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1
Cristian Cardoso
Ω
Veritas
Seguidores de Prometeu
2
Ruth Guimarães escreveu uma vez:
“Porque é esta a maneira de o mito existir: variando. ”
Parte um
3
Willian Shakespeare escreveu uma vez:
Existe uma maré nos assuntos dos homens.
Que, tomadas com o dilúvio, leva à fortuna; omitido, toda a viagem de sua vida.
É ligada nos baixios e misérias.
Em um mar tão cheio estamos agora flutuando, E devemos pegar a corrente quando ela atende, Ou
perder nossas aventuras.
Capitulo um.
De repente tudo mudou.
4
Marcelo Eugene Castro olhava a lua daquela noite de dezembro enquanto estava no terraço de um
prédio qualquer. Ao pôr as mãos na cintura, suspira e pula para o próximo prédio, dando um giro no ar
e ficando em pé com segurança, sorrindo. O prédio seguinte estava um pouco longe, talvez longe
demais para ele. Andou até a borda e olhou para baixo, examinando a situação, estava no sexto andar,
podia quebrar-se todo se não conseguisse chegar ao outro lado. Engoliu a seco, deu alguns passos para
trás, deu um longo suspiro, correu e então pulou.
No ar sentiu-se livre, porem sua liberdade esvaiu-se quando ele bateu de frente na lateral do outro
prédio, caindo de costas em uma árvore, fazendo o primeiro galho quebrar, mas conseguindo segurar-
se em outro mais abaixo, salvando-se dos possíveis pés quebrados que poderia conseguir caso chegasse
ao chão.
Tentou erguer o próprio corpo, porém ouviu um estalo e achou melhor ficar parado. Ele estava
ferrado, sabia que o galho não iria aguentar por muito tempo e Marcelo ainda estava há três metros do
chão, se soltasse o galho onde estava segurando-se, acabaria no meio do asfalto, apesar das ruas não
estarem muito movimentadas, pois já havia passado da meia-noite.
- Merda. – Praguejou ele.
Ouviu o barulho de um carro vindo em sua direção, não sabia qual modelo, mas sabia que era grande,
o suficiente para amaciar sua queda e em poucos segundos o carro estaria logo a baixo dele. Sorriu
enquanto soltava-se do tronco e caia em cima da SUV que freou imediatamente. Com bastante dor em
seus calcanhares e quadril, desceu e correu até alcançar uma distância “segura” do motorista, que o
xingava bastante enquanto abria a porta do carro.
Parou ofegante enquanto olhava as horas no relógio, percebeu como estava tarde e que precisava se
apressar para chegar em casa. Resolveu atalhar, entrando no parque da redenção, Marcelo sabia que
era um pouco perigoso, mas ele sinceramente não se importava com isso, na verdade até gostava.
Andava pelo parque escuro, pois a maioria dos postes de luz estavam quebrados, quando ouviu o
barulho de galhos quebrando e sons de briga, e como que por instinto, correu para trás de uma arvore,
escondendo-se ali. Curioso, deu uma espiadela.
O barulho vinha de um homem, Marcelo o enxergava de perfil. O sujeito era alto e forte, tinha um
cavanhaque ruivo que contornava seu queixo, o cabelo, também ruivo, era comprido o suficiente para
descer pelo rosto e cair sobre os olhos, porem parte dele era escondido por um boné preto. Ele usava
uma calça de linho negra e camisa de mesma cor e material, em sua mão jazia algo brilhante, um punhal
de brilho prateado.
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Por mais que todas as células em seu corpo dissessem para ele correr dali e chamar ajuda, alguma
coisa o impedia de fazer isso, não podia dar as costas para alguém que estivesse prestes a ser morto,
então ele fez algo estupido.
“Ei, não acha que é pouco tarde não para um passeio noturno? ” – Disse enquanto saia da proteção
da arvore, ou pelo menos foi o quis dizer, o que Marcelo falou na verdade foram um bando de ruídos
que não faziam nenhum sentido.
Marcelo viu a pequena garota deitada, apoiada em seus cotovelos, com um corte longo no braço e
um olhar, que não demonstrava medo e sim surpresa. O homem ostentava o mesmo olhar, na verdade
ficou tão surpreso que até mesmo deixou o punhal cair, o rapaz assustou-se, não com a surpresa de
ambos, mas sim com o outro lado da face do sujeito, o que não era capaz de ver antes. Ela estava
terrivelmente queimada e seu olho esquerdo era protegido por um tapa olho. O homem logo se
recompôs e retorceu a boca num terrível sorriso.
- Está tremendo, garoto. Minha aparência assusta tanto assim? – Perguntou ainda sorrindo.
Marcelo ficou alguns instantes em silencio, tentando pensar no que dizer, porém nada o vinha a
mente, pois a aparência daquele homem o assustava, ele parecia ter saído de algum filme bizarro de
terror.
– Eu já liguei para polícia, eles devem chegar aqui em qualquer momento. – Disse Marcelo ignorando
a pergunta.
- Você está mentido, garoto, eu posso ver isso em seus olhos. – Disse ele dando um passo na direção
de Marcelo, fazendo com que o coração do garoto parasse por um breve momento. – Você está tão
desesperado, que nem tentou inventar uma mentira decente.
Marcelo recuou alguns passos para trás, estava apavorado, já havia visto pessoas queimadas antes, é
claro, mas não desse jeito, alguma coisa naquele o homem o fazia querer sair correndo daquele lugar.
- Eu realmente liguei para polícia. – Disse Marcelo gaguejando, ele suspirou, não podia continuar
assim tinha que ser convincente. – Se você não acredita em mim, ótimo, não sou eu que vou para cadeia
por tentativa de homicídio.
- Ah, cala a boca. – Disse o homem enquanto golpeava Marcelo, com um soco na barriga, soco esse
que ele recebeu em cheio, fazendo-o sentir uma tremenda dor em seu torço, tanta que estava chão em
posição fetal. O sujeito ria enquanto andava em direção ao seu punhal. Ele parecia estar se divertindo
com isso.
Marcelo apanhou uma pedra do chão enquanto erguia-se com dificuldade apoiando-se em uma arvore
e com toda a sua força a arremessou contra a cabeça do homem, que tropicou para a frente com a força
do impacto, fazendo seu boné cair no chão. O homem, zangado, se virou para o garoto, um pouco
tonto, mas irado. Com uma de suas mãos o sujeito pegou Marcelo pelo colarinho e então acertou-lhe
um golpe com tremenda força no rosto, fazendo-lhe cair ao chão.
- Eu posso fazer isso a noite toda. – Disse Marcelo enquanto cuspia o sangue acumulado em sua
boca.
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- É claro que pode, mas infelizmente eu não. - Disse enquanto puxava um revolver e o apontava para
a cabeça do garoto, que agora fechava os olhos esperando pelo pior.
E então ele acordou.
* * * * *
- Por que não vai dar uma volta com a Camila ou coisa assim? – Sugeriu Rafael Marques à filha na
manhã de domingo. Ele coçou os pelos grisalhos eriçados, que saíam em tufos perto do colarinho da
camiseta.
Victoria Marques-Castro fez uma careta.
- Não. Vou ficar aqui e ver TV. Sempre tem algo de interessante passando na Warner. – Ela apanhou
o controle de cima do braço do sofá, e zapeou alguns canais até chagar a Warner – Como eu disse. Aí
está Smallvile.
- Tudo bem! Eu vou tomar um banho para ir trabalhar. – Disse o pai à filha.
Victoria continuou em frente à televisão, seu cachorro veio e deitou sua cabeça no colo dela, que o
acariciou. O cachorro era um belo labrador, e estava um pouco acima do peso.
No verão, Victoria normalmente ficava na casa de sua mãe e curtia com seu irmão, mas esse era
diferente, ela havia decidido ficar em casa com seu pai para ajudá-lo, pois ele andava muito atarefado
ultimamente com o seu trabalho como Promotor no departamento de polícia de Porlos.
Seu pai saiu do banheiro com a toalha amarrada na cintura, Rafael havia estado dentro do banheiro
por três minutos, ou pelo menos era isso que marcava relógio, Victoria não conseguia perceber a
passagem do tempo, mas ainda se impressionava com o quão rápido seu pai tomava banho. Logo que
ele saiu do quarto, vestindo seu velho jeans, uma camisa flanela e um sapato social, disse:
- Eu vou trabalhar.
- Tem certeza? – Perguntou ela. – Hoje é domingo.
- Houve uma emergência. – Disse ele.
- Você é promotor, não um policial. – Disse ela.
- Eu preciso ir. – Disse ele enquanto saía do apartamento.
Ele estava escondendo algo dela e ela sabia. Talvez por tédio, ou por não ter nada melhor para fazer,
ela correu até seu quarto, pegou sua chave, correu até a garagem, arrombou o porta-malas do carro de
seu pai, se enfiou lá dentro e o fechou, ficando ali no escuro, ouvindo apenas o som de sua respiração,
até ouvir o som do motor sendo ligado.
A viagem foi longa, ela contou uma hora em seu relógio de pulso e por mais que ela não pudesse
perceber a passagem do tempo, já estava cansada das músicas que seu pai ouvia então, quando o carro
finalmente parou, ela agradeceu. Esperou exatos cinco minutos, abriu o porta-malas e percebeu
encontrar-se em um lugar muito estranho.
