosto do que não gosto Não vou admirar o que não admiro. Não tenho que aceitar a tua opinião E isto não me causa constrangimento. Meu íntimo é libertário Igualdade para todos. Não preciso de aceitação Escravizando-me por opiniões. Parece sentimento tirano O sincero é ofensivo. Mas, se assim eu não pensasse, Seria uma hipócrita só para ter A tua aprovação.
  • 62. 62 VEJA Veja, a cada primavera o tempo vai se tornado mais cruel. O espelho em que você se vê está mais velho. A sua visão sem a mesma nitidez Mesmo assim, o espelho revela as rugas da face, A flacidez do corpo. Veja a razão, é mais elevada que a emoção. Seus amigos também envelheceram. Parecem mais jovens que você? É que envelheceram juntos e não dá para perceber. As canções que você gosta são as mais velhas Aquelas escutadas na vitrolinha. Veja os dias, estão mais curtos e as noites são mal dormidas. À vontade de realizar é grande e o corpo não responde. Os seus romances e paixões são coisas do passado Agora só lhe resta a companhia sem seletividade. Veja o que fez de incongruente todo esse tempo O que plantou errado e não floresceu? Não adubou e regou para que florescesse. Veja o esforço mísero que fez em todo o tempo Procurando se calçar sobre um pilar sem sapata. Veja hoje o que o levou a esmorecer e a não fazer O seu ser não fez nada por merecer. Veja a sombra do seu passado No que se tornou o seu presente A falta de um futuro. Veja o que lhe resta ao lado Não é o bastante para o sonhado. Veja o seu ponto mais forte o elo mais fraco Seu calcanhar-de-Aquiles. Veja a vida como vivida com seus encantos de época O seu conhecimento ínfimo A sua sabedoria impotente.
  • 63. 63 COVARDIA Aprendi o que é covardia É tentar penetrar no pensamento do outro. É tentar observar como o outro se sente, O quanto o outro pouco difama o que viveu. Sem que nada demonstre e permanece em sua segurança, Dos valores que já concebeu. Este é o meu ânimo traiçoeiro de viver Sabendo que o outro não é meu.
  • 64. 64 MAL TEU Estás melancólico? Estás magoado por teres mentido? Mas a atitude não nega. Não é fiel a ti próprio? Fica embaraçado? Finge ingenuidade? Encontra-te acompanhado, mas em solidão? Trai a ti mesmo. Não és nem bom e nem mal? Estás sem essência para viver? Assegurou a sua alma? E a ti, perdeste.
  • 65. 65 PORTO MAIOR O meu éden O meu lugar de ócio, criativo. O menor mundo O mais vasto. O que não atormenta Não lamenta Que sustenta a alma Que faz viajar ao paraíso. A cada segundo uma cor Com as suas nuances loucas. Histórias que nunca se repetem Num movimento contínuo Dando a cada instante O início à felicidade. E como melhor privilégio Todos os caminhos levam Ao Porto Maior.
  • 66. 66 ÓCIO Sempre foi vigilante para o ócio Para fazer o que bem queria Ficar com a sua amada todo o dia Viajar e viajar. Grandes são os prazeres inicialmente Com o tempo um repente O ócio passa a incomodar Todos os dias tudo sempre igual Sem trabalho para realizar Com pouca habilidade para criar. As mesmas anedotas Os mesmos diálogos O senso comum Discutindo novelas Futebol e pouca aquarela A mesmice de fartar. O dinheiro ficando escasso A vida passando ao acaso Um enjoo de matar.
  • 67. 67 CONHECIMENTO A importância do conhecimento Trazida das experiências vividas Devem ser passadas adiante. Não tem razão Guardá-las a sete chaves, Isto não ajudaria uma pessoa Ou uma Nação. Experiências levam-se anos A adquiri-las, E quando repassadas Se as são de negativas Passam a condená-las Como se fossem maquinação. Não, não são, Foi a dor que se alojou em meio ao peito De cair em meio ao vão, E que alguém de alguma forma registrou Por escrito ou num contexto cerebral. Mas quando na ignorância se assentam As pessoas não se apercebem Que não são conselhos dados É critério é juízo, São conhecimentos vividos e literários, Que já estão prontos para protegê-las do itinerário A que estão a se encerrar. É a proteção para não cair no mesmo erro De quem um dia o cometeu. Mas quem destinado está Para pagar com a sua experiência Haverá de se lamentar um dia Por ter ignorado todo o aramado Que já lhe protegia.
