•José Joaquim Cesário Verde nasceu em
Lisboa, a 25 de Fevereiro de 1855
•Filho do lavrador e comerciante de
ferragens José Anastácio Verde, começou a
trabalhar com o pai muito cedo
•Dividia-se entre a produção poética
(publicada em jornais) e a actividade de
comerciante ao lado do pai
•Matriculou-se no Curso Superior de Letras em 1873,
frequentando-o por apenas alguns meses
•Ali conheceu Silva Pinto, que se tornou no
seu grande amigo para resto da vida
•Em 1877 contraiu a tuberculose, doença que já
lhe tirara o irmão e a irmã, cujas mortes serviram
de inspiração a um de seus principais poemas:
“Nós” (1884)
•Tentou curar-se da
tuberculose, sem sucesso
•Morreu a 19 de Julho deMorreu a 19 de Julho de
1886, com 31 anos de idade1886, com 31 anos de idade
•No ano seguinte, Silva Pinto organizaNo ano seguinte, Silva Pinto organiza O Livro de CesárioO Livro de Cesário
VerdeVerde (disponível ao público em 1901), compilando aí a(disponível ao público em 1901), compilando aí a
sua poesiasua poesia
Cesário viveu num período de grandes transformações sociais
em todo o mundo:
•Revolução económica (fruto da revolução industrial)
•Desenvolvimento dos transportes e comunicações
•Formação académica da alta burguesia
Em Portugal - o fontismo procurou:Em Portugal - o fontismo procurou:
•recuperar a economia portuguesarecuperar a economia portuguesa
•industrializar o reinoindustrializar o reino
•incrementar o comércioincrementar o comércio
•revigorar a expansão africanarevigorar a expansão africana
•lançar e estender a via-férrealançar e estender a via-férrea
•promover o advento da engenharia civilpromover o advento da engenharia civil
•trazer melhoramentos tecnológicos: telégrafo, iluminaçãotrazer melhoramentos tecnológicos: telégrafo, iluminação
pública, transportes coletivos e a eletricidadepública, transportes coletivos e a eletricidade
Porém, Lisboa era uma cidade:Porém, Lisboa era uma cidade:
•pequena (200 mil habitantes)pequena (200 mil habitantes)
•desconfortáveldesconfortável
•insalubreinsalubre
devido à insuficiência nas redes de abastecimento de águadevido à insuficiência nas redes de abastecimento de água
e nas de esgotose nas de esgotos
dada a acumulação de despejos, estrumes e curraisdada a acumulação de despejos, estrumes e currais
Apesar disto, havia também:Apesar disto, havia também:
•Bairros modernosBairros modernos
•Casas apalaçadasCasas apalaçadas
Alta burguesia nascida do progresso
industrial e tecnológico
Esta febre de construções traz para a cidade uma nova massa
de trabalhadores:
•PedreirosPedreiros
•CalceteirosCalceteiros
•CarpinteirosCarpinteiros
•FerreirosFerreiros
Nova classe social operariado
•Um estilo novo e original:
A introdução do mundo do quotidiano na
poesia;
A ligação entre poesia e técnica.
Uma aproximação a várias estéticas.
RealismoRealismo captação do real: cenas de exterior,
quadros e figuras citadinos concretos, plásticos e
coloridos,
NaturalismoNaturalismo o meio como determinante dos
comportamentos.
•Parnasianismo
objectividade dos temas, baseados na natureza e no
quotidiano
formas exatas e corretas
•Impressionismo
captação da realidade filtrada pelas percepções.
Poetização do real
Para Cesário Verde ver é:
•perceber o que se esconde na realidade,
•captar as impressões que as coisas lhe deixam,
percecionando o real minuciosamente, através dos sentidos
• refletir essa impressão que o exterior deixa no interior
do sujeito poético.
Portanto, o real exterior:
•é apreendido pelo mundo interior que o poeta
interpreta e recria com grande nitidez
•é captado pelos sentidos, com predominância dos
dados da visão: a cor, a luz, o recorte e o
movimento
A dicotomia cidade/campo
O contacto com o campo na sua infância determina a sua preferência por este
espaço e a visão que dele nos dá :
•não tem um aspeto idílico, paradisíaco, bucólico, susceptível de devaneio poético
•é um espaço real, concreto, autêntico, que lhe confere liberdade
•é um espaço de vitalidade, de alegria, de beleza, de vida saudável ...
Na cidade, o ambiente físico, cheio de
contrastes, apresenta:
• ruas macadamizadas/esburacadas,
• casas apalaçadas habitadas pelos burgueses e
pelos ociosos
• “quintalórios” velhos, edifícios cinzentos e
sujos...
No ambiente humano da cidade é realçada a presença de:
• calceteiros, cuja coluna nunca se endireita,
• padeiros cobertos de farinha,
• vendedeiras enfezadas,
• engomadeiras tísicas,
• burguesinhas do catolicismo...
Deambulando pelos dois espaços, observa dois tipos de
mulher:
mulher tipicamente urbana: fatal, frígida, frívola,
calculista, madura, destrutiva, dominadora, sem
sentimentos.
Cidade, espaço de sofrimento e alienação
• frágil, terna, ingénua e despretensiosa.
• sempre feia, pobre, até mesmo doente ou em esforço físico
Em contraste surge também a mulher tipicamente rural:
Campo, espaço de sofrimento, mas de conforto
A mulher em Cesário Verde
o objeto da admiração de Cesário.
Subjetividade
do tempo e da morte A oposição cidade/campo conduz simbolicamente à oposição morte/vida;
A morte é uma certeza e é identificada com a cidade soturna, com “focos
de epidemia”, cheia de solidão e de miséria;
O campo é a única salvação possível;
O tempo é visto, subjetivamente, como um perpétuo fluir;
Em “O Sentimento dum Ocidental” afirma que a esperança só é possível
para as novas gerações, embora exprima o anseio pela eternidade e pelo
amor.
Humilhação
humilhação sentimental (mulher formosa, fria,
distante e altiva);
humilhação estética (revolta pela incompreensão que
os outros manifestam em relação à sua poesia);
humilhação social (povo oprimido e abandonado).
Como aborda estes temas?
•observando as situações do quotidiano ponto de partida
preferencial para os seus poemas
•retratando e analisando o mundo real, rotineiro suporte
das suas ideias e sentimentos
Como repórter do quotidiano.
Partindo de uma visão geral do ambiente…
“ Dez horas da manhã, os transparentes
Matizam uma casa apalaçada (...)
E fere a vista, com brancuras quentes,
A larga rua macadamizada”
Planos da descrição
… centra-se em detalhes, até aqui poeticamente
ignorados, integrando-os no movimento quotidiano de
uma rua da cidade …
“ (...) rota, pequenina azafamada,
Notei de costas uma rapariga (…)”
… atribuindo-lhe uma dimensão significativa
Ou, partindo da realidade, transfigura-a, num impulso
salutar …
“Se eu transformasse os simples vegetais,
Num ser humano que se mova e exista
Cheio de belas proporções carnais?!”
… e tudo assume formas orgânicas e vivas, em oposição
ao emparedamento das ruas da cidade
Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em
frente,
Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde. Que pena que tenho dele! Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas cousas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos ...
Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros...
Ao Entardecer
por Alberto Caeiro
A evolução poética de Cesário Verde compreendeA evolução poética de Cesário Verde compreende
três fases:três fases:
Primeira fase (1873-74) - A “Crise Romanesca” -Primeira fase (1873-74) - A “Crise Romanesca” - O idealismo romântico
temperado pelas tendências literárias e estéticas da época. Ex. : “Responso” e
“Esplêndida”;
Segunda fase (1875-76) – “Naturais”Segunda fase (1875-76) – “Naturais” – O anti-romantismo e o naturalismo.
Ex.: “Deslumbramentos” e “Contrariedades”;
Terceira fase (1877-84) – A maturidadeTerceira fase (1877-84) – A maturidade - O campo e a cidade; a
descrição do real. Fase pictórica do poeta – Ex.:“Num bairro
moderno”;“Cristalizações”;“O sentimento de um ocidental”;“De tarde” e“Nós”.