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                                  INTRODUÇÃO


      A presente Monografia apresenta um trabalho baseado em pesquisa e em
análises de dados que nos possibilitou através da observação e aplicação de
questionário, bem como da pesquisa bibliográfica pensar acerca da temática entre a
experiência de artistas/professores na cidade de Senhor do Bonfim, professores e
artistas, a partir desse estudo refletir sobre suas práticas pedagógicas dentro das
escolas.


      Atualmente alguns artistas têm assumido o papel de educador e tem atuado
nas escolas como professor. Nosso interesse nesse campo investigativo da arte-
educação é percebemos a importância da ocupação desse lugar pelos artistas, uma
vez que os mesmos, em suas atuações artísticas, nas experiências de formação que
acessam e que já vêm participando nos espaços não-formais de educação,
principalmente nos grupos teatrais da qual fazem parte, possibilitam a esses artistas
vivências com outros conceitos e práticas de formação, e de educação.


      Como afirma Ana Mãe Barbosa, o artista não necessariamente é um
professor nas instituições de ensino. No entanto, ao ocupar esses espaços, o artista,
agora professor, atua com legitimidade nos espaços de educação formal, trazendo
consigo toda uma bagagem adquirida ao longo de sua formação artística. Como
educador o artista questiona a própria conceituação da realidade. O seu modo de
educar é um incessante recomeçar, pois ele tem consciência de que a história
humana recomeça em cada novo indivíduo que ele educa. Logo, o artista é um
educador na íntegra da palavra. O artista como educador, busca desenvolver no
aluno a consciência do corpo e aprimorá-lo enquanto instrumento de expressão e de
apropriação do conhecimento.


      Esse trabalho conduz a uma reflexão acerca do fazer artístico e do
educacional, e do papel do artista nesse processo. Esse desenvolve uma
metodologia didático-pedagógica diferenciada, como estratégia para um ensino com
arte. E nesse contexto, o artista/professor trabalha buscando no emocional, na
imaginação e na criatividade um maior contanto como os alunos em sala de aula,
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desenvolvendo estratégias para um ensino-aprendizagem mais estimulante e
significativo.


       Este trabalho está estruturado em quatro capítulos. O primeiro capítulo trata-
se do desenvolvimento e apresentação da problemática que nos levou a investigar
sobre esse assunto, o segundo capítulo vem a tratar ao que se refere a
fundamentação teórica em que discorremos sobre de educação, arte e a arte-
educação, buscando uma relação entre tais conceitos e suas possíveis articulações;
neste capítulo faz-se referência à educação com arte, à importância da arte na
formação do homem, a função do artista na escola, o artista/professor no espaço
escolar e como o professor desenvolve suas experiências de ensino-aprendizagem.
No terceiro capítulo é abordada a metodologia, instrumentos de pesquisa,
desenvolvendo-se um campo de discussão teórica de acordo a nossa opção
metodológica, são enumerados os passos que foram seguidos na elaboração do
presente estudo; o quarto capítulo aborda os resultados obtidos na pesquisa, sua
análise e discussão. Finalmente, fazem-se as considerações finais.
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                                    CAPÍTULO I

                               PROBLEMATIZAÇÃO

      O processo de ensino-aprendizagem exige do professor, a criatividade,
flexibilidade, escuta e limite, além de competência acadêmica. Diante de uma
grande massa de informações sobre o crescimento e desenvolvimento humano,
educar torna-se um ato muito complexo e também muito delicado. O ato de ensinar
requer sensibilidade, capacidade de improvisação, imaginação e domínio da
linguagem. Contemporaneamente está havendo um processo de transformação nas
escolas, estas buscam um ensino mais significativo e atraente para o aluno. Diante
disso, torna-se necessário o uso de diferentes ferramentas e estratégias
pedagógicas no processo de ensino e aprendizagem.


      No entanto ao longo da história, a escola foi o lugar do desprazer, da rigidez,
da razão. Pouco ou quase nunca se considerou a emoção, a sensibilidade, os
sentimentos. Os espaços escolares acabam se tornando, mais o lugar de controle,
de medo, do que o espaço de formação que leva em consideração a corporeidade,
as   diferentes   expressões    e   sentimentos,    elementos    fundamentais     no
desenvolvimento de uma experiência educativa com arte.


      Ensinar é uma arte e para ensinar com arte é preciso que o professor se
aproprie de alguns elementos tratados na arte de um modo geral, como imaginação,
criação, poética, leitura e fruição, o prazer elementos básicos para a materialização
da arte e o exercício artístico na escola formal. Com esse contexto, busca-se do
professor uma outra postura, percebendo a educação a partir de outra perspectiva,
uma perspectiva que leve em conta os aspectos da emoção, da sensibilidade e da
imaginação, disposto a romper com a lógica do racionalismo, e nesse sentido
revestir-se do papel de artista, daquele que imagina, cria, muda, e faz educação com
arte e que fazendo arte na educação, torna o ensino mais motivador.


      Pensando no ensino com arte, ou seja, na arte-educação, conduz a uma
reflexão acerca do fazer artístico e do educacional, e do papel do artista nesse
processo, no espaço da escola, acreditando-se que este desenvolva uma
metodologia didático-pedagógica como estratégia para um ensino com arte, sendo a
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aula uma obra de arte. O que seria então a aula como uma obra de arte? É a aula
que incentiva a criação e como os alunos gostam de criar torna-se necessário utilizar
esse prazer como um instrumento de trabalho. Nesse contexto, o artista/professor
trabalha buscando com o emocional, a imaginação e a criatividade e promove um
maior contato com seus alunos em sala de aula, uma vez que esses aspectos na
formação das pessoas tratam-se de linguagens que desencadeiam um movimento
de aprendizagens significativas.


      O potencial criativo do ser humano é um fator de realização e de
transformação. Para Fayga (1987, p. 10) “ele afeta o mundo físico, a própria
condição humana e os contextos culturais”. Continua Fayga (1987, p. 12): “[...] os
processos de criação interligam-se intimamente com o nosso ser sensível. Mesmo
no âmbito conceitual ou intelectual, a criação se articula principalmente através da
sensibilidade”. Criar é então, formar algo novo. Logo, todos os seres humanos,
possuem criatividade porque ela é intrínseca ao homem. Através da imaginação se
formam idéias abstratas que se transformam em novos fatos: isso é criatividade!


      A arte transforma o ser humano, torna-o mais livre, mais criativo. A literatura,
a história, a música, a corporeidade são necessidades vitais ao ser humano. Quando
se mostra ao aluno um ensino diferente, quando ele utiliza a arte como estimuladora
de seus pensamentos e saberes aprendidos, está aprendendo mais e melhor, de
forma mais prazerosa e com melhor compreensão e integração.

      Os artistas que atuam nas escolas como professores incorporam em suas
práticas pedagógicas elementos como a criatividade, a imaginação, a corporeidade
e desenvolvem atitudes de cumplicidade, o que permite um desenvolvimento
psicológico positivo nos alunos, porque essa forma de agir estabelece uma relação
profunda entre eles e os alunos. Alem disso, os artistas/professores possuem muitas
habilidades e talentos e para eles, a sala de aula é um espaço para discussão,
análise e crítica de todos os acontecimentos que acontecem dentro e fora dela.
Geralmente, os profissionais artistas que atuam nas escolas se “sustentam numa
construção autopoética, ou seja, numa ação de produzir a si mesmo mediada por
um trabalho reflexivo sobre o que foi observado, percebido e sentido” (BIASOLI,
1999, p. 48).
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       A docência tem sido amplamente procurada por artistas que percebem a
escola como um lugar possível de recebimento e de troca, um local onde se
realizam ações de ensinar e aprender, uma troca de conhecimentos, um
enriquecimento de novos saberes. Eles já perceberam que o espaço escolar é um
ambiente fértil para proliferar o desenvolvimento da criatividade.

       Esse trabalho pretende desenvolver uma pesquisa, estudo de caso, de
professores que são artistas e que atuam em escolas particulares na cidade de
Senhor do Bonfim. Neste caso os quatro professores em estudo exercem
principalmente a arte da dramatização: são atores de teatro. Observando esse fato
surgiu a curiosidade em investigar como esses artistas que lecionam em escolas
particulares se sentem dentro de uma sala de aula, fazendo um trabalho diferente
daquele que realizam no teatro. Esse foi o motivo que gerou à execução deste
estudo monográfico. Então, pergunta-se como será que esses atores se vêem no
processo da educação? Como atuarão esses artistas no palco da sala de aula? Eis
as questões norteadoras deste estudo. Para isso estaremos diante da questão:
Como os atores de teatro que trabalham como professores se sentem em uma sala
de aula? E como desenvolvem sua práxis pedagógica?


       Nesse percurso investigativo, algumas perguntas contribuem para a busca de
nossas respostas: Quando o artista é trazido para a escola, qual o papel dele? Será
que transformam seus dotes artísticos em métodos didáticos criativos? como
desenvolvem sua práxis pedagógica?


       Esse trabalho objetivou investigar a práxis pedagógica dos atores de teatro
que atuam como professores nas escolas Casinha Feliz1, Sacramentinas2 e Centro
Educacional Professora Isabel de Queiroz, analisar os seus pontos de vista diante
do ensino-aprendizagem e como eles realizam o trabalho pedagógico nestas
escolas.




1
  Nome como é popularmente conhecida a escola. Seu nome correto é Centro Educacional Sagrado
Coração (CESC).
2
  Nome como é popularmente conhecida a escola. Seu nome correto é Educandário Nossa Senhora
do Santíssimo Sacramento.
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                                 CAPÍTULO II


               A EDUCAÇÃO, A ARTE E A ARTE-EDUCAÇÃO



2.1 Conceituando a Educação


      A ação que as pessoas adultas exercem sobre os jovens em sua formação
para a vida em sociedade, é o que se chama de educação. Ela incute e desenvolve
nos mais jovens, valores intelectuais, culturais e morais reclamados pela sociedade
vigente. Para Brandão (1995, p. 16) a “Educação é um dos principais meios de
realização de mudança social ou, pelo menos um dos recursos de adaptações das
pessoas, em um mundo em mudança”.


      Pode-se dizer que educação é o ato de ensinar e de aprender, é ensinar a
uma criança a andar ou a falar, a escrever e a ler. Para Freire (1983) a educação é
um encontro entre interlocutores, que procuram no ato de conhecer a significação da
realidade e na práxis o poder da transformação. A educação, segundo Freire (1983),
deve ter como objetivo maior desvelar as relações opressivas vividas pelos homens,
transformando-os para que eles transformem o mundo.


      O mais importante no processo de educar não é o conteúdo, mas, é o
processo de formação, o modo e a relação que se constrói nesse processo. Educar
é desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais do ser humano
(RAMAL, 2002). Educação é o processo através do qual os indivíduos podem
adquirir ou desenvolver competências e capacidades em interação com outros, em
contextos organizados, formais ou informais.


      Para Freire (1998, p. 54) educar é “capacitar pessoas a lidarem crítica e
criativamente com a sua realidade social, e não simplesmente adaptá-las a ela [...]
um exercício de libertação [...] uma conscientização”. Cada pessoa é única e seletiva
pois aprende aquilo que sente ser importante para a sua existência. Portanto:


                     Uma educação que apenas pretenda transmitir significados que
                     estão distantes da vida concreta dos educandos, não produz
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                     aprendizagem alguma. É necessário que os conceitos (símbolos)
                     estejam em conexão com as experiências dos indivíduos. Voltamos
                     assim à dialética entre o sentir (vivenciar) e o simbolizar (DUARTE
                     JUNIOR, 2001, p. 23).


      A aprendizagem acontece quando os conhecimentos fazem sentido, tanto
para quem os transmite quanto para quem os recebe. É necessário então, que o
educador e o educando sejam participantes da ação educativa, visto que a
educação é um processo dinâmico que requer um educador e um educando atentos
para as questões que envolvem o processo de educação enquanto uma experiência
de troca e tematização.


      Read (1982, p. 24) salienta que:


                     A educação é o apoio do desenvolvimento, mas à parte a maturação
                     física, o desenvolvimento apenas se manifesta na expressão –
                     signos e símbolos audíveis e visíveis. A educação pode ser definida
                     como o cultivo de modos de expressão – consiste em ensinar as
                     crianças e os adultos a produzir sons, imagens, movimentos,
                     ferramentas e utensílios. Um homem que consegue fazer bem estas
                     coisas é um homem bem-educado. Se pode produzir sons, é um bom
                     orador, um bom músico, um bom poeta; se pode produzir imagens, é
                     um bom pintor ou escultor; se pode produzir bons movimentos, é um
                     bom dançarino ou trabalhador [...]. Todas as faculdades de
                     pensamento, lógica, memória, sensibilidade e intelecto, estão
                     envolvidas nestes processos e nenhum aspecto da educação está
                     aqui excluído. E todos eles são processos que envolvem a arte [...].
                     O objetivo da educação é por isso a criação de artistas – de pessoas
                     eficientes nos vários modos de expressão.


      Pode-se acrescentar que a educação é uma ciência e uma arte, no sentido de
que sendo ciência desenvolve pesquisa e mecanismos que transmitem aos mais
jovens os conhecimentos acumulados até então e sendo arte, no sentido de
acreditar em outras possibilidade da própria educação , que é educação pela arte.
Logo, a educação na perspectiva trabalha o aluno como uma pessoa inteira, com
sua afetividade, suas percepções, sua expressão, seus sentidos, sua crítica, sua
criatividade, afirma Santos (2002).


    A educação é o objetivo da escola e já que a escola é o primeiro espaço formal
onde se dá o desenvolvimento dos cidadãos, esta poderia ser também o espaço do
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contato com o universo artístico e suas linguagens: artes visuais, teatro, dança,
música e literatura.


    Assim como a educação, a arte sempre esteve presente na historia do individuo
ao longo de seu processo de formação em sociedade. E nessa construção de
valores e saberes agregados de cada individuo, a arte contribui para externaliza e
internalizar conhecimento contribuindo para formação reflexiva do homem.



2.2 Considerações sobre a arte


    É impossível separar o homem da arte, pois desde que ele passou a se
conhecer e conhecer mundo que o rodeia passou a representar, em imagens, tudo o
que vive e sente. As criações humanas com valores estéticos, nas quais são
colocadas suas emoções, seus sentimentos e sua cultura são denominadas arte. A
arte é criada pelo homem com o objetivo de divulgar suas crenças e interpretar
objetos e cenas (BOSI, 1999). Portanto:


                       Um fenômeno comum a todas as culturas – desde as mais
                       ‘primitivas’ às mais ‘civilizadas’, desde as mais antigas às mais atuais
                       – é a arte. A arte do homem pré-histórico, inclusive, é tudo o que
                       restou, integralmente, desses nossos antepassados. Qualquer
                       cultura sempre produziu arte, seja em suas formas mais simples,
                       como enfeitar o corpo com tinturas, seja nas formas mais
                       sofisticadas, como o cinema em terceira dimensão, na nossa
                       civilização. A arte nos acompanha desde as cavernas (DUARTE
                       JUNIOR, 2001, p. 38).


    Um campo de habilidades do homem é a arte, que é também uma autêntica e
inequívoca expressão humana. Por servir como registro e informação da sociedade
que a produziu, ela tem um valor antropológico. Além disso, legitima as impressões
sobre tudo que cerca o homem, tendo um grande valor social ao integrar as pessoas
dentro do meio em que vivem. Através dela o homem exprime e externaliza o seu
eu, os seus sentimentos e emoções, ela não transmite significados conceituais, mas
dá expressão ao “sentir”, afirma Basbaum (2003). Ela concretiza os sentimentos de
uma forma tal que todos possam percebê-los.
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      Segundo Santos (2007, p. 24):


                      A palavra “arte” é derivada do latim ars e significa habilidade, ou seja,
                      é um processo em que o conhecimento é usado para realizar
                      determinadas habilidades. Para Saunders (1998, p. 130) a arte é um
                      fenomeno cultural “inventada há milhões de anos pelos seres
                      humanos para satisfazer algumas de suas necessidades”. A arte tem
                      acompanhado as manifestações humanas desde a Pré-história, por
                      meio de manifestações diversas (que vão do trabalho com
                      ferramentas à pintura em cavernas).


      A educação, juntamente com a família é a base estrutural de qualquer
sociedade e ela é necessária para humanizar os indivíduos. Um dos instrumentos de
humanização é a arte e se ela humaniza, mais do que nunca deve fazer parte do
contexto escolar, uma vez que esta instituição trabalha com a formação humana na
sociedade de modo geral.


      Não há verdadeira educação sem arte e verdadeira arte sem educação
porque tanto a arte como a educação cumpre sua missão que é emancipar um ser.
Juntas, educação e arte podem transformar o mundo tornando-o democrático. A
atuação da arte no espaço educativo é uma das estratégias e um dos principais
instrumentos da transformação          do sistema educacional.           Ela,   no trabalho
pedagógico, dá sentido ao aprendizado, envolve o aluno de tal maneira que estimula
sua participação em atividades que cruzem visão e sensação e que encorajem
conexões múltiplas.


                      É preciso dirimir dúvidas desde já: arte-educação não significa o
                      treino para alguém se tornar um artista, não significa a aprendizagem
                      de uma técnica, num dado ramo das artes. Antes, quer significar uma
                      educação que tenha a arte como uma de suas principais aliadas.
                      Uma educação que permita uma maior sensibilidade para com o
                      mundo que cerca cada um de nós (DUARTE JUNIOR, 2001, p. 12).


      A arte na educação não torna o aluno um artista nem significa a aprendizagem
de técnicas. Ela permite o desenvolvimento de uma maior sensibilidade em relação
ao mundo, transformando os espaços escolares e cria laços de confiança mútua
entre alunos e professores. Almeida (1992) salienta que a arte ensina o aluno a se
expressar e não apenas se comunicar, desperta o seu interesse, estimulando-o para
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que compreenda melhor e desenvolva seus sentimentos. Além disso, permite a
ampliação da imaginação, da criatividade e do interesse.


      Segundo Read (1982) só o interesse pode despertar e manter a atenção do
aluno. É uma faculdade que não pode ser subestimada. E a arte cumpre esse papel.
O professor deve levar em consideração a natureza da criança, a sua capacidade de
progredir e os seus interesses.

      Conforme Silva (2006) a arte educa pelo desenvolvimento da imaginação,
descobrimento de possibilidades, projetos de transformação, pelo ultrapassar
barreiras de comunicação com outros povos, vivenciando o mundo integralmente em
cada época, vivenciando o imaginário na vida cotidiana. Ela cria sentido para os
alunos através do processo das descobertas de percepções, experiências,
sentimentos, integração, auto-expressão.


      As pessoas ampliam o conhecimento sobre si mesmo através das formas
artísticas, ou seja, o seu desenvolvimento, a sua educação. “Através da arte, pode-
se, então, despertar a atenção de cada um para sua maneira particular de sentir,
sobre o qual se elaboram todos os outros processos racionais”, afirma Duarte Junior
(2001, p. 66).


      Na escola a arte contribui para a formação integral do homem levando-o a
interagir com o outro, com o mundo, é a socialização. Além disso, educa o sujeito
para a compreensão sensível de fatores culturais e sociais que conduzem a atitudes
e pensamentos inseridos em um determinado tempo/espaço.

      Segundo Eco (1995), na escola ao se utilizar a arte, objetiva-se
especificamente o desenvolvimento da criatividade e da auto-expressão do aluno.
Atualmente, quando o foco do processo educativo se deslocou da transmissão de
conteúdos para as necessidades e interesses do educando, todas as atividades têm
como ponto de partida o fazer artístico, estimulando o aluno a criar. Na educação, o
mais importante, não é produzir belas obras de arte e sim, o próprio processo de
criar, o processo pelo qual o aluno desperta seus sentidos em relação ao mundo que
o rodeia, desenvolvendo sua consciência estética.
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      Portanto, a arte na educação não significa trabalhar a educação artística nos
currículos escolares. A arte-educação é uma atividade estética e criadora em si
própria e que desenvolve no aluno a harmonia, o belo. Ela é fundamentada na
construção de um sentido pessoal para a vida de cada aluno.


2.3 A função do artista na escola

      Na pré-história, o artista era o feiticeiro, que tinha por função atrair as boas
energias e neutralizar as más (PERROTI, 1995). Naturalmente, tal atividade não
poderia ser denominada “artística”, no significado que hoje se atribui a essa palavra.


                     Com a evolução da humanidade, o artista confundiu-se com o
                     sacerdote das civilizações agrárias, que já não eram dependentes de
                     meras invocações ou rituais, mas, que possuíam uma bagagem de
                     informações e conhecimentos qualificados de pré-científicos. Mais
                     tarde, o artista assume uma função particular: a de ilustrar os mitos
                     coletivos, ou a de celebrar a sacralização do poder público. Só
                     lentamente, à medida que a aristocracia principia a se formar, nasce
                     um novo tipo de arte: a que confere fausto e brilho aos “novos ricos”
                     da época, o que se vê, por exemplo, nas mastabas do Egito, e bem
                     mais tarde, na arte santuária romana (BACHELARD, 1986, p. 13).