  • 68. 68 FAÇA Está se lamentando de e do quê? Leia o livro que ainda não leu Escreva a carta que nunca escreveu Dê a mão a quem nunca deu Faça o elogio que nunca fez Desculpe a quem nunca desculpou Agradeça a quem nunca agradeceu Use a tecnologia para o bem Lamente menos e faça mais Olhe menos para o seu umbigo Olhe mais para o seu cérebro Ainda dá tempo Ame incondicionalmente.
  • 69. 69 MULHER Mulher Porque estás ao meu lado? Escolhi a ti sem pensar Num espasmo de loucura Com medo da solidão Afoito e imediatista Agonizo na mesma situação. Hoje noto que, não tens a idade que eu queria, Não possuis o corpo que eu pretendia, Não me agarro a ti com os olhos da paixão. Mulher Tira-me deste dilema Ainda preciso de ti, Que pretensão, Mas, o meu esquema, Por linhas tortas foi traçado. Não vês mulher Que o teu sorriso é outro sorriso marcado em minha memória Teu cabelo não tem a seda que eu imaginava O teu cheiro vem de aromas artificiais, E o teu dançar não é o da minha bailarina. Mulher, o que te fiz, e agora não consigo, Ser honesto em dizer-te Vai-te embora.
  • 70. 70 CONFORTAVELMENTE Escuta, falo baixinho... Estás confortável? A dor está menos intensa? Tente um sinal para que eu perceba Faça um movimento com os olhos Se não consegue por outra maneira. Deseja que eu levante mais a cama? Quer ver a luz da janela? Por favor, dê-me um sinal, A minha ânsia é muita A sua não é? Como é? Agora estou mais curiosa, Como se sente agora? Tem luz, tem frio ou calor? Tem cor? Estás confortavelmente Em sua nova dimensão?
  • 71. 71 CINQUENTA ANOS Sempre estive com o bit ligado Isto a mim sempre foi dito Esta analogia não foi um desatino, Acompanhou a minha anatomia. A mente a mil estava conectada A construir a cada momento. À inércia, só por estar sentada, De resto, nem melancolia. Eis que os anos se passaram O bit de paridade foi interrompido. Agora me oriento pelo reverso E o foda-se foi disparado.
  • 72. 72 VERGONHA Tenho vergonha de ter acreditado em quem eu não podia Tenho vergonha de ter reverenciado perante mentes frouxas Tenho vergonha de me ter deixado iludir Tenho vergonha de não ter compreendido no momento Tenho vergonha de ter amado o ser fracassado Tenho vergonha de ter fraquejado perante o simplório Tenho vergonha de ter sido cúmplice de algumas pessoas Tenho vergonha de ter sido substituída pelo vulgar Tenho vergonha da minha falta de esperteza Tenho vergonha de não saber decifrar no tempo certo Tenho vergonha dos meus momentos de ignorância Tenho vergonha de ter dito verdades a quem não merecia Tenho vergonha de ter tentado fazer crescer quem não queria Tenho vergonha de ter tirado o prazer de pessoas fora do meu alto nível Tenho vergonha de ter feito sofrer por isso Tenho vergonha de ter investido mal os meus sentimentos.
  • 73. 73 SEGREDOS Sim, não nego, Tenho segredos e muitos Não são segredos nocivos São particularidades de futuro promissor São engenharias de construtos Elementos de traços retilíneos De uma visão límpida Com grandeza de ânimo De pura verdade e generosidade. Se descobertos ou revelados um dia A jura constituirá a essência do prazer Dará lugar até ao ódio pela cisma que existia Por não poder vingar o desejo contrário De uma imaginação que aos outros transmite Que todo segredo por ser ele um segredo Conduz a elementos contrários Para a certeza do que é errado, Do que machucará. Os meus segredos são para os agrados O contentamento determinado A alçar venturas Para o gozo do que é alvo de estima.