Ela estava nesse terreno em que a grama era tão alta que batia em sua canela, ouvia o barulho de
sapos coaxando. O muro ao redor era velho e meio esburacado e a casa, bem... a casa era tão estranha
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que parecia ter saltado direto do filme “A Casa Monstro”, Victoria ficava esperando que uma língua
saltasse da porta, a enrolasse e a puxasse para dentro.
Como não via seu pai em lugar algum, resolveu entrar na casa. Enquanto caminhava em direção à
porta, tudo o que ela pensava era no porquê de, com tantos lugares no mundo, o seu pai foi parar justo
naquele fim de mundo. Ao entrar na casa, sentiu frio, um frio muito estranho, já que era verão e ela
vivia em Florianópolis, onde estava fazendo mais de trinta graus.
A falta de móveis na casa também era preocupante, havia apenas pó para todo o lado, com certeza
não tinha moradores há anos e o cheiro? Amônia em toda parte. O casarão era mal iluminado, além de
ter tábuas nas janelas; o lugar era iluminado por candelabros a gás, dando um clima bastante
fantasmagórico ao local.
As poucas coisas existentes na casa estavam cobertas por lençóis, os quais um dia deviam ter sido
brancos, mas agora ela não estava certa qual cor eles realmente tinham, pois estavam tão empoeirados
que ela não iria surpreender-se caso tocasse em algum deles e a poeira saltasse no formato de um
crânio.
De repente ela pisou em algo frio e escorregadio. Olhando para o chão, não conseguia enxergar
direito no que havia pisado por causa da falta de iluminação no local, resolvendo usar a luz do seu
celular para ver melhor. Ela havia pisado em algo gelado e branco, era neve, quase derretida, mas ainda
assim, neve.
Ela sentiu os pelos na sua nuca arrepiarem-se quando algo gelado caiu nas suas costas, ela quase
gritou de susto, porém não queria chamar a atenção de seu pai, então conteve-se imediatamente. Olhou
para cima e viu mais neve, reparando em como toda a neve vinha do segundo andar, decidiu seguir
adiante, subiu as escadas lentamente e enquanto fazia isso ouviu o som de uma risada, fria e distante.
O frio aumentava a cada degrau, enquanto a risada ficava mais alta, até ela ouvir o disparo de um
revolver.
Victoria parou de mover-se, estava paralisada. Ela estava a apenas mais um degrau de ver o que
diabos estava acontecendo, mas não conseguiu continuar, pois estava com medo do que poderia ver.
Victoria contou silenciosamente até três, subiu as escadas, olhou e tudo que ela pôde dizer foi:
- Merda!
A cena a qual ela se deparou foi a seguinte, seu pai, Rafael Marques, estava guardando o revolver na
parte traseira da calça, enquanto uma coisa estava estirada em cima da neve, tinha a forma humanoide,
mas o rosto, não era nada humano, era como um crânio feito inteiramente de gelo, com dois pequenos
chifres no topo da cabeça e o buraco de uma bala no meio da testa.
O seu pai foi pego completamente de surpresa, boquiaberto. Ambos se olharam em silêncio por
alguns instantes, até que ela começou a correr, mas antes de chegar no último degrau, tropeçou e caiu
de cara no chão. Rafael Marques correu para ajudá-la, mas foi empurrado pela garota rapidamente, não
queria ser tocada, Victoria não queria sequer olhar para ele. A garota sentia vontade de vomitar.
- Só se acalme e vamos conversar. – Disse ele.
- Conversar? – Ela perguntou. – Você matou, o que quer que aquilo seja, quando você me disse que
ia trabalhar, era isso que fazia todos dias? Você mata pessoas, como um maldito serial killer?
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- Victoria se acalme. – Disse ele enquanto botava a mão no ombro dele.
- Não me toque. – Disse ela repelindo-o.
- Okay. – Disse ele. – Eu não te toco, mas você precisa se acalmar, esse não é o lugar ou a hora para
conversarmos, vamos para o carro...
- Eu não vou a nenhum lugar com você.
- Nós precisamos sair daqui. – Disse ele.
- Eu disse que não vou a nenhum lugar com você, caralho.
- Você não me dá oura alternativa. – Disse ele e então aplicou-lhe um rápido golpe em seu pescoço
fazendo-a cair inconsciente em seus braços.
* * * * *
Marcelo Castro acabara de sair do banho quando ouviu o seu celular tocando, ainda com a toalha
enrolada em seu corpo, dirigiu-se ao telefone.
- Alô. – Atendeu ele.
A pessoa do outro lado da linha demorou um pouco para responder.
- Alô! Eu preciso que você me encontre na frente do seu prédio em cinco minutos e traga uma muda
de roupas.
A pessoa era seu velho amigo Daniel Gliviot, eles se conheciam desde os oito anos de idade, quando
Marcelo tinha ido parar em um hospital. Estava lá porque havia tido um severo ataque de asma, já
Daniel havia estado lá porque fora atropelado por um bando de ovelhas ou algo do tipo. Ele nunca
falava muito sobre o assunto, fazendo Marcelo pensar que essa era, provavelmente a coisa mais
humilhante pela qual ele já havia passado.
- Por que, Daniel?
- Eu preciso ter uma conversa séria com você. É urgente. – Disse ele e desligou o telefone.
Marcelo Castro geralmente odiava quando alguém fazia isso, porém, dessa vez, ele não se
incomodou, ao invés disso, se preocupou, já que Daniel normalmente não tinha conversas sérias e, com
esse pensamento em mente, vestiu-se e preparou um lanche para comer. Enquanto comia, pensou em
ligar a TV de tela plana, mas se deteve, pois, sua mãe estava dormindo e não queria arriscar acordá-la.
Ele sentou-se no sofá preto encostado na parede azul celeste e, assim que terminou de comer, levantou-
se, largou o prato sobrea bancada divisória da sala e da cozinha, saiu do apartamento, desceu asescadas
e ficou à espera de Daniel por algum tempo em frente ao seu prédio.
Não demorou muito para ele ver o seu melhor amigo, Dan, saindo de um Le Baron conversível de
1993. Era um garoto magro, mas não tanto quanto Marcelo, esquelético, usava um fone de ouvido
pequeno, escondido pela maior parte do tempo pelo colarinho da camisa. Tinha cabelos escuros,
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bronzeado por causa do verão e podia se ver que seus olhos castanhos estavam cansados por trás de
seus óculos retangulares, além de estar com a barba por fazer.
Marcelo andou até ele e perguntou:
- O que você queria falar comigo?
- Cadê a sua muda? – Perguntou Daniel ignorando Marcelo.
- Você não pensou que eu ia realmente trazer uma muda de roupas, né?
- Entre aí. – Disse Daniel novamente ignorando Marcelo e entrando no carro.
Marcelo abriu a porta do banco do carona assim que Dan destravou-a. O carro estava bastante
bagunçado, haviam roupas em cima dos bancos, alguns papéis de bala no chão, livros espalhados. O
garoto pegou as roupas e jogou-as no banco traseiro antes de sentar-se e só depois disso disse:
- O que você quer comigo?
- Eu já disse. – Disse ele ligando o carro e seguindo adiante.
Marcelo ficou esperando que Daniel complementasse sua resposta, porém não o fez.
- Sobre o que seria a conversa?
- É sobre o seu sonho e sobre o que tu fez.
- Que sonho? O que eu fiz? – Perguntou desconfiado.
- Olha, eu sei que isso vai soar estranho, mas o seu sonho de hoje não foi um sonho e o que quer que
você tenha visto nele, é real.
Marcelo engoliu a seco.
- Do que você...
- E assim como você, eu sou um Bellator – disse Daniel interrompendo-o.
- Um o que?
- Eu sou um Homo Superior. Bem, tecnicamente um tipo de Homo Superior. – Disse Daniel
normalmente, soando como se não se importasse se Marcelo acreditava ou não.
- Homo Superior? Como o próximo passo na evolução humana? –Perguntou Marcelo.
- É.
Marcelo riu de deboche.
- O que? – Perguntou Daniel.
- Isso é completamente ridículo. – Disse Marcelo. – Você realmente acha que eu vou acreditar nisso?
Daniel deu de ombros enquanto dobrava uma rua, rua essa que Marcelo nunca havia visto antes.
- Eu não me importo se você acredita nisso ou não, eu estou apenas te apresentando os fatos, agora
você pode apenas calar a boca e me deixar falar.
- Na verdade não, eu não vou. – disse Marcelo. – Você está me fazendo perder tempo. Dê meia volta
e me deixe em casa.
Daniel ficou alguns segundos em silencio e então disse:
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- Eu não posso fazer isso. – Disse Daniel.
- Por que? – Perguntou atônito.
- Porque você precisa ver uma pessoa.
- Quem?
- Hera. - Disse Daniel enquanto estacionava o carro.
Marcelo resolveu olhar pela janela para descobrir onde estava e a primeira coisa que ele viu foi a
placa negra, presa na parede de tijolos, um pouco acima da porta de vidro e na placa, escrito em letras
brancas, lia-se o nome do lugar: “A Cafeteria”. Marcelo quase fez uma piada sobre a falta de
criatividade das pessoas donas daquele estabelecimento, pelo menos em relação ao nome, porém achou
melhor não.