      No período do Renascimento o artista assume um papel que contribui com a
produção do conhecimento naquela época, bem como faz um trabalho solicitado
pela sociedade que busca as interpretações do artista em suas diversas formas
artísticas como a escultura, pintura, desenho, etc., sua arte acaba sendo submetida
aos donos do poder, que eram os mercadores. Essa situação se modifica no início
da civilização moderna, na qual os valores dominantes são os direitos do homem. O
artista então, passa a viver do que produz. A partir do século XX a sua função
passou a ser unicamente produzir obras de arte. “Tão cheio de si ou do universo, o
verdadeiro artista está sempre pleno para se utilizar da poesia, das coisas que não
servem para nada” (BARBOSA, 1986).



      Contemporaneamente, a função do artista no mundo globalizado acaba sendo
paradoxal, onde sua arte é expressa de acordo com seus ideais, mesmo na
sociedade em que ele vive. Porém é fato que devido uma questão de sobrevivência
o artista muitas vezes usa criatividade em função de interesses econômicos
21



capitalistas. O sistema capitalista acaba por influenciar o comportamento das
pessoas gerando um mecanismo de estímulo ao consumo, bem como de atitudes de
padronização de gostos em relação a um determinado tipo de produção social e
cultural.


       O artista abre espaço para a existência de um outro a partir de suas
entranhas. Essa é a sua função social e seu papel na sociedade. Ele estimula o
pensamento sobre a existência, vislumbrando possibilidades de vida mais reais. O
artista traz o inconsciente de suas emoções e de suas ações para o consciente.
Portanto:


                     O artista deve estimular a criação artística, valorizando os processos
                     criativos existentes na sociedade, não cedendo a pressões oriundas
                     do mercado, do poder ou de qualquer discriminação de caráter
                     cultural (ARAUJO, 1994, p. 73).


       A função de todo artista é sacudir a inércia, é colocar na vida, o que está
escondido no seu interior, o seu dom de criar. É desenvolver uma educação
saudável, voltada ao humano, à natureza artística, ao prazer de expressão do belo.
Para o artista, educar é reconhecer arte na vida e fazer do dia-a-dia uma verdadeira
obra de arte. Segundo Ernst (1987, p. 14) “para conseguir ser um artista é
necessário dominar, controlar e transformar a experiência em memória, a memória
em expressão, a matéria em forma”.




2.3.1 O artista professor no espaço escolar


       O ato de criar supõe a imaginação. E a imaginação é a mola propulsora do
surgimento de novas idéias. Quando a imaginação conduz à concretização dos
elementos do “sentir”, está criada uma obra de arte. E o seu criador é chamado de
artista. O artista tem um poder especial. É capaz de sintonizar com o universo e
trazer um pouco de sua beleza para o mundo que o cerca. O professor também é
um criador, logo, ele também é um artista (DUARTE JUNIOR, 1988).
22



      O homem pode exercer deferentes funções. Um indivíduo, a ele é possível
ser um poeta, um homem de ciência e um político. No caso de nossa pesquisa
estamos nos referindo ao fato de ser artista e de ser professor ao mesmo tempo,
uma função não tira a outra. Pode ser uma experiência em que uma demande
desafio pra outra e/ou construam possibilidades de produção do saber e do
pensamento reflexivo e da criatividade. O trabalho artístico e a docência são
distintos entre si, mas, perfeitamente compatíveis. Eles são distintos na forma como
o conteúdo é aprendido e/ou ensinado. A aprendizagem realizada fora da escola não
é estruturada, nem planejada e o tempo dessa aprendizagem não é previamente
fixado, respeitando-se as diferenças para a absorção dos conteúdos. Na
aprendizagem dentro da escola tudo é planejado, organizado e estruturado, novo
conhecimento vai sendo acrescentado e aperfeiçoa o conhecimento já adquirido.


      A arte trabalha com a reflexão, com o pensamento. Assim, o artista quando
atua na sala de aula, torna-se um provocador que leva o aluno a pensar.
Empenhado em cativar os alunos na sala de aula, ele cria uma didática própria e
divertida. Quando o artista exerce a função de professor, geralmente transmuta-se
em ator para abrir a cena e transformar a aula em um palco iluminado. Mistura razão
e emoção. O artista é criativo como deve ser todo professor e a partir do momento
em que ele cria alguma coisa, consegue se aproximar do aluno que também começa
a criar conhecimentos.


      Para Biasoli (1999, p. 105) “reflexão significa reconhecimento de que a
produção de conhecimento sobre o que deve ser ensinado e como deve ser
ensinado não é propriedade exclusiva das universidades” e que os professores têm
suas próprias teorias que contribuem para a aquisição do conhecimento. Diante
disso, torna-se inquestionável a capacidade docente de um artista.


      Devido à exigüidade do mercado de trabalho, muitos artistas são obrigados a
exercer uma segunda atividade, geralmente ligada à docência. Atualmente, é
significativa a quantidade de artistas que, desamparados pelas políticas públicas que
envolvem atividades culturais e artísticas, buscam o caminho do ensino, nas
escolas, nas academias e nas Organizações Não-Governamentais (ONGs).
23



      Exercedo paralelamente a docência e a prática artística. Exercer a docência
torna-se uma garantia financeira para o artista, é a sua estabilidade financeira. É
comum ver artistas de teatro, dançarinos, artistas independentes, sem nenhuma
ligação anterior com a educação, procurar na escola a garantia de sua manutenção.


      Muitos artistas buscam a área educacional para atuarem e se manterem, em
virtude de que não conseguiram se realizar financeiramente através da sua arte. O
aumento do número de artistas atuando nas escolas como docentes, reflete uma
insustentabilidade econômica do profissional vinculado à arte, como também o
abandono de um preconceito, ainda recente, de que “artista que é artista” não faz
outra coisa que não seja o seu trabalho artístico (RODRIGUES, 1968).


      Eles exercem concomitantemente as duas profissões: artista e professor!
Pergunta-se então: como são recebidos pela escola os artistas/professores? Será
que eles conseguem se adequar à nova situação? Será que o artista quando chega
no espaço escolar consegue desenvolver bem o processo de ensino-aprendizagem?
O artista conhece o processo de ação-reflexão-ação por estar envolvido em prática
educativa fora da escola.


      A docência agrega a experiência, os conhecimentos e os saberes
pedagógicos. Para alguns estudiosos a docência é a profissão do professor, ou seja,
é aquele que realiza práticas educacionais. Uma prática educativa, mas nem toda
prática educativa é docência, como por exemplo, as relações familiares, afirma
Zabala (1998). A educação acontece tanto dentro como fora da escola, em
diferentes setores como na família, igrejas e profissão. A prática educacional dentro
da escola utiliza métodos e técnicas diferentes de ensino e trabalha com memórias,
saberes,   identidades      e   conhecimentos   repassados   em    seus   conteúdos
programáticos. A educação não-formal, ou seja, aquela que os artistas possuem
antes de chegar à escola, é a prática educacional organizada e sistemática que,
normalmente, se realiza fora dos quadros do sistema formal de ensino.


      Geralmente a escola formal não trabalha com a emoção e a intuição, que são
inerentes ao artista. O trabalho que os artistas participantes deste estudo realizam
fora do espaço escolar é o teatro, que também é uma experiência educativa, embora
24



seja uma educação não-formal. Ao atuarem em uma peça teatral, muitos artistas
estão adquirindo sua intelectualidade ao longo do tempo, considerando que a arte é
também uma atividade intelectual. Duarte Júnior (2003), citando Maffesoli diz que é
preciso considerar que o conhecimento do mundo é uma mistura de rigor e poesia,
razão e paixão, lógica e mitologia, lógicas e estéticas, intelectuais e estésica,
científicas e artísticas.


         A criatividade, a imaginação, os conteúdos lógicos são elementos
fundamentais na aquisição dos conhecimentos. No processo de criação artística, o
nível mental também se faz presente, desempenhando importante papel, pois,
quando se cria, costuma-se também pensar no para que se está criando, afirma
Sergio C. B. Farias3.


         A educação deve priorizar o interesse dos alunos em adquirir novos
conhecimentos e diante disso, a sala de aula deve ser um espelho do atelier de um
artista ou do laboratório de um cientista. Neles deverão ser desenvolvidas
pesquisas, técnicas que são criadas e recriadas, e o processo criador toma forma de
maneira viva, dinâmica, afirmam Fusari & Ferraz (1992). A pesquisa e a construção
do conhecimento é um valor tanto para o educador quanto para o educando,
rompendo com a relação sujeito/objeto do ensino tradicional. Dessa forma, o ensino
estará intimamente ligado ao interesse de quem aprende. Então, cabe aos
professores/artistas comprometidos com a educação fazer com que o ensino se
torne um grande espetáculo na escola.

         A atividade artística e a docência são atividades distintas, porém compatíveis.
Entre o fazer artístico e o fazer pedagógico existem afinidades, pois sendo
atividades humanas, procuram criar usando a emoção e a razão, partem sempre em
busca do aperfeiçoamento e do crescimento.


         A escola por ser um espaço que propicia convivência e debate é muito
procurada pelos artistas, por vislumbrarem ali um novo ambiente de reflexão e de
formação, que é um espaço coletivo por excelência, raramente encontrado em outro

3
    Doutor em Artes pela USP e Professor da UFBA.
25



contexto. O artista faz não apenas seu trabalho artístico, como também se engaja
em muitas outras questões da sociedade, sejam políticas ou sociais, denunciando
injustiças e contribuindo para fazer de seu país um ambiente democrático. Quantos
artistas na época da repressão foram exilados, porque através de suas músicas, de
suas peças teatrais, de suas poesias, denunciavam o sistema político!


       A docência tem sido amplamente procurada pelos artistas em virtude deles
perceberem que a escola é um lugar possível de discussão e troca, por que vêem
nela um fórum de discussão e convivência, dois aspectos fundamentais para o
exercício da arte. Campos (1993) ressalta que a escola se configura como um
ambiente fértil para intersecções de outras instâncias do conhecimento, e ferramenta
útil na articulação de diferentes conceitos envolvidos na prática artística. O artista,
por ocupar um papel ativo e presente na reflexão artística, busca outras áreas de
atuação e a sala de aula pode tornando-se um ambiente de ativismo cultural e
político exercido por ele.


       Zabala (1998) enfatiza que a Pedagogia Cultural conduz para que todos se
tornem muito menos "escolares" e muito mais "culturais", nesse sentido, favorece o
desenvolvimento de uma prática pedagógica produzida num contexto da diversidade
cultural, que vai interagir com as produções coletivas e individuais de cada aluno.
Isto modifica a prática de formação do intelectual da educação, que atua de forma
mais engajada, envolvendo questões de mobilizações sociais e mudança políticas.
O intelectual artista, geralmente atua nesse cenário de debate e proposições de
mudanças, uma vez que tem condições de pensar, dizer e fazer algo diferente com a
sua docência neste mundo culturalmente pluralizado.


       De acordo com Strazzacappa & Morandi (2006) a docência deveria ser
artística, por que ela cria e inventa, que, ao educar, reescreve os roteiros rotineiros
de outras épocas. Ela desenvolve práticas pedagógicas ainda inimagináveis, que
desfazem a compreensão, a fala, a visão e a escuta das mesmas coisas, dos
mesmos sujeitos, dos mesmos conhecimentos. Estimulam outros modos de ver e
ser visto, dizer e ser dito, representar e ser representado, acabando com a mesmice.
26



      Quando um artista se encontra atuando na docência, enche-se de alegria ao
trabalhar nas fronteiras entre as disciplinas e as pós-disciplinas, os sujeitos e os
não-sujeitos, os sentidos e os sem-sentidos. Recriam, fazem coisas que renovam e
singularizam o seu trabalho cultural de Educação, ressaltam Fusari e Ferraz (1993).
Promovem o auto-despreendimento, implicado no questionamento dos próprios
limites, desenvolvem a docência artística. É o que se denomina “educar artistando”.
Todo professor deveria desenvolvê-la!


      O educar artistando significa ter prazer em criar novas metodologias, assumir
o risco de educar diferente, tornar o ensino mais prazeroso, transformar o processo
educacional em algo belo e atraente, e praticar a arte-educação. A arte-educação
não é ensinar trabalhos manuais nem dar aulas de artesanato, não é promover
eventos de arte, não é a utilização da arte como ferramenta de ensino de outras
disciplinas, não é fazer teatrinho nas aulas de história. De acordo com Mae Barbosa
a arte-educação valorizava o desenvolvimento da auto-expressão, da criatividade e
da autodescoberta, essa experiência se torna efetiva a partir da Proposta Triangular
que envolver três vertentes básicas: o fazer artístico, a leitura da imagem (obra de
arte) e a história da arte de forma contextualizada (1991). Segundo Fusari e Ferraz
(1993) a arte-educação tem propostas que vão além do ensino de uma técnica, seja
artesanal ou artística. E essa expressão de acordo com as autoras não é somente
“expressão do eu” ou da “individualidade” tampouco.


      Na arte-educação o professor tem que fazer o papel de artista, entretendo e
despertando o interesse dos alunos, por que quando o aluno está insatisfeito a
aprendizagem está em perigo. Existem vários tipos de professor, segundo Campos
(1993, p. 38):


                     O professor se apresenta sob diversas faces. O professor-instrutor,
                     sempre transmite orientações, conselhos, respostas prontas. O
                     professor-capataz exige frequência, distribui tarefas, cobra
                     desempenho, dá suas broncas. O professor-sábio, distante,
                     especialista, profundo conhecedor da sua matéria, cuja última
                     preocupação é saber se alguém quer aprender ou não. Há também o
                     professor-treinador, atento à realidade do aluno, preocupado em
                     tornar o saber apreensível, assimilável, praticável. Existe ainda o
                     professor-artista que é um poeta em ação.
27



      O professor precisa ser um artista, tornando suas aulas atraentes e
interessantes. Nas suas aulas não deve haver lugar para o tédio. Ele deve possuir
criatividade e determinação para manter uma realidade encantada, para tornar o
espaço escolar mais bonito e mais alegre.


      Uma aula cheia de graça e irreverência rompe as barreiras entre “o lugar”
professor e “o lugar” aluno, desenvolvendo uma práxis pedagógica que desestabiliza
certas relações de poder, despertando uma consciência política da dignidade, o
lirismo na condição humana. Essa postura decerto promove uma outra relação entre
aluno e conhecimento. O fazer artístico abre outros caminhos para o curioso, o
singular, para misturas e idéias novas, ressalta Eagleton (1990).


      O professor-palhaço ou professor-clown como é chamado por Hudson,
(1974), faz tudo seriamente. Para esse autor ele:


                     É paradoxalmente, a encarnação do trágico, pois assume, sem as
                     máscaras que nós usamos no cotidiano (falsos rostos, mais falsos do
                     que as verdadeiras máscaras), a fraqueza da humanidade, a nossa
                     condição de seres que praticamente tudo desconhecem. O
                     professor-artista assume o que é cômico e risível, assume o risco de
                     alguém misturar marmelo com chuchu (HUDSON, 1974, p. 18).


      Para o professor-artista a aula é um espetáculo na qual ele utiliza recursos
cômicos   para fazer rir, para fazer pensar, para despertar. O cômico é legítima
categoria artística, e tem o poder de iluminar os caminhos da aprendizagem. Ao
utilizar um trocadilho, uma frase ambígua, um gesto que ninguém esperava ver
numa sala de aula, o professor faz o aluno arregalar os olhos, abrir os ouvidos,
despertando nele novas reações (PERISSÉ, 1994).


      Quando o artista-professor usa a graça, a irreverência em suas aulas,
transforma-as em aulas encantadoras, quebrando a rotina, questionando as práticas
pedagógicas tradicionais. Os alunos durante essas aulas são despertados
intelectualmente, brotando neles o desejo de absorver mais e mais conhecimentos.


                     O autêntico professor-artista, relativiza normas e verdades sociais
                     que se demonstraram insuficientes, espanta o medo de viver no
28



                        plano da criatividade, não leva a sério a idéia da punição. Sofre, mas
                        não desiste de ridicularizar a idiotice humana, o sadismo humano
                        que consiste em reprimir o humano que existe dentro de cada um
                        (STRAZZACAPPA & MORANDI, 2006, p. 48).


          Ele tem como premissa de que a missão do artista é não aborrecer, é
mostrar, de forma lúcida que se pode olhar o mundo com uma visão crítica e ao
mesmo tempo, divertida, maneira viva, lúdica, lúcida, como podemos olhar o mundo
com uma visão crítica e divertida, apaixonada e trágica. Ele brinca com as
instituições e valores oficiais com seriedade.


          Almeida (1992) afirma que todo docente usa máscaras de tristeza ou euforia,
de timidez ou orgulho, de superioridade ou inferioridade, máscaras que ocultam sua
verdadeira personalidade. E, atrás dessas máscaras existe sempre uma criança, um
palhaço, um formador de opiniões e desencadeador de conhecimentos. O professor-
artista    transforma a sala de aula em um picadeiro, em um palco, e com essa
postura de teatralidade e           provoca atitudes que vão revelar nos alunos
comportamentos relacionados a atitudes de “revoltas” e alegria. Essa revolta diz
respeito à consciência de si mesmo nas relações diante das situações vivenciadas e
o rompimento e/ou enfrentamento das relações que causam certos tipos de
opressão.


          O artista-professor estreita os laços pessoais com os alunos, o que permite
melhores condições para trabalhar coletivamente e encontrar soluções para os
desafios da prática pedagógica, no contexto onde essa prática se insere. Ele
estabelece diálogos sem censuras com seus alunos, se permitindo conversas
descompromissadas e verdadeiras, como um bate-papo que flui naturalmente após
um espetáculo (ALMEIDA, 1992).


                        Muitos artistas têm seu talento artístico voltado para o ensino e por
                        isso resolvem abraçar a profissão de educador. Estes profissionais
                        que possuem talento híbrido (artístico e pedagógico) devem ser
                        valorizados. Porém, o que geralmente acontece é que eles muitas
                        vezes não encontram espaços de trabalho, pois não são artistas
                        convencionais nem professores tradicionais e acabam rechaçados
                        tanto no mundo da arte quanto no mundo da escola. Deve-se
                        enfatizar a maravilha que é um artista/professor ser um pedaço do
                        mundo da arte que penetra no espaço escolar (STRAZZACAPPA &
                        MORANDI, 2006, p. 81).
29




      A sala de aula pode ser um lugar significativo de conhecimento de arte,
portanto, é interessante que o artista/professor monte uma coreografia para dançar e
discutir com seus alunos, traga suas pinturas para a sala de aula, toque uma peça
ou cante uma canção para que os alunos também entrem em cena, recite um poema
ou faça uma leitura de um texto teatral para os alunos, afirma Abramovich (1998).
Essa encenação por meio de significados imagísticos, causa o efeito de atribuição
de significados de um termo a outro. De acordo com Ianni (2000, p. 17) “a
comparação permite enriquecer a percepção das configurações e movimentos da
realidade”. O artista tem o poder de canalizar os sentimentos mais profundos, o que
lhe confere um poder de comunicação muito grande. E o artista/professor tem o
poder de sensibilizar o aluno através de uma dramatização, de um canto, de uma
dança.


      Ianni (2000, p. 18) afirma que para Max Weber a reflexão sobre a realidade
social “compreende sempre a comparação [...] por meio da qual se torna possível
observar, analisar e interpretar a complexidade da realidade social”. Ao encenar em
sala de aula o artista/professor conduz o aluno a “flutuar pelo mundo afora, de modo
a desprender-se e se despertar, distanciar-se e clarificar-se, mergulhar em sua
reflexão e soltar a imaginação” (IANNI, 2000, p. 25). Isso quer dizer que o
artista/professor utiliza a metáfora como uma metodologia de ensino bem atraente
aos olhos do aluno.


      A metáfora é então a compreensão de um domínio através de outro e se
caracteriza por criar uma relação entre um domínio fonte e um domínio alvo. A
metáfora objetiva relacionar os conteúdos curriculares com situações do fazer
artístico para facilitar a compreensão destes conteúdos. Ela é uma das formas de
linguagem que possibilitam o resgate do cotidiano e a interação dos sujeitos que
constroem o conhecimento, em um ambiente livre de tensões, melhorando o
processo de ensino-aprendizagem. A metáfora governa tanto a construção, quanto o
desenvolvimento de conceitos, pois o pensamento passa primeiro pelo significado
para depois passar pela palavra (PONTES, 2003).
30



      Para Bosi (1999) é significativa a contribuição da experiência artística na
atividade docente, por parte do artista que também é professor, uma vez que tanto a
atividade artística como a docente, são atividades criadoras que se conjugam numa
perspectiva de educação libertadora. A mesma emoção que o artista sente ao criar
uma obra de arte é sentida também no trabalho com os alunos em sala de aula.


