O sargento André Rodrigues relata sua atuação combatendo o crime por quase 9 anos e as ameaças que sofreu por isso. Em 2010, foi esfaqueado por um criminoso que já havia prendido, mas sobreviveu. Pede que a lei seja mais rigorosa com quem ameaça policiais e que os criminosos fiquem presos por mais tempo para inibir a sensação de impunidade.
1. Excelentíssimo Comandante Geral,
Sou André Rodrigues de Oliveira, 3º Sgt PM, lotado no Pelotão
de Lagoa Formosa, subordinado ao 15º BPM. Nos quase nove
anos que me encontro prestando serviço à sociedade Mineira, e
quase quatro trabalhando em prol da comunidade Lagoense,
procurei combater com rigor a criminalidade, sendo responsável
pela prisão de contrabandistas, homicidas, ladrões e mais de 35
traficantes de drogas. Os cidadãos de bem reconhecem o bom
trabalho prestado por este graduado, porém acabo sendo muito
visado pelos criminosos, que muitas das vezes apenas
representam os interesses de pessoas poderosas que ficam
escusas aos olhos da lei. Mesmo diante das ameaças de morte,
nunca desanimei, e procurei representar bem a minha gloriosa
Polícia Militar do Estado de Minas Gerais, instituição essa da
qual me orgulho de pertencer.
2. No ano de 2009 realizei uma denúncia em desfavor
de uma autoridade, e deste então minha vida mudou
completamente. Freqüentemente surge denúncias
infundadas em desfavor de minha pessoa, que
buscam a todo momento me desmotivar, porém tanto
o Ministério Público quanto o Judiciário conhecem a
seriedade do meu trabalho, e sabem que este
criminoso que denunciei é que está por trás de tudo.
É importante valorizar meus chefes diretos e meu
comandante de Unidade, que sempre me apoiaram
nos momentos mais difíceis.
3. Apesar de todas as ameaças e denúncias infundadas, o período mais
crítico se deu no dia 04 de setembro de 2010. Estava juntamente com
minha noiva participando de uma festa em louvor a Nossa Senhora da
Piedade, e quando nos preparávamos para ir embora, um criminoso que
eu já havia prendido em duas ocasiões, se aproximou pelas minhas
costas, e covardemente, sem qualquer possibilidade de defesa, desferiu
um golpe de canivete em meu pescoço, provocando um corte profundo e
de 20 cm de comprimento, que foi do meu queixo até minha nuca. Na
ocasião o criminoso permaneceu olhando para mim com o canivete
ainda na mão, esperando o momento que eu caísse no chão
agonizando. Assim que percebi a gravidade de lesão, entrei em um carro
e fui socorrido até o hospital da cidade de Patos de Minas, e devido a
misericórdia de Deus acabei sobrevivendo a essa tentativa de homicídio,
estando agora em recuperação. É importante ressaltar o empenho tanto
de meus colegas de farda de Lagoa Formosa, quanto os de Patos de
Minas, que se empenharam ao máximo, e só pararam de trabalhar após
este criminoso ser preso, juntamente com outros 05 indivíduos que o
auxiliaram na fuga.
4. Quando paro para refletir fico temeroso, e penso aonde essa
nossa sociedade vai chegar. A lei está cada vez menos rigorosa,
e já houve uma banalização da morte violenta, a qual já é vista
com naturalidade, até mesmo nos pequenos centros urbanos.
Apesar de Nossa Constituição Federal pregar que “todos são
iguais perante a lei” é necessária a elaboração de uma norma
jurídica que estabeleça um agravamento da pena, quando as
vítimas se tratarem de encarregados de aplicação da lei,
buscando com tal medida gerar uma maior temerosidade por
parte dos criminosos que atentarem contra a vida dos
responsáveis pela manutenção do Estado Democrático de Direito.
Nos últimos anos tenho notado que aqueles militares que se
destacavam no combate a criminalidade ficaram esgotados, e
passaram a realizar atividades administrativas, sendo que muitos
ainda se encontram abalados psicologicamente em função das
diversas ameaças sofridas.
5. Os profissionais de segurança pública precisam acreditar na
eficiência da lei, para então poderem exigir o seu cumprimento.
Muita das vezes ficamos dias e até meses monitorando
traficantes durante nosso período de descanso, e quando os
prendemos, estes não ficam nem uma semana presos, gerando
assim uma sensação de impunidade nos criminosos e
indignação dos policiais e da sociedade ordeira.
É importante lembrarmos que mesmo após cometerem
atos cruéis e com elevado requinte de crueldade, estes
infratores da lei ficam presos em celas arejadas e recebem 4
refeições diárias, além de atendimento médico e odontológico,
tendo um custo médio de 3,5 salários mínimos para
manutenção desta estrutura para cada preso encarcerado. É
importante lembrarmos que mais de 10 milhões de brasileiros,
cidadãos de bem, vivem abaixo da linha da pobreza em
condições insalubres e muitos sequer faz uma refeição por dia.
6. Nosso país não está preparado para executar a pena de
morte em tempo de paz, até mesmo porque esta pena é
irrevogável, porém devemos estudar alternativas que sejam
realmente eficientes. É inadmissível um recuperando ficar o
dia todo ocioso, é preciso criar uma estrutura que o obrigue
a trabalhar para custear a despesa gasta com sua
manutenção no Sistema Prisional. Essa corrente de
raciocínio já é muito comum, porém sempre são
apresentados óbices
Sei que com a proximidade da Copa do Mundo e das
Olimpíadas no Brasil, serão implementadas muitas
melhorias na área de segurança pública, principalmente no
que diz respeito à remuneração. No entanto devemos
lembrar que não basta ser bem remunerado é necessário
confiar na eficiência da lei a que se propõe a fazer cumprir.
7. Sabemos que muitas das alterações propostas no
Código Penal e de Processo Penal, que já se encontram
obsoletos para sociedade moderna, encontram resistência
por parte da OAB, uma vez que os advogados aproveitam
das lacunas existentes nas citadas normas para colocar
seus clientes em liberdade. Mas é importante lembrarmos
que os nobres advogados também possuem familiares que
podem ser vitimados por esses mesmos criminosos que
são colocados em liberdade devido às falhas dos
dispositivos regulatórios do direito.
Devemos deixar de pensar em nosso próprio nariz e
começar a ter uma visão mais abrangente, deixando de
pensar apenas em nossos interesses pessoais e preocupar
mais com a coletividade. Sei que tudo parece muito
utópico, mais é apenas uma visão racional que é tida por
muitos, porém poucos se ousam a comprar essa briga, pois
sabem da resistência que terão.
8. As pessoas ainda estão aceitando a permissividade
da lei para atos anti-sociais, porém caso este quadro não
seja revisto, chegará um momento em que as pessoas irão
fazer justiça elas mesmas, voltando a vigorar a Lei do Talião,
ou seja, “olho por olho dente por dente”.
Neste momento me resta apenas agradecer muito a
DEUS por ter permitido que eu permanecesse vivo. Sei que
nasci de novo, e hoje considero ter apenas três dias de vida.
Agradeço a todos que oraram por mim e pelas
demonstrações de carinho e solidariedade.
9. Salmos 139, versículo 5:
“Salvai-me senhor, das mãos
do ímpio;
Preservai-me do homem
violento,
Daqueles que tramam minha
queda.”
Lagoa Formosa/MG, 07 de setembro de
2010
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André Rodrigues de Oliveira – 3º Sgt
PM
Miliciano de Tiradentes