- Eu acho que só existe um jeito de você acreditar em mim.
- Que seria?
Daniel juntou as duas mãos como se fossem uma concha e disse:
- Virtutem Solis.
E então como mágica, um globo de energia branca-azulada começou a se criar no centro de suas
mãos, Marcelo sentiu uma grande quantidade de calor emanando dele. Aquela coisa parecia atrair
Marcelo de alguma forma e então sumiu, simplesmente assim. Marcelo olhou para Dan, como se agora
acabasse de perceber o que o amigo fizera.
O seu coração estava batendo acelerado e ele estava ficando nervoso, sem ar, levou a mão até o peito
e surpreendeu-se com a velocidade de seu coração fazendo-o desconfiar de estar sofrendo um enfarto,
mas então começou a sentir uma, já familiar, falta de ar, percebendo não estar sofrendo do coração, e
sim, do pulmão, estava tendo um ataque de asma. Ao notar isso, começou a procurar sua bombinha em
seus bolsos, mas não a achou.
- Você está bem? – Perguntou Dan, Marcelo não respondeu. – Está tendo um ataque de asma ou coisa
assim?
- O que você acha?
Daniel rapidamente abriu o porta-luvas, retirou um pequeno disco branco dali de dentro e entregou
a Marcelo dizendo:
- Morda isso.
Marcelo obedeceu, mordeu o disco branco, sentiu um pequeno choque, derrubando o disco no chão,
começando a sentir-se melhor em seguida.
- O que é isso? – Perguntou Marcelo abismado.
- Um pequeno dispositivo para primeiros socorros.
Ambos ficaram em silêncio por algum tempo, Marcelo juntou o pequeno disco e começou a analisá-
lo. O aparelho era redondo e não parecia com nenhum outro visto pelo garoto, na verdade, ele
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assemelhava-se mais com um objeto comum, uma peça de um jogo de dama talvez. O garoto o cheirou
e não sentiu nada, nenhum único cheiro.
- Isso foi bizarro. Como você fez? – Perguntou ele enquanto guardava o aparelho dentro do porta-
luvas.
- Eu nasci um Bellator e aparentemente você também. – Disse Daniel e Marcelo revirou os olhos. –
Ontem você teve um estranho sonho, estou certo? – Marcelo fez que sim com a cabeça. – Conte-me
sobre ele.
- Foi um pesadelo, mas já que você quer tanto saber, eu te conto sobre ele. – Disse Marcelo. – Eu
estava fazendo meus saltos, totalmente na minha, quando me deparei com uma cena muito estranha,
um homem de rosto queimado estava matando uma garota, tipo pânico, sabe? E como o bom cidadão
que sou, eu tentei impedir, mas acabei morrendo.
- Morreu?
- Eu penso que morri, porque ele tinha essa arma apontada para minha cabeça, então eu fechei meus
olhos e então simplesmente acordei.
- Simplesmente acordou?
- Simplesmente acordei.
- Isso é estranho. – Disse Dan enquanto checava o seu relógio. – Eu adoraria saber mais, mas agora
nós não temos tempo, precisamos encontrar Hera, siga-me. – Ele desceu do carro indo em direção a
cafeteria e parou antes de chegar na porta. – Você não vem?
Marcelo rapidamente o seguiu para dentro da cafeteria.
Tinha poucas janelas, mas todas enfeitadas com coisas de natal. Haviam cabines grudadas nas
paredes de tijolos, aninhadas umas contra as outras, mesas de madeira escovada ocupavam o centro do
lugar, quadros de arte moderna preenchiam as paredes, o garoto teve de admitir: o lugar era bastante
agradável. Os dois garotos andaram em direção a uma das cabines, Marcelo foi o primeiro a entrar e
Daniel foi logo em seguida, sentando-se defronte a ele, enquanto ficava de costas para porta, parecendo
não gostar muito, já que ficava constantemente olhando para ela por cima de seu ombro.
- O que nós estamos fazendo aqui?
- Esperando.
- Pelo que? – Perguntou Marcelo, mas o amigo não respondeu. - Por quem?
Logo o garoto teve a sua resposta. Uma bela mulher entrou no estabelecimento, era alta, delicada e
graciosa como uma leoa, tinha cabelos loiros e encaracolados. Usava um par de óculos que escondia
seus olhos e, por isso, Marcelo não conseguia vê-los. Ela sentou-se ao lado de Daniel e defronte a
Marcelo, Daniel parecia bastante nervoso na presença dela.
- Marcelo Castro e Daniel Gliviot? – Perguntou ela.
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Hera tinha um estranho sotaque em sua voz, Marcelo nunca tinha ouvido algo assim, ele era exótico
e tranquilizador.
- Marcelo Castro. – Disse Marcelo apontando para si mesmo.
- Então você é Daniel Gliviot? – Dan fez que sim com a cabeça. - Meu nome é Hera, eu sou a rainha
do Olimpo. – Disse ela apertando e cumprimentando os dois ao mesmo tempo. – É uma honra conhecer
os dois.
Marcelo rapidamente soltou a mão da deusa, já Daniel não, ele segurou a mão dela por um longo
tempo, causando um momento bastante constrangedor.
- Oh, perdão. – Disse ele e como se apenas agora tivesse se tocado de que ainda segurava a mão
dela, Dan rapidamente a soltou. – Me desculpe.
Hera fez que sim com a cabeça. Marcelo nunca vira o amigo tão nervoso antes, mas entendia porque
ele estaria, se Dan contara a verdade no carro e não um truque muito bem elaborado, agora ambos
estavam em frente a uma deusa, um ser milenar, a qual já devia ter visto de tudo um pouco e que, muito
provavelmente, tinha poder suficiente para fazer um raio cair na cabeça de ambos.
- Então Marcelo Castro, você acabou de descobrir sua origem, estou certa?
- Meio que sim. – Respondeu.
- Bom, Bom. – Murmurou ela. - Você sabe alguma coisa sobre a mitologia grega?
- Eu joguei “God Of War”.
Hera pareceu confusa.
- O conhecimento dele sobre a mitologia grega é mínimo, quase inexistente. – Dissera Daniel.
- Você sabe quem é Hélio? – Perguntou ela e Marcelo fez que sim com a cabeça. – Ótimo. Quando
ele era criança, Nix lhe entregou um arco, ele era tão poderoso que uma única flecha podia destruir
montanhas, e Hélio gostava de exibir seu poder aos humanos, para que o venerassem ainda mais do
que já faziam, porém, durante uma noite enquanto dormia, alguém roubou o seu arco e por segurança
cortou a sua garganta.
“Nix ficou furiosa com o ato e procurou a pessoa pelos quatro cantos do mundo, mas não encontrou.
Frustrada, Nix apelou ao Olimpo, oferecendo o próprio arco para quem o achasse, porém deveria trazer
o assassino até ela, Apolo foi o primeiro a se voluntariar, mas não obteve sucesso, outros tentaram,
porém, o resultado foi o mesmo. Zeus, aborrecido com o fato de todos os seus súditos estarem
procurando pelo arco decretou que a cada cem anos uma equipe de jovens, todos escolhido por algum
olimpiano, teria de tentar rastrear o arco e, se ainda vivo, o assassino. ”
Marcelo sentiu seu celular vibrando no seu bolso, apanhou-o para ver quem era, no identificador de
chamadas estava escrito: “mãe”, decidiu ignorar, afinal não planejava ficar muito mais tempo naquela
cafeteria.
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- Você não espera que eu me aliste para uma missão ou algo do tipo, certo? – Perguntou Marcelo
pondo o celular de volta no bolso.
Logo ela entregou a Marcelo uma carta branca, no topo dela estava escrito alguma coisa em grego,
o rapaz não entendeu o que ela esperava dele com aquilo.
- O que é isso? – Perguntou.
- Um contrato. – Respondeu Hera, mas dada a confusão no rosto de Marcelo ela explicou-se. – Um
contrato é como um pacto de sangue, você nãopode, me desculpe, você não consegue quebrá-lo mesmo
que tenha intenções de fazer isso. De uma forma ou de outra você vai cumprir o que está escrito aqui.
Marcelo bufou e levantou-se, Dan arregalou os olhos, assustado, como se o amigo tivesse jogado
uma colmeia cheia de abelhas em cima da mesa.
- MAS QUE INFERNO! - Disse Marcelo exaltado. - O que vocês pensam que eu sou? Eu não vou
fazer um pacto de sangue ou... ou... ir a uma missão por sabe-se lá quanto tempo, eu não vou a nenhum
lugar com ninguém, na verdade eu vou.... Vou é para minha casa.
Ele saiu da cabine, mas não da cafeteria, pois antes de alcançar a porta, ele parou. Não por vontade
própria, algo fez ele parar. Marcelo tentou continuar, mas seu corpo parecia não o obedecer.
Uma garota punk sentada na mesa perto de onde ele estava perguntou:
- Você está bem?
“Não, eu não estou”, respondeu ou pelo menos queria responder, saindo de sua boca, uma coisa
completamente diferente.
- Estou perfeitamente bem, senhora, mas muito obrigado por sua preocupação.