      Eco (1995) salienta que o artista-professor, tendo a vivência teórico-prática do
fazer artístico, tem a facilidade de compreender o processo de criação dos seus
alunos e, também, a possibilidade de desenvolver uma prática pedagógica em que a
emoção estética seja um elemento mediador significativo entre o ensinar e o
aprender.


2.3.1 Como o professor atua?

      Fica na responsabilidade do professor a formação integral das pessoas e não
apenas a sua formação intelectual. Atualmente, o conhecimento assume novas
configurações, modifica-se constantemente por causa das novas descobertas e
precisa ser sempre atualizado. Portanto, as aulas devem ser prazerosas e atraentes
aos olhos dos alunos, para que eles passem a gostar cada vem mais do espaço
escolar.


      Nesse contexto, o trabalho do docente deve ser estratégico, abrangendo um
raio de atuação cada vez maior. Assumindo um novo perfil, projetando juntos com os
estudantes os caminhos que estes percorrerão até alcançar uma formação
completa. Ele precisa ser um dinamizador de grupos, responsável não mais por
“formar alunos isoladamente, mas por constituir comunidades de aprendizagem
capazes de desenvolver projetos em conjunto, se comunicar e aprender
colaborativamente” (RAMAL, 2002, p. 32)


      Com uma mentalidade e expressão artística em sua experiência pedagógica,
utilizando uma linguagem figurada e emocional que é mais loquaz, marcará muito
mais fortemente o aprendizado, afirma Santos (2002). Uma vez que a arte é um fator
de grande importância para o homem, o educador que utiliza os seus recursos para
auxiliá-lo na sua tarefa educativa assume junto aos alunos outra perpsctiva da
31



educação. Assim a arte reestrutura a concepção do saber e abarca todos os tipos de
inteligências. Ela possibilita ao professor, a procura por maneiras diferentes de
transmitir uma mesma mensagem. O professor deve ainda estimular o raciocínio e a
compreensão dos seus alunos. Assim:


                     No processo de ensino-aprendizagem devem ser estimulados não
                     somente os processo analíticos, que dividem, mas os de síntese, que
                     integram. Cada hemisfério cerebral é responsável por uma dessas
                     dimensões. O esquerdo pelo mundo analítico e racional e o direito,
                     pela dimensão da síntese, da intuição, da criatividade, da arte
                     (RAMAL, 2002, p. 2).



    Para Duarte Junior (1988) o docente deve compartilhar suas experiências com
os alunos, o que contribuirá para a compreensão dos problemas vivenciados na sala
de aula e para a construção de sua prática pedagógica conjuntamente com os
demais envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, durante o qual, várias
vozes poderão ser ditas e trocadas, entendidas e confrontadas, e em conjunto
poderão buscar saídas possíveis.



    A liberdade de ensinar para o docente torna-se o fator vital para sua realização
no desenvolvimento de sua práxis pedagógica, pois a aprendizagem do aluno vai
depender dessa liberdade. Mas, o que é ter liberdade de ensinar? É a liberdade de
externar suas práticas pedagógicas sem a vigilância da administração da escola, é
ter livre arbítrio para criar, para inovar, para escolher as metodologias que considera
melhor para seus alunos (CHIOVATTO, 2000).


    Para que haja liberdade no processo de ensino-aprendizagem, devem ser
asseguradas ao professor, condições para ensinar, instruir, transmitir conhecimento,
através de suas exposições e dos recursos materiais disponíveis nas instituições de
ensino. Quem ensina com liberdade, educa. Quem ensina com liberdade desenvolve
integralmente o educando. Portanto:

                     Quem tem liberdade de ensinar transforma suas aulas em muito mais
                     do que lições, mas em artes de ensinar, de tal modo que a liberdade
                     de ensinar revela-se, em muitos professores, como a liberdade de
                     pôr em prática uma idéia, valendo-se, para tanto, de sua
                     competência técnica. Quando os professores transformam suas
32



                      aulas em artes revela-se, que sob a liberdade de ensinar, podem
                      obter resultados, no processo escolar, de modos diferentes, de
                      formas pedagógicas das mais diversas (CHIOVATTO, 2000, p. 3).


      Uma das competências do docente deve ser a capacidade de decidir sobre a
qualidade e a quantidade de conhecimentos, idéias, conceitos e princípios a serem
explorados nas suas atividades escolares, estabelecendo uma relação intrínseca
com a realidade social em que o aluno está inserido. “Uma pequena qualidade de
conhecimento consolidado é mais utilizável e transferível do que uma grande
quantidade de conhecimento instável, difuso e completamente inútil”, afirma Ausubel
(1980, p. 78).


      Ao professor cabe possuir também a competência de perceber que os
conteúdos só possuem significados para o aluno se estiverem vinculados à sua
realidade existencial, se contribuirem para a resolução de seus problemas
cotidianos. Ele deve atuar na educação como um artista atua no palco durante uma
cena de teatro, porque na realidade, todo professor é no fundo, um ator, ressalta
Zabala (1998).


      O artista-professor traz consigo experiências de vida nas suas relações
humanas que ao logo da vida no palco contribuem para seu bom desempenho na
sala de aula, tornando assim sua aula uma representação do seu saber artístico.
Nesse sentido é importante que o professor/artista:


                      [...] assuma também, sem susto e sem medo, sua função de artista,
                      de produtor, de pesquisador e de apreciador de arte. Esta é uma das
                      grandes riquezas a serem vividas e discutidas com os alunos. É
                      importante que o professor se torne um professor-artista, e não um
                      mero passador de técnicas ou informações (ZABALA, 1998, p. 48).



      Transformar as aulas em momentos prazerosos, e não de chateação, é um
dos grandes trunfos do professor para que as relações entre o processo de ensino e
o de aprendizagem, não sejam relações ingênuas, passivas ou reprodutoras, mas
sim participativas, criativas e transformadoras.
33




                              CAPÍTULO III
                            METODOLOGIA



        Realizar um estudo sobre determinada questão, ou seja, pesquisar é
reconstruir um conhecimento partindo do que já existe para se chegar a outro
patamar à frente. Uma pesquisa no processo educativo é um processo investigativo
que busca a compreensão de determinado fenômeno. Este trabalho é o resultado de
uma curiosidade em relação à atuação de atores de teatro que também trabalham
em algumas escolas como professores. Para investigar sobre essa temática foram
realizados estudos teóricos em extenso material bibliográfico.


        Para a realização deste trabalho, inicialmente fez-se uma pesquisa
bibliográfica, no período de fevereiro a abril de 2008, na biblioteca da Universidade
do Estado da Bahia (UNEB), na base de dados on-line e em outros locais diversos.
O embasamento teórico foi ampliado por meio de buscas a referências bibliográficas
dos estudos relevantes. Diversas referências foram selecionadas, atendendo a
esses critérios.   Ao longo do desenvolvimento deste trabalho, foram realizadas
observações e entrevistas, às quais levaram a obter dados satisfatórios para a
presente investigação.


        As bases epistemológicas da metodologia que sustentaram nossa pesquisa
dialogam intimamente com a pesquisa qualitativa assumindo uma perspectiva em
que “preocupa-se com os processos que constituem o ser humano em sociedade e
em cultura e compreende esta como algo que transversaliza e indexaliza toda e
qualquer ação humana” (MACEDO, 2006). Os sujeitos são considerados como
atores e autores sociais, uma vez que não são descartáveis, com valor meramente
utilitarista.


        Acreditamos que a pesquisa não se apresenta em perspectiva neutra ou
objetiva, até porque a opção teórico-metodológica que optamos se constitui em uma
pesquisa qualitativa, nessa ótica se configura em uma abordagem conceitual de
34



implicação. Nosso envolvimento com o campo de pesquisa está em nossas
vivências pedagógicas, bem como com o envolvimento e participação nos grupos de
artistas que trabalham com teatro na região.


         Nossa pesquisa caminha numa abordagem fenomenológica, considerando
que o fenômeno, a práxis pedagógica do artista professor, torna-se uma experiência
co-participativa   de   sujeitos   em   experiências   vividas   permitindo   partilhar
compreensões e interpretações, “interessados em descrever para compreender, o
pesquisador fenomenólogo sempre está interrogando: o que é isto?” (MACEDO,
2006).


         No caso específico de nossa pesquisa, é importante ressaltar o nosso
convívio cotidiano nos ambientes de atuação dos artistas professores, tanto nas
escolas como no teatro, bem como a partir de nossa própria atuação, favoreceu de
forma diferencial a realização da pesquisa. Vivências essas que nos possibilitaram
observação desse movimento que foi se contornando e se tornando o nosso objeto
de pesquisa.


         Para isso as ferramentas utilizadas como questionários, observações e
interações em diálogos nas escolas onde as experiências acontecem nos deram
suporte para construir um discurso, um texto contextualizado, que junto ao
referencial bibliográfico selecionado favoreceram com as produções dos resultados
da pesquisa.




3. 1 Pesquisa utilizada


         A pesquisa que busca entender um fenômeno específico em profundidade,
chama-se pesquisa qualitativa. Nela, “o pesquisador é um interpretador da
realidade” (BRADLEY, 1993, p. 15) e não se investiga em razão de resultados,
mas o que se quer obter é "a compreensão dos comportamentos a partir da
perspectiva dos sujeitos da investigação" (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p.16).
35



      Esse tipo de pesquisa contribui na identificação de questões e entender
porque estas são importantes. Além disso, trabalha com uma amostra heterogênea
de pessoas, revela áreas de consenso, tanto positivo quanto negativo, nos padrões
de respostas, determina quais idéias geram uma forte reação emocional. A pesquisa
qualitativa não deve ser usada quando o que se espera é saber quantas pessoas
irão responder de uma determinada forma ou quantas terão a mesma opinião. A
pesquisa qualitativa não é projetada para coletar resultados quantificáveis.


3.1.1 Os ambientes-palcos da pesquisa


      Embora os sujeitos entrevistados atuem em espaços concretos escolares, o
enfoque desta pesquisa privilegiou a práxis pedagógica dos artistas/professores.
Portanto privilegiou-se o espaço simbólico que se dá como “não lugar”. Isto se
explica pelo fato de que o objeto e contexto de estudo se movem no campo do
mundo simbólico, que não se aprisiona nos estreitos limites do mapa enquanto
espaço geográfico. Neste sentido pode-se falar de uma dominância simbólica, em
que os significados e as representações se dão enquanto meta-lugar. As falas dos
artistas ouvidos se articulam a partir de situações que transcendem o tradicional
conceito de mapeamento físico.


      Nesse sentido pensar a práxis pedagógica implica pensarmos os princípios
epistemológicos e políticos que alicerçam as experiências com a educação. Implica
também pensar um conceito de educação que viabilize as expressões das culturas,
das experiências, das esperanças e dos sonhos, onde se possa problematizar o
contexto político onde a práxis pedagógica se realiza. O conceito de práxis aqui
discutido é numa perspectiva freiriana. FREIRE, falando sobre a pedagogia do
oprimido diz:
                      Enquanto houver um único ser humano oprimido no mundo este
                      livro terá validade, se enriquecerá com os aprendizados a partir da
                      prática da libert-ação e cumprirá sua missão messiânica: a de
                      permitir os cativos se libertem e os que não-são, sejam como
                      humanos sensíveis, críticos, criativos, éticos, fraternos e espirituais
                      (1992, p. 08).


      Nesse contexto o conceito de educação vem como um “ato político” e nessa
perspectiva expõe a produção do conhecimento como possibilidade de produção de
36



experiências significativas, desenhadas nas trajetórias dos artistas professores, que
atuam também na sala de aula.


        Os cenários onde a pesquisa foi desenvolvida foram os colégios Centro
Educacional Sagrado Coração (CESC), Educandário N. Sra. do SSmo. Sacramento
(Sacramentinas) e Centro Educacional Professora Isabel de Queiroz. O Centro
Educacional Sagrado Coração (CESC) fica localizado à Praça Luis Viana, n. 182.
Possui 13 salas de aula e seu quadro de pessoal é formado por 48 funcionários,
sendo 38 professores, 1 Diretora, 1 Vice-diretora, 2 Coordenadores Pedagógicos, 1
Secretária e 5 serventes. A coordenação pedagógica segue o SISTEMA COC
ENSINO, utilizando módulos Funciona nos três turnos, assim distribuídos:


        O Educandário N. Sra. do SSo. Sacramento (Sacramentinas), fica localizado à
Rua Manoel Vitorino, n. 42, centro, em Senhor do Bonfim, Bahia. Possui 42 salas de
aula, 92 professores, 1850 alunos e 62 funcionários que atuam nos diversos setores
do referido colégio. Nele funcionam a Educação Infantil, O ensino fundamental I e II
e o Ensino Médio. A Educação Infantil funciona nos turnos matutino e vespertino, o
Ensino Fundamental I no turno vespertino e o Ensino fundamental II no turno
matutino. A maioria dos professores são graduados e outros estão cursando o 3º
grau.


        O Centro Educacional Professora Isabel de Queiroz fica localizado à Praça
Simões Filho, n. 222, no centro da cidade de Senhor do Bonfim. Possui 13 salas
onde funcionam o Ensino Fundamental I e II e o Ensino Médio no turno matutino e o
3º grau de Licenciatura em história e Letras no turno noturno. Seu quadro de
funcionários é composto por 54 funcionários, sendo que destes, 22 são professores
regentes. Esse estabelecimento de ensino é freqüentado por 350 alunos.


        É a escola o lugar atuante dos artistas–professores, onde se busca a
investigação quanto à práxis pedagógica dos mesmos, que se mantém, de certa
forma, livre de alguns moldes fixos das limitações do espaço escolar dos mesmos,
uma vez que trazem consigo, diante de suas experiências, o potencial de lidar com a
imaginação e criatividade e linguagens, diferentes expressões e corporeidade.
37



3.2 Sujeitos da pesquisa


      O estudo foi desenvolvido com quatro professores da rede particular de
ensino. Realizou-se um questionário semi-dirigido com quatro professores,
denominados A- B- C e D, artistas que atuam nessas escolas como professores de
arte. Eles atuam no teatro e também trabalham como docentes nas seguintes
escolas: 02 professores que lecionam na Casinha Feliz, 01 professor lotado no
Colégio das Sacramentinas e outro professor lotado no Centro Educacional Isabel
de Queiroz. Os professores lotados no CESC, lecionam na Educação Infantil e nas
1ª às 8ª séries do Fundamental I e II.


      Previamente, foi realizada uma conversa informal com os entrevistados com o
objetivo de familiarizá-los com o pesquisador. Em seguida, os sujeitos receberam
explicações sobre o significado, importância e objetivo do estudo. Todos
responderam o questionário no mesmo momento, na quadra dos colégios. O
procedimento para preencher o questionário foi elucidado e, quando houve dúvidas,
estas foram esclarecidas. O tempo médio para o preenchimento dos instrumentos foi
de 45 minutos aproximadamente.




3. 2.1 Instrumentos da pesquisa


       Coletaram-se os dados mediante o preenchimento dos questionários semi-
dirigido, que foram instrumentos elaborados especificamente para este estudo. Nas
questões fechadas foi feita a caracterização dos sujeitos e nas questões abertas os
dados foram analisados qualitativamente, com o objetivo de apreender, através do
discurso dos envolvidos, as questões importantes para este estudo.


      Foi elaborado um questionário contendo 3 questões fechadas e 7 questões
abertas. A formulação das perguntas voltou-se a questões sobre o fazer docente do
artista/professor, por compreender que, como explicado anteriormente, a experiência
artística traz um diferencial na práxis pedagógica. A práxis pedagógica dos
artistas/professores é o conjunto de atividades que eles realizam na sala de aula.
38



      Foi aplicado um questionário semi-dirigido. Num contacto entre o investigador
(entrevistador) e o investigado (entrevistado) durante o qual aquele formula
perguntas sobre um determinado assunto que lhe interessa conhecer. Este método
permite obter informações e conhecer o comportamento do entrevistado através de
um diálogo planificado entre investigadores e investigados. Neste contexto elaborou-
se antecipadamente as questões, o que permitiu recolher dados sobre a
problemática em questão. As entrevistas podem ter o caráter exploratório ou ser de
coleta de informações.




3.2.2 A coleta dos dados e sua análise



      Esta é a fase da pesquisa em que se reúnem dados através de técnicas
específicas. Neste estudo, os dados foram coletados no período de 02 a 20 de maio
de 2008, através da aplicação de questionários. Alguns dados foram colocados em
tabelas, gráficos e outros foram transcritos na íntegra e em seguida foram
interpretados e analisados.


      Análise é o processo de ordenação dos dados, organizando-os em padrões,
categorias e unidades básicas descritivas; a interpretação envolve a atribuição de
significado à análise, explicando os padrões encontrados e procurando por
relacionamentos entre as dimensões descritivas (PATTON, 1980).
39




                             CAPÍTULO IV
                RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS




      Neste capítulo serão abordados os dados que o autor do presente trabalho
conseguiu obter.   São informações a respeito do trabalho docente realizado por
pessoas que também são artistas (atores).


      Os resultados estão sendo apresentados de duas maneiras. A primeira
contém informações gerais sobre o perfil dos pesquisados que foram transformadas
em tabela para facilitar a visualização. A segunda maneira são as falas que contêm
as informações fornecidas pelos entrevistados sobre sua atuação na sala de aula e
o que eles pensam sobre esse fato. Dos quatro professores que receberam o
questionário, todos o responderam.


4.1 O perfil dos entrevistados


      Dentre os quatro professores (Tabela 1) pesquisados, três (3) pertencem ao
sexo masculino e apenas um (01) ao sexo feminino. Um deles possui nível superior
completo (Pedagogia) e os demais estão cursando na UNEB, sendo que um
freqüenta o Curso de biologia e os demais o Curso de Pedagogia.


       Dois (02) professores atuam há mais de cinco anos na docência e o demais
(02) há menos de 5 anos. Estes professores foram escolhidos porque realizam o
trabalho na docência e também atuam no teatro, apresentando trabalhos de
dramatização.


      Quanto à atividade artística realizada pelos investigados, todos afirmaram ser
o teatro, a dramatização, a encenação. Eles são atores que realizam suas atividades
em peças teatrais. O teatro está ligado diretamente ao ser humano, independente da
área que atua, trabalha com a reflexão, com o pensamento. Ele auxilia o aluno a
desenvolver um processo de comunicação eficaz.
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Tabela 1. O perfil dos professores/artistas
            Sexo          Capacitação           Tempo de atuação        Atividade
                          profissional          Na docência             artística
 Prof. A     M            Biologia                 + de 5 anos          Teatro
 Prof. B     M            Pedagogia                - de 5 anos          Teatro
 Prof. C     M            Pedagogia                - de 5 anos          Teatro
 Prof. D     F            Pedagogia                + de 5 anos          Teatro




4.2 O discurso dos professores/artistas


4.2.1 Em relação à prática docente instigar a prática artística


       Quando se perguntou aos professores se a prática do docente estimulava a
prática artística, a maioria respondeu afirmativamente, variando apenas nas suas
justificativas, mas todos concordaram em um ponto de vista: o de que a prática em
sala de aula prepara o docente para exercer qualquer atividade em qualquer setor,
porque desenvolve o raciocínio, a eloqüência, a iniciativa e a criatividade. Um dos
entrevistados acha que a prática docente só instiga a prática artística se o professor
não se prender aos métodos prontos. Um outro entrevistado não justificou sua
afirmativa. Eis a a fala dos professores:


                        “Acredito que sim, pois a prática do arte-educador proporciona um
                        despertar criador que se revela na prática artística” (PROFESSOR
                        A).

                        “[...] tudo depende da formação de cada sujeito. Se o arte-educador
                        se limitar à reprodução de métodos prontos, dando conta dos
                        conteúdos exigidos sem intervenções mais profundas, provocando o
                        processo criativo, não será de forma nenhuma instigado à
                        descoberta de novos insigt artísticos” (PROFESSOR B).

                        “Sim, acredito que o artista estando na sala de aula provoque essa
                        situação” (PROFESSOR D).


       Acredita-se que realmente              a prática artística estimula uma docência
diferenciada, no sentido de que o professor é antes de mais nada, um ator e que
utiliza-se de trejeitos teatrais, que envolve a corporeidade, a valorozação das
emoções, contribuindo para uma prática pedagógica significativa.
41




      Os dados acima são corroborados por Perissé (1994, p. 19) quando ele
afirma:

                     O professor-ator compreende que, por trás das aparências de uma
                     sala de aula, na qual os alunos estão "sedentos de conhecimento",
                     esconde-se uma outra verdade. Os alunos estão é sedentos de vida,
                     e, se o conhecimento não for vital, os alunos manifestarão seu
                     desagrado na forma de dispersão, de conversas paralelas e até
                     mesmo de sono.