  • 74. 74 LICENÇA POÉTICA Escrever É a essência da liberdade Ousadia de pensamento sutil. Não quero valores de gêneros e estilos O barroco, o trovadorismo, O lirismo, o narrativo ou dramático, Nem mesmo o romantismo, Nada contesto destes e outros, São escritas de cada época no seu tempo Que escondem com sutiliza os sentimentos Associado a uma ética social. Não quero a função poética As rimas e emoção para encantar Não me importa se vem em prosa ou versos, Metafóricos para imaginar. Quero os momentos de criatividade Com os sentimentos em devaneios Dar-me licença à poesia Que nasce da autenticidade.
  • 75. 75 CASAR Hoje resolvi me casar Não com gente Gente é coisa indecente Magoa, fere e mata. Não faz companhia quando se necessita Perturba na hora do silêncio Bate a porta no momento indevido Tira a concentração. Gente é dependente É o mais para o menos Condiciona o pensamento Subtrai o pouco que tenho. Principalmente determinadas gentes Que são as agentes sanguessugas Que não leem os parênteses No seu claustro foge pela tangente. Casar-me-ei com a literatura De todos os tipos As de brilho às aventuras Àquelas que desafiam o pensamento. Essas sim são de grande valia Causa provocação ao sentimento Faz crescer e desenvolve muito Muito o conhecimento.
  • 76. 76 MULHER DE ESCORPIÃO Profunda e misteriosa Com seus olhos penetrantes Até ao acender um cigarro Magnetiza qualquer homem. Mas o mesmo olhar que enfeitiça Descobre os segredos dos mais reservados. Os seus elogios, para ela não cogitados, Serão analisados para as verdadeiras intenções. Sua fúria incontrolável Ciumenta e possessiva Profundamente vingativa. Perdoa com facilidade Atos e fatos provados não intencionais E manda no relacionamento. Se existe uma inquietação por traí-la Não há compaixão por ela medida. Irá alimentar várias mentiras Para fazê-lo sofrer até o chão. Manhosa como uma gatinha Carente fragilizada Ao perder o controle das emoções O furacão entra em atividade. Ela poderá odiar amargamente Sua tamanha dedicação E ignorá-lo totalmente Depois de tê-lo destruído.
  • 77. 77 RATO Foge como um rato de esgoto Corre de um jeito meio torto Mesmo todo desengonçado Pula com facilidade os obstáculos De um lugar fétido para o outro, Come o que vier ao alcance E ainda acha que é gostoso. Mandrião cheio de talento Na hora da guerra Vira herói escondido Em meio ao que está putrefato. Aumenta o seu portfólio de cobiça Para ter muitas crias Agigantando seu exército de nojo. Seu cantar é um guinchar De dar arrepios Que só pode encantar Outros ratos do mesmo escoadouro.
  • 78. 78 NOVOS TEMPOS Não estamos mais no tempo dos coronéis Naquele tempo que o homem tudo podia Em que as mulheres escravizadas Aceitavam as regras por intimidação, As pobres Amélias consumidas. Ainda existe por aí, homens coronéis, Que vivem no passado Achando que indo aos bordéis Ainda serão reverenciados. Pobres ignorantes do planeta Irão ficar somente embriagados.
  • 79. 79 METAMORFOSE Abriste a caixa de Pandora E agora, o que será de mim? Faça algo que acalante esses males Que me está a consumir. Puseste-me neste desespero Nesta desconfiança bombástica Neste desconforto intolerável. Sou essa borboleta pequena De asas incontroláveis Incerta dos desejos. Caça-me com a tua rede entomológica Tira-me dessa dança louca A viver atrás de uma lanterna iluminada. Quero acreditar na luz e não consigo Ela pode ser a minha maior inimiga Mesmo assim a sigo E na armadilha posso cair. Desafoga-me dessa desconfiança Sem arrogância Com palavras de esperança. Faça de mim os teus desejos Não disfarce as verdades com lampejos Para fazer-me acreditar. Saia do teu invólucro de lagarta Transforma-te em borboleta Venha me beijar.
