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RESPOSTAS
PARA PERGUNTAS
FREQUENTES
NA ÁREA DE
Fonoaudiologia
Educacional
nas próximas páginas, as principais dúvidas que as pessoas têm
sobre fonoaudiologia educacional >
A comunicação humana é um elemento indispen-
sável para que haja um bom desenvolvimento e
aprendizado. O fonoaudiólogo é o profissional que
possui formação técnica e científica, além da habi-
litação legal (Lei 6.965/1981), para cuidar de todos
os aspectos relacionados à comunicação humana.
Fonoaudiologia educacional é uma das áreas de es-
pecialização reconhecida pelo Conselho Federal de
Fonoaudiologia (Resolução 382/2010).
Inserido no contexto educacional, o fonoaudiólogo
assume o papel de educador e passa a ser corres-
ponsável, junto com os demais profissionais que de-
vem compor a equipe multidisciplinar educacional,
pelo êxito no processo de ensino-aprendizagem,
promovendo o pleno desenvolvimento das poten-
cialidades comunicativas, cognitivas, afetivo-emo-
cionais e sociais dos estudantes.
Estudos mostram que o Brasil tem um dos piores in-
dicadores em educação. Dentre outros fatores, des-
taca-se um número significativo de crianças e jovens
que não conseguem ser alfabetizados em virtude de
problemas relacionados à comunicação ou por não
se adaptarem à proposta pedagógica. Muitos des-
ses problemas podem ser facilmente resolvidos na
própria escola se a equipe educacional estiver de-
vidamente formada e instrumentalizada. Assim, a
atuação do fonoaudiólogo educacional será deter-
minante para promover a aprendizagem e prevenir
boa parte dos problemas que podem afetá-la.
O Fonoaudiólogo Educacional pode
colaborar em quais níveis ou moda-
lidades de ensino? Como a comunica-
ção possui estreita relação com a capacida-
de que os indivíduos, em qualquer fase do
desenvolvimento, têm para aprender, ela
será necessária em qualquer situação de
ensino-aprendizagem.Portanto,ofonoaudi-
ólogoeducacionalpodecolaboraremtodos
os níveis ou modalidades de ensino.
Entretanto, dada a importância que as “pri-
meirasaprendizagens”,comoaalfabetização,
assumem para as “futuras aprendizagens” da
criança, pois uma criança que não estiver
bem alfabetizada terá dificuldades em todas
as disciplinas do currículo escolar, o traba-
lho do fonoaudiólogo educacional torna-se
decisivo na educação infantil, na educação
especialenoensinofundamental.
De que forma o Fonoaudiólogo Edu-
cacional pode colaborar com os
TEMAS DO COTIDIANO ESCOLAR? Inseri-
do no contexto educacional, o fonoaudió-
logo assume o papel de educador, sendo
um importante especialista para discutir
temas e dúvidas como as que serão apre-
sentadas a seguir.
Toda criança que não aprende tem
algum problema? Infelizmente, dentro
de nossa cultura educacional, a criança que
tem dificuldades para aprender sempre é
vista como tendo algum problema em nível
individual, como se ela sempre fosse a cul-
pada pelas limitações que possa apresentar.
Porém, esta crença não corresponde à ver-
dade.Estima-sequeapenascercade10%das
criançaspossamteralgumtipodeproblema
intrínseco,quepossaprejudicaraaprendiza-
gem, como nos casos, por exemplo, de disle-
xia, discalculia, deficiência mental ou autis-
O trabalho do Fonoaudiólogo na
educação é coisa recente? Não, ape-
sar de ser reconhecida como especialidade
hápoucotempo,aFonoaudiologianoBrasil
surgiu para ajudar professores a solucio-
nar problemas de crianças que não apren-
diam, por possuírem alguma dificuldade
de comunicação. Portanto, Fonoaudiologia
e Educação têm uma relação colaborativa
bastante antiga.
mo. Na realidade, a maior parte das crianças
que estão com dificuldades de aprendiza-
gem podem estar refletindo problemas de
outra natureza, como limitações nas oportu-
nidadesparaaprender,déficitspedagógicos
ou metodológicos, problemas de natureza
socioeconômica e assim por diante. É im-
portante saber distinguir os verdadeiros e
os falsos problemas de aprendizagem, uma
vez que eles podem se manifestar de modos
semelhantes.O fonoaudiólogoeducacional,
juntamente com a equipe educacional, cola-
bora com a identificação precoce dos verda-
deiros problemas de aprendizagem.