      Se ele agir somente como um simples reprodutor de idéias, dificilmente
chamará a atenção de seus alunos. Ele tem conhecimento de que aulas
organizadas, com começo, meio e fim, com cada passo previsto, cada tema
devidamente abordado, não atrai a atenção do aluno.


4.2.2 Em relação à complementação da prática docente com a prática artística
e vice-versa.


      Alguns entrevistados, conforme a transcrição das falas abaixo, afirmaram que
as referidas práticas se complementam porque os melhores professores geralmente
são ótimos atores. O professor usa a entonação, a gesticulação, a postura corporal e
a dramaticidade para enfatizar conceitos e transmitir informações. Ele entra na sala
de aula e assume um comportamento (o papel de professor) e diante dessa postura
assumida já é um ator. Um dos entrevistados, apenas respondeu “às vezes” e não
justificou sua resposta. Um dos entrevistados acha que elas só se complementam se
a prática artística não se submeter aos ditames sociais da educação formal.


      A diversidade de posturas é ressaltada por Tardif e Gauthier (2001, p. 18):


                     Todos os indivíduos têm centenas, se não milhares de
                     comportamentos-papéis ao longo de um único dia. Qualquer
                     indivíduo tem comportamentos-papéis diferenciados ao assumir uma
                     representação: uma duplicidade, por representar um papel com uma
                     comunicação adequada ao papel desempenhado. Um professor só é
                     um professor em sala de aula porque assume a postura de professor
                     e se comunica como um professor. Assim, quer queira ou não, um
                     indivíduo para ser professor terá que representar e falar um professor
                     em sala de aula, este é o primeiro caminho para ser ator.
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      Eis o que disseram alguns entrevistados:

                      “As duas práticas se complementam, uma vez que a relação entre
                      elas é intima e até sincronizada. Para quer as duas se
                      complementem, é necessário que o arte-educador/artista traga
                      conteúdos e métodos que provoquem os alunos para uma reflexão
                      e depois um construir artístico que acaba sempre na produção de
                      um produto” (PROFESSOR A).

                      “A práxis do artista está relacionada com as questões mais
                      subjetivas do ser humano, não ficando por isso, submetida a certos
                      ditames sociais, muitas vezes impostos no contexto da educação,
                      mais especificamente, da educação formal. Ambas podem se
                      complementar, caso uma ou outra, resolva envolver elementos
                      próprios em suas funções: seja artística ou educativa”
                      (PROFESSOR B).

                              “Sim, uma prática complementa a outra.” (PROFESSOR
                      D).

      Como se percebe diante da opinião dos entrevistados, as práticas do
professor e do ator são indissociáveis, pois uma amplia a outra. É uma associação
complexa, sutil e instável, na qual se dialoga com experiências, vivências e
conceitos dos dois ambientes. O professor produz e pesquisa ao mesmo tempo,
artística e academicamente.


      As atividades de ensino implicam de maneiras diferenciadas na produção
artística, até porque produzir arte significa construir conhecimento, de forma prática
e teórica, onde processos ou investigações artísticas desdobram-se em reflexões e
vice-versa. Deste modo, “produzir academicamente e artisticamente co-implicam-
se”, afirma Perissé (1994, p. 21).


4.2.3 Quanto à forma como são conduzidas as produções artísticas e
educacionais.


      Com referência a esta questão, as opiniões divergiram. Enquanto alguns
disseram que a docência é mais aberta e mais flexivel e que o fazer artístico é mais
técnico e mais rígido, outro professor/artista afirmou o contrário. Um terceiro
professor já afirmou que elas estão interligadas, dependendo de como são
conduzidas. Eis o que eles disseram:
43




                     “Para mim a produção artística é mais livre que o sistema mais
                     fechado da produção educacional que exige entre outras coisas
                     uma nota determinada, o que às vezes em artes é um
                     inconveniente. Instigo a produção artística e tento contextualizar a
                     mesma, ao mesmo tempo que a produção educacional surge dentro
                     da outra prática” (PROFESSOR A).

                     “Dentro do contexto da educação, principalmente da educação
                     formal, os conteúdos estudados têm um sentido prático racional. A
                     prioridade é adquirir conhecimento para um aprimoramento de
                     saberes e dominação de códigos, que permitam o acesso aos
                     diversos meios culturais, relacionando produção educacional
                     diretamente com a necessidade de saber, para se incluir nos
                     espaços formais de geração de renda e valores sócio-econômicos.
                     A produção artística tem tudo a ver com a subjetividade! Produzir
                     artisticamente é promover e adquirir cultura para se afirmar social e
                     emocionalmente, propondo mudanças significativas na sociedade”
                     (PROFESSOR B).

                     “A produção artística exige uma postura mais profissional, mais
                     ‘técnica’. Já a produção educacional precisa de flexibilidade”
                     (PROFESSOR C).

                     “Está tudo ligado, seja uma produção artística ou educacional. A
                     questão é como você conduz a atividade. Voce acaba orientando
                     pedagogicamente também um espetáculo quando está no papel do
                     diretor” (PROFESSOR D).


      A afirmação do professor C é concordante com o pensamento de Tardif e
Gauthier (2001) quando eles afirmam que o professor deve ser um ator racional, isto
é, deve ser capaz de desenvolver estratégias pedagógicas, como um fazer singular
que funde e confunde a idéia de aula como obra de arte e sua problemática. Assim:


                    É indispensável, como efeito, que toda expressão espontânea seja
                    seguida de uma reflexão a o seu respeito, reflexão que permita
                    analisa-la, aprofundar os seus dados e, através de uma série de
                    tomadas de consciência, trazer à tona as alienações que pesam
                    sobre o indivíduo: alienações congênitas, “carências de ser”, mas
                    também alienações sociais, econômicas, políticas, culturais. A
                    revelação dessas alienações desenferruja e desperta as
                    necessidades do indivíduo, desce à raiz dos desejos, libera todos os
                    apetites profundos e indica as fontes em que eles podem ser
                    saciados. (PORCHER, 1982, P. 135).

       A afirmação do professor B ajuda-nos a pensar que, através do estimulo em
torno das emoções, pode se gerar reflexões das experiências, que favorecem a
produção de um novo conhecimento. Nesse sentido Porcher nos ajuda a perceber o
que vem a ser uma educação que tem como alicerce a problematização, que
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envolve outros aspectos do ser humano para além da racionalização, na busca de
uma transformação em diferentes dimensões da existência, individual e coletivo.



4.2.4 Como a docência influencia o fazer artístico ou vice-versa


       De acordo com os resultados obtidos, transcritos abaixo, alguns professores
afirmaram que são os ditames artísticos que influenciam o ensino em sala de aula.
Entretanto, outros informaram que ambos estão integrados um ao outro, ou seja, o
fazer artístico influencia a produção educacional, tanto quanto a educação influencia
a atividade artística.


       Esta afirmação é ratificada por Araújo (1994) quando salienta que isto quer
dizer que o professor com todo o seu instrumental de informação, traz para a
experiência do artista uma dimensão de diálogo muito grande, de reflexão sobre o
processo criativo de uma maneira mais ampla e também de sistematização destas
experiências.


       No espaço escolar acontecem contatos com as linguagens expressivas, logo,
o teatro e a expressão corporal têm objetivos educacionais porque estimulam a
imaginação, organizam o pensamento que é abstrato, como o teatro.


                         “Acho que a relação é recíproca e tem que ser. A produção
                         educacional no seu contexto tem ampla influencia sobre o fazer
                         artístico e acredito, devido a minha prática, que o fazer artistico
                         pode e deve influenciar o ensino, pos bem trabalhado serve p/
                         derrubada de velhos conceitos educacionais” (PROFESSOR A).

                         “A arte traz em si uma bagagem muito grande, causando muitas
                         vezes, um desconforto nas coisas estabelecidas e tidas como
                         certas. A arte exerce com sua postura libertina, um diálogo entre as
                         linguagens do mundo, é provocada e provoca mudanças, pensando
                         e fazendo pensar a partir da educação” (PROFESSOR B).

                         “Acho que os ditames artísticos é que interagem com o ensino,
                         porque foi a arte que me levou a pensar que poderia ser professor e
                         me estimulou a sê-lo. Acredito que não haveria sentido em minha
                         produção como professor sem uma produção artística e sem uma
                         relação com o campo artístico ” (PROFESSOR C).

                         “A questão é aquela velha história: que o professor de artes tem
                         jeito para tudo, é animador. A visão deturpada que algumas
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                     instituições tem do trabalho do arte-educador é que se mostra
                     negativa” (PROFESSOR D).


4.2.5 Quanto à atuação em sala de aula


      Os professores/artistas acham que em alguns momentos agem como se
estivessem apresentando uma peça teatral. Em outros momentos se sentem
tolhidos, até porque o sistema educacional limita o trabalho do docente, não lhe
dando autonomia para realizar um trabalho aberto, para criar livremente, para
colocar em prática metodologias inovadoras.


      O que disseram os professores/artistas entrevistados neste estudo:


                     “Antes, no inicio me sentia muito mal, quase num pesadelo. Mas
                     hoje, com uma certa experiência, me sinto muito a vontade e livre
                     para programar o conteúdo a ser trabalhado” (PROFESSOR A).

                     “Como educador tenho uma natureza artística, e preciso
                     desenvolver uma oralidade agradável aos ouvidos de quem me
                     escuta; isso é música! Assim, sinto-me como um músico. Contudo,
                     é necessária uma atenção contextualizada, pois não depende
                     somente do trabalho individual realizado na sala de aula. O
                     educador precisa entender que sua tarefa separadamente não terá
                     resultados satisfatórios, sendo imprescindível o trabalho coletivo
                     interdisciplinar desfragmentado e flexível. É dentro da certeza que
                     encontramos os caminhos que construimos” (PROF. B).

                     “Um tanto quanto ‘preso’, pois o modelo de escola que temos,
                     ainda, não está apto a uma boa aula com um arte-educador. Por
                     exemplo: os professores das salas vizinhas precisam de silêncio.
                     Para a escola, silêncio é sinônimo de ordem, organização, e barulho
                     é o contrário. Isso se torna um pouco complicado, já que a proposta
                     é a conquista da autonomia e criticidade” (PROFESSOR C).

                     “Às vezes me sinto como se estivesse num palco quando o
                     momento é prá contar uma história, e ao mesmo tempo, tem
                     momentos que me sinto como uma professora longe de ser artista”
                     (PROFESSORA D).


      O que se pôde entender diante das respostas acima, é que o professor/artista
fica inibido diante de todo o processo pertinente ao ensino, fica dividido entre a
complexidade do sistema acadêmico gerido pelos moldes atuais e entre a
simplicidade do sistema artístico. Para esse profissional a sala de aula pode muitas
46



vezes se transformar em o palco de um teatro, como também o palco de um teatro
pode se transformar numa divertida sala de aula.


      Campos (1993, p. 48) se posiciona sobre esse fato ao afirmar que:


                     O professor é também o ator na medida que além do pensar, do
                     idealizar, atua na transmissão do conhecimento para difundir idéias,
                     formar novos pensadores capazes de dar nova continuidade à arte
                     da criação e assim dinamizar o processo educacional , o processo de
                     transformação social com vistas ao progresso e ao desenvolvimento
                     da nação.




4.2.6 Quanto à questão “suas vivências artísticas influenciam no seu processo
de ensino-aprendizagem?”


      A maioria dos entrevistados responderam afirmativamente. Disseram que o
fazer artístico não é apenas um entretenimento, mas também uma ferramenta para a
formação crítica dos alunos, porque tem o poder de transformar pessoas comuns em
cidadãos conscientes do seu papel na sociedade. Assim se manifestaram:

                      “Totalmente. Creio que se não fosse artista nem professor seria.
                     Ser artista e lecionar é complementar para mim, acho que o lugar da
                     educação deveria ser ocupado por artistas” (PROFESSOR A).

                     “O processo de ensino aprendizagem não é restrito política e
                     geograficamente, portanto não é possivel separar um ser humano
                     de si mesmo. Se alguém faz arte, onde estiver vai estar pensando
                     em arte. Se essa pessoa trabalha no processo educacional, também
                     estará ensinando e aprendendo, consciente ou inconscientemente”
                     (PROF. B).

                     “Muito. Por que eu sou um artista e é este artista que vai para a
                     sala-de-aula” (PROFESSOR C).

                     “Acredito que 80% da minha vivência artística tenha influenciado
                     muito para essa atividade” (PROFESSORA D).


      A afirmativa dos professores acima, confirma o que Eco (1995) diz: quando se
exerce uma atividade artística, os órgãos dos sentidos se tornam apurados. O
artista/professor desenvolve um olhar muito intenso, o que o ajuda, como professor,
a avaliar o que o aluno precisa desenvolver mais. Portanto:
47




                    Um artista/professor tem muito poder transformador em suas mãos,
                    pois exercita e exerce de forma integrada os distintos papéis:
                    influencia o seu público, altera o seu meio e propõe principalmente,
                    outras formas de ver e de viver (ECO, 1995, p. 36).


      É evidente que o fazer artístico influencia o processo de ensino-
aprendizagem, uma vez que, todo professor precisa se caracterizar de ator para
abrir a cena e transformar a sala de aula em um palco, misturando razão e emoção,
apelando para a imaginação e criatividade dos alunos, incentivando a sua
curiosidade. O caráter pedagógico de uma aula dramatizada, mais do que uma
simples técnica, é uma estratégia de grande alcance.


4.2.7 Quanto à existência de diferenças entre uma sala de aula e um palco


      A maioria dos entrevistados acha que sim, que existem diferenças entre atuar
em uma sala de aula como docente e atuar em um palco como ator. Um dos
entrevistados afirmou que nem sempre as diferenças existem e que depende do
momento da atuação. Veja-se os seus posicionamentos:


                     “Totalmente. O planejamento para a sala de aula é direcionado para
                     um público fixo e possui uma continuidade ao longo do ano. No
                     palco, estar-se preocupado com o produto artístico final, no meu
                     caso, teatro tem sempre um público variado de pessoas e
                     quantidades” (PROFESSOR A).

                     “Depende do ponto de vista em que se pretende citar a atuação e o
                     que se pensa sobre atuação... O que parece claro é que, se um
                     trabalho artístico estiver focado no contexto de uma categoria
                     cênica, pode ser diferente uma vez que o espaço influencia na
                     apresentação. Se a proposta for para teatro de sala ou palco
                     italiano, a atuação é uma, teatro de rua é outra. Logo, na sala de
                     aula, por ser um espaço menor, mais intimista, a atuação
                     apresentará outros elementos, outra atmosfera, cheiros, luzes,
                     sombras e cores diferentes. Porém, pretendendo-se citar uma
                     atuação dentro de um campo mais amplo, por exemplo, tentando
                     dizer que logo que tudo que se constrói é culturalmente pensado e
                     portanto, quem fala está consciente de sua ação e por isso está
                     atuando; No entanto, pode-se concluir que, se fragmentamos os
                     saberes a fim de simplificá-los, perde-se a noção do contexto mais
                     amplo ao qual estamos ligados e que paradoxalmente não nos
                     pertence mesmo sendo nosso” (PROF. B).
48



                     “Sim. Às vezes acho que sim e em outros momentos acho que não.
                     É contraditório” (PROFESSOR C).

                     “Claro que sim. Quando estamos encenando, o público está atento
                     mas não tem uma participação verbal naquilo que está apreciando.
                     Na sala de aula é o contrário pois o aluno pode interromper e até
                     mesmo modificar o conteúdo daquilo que foi programado. Isso no
                     caso da Educação Infantil” (PROFESSOR D).


      Pelos dados obtidos acima ficou claro que a atuação em sala de aula diverge
da atuação em um palco. No cotidiano de uma sala de aula a prática se desenrola
com os saberes obtidos na formação acadêmica do professor e o público-alvo
possui quase sempre as mesmas características intelectuais e de conhecimento. Na
sala de aula o professor é independente ao ministrar seus conhecimentos, não
precisa seguir à risca as determinações do Diretor ou do Coordenador.


      No palco, o público é heterogêneo com relação a idade, formação intelectual
e objetivos, portanto, é mais complexo para se trabalhar nele. “No palco, o ator age,
transforma, joga, cria imagens, traduz, expressa, sintetiza, transcende” afirma
Koudela (1990, p. 22). Para ele é importante dominar seu corpo e sua técnica de
atuação seja ela qual for, saber o que ocorre com seu corpo e saber se expressar
verbalmente. Na sala de aula, o professor não é tão exigido, não precisa ser tão
complexo.


      No palco, é exigido do ator, que ele corresponda às expectativas do grupo
heterogêneo que o assiste. Ele não é independente, tem que seguir as orientações
do Diretor, do contra-regra, dentre outros. Precisa de técnica. Requer de
generosidade para distribuir sua alma para a platéia. Precisa de inteligência para
perceber o que os autores querem dizer com aquelas palavras.
49



                    CONSIDERAÇÕES FINAIS




      Procurou-se, através da análise das falas transcritas, tomar conhecimento do
ponto de vista dos professores que também são atores e que realizam os dois
trabalhos: na docência e na educação.


      A análise dos resultados obtidos permitiu concluir que a prática na sala de
aula estimula o fazer artístico e esses dois fazeres se complementam. Segundo os
resultados obtidos, o trabalho docente realizado na sala de aula pelo artista, recebe
influências do seu trabalho artístico, especificamente neste estudo, quando os
entrevistados iniciaram como atores de teatro e só depois ingressaram na área de
educação.


      Comprovou-se que os artistas/professores que participaram dessa pesquisa,
se sentem muito bem atuando na sala de aula, pois para eles a docência possui
muitas semelhanças com a atividade que eles desempenham no palco. Eles trazem
do teatro a criatividade, a auto-estima, a eloqüência, a facilidade de se comunicar
com o público. O fazer artístico foi uma preparação para que eles pudessem se sair
bem como docentes.


      Vale ressaltar que apesar da inter-relação entre as duas atividades, os
entrevistados acham diferenças entre o trabalhado desenvolvido na sala de aula e o
trabalho desenvolvido no palco. Impressionante foi constatar que eles se sentem
mais à vontade quando estão atuando no teatro do que dentro de uma sala de aula,
apesar de no teatro, não serem totalmente independentes, pois têm que seguir as
orientações do Diretor da peça teatral. Os motivos alegado foram que as escolas
não lhes dão liberdade para agir da maneira que acham melhor, ou seja, na escola
(apesar de ser mais flexível que o teatro) eles não têm autonomia para usar sua
metodologia.


      Acredita-se   que   isso   ocorra   porque   as   escolas   temem     que   os
artistas/professores provoquem desorganização e bagunça, agindo com a
50



irreverência que lhes é peculiar. É importante ressaltar que aqueles que
efetivamente agem com irresponsabilidade não estão sendo nem professores nem
artistas, mas sim distorcendo o ensino. Para que isso não ocorra torna-se
necessário que as escolas não reprimam a ousadia das práticas dos professores-
artistas nem punam suas iniciativas. As escolas precisam compreender o papel
transformador exercido pelo artista/professor na sociedade atual.


      O que se pôde perceber também é que o artista/professor está procurando
exercer a docência, fazendo cursos voltados para a Educação, pois os entrevistados
estão freqüentando atualmente Cursos de Graduação em Licenciatura. Isso sinaliza
que a procura pela Licenciatura por parte dos artistas, deve-se às semelhanças
entre a prática docente e a prática artística, ou será que a grande maioria dos
artistas não tem outra opção senão exercer uma segunda atividade, habitualmente
ligada à docência?


      Sugere-se que sejam realizados mais estudos sobre essa temática no intuito
de informar aos professores sobre as semelhanças entre a docência e o fazer
artístico, neste caso, o teatro, para que eles tomem conhecimento de que o
professor precisa ser um bom ator para melhor desenvolver o seu trabalho.
51



                                REFERÊNCIAS


ABRAMOVICH, F. O professor não duvida! Duvida? São Paulo: Editora Gente,
1998.


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superior: razões e paixões do artista-professor. 1992. Campinas: Universidade
Estadual de Campinas. 270 f. Tese (Doutorado em Educação). Disponível em
<www. bve.inep. gov.br/pesquisa/bbe-online/det> Acesso em 14 abr 2008.


ARAUJO, H. C. Educação Através do Teatro. Rio de Janeiro: Editex. 1994, p. 73-
76.


AUSUBEL, G. O Sentido da Arte: Esboço da História da Arte, Principalmente
Pintura e Escultura e das Bases dos Julgamentos Estéticos. São Paulo: Ibrasa,
1980, p. 78.


BACHELARD, G. O direito de sonhar. São Paulo: Difel, 1986, p. 13.