Então contra a sua vontade, girou em seus calcanhares e começou a andar, tentando parar, porém
não obteve sucesso e contra a sua vontade, voltou a cabine. Marcelo sentia Hera o observar por trás
daqueles óculos.
- Eu falo, você escuta. – Disse Hera com um falso sorriso amigável no rosto. - Marcelo Eugene
Castro você foi convocado pelo Olimpo para participar da missão Arco do Sol, ela dura apenas vinte e
três dias e para participar dela você precisa assinar a carta. – Disse ela passando-a a Marcelo, o qual,
mesmo não sabendo o porquê, a guardou em seu bolso. – A missão não é obrigatória, mas você deve
no mínimo pensar a respeito, prometa fazer isso e eu não vou fazer um raio cair sobre a sua cabeça por
ter levantado a voz para mim.
- Por que você faria um raio cair em mim?
- Você pode chamar de fúria divina ou qualquer outra coisa que vocês humanos façam nos dias de
hoje. – Disse ela. – Então você promete?
- Eu prometo.
- Promete o que?
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- Pensar a respeito da missão.
- Ótimo, agora saia daqui. – Disse ela e Marcelo fez o mandado com Dan vindo logo após em seu
encalço.
Marcelo estava irritado, mas resolveu aceitar quando Daniel ofereceu carona, afinal ele não tinha
nem ideia de onde estava, assim que eles entraram no carro Dan disse:
- Marcelo, por causa do seu sonho você provavelmente vai precisar de proteção por isso....
- Proteção? – Marcelo o interrompeu. - Porque eu preciso proteção? Por causa de um sonho estupido
que eu tive, isso não faz o menor sentido.
- Você ainda não acredita em mim? Depois de tudo que você viu?
- Eu não sei em o que acreditar, Daniel. – Disse Marcelo. – Agora se você pudesse, sem ofensas,
apenas calar a boca e dirigir, eu ficaria grato.
Os rapazes não falaram muito depois disso, apenas uma vez, quando a mãe de Marcelo ligou
novamente, Daniel recomendou-lhe atender, mas Marcelo disse:
- Nós já estamos perto, eu tenho certeza que ela pode esperar mais alguns minutos.
Assim que eles chegaram Marcelo desceu do carro e subiu rapidamente as escadas do seu
apartamento, mas ao chegar no corredor da sua porta, parou, alarmado, sua porta estava entreaberta.
Pensou em pegar seu telefone, para ligar para sua mãe, porém seus bolsos estavam vazios, ele
amaldiçoou baixinho, devia ter perdido o celular no trajeto do carro até onde estava. Enquanto andava
em direção a porta, dizia a si mesmo que tudo estava bem, abriu-a com cautela.
- Oi? - Ele chamou, entrando no apartamento e largando o molho de chaves em cima da bancada. –
Mãe?
Não houve nenhuma resposta, então ele atravessou o curto corredor e dirigiu-se a sala de estar, mas
quando chegou lá o seu coração parou, pois em sua frente estava o homem com a face queimada.
O sujeito segurava o mesmo punhal prateado, porem dessa vez ele estava coberto em sangue.
Tirando o sofá onde o homem estava sentado, todo o resto da sala estava revirado e quebrado, em cima
da mesa de centro Marcelo viu o celular de sua mãe e torceu para ela tê-lo esquecido em casa e para
que o sangue no punhal não fosse dela. O garoto sentiu os seus olhos arderem e sua visão ficar
embaçada por causa das lagrimas.
Marcelo checou seus bolsos a procura do telefone, porém não o achou, devia ter derrubado em algum
lugar. Ao ver o sujeito levantando-se e espreguiçando-se o garoto sabia:tinha que fugir do apartamento,
chegar a um telefone e chamar a polícia, porém não tinha certeza se era rápido o suficiente, então
correu até cozinha e pegou a primeira faca que achou. O sujeito andou até a cozinha e sorriu para
Marcelo, fazendo todos os cabelos da nuca de seu pescoço se arrepiarem.
- O que você espera fazer com isso? Me matar? – Perguntou.
- Onde está minha mãe? – Perguntou Marcelo ignorando a pergunta.
- Não se preocupe, garoto, você a encontrará logo.
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Marcelo sentiu como se alguém o tivesse enfiado a mão em seu peito e arrancado o seu coração,
seus olhos ardiam em lagrimas.
- Onde está a minha mãe?! – Ele gritou. – Você matou... – Marcelo não conseguiu terminar a frase
era doloroso demais.
- O que você acha, gênio?
Então Marcelo foi tomado por uma repentina raiva, com a faca em punhos, correu para cima do
sujeito, o qual rapidamente dominou-o e o jogou contra a parede do corredor, Marcelo estava
totalmente imobilizado. O homem girou o seu corpo e jogou Marcelo em cima da mesa de centro,
quebrando-a com a força do impacto.
Marcelo sentiu uma tremenda dor em todo seu torso, tentou levantar-se, mas o homem chutou-o no
peito o obrigando a deitar-se novamente. O sujeito ajoelhou-se ao lado de Marcelo e ergueu o punhal,
já pronto para dar o golpe final. O garoto mais uma vez fechou os olhos esperando pelo pior e então
ouviu o familiar som do seu molho chaves, abriu imediatamente os olhos e viu suas chaves acertando
em cheio a mão do sujeito, jogando longe o punhal.
Assim como o homem, Marcelo também foi pego de surpresa, ambos olharam quem era o herói
misterioso e ambos viram Daniel Gliviot.
Dan rapidamente pegou um lápis perdido em cima da bancada e jogou contra o rosto do homem, o
apanhando antes do objeto furar o seu olho. O sujeito esqueceu Marcelo completamente e partiu para
cima de Daniel, ainda com o lápis na mão.
O sujeito tentou um movimento, mas Daniel o bloqueou usando o cotovelo esquerdo e com o direito
acertou um forte golpe no diafragma do oponente, fazendo-o cambalear em direção a janela, fez um
ataque simultâneo, usando as duas mãos em formato de concha, para dar um tapa nos ouvidos do
adversário, deixando-o confuso a ponto de fazê-lo largar o lápis. Com um rápido golpe na traqueia, o
fez cambalear ainda mais, tentando mais um soco circular em seguida, com Dan desviando, para em
seguida acertar um golpe na mandíbula do oponente, deslocando-a e deixando-o desiquilibrado. Daniel
por fim deu um chute no plexo solar, fazendo o homem atravessar a janela e despencar vários andares.
Marcelo ainda estava deitado no chão, apoiado nos seus cotovelos, resolvendo levantar-se, e só tinha
uma coisa em mente, cambaleante andou até o quarto de sua mãe, quanto mais perto chegava, mais
rápido o seu coração batia.
- Marcelo aonde você vai? – Perguntou Daniel.
Marcelo não respondera, apenas abriu a porta do quarto de sua mãe e caiu de joelhos no chão,
sentindo como se todo o seu corpo tivesse ficado dormente, a sua respiração ficou mais pesada e as
lágrimas escorriam dos seus olhos. Marcelo nem notou Daniel até ele perguntar:
- O que aconteceu aqui?
- Eu não sei. – Disse Marcelo pondo as mãos na cabeça, na tentativa de pôr seus pensamentos em
ordem. – Quando eu cheguei ele estava aqui e ela... – O garoto deu um soco no chão. - Isso é minha
culpa.
- O que? Isso não é sua culpa. Por que você diz isso?
- Se eu tivesse acreditado em você, talvez ela...
16
- Me desculpe Marcelo, mas você não poderia ter feito nada. Isso que aconteceu aqui é culpa daquele
cara e não sua.
Ambos ficaram quietos por um tempo.
- Nós temos que ir. - disse Daniel.
- Para onde?
- Para um lugar seguro. – Respondeu. – Eu vou chamar uma equipe para nos transportar, eles devem
chegar em uma hora.
- O que? – Perguntou confuso.
- Quanto tempo você acha que vai levar para que enviem o próximo? – Perguntou ele. – Nós não
podemos ficar aqui.
- Se você realmente acredita que eu vou deixar a minha mãe aqui, então... – disse Marcelo
levantando-se. – Você não me conhece.
- Marcelo o que você pensa que a sua mãe iria querer? Que você ficasse aqui com ela ou que você
ficasse seguro?
O garoto sabia que o amigo tinha razão, mas só a ideia de deixar sua mãe ali, o dava vontade de
chorar.
- Marcelo, não há nada que você possa fazer por ela agora. – Disse Daniel.
Marcelo então se deu conta de uma coisa:
- Eu preciso do meu telefone. – Disse Marcelo já indo procura-lo.
Mas Dan o impediu e lhe entregou para Marcelo.
- Como? – Perguntou Marcelo.
- Você o esqueceu no meu carro, por isso eu vim lhe devolver e aí eu encontrei você o psicopata ali.
– Disse ele. –Porque você quer ele?
- Victoria. – Disse ele. – Ela vem no natal, ela precisa saber que a mãe morreu.
- Eu ligo para o pai dela assim que tivermos te posto em segurança. – Disse ele tomando o telefone
de volta. - Agora vá arrumar suas coisas.