  • 80. 80 E AGORA? O que devo fazer agora? Lutar pelo que foi perdido? Ficar mais pobre de espírito? Jogar um jogo de cartas? Empinar pipas na praça? Movimentar a pedra no xadrez? Olhar para a calopsita na gaiola? Ficar por mais tempo livre? Ler um livro em português? Dominar a fúria que me consome? Mirar o míssel para além do horizonte? Colocar mais dinheiro no cofre? Mandar flores por e-mail? Escrever cartas românticas? Ridicularizar as instâncias? Fazer mágicas? Beber uma bebida forte? Olhar para o teto sem concentração? Sentir aversão por tudo isso? Enfrentar a flecha do inimigo? Com muita coragem Ficar na forca de frente para a multidão Sem reverenciar os aplausos e risos à agonia Que estão a festejar Com o semblante mais brando Escutando os risos e aplausos silenciando Na minha mais sublime sensação O ápice que se agiganta para minha bem-aventurança Que estou a desfrutar.
  • 81. 81 PARALELAS Traço as retas Infinitas retas num papel Branco infinito Retas que tendem ao infinito Nunca se fecham Não formam regiões Poligonais. Nas equações Mais retas, retas Para onde vão? Já nem as traço Com a régua Essas equações das retas O dia inteiro No cansaço Acompanhando as retas As paralelas Como no asfalto Feitas pelos pneus do carro Retas para onde? Onde me levarão? Para o infinito Lá no final O abismo Morrendo em meio ao vão.
  • 82. 82 PROSTRAÇÃO Os teus olhos estão vermelhos. E por que choras? Perdeste o teu amor? Já refletiste porque perdeste? Achou que tiveste dado tudo de ti Mas não foi o suficiente? Agarraste no inútil pensamento Que o concebido Já era teu? Agora achas que ao trocar as fotografias dos porta-retratos Trará as forças para esquecer? Olhará para ele O quê verá? Não será a nova foto que irá entrar pelas retinas de teus olhos É a que já está registrada nos teus neurônios. E todo o enxoval que te acompanha Terás de queimar ou quebrar? Faça todas as tuas cenas por agora Destroçando tudo o que é material. Estás a te sentir mais leve? Mas não imaginas que em breve Tudo que colocares na tona Irás desaparecer nos rios de Goa Levados ao mar. Com o tempo e o oceano revolto Devolverá os pertences Devastados nas areias das praias. Em todas elas encontrarás os pedaços E toda a fantasia recomeçará. Não, não é bem assim que te livrarás. Acho que perdeste o senso Não poderás reduzir à cinzas as memórias De tudo o que te fez sonhar.
  • 83. 83 DIÁLOGO AOS CELULARES À BRASILEIRA QUE OUÇO TODOS OS DIAS E, É MAIS OU MENOS ASSIM: Tô no culto falando cum pastô Cê num vem não? Tem de vim, ora pra Jesus. Ai! Só Jesus, pra intender ocê. Mas se ocê vim, fecha a porta com treta chave Aí tem muito ladrão drogado. Dispois, meu namorado vem buscá nóis. Então nóis vai até ao shopem. Agente podemos olhá as vitrini. Dispois ele leva nóis imbora. Ispera, to ouvindo minha patroa. - Num sei não onde tá- Já que ce num sabe se vem Coloca a comida pra esquentá E o fango no fono. Tem cuidado num si quemá. Aí quando eu chegá Posso cumê Lá no shopem é tudo caro E nóis num tem dinheiro pra gastá.