BARBOSA, A. M. História da arte-educação: a experiência de Brasília. São Paulo:
Max Limonad, 1986.

_________. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. São
Paulo: Perspectiva: Porto Alegre: Fundação IOCHPE, 1991.


BASBAUM, R. Pensar com arte: o lado de fora da crítica. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2003.


BIASOLI, C. L. A. A formação do professor de arte: do ensaio...à encenação.
Campinas/SP: Papirus,1999, p. 48-105.


BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação. Porto: Porto
Editora, 1994. Disponível em < www.ufpel.edu.br/cic/2007/cd/pdf/CH/CH_01070.pdf
-> Acesso em 31 mai 2008.


BOSI, A. Reflexões sobre a Arte. São Paulo: Ática, 1999.


BRADLEY, J. Methodological issues and practices in qualitative research. The
Library Quarterly, v.63, n.4, p.431- 449, Oct. 1993.
52




BRANDÃO, C. R. O Que é Educação. 33. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995, p. 16.


CAMPOS, M. D. C. A Importância do Processo Criador na Formação do
Educador: Uma Ação Transformadora. Ceará: 1993, p. 38- 48.


CHIOVATTO, M. O Professor Mediador. BOLETIM Número 24 de
Outubro/Novembro 2000, p. 3. Disponível em
<http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos_texto.php?id_m=13> Acesso em
04 mai 2008.


COURTNEY, R. Jogo, Teatro & Pensamento. São Paulo: Perspectiva, 1980.


DUARTE JUNIOR, J. F. Por que arte-educação? 12. ed. Campinas/SP: Papirus
Editora, 2001, p. 12-23-38-66.

___________________Fundamentos estéticos da educação. 2. ed.
Campinas/SP: Papirus, 1988.


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____________.Metodologia do Ensino de Arte. São Paulo: Cortez, 1993.


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_________. Pedagogia do Oprimido. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
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  • 1. 10 INTRODUÇÃO A presente Monografia apresenta um trabalho baseado em pesquisa e em análises de dados que nos possibilitou através da observação e aplicação de questionário, bem como da pesquisa bibliográfica pensar acerca da temática entre a experiência de artistas/professores na cidade de Senhor do Bonfim, professores e artistas, a partir desse estudo refletir sobre suas práticas pedagógicas dentro das escolas. Atualmente alguns artistas têm assumido o papel de educador e tem atuado nas escolas como professor. Nosso interesse nesse campo investigativo da arte- educação é percebemos a importância da ocupação desse lugar pelos artistas, uma vez que os mesmos, em suas atuações artísticas, nas experiências de formação que acessam e que já vêm participando nos espaços não-formais de educação, principalmente nos grupos teatrais da qual fazem parte, possibilitam a esses artistas vivências com outros conceitos e práticas de formação, e de educação. Como afirma Ana Mãe Barbosa, o artista não necessariamente é um professor nas instituições de ensino. No entanto, ao ocupar esses espaços, o artista, agora professor, atua com legitimidade nos espaços de educação formal, trazendo consigo toda uma bagagem adquirida ao longo de sua formação artística. Como educador o artista questiona a própria conceituação da realidade. O seu modo de educar é um incessante recomeçar, pois ele tem consciência de que a história humana recomeça em cada novo indivíduo que ele educa. Logo, o artista é um educador na íntegra da palavra. O artista como educador, busca desenvolver no aluno a consciência do corpo e aprimorá-lo enquanto instrumento de expressão e de apropriação do conhecimento. Esse trabalho conduz a uma reflexão acerca do fazer artístico e do educacional, e do papel do artista nesse processo. Esse desenvolve uma metodologia didático-pedagógica diferenciada, como estratégia para um ensino com arte. E nesse contexto, o artista/professor trabalha buscando no emocional, na imaginação e na criatividade um maior contanto como os alunos em sala de aula,
  • 2. 11 desenvolvendo estratégias para um ensino-aprendizagem mais estimulante e significativo. Este trabalho está estruturado em quatro capítulos. O primeiro capítulo trata- se do desenvolvimento e apresentação da problemática que nos levou a investigar sobre esse assunto, o segundo capítulo vem a tratar ao que se refere a fundamentação teórica em que discorremos sobre de educação, arte e a arte- educação, buscando uma relação entre tais conceitos e suas possíveis articulações; neste capítulo faz-se referência à educação com arte, à importância da arte na formação do homem, a função do artista na escola, o artista/professor no espaço escolar e como o professor desenvolve suas experiências de ensino-aprendizagem. No terceiro capítulo é abordada a metodologia, instrumentos de pesquisa, desenvolvendo-se um campo de discussão teórica de acordo a nossa opção metodológica, são enumerados os passos que foram seguidos na elaboração do presente estudo; o quarto capítulo aborda os resultados obtidos na pesquisa, sua análise e discussão. Finalmente, fazem-se as considerações finais.
  • 3. 12 CAPÍTULO I PROBLEMATIZAÇÃO O processo de ensino-aprendizagem exige do professor, a criatividade, flexibilidade, escuta e limite, além de competência acadêmica. Diante de uma grande massa de informações sobre o crescimento e desenvolvimento humano, educar torna-se um ato muito complexo e também muito delicado. O ato de ensinar requer sensibilidade, capacidade de improvisação, imaginação e domínio da linguagem. Contemporaneamente está havendo um processo de transformação nas escolas, estas buscam um ensino mais significativo e atraente para o aluno. Diante disso, torna-se necessário o uso de diferentes ferramentas e estratégias pedagógicas no processo de ensino e aprendizagem. No entanto ao longo da história, a escola foi o lugar do desprazer, da rigidez, da razão. Pouco ou quase nunca se considerou a emoção, a sensibilidade, os sentimentos. Os espaços escolares acabam se tornando, mais o lugar de controle, de medo, do que o espaço de formação que leva em consideração a corporeidade, as diferentes expressões e sentimentos, elementos fundamentais no desenvolvimento de uma experiência educativa com arte. Ensinar é uma arte e para ensinar com arte é preciso que o professor se aproprie de alguns elementos tratados na arte de um modo geral, como imaginação, criação, poética, leitura e fruição, o prazer elementos básicos para a materialização da arte e o exercício artístico na escola formal. Com esse contexto, busca-se do professor uma outra postura, percebendo a educação a partir de outra perspectiva, uma perspectiva que leve em conta os aspectos da emoção, da sensibilidade e da imaginação, disposto a romper com a lógica do racionalismo, e nesse sentido revestir-se do papel de artista, daquele que imagina, cria, muda, e faz educação com arte e que fazendo arte na educação, torna o ensino mais motivador. Pensando no ensino com arte, ou seja, na arte-educação, conduz a uma reflexão acerca do fazer artístico e do educacional, e do papel do artista nesse processo, no espaço da escola, acreditando-se que este desenvolva uma metodologia didático-pedagógica como estratégia para um ensino com arte, sendo a
  • 4. 13 aula uma obra de arte. O que seria então a aula como uma obra de arte? É a aula que incentiva a criação e como os alunos gostam de criar torna-se necessário utilizar esse prazer como um instrumento de trabalho. Nesse contexto, o artista/professor trabalha buscando com o emocional, a imaginação e a criatividade e promove um maior contato com seus alunos em sala de aula, uma vez que esses aspectos na formação das pessoas tratam-se de linguagens que desencadeiam um movimento de aprendizagens significativas. O potencial criativo do ser humano é um fator de realização e de transformação. Para Fayga (1987, p. 10) “ele afeta o mundo físico, a própria condição humana e os contextos culturais”. Continua Fayga (1987, p. 12): “[...] os processos de criação interligam-se intimamente com o nosso ser sensível. Mesmo no âmbito conceitual ou intelectual, a criação se articula principalmente através da sensibilidade”. Criar é então, formar algo novo. Logo, todos os seres humanos, possuem criatividade porque ela é intrínseca ao homem. Através da imaginação se formam idéias abstratas que se transformam em novos fatos: isso é criatividade! A arte transforma o ser humano, torna-o mais livre, mais criativo. A literatura, a história, a música, a corporeidade são necessidades vitais ao ser humano. Quando se mostra ao aluno um ensino diferente, quando ele utiliza a arte como estimuladora de seus pensamentos e saberes aprendidos, está aprendendo mais e melhor, de forma mais prazerosa e com melhor compreensão e integração. Os artistas que atuam nas escolas como professores incorporam em suas práticas pedagógicas elementos como a criatividade, a imaginação, a corporeidade e desenvolvem atitudes de cumplicidade, o que permite um desenvolvimento psicológico positivo nos alunos, porque essa forma de agir estabelece uma relação profunda entre eles e os alunos. Alem disso, os artistas/professores possuem muitas habilidades e talentos e para eles, a sala de aula é um espaço para discussão, análise e crítica de todos os acontecimentos que acontecem dentro e fora dela. Geralmente, os profissionais artistas que atuam nas escolas se “sustentam numa construção autopoética, ou seja, numa ação de produzir a si mesmo mediada por um trabalho reflexivo sobre o que foi observado, percebido e sentido” (BIASOLI, 1999, p. 48).
  • 5. 14 A docência tem sido amplamente procurada por artistas que percebem a escola como um lugar possível de recebimento e de troca, um local onde se realizam ações de ensinar e aprender, uma troca de conhecimentos, um enriquecimento de novos saberes. Eles já perceberam que o espaço escolar é um ambiente fértil para proliferar o desenvolvimento da criatividade. Esse trabalho pretende desenvolver uma pesquisa, estudo de caso, de professores que são artistas e que atuam em escolas particulares na cidade de Senhor do Bonfim. Neste caso os quatro professores em estudo exercem principalmente a arte da dramatização: são atores de teatro. Observando esse fato surgiu a curiosidade em investigar como esses artistas que lecionam em escolas particulares se sentem dentro de uma sala de aula, fazendo um trabalho diferente daquele que realizam no teatro. Esse foi o motivo que gerou à execução deste estudo monográfico. Então, pergunta-se como será que esses atores se vêem no processo da educação? Como atuarão esses artistas no palco da sala de aula? Eis as questões norteadoras deste estudo. Para isso estaremos diante da questão: Como os atores de teatro que trabalham como professores se sentem em uma sala de aula? E como desenvolvem sua práxis pedagógica? Nesse percurso investigativo, algumas perguntas contribuem para a busca de nossas respostas: Quando o artista é trazido para a escola, qual o papel dele? Será que transformam seus dotes artísticos em métodos didáticos criativos? como desenvolvem sua práxis pedagógica? Esse trabalho objetivou investigar a práxis pedagógica dos atores de teatro que atuam como professores nas escolas Casinha Feliz1, Sacramentinas2 e Centro Educacional Professora Isabel de Queiroz, analisar os seus pontos de vista diante do ensino-aprendizagem e como eles realizam o trabalho pedagógico nestas escolas. 1 Nome como é popularmente conhecida a escola. Seu nome correto é Centro Educacional Sagrado Coração (CESC). 2 Nome como é popularmente conhecida a escola. Seu nome correto é Educandário Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento.
  • 6. 15 CAPÍTULO II A EDUCAÇÃO, A ARTE E A ARTE-EDUCAÇÃO 2.1 Conceituando a Educação A ação que as pessoas adultas exercem sobre os jovens em sua formação para a vida em sociedade, é o que se chama de educação. Ela incute e desenvolve nos mais jovens, valores intelectuais, culturais e morais reclamados pela sociedade vigente. Para Brandão (1995, p. 16) a “Educação é um dos principais meios de realização de mudança social ou, pelo menos um dos recursos de adaptações das pessoas, em um mundo em mudança”. Pode-se dizer que educação é o ato de ensinar e de aprender, é ensinar a uma criança a andar ou a falar, a escrever e a ler. Para Freire (1983) a educação é um encontro entre interlocutores, que procuram no ato de conhecer a significação da realidade e na práxis o poder da transformação. A educação, segundo Freire (1983), deve ter como objetivo maior desvelar as relações opressivas vividas pelos homens, transformando-os para que eles transformem o mundo. O mais importante no processo de educar não é o conteúdo, mas, é o processo de formação, o modo e a relação que se constrói nesse processo. Educar é desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais do ser humano (RAMAL, 2002). Educação é o processo através do qual os indivíduos podem adquirir ou desenvolver competências e capacidades em interação com outros, em contextos organizados, formais ou informais. Para Freire (1998, p. 54) educar é “capacitar pessoas a lidarem crítica e criativamente com a sua realidade social, e não simplesmente adaptá-las a ela [...] um exercício de libertação [...] uma conscientização”. Cada pessoa é única e seletiva pois aprende aquilo que sente ser importante para a sua existência. Portanto: Uma educação que apenas pretenda transmitir significados que estão distantes da vida concreta dos educandos, não produz
  • 7. 16 aprendizagem alguma. É necessário que os conceitos (símbolos) estejam em conexão com as experiências dos indivíduos. Voltamos assim à dialética entre o sentir (vivenciar) e o simbolizar (DUARTE JUNIOR, 2001, p. 23). A aprendizagem acontece quando os conhecimentos fazem sentido, tanto para quem os transmite quanto para quem os recebe. É necessário então, que o educador e o educando sejam participantes da ação educativa, visto que a educação é um processo dinâmico que requer um educador e um educando atentos para as questões que envolvem o processo de educação enquanto uma experiência de troca e tematização. Read (1982, p. 24) salienta que: A educação é o apoio do desenvolvimento, mas à parte a maturação física, o desenvolvimento apenas se manifesta na expressão – signos e símbolos audíveis e visíveis. A educação pode ser definida como o cultivo de modos de expressão – consiste em ensinar as crianças e os adultos a produzir sons, imagens, movimentos, ferramentas e utensílios. Um homem que consegue fazer bem estas coisas é um homem bem-educado. Se pode produzir sons, é um bom orador, um bom músico, um bom poeta; se pode produzir imagens, é um bom pintor ou escultor; se pode produzir bons movimentos, é um bom dançarino ou trabalhador [...]. Todas as faculdades de pensamento, lógica, memória, sensibilidade e intelecto, estão envolvidas nestes processos e nenhum aspecto da educação está aqui excluído. E todos eles são processos que envolvem a arte [...]. O objetivo da educação é por isso a criação de artistas – de pessoas eficientes nos vários modos de expressão. Pode-se acrescentar que a educação é uma ciência e uma arte, no sentido de que sendo ciência desenvolve pesquisa e mecanismos que transmitem aos mais jovens os conhecimentos acumulados até então e sendo arte, no sentido de acreditar em outras possibilidade da própria educação , que é educação pela arte. Logo, a educação na perspectiva trabalha o aluno como uma pessoa inteira, com sua afetividade, suas percepções, sua expressão, seus sentidos, sua crítica, sua criatividade, afirma Santos (2002). A educação é o objetivo da escola e já que a escola é o primeiro espaço formal onde se dá o desenvolvimento dos cidadãos, esta poderia ser também o espaço do
  • 8. 17 contato com o universo artístico e suas linguagens: artes visuais, teatro, dança, música e literatura. Assim como a educação, a arte sempre esteve presente na historia do individuo ao longo de seu processo de formação em sociedade. E nessa construção de valores e saberes agregados de cada individuo, a arte contribui para externaliza e internalizar conhecimento contribuindo para formação reflexiva do homem. 2.2 Considerações sobre a arte É impossível separar o homem da arte, pois desde que ele passou a se conhecer e conhecer mundo que o rodeia passou a representar, em imagens, tudo o que vive e sente. As criações humanas com valores estéticos, nas quais são colocadas suas emoções, seus sentimentos e sua cultura são denominadas arte. A arte é criada pelo homem com o objetivo de divulgar suas crenças e interpretar objetos e cenas (BOSI, 1999). Portanto: Um fenômeno comum a todas as culturas – desde as mais ‘primitivas’ às mais ‘civilizadas’, desde as mais antigas às mais atuais – é a arte. A arte do homem pré-histórico, inclusive, é tudo o que restou, integralmente, desses nossos antepassados. Qualquer cultura sempre produziu arte, seja em suas formas mais simples, como enfeitar o corpo com tinturas, seja nas formas mais sofisticadas, como o cinema em terceira dimensão, na nossa civilização. A arte nos acompanha desde as cavernas (DUARTE JUNIOR, 2001, p. 38). Um campo de habilidades do homem é a arte, que é também uma autêntica e inequívoca expressão humana. Por servir como registro e informação da sociedade que a produziu, ela tem um valor antropológico. Além disso, legitima as impressões sobre tudo que cerca o homem, tendo um grande valor social ao integrar as pessoas dentro do meio em que vivem. Através dela o homem exprime e externaliza o seu eu, os seus sentimentos e emoções, ela não transmite significados conceituais, mas dá expressão ao “sentir”, afirma Basbaum (2003). Ela concretiza os sentimentos de uma forma tal que todos possam percebê-los.
  • 9. 18 Segundo Santos (2007, p. 24): A palavra “arte” é derivada do latim ars e significa habilidade, ou seja, é um processo em que o conhecimento é usado para realizar determinadas habilidades. Para Saunders (1998, p. 130) a arte é um fenomeno cultural “inventada há milhões de anos pelos seres humanos para satisfazer algumas de suas necessidades”. A arte tem acompanhado as manifestações humanas desde a Pré-história, por meio de manifestações diversas (que vão do trabalho com ferramentas à pintura em cavernas). A educação, juntamente com a família é a base estrutural de qualquer sociedade e ela é necessária para humanizar os indivíduos. Um dos instrumentos de humanização é a arte e se ela humaniza, mais do que nunca deve fazer parte do contexto escolar, uma vez que esta instituição trabalha com a formação humana na sociedade de modo geral. Não há verdadeira educação sem arte e verdadeira arte sem educação porque tanto a arte como a educação cumpre sua missão que é emancipar um ser. Juntas, educação e arte podem transformar o mundo tornando-o democrático. A atuação da arte no espaço educativo é uma das estratégias e um dos principais instrumentos da transformação do sistema educacional. Ela, no trabalho pedagógico, dá sentido ao aprendizado, envolve o aluno de tal maneira que estimula sua participação em atividades que cruzem visão e sensação e que encorajem conexões múltiplas. É preciso dirimir dúvidas desde já: arte-educação não significa o treino para alguém se tornar um artista, não significa a aprendizagem de uma técnica, num dado ramo das artes. Antes, quer significar uma educação que tenha a arte como uma de suas principais aliadas. Uma educação que permita uma maior sensibilidade para com o mundo que cerca cada um de nós (DUARTE JUNIOR, 2001, p. 12). A arte na educação não torna o aluno um artista nem significa a aprendizagem de técnicas. Ela permite o desenvolvimento de uma maior sensibilidade em relação ao mundo, transformando os espaços escolares e cria laços de confiança mútua entre alunos e professores. Almeida (1992) salienta que a arte ensina o aluno a se expressar e não apenas se comunicar, desperta o seu interesse, estimulando-o para
  • 10. 19 que compreenda melhor e desenvolva seus sentimentos. Além disso, permite a ampliação da imaginação, da criatividade e do interesse. Segundo Read (1982) só o interesse pode despertar e manter a atenção do aluno. É uma faculdade que não pode ser subestimada. E a arte cumpre esse papel. O professor deve levar em consideração a natureza da criança, a sua capacidade de progredir e os seus interesses. Conforme Silva (2006) a arte educa pelo desenvolvimento da imaginação, descobrimento de possibilidades, projetos de transformação, pelo ultrapassar barreiras de comunicação com outros povos, vivenciando o mundo integralmente em cada época, vivenciando o imaginário na vida cotidiana. Ela cria sentido para os alunos através do processo das descobertas de percepções, experiências, sentimentos, integração, auto-expressão. As pessoas ampliam o conhecimento sobre si mesmo através das formas artísticas, ou seja, o seu desenvolvimento, a sua educação. “Através da arte, pode- se, então, despertar a atenção de cada um para sua maneira particular de sentir, sobre o qual se elaboram todos os outros processos racionais”, afirma Duarte Junior (2001, p. 66). Na escola a arte contribui para a formação integral do homem levando-o a interagir com o outro, com o mundo, é a socialização. Além disso, educa o sujeito para a compreensão sensível de fatores culturais e sociais que conduzem a atitudes e pensamentos inseridos em um determinado tempo/espaço. Segundo Eco (1995), na escola ao se utilizar a arte, objetiva-se especificamente o desenvolvimento da criatividade e da auto-expressão do aluno. Atualmente, quando o foco do processo educativo se deslocou da transmissão de conteúdos para as necessidades e interesses do educando, todas as atividades têm como ponto de partida o fazer artístico, estimulando o aluno a criar. Na educação, o mais importante, não é produzir belas obras de arte e sim, o próprio processo de criar, o processo pelo qual o aluno desperta seus sentidos em relação ao mundo que o rodeia, desenvolvendo sua consciência estética.
  • 11. 20 Portanto, a arte na educação não significa trabalhar a educação artística nos currículos escolares. A arte-educação é uma atividade estética e criadora em si própria e que desenvolve no aluno a harmonia, o belo. Ela é fundamentada na construção de um sentido pessoal para a vida de cada aluno. 2.3 A função do artista na escola Na pré-história, o artista era o feiticeiro, que tinha por função atrair as boas energias e neutralizar as más (PERROTI, 1995). Naturalmente, tal atividade não poderia ser denominada “artística”, no significado que hoje se atribui a essa palavra. Com a evolução da humanidade, o artista confundiu-se com o sacerdote das civilizações agrárias, que já não eram dependentes de meras invocações ou rituais, mas, que possuíam uma bagagem de informações e conhecimentos qualificados de pré-científicos. Mais tarde, o artista assume uma função particular: a de ilustrar os mitos coletivos, ou a de celebrar a sacralização do poder público. Só lentamente, à medida que a aristocracia principia a se formar, nasce um novo tipo de arte: a que confere fausto e brilho aos “novos ricos” da época, o que se vê, por exemplo, nas mastabas do Egito, e bem mais tarde, na arte santuária romana (BACHELARD, 1986, p. 13). No período do Renascimento o artista assume um papel que contribui com a produção do conhecimento naquela época, bem como faz um trabalho solicitado pela sociedade que busca as interpretações do artista em suas diversas formas artísticas como a escultura, pintura, desenho, etc., sua arte acaba sendo submetida aos donos do poder, que eram os mercadores. Essa situação se modifica no início da civilização moderna, na qual os valores dominantes são os direitos do homem. O artista então, passa a viver do que produz. A partir do século XX a sua função passou a ser unicamente produzir obras de arte. “Tão cheio de si ou do universo, o verdadeiro artista está sempre pleno para se utilizar da poesia, das coisas que não servem para nada” (BARBOSA, 1986). Contemporaneamente, a função do artista no mundo globalizado acaba sendo paradoxal, onde sua arte é expressa de acordo com seus ideais, mesmo na sociedade em que ele vive. Porém é fato que devido uma questão de sobrevivência o artista muitas vezes usa criatividade em função de interesses econômicos
  • 12. 21 capitalistas. O sistema capitalista acaba por influenciar o comportamento das pessoas gerando um mecanismo de estímulo ao consumo, bem como de atitudes de padronização de gostos em relação a um determinado tipo de produção social e cultural. O artista abre espaço para a existência de um outro a partir de suas entranhas. Essa é a sua função social e seu papel na sociedade. Ele estimula o pensamento sobre a existência, vislumbrando possibilidades de vida mais reais. O artista traz o inconsciente de suas emoções e de suas ações para o consciente. Portanto: O artista deve estimular a criação artística, valorizando os processos criativos existentes na sociedade, não cedendo a pressões oriundas do mercado, do poder ou de qualquer discriminação de caráter cultural (ARAUJO, 1994, p. 73). A função de todo artista é sacudir a inércia, é colocar na vida, o que está escondido no seu interior, o seu dom de criar. É desenvolver uma educação saudável, voltada ao humano, à natureza artística, ao prazer de expressão do belo. Para o artista, educar é reconhecer arte na vida e fazer do dia-a-dia uma verdadeira obra de arte. Segundo Ernst (1987, p. 14) “para conseguir ser um artista é necessário dominar, controlar e transformar a experiência em memória, a memória em expressão, a matéria em forma”. 2.3.1 O artista professor no espaço escolar O ato de criar supõe a imaginação. E a imaginação é a mola propulsora do surgimento de novas idéias. Quando a imaginação conduz à concretização dos elementos do “sentir”, está criada uma obra de arte. E o seu criador é chamado de artista. O artista tem um poder especial. É capaz de sintonizar com o universo e trazer um pouco de sua beleza para o mundo que o cerca. O professor também é um criador, logo, ele também é um artista (DUARTE JUNIOR, 1988).
  • 13. 22 O homem pode exercer deferentes funções. Um indivíduo, a ele é possível ser um poeta, um homem de ciência e um político. No caso de nossa pesquisa estamos nos referindo ao fato de ser artista e de ser professor ao mesmo tempo, uma função não tira a outra. Pode ser uma experiência em que uma demande desafio pra outra e/ou construam possibilidades de produção do saber e do pensamento reflexivo e da criatividade. O trabalho artístico e a docência são distintos entre si, mas, perfeitamente compatíveis. Eles são distintos na forma como o conteúdo é aprendido e/ou ensinado. A aprendizagem realizada fora da escola não é estruturada, nem planejada e o tempo dessa aprendizagem não é previamente fixado, respeitando-se as diferenças para a absorção dos conteúdos. Na aprendizagem dentro da escola tudo é planejado, organizado e estruturado, novo conhecimento vai sendo acrescentado e aperfeiçoa o conhecimento já adquirido. A arte trabalha com a reflexão, com o pensamento. Assim, o artista quando atua na sala de aula, torna-se um provocador que leva o aluno a pensar. Empenhado em cativar os alunos na sala de aula, ele cria uma didática própria e divertida. Quando o artista exerce a função de professor, geralmente transmuta-se em ator para abrir a cena e transformar a aula em um palco iluminado. Mistura razão e emoção. O artista é criativo como deve ser todo professor e a partir do momento em que ele cria alguma coisa, consegue se aproximar do aluno que também começa a criar conhecimentos. Para Biasoli (1999, p. 105) “reflexão significa reconhecimento de que a produção de conhecimento sobre o que deve ser ensinado e como deve ser ensinado não é propriedade exclusiva das universidades” e que os professores têm suas próprias teorias que contribuem para a aquisição do conhecimento. Diante disso, torna-se inquestionável a capacidade docente de um artista. Devido à exigüidade do mercado de trabalho, muitos artistas são obrigados a exercer uma segunda atividade, geralmente ligada à docência. Atualmente, é significativa a quantidade de artistas que, desamparados pelas políticas públicas que envolvem atividades culturais e artísticas, buscam o caminho do ensino, nas escolas, nas academias e nas Organizações Não-Governamentais (ONGs).
  • 14. 23 Exercedo paralelamente a docência e a prática artística. Exercer a docência torna-se uma garantia financeira para o artista, é a sua estabilidade financeira. É comum ver artistas de teatro, dançarinos, artistas independentes, sem nenhuma ligação anterior com a educação, procurar na escola a garantia de sua manutenção. Muitos artistas buscam a área educacional para atuarem e se manterem, em virtude de que não conseguiram se realizar financeiramente através da sua arte. O aumento do número de artistas atuando nas escolas como docentes, reflete uma insustentabilidade econômica do profissional vinculado à arte, como também o abandono de um preconceito, ainda recente, de que “artista que é artista” não faz outra coisa que não seja o seu trabalho artístico (RODRIGUES, 1968). Eles exercem concomitantemente as duas profissões: artista e professor! Pergunta-se então: como são recebidos pela escola os artistas/professores? Será que eles conseguem se adequar à nova situação? Será que o artista quando chega no espaço escolar consegue desenvolver bem o processo de ensino-aprendizagem? O artista conhece o processo de ação-reflexão-ação por estar envolvido em prática educativa fora da escola. A docência agrega a experiência, os conhecimentos e os saberes pedagógicos. Para alguns estudiosos a docência é a profissão do professor, ou seja, é aquele que realiza práticas educacionais. Uma prática educativa, mas nem toda prática educativa é docência, como por exemplo, as relações familiares, afirma Zabala (1998). A educação acontece tanto dentro como fora da escola, em diferentes setores como na família, igrejas e profissão. A prática educacional dentro da escola utiliza métodos e técnicas diferentes de ensino e trabalha com memórias, saberes, identidades e conhecimentos repassados em seus conteúdos programáticos. A educação não-formal, ou seja, aquela que os artistas possuem antes de chegar à escola, é a prática educacional organizada e sistemática que, normalmente, se realiza fora dos quadros do sistema formal de ensino. Geralmente a escola formal não trabalha com a emoção e a intuição, que são inerentes ao artista. O trabalho que os artistas participantes deste estudo realizam fora do espaço escolar é o teatro, que também é uma experiência educativa, embora
  • 15. 24 seja uma educação não-formal. Ao atuarem em uma peça teatral, muitos artistas estão adquirindo sua intelectualidade ao longo do tempo, considerando que a arte é também uma atividade intelectual. Duarte Júnior (2003), citando Maffesoli diz que é preciso considerar que o conhecimento do mundo é uma mistura de rigor e poesia, razão e paixão, lógica e mitologia, lógicas e estéticas, intelectuais e estésica, científicas e artísticas. A criatividade, a imaginação, os conteúdos lógicos são elementos fundamentais na aquisição dos conhecimentos. No processo de criação artística, o nível mental também se faz presente, desempenhando importante papel, pois, quando se cria, costuma-se também pensar no para que se está criando, afirma Sergio C. B. Farias3. A educação deve priorizar o interesse dos alunos em adquirir novos conhecimentos e diante disso, a sala de aula deve ser um espelho do atelier de um artista ou do laboratório de um cientista. Neles deverão ser desenvolvidas pesquisas, técnicas que são criadas e recriadas, e o processo criador toma forma de maneira viva, dinâmica, afirmam Fusari & Ferraz (1992). A pesquisa e a construção do conhecimento é um valor tanto para o educador quanto para o educando, rompendo com a relação sujeito/objeto do ensino tradicional. Dessa forma, o ensino estará intimamente ligado ao interesse de quem aprende. Então, cabe aos professores/artistas comprometidos com a educação fazer com que o ensino se torne um grande espetáculo na escola. A atividade artística e a docência são atividades distintas, porém compatíveis. Entre o fazer artístico e o fazer pedagógico existem afinidades, pois sendo atividades humanas, procuram criar usando a emoção e a razão, partem sempre em busca do aperfeiçoamento e do crescimento. A escola por ser um espaço que propicia convivência e debate é muito procurada pelos artistas, por vislumbrarem ali um novo ambiente de reflexão e de formação, que é um espaço coletivo por excelência, raramente encontrado em outro 3 Doutor em Artes pela USP e Professor da UFBA.
  • 16. 25 contexto. O artista faz não apenas seu trabalho artístico, como também se engaja em muitas outras questões da sociedade, sejam políticas ou sociais, denunciando injustiças e contribuindo para fazer de seu país um ambiente democrático. Quantos artistas na época da repressão foram exilados, porque através de suas músicas, de suas peças teatrais, de suas poesias, denunciavam o sistema político! A docência tem sido amplamente procurada pelos artistas em virtude deles perceberem que a escola é um lugar possível de discussão e troca, por que vêem nela um fórum de discussão e convivência, dois aspectos fundamentais para o exercício da arte. Campos (1993) ressalta que a escola se configura como um ambiente fértil para intersecções de outras instâncias do conhecimento, e ferramenta útil na articulação de diferentes conceitos envolvidos na prática artística. O artista, por ocupar um papel ativo e presente na reflexão artística, busca outras áreas de atuação e a sala de aula pode tornando-se um ambiente de ativismo cultural e político exercido por ele. Zabala (1998) enfatiza que a Pedagogia Cultural conduz para que todos se tornem muito menos "escolares" e muito mais "culturais", nesse sentido, favorece o desenvolvimento de uma prática pedagógica produzida num contexto da diversidade cultural, que vai interagir com as produções coletivas e individuais de cada aluno. Isto modifica a prática de formação do intelectual da educação, que atua de forma mais engajada, envolvendo questões de mobilizações sociais e mudança políticas. O intelectual artista, geralmente atua nesse cenário de debate e proposições de mudanças, uma vez que tem condições de pensar, dizer e fazer algo diferente com a sua docência neste mundo culturalmente pluralizado. De acordo com Strazzacappa & Morandi (2006) a docência deveria ser artística, por que ela cria e inventa, que, ao educar, reescreve os roteiros rotineiros de outras épocas. Ela desenvolve práticas pedagógicas ainda inimagináveis, que desfazem a compreensão, a fala, a visão e a escuta das mesmas coisas, dos mesmos sujeitos, dos mesmos conhecimentos. Estimulam outros modos de ver e ser visto, dizer e ser dito, representar e ser representado, acabando com a mesmice.
  • 17. 26 Quando um artista se encontra atuando na docência, enche-se de alegria ao trabalhar nas fronteiras entre as disciplinas e as pós-disciplinas, os sujeitos e os não-sujeitos, os sentidos e os sem-sentidos. Recriam, fazem coisas que renovam e singularizam o seu trabalho cultural de Educação, ressaltam Fusari e Ferraz (1993). Promovem o auto-despreendimento, implicado no questionamento dos próprios limites, desenvolvem a docência artística. É o que se denomina “educar artistando”. Todo professor deveria desenvolvê-la! O educar artistando significa ter prazer em criar novas metodologias, assumir o risco de educar diferente, tornar o ensino mais prazeroso, transformar o processo educacional em algo belo e atraente, e praticar a arte-educação. A arte-educação não é ensinar trabalhos manuais nem dar aulas de artesanato, não é promover eventos de arte, não é a utilização da arte como ferramenta de ensino de outras disciplinas, não é fazer teatrinho nas aulas de história. De acordo com Mae Barbosa a arte-educação valorizava o desenvolvimento da auto-expressão, da criatividade e da autodescoberta, essa experiência se torna efetiva a partir da Proposta Triangular que envolver três vertentes básicas: o fazer artístico, a leitura da imagem (obra de arte) e a história da arte de forma contextualizada (1991). Segundo Fusari e Ferraz (1993) a arte-educação tem propostas que vão além do ensino de uma técnica, seja artesanal ou artística. E essa expressão de acordo com as autoras não é somente “expressão do eu” ou da “individualidade” tampouco. Na arte-educação o professor tem que fazer o papel de artista, entretendo e despertando o interesse dos alunos, por que quando o aluno está insatisfeito a aprendizagem está em perigo. Existem vários tipos de professor, segundo Campos (1993, p. 38): O professor se apresenta sob diversas faces. O professor-instrutor, sempre transmite orientações, conselhos, respostas prontas. O professor-capataz exige frequência, distribui tarefas, cobra desempenho, dá suas broncas. O professor-sábio, distante, especialista, profundo conhecedor da sua matéria, cuja última preocupação é saber se alguém quer aprender ou não. Há também o professor-treinador, atento à realidade do aluno, preocupado em tornar o saber apreensível, assimilável, praticável. Existe ainda o professor-artista que é um poeta em ação.
  • 18. 27 O professor precisa ser um artista, tornando suas aulas atraentes e interessantes. Nas suas aulas não deve haver lugar para o tédio. Ele deve possuir criatividade e determinação para manter uma realidade encantada, para tornar o espaço escolar mais bonito e mais alegre. Uma aula cheia de graça e irreverência rompe as barreiras entre “o lugar” professor e “o lugar” aluno, desenvolvendo uma práxis pedagógica que desestabiliza certas relações de poder, despertando uma consciência política da dignidade, o lirismo na condição humana. Essa postura decerto promove uma outra relação entre aluno e conhecimento. O fazer artístico abre outros caminhos para o curioso, o singular, para misturas e idéias novas, ressalta Eagleton (1990). O professor-palhaço ou professor-clown como é chamado por Hudson, (1974), faz tudo seriamente. Para esse autor ele: É paradoxalmente, a encarnação do trágico, pois assume, sem as máscaras que nós usamos no cotidiano (falsos rostos, mais falsos do que as verdadeiras máscaras), a fraqueza da humanidade, a nossa condição de seres que praticamente tudo desconhecem. O professor-artista assume o que é cômico e risível, assume o risco de alguém misturar marmelo com chuchu (HUDSON, 1974, p. 18). Para o professor-artista a aula é um espetáculo na qual ele utiliza recursos cômicos para fazer rir, para fazer pensar, para despertar. O cômico é legítima categoria artística, e tem o poder de iluminar os caminhos da aprendizagem. Ao utilizar um trocadilho, uma frase ambígua, um gesto que ninguém esperava ver numa sala de aula, o professor faz o aluno arregalar os olhos, abrir os ouvidos, despertando nele novas reações (PERISSÉ, 1994). Quando o artista-professor usa a graça, a irreverência em suas aulas, transforma-as em aulas encantadoras, quebrando a rotina, questionando as práticas pedagógicas tradicionais. Os alunos durante essas aulas são despertados intelectualmente, brotando neles o desejo de absorver mais e mais conhecimentos. O autêntico professor-artista, relativiza normas e verdades sociais que se demonstraram insuficientes, espanta o medo de viver no
  • 19. 28 plano da criatividade, não leva a sério a idéia da punição. Sofre, mas não desiste de ridicularizar a idiotice humana, o sadismo humano que consiste em reprimir o humano que existe dentro de cada um (STRAZZACAPPA & MORANDI, 2006, p. 48). Ele tem como premissa de que a missão do artista é não aborrecer, é mostrar, de forma lúcida que se pode olhar o mundo com uma visão crítica e ao mesmo tempo, divertida, maneira viva, lúdica, lúcida, como podemos olhar o mundo com uma visão crítica e divertida, apaixonada e trágica. Ele brinca com as instituições e valores oficiais com seriedade. Almeida (1992) afirma que todo docente usa máscaras de tristeza ou euforia, de timidez ou orgulho, de superioridade ou inferioridade, máscaras que ocultam sua verdadeira personalidade. E, atrás dessas máscaras existe sempre uma criança, um palhaço, um formador de opiniões e desencadeador de conhecimentos. O professor- artista transforma a sala de aula em um picadeiro, em um palco, e com essa postura de teatralidade e provoca atitudes que vão revelar nos alunos comportamentos relacionados a atitudes de “revoltas” e alegria. Essa revolta diz respeito à consciência de si mesmo nas relações diante das situações vivenciadas e o rompimento e/ou enfrentamento das relações que causam certos tipos de opressão. O artista-professor estreita os laços pessoais com os alunos, o que permite melhores condições para trabalhar coletivamente e encontrar soluções para os desafios da prática pedagógica, no contexto onde essa prática se insere. Ele estabelece diálogos sem censuras com seus alunos, se permitindo conversas descompromissadas e verdadeiras, como um bate-papo que flui naturalmente após um espetáculo (ALMEIDA, 1992). Muitos artistas têm seu talento artístico voltado para o ensino e por isso resolvem abraçar a profissão de educador. Estes profissionais que possuem talento híbrido (artístico e pedagógico) devem ser valorizados. Porém, o que geralmente acontece é que eles muitas vezes não encontram espaços de trabalho, pois não são artistas convencionais nem professores tradicionais e acabam rechaçados tanto no mundo da arte quanto no mundo da escola. Deve-se enfatizar a maravilha que é um artista/professor ser um pedaço do mundo da arte que penetra no espaço escolar (STRAZZACAPPA & MORANDI, 2006, p. 81).
  • 20. 29 A sala de aula pode ser um lugar significativo de conhecimento de arte, portanto, é interessante que o artista/professor monte uma coreografia para dançar e discutir com seus alunos, traga suas pinturas para a sala de aula, toque uma peça ou cante uma canção para que os alunos também entrem em cena, recite um poema ou faça uma leitura de um texto teatral para os alunos, afirma Abramovich (1998). Essa encenação por meio de significados imagísticos, causa o efeito de atribuição de significados de um termo a outro. De acordo com Ianni (2000, p. 17) “a comparação permite enriquecer a percepção das configurações e movimentos da realidade”. O artista tem o poder de canalizar os sentimentos mais profundos, o que lhe confere um poder de comunicação muito grande. E o artista/professor tem o poder de sensibilizar o aluno através de uma dramatização, de um canto, de uma dança. Ianni (2000, p. 18) afirma que para Max Weber a reflexão sobre a realidade social “compreende sempre a comparação [...] por meio da qual se torna possível observar, analisar e interpretar a complexidade da realidade social”. Ao encenar em sala de aula o artista/professor conduz o aluno a “flutuar pelo mundo afora, de modo a desprender-se e se despertar, distanciar-se e clarificar-se, mergulhar em sua reflexão e soltar a imaginação” (IANNI, 2000, p. 25). Isso quer dizer que o artista/professor utiliza a metáfora como uma metodologia de ensino bem atraente aos olhos do aluno. A metáfora é então a compreensão de um domínio através de outro e se caracteriza por criar uma relação entre um domínio fonte e um domínio alvo. A metáfora objetiva relacionar os conteúdos curriculares com situações do fazer artístico para facilitar a compreensão destes conteúdos. Ela é uma das formas de linguagem que possibilitam o resgate do cotidiano e a interação dos sujeitos que constroem o conhecimento, em um ambiente livre de tensões, melhorando o processo de ensino-aprendizagem. A metáfora governa tanto a construção, quanto o desenvolvimento de conceitos, pois o pensamento passa primeiro pelo significado para depois passar pela palavra (PONTES, 2003).
  • 21. 30 Para Bosi (1999) é significativa a contribuição da experiência artística na atividade docente, por parte do artista que também é professor, uma vez que tanto a atividade artística como a docente, são atividades criadoras que se conjugam numa perspectiva de educação libertadora. A mesma emoção que o artista sente ao criar uma obra de arte é sentida também no trabalho com os alunos em sala de aula. Eco (1995) salienta que o artista-professor, tendo a vivência teórico-prática do fazer artístico, tem a facilidade de compreender o processo de criação dos seus alunos e, também, a possibilidade de desenvolver uma prática pedagógica em que a emoção estética seja um elemento mediador significativo entre o ensinar e o aprender. 2.3.1 Como o professor atua? Fica na responsabilidade do professor a formação integral das pessoas e não apenas a sua formação intelectual. Atualmente, o conhecimento assume novas configurações, modifica-se constantemente por causa das novas descobertas e precisa ser sempre atualizado. Portanto, as aulas devem ser prazerosas e atraentes aos olhos dos alunos, para que eles passem a gostar cada vem mais do espaço escolar. Nesse contexto, o trabalho do docente deve ser estratégico, abrangendo um raio de atuação cada vez maior. Assumindo um novo perfil, projetando juntos com os estudantes os caminhos que estes percorrerão até alcançar uma formação completa. Ele precisa ser um dinamizador de grupos, responsável não mais por “formar alunos isoladamente, mas por constituir comunidades de aprendizagem capazes de desenvolver projetos em conjunto, se comunicar e aprender colaborativamente” (RAMAL, 2002, p. 32) Com uma mentalidade e expressão artística em sua experiência pedagógica, utilizando uma linguagem figurada e emocional que é mais loquaz, marcará muito mais fortemente o aprendizado, afirma Santos (2002). Uma vez que a arte é um fator de grande importância para o homem, o educador que utiliza os seus recursos para auxiliá-lo na sua tarefa educativa assume junto aos alunos outra perpsctiva da
  • 22. 31 educação. Assim a arte reestrutura a concepção do saber e abarca todos os tipos de inteligências. Ela possibilita ao professor, a procura por maneiras diferentes de transmitir uma mesma mensagem. O professor deve ainda estimular o raciocínio e a compreensão dos seus alunos. Assim: No processo de ensino-aprendizagem devem ser estimulados não somente os processo analíticos, que dividem, mas os de síntese, que integram. Cada hemisfério cerebral é responsável por uma dessas dimensões. O esquerdo pelo mundo analítico e racional e o direito, pela dimensão da síntese, da intuição, da criatividade, da arte (RAMAL, 2002, p. 2). Para Duarte Junior (1988) o docente deve compartilhar suas experiências com os alunos, o que contribuirá para a compreensão dos problemas vivenciados na sala de aula e para a construção de sua prática pedagógica conjuntamente com os demais envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, durante o qual, várias vozes poderão ser ditas e trocadas, entendidas e confrontadas, e em conjunto poderão buscar saídas possíveis. A liberdade de ensinar para o docente torna-se o fator vital para sua realização no desenvolvimento de sua práxis pedagógica, pois a aprendizagem do aluno vai depender dessa liberdade. Mas, o que é ter liberdade de ensinar? É a liberdade de externar suas práticas pedagógicas sem a vigilância da administração da escola, é ter livre arbítrio para criar, para inovar, para escolher as metodologias que considera melhor para seus alunos (CHIOVATTO, 2000). Para que haja liberdade no processo de ensino-aprendizagem, devem ser asseguradas ao professor, condições para ensinar, instruir, transmitir conhecimento, através de suas exposições e dos recursos materiais disponíveis nas instituições de ensino. Quem ensina com liberdade, educa. Quem ensina com liberdade desenvolve integralmente o educando. Portanto: Quem tem liberdade de ensinar transforma suas aulas em muito mais do que lições, mas em artes de ensinar, de tal modo que a liberdade de ensinar revela-se, em muitos professores, como a liberdade de pôr em prática uma idéia, valendo-se, para tanto, de sua competência técnica. Quando os professores transformam suas
  • 23. 32 aulas em artes revela-se, que sob a liberdade de ensinar, podem obter resultados, no processo escolar, de modos diferentes, de formas pedagógicas das mais diversas (CHIOVATTO, 2000, p. 3). Uma das competências do docente deve ser a capacidade de decidir sobre a qualidade e a quantidade de conhecimentos, idéias, conceitos e princípios a serem explorados nas suas atividades escolares, estabelecendo uma relação intrínseca com a realidade social em que o aluno está inserido. “Uma pequena qualidade de conhecimento consolidado é mais utilizável e transferível do que uma grande quantidade de conhecimento instável, difuso e completamente inútil”, afirma Ausubel (1980, p. 78). Ao professor cabe possuir também a competência de perceber que os conteúdos só possuem significados para o aluno se estiverem vinculados à sua realidade existencial, se contribuirem para a resolução de seus problemas cotidianos. Ele deve atuar na educação como um artista atua no palco durante uma cena de teatro, porque na realidade, todo professor é no fundo, um ator, ressalta Zabala (1998). O artista-professor traz consigo experiências de vida nas suas relações humanas que ao logo da vida no palco contribuem para seu bom desempenho na sala de aula, tornando assim sua aula uma representação do seu saber artístico. Nesse sentido é importante que o professor/artista: [...] assuma também, sem susto e sem medo, sua função de artista, de produtor, de pesquisador e de apreciador de arte. Esta é uma das grandes riquezas a serem vividas e discutidas com os alunos. É importante que o professor se torne um professor-artista, e não um mero passador de técnicas ou informações (ZABALA, 1998, p. 48). Transformar as aulas em momentos prazerosos, e não de chateação, é um dos grandes trunfos do professor para que as relações entre o processo de ensino e o de aprendizagem, não sejam relações ingênuas, passivas ou reprodutoras, mas sim participativas, criativas e transformadoras.
  • 24. 33 CAPÍTULO III METODOLOGIA Realizar um estudo sobre determinada questão, ou seja, pesquisar é reconstruir um conhecimento partindo do que já existe para se chegar a outro patamar à frente. Uma pesquisa no processo educativo é um processo investigativo que busca a compreensão de determinado fenômeno. Este trabalho é o resultado de uma curiosidade em relação à atuação de atores de teatro que também trabalham em algumas escolas como professores. Para investigar sobre essa temática foram realizados estudos teóricos em extenso material bibliográfico. Para a realização deste trabalho, inicialmente fez-se uma pesquisa bibliográfica, no período de fevereiro a abril de 2008, na biblioteca da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), na base de dados on-line e em outros locais diversos. O embasamento teórico foi ampliado por meio de buscas a referências bibliográficas dos estudos relevantes. Diversas referências foram selecionadas, atendendo a esses critérios. Ao longo do desenvolvimento deste trabalho, foram realizadas observações e entrevistas, às quais levaram a obter dados satisfatórios para a presente investigação. As bases epistemológicas da metodologia que sustentaram nossa pesquisa dialogam intimamente com a pesquisa qualitativa assumindo uma perspectiva em que “preocupa-se com os processos que constituem o ser humano em sociedade e em cultura e compreende esta como algo que transversaliza e indexaliza toda e qualquer ação humana” (MACEDO, 2006). Os sujeitos são considerados como atores e autores sociais, uma vez que não são descartáveis, com valor meramente utilitarista. Acreditamos que a pesquisa não se apresenta em perspectiva neutra ou objetiva, até porque a opção teórico-metodológica que optamos se constitui em uma pesquisa qualitativa, nessa ótica se configura em uma abordagem conceitual de
  • 25. 34 implicação. Nosso envolvimento com o campo de pesquisa está em nossas vivências pedagógicas, bem como com o envolvimento e participação nos grupos de artistas que trabalham com teatro na região. Nossa pesquisa caminha numa abordagem fenomenológica, considerando que o fenômeno, a práxis pedagógica do artista professor, torna-se uma experiência co-participativa de sujeitos em experiências vividas permitindo partilhar compreensões e interpretações, “interessados em descrever para compreender, o pesquisador fenomenólogo sempre está interrogando: o que é isto?” (MACEDO, 2006). No caso específico de nossa pesquisa, é importante ressaltar o nosso convívio cotidiano nos ambientes de atuação dos artistas professores, tanto nas escolas como no teatro, bem como a partir de nossa própria atuação, favoreceu de forma diferencial a realização da pesquisa. Vivências essas que nos possibilitaram observação desse movimento que foi se contornando e se tornando o nosso objeto de pesquisa. Para isso as ferramentas utilizadas como questionários, observações e interações em diálogos nas escolas onde as experiências acontecem nos deram suporte para construir um discurso, um texto contextualizado, que junto ao referencial bibliográfico selecionado favoreceram com as produções dos resultados da pesquisa. 3. 1 Pesquisa utilizada A pesquisa que busca entender um fenômeno específico em profundidade, chama-se pesquisa qualitativa. Nela, “o pesquisador é um interpretador da realidade” (BRADLEY, 1993, p. 15) e não se investiga em razão de resultados, mas o que se quer obter é "a compreensão dos comportamentos a partir da perspectiva dos sujeitos da investigação" (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p.16).
  • 26. 35 Esse tipo de pesquisa contribui na identificação de questões e entender porque estas são importantes. Além disso, trabalha com uma amostra heterogênea de pessoas, revela áreas de consenso, tanto positivo quanto negativo, nos padrões de respostas, determina quais idéias geram uma forte reação emocional. A pesquisa qualitativa não deve ser usada quando o que se espera é saber quantas pessoas irão responder de uma determinada forma ou quantas terão a mesma opinião. A pesquisa qualitativa não é projetada para coletar resultados quantificáveis. 3.1.1 Os ambientes-palcos da pesquisa Embora os sujeitos entrevistados atuem em espaços concretos escolares, o enfoque desta pesquisa privilegiou a práxis pedagógica dos artistas/professores. Portanto privilegiou-se o espaço simbólico que se dá como “não lugar”. Isto se explica pelo fato de que o objeto e contexto de estudo se movem no campo do mundo simbólico, que não se aprisiona nos estreitos limites do mapa enquanto espaço geográfico. Neste sentido pode-se falar de uma dominância simbólica, em que os significados e as representações se dão enquanto meta-lugar. As falas dos artistas ouvidos se articulam a partir de situações que transcendem o tradicional conceito de mapeamento físico. Nesse sentido pensar a práxis pedagógica implica pensarmos os princípios epistemológicos e políticos que alicerçam as experiências com a educação. Implica também pensar um conceito de educação que viabilize as expressões das culturas, das experiências, das esperanças e dos sonhos, onde se possa problematizar o contexto político onde a práxis pedagógica se realiza. O conceito de práxis aqui discutido é numa perspectiva freiriana. FREIRE, falando sobre a pedagogia do oprimido diz: Enquanto houver um único ser humano oprimido no mundo este livro terá validade, se enriquecerá com os aprendizados a partir da prática da libert-ação e cumprirá sua missão messiânica: a de permitir os cativos se libertem e os que não-são, sejam como humanos sensíveis, críticos, criativos, éticos, fraternos e espirituais (1992, p. 08). Nesse contexto o conceito de educação vem como um “ato político” e nessa perspectiva expõe a produção do conhecimento como possibilidade de produção de
  • 27. 36 experiências significativas, desenhadas nas trajetórias dos artistas professores, que atuam também na sala de aula. Os cenários onde a pesquisa foi desenvolvida foram os colégios Centro Educacional Sagrado Coração (CESC), Educandário N. Sra. do SSmo. Sacramento (Sacramentinas) e Centro Educacional Professora Isabel de Queiroz. O Centro Educacional Sagrado Coração (CESC) fica localizado à Praça Luis Viana, n. 182. Possui 13 salas de aula e seu quadro de pessoal é formado por 48 funcionários, sendo 38 professores, 1 Diretora, 1 Vice-diretora, 2 Coordenadores Pedagógicos, 1 Secretária e 5 serventes. A coordenação pedagógica segue o SISTEMA COC ENSINO, utilizando módulos Funciona nos três turnos, assim distribuídos: O Educandário N. Sra. do SSo. Sacramento (Sacramentinas), fica localizado à Rua Manoel Vitorino, n. 42, centro, em Senhor do Bonfim, Bahia. Possui 42 salas de aula, 92 professores, 1850 alunos e 62 funcionários que atuam nos diversos setores do referido colégio. Nele funcionam a Educação Infantil, O ensino fundamental I e II e o Ensino Médio. A Educação Infantil funciona nos turnos matutino e vespertino, o Ensino Fundamental I no turno vespertino e o Ensino fundamental II no turno matutino. A maioria dos professores são graduados e outros estão cursando o 3º grau. O Centro Educacional Professora Isabel de Queiroz fica localizado à Praça Simões Filho, n. 222, no centro da cidade de Senhor do Bonfim. Possui 13 salas onde funcionam o Ensino Fundamental I e II e o Ensino Médio no turno matutino e o 3º grau de Licenciatura em história e Letras no turno noturno. Seu quadro de funcionários é composto por 54 funcionários, sendo que destes, 22 são professores regentes. Esse estabelecimento de ensino é freqüentado por 350 alunos. É a escola o lugar atuante dos artistas–professores, onde se busca a investigação quanto à práxis pedagógica dos mesmos, que se mantém, de certa forma, livre de alguns moldes fixos das limitações do espaço escolar dos mesmos, uma vez que trazem consigo, diante de suas experiências, o potencial de lidar com a imaginação e criatividade e linguagens, diferentes expressões e corporeidade.
  • 28. 37 3.2 Sujeitos da pesquisa O estudo foi desenvolvido com quatro professores da rede particular de ensino. Realizou-se um questionário semi-dirigido com quatro professores, denominados A- B- C e D, artistas que atuam nessas escolas como professores de arte. Eles atuam no teatro e também trabalham como docentes nas seguintes escolas: 02 professores que lecionam na Casinha Feliz, 01 professor lotado no Colégio das Sacramentinas e outro professor lotado no Centro Educacional Isabel de Queiroz. Os professores lotados no CESC, lecionam na Educação Infantil e nas 1ª às 8ª séries do Fundamental I e II. Previamente, foi realizada uma conversa informal com os entrevistados com o objetivo de familiarizá-los com o pesquisador. Em seguida, os sujeitos receberam explicações sobre o significado, importância e objetivo do estudo. Todos responderam o questionário no mesmo momento, na quadra dos colégios. O procedimento para preencher o questionário foi elucidado e, quando houve dúvidas, estas foram esclarecidas. O tempo médio para o preenchimento dos instrumentos foi de 45 minutos aproximadamente. 3. 2.1 Instrumentos da pesquisa Coletaram-se os dados mediante o preenchimento dos questionários semi- dirigido, que foram instrumentos elaborados especificamente para este estudo. Nas questões fechadas foi feita a caracterização dos sujeitos e nas questões abertas os dados foram analisados qualitativamente, com o objetivo de apreender, através do discurso dos envolvidos, as questões importantes para este estudo. Foi elaborado um questionário contendo 3 questões fechadas e 7 questões abertas. A formulação das perguntas voltou-se a questões sobre o fazer docente do artista/professor, por compreender que, como explicado anteriormente, a experiência artística traz um diferencial na práxis pedagógica. A práxis pedagógica dos artistas/professores é o conjunto de atividades que eles realizam na sala de aula.
  • 29. 38 Foi aplicado um questionário semi-dirigido. Num contacto entre o investigador (entrevistador) e o investigado (entrevistado) durante o qual aquele formula perguntas sobre um determinado assunto que lhe interessa conhecer. Este método permite obter informações e conhecer o comportamento do entrevistado através de um diálogo planificado entre investigadores e investigados. Neste contexto elaborou- se antecipadamente as questões, o que permitiu recolher dados sobre a problemática em questão. As entrevistas podem ter o caráter exploratório ou ser de coleta de informações. 3.2.2 A coleta dos dados e sua análise Esta é a fase da pesquisa em que se reúnem dados através de técnicas específicas. Neste estudo, os dados foram coletados no período de 02 a 20 de maio de 2008, através da aplicação de questionários. Alguns dados foram colocados em tabelas, gráficos e outros foram transcritos na íntegra e em seguida foram interpretados e analisados. Análise é o processo de ordenação dos dados, organizando-os em padrões, categorias e unidades básicas descritivas; a interpretação envolve a atribuição de significado à análise, explicando os padrões encontrados e procurando por relacionamentos entre as dimensões descritivas (PATTON, 1980).
  • 30. 39 CAPÍTULO IV RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS Neste capítulo serão abordados os dados que o autor do presente trabalho conseguiu obter. São informações a respeito do trabalho docente realizado por pessoas que também são artistas (atores). Os resultados estão sendo apresentados de duas maneiras. A primeira contém informações gerais sobre o perfil dos pesquisados que foram transformadas em tabela para facilitar a visualização. A segunda maneira são as falas que contêm as informações fornecidas pelos entrevistados sobre sua atuação na sala de aula e o que eles pensam sobre esse fato. Dos quatro professores que receberam o questionário, todos o responderam. 4.1 O perfil dos entrevistados Dentre os quatro professores (Tabela 1) pesquisados, três (3) pertencem ao sexo masculino e apenas um (01) ao sexo feminino. Um deles possui nível superior completo (Pedagogia) e os demais estão cursando na UNEB, sendo que um freqüenta o Curso de biologia e os demais o Curso de Pedagogia. Dois (02) professores atuam há mais de cinco anos na docência e o demais (02) há menos de 5 anos. Estes professores foram escolhidos porque realizam o trabalho na docência e também atuam no teatro, apresentando trabalhos de dramatização. Quanto à atividade artística realizada pelos investigados, todos afirmaram ser o teatro, a dramatização, a encenação. Eles são atores que realizam suas atividades em peças teatrais. O teatro está ligado diretamente ao ser humano, independente da área que atua, trabalha com a reflexão, com o pensamento. Ele auxilia o aluno a desenvolver um processo de comunicação eficaz.
  • 31. 40 Tabela 1. O perfil dos professores/artistas Sexo Capacitação Tempo de atuação Atividade profissional Na docência artística Prof. A M Biologia + de 5 anos Teatro Prof. B M Pedagogia - de 5 anos Teatro Prof. C M Pedagogia - de 5 anos Teatro Prof. D F Pedagogia + de 5 anos Teatro 4.2 O discurso dos professores/artistas 4.2.1 Em relação à prática docente instigar a prática artística Quando se perguntou aos professores se a prática do docente estimulava a prática artística, a maioria respondeu afirmativamente, variando apenas nas suas justificativas, mas todos concordaram em um ponto de vista: o de que a prática em sala de aula prepara o docente para exercer qualquer atividade em qualquer setor, porque desenvolve o raciocínio, a eloqüência, a iniciativa e a criatividade. Um dos entrevistados acha que a prática docente só instiga a prática artística se o professor não se prender aos métodos prontos. Um outro entrevistado não justificou sua afirmativa. Eis a a fala dos professores: “Acredito que sim, pois a prática do arte-educador proporciona um despertar criador que se revela na prática artística” (PROFESSOR A). “[...] tudo depende da formação de cada sujeito. Se o arte-educador se limitar à reprodução de métodos prontos, dando conta dos conteúdos exigidos sem intervenções mais profundas, provocando o processo criativo, não será de forma nenhuma instigado à descoberta de novos insigt artísticos” (PROFESSOR B). “Sim, acredito que o artista estando na sala de aula provoque essa situação” (PROFESSOR D). Acredita-se que realmente a prática artística estimula uma docência diferenciada, no sentido de que o professor é antes de mais nada, um ator e que utiliza-se de trejeitos teatrais, que envolve a corporeidade, a valorozação das emoções, contribuindo para uma prática pedagógica significativa.
  • 32. 41 Os dados acima são corroborados por Perissé (1994, p. 19) quando ele afirma: O professor-ator compreende que, por trás das aparências de uma sala de aula, na qual os alunos estão "sedentos de conhecimento", esconde-se uma outra verdade. Os alunos estão é sedentos de vida, e, se o conhecimento não for vital, os alunos manifestarão seu desagrado na forma de dispersão, de conversas paralelas e até mesmo de sono. Se ele agir somente como um simples reprodutor de idéias, dificilmente chamará a atenção de seus alunos. Ele tem conhecimento de que aulas organizadas, com começo, meio e fim, com cada passo previsto, cada tema devidamente abordado, não atrai a atenção do aluno. 4.2.2 Em relação à complementação da prática docente com a prática artística e vice-versa. Alguns entrevistados, conforme a transcrição das falas abaixo, afirmaram que as referidas práticas se complementam porque os melhores professores geralmente são ótimos atores. O professor usa a entonação, a gesticulação, a postura corporal e a dramaticidade para enfatizar conceitos e transmitir informações. Ele entra na sala de aula e assume um comportamento (o papel de professor) e diante dessa postura assumida já é um ator. Um dos entrevistados, apenas respondeu “às vezes” e não justificou sua resposta. Um dos entrevistados acha que elas só se complementam se a prática artística não se submeter aos ditames sociais da educação formal. A diversidade de posturas é ressaltada por Tardif e Gauthier (2001, p. 18): Todos os indivíduos têm centenas, se não milhares de comportamentos-papéis ao longo de um único dia. Qualquer indivíduo tem comportamentos-papéis diferenciados ao assumir uma representação: uma duplicidade, por representar um papel com uma comunicação adequada ao papel desempenhado. Um professor só é um professor em sala de aula porque assume a postura de professor e se comunica como um professor. Assim, quer queira ou não, um indivíduo para ser professor terá que representar e falar um professor em sala de aula, este é o primeiro caminho para ser ator.
  • 33. 42 Eis o que disseram alguns entrevistados: “As duas práticas se complementam, uma vez que a relação entre elas é intima e até sincronizada. Para quer as duas se complementem, é necessário que o arte-educador/artista traga conteúdos e métodos que provoquem os alunos para uma reflexão e depois um construir artístico que acaba sempre na produção de um produto” (PROFESSOR A). “A práxis do artista está relacionada com as questões mais subjetivas do ser humano, não ficando por isso, submetida a certos ditames sociais, muitas vezes impostos no contexto da educação, mais especificamente, da educação formal. Ambas podem se complementar, caso uma ou outra, resolva envolver elementos próprios em suas funções: seja artística ou educativa” (PROFESSOR B). “Sim, uma prática complementa a outra.” (PROFESSOR D). Como se percebe diante da opinião dos entrevistados, as práticas do professor e do ator são indissociáveis, pois uma amplia a outra. É uma associação complexa, sutil e instável, na qual se dialoga com experiências, vivências e conceitos dos dois ambientes. O professor produz e pesquisa ao mesmo tempo, artística e academicamente. As atividades de ensino implicam de maneiras diferenciadas na produção artística, até porque produzir arte significa construir conhecimento, de forma prática e teórica, onde processos ou investigações artísticas desdobram-se em reflexões e vice-versa. Deste modo, “produzir academicamente e artisticamente co-implicam- se”, afirma Perissé (1994, p. 21). 4.2.3 Quanto à forma como são conduzidas as produções artísticas e educacionais. Com referência a esta questão, as opiniões divergiram. Enquanto alguns disseram que a docência é mais aberta e mais flexivel e que o fazer artístico é mais técnico e mais rígido, outro professor/artista afirmou o contrário. Um terceiro professor já afirmou que elas estão interligadas, dependendo de como são conduzidas. Eis o que eles disseram:
  • 34. 43 “Para mim a produção artística é mais livre que o sistema mais fechado da produção educacional que exige entre outras coisas uma nota determinada, o que às vezes em artes é um inconveniente. Instigo a produção artística e tento contextualizar a mesma, ao mesmo tempo que a produção educacional surge dentro da outra prática” (PROFESSOR A). “Dentro do contexto da educação, principalmente da educação formal, os conteúdos estudados têm um sentido prático racional. A prioridade é adquirir conhecimento para um aprimoramento de saberes e dominação de códigos, que permitam o acesso aos diversos meios culturais, relacionando produção educacional diretamente com a necessidade de saber, para se incluir nos espaços formais de geração de renda e valores sócio-econômicos. A produção artística tem tudo a ver com a subjetividade! Produzir artisticamente é promover e adquirir cultura para se afirmar social e emocionalmente, propondo mudanças significativas na sociedade” (PROFESSOR B). “A produção artística exige uma postura mais profissional, mais ‘técnica’. Já a produção educacional precisa de flexibilidade” (PROFESSOR C). “Está tudo ligado, seja uma produção artística ou educacional. A questão é como você conduz a atividade. Voce acaba orientando pedagogicamente também um espetáculo quando está no papel do diretor” (PROFESSOR D). A afirmação do professor C é concordante com o pensamento de Tardif e Gauthier (2001) quando eles afirmam que o professor deve ser um ator racional, isto é, deve ser capaz de desenvolver estratégias pedagógicas, como um fazer singular que funde e confunde a idéia de aula como obra de arte e sua problemática. Assim: É indispensável, como efeito, que toda expressão espontânea seja seguida de uma reflexão a o seu respeito, reflexão que permita analisa-la, aprofundar os seus dados e, através de uma série de tomadas de consciência, trazer à tona as alienações que pesam sobre o indivíduo: alienações congênitas, “carências de ser”, mas também alienações sociais, econômicas, políticas, culturais. A revelação dessas alienações desenferruja e desperta as necessidades do indivíduo, desce à raiz dos desejos, libera todos os apetites profundos e indica as fontes em que eles podem ser saciados. (PORCHER, 1982, P. 135). A afirmação do professor B ajuda-nos a pensar que, através do estimulo em torno das emoções, pode se gerar reflexões das experiências, que favorecem a produção de um novo conhecimento. Nesse sentido Porcher nos ajuda a perceber o que vem a ser uma educação que tem como alicerce a problematização, que
  • 35. 44 envolve outros aspectos do ser humano para além da racionalização, na busca de uma transformação em diferentes dimensões da existência, individual e coletivo. 4.2.4 Como a docência influencia o fazer artístico ou vice-versa De acordo com os resultados obtidos, transcritos abaixo, alguns professores afirmaram que são os ditames artísticos que influenciam o ensino em sala de aula. Entretanto, outros informaram que ambos estão integrados um ao outro, ou seja, o fazer artístico influencia a produção educacional, tanto quanto a educação influencia a atividade artística. Esta afirmação é ratificada por Araújo (1994) quando salienta que isto quer dizer que o professor com todo o seu instrumental de informação, traz para a experiência do artista uma dimensão de diálogo muito grande, de reflexão sobre o processo criativo de uma maneira mais ampla e também de sistematização destas experiências. No espaço escolar acontecem contatos com as linguagens expressivas, logo, o teatro e a expressão corporal têm objetivos educacionais porque estimulam a imaginação, organizam o pensamento que é abstrato, como o teatro. “Acho que a relação é recíproca e tem que ser. A produção educacional no seu contexto tem ampla influencia sobre o fazer artístico e acredito, devido a minha prática, que o fazer artistico pode e deve influenciar o ensino, pos bem trabalhado serve p/ derrubada de velhos conceitos educacionais” (PROFESSOR A). “A arte traz em si uma bagagem muito grande, causando muitas vezes, um desconforto nas coisas estabelecidas e tidas como certas. A arte exerce com sua postura libertina, um diálogo entre as linguagens do mundo, é provocada e provoca mudanças, pensando e fazendo pensar a partir da educação” (PROFESSOR B). “Acho que os ditames artísticos é que interagem com o ensino, porque foi a arte que me levou a pensar que poderia ser professor e me estimulou a sê-lo. Acredito que não haveria sentido em minha produção como professor sem uma produção artística e sem uma relação com o campo artístico ” (PROFESSOR C). “A questão é aquela velha história: que o professor de artes tem jeito para tudo, é animador. A visão deturpada que algumas
  • 36. 45 instituições tem do trabalho do arte-educador é que se mostra negativa” (PROFESSOR D). 4.2.5 Quanto à atuação em sala de aula Os professores/artistas acham que em alguns momentos agem como se estivessem apresentando uma peça teatral. Em outros momentos se sentem tolhidos, até porque o sistema educacional limita o trabalho do docente, não lhe dando autonomia para realizar um trabalho aberto, para criar livremente, para colocar em prática metodologias inovadoras. O que disseram os professores/artistas entrevistados neste estudo: “Antes, no inicio me sentia muito mal, quase num pesadelo. Mas hoje, com uma certa experiência, me sinto muito a vontade e livre para programar o conteúdo a ser trabalhado” (PROFESSOR A). “Como educador tenho uma natureza artística, e preciso desenvolver uma oralidade agradável aos ouvidos de quem me escuta; isso é música! Assim, sinto-me como um músico. Contudo, é necessária uma atenção contextualizada, pois não depende somente do trabalho individual realizado na sala de aula. O educador precisa entender que sua tarefa separadamente não terá resultados satisfatórios, sendo imprescindível o trabalho coletivo interdisciplinar desfragmentado e flexível. É dentro da certeza que encontramos os caminhos que construimos” (PROF. B). “Um tanto quanto ‘preso’, pois o modelo de escola que temos, ainda, não está apto a uma boa aula com um arte-educador. Por exemplo: os professores das salas vizinhas precisam de silêncio. Para a escola, silêncio é sinônimo de ordem, organização, e barulho é o contrário. Isso se torna um pouco complicado, já que a proposta é a conquista da autonomia e criticidade” (PROFESSOR C). “Às vezes me sinto como se estivesse num palco quando o momento é prá contar uma história, e ao mesmo tempo, tem momentos que me sinto como uma professora longe de ser artista” (PROFESSORA D). O que se pôde entender diante das respostas acima, é que o professor/artista fica inibido diante de todo o processo pertinente ao ensino, fica dividido entre a complexidade do sistema acadêmico gerido pelos moldes atuais e entre a simplicidade do sistema artístico. Para esse profissional a sala de aula pode muitas
  • 37. 46 vezes se transformar em o palco de um teatro, como também o palco de um teatro pode se transformar numa divertida sala de aula. Campos (1993, p. 48) se posiciona sobre esse fato ao afirmar que: O professor é também o ator na medida que além do pensar, do idealizar, atua na transmissão do conhecimento para difundir idéias, formar novos pensadores capazes de dar nova continuidade à arte da criação e assim dinamizar o processo educacional , o processo de transformação social com vistas ao progresso e ao desenvolvimento da nação. 4.2.6 Quanto à questão “suas vivências artísticas influenciam no seu processo de ensino-aprendizagem?” A maioria dos entrevistados responderam afirmativamente. Disseram que o fazer artístico não é apenas um entretenimento, mas também uma ferramenta para a formação crítica dos alunos, porque tem o poder de transformar pessoas comuns em cidadãos conscientes do seu papel na sociedade. Assim se manifestaram: “Totalmente. Creio que se não fosse artista nem professor seria. Ser artista e lecionar é complementar para mim, acho que o lugar da educação deveria ser ocupado por artistas” (PROFESSOR A). “O processo de ensino aprendizagem não é restrito política e geograficamente, portanto não é possivel separar um ser humano de si mesmo. Se alguém faz arte, onde estiver vai estar pensando em arte. Se essa pessoa trabalha no processo educacional, também estará ensinando e aprendendo, consciente ou inconscientemente” (PROF. B). “Muito. Por que eu sou um artista e é este artista que vai para a sala-de-aula” (PROFESSOR C). “Acredito que 80% da minha vivência artística tenha influenciado muito para essa atividade” (PROFESSORA D). A afirmativa dos professores acima, confirma o que Eco (1995) diz: quando se exerce uma atividade artística, os órgãos dos sentidos se tornam apurados. O artista/professor desenvolve um olhar muito intenso, o que o ajuda, como professor, a avaliar o que o aluno precisa desenvolver mais. Portanto:
  • 38. 47 Um artista/professor tem muito poder transformador em suas mãos, pois exercita e exerce de forma integrada os distintos papéis: influencia o seu público, altera o seu meio e propõe principalmente, outras formas de ver e de viver (ECO, 1995, p. 36). É evidente que o fazer artístico influencia o processo de ensino- aprendizagem, uma vez que, todo professor precisa se caracterizar de ator para abrir a cena e transformar a sala de aula em um palco, misturando razão e emoção, apelando para a imaginação e criatividade dos alunos, incentivando a sua curiosidade. O caráter pedagógico de uma aula dramatizada, mais do que uma simples técnica, é uma estratégia de grande alcance. 4.2.7 Quanto à existência de diferenças entre uma sala de aula e um palco A maioria dos entrevistados acha que sim, que existem diferenças entre atuar em uma sala de aula como docente e atuar em um palco como ator. Um dos entrevistados afirmou que nem sempre as diferenças existem e que depende do momento da atuação. Veja-se os seus posicionamentos: “Totalmente. O planejamento para a sala de aula é direcionado para um público fixo e possui uma continuidade ao longo do ano. No palco, estar-se preocupado com o produto artístico final, no meu caso, teatro tem sempre um público variado de pessoas e quantidades” (PROFESSOR A). “Depende do ponto de vista em que se pretende citar a atuação e o que se pensa sobre atuação... O que parece claro é que, se um trabalho artístico estiver focado no contexto de uma categoria cênica, pode ser diferente uma vez que o espaço influencia na apresentação. Se a proposta for para teatro de sala ou palco italiano, a atuação é uma, teatro de rua é outra. Logo, na sala de aula, por ser um espaço menor, mais intimista, a atuação apresentará outros elementos, outra atmosfera, cheiros, luzes, sombras e cores diferentes. Porém, pretendendo-se citar uma atuação dentro de um campo mais amplo, por exemplo, tentando dizer que logo que tudo que se constrói é culturalmente pensado e portanto, quem fala está consciente de sua ação e por isso está atuando; No entanto, pode-se concluir que, se fragmentamos os saberes a fim de simplificá-los, perde-se a noção do contexto mais amplo ao qual estamos ligados e que paradoxalmente não nos pertence mesmo sendo nosso” (PROF. B).
  • 39. 48 “Sim. Às vezes acho que sim e em outros momentos acho que não. É contraditório” (PROFESSOR C). “Claro que sim. Quando estamos encenando, o público está atento mas não tem uma participação verbal naquilo que está apreciando. Na sala de aula é o contrário pois o aluno pode interromper e até mesmo modificar o conteúdo daquilo que foi programado. Isso no caso da Educação Infantil” (PROFESSOR D). Pelos dados obtidos acima ficou claro que a atuação em sala de aula diverge da atuação em um palco. No cotidiano de uma sala de aula a prática se desenrola com os saberes obtidos na formação acadêmica do professor e o público-alvo possui quase sempre as mesmas características intelectuais e de conhecimento. Na sala de aula o professor é independente ao ministrar seus conhecimentos, não precisa seguir à risca as determinações do Diretor ou do Coordenador. No palco, o público é heterogêneo com relação a idade, formação intelectual e objetivos, portanto, é mais complexo para se trabalhar nele. “No palco, o ator age, transforma, joga, cria imagens, traduz, expressa, sintetiza, transcende” afirma Koudela (1990, p. 22). Para ele é importante dominar seu corpo e sua técnica de atuação seja ela qual for, saber o que ocorre com seu corpo e saber se expressar verbalmente. Na sala de aula, o professor não é tão exigido, não precisa ser tão complexo. No palco, é exigido do ator, que ele corresponda às expectativas do grupo heterogêneo que o assiste. Ele não é independente, tem que seguir as orientações do Diretor, do contra-regra, dentre outros. Precisa de técnica. Requer de generosidade para distribuir sua alma para a platéia. Precisa de inteligência para perceber o que os autores querem dizer com aquelas palavras.
  • 40. 49 CONSIDERAÇÕES FINAIS Procurou-se, através da análise das falas transcritas, tomar conhecimento do ponto de vista dos professores que também são atores e que realizam os dois trabalhos: na docência e na educação. A análise dos resultados obtidos permitiu concluir que a prática na sala de aula estimula o fazer artístico e esses dois fazeres se complementam. Segundo os resultados obtidos, o trabalho docente realizado na sala de aula pelo artista, recebe influências do seu trabalho artístico, especificamente neste estudo, quando os entrevistados iniciaram como atores de teatro e só depois ingressaram na área de educação. Comprovou-se que os artistas/professores que participaram dessa pesquisa, se sentem muito bem atuando na sala de aula, pois para eles a docência possui muitas semelhanças com a atividade que eles desempenham no palco. Eles trazem do teatro a criatividade, a auto-estima, a eloqüência, a facilidade de se comunicar com o público. O fazer artístico foi uma preparação para que eles pudessem se sair bem como docentes. Vale ressaltar que apesar da inter-relação entre as duas atividades, os entrevistados acham diferenças entre o trabalhado desenvolvido na sala de aula e o trabalho desenvolvido no palco. Impressionante foi constatar que eles se sentem mais à vontade quando estão atuando no teatro do que dentro de uma sala de aula, apesar de no teatro, não serem totalmente independentes, pois têm que seguir as orientações do Diretor da peça teatral. Os motivos alegado foram que as escolas não lhes dão liberdade para agir da maneira que acham melhor, ou seja, na escola (apesar de ser mais flexível que o teatro) eles não têm autonomia para usar sua metodologia. Acredita-se que isso ocorra porque as escolas temem que os artistas/professores provoquem desorganização e bagunça, agindo com a
  • 41. 50 irreverência que lhes é peculiar. É importante ressaltar que aqueles que efetivamente agem com irresponsabilidade não estão sendo nem professores nem artistas, mas sim distorcendo o ensino. Para que isso não ocorra torna-se necessário que as escolas não reprimam a ousadia das práticas dos professores- artistas nem punam suas iniciativas. As escolas precisam compreender o papel transformador exercido pelo artista/professor na sociedade atual. O que se pôde perceber também é que o artista/professor está procurando exercer a docência, fazendo cursos voltados para a Educação, pois os entrevistados estão freqüentando atualmente Cursos de Graduação em Licenciatura. Isso sinaliza que a procura pela Licenciatura por parte dos artistas, deve-se às semelhanças entre a prática docente e a prática artística, ou será que a grande maioria dos artistas não tem outra opção senão exercer uma segunda atividade, habitualmente ligada à docência? Sugere-se que sejam realizados mais estudos sobre essa temática no intuito de informar aos professores sobre as semelhanças entre a docência e o fazer artístico, neste caso, o teatro, para que eles tomem conhecimento de que o professor precisa ser um bom ator para melhor desenvolver o seu trabalho.
  • 42. 51 REFERÊNCIAS ABRAMOVICH, F. O professor não duvida! Duvida? São Paulo: Editora Gente, 1998. ALMEIDA, C. M. C. O trabalho do artista plástico na instituição de ensino superior: razões e paixões do artista-professor. 1992. Campinas: Universidade Estadual de Campinas. 270 f. Tese (Doutorado em Educação). Disponível em <www. bve.inep. gov.br/pesquisa/bbe-online/det> Acesso em 14 abr 2008. ARAUJO, H. C. Educação Através do Teatro. Rio de Janeiro: Editex. 1994, p. 73- 76. AUSUBEL, G. O Sentido da Arte: Esboço da História da Arte, Principalmente Pintura e Escultura e das Bases dos Julgamentos Estéticos. São Paulo: Ibrasa, 1980, p. 78. BACHELARD, G. O direito de sonhar. São Paulo: Difel, 1986, p. 13. BARBOSA, A. M. História da arte-educação: a experiência de Brasília. São Paulo: Max Limonad, 1986. _________. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. São Paulo: Perspectiva: Porto Alegre: Fundação IOCHPE, 1991. BASBAUM, R. Pensar com arte: o lado de fora da crítica. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003. BIASOLI, C. L. A. A formação do professor de arte: do ensaio...à encenação. Campinas/SP: Papirus,1999, p. 48-105. BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação. Porto: Porto Editora, 1994. Disponível em < www.ufpel.edu.br/cic/2007/cd/pdf/CH/CH_01070.pdf -> Acesso em 31 mai 2008. BOSI, A. Reflexões sobre a Arte. São Paulo: Ática, 1999. BRADLEY, J. Methodological issues and practices in qualitative research. The Library Quarterly, v.63, n.4, p.431- 449, Oct. 1993.
  • 43. 52 BRANDÃO, C. R. O Que é Educação. 33. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995, p. 16. CAMPOS, M. D. C. A Importância do Processo Criador na Formação do Educador: Uma Ação Transformadora. Ceará: 1993, p. 38- 48. CHIOVATTO, M. O Professor Mediador. BOLETIM Número 24 de Outubro/Novembro 2000, p. 3. Disponível em <http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos_texto.php?id_m=13> Acesso em 04 mai 2008. COURTNEY, R. Jogo, Teatro & Pensamento. São Paulo: Perspectiva, 1980. DUARTE JUNIOR, J. F. Por que arte-educação? 12. ed. Campinas/SP: Papirus Editora, 2001, p. 12-23-38-66. ___________________Fundamentos estéticos da educação. 2. ed. Campinas/SP: Papirus, 1988. EAGLETON, T. A ideologia da estética. Rio de Janeiro: Zahar, 1990, p. 7-28 ECO, U. Os limites da Interpretação. São Paulo: Perspectiva, 1995, p. 36. ERNST, F. A necessidade da arte. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987, p. 14. FAYGA, O. Criatividade e processos de criação. 6. ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 1987, pp. 10-12. FUSARI, M. F. R. e FERRAZ, M. H. Arte na educação escolar. São Paulo:Cortez,1992. ____________.Metodologia do Ensino de Arte. São Paulo: Cortez, 1993. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 9. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998, p. 54. _________. Pedagogia do Oprimido. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.