E assim o fez. Durante a hora seguinte, Marcelo pareceu estar em alguma espécie de transe e com a
ajuda de Dan, empacotou tudo o que precisava. Ao fechar a uma hora, Daniel disse que eles
demorariam mais trinta minutos, pois alguém havia sido sequestrado ou algo do tipo. Marcelo não
prestou atenção nas palavras do amigo.
Assim que a equipe chegou, os dois saíram do apartamento e se dirigiram para o carro, uma SUV
preta com os vidros da mesma cor, Marcelo não demorou muito para adormecer enquanto usava sua
mochila como travesseiro.

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  • 2. 2 Ruth Guimarães escreveu uma vez: “Porque é esta a maneira de o mito existir: variando. ” Parte um
  • 3. 3 Willian Shakespeare escreveu uma vez: Existe uma maré nos assuntos dos homens. Que, tomadas com o dilúvio, leva à fortuna; omitido, toda a viagem de sua vida. É ligada nos baixios e misérias. Em um mar tão cheio estamos agora flutuando, E devemos pegar a corrente quando ela atende, Ou perder nossas aventuras. Capitulo um. De repente tudo mudou.
  • 4. 4 Marcelo Eugene Castro olhava a lua daquela noite de dezembro enquanto estava no terraço de um prédio qualquer. Ao pôr as mãos na cintura, suspira e pula para o próximo prédio, dando um giro no ar e ficando em pé com segurança, sorrindo. O prédio seguinte estava um pouco longe, talvez longe demais para ele. Andou até a borda e olhou para baixo, examinando a situação, estava no sexto andar, podia quebrar-se todo se não conseguisse chegar ao outro lado. Engoliu a seco, deu alguns passos para trás, deu um longo suspiro, correu e então pulou. No ar sentiu-se livre, porem sua liberdade esvaiu-se quando ele bateu de frente na lateral do outro prédio, caindo de costas em uma árvore, fazendo o primeiro galho quebrar, mas conseguindo segurar- se em outro mais abaixo, salvando-se dos possíveis pés quebrados que poderia conseguir caso chegasse ao chão. Tentou erguer o próprio corpo, porém ouviu um estalo e achou melhor ficar parado. Ele estava ferrado, sabia que o galho não iria aguentar por muito tempo e Marcelo ainda estava há três metros do chão, se soltasse o galho onde estava segurando-se, acabaria no meio do asfalto, apesar das ruas não estarem muito movimentadas, pois já havia passado da meia-noite. - Merda. – Praguejou ele. Ouviu o barulho de um carro vindo em sua direção, não sabia qual modelo, mas sabia que era grande, o suficiente para amaciar sua queda e em poucos segundos o carro estaria logo a baixo dele. Sorriu enquanto soltava-se do tronco e caia em cima da SUV que freou imediatamente. Com bastante dor em seus calcanhares e quadril, desceu e correu até alcançar uma distância “segura” do motorista, que o xingava bastante enquanto abria a porta do carro. Parou ofegante enquanto olhava as horas no relógio, percebeu como estava tarde e que precisava se apressar para chegar em casa. Resolveu atalhar, entrando no parque da redenção, Marcelo sabia que era um pouco perigoso, mas ele sinceramente não se importava com isso, na verdade até gostava. Andava pelo parque escuro, pois a maioria dos postes de luz estavam quebrados, quando ouviu o barulho de galhos quebrando e sons de briga, e como que por instinto, correu para trás de uma arvore, escondendo-se ali. Curioso, deu uma espiadela. O barulho vinha de um homem, Marcelo o enxergava de perfil. O sujeito era alto e forte, tinha um cavanhaque ruivo que contornava seu queixo, o cabelo, também ruivo, era comprido o suficiente para descer pelo rosto e cair sobre os olhos, porem parte dele era escondido por um boné preto. Ele usava uma calça de linho negra e camisa de mesma cor e material, em sua mão jazia algo brilhante, um punhal de brilho prateado.
  • 5. 5 Por mais que todas as células em seu corpo dissessem para ele correr dali e chamar ajuda, alguma coisa o impedia de fazer isso, não podia dar as costas para alguém que estivesse prestes a ser morto, então ele fez algo estupido. “Ei, não acha que é pouco tarde não para um passeio noturno? ” – Disse enquanto saia da proteção da arvore, ou pelo menos foi o quis dizer, o que Marcelo falou na verdade foram um bando de ruídos que não faziam nenhum sentido. Marcelo viu a pequena garota deitada, apoiada em seus cotovelos, com um corte longo no braço e um olhar, que não demonstrava medo e sim surpresa. O homem ostentava o mesmo olhar, na verdade ficou tão surpreso que até mesmo deixou o punhal cair, o rapaz assustou-se, não com a surpresa de ambos, mas sim com o outro lado da face do sujeito, o que não era capaz de ver antes. Ela estava terrivelmente queimada e seu olho esquerdo era protegido por um tapa olho. O homem logo se recompôs e retorceu a boca num terrível sorriso. - Está tremendo, garoto. Minha aparência assusta tanto assim? – Perguntou ainda sorrindo. Marcelo ficou alguns instantes em silencio, tentando pensar no que dizer, porém nada o vinha a mente, pois a aparência daquele homem o assustava, ele parecia ter saído de algum filme bizarro de terror. – Eu já liguei para polícia, eles devem chegar aqui em qualquer momento. – Disse Marcelo ignorando a pergunta. - Você está mentido, garoto, eu posso ver isso em seus olhos. – Disse ele dando um passo na direção de Marcelo, fazendo com que o coração do garoto parasse por um breve momento. – Você está tão desesperado, que nem tentou inventar uma mentira decente. Marcelo recuou alguns passos para trás, estava apavorado, já havia visto pessoas queimadas antes, é claro, mas não desse jeito, alguma coisa naquele o homem o fazia querer sair correndo daquele lugar. - Eu realmente liguei para polícia. – Disse Marcelo gaguejando, ele suspirou, não podia continuar assim tinha que ser convincente. – Se você não acredita em mim, ótimo, não sou eu que vou para cadeia por tentativa de homicídio. - Ah, cala a boca. – Disse o homem enquanto golpeava Marcelo, com um soco na barriga, soco esse que ele recebeu em cheio, fazendo-o sentir uma tremenda dor em seu torço, tanta que estava chão em posição fetal. O sujeito ria enquanto andava em direção ao seu punhal. Ele parecia estar se divertindo com isso. Marcelo apanhou uma pedra do chão enquanto erguia-se com dificuldade apoiando-se em uma arvore e com toda a sua força a arremessou contra a cabeça do homem, que tropicou para a frente com a força do impacto, fazendo seu boné cair no chão. O homem, zangado, se virou para o garoto, um pouco tonto, mas irado. Com uma de suas mãos o sujeito pegou Marcelo pelo colarinho e então acertou-lhe um golpe com tremenda força no rosto, fazendo-lhe cair ao chão. - Eu posso fazer isso a noite toda. – Disse Marcelo enquanto cuspia o sangue acumulado em sua boca.