  • 84. 84 CHÁ Bebo chá de todos os tipos Chás para ficar mais calma Chás para as dores Chás para tudo, Mas sempre bastante cética Da certeza sobre os chás. Um belo dia resolvi beber um Xá A partir de então aprendi literalmente, Que chás são imprescindíveis Para aliviar todos os males Dos erros imprevisíveis.
  • 85. 85 EGOÍSMO Queria você sempre aqui Do jeito que fosse eu queria Que você continuasse aqui. Quanta teimosia a minha! Não compreender a sua dor A sua agonia, Só queria que você continuasse aqui Para que eu tivesse a sua companhia, Para que eu pudesse compartilhar as minhas palavras Mesmo que você não compreendesse mais, o que eu dizia. Eu queria que você ficasse aqui Só por mim, nem era por você. Só você sabia o que sentia E com toda a sua sabedoria Desafogou a sua dor Silenciou. Deixou-me e nem explicou. E eu egoísta que sou Ainda choro e grito a te procurar. Imagino você aí no paraíso O que deve estar a pensar? Deve ser sobre a minha insensatez A minha pouca compreensão Sobre tudo que você me passou, Que a vida é assim Um holocausto dentro do uno. E eu egoísta que sou Paralisei na angustia De não compreender que o lugar onde está É o mais aprazível E iremos nos encontrar.
  • 86. 86 DO MEU AMOR AO ÓDIO POR BETH Beth, com a sua varanda cheia de pó, Suas chaves a darem nó Seu telefone é de dar dó Seu e-mail é um bagulho só. E eu aqui tão inútil Queria ter Beth para mim Talvez mais, ser Beth, Com a sua clássica elegância e sabedoria. Fico a penar Sonhando com seu baú Correndo atrás, com atitude ineficaz, Beth, rainha. Eu esqueci a minha alma. Estrago o meu amor, Não vejo mais as flores nem as Marias, Só vejo Beth, a todo vapor. Não sei mais o que é vida Viver é estar no encalço de Beth Quero molestar, importunar, fatigar, do amor ao ódio, Já que eu não tenho Beth, minha rainha. Como seria bom esquecer Beth, Gostar de uma mulher feia e sem vida Mas, o meu amor não tem bondade alguma, É fraco, como filhotes de passarinho. E Beth, nem aí para tudo isso. Parto da minha inveja à vigília e vejo Beth, Indo e vindo, com seu andar de garça, Lindo! Lindo!
  • 87. 87 VERGEL Meu querido Vergel, mesmo sendo de bits. Hoje me despeço, pois vou estar fora por uns dias, Vou buscar novas aventuras Para te alimentar de fantasias. Não fique com ciúmes, Será um tempo de passagem Mesmo longe posso te acompanhar Mas não prometo que será realidade. A liberdade que tenho Está em seu jardim mais florido Têm canteiros mais nobres E outros esmaecidos. Meu querido Vergel Desde que te adotei, mudei de essência, Vou criá-lo até a minha morte É o que constrói a minha essência.
  • 88. 88 AO MEU OU MINHA, AUSTRALIANA Não sei quem és Mas agradeço todas as visitas No meu Vergel. Nunca se pronuncias E ao longe ou mais perto Ficarei. Vou sair para curtir Um pouco mais da Europa, minha rota, Mochila nas costas, tênis nos pés e muita loucura na cabeça. Liberdade Liberdade Sem fim e no começo estarei.
  • 89. 89 VAIDADE Beber para ter coragem de gritar O grito dos indecentes Da inconsequência Da justificação que não convence. Viajar para fugir da própria verdade A verdade que está enraizada Que acompanha em toda a caminhada E da redoma não sairá. Pássaro negro camuflado de mil cores Para manter os milhares de amores, Mas a chuva cairá E as cores irão desbotar. Manter um tapete vermelho estendido Caminhar sobre ele desmilinguido Com a bebida, as viagens e as cores, Que causam dissabores. Que presunção mal fundada De quem mantém ostentação Para merecer admiração De uma qualidade do que é vão.
  • 90. 90 FALSA FILOSOFIA Eu sou quem deseja compreender Essa sua doutrina de bem viver Que andas a defender Da literatura ficcional árabe e europeia Da Idade Média, Através dos sete mares, - Que se vive sem ordenado -. E se manifesta com veemência Exteriorizando os sentimentos e pensamentos Com ardor e entusiasmo, - O que alimenta a vida é viver do amor -. Estou a dar o devido apreço A essa ideia triunfal. Mas, como posso acreditar nisso, nessa sua espiritualidade? Nessa vã filosofia? E o vinho, o pão de onde virão? Pois acordo todos os dias, Vejo com transparência Famílias inteiras em penúrias Na míngua de víveres. Ah! Não sei se caio nessa cilada De um dia possuir A pedra filosofal.
  • 91. 91 CAIÇARA Caiçara, paira na praia, Vagabundo sem toalha Sem préstimos para a gandaia Malandro que gosta de rabo de saia. Caiçara, em sua estupidez de canalha, Vive na orla ordinária Tolamente selvagem Não se embaraça. Caiçara, pouco polido, Medíocre, sem nada de extraordinário, Vivendo do conto do vigário, Inteiramente grosseiro e mal-educado. Caiçara, mil quilos a mais sobre a terra, Que pesa pela sua ignorância Dividindo-a sem elegância, Humanidade humilhada pela sua hipocrisia. Caiçara, veste a sua carapuça, Saia de mansinho Bem devagarzinho Assim, não nos atrapalha.
  • 92. 92 DA NEUROSE À PSICOSE Tens a neurose furtiva, Vives alucinado e em delírios. Na tua neura temos diálogos, Na tua psicose, espasmos. Nos diálogos rouba-me a distinção, Sente-te sobranceiro Denodado em seu valor. Quando entras na alma das sombras Veste-te de altivez, Dos teus delírios à empáfia Rebusca com apreensão Com esmero excessivo À sensação que precede o ataque, Que já na crise aflitiva Suga-me toda a energia, Abrindo sulcos na terra. Vejo pelos profundos rastros Deslizando abaixo O primor que fostes um dia. Entro em profundo desassossego De ver-te neste estágio iminente Indo ao encontro do desenlace fatal. Sinto-me rigorosamente impotente De controlar os teus propósitos Desde logo, subsistentes.
  • 93. 93 ESTÉTICA Estás linda, estás magra e eu gorda! Estás linda, estás gorda e eu macérrima! Então, quem é a mais linda, a mais atraente? A gorda infeliz por não ser magra? A magra com o mesmo presságio da gorda? O hipopótamo fêmea é feia por ser gorda? A libélula é horrenda por sua magreza? Não, ambas são lindas. Elas possuem o próprio palco para desfilar, Não vivem da ovação iniludível, Possuem originalidade.
  • 94. 94 TACITURNIDADE Zetalhões de poesias a disposição. Quanta literatura Livre para ler. Tanta manifestação De falsas virtudes. Tenho saudade dos filmes mudos Estes sim, diziam muito.
  • 95. 95 LÓGICA DO LOUCO Vem..., louco Atraído pela ira dos desencantos Em pele de cordeiro Voz doce Sonhos a realizar. Vem..., louco Amaciando a vítima Encorajando-a com malícia Desconcertando o enredo Espreitando na contramão. Vem louco, nas suas diferentes formas, Surpreender com a sua metamorfose Com sua opaca e colorida aparência, Tentar através da fresa Enviar um friso da sua maldita luz. Vem... Mais uma vez como veludo, Emerge do seu submundo com a sua maleficência A repousar no colo amigo O seu mundo hostil.
  • 96. 96 Gosto disso Mais que daquilo Não sei por que gosto disso Se não conheço a quilo.
  • 97. 97 CÓLOFON Explicit. Este livro foi composto em fonte Life BT corpo 11, e paginado em InDesign. A impressão e o acabamento foram feitos por Gráfica MPAC, em Vitória -ES, O papel utilizado na impressão do livro é o alcalino original, alto alvura, opacidade 92 e gramatura 90 g/ m², na cor branca e com espessura de 110 µm em abril de 2014.