Qual o melhor método de alfabeti-
zação? Crianças sem dificuldades mais
significativas, que tenham demonstrado
um bom desenvolvimento geral, e em es-
pecial de linguagem oral, que tenham tido
muita oportunidade de conviver com pes-
soas que leem e escrevem, que estão habi-
tuadas com leituras dirigidas para elas, e
outras situações bastante favoráveis, não
apresentam, de modo geral, problemas
paraseremalfabetizadas,qualquerqueseja
o método. Por outro lado, crianças com di-
ficuldades e ou com falta de oportunidades
para vivenciar situações ricas de interação
com a leitura e a escrita, serão desafiadoras
para a maior parte dos métodos e para os
professores que os aplicam. Porém, consi-
derando a natureza alfabética de nossa es-
crita, que tem como base uma forte relação
entre a fala e a escrita, mais especificamen-
te entre os sons da fala e as letras usadas
para escrever, os métodos ou abordagens
fônicas têm se mostrado bastante efetivos
para diminuir dificuldades na alfabetiza-
ção e garantir progressos mais consisten-
tes no processo de alfabetização.
Comodesenvolverogostopelaleitu-
ra? Encontramos crianças que “adoram” ler
e,poroutroladoumnúmerograndedeoutras
que“detestam”ler.Umdosfatoresfundamen-
tais nesses tipos de sentimentos diz respeito
às experiências que cada criança teve ao lon-
go de sua vida. Aquelas crianças que, desde
pequenas, vivem com adultos que leem para
elas, que as encantam com os contos e histó-
rias que os livros trazem, assim como estimu-
lam sua imaginação e criatividade através
das leituras, são privilegiadas. O adulto que
lê com prazer para levar também prazer até
a criança lança mão de uma fórmula bastan-
te eficaz para desenvolver o gosto pela leitu-
ra. Leiam bastante para os pequenos, desde
muito cedo. Permita que eles descubram os
encantos das palavras que estão nos textos.
Mas muito cuidado: não façam destes mo-
mentosdeintensatrocaafetivaentrepessoas
e livros, uma atividade pedagógica, professo-
ral, na qual a criança, obrigatoriamente tem
queaprenderumaporçãodecoisas.
É possível identificar possíveis pro-
blemas de aprendizagem quando a
criança é ainda pequena? A identifica-
ção de problemas está diretamente ligada
ao grau de dificuldades que a criança apre-
senta. Algumas são evidentes desde o de-
senvolvimento de bebê, como é o caso dos
atrasos na evolução neuropsicomotora. Ou-
tras alterações podem ser mais sutis e difí-
ceisdeseremidentificadasprontamente.De
qualquer modo, fiquem sempre atentos ao
desenvolvimento,principalmentedalingua-
gemdacriança.Atrasosnoaparecimentoda
linguagemfalada,dificuldadesparaadquirir
vocabulário, dificuldades para formar frases
de acordo com o esperado para a idade, di-
ficuldades com a fala (omissões e trocas de
fonemas), limitações na compreensão da
linguagem oral, dificuldades para dialogar,
para iniciar interações, para responder para
os outros, dificuldades para acompanhar as
atividades típicas da idade e dificuldades
para relacionar-se e brincar, podem ser in-
dicativos de problemas de aprendizagem e
desenvolvimento. Sempre que houver uma
suspeita de problemas de comunicação, o
fonoaudiólogo deve ser procurado.
Problemas de linguagem oral podem
prejudicar o aprendizado da escri-
ta? Crianças que apresentam uma histó-
ria de problemas na linguagem oral, como
atrasos, dificuldades de compreensão, de
expressão das ideias e também de fala, ten-
dem em geral, a projetar tais dificuldades
no aprendizado da leitura e da escrita, o que
pode prejudicar o processo de decodifica-
çãoecompreensãoleitora,deelaboraçãode
textos e também da ortografia. Dai a impor-
tância de se detectar, o mais cedo possível,
crianças que apresentam tais dificuldades
para que possam ser devidamente atendi-
das em suas necessidades educacionais e
de acompanhamento fonoaudiológico.