  • 6. 6 - É claro que pode, mas infelizmente eu não. - Disse enquanto puxava um revolver e o apontava para a cabeça do garoto, que agora fechava os olhos esperando pelo pior. E então ele acordou. * * * * * - Por que não vai dar uma volta com a Camila ou coisa assim? – Sugeriu Rafael Marques à filha na manhã de domingo. Ele coçou os pelos grisalhos eriçados, que saíam em tufos perto do colarinho da camiseta. Victoria Marques-Castro fez uma careta. - Não. Vou ficar aqui e ver TV. Sempre tem algo de interessante passando na Warner. – Ela apanhou o controle de cima do braço do sofá, e zapeou alguns canais até chagar a Warner – Como eu disse. Aí está Smallvile. - Tudo bem! Eu vou tomar um banho para ir trabalhar. – Disse o pai à filha. Victoria continuou em frente à televisão, seu cachorro veio e deitou sua cabeça no colo dela, que o acariciou. O cachorro era um belo labrador, e estava um pouco acima do peso. No verão, Victoria normalmente ficava na casa de sua mãe e curtia com seu irmão, mas esse era diferente, ela havia decidido ficar em casa com seu pai para ajudá-lo, pois ele andava muito atarefado ultimamente com o seu trabalho como Promotor no departamento de polícia de Porlos. Seu pai saiu do banheiro com a toalha amarrada na cintura, Rafael havia estado dentro do banheiro por três minutos, ou pelo menos era isso que marcava relógio, Victoria não conseguia perceber a passagem do tempo, mas ainda se impressionava com o quão rápido seu pai tomava banho. Logo que ele saiu do quarto, vestindo seu velho jeans, uma camisa flanela e um sapato social, disse: - Eu vou trabalhar. - Tem certeza? – Perguntou ela. – Hoje é domingo. - Houve uma emergência. – Disse ele. - Você é promotor, não um policial. – Disse ela. - Eu preciso ir. – Disse ele enquanto saía do apartamento. Ele estava escondendo algo dela e ela sabia. Talvez por tédio, ou por não ter nada melhor para fazer, ela correu até seu quarto, pegou sua chave, correu até a garagem, arrombou o porta-malas do carro de seu pai, se enfiou lá dentro e o fechou, ficando ali no escuro, ouvindo apenas o som de sua respiração, até ouvir o som do motor sendo ligado. A viagem foi longa, ela contou uma hora em seu relógio de pulso e por mais que ela não pudesse perceber a passagem do tempo, já estava cansada das músicas que seu pai ouvia então, quando o carro finalmente parou, ela agradeceu. Esperou exatos cinco minutos, abriu o porta-malas e percebeu encontrar-se em um lugar muito estranho. Ela estava nesse terreno em que a grama era tão alta que batia em sua canela, ouvia o barulho de sapos coaxando. O muro ao redor era velho e meio esburacado e a casa, bem... a casa era tão estranha
  • 7. 7 que parecia ter saltado direto do filme “A Casa Monstro”, Victoria ficava esperando que uma língua saltasse da porta, a enrolasse e a puxasse para dentro. Como não via seu pai em lugar algum, resolveu entrar na casa. Enquanto caminhava em direção à porta, tudo o que ela pensava era no porquê de, com tantos lugares no mundo, o seu pai foi parar justo naquele fim de mundo. Ao entrar na casa, sentiu frio, um frio muito estranho, já que era verão e ela vivia em Florianópolis, onde estava fazendo mais de trinta graus. A falta de móveis na casa também era preocupante, havia apenas pó para todo o lado, com certeza não tinha moradores há anos e o cheiro? Amônia em toda parte. O casarão era mal iluminado, além de ter tábuas nas janelas; o lugar era iluminado por candelabros a gás, dando um clima bastante fantasmagórico ao local. As poucas coisas existentes na casa estavam cobertas por lençóis, os quais um dia deviam ter sido brancos, mas agora ela não estava certa qual cor eles realmente tinham, pois estavam tão empoeirados que ela não iria surpreender-se caso tocasse em algum deles e a poeira saltasse no formato de um crânio. De repente ela pisou em algo frio e escorregadio. Olhando para o chão, não conseguia enxergar direito no que havia pisado por causa da falta de iluminação no local, resolvendo usar a luz do seu celular para ver melhor. Ela havia pisado em algo gelado e branco, era neve, quase derretida, mas ainda assim, neve. Ela sentiu os pelos na sua nuca arrepiarem-se quando algo gelado caiu nas suas costas, ela quase gritou de susto, porém não queria chamar a atenção de seu pai, então conteve-se imediatamente. Olhou para cima e viu mais neve, reparando em como toda a neve vinha do segundo andar, decidiu seguir adiante, subiu as escadas lentamente e enquanto fazia isso ouviu o som de uma risada, fria e distante. O frio aumentava a cada degrau, enquanto a risada ficava mais alta, até ela ouvir o disparo de um revolver. Victoria parou de mover-se, estava paralisada. Ela estava a apenas mais um degrau de ver o que diabos estava acontecendo, mas não conseguiu continuar, pois estava com medo do que poderia ver. Victoria contou silenciosamente até três, subiu as escadas, olhou e tudo que ela pôde dizer foi: - Merda! A cena a qual ela se deparou foi a seguinte, seu pai, Rafael Marques, estava guardando o revolver na parte traseira da calça, enquanto uma coisa estava estirada em cima da neve, tinha a forma humanoide, mas o rosto, não era nada humano, era como um crânio feito inteiramente de gelo, com dois pequenos chifres no topo da cabeça e o buraco de uma bala no meio da testa. O seu pai foi pego completamente de surpresa, boquiaberto. Ambos se olharam em silêncio por alguns instantes, até que ela começou a correr, mas antes de chegar no último degrau, tropeçou e caiu de cara no chão. Rafael Marques correu para ajudá-la, mas foi empurrado pela garota rapidamente, não queria ser tocada, Victoria não queria sequer olhar para ele. A garota sentia vontade de vomitar. - Só se acalme e vamos conversar. – Disse ele. - Conversar? – Ela perguntou. – Você matou, o que quer que aquilo seja, quando você me disse que ia trabalhar, era isso que fazia todos dias? Você mata pessoas, como um maldito serial killer?
  • 8. 8 - Victoria se acalme. – Disse ele enquanto botava a mão no ombro dele. - Não me toque. – Disse ela repelindo-o. - Okay. – Disse ele. – Eu não te toco, mas você precisa se acalmar, esse não é o lugar ou a hora para conversarmos, vamos para o carro... - Eu não vou a nenhum lugar com você. - Nós precisamos sair daqui. – Disse ele. - Eu disse que não vou a nenhum lugar com você, caralho. - Você não me dá oura alternativa. – Disse ele e então aplicou-lhe um rápido golpe em seu pescoço fazendo-a cair inconsciente em seus braços. * * * * * Marcelo Castro acabara de sair do banho quando ouviu o seu celular tocando, ainda com a toalha enrolada em seu corpo, dirigiu-se ao telefone. - Alô. – Atendeu ele. A pessoa do outro lado da linha demorou um pouco para responder. - Alô! Eu preciso que você me encontre na frente do seu prédio em cinco minutos e traga uma muda de roupas. A pessoa era seu velho amigo Daniel Gliviot, eles se conheciam desde os oito anos de idade, quando Marcelo tinha ido parar em um hospital. Estava lá porque havia tido um severo ataque de asma, já Daniel havia estado lá porque fora atropelado por um bando de ovelhas ou algo do tipo. Ele nunca falava muito sobre o assunto, fazendo Marcelo pensar que essa era, provavelmente a coisa mais humilhante pela qual ele já havia passado. - Por que, Daniel? - Eu preciso ter uma conversa séria com você. É urgente. – Disse ele e desligou o telefone. Marcelo Castro geralmente odiava quando alguém fazia isso, porém, dessa vez, ele não se incomodou, ao invés disso, se preocupou, já que Daniel normalmente não tinha conversas sérias e, com esse pensamento em mente, vestiu-se e preparou um lanche para comer. Enquanto comia, pensou em ligar a TV de tela plana, mas se deteve, pois, sua mãe estava dormindo e não queria arriscar acordá-la. Ele sentou-se no sofá preto encostado na parede azul celeste e, assim que terminou de comer, levantou- se, largou o prato sobrea bancada divisória da sala e da cozinha, saiu do apartamento, desceu asescadas e ficou à espera de Daniel por algum tempo em frente ao seu prédio. Não demorou muito para ele ver o seu melhor amigo, Dan, saindo de um Le Baron conversível de 1993. Era um garoto magro, mas não tanto quanto Marcelo, esquelético, usava um fone de ouvido pequeno, escondido pela maior parte do tempo pelo colarinho da camisa. Tinha cabelos escuros,
  • 9. 9 bronzeado por causa do verão e podia se ver que seus olhos castanhos estavam cansados por trás de seus óculos retangulares, além de estar com a barba por fazer. Marcelo andou até ele e perguntou: - O que você queria falar comigo? - Cadê a sua muda? – Perguntou Daniel ignorando Marcelo. - Você não pensou que eu ia realmente trazer uma muda de roupas, né? - Entre aí. – Disse Daniel novamente ignorando Marcelo e entrando no carro. Marcelo abriu a porta do banco do carona assim que Dan destravou-a. O carro estava bastante bagunçado, haviam roupas em cima dos bancos, alguns papéis de bala no chão, livros espalhados. O garoto pegou as roupas e jogou-as no banco traseiro antes de sentar-se e só depois disso disse: - O que você quer comigo? - Eu já disse. – Disse ele ligando o carro e seguindo adiante. Marcelo ficou esperando que Daniel complementasse sua resposta, porém não o fez. - Sobre o que seria a conversa? - É sobre o seu sonho e sobre o que tu fez. - Que sonho? O que eu fiz? – Perguntou desconfiado. - Olha, eu sei que isso vai soar estranho, mas o seu sonho de hoje não foi um sonho e o que quer que você tenha visto nele, é real. Marcelo engoliu a seco. - Do que você... - E assim como você, eu sou um Bellator – disse Daniel interrompendo-o. - Um o que? - Eu sou um Homo Superior. Bem, tecnicamente um tipo de Homo Superior. – Disse Daniel normalmente, soando como se não se importasse se Marcelo acreditava ou não. - Homo Superior? Como o próximo passo na evolução humana? –Perguntou Marcelo. - É. Marcelo riu de deboche. - O que? – Perguntou Daniel. - Isso é completamente ridículo. – Disse Marcelo. – Você realmente acha que eu vou acreditar nisso? Daniel deu de ombros enquanto dobrava uma rua, rua essa que Marcelo nunca havia visto antes. - Eu não me importo se você acredita nisso ou não, eu estou apenas te apresentando os fatos, agora você pode apenas calar a boca e me deixar falar. - Na verdade não, eu não vou. – disse Marcelo. – Você está me fazendo perder tempo. Dê meia volta e me deixe em casa. Daniel ficou alguns segundos em silencio e então disse:
  • 10. 10 - Eu não posso fazer isso. – Disse Daniel. - Por que? – Perguntou atônito. - Porque você precisa ver uma pessoa. - Quem? - Hera. - Disse Daniel enquanto estacionava o carro. Marcelo resolveu olhar pela janela para descobrir onde estava e a primeira coisa que ele viu foi a placa negra, presa na parede de tijolos, um pouco acima da porta de vidro e na placa, escrito em letras brancas, lia-se o nome do lugar: “A Cafeteria”. Marcelo quase fez uma piada sobre a falta de criatividade das pessoas donas daquele estabelecimento, pelo menos em relação ao nome, porém achou melhor não. - Eu acho que só existe um jeito de você acreditar em mim. - Que seria? Daniel juntou as duas mãos como se fossem uma concha e disse: - Virtutem Solis. E então como mágica, um globo de energia branca-azulada começou a se criar no centro de suas mãos, Marcelo sentiu uma grande quantidade de calor emanando dele. Aquela coisa parecia atrair Marcelo de alguma forma e então sumiu, simplesmente assim. Marcelo olhou para Dan, como se agora acabasse de perceber o que o amigo fizera. O seu coração estava batendo acelerado e ele estava ficando nervoso, sem ar, levou a mão até o peito e surpreendeu-se com a velocidade de seu coração fazendo-o desconfiar de estar sofrendo um enfarto, mas então começou a sentir uma, já familiar, falta de ar, percebendo não estar sofrendo do coração, e sim, do pulmão, estava tendo um ataque de asma. Ao notar isso, começou a procurar sua bombinha em seus bolsos, mas não a achou. - Você está bem? – Perguntou Dan, Marcelo não respondeu. – Está tendo um ataque de asma ou coisa assim? - O que você acha? Daniel rapidamente abriu o porta-luvas, retirou um pequeno disco branco dali de dentro e entregou a Marcelo dizendo: - Morda isso. Marcelo obedeceu, mordeu o disco branco, sentiu um pequeno choque, derrubando o disco no chão, começando a sentir-se melhor em seguida. - O que é isso? – Perguntou Marcelo abismado. - Um pequeno dispositivo para primeiros socorros. Ambos ficaram em silêncio por algum tempo, Marcelo juntou o pequeno disco e começou a analisá- lo. O aparelho era redondo e não parecia com nenhum outro visto pelo garoto, na verdade, ele
  • 11. 11 assemelhava-se mais com um objeto comum, uma peça de um jogo de dama talvez. O garoto o cheirou e não sentiu nada, nenhum único cheiro. - Isso foi bizarro. Como você fez? – Perguntou ele enquanto guardava o aparelho dentro do porta- luvas. - Eu nasci um Bellator e aparentemente você também. – Disse Daniel e Marcelo revirou os olhos. – Ontem você teve um estranho sonho, estou certo? – Marcelo fez que sim com a cabeça. – Conte-me sobre ele. - Foi um pesadelo, mas já que você quer tanto saber, eu te conto sobre ele. – Disse Marcelo. – Eu estava fazendo meus saltos, totalmente na minha, quando me deparei com uma cena muito estranha, um homem de rosto queimado estava matando uma garota, tipo pânico, sabe? E como o bom cidadão que sou, eu tentei impedir, mas acabei morrendo. - Morreu? - Eu penso que morri, porque ele tinha essa arma apontada para minha cabeça, então eu fechei meus olhos e então simplesmente acordei. - Simplesmente acordou? - Simplesmente acordei. - Isso é estranho. – Disse Dan enquanto checava o seu relógio. – Eu adoraria saber mais, mas agora nós não temos tempo, precisamos encontrar Hera, siga-me. – Ele desceu do carro indo em direção a cafeteria e parou antes de chegar na porta. – Você não vem? Marcelo rapidamente o seguiu para dentro da cafeteria. Tinha poucas janelas, mas todas enfeitadas com coisas de natal. Haviam cabines grudadas nas paredes de tijolos, aninhadas umas contra as outras, mesas de madeira escovada ocupavam o centro do lugar, quadros de arte moderna preenchiam as paredes, o garoto teve de admitir: o lugar era bastante agradável. Os dois garotos andaram em direção a uma das cabines, Marcelo foi o primeiro a entrar e Daniel foi logo em seguida, sentando-se defronte a ele, enquanto ficava de costas para porta, parecendo não gostar muito, já que ficava constantemente olhando para ela por cima de seu ombro. - O que nós estamos fazendo aqui? - Esperando. - Pelo que? – Perguntou Marcelo, mas o amigo não respondeu. - Por quem? Logo o garoto teve a sua resposta. Uma bela mulher entrou no estabelecimento, era alta, delicada e graciosa como uma leoa, tinha cabelos loiros e encaracolados. Usava um par de óculos que escondia seus olhos e, por isso, Marcelo não conseguia vê-los. Ela sentou-se ao lado de Daniel e defronte a Marcelo, Daniel parecia bastante nervoso na presença dela. - Marcelo Castro e Daniel Gliviot? – Perguntou ela.
  • 12. 12 Hera tinha um estranho sotaque em sua voz, Marcelo nunca tinha ouvido algo assim, ele era exótico e tranquilizador. - Marcelo Castro. – Disse Marcelo apontando para si mesmo. - Então você é Daniel Gliviot? – Dan fez que sim com a cabeça. - Meu nome é Hera, eu sou a rainha do Olimpo. – Disse ela apertando e cumprimentando os dois ao mesmo tempo. – É uma honra conhecer os dois. Marcelo rapidamente soltou a mão da deusa, já Daniel não, ele segurou a mão dela por um longo tempo, causando um momento bastante constrangedor. - Oh, perdão. – Disse ele e como se apenas agora tivesse se tocado de que ainda segurava a mão dela, Dan rapidamente a soltou. – Me desculpe. Hera fez que sim com a cabeça. Marcelo nunca vira o amigo tão nervoso antes, mas entendia porque ele estaria, se Dan contara a verdade no carro e não um truque muito bem elaborado, agora ambos estavam em frente a uma deusa, um ser milenar, a qual já devia ter visto de tudo um pouco e que, muito provavelmente, tinha poder suficiente para fazer um raio cair na cabeça de ambos. - Então Marcelo Castro, você acabou de descobrir sua origem, estou certa? - Meio que sim. – Respondeu. - Bom, Bom. – Murmurou ela. - Você sabe alguma coisa sobre a mitologia grega? - Eu joguei “God Of War”. Hera pareceu confusa. - O conhecimento dele sobre a mitologia grega é mínimo, quase inexistente. – Dissera Daniel. - Você sabe quem é Hélio? – Perguntou ela e Marcelo fez que sim com a cabeça. – Ótimo. Quando ele era criança, Nix lhe entregou um arco, ele era tão poderoso que uma única flecha podia destruir montanhas, e Hélio gostava de exibir seu poder aos humanos, para que o venerassem ainda mais do que já faziam, porém, durante uma noite enquanto dormia, alguém roubou o seu arco e por segurança cortou a sua garganta. “Nix ficou furiosa com o ato e procurou a pessoa pelos quatro cantos do mundo, mas não encontrou. Frustrada, Nix apelou ao Olimpo, oferecendo o próprio arco para quem o achasse, porém deveria trazer o assassino até ela, Apolo foi o primeiro a se voluntariar, mas não obteve sucesso, outros tentaram, porém, o resultado foi o mesmo. Zeus, aborrecido com o fato de todos os seus súditos estarem procurando pelo arco decretou que a cada cem anos uma equipe de jovens, todos escolhido por algum olimpiano, teria de tentar rastrear o arco e, se ainda vivo, o assassino. ” Marcelo sentiu seu celular vibrando no seu bolso, apanhou-o para ver quem era, no identificador de chamadas estava escrito: “mãe”, decidiu ignorar, afinal não planejava ficar muito mais tempo naquela cafeteria.
  • 13. 13 - Você não espera que eu me aliste para uma missão ou algo do tipo, certo? – Perguntou Marcelo pondo o celular de volta no bolso. Logo ela entregou a Marcelo uma carta branca, no topo dela estava escrito alguma coisa em grego, o rapaz não entendeu o que ela esperava dele com aquilo. - O que é isso? – Perguntou. - Um contrato. – Respondeu Hera, mas dada a confusão no rosto de Marcelo ela explicou-se. – Um contrato é como um pacto de sangue, você nãopode, me desculpe, você não consegue quebrá-lo mesmo que tenha intenções de fazer isso. De uma forma ou de outra você vai cumprir o que está escrito aqui. Marcelo bufou e levantou-se, Dan arregalou os olhos, assustado, como se o amigo tivesse jogado uma colmeia cheia de abelhas em cima da mesa. - MAS QUE INFERNO! - Disse Marcelo exaltado. - O que vocês pensam que eu sou? Eu não vou fazer um pacto de sangue ou... ou... ir a uma missão por sabe-se lá quanto tempo, eu não vou a nenhum lugar com ninguém, na verdade eu vou.... Vou é para minha casa. Ele saiu da cabine, mas não da cafeteria, pois antes de alcançar a porta, ele parou. Não por vontade própria, algo fez ele parar. Marcelo tentou continuar, mas seu corpo parecia não o obedecer. Uma garota punk sentada na mesa perto de onde ele estava perguntou: - Você está bem? “Não, eu não estou”, respondeu ou pelo menos queria responder, saindo de sua boca, uma coisa completamente diferente. - Estou perfeitamente bem, senhora, mas muito obrigado por sua preocupação. Então contra a sua vontade, girou em seus calcanhares e começou a andar, tentando parar, porém não obteve sucesso e contra a sua vontade, voltou a cabine. Marcelo sentia Hera o observar por trás daqueles óculos. - Eu falo, você escuta. – Disse Hera com um falso sorriso amigável no rosto. - Marcelo Eugene Castro você foi convocado pelo Olimpo para participar da missão Arco do Sol, ela dura apenas vinte e três dias e para participar dela você precisa assinar a carta. – Disse ela passando-a a Marcelo, o qual, mesmo não sabendo o porquê, a guardou em seu bolso. – A missão não é obrigatória, mas você deve no mínimo pensar a respeito, prometa fazer isso e eu não vou fazer um raio cair sobre a sua cabeça por ter levantado a voz para mim. - Por que você faria um raio cair em mim? - Você pode chamar de fúria divina ou qualquer outra coisa que vocês humanos façam nos dias de hoje. – Disse ela. – Então você promete? - Eu prometo. - Promete o que?
  • 14. 14 - Pensar a respeito da missão. - Ótimo, agora saia daqui. – Disse ela e Marcelo fez o mandado com Dan vindo logo após em seu encalço. Marcelo estava irritado, mas resolveu aceitar quando Daniel ofereceu carona, afinal ele não tinha nem ideia de onde estava, assim que eles entraram no carro Dan disse: - Marcelo, por causa do seu sonho você provavelmente vai precisar de proteção por isso.... - Proteção? – Marcelo o interrompeu. - Porque eu preciso proteção? Por causa de um sonho estupido que eu tive, isso não faz o menor sentido. - Você ainda não acredita em mim? Depois de tudo que você viu? - Eu não sei em o que acreditar, Daniel. – Disse Marcelo. – Agora se você pudesse, sem ofensas, apenas calar a boca e dirigir, eu ficaria grato. Os rapazes não falaram muito depois disso, apenas uma vez, quando a mãe de Marcelo ligou novamente, Daniel recomendou-lhe atender, mas Marcelo disse: - Nós já estamos perto, eu tenho certeza que ela pode esperar mais alguns minutos. Assim que eles chegaram Marcelo desceu do carro e subiu rapidamente as escadas do seu apartamento, mas ao chegar no corredor da sua porta, parou, alarmado, sua porta estava entreaberta. Pensou em pegar seu telefone, para ligar para sua mãe, porém seus bolsos estavam vazios, ele amaldiçoou baixinho, devia ter perdido o celular no trajeto do carro até onde estava. Enquanto andava em direção a porta, dizia a si mesmo que tudo estava bem, abriu-a com cautela. - Oi? - Ele chamou, entrando no apartamento e largando o molho de chaves em cima da bancada. – Mãe? Não houve nenhuma resposta, então ele atravessou o curto corredor e dirigiu-se a sala de estar, mas quando chegou lá o seu coração parou, pois em sua frente estava o homem com a face queimada. O sujeito segurava o mesmo punhal prateado, porem dessa vez ele estava coberto em sangue. Tirando o sofá onde o homem estava sentado, todo o resto da sala estava revirado e quebrado, em cima da mesa de centro Marcelo viu o celular de sua mãe e torceu para ela tê-lo esquecido em casa e para que o sangue no punhal não fosse dela. O garoto sentiu os seus olhos arderem e sua visão ficar embaçada por causa das lagrimas. Marcelo checou seus bolsos a procura do telefone, porém não o achou, devia ter derrubado em algum lugar. Ao ver o sujeito levantando-se e espreguiçando-se o garoto sabia:tinha que fugir do apartamento, chegar a um telefone e chamar a polícia, porém não tinha certeza se era rápido o suficiente, então correu até cozinha e pegou a primeira faca que achou. O sujeito andou até a cozinha e sorriu para Marcelo, fazendo todos os cabelos da nuca de seu pescoço se arrepiarem. - O que você espera fazer com isso? Me matar? – Perguntou. - Onde está minha mãe? – Perguntou Marcelo ignorando a pergunta. - Não se preocupe, garoto, você a encontrará logo.
  • 15. 15 Marcelo sentiu como se alguém o tivesse enfiado a mão em seu peito e arrancado o seu coração, seus olhos ardiam em lagrimas. - Onde está a minha mãe?! – Ele gritou. – Você matou... – Marcelo não conseguiu terminar a frase era doloroso demais. - O que você acha, gênio? Então Marcelo foi tomado por uma repentina raiva, com a faca em punhos, correu para cima do sujeito, o qual rapidamente dominou-o e o jogou contra a parede do corredor, Marcelo estava totalmente imobilizado. O homem girou o seu corpo e jogou Marcelo em cima da mesa de centro, quebrando-a com a força do impacto. Marcelo sentiu uma tremenda dor em todo seu torso, tentou levantar-se, mas o homem chutou-o no peito o obrigando a deitar-se novamente. O sujeito ajoelhou-se ao lado de Marcelo e ergueu o punhal, já pronto para dar o golpe final. O garoto mais uma vez fechou os olhos esperando pelo pior e então ouviu o familiar som do seu molho chaves, abriu imediatamente os olhos e viu suas chaves acertando em cheio a mão do sujeito, jogando longe o punhal. Assim como o homem, Marcelo também foi pego de surpresa, ambos olharam quem era o herói misterioso e ambos viram Daniel Gliviot. Dan rapidamente pegou um lápis perdido em cima da bancada e jogou contra o rosto do homem, o apanhando antes do objeto furar o seu olho. O sujeito esqueceu Marcelo completamente e partiu para cima de Daniel, ainda com o lápis na mão. O sujeito tentou um movimento, mas Daniel o bloqueou usando o cotovelo esquerdo e com o direito acertou um forte golpe no diafragma do oponente, fazendo-o cambalear em direção a janela, fez um ataque simultâneo, usando as duas mãos em formato de concha, para dar um tapa nos ouvidos do adversário, deixando-o confuso a ponto de fazê-lo largar o lápis. Com um rápido golpe na traqueia, o fez cambalear ainda mais, tentando mais um soco circular em seguida, com Dan desviando, para em seguida acertar um golpe na mandíbula do oponente, deslocando-a e deixando-o desiquilibrado. Daniel por fim deu um chute no plexo solar, fazendo o homem atravessar a janela e despencar vários andares. Marcelo ainda estava deitado no chão, apoiado nos seus cotovelos, resolvendo levantar-se, e só tinha uma coisa em mente, cambaleante andou até o quarto de sua mãe, quanto mais perto chegava, mais rápido o seu coração batia. - Marcelo aonde você vai? – Perguntou Daniel. Marcelo não respondera, apenas abriu a porta do quarto de sua mãe e caiu de joelhos no chão, sentindo como se todo o seu corpo tivesse ficado dormente, a sua respiração ficou mais pesada e as lágrimas escorriam dos seus olhos. Marcelo nem notou Daniel até ele perguntar: - O que aconteceu aqui? - Eu não sei. – Disse Marcelo pondo as mãos na cabeça, na tentativa de pôr seus pensamentos em ordem. – Quando eu cheguei ele estava aqui e ela... – O garoto deu um soco no chão. - Isso é minha culpa. - O que? Isso não é sua culpa. Por que você diz isso? - Se eu tivesse acreditado em você, talvez ela...
  • 16. 16 - Me desculpe Marcelo, mas você não poderia ter feito nada. Isso que aconteceu aqui é culpa daquele cara e não sua. Ambos ficaram quietos por um tempo. - Nós temos que ir. - disse Daniel. - Para onde? - Para um lugar seguro. – Respondeu. – Eu vou chamar uma equipe para nos transportar, eles devem chegar em uma hora. - O que? – Perguntou confuso. - Quanto tempo você acha que vai levar para que enviem o próximo? – Perguntou ele. – Nós não podemos ficar aqui. - Se você realmente acredita que eu vou deixar a minha mãe aqui, então... – disse Marcelo levantando-se. – Você não me conhece. - Marcelo o que você pensa que a sua mãe iria querer? Que você ficasse aqui com ela ou que você ficasse seguro? O garoto sabia que o amigo tinha razão, mas só a ideia de deixar sua mãe ali, o dava vontade de chorar. - Marcelo, não há nada que você possa fazer por ela agora. – Disse Daniel. Marcelo então se deu conta de uma coisa: - Eu preciso do meu telefone. – Disse Marcelo já indo procura-lo. Mas Dan o impediu e lhe entregou para Marcelo. - Como? – Perguntou Marcelo. - Você o esqueceu no meu carro, por isso eu vim lhe devolver e aí eu encontrei você o psicopata ali. – Disse ele. –Porque você quer ele? - Victoria. – Disse ele. – Ela vem no natal, ela precisa saber que a mãe morreu. - Eu ligo para o pai dela assim que tivermos te posto em segurança. – Disse ele tomando o telefone de volta. - Agora vá arrumar suas coisas. E assim o fez. Durante a hora seguinte, Marcelo pareceu estar em alguma espécie de transe e com a ajuda de Dan, empacotou tudo o que precisava. Ao fechar a uma hora, Daniel disse que eles demorariam mais trinta minutos, pois alguém havia sido sequestrado ou algo do tipo. Marcelo não prestou atenção nas palavras do amigo. Assim que a equipe chegou, os dois saíram do apartamento e se dirigiram para o carro, uma SUV preta com os vidros da mesma cor, Marcelo não demorou muito para adormecer enquanto usava sua mochila como travesseiro.