O documento discute a conceituação de jornalismo investigativo, afirmando que não pode ser tratado de forma maniqueísta e que vai além de apenas noticiar fatos, procurando revelar o que é ocultado da sociedade através de profunda pesquisa.
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
Aula 1 conceituação e origens do jornalismo investigativo
1. AULA 1 – CONCEITUAÇÃO DE JORNALISMO INVESTIGATIVO
Muito se discute sobre a conceituação desse tipo de jornalismo específico. Para alguns mais
radicais, todo o jornalismo é investigativo, e se não é investigativo não é jornalismo. No entanto,
a questão não pode ser tratada com tal maniqueísmo. Vejamos por exemplo a notícia sobre o
rendimento diário da caderneta de poupança. É uma informação de utilidade pública. Logo, é
jornalismo. No entanto, não é necessário o jornalista fazer um grande esforço de reportagem
para obter o rendimento da caderneta de poupança dia a dia. Basta consultar uma tabela
fornecida pelo Banco Central.
O Jornalismo Investigativo que vamos ver aqui é algo mais profundo, ligado com o processo de
profunda pesquisa, apuração dos fatos, cruzamento de dados. Você vai perceber ao longo da
disciplina que o objetivo do jornalista investigativo é revelar algo que quer ser ocultado da
sociedade. Essa é a orientação conceitual que utilizaremos em nosso curso.
Esse tipo de jornalismo vai além. Procura sempre mais e não se contenta com o factual. É um
tipo de jornalismo importantíssimo na fiscalização da sociedade, e em muitos momentos,
indispensável para o funcionamento de uma sociedade democrática. Exemplos não nos faltam:
as matérias que divulgavam os escândalos da ditadura, com relação a tortura e corrupção; o
Caso Collor, que culminou com o pedido de impeachment contra o ex-presidente e sua renúncia;
a renúncia do presidente Nixon, no famoso Caso Watergate, e por aí vai.
Portanto, pelo menos em nosso estudo vamos utilizar uma abordagem que difere sim o
jornalismo convencional do Jornalismo Investigativo. Para o bem do próprio jornalismo.
Para fixar este começo de aprendizado, propomos uma reflexão sobre a seguinte questão:
Questão:
Todo jornalismo é investigativo? O Jornalismo de Variedades, por exemplo, é
investigativo?
PADRÃO DE RESPOSTA: Como visto nesta pequena introdução, não podemos considerar
todo o jornalismo investigativo. O exemplo da importância da variação do índice da caderneta
de poupança ilustra a questão proposta. Ainda sobre o tema, também não podemos
considerar o jornalismo de variedades como investigativo. Nem por isso, atualmente, podemos
considerar que o jornalismo de celebridades, a vida dos artistas, por exemplo, deixa de ser
jornalismo, já que existe um público cativo por esse tipo de informação.
2. JORNALISMO INVESTIGATIVO: ORIGENS
O jornalismo investigativo tem suas origens nos Estados Unidos, no período imediatamente
posterior ao término da II Guerra Mundial, e em especial, entre os anos de 1955 e 1974.
Os jornalistas passaram a exercer uma postura crítica em relação ao governo dos Estados
Unidos, em conseqüência da participação desastrosa dos norte-americanos na Guerra do Vietnã
(1959-1975). A imprensa, de um modo geral, passou a revelar em que condições os soldados
norte-americanos deixavam suas famílias para guerrear do outro lado do mundo numa combate
suicida.
As reportagens dessa época foram veiculadas principalmente nas revistas Life e Look.
Um fato, porém, marcou o uso da expressão “Jornalismo Investigativo”, o chamado Caso
Watergate. A celebrada investigação de Carl Bernstein e Bob Woodward, do Washington Post,
culminou com o pedido de renúncia do então presidente Richard Nixon, em 9 de agosto de 1974.
(O episódio do Caso Watergate será estudado detalhadamente no Módulo 2).
O Caso Watergate criou um precedente ao demonstrar a importância de alguns princípios do
jornalismo:
- não se ater a uma única fonte
- não se contentar com o jornalismo “chapa branca”
- questionar informações oficiais
O caso repercutiu no cenário mundial jornalístico, influenciando repórteres no mundo todo.
Questão:
Qual a contribuição maior do Caso Watergate ao jornalismo?
PADRÃO DE RESPOSTA: O Caso Watergate mostrou a necessidade de não se confiar
piamente nas informações divulgadas pelo governo e revelou a necessidade do cruzamento
de fontes para a confirmação de informações.
JORNALISMO INVESTIGATIVO NO BRASIL
Em primeiro lugar, devemos observar alguns antecedentes na trajetória do Jornalismo
Investigativo no Brasil:
3. Antecedentes:
Euclides da Cunha – Os Sertões (1902) – Guerra de Canudos (1893-1897)
Coberturas jornalísticas na II Guerra Mundial (Joel Silveira e Rubem Braga)
1972 – estoura o Caso Watergate nos EUA
(contexto brasileiro: a imprensa vive sob a dura censura do general Emílio Garrastazu Médici)
1974 – assume o poder o general Ernesto Geisel
morte do operário Manuel Fiel Filho
morte do jornalista Vladimir Herzog
aceleração do processo de abertura política (lenta, gradual e segura)
Podemos observar o marco deixado na história do jornalismo brasileiro por Euclides da Cunha
ao retratar a Guerra de Canudos, na obra Os Sertões. Não se trata evidentemente de uma obra
de Jornalismo Investigativo, já que esse termo, como visto na aula anterior, passou a ser moldado
a partir do caso Watergate. No entanto é um registro interessante de jornalismo em profundidade
feito ainda no começo do século passado.
É digna de registro também a participação dos jornalistas brasileiros durante a II Guerra Mundial,
Joel Silveira e Rubem Braga.
Em seguida, no quadro acima, é destacado o Caso Watergate, o verdadeiro marco no Jornalismo
Investigativo
O Brasil, no início dos anos 1970, vivia os anos difíceis da ditadura militar. A presidência era
ocupada pelo general Ernesto Geisel, que sucedia o general Emílio Garrastazu Médici, que ficou
conhecido pelo bordão “Brasil, ame-o, ou deixe-o”. A imprensa vivia os duros anos da censura
prévia, que se estendeu até o ano de 1975. Nesse período, qualquer reportagem um pouco mais
aprofundada significava perigo para o autor e o veículo que a publicasse.
Como marcas do jornalismo investigativo no país temos a célebre reportagem de Ricardo
Kotscho intitulada “Assim vivem os nossos superfuncionários”, que abalou a vida política
brasileira ao desvendar as regalias de ministros e funcionários do alto escalão do governo.
A repercussão da reportagem foi imediata, tanto que Kotscho foi aconselhado a deixar o país
por medidas de segurança.
Anos mais tarde, a imprensa brasileira voltaria a noticiar os escândalos da ditadura militar com
a reportagem “Descendo aos Porões”, de Antonio Carlos Fon, publicada na Veja, em que o autor
revelava os bastidores da tortura no país.
O jornalismo como um todo voltou a ter papel atuante principalmente no processo de
redemocratização no país, em especial, na campanha das Diretas-Já (1984), e acentuadamente
4. em 1992, no processo que culminou com a renúncia do presidente Collor, a partir de uma série
de denúncias efetuadas por Pedro Collor na revista Veja.
Questão:
Euclides da Cunha pode ser considerado um jornalista investigativo?
PADRÃO DE RESPOSTA: Não. O termo nem existia à época de Euclides da Cunha. O seu
trabalho, no entanto, é tido como um marco no jornalismo brasileiro dada a profundidade da
reportagem e qualidade textual.