A criança que espelha letras tem
problemas de lateralidade ou de do-
minância cerebral? Tal preocupação
não procede. Espelhar letras é muito co-
mum nas crianças pequenas, principalmen-
te quando começam a desenhar letras com
maisprecisão.Estecomportamentoénormal
e, em geral, rapidamente tende a desapare-
cerquandoacriançacomeçaacompreender
que, no caso da escrita, a posição e a direção
do traçado das letras é importante e conven-
cional.Emoutrassituaçõesdavidaacriança
para desenhar uma avião, por exemplo, não
temquesepreocuparseobicoestáparaadi-
reita, para a esquerda, para cima ou para bai-
xo. Na vida real, ela aprendeu que a posição
dos objetos não muda a identidade deles. É
esse conhecimento que ela traz para o mun-
do da escrita. Porém, quando descobre que a
posição das letras pode determinar sua iden-
tidade, assim como quando a criança apren-
dequedeveescrevercomeçandopróximoda
margem esquerda e direcionar a escrito para
a direita, tais espelhamentos começam a de-
saparecer. Poucas crianças manifestarão tal
dificuldadedemodomaispersistente.
Qualaidadecertaparaalfabetizar?
Aprender a ler e escrever é uma aquisição
cultural, o que significa que não há uma ida-
de pré-determinada para que isso ocorra. A
aprendizagem da linguagem escrita depen-
de fortemente de fatores familiares, socio-
culturaisede oportunidades.Poresta razão,
criançasquenascemecrescememambien-
tes letrados, que vivem situações sistemá-
ticas de interação com pessoas que leem
e escrevem, que experimentam situações
envolvendo leitura e escrita voltadas para
elas,quetêmoportunidadedefrequentaras
séries da educação infantil, e quando estão
muito motivadas, podem aprender a ler e
escrever antes do início formal da alfabeti-
zação, por volta dos 6 ou 7 anos. Porém, isto
não é regra geral e uma minoria de crian-
ças, em nosso meio, está apta a começar um
processo de alfabetização antes dos 6 anos,
mesmo quando condições favoráveis estão
presentes. Forçar a alfabetização precoce-
mente, como muitas vezes ocorre, pode ter
o efeito contrário ao desejado, criando trau-
mas, ansiedade e angústia nas crianças em
relaçãoàaprendizagemdaleituraedaescri-
ta.Omaisimportante,naetapadaeducação
infantil é garantir um bom desenvolvimen-
togeraldascriançase,emparticular,desuas
habilidades comunicativas gerais.
Qual letra deve ser usada na alfa-
betização? A letra chamada “bastão”,
de “imprensa” ou de “forma” maiúscula, é
a mais apropriada por ser o tipo mais fre-
quentemente encontrado nos escritos em
geral e também pela facilidade de seu tra-
çado. As crianças devem aprender a traçar
as letras maiúsculas e também a reconhe-
cer as correspondentes minúsculas, o que
lhes permitirá ler textos, como livros, pois
eles vêm impressos com letras de impren-
sa maiúsculas e minúsculas. Na medida
em que a criança comece a dominar com
segurança o processo de alfabetização, a
letra cursiva pode ser progressivamente in-
troduzidaumavezqueéamaiscomumente
usada para a escrita manual.
Devemos corrigir os erros de escri-
ta ou esperar que as crianças cons-
truamashipótesesortográficases-
pontaneamente? Os erros ortográficos
devem ser sistemática e adequadamente
trabalhados durante todo o processo esco-
lar uma vez que o risco de errar está sempre
presente, mesmo em pessoas que têm bom
domínio da linguagem escrita. Aguardar
queacriança,porcontaprópria,construaas
hipóteses ortográficas corretas tem se mos-
trado uma medida com resultados desfavo-
ráveis, manifestados no grande número de
erros que alunos, já em séries mais avança-
das, ainda cometem quando escrevem.
Nossafamíliaébrasileiraemeufilho
estuda em escola bilíngue. Em casa
falamos português. Em que língua
ele deve ser alfabetizado primeiro?
Para as crianças que aprendem uma segun-
dalínguasomentenaescola,temsemostra-
do mais conveniente alfabetizar primeira-
mente na língua materna, em nosso caso o
português. Deve-se considerar que esta é a
língua que a criança mais conhece e usa, o
que lhe dará maior segurança e facilidade.
Uma vez dominado e sistematizado o prin-
cípio alfabético na língua materna, pode ser
iniciado o processo de alfabetização na se-
gunda língua.
Quem lê bastante escreve bem: falso
ou verdadeiro? Seria muito bom se so-
mente a prática constante da leitura fosse
suficiente para levar as crianças a dominar
a ortografia em toda a sua complexidade.
Curiosamente, muitas crianças que são lei-
toras ativas, apesar de toda a destreza que
mostramnessaatividade,nahoraemquevão
escrever cometem muitos erros. A principal
razãoparaestefatoéquequemlêestáfunda-
mentalmente preocupado em compreender
osignificadodotextoenãoemanalisarcomo
as palavras estão escritas. Isso significa que
bons leitores nem sempre dão atenção a de-
talhesortográficos.Nãohádúvidaquantoao
fatodequelerbastantepodeajudarnodomí-
nio da escrita, o que não dispensa um cuida-
do especial em preparar atividades especial-
mente voltadas para o ensino da ortografia,
diretamenteaplicadasaoatodeescrever.
Possodeixaracriançaficarpronun-
ciado os sons das palavras enquan-
to escreve ou ela tem que aprender
a escrever sem falar? Os sistemas de
escrita alfabéticos envolvem relações entre
letras e sons da fala. Em razão de tal associa-
ção, é muito comum que as crianças anali-
sem a pronúncia das palavras, articulando
sílaba por sílaba, lentamente, para poderem
identificar os sons presentes na fala e daí de-
cidir as letras que devem usar para escrever.
Essa é uma estratégia bastante natural e útil
para as crianças que estão iniciando uma
Quemdevefazerascorreçõesdoser-
ros das crianças? O professor ou os
pais? O objetivo de corrigir os erros que as
criançasfazemquandoescrevemébastante
claro: levá-las a aprimorar a arte de escrever
bem. Porém, a forma geralmente adotada
pelos adultos, quer sejam os pais ou profes-
sores, dificilmente leva aos resultados dese-
jados. Nesta dinâmica, a criança escreve e
alguém corrige, apontando os erros encon-
etapa alfabética. Dependendo do método
de alfabetização, elas podem até mesmo ser
incentivadas pela professora a usar tal pro-
cedimento. Na medida em que as crianças
avançam na alfabetização, essa estratégia
tende a diminuir gradativamente, tornando-
-se cada vez mais rara sua ocorrência.
trados e, raramente, conseguindo explicar o
porquêdosmesmos. Narealidade,aprópria
criançadeveaprenderasecorrigir.Escrever
bem não significa escrever sem errar. Todos
cometem erros ao escrever, porém, aqueles
que aprendem a monitorar ou controlar a
própriaescrita,sendocapazesdeidentificar
aspectos ortográficos ou gramaticais que
podem gerar erros, são os que mais bem es-
crevem. Portanto, mais do que corrigir pela
criança, todos devem educá-la no sentido
de que ela mesma desenvolva esse tipo de
procedimento, de controle contínuo e aten-
do da produção escrita.
O que é o método fônico? O método
ou abordagem fônica corresponde a um
conjunto de procedimentos que têm como
objetivo levar as crianças a compreender a
natureza da escrita alfabética, mais precisa-
mente que existem relações entre sons da
fala, por um lado, e as letras corresponden-
tes a tais sons, por outro. Em geral, as crian-
ças são levadas a descobrir que as palavras
faladas podem ser divididas em sílabas e
que, dentro das sílabas existem unidades
menores de sons, que são os chamados fo-
nemas. Por exemplo, na palavra “barato”,
temos os fonemas “b - a - r - a - t - o”, que po-
dem ser pronunciados um a um. A criança
deve aprender a relacionar tais sons com as
letras que podem representá-los na escrita.
Podemos comparar a um jogo de quebra-
-cabeças: a criança deve aprender a des-
montar as palavras, passando pelas sílabas
até chegar aos fonemas, assim como deve
aprender a montá-las fundindo os fonemas
em sílabas e as sílabas em palavras. Dessa
forma, quando vai ler uma palavra, as crian-
ças transformam progressivamente letras
nos sons correspondentes até formar uma
palavra falada. Contrariamente, quando es-
crevem, as crianças devem pensar nos sons
queapalavrafaladapossuiedaidecidirqual
a letra que usarão para representá-los.
Como o fonoaudiólogo educa-
cional pode ajudar a lidar com
os TRANSTORNOS ou DISTÚRBIOS DE
APRENDIZAGEM? O fonoaudiólogo edu-
cacional é um dos principais especialistas
para orientar, junto com a equipe educa-
cional, professores e familiares de crianças
com transtornos de aprendizagem, inclusi-
ve acompanhando o andamento dos trata-
mentos realizados fora da escola (quando
indicados). A seguir são apresentadas al-
gumas dúvidas comuns sobre os transtor-
nos de aprendizagem.
O que é a dislexia? A dislexia é um dis-
túrbio específico da linguagem escrita, ca-
racterizada por dificuldades persistentes na
decodificaçãoleitora,istoé,naidentificação
Dislexia tem cura? As dificuldades que
caracterizam a dislexia tendem a ser persis-
tentes e a acompanhar as pessoas durante
toda a vida. Quando devidamente assisti-
dos, o que inclui abordagens pedagógicas
apropriadas, os disléxicos podem apresen-
tar grandes avanços e superar muitas das
limitações inicialmente presentes. Porém,
em situações de alta demanda, como no
caso da leitura de textos com vocabulário
menos conhecido, estresse ou cansaço, al-
gumas dificuldades podem se manifestar
de modo mais visível.
Como a dislexia se manifesta? As
dificuldades que caracterizam a dislexia
se evidenciam, mais nitidamente, quan-
do tem início a alfabetização. A criança
tem limitações para identificar os sons
que compõem as palavras faladas e para
compreender as associações entre letras
e sons, o que provoca as dificuldades em
termos de reconhecimento das palavras
edecompreensãodostextoslidos.Oser-
ros de escrita, que podem envolver des-
de dificuldades em compreender como
se escrevem as palavras até omissões e
substituições mais pontuais de letras
também são muito comuns.
ou reconhecimento das palavras impressas
durante a leitura e também pela presença
deumgrandenúmerodeerrosortográficos.
A dislexia pode estar presente em crianças
inteligentes e saudáveis, com boas oportu-
nidades pedagógicas e socioculturais, sem
déficitssensoriaisouemocionais.Apesarde
todas essas condições favoráveis para uma
boa aprendizagem, o disléxico evidencia
uma dificuldade significativa, constante e
acima daquilo que é esperado para apren-
der a ler e escrever.
É o professor quem deve dar o diag-
nóstico de problemas de aprendiza-
gem, identificando qual o tipo de
transtorno, como no caso da disle-
xia? Os professores não foram preparados
para fazer diagnósticos. Tampouco esse é
um papel que lhes deva ser atribuído. Cabe
aos professores o compromisso de ensinar
e de procurar metodologias adequadas
também para aqueles que têm problemas
para aprender. O professor deve estar aten-
to e começar a fazer uma observação mais
sistemática para identificar os alunos que
estão dando sinais de possíveis problemas
para aprender. Dai deve ajudá-los em sala
Oqueédisgrafia?Alémdesabercomoas
palavras devem ser escritas, as letras devem
ser bem traçadas, bem desenhadas, seguin-
do os padrões convencionais que permitam
sua identificação por qualquer pessoa. A
disgrafia diz respeito a dificuldades ou limi-
tações quanto ao traçado das letras, fazen-
do com o que as mesmas sejam irregulares,
distorcidas, incompletas ou não proporcio-
nais. Este tipo de problema, comumente
conhecido como “letra feia” pode, nos casos
mais severos, tornar o escrito irreconhecí-
vel, dificultando a compreensão de quem lê.
A disgrafia pode ser devida a dificuldades
motoraseouvisuais/espaciaisedeveserdi-
ferenciada da letra com traçado displicente,
sem cuidados por parte de quem escreve.
de aula, com todos os recursos possíveis.
No caso de persistirem as dificuldades, a
criança deve ser encaminhada para um
diagnóstico, preferencialmente de cará-
ter multidisciplinar. Cabe a um conjunto
de profissionais, como o fonoaudiólogo, o
médico, o psicólogo e o psicopedagogo, re-
alizar uma avaliação ampla, buscar o diag-
nóstico e indicar o tipo de intervenção a ser
feita, quando ela se faz necessária.
O que é desordem do processamen-
to auditivo (DPA)? Também conhecido
como transtorno, distúrbio ou alteração do
processamento auditivo, a DPA é caracteri-
zadaporumadificuldadedeprestaratenção
e sintetizar informações auditivas (como
seguir instruções verbais, recontar histó-
rias, etc.), dificuldades em manter o foco de
atenção em um estímulo auditivo em am-
bientes ruidosos (como prestar atenção ao
professor em uma sala de aula barulhenta),
gerando comportamentos agitados, distra-
ídos ou mesmo inibidos. Tais dificuldades
frequentemente estão associadas a proble-
mas de aprendizagem.
O que é a disortografia? Todas as lín-
guas determinam a forma como as palavras
devem ser escritas. No português, por exem-
plo, temos que escrever “gelo” com a letra “g”
enãocom“j”,nãopodemosescrever“cabeça”
com“ss”,secolocarmosaletra“s”entrevogais
(como em “casa”), o som desta letra será /z/ e
não /s/ (como no caso de “semana). Existem
regrasquedeterminamomodoconvencional
de escrita das palavras. Espera-se que, com
a prática progressiva da escrita, as crianças
dominem, cada vez com mais segurança e
precisão, a ortografia ou modo correto de se
grafar as palavras. Porém, algumas crianças
terãoumadificuldadeacimadamédiaparatal
aprendizagem e produzirão, em seus escritos,
errossistemáticoseduradourosdeortografia,
exibindo um padrão de alterações não mais
esperadoparaseugraudeescolaridade,oque
podeviracaracterizaradisortografia.
Comoofonoaudiólogoeducacional
pode colaborar na educação espe-
cial inclusiva? O fonoaudiólogo educa-
cional,naredepúblicadeensino,deveorien-
tarosprofessoresespecialistas,querealizam
o Atendimento Educacional Especializado
(AEE) na Sala de Recursos Multifuncionais
(SRMF), no atendimento às crianças com
necessidades educacionais especiais, bem
como suas famílias. Essa orientação consis-
te no auxílio ao trabalho pedagógico do pro-
fessor na elaboração, execução e avaliação
de um plano de atendimento educacional
especializado parao aluno.Nãosetrata,por-
tanto, de um trabalho clínico. O fonoaudió-
logopode,dentreoutrosaspectos,orientaro
professorsobreosaspectosconceituaisrela-
cionados à aquisição e desenvolvimento da
linguagem, suas alterações, e apontar a im-
portância para o processo de aprendizagem
dos alunos. Ele pode auxiliar e beneficiar o
trabalho do professor ao mostrar a relevân-
cia do uso da comunicação alternativa para
uma criança com deficiência motora, inte-
lectual ou autista, por exemplo. A relevância
deseupapeltambémsedeveàsorientações
nasatividadesdevidadiária,comoaalimen-
tação. Durante a hora do lanche, o fonoaudi-
ólogo,poderáorientaraalimentaçãodeuma
criançacomparalisiacerebralqueapresente
problemas posturais e/ou dificuldades em
realizarasfunçõesorais,comoamastigação
e a deglutição, por exemplo.
Por que atendimentos clínicos não
podemserfeitosdentrodasescolas?
O fonoaudiólogo educacional, ao assumir o
papel de educador, pode desenvolver pro-
cedimentos para identificação de crianças
com problemas de aprendizagem, porém o
atendimento clínico deve ser realizado fora
da escola, junto aos serviços que a comu-
nidade dispõe no âmbito público (SUS) ou
privado. A escola é um espaço para apren-
dizagem e atividades em grupo, sendo um
importante instrumento para a inclusão so-
cial da criança. Atividades individualizadas,
se fossem realizadas na escola, privariam a
criançadeparticipardeoutrasatividadesdo
seu grupo, trazendo prejuízos emocionais e
cognitivos. Atendimentos clínicos, princi-
palmente dentro da educação regular, con-
trariam as diretrizes educacionais do Minis-
tériodaEducaçãoquenãoprevêestetipode
ação dentro das escolas, qualquer que seja
sua natureza. A legislação que regulamenta
a atuação do fonoaudiólogo, de acordo com
normas do Conselho Federal de Fonoaudio-
logia, também coíbe esse tipo de atuação.
O fonoaudiólogo pode atuar com
consultorias, planejamento e ges-
tão educacionais? Sim, independente-
mente de ser consultor ou gestor, o fono-
audiólogo deve conhecer os problemas da
escola (ou da rede), identificar prioridades
e propor alternativas viáveis, considerando
o contexto econômico e sociocultural da es-
cola e de sua clientela.
SBFa_gestão 2012-2013
Diretoria
Irene Queiroz Marchesan_presidente
Ana Cristina Cortês Gama_vice presidente
Lia Inês Marino Duarte_diretora secretária 1
Aline Epiphanio Wolf_diretora secretária 2
Ana Elisa Moreira-Ferreira_diretora tesoureira 1
Adriana Tessitore_diretora tesoureira 2
Marileda Cattelan Tomé_diretora científica 1
Hilton Justino_diretor científico 2
departamento de fonoaudiologia
educacional [membros]
Bianca Queiroga
Jaime Zorzi
ficha técnica
Departamento de Fonoaudiologia
Educacional_concepção e texto
Ana Cristina Gama, Aline Wolf e Lia Duarte _revisão
Luisa Furman_ilustrações
Lia Assumpção_design
outubro 2012
O fonoaudiólogo educacional pode
realizarumtrabalhovoltadoàsaú-
dedoprofessor?Sim,assumindoopapel
de agente de promoção de saúde o fonoau-
diólogo educacional poderá desenvolver
ações de aconselhamento e educação em
saúde para professores e demais profissio-
nais da equipe. Um exemplo claro tem sido
as estratégias de promoção da saúde vocal,
uma vez que a voz é o principal instrumento
de trabalho dos professores.
nãojogue
lixonarua
sociedade brasileira
de fonoaudiologia
Alameda Jaú, 684, 70
andar
São Paulo, SP, cep 01420 002
[11] 3873 4211
www.sbfa.org.br

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  • 1. RESPOSTAS PARA PERGUNTAS FREQUENTES NA ÁREA DE Fonoaudiologia Educacional
  • 2. nas próximas páginas, as principais dúvidas que as pessoas têm sobre fonoaudiologia educacional > A comunicação humana é um elemento indispen- sável para que haja um bom desenvolvimento e aprendizado. O fonoaudiólogo é o profissional que possui formação técnica e científica, além da habi- litação legal (Lei 6.965/1981), para cuidar de todos os aspectos relacionados à comunicação humana. Fonoaudiologia educacional é uma das áreas de es- pecialização reconhecida pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia (Resolução 382/2010). Inserido no contexto educacional, o fonoaudiólogo assume o papel de educador e passa a ser corres- ponsável, junto com os demais profissionais que de- vem compor a equipe multidisciplinar educacional, pelo êxito no processo de ensino-aprendizagem, promovendo o pleno desenvolvimento das poten- cialidades comunicativas, cognitivas, afetivo-emo- cionais e sociais dos estudantes. Estudos mostram que o Brasil tem um dos piores in- dicadores em educação. Dentre outros fatores, des- taca-se um número significativo de crianças e jovens que não conseguem ser alfabetizados em virtude de problemas relacionados à comunicação ou por não se adaptarem à proposta pedagógica. Muitos des- ses problemas podem ser facilmente resolvidos na própria escola se a equipe educacional estiver de- vidamente formada e instrumentalizada. Assim, a atuação do fonoaudiólogo educacional será deter- minante para promover a aprendizagem e prevenir boa parte dos problemas que podem afetá-la.
  • 3. O Fonoaudiólogo Educacional pode colaborar em quais níveis ou moda- lidades de ensino? Como a comunica- ção possui estreita relação com a capacida- de que os indivíduos, em qualquer fase do desenvolvimento, têm para aprender, ela será necessária em qualquer situação de ensino-aprendizagem.Portanto,ofonoaudi- ólogoeducacionalpodecolaboraremtodos os níveis ou modalidades de ensino. Entretanto, dada a importância que as “pri- meirasaprendizagens”,comoaalfabetização, assumem para as “futuras aprendizagens” da criança, pois uma criança que não estiver bem alfabetizada terá dificuldades em todas as disciplinas do currículo escolar, o traba- lho do fonoaudiólogo educacional torna-se decisivo na educação infantil, na educação especialenoensinofundamental. De que forma o Fonoaudiólogo Edu- cacional pode colaborar com os TEMAS DO COTIDIANO ESCOLAR? Inseri- do no contexto educacional, o fonoaudió- logo assume o papