Governo Dilma e mentiras na campanha eleitoral de 2014
1. ‘DINHEIRO FALSO’, DE J.R. GUZZO
PUBLICADO NA EDIÇÃO IMPRESSA DE VEJA
J.R. GUZZO
Governos que mentem para o público o tempo todo acabam mais cedo ou mais
tarde mentindo para si mesmos e, pior ainda, acreditando nas mentiras que
dizem; o resultado é que sempre chegam a uma situação em que não sabem
mais fazer a diferença entre o que é verdadeiro e o que é falso. Eis aí onde
veio parar o governo da presidente Dilma Rousseff nestes momentos decisivos
da campanha eleitoral. Muito pouco do que está dizendo faz nexo – resultado
inevitável do hábito, desenvolvido já há doze anos, de navegar com o piloto
automático cravado na contrafação dos fatos e na falsificação das realidades.
Entre atender à sua consciência e atender a seus interesses, o governo jogou
todas as fichas na segunda alternativa, ao se convencer de que seria muito
mais proveitoso tapear o maior número possível de brasileiros com a invenção
de virtudes do que ganhar seu apoio com a demonstração de resultados. Não
compensa: para que fazer toda essa força se dá para comprar admiração,
cartaz e votos com dinheiro falso? Foi o que concluíram, lá atrás, os atuais
donos do país. Agora, como viciados em substâncias tóxicas, vivem na
dependência da embromação; está muito tarde para mudar, e a única opção
é continuar mentindo até o dia das eleições. Sua esperança é que a maioria
dos eleitores, como acontece com frequência, ache mais fácil acreditar do que
compreender.
Para se ter uma ideia de onde foram amarrar nosso burro: o estado-maior da
campanha de Dilma considerou que sua vitória mais importante no primeiro
debate entre os candidatos foi ter escapado “de todas as perguntas difíceis”.
É triste. Quando a verdade é substituída pelo silêncio, ensina o poeta Ievgeni
Ievtushenko, o silêncio torna-se uma mentira – talvez seja, aliás, sua
modalidade mais eficiente. A partir daí, vale tudo, e por conta disso os
brasileiros têm ouvido as coisas mais extraordinárias por parte do governo.
Os candidatos da oposição, sobretudo Aécio Neves, foram publicamente
acusados, por exemplo, de já terem decidido fazer uma recessão econômica se
Av. Visconde de Albuquerque, 603 - Madalena - Recife - PE CEP: 50610-090
Fone: (81) 3227-1699 | www.berconsultoria.com.br
2. forem eleitos; no mesmo momento, comicamente, saíram os resultados da
economia nos primeiros seis meses de 2014, mostrando que o Brasil andou
para trás nos dois primeiros trimestres do ano. Ou seja: a recessão que os
adversários iriam provocar no futuro já está sendo praticada pelo governo
Dilma no presente. Na média dos seus quatro anos, por sinal, será o pior
desempenho econômico do Brasil desde o presidente Floriano Peixoto.
Diante dos canais de concreto em ruínas na obra de transposição do Rio São
Francisco, que, segundo as mais solenes promessas do ex-presidente Lula,
estaria pronta em 2010, depois em 2012 e hoje é um mistério em termos de
prazo, Dilma disse em sua propaganda eleitoral que a culpa do atraso é da
“curva do aprendizado” – ou seja, pelo que dá para entender, ainda não
aprendemos a fazer direito esse tipo de coisa. Ainda? O Canal de Suez está
pronto desde 1869, o do Panamá desde 1914; será que já não deu tempo de
aprender?
A Ferrovia Norte-Sul, que vem sendo construída pelos governos Lula-Dilma
desde 2005, e que foi inaugurada mais uma vez em maio, continua fechada ao
tráfego de trens, por falta de equipamentos – para piorar, ladrões vêm
roubando os trilhos. São os únicos, além das empreiteiras, para quem a
ferrovia tem tido alguma utilidade. O programa de formação de mão de obra
técnica, descrito como “o maior do mundo”, formou até agora mais de 100 000
recepcionistas e manicures – o triplo do número de mecânicos. Em suma: já
nem é mais um caso de mau governo. É anarquia.
Um dos diretores mais influentes da Petrobras durante o governo do PT, tão
graduado que assumiu 24 vezes a presidência da empresa em substituição aos
titulares, está na cadeia desde março, entalado em espetaculares denúncias de
corrupção; foi figura-chave na tenebrosa compra da refinaria americana de
Pasadena e está no centro da investigação sobre as negociatas na construção
da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, um pesadelo cujo custo final pode
passar dos 20 bilhões de dólares. Indagada a respeito, Dilma nada respondeu.
Preferiu dizer que o grande problema da empresa foi a sugestão, feita no
governo Fernando Henrique, de trocar o nome da Petrobras para “Petrobrax” –
apenas uma ideia tola, de vida curtíssima e sem importância nenhuma. E a
Av. Visconde de Albuquerque, 603 - Madalena - Recife - PE CEP: 50610-090
Fone: (81) 3227-1699 | www.berconsultoria.com.br
3. economia parada? “Eu criei 5,5 milhões de empregos”, diz a candidata. Como
assim – “eu criei”?
Uma mentira começa com o ato de fazer o que é falso parecer verdadeiro.
Acaba deste jeito: em alucinação.
Av. Visconde de Albuquerque, 603 - Madalena - Recife - PE CEP: 50610-090
Fone: (81) 3227-1699 | www.berconsultoria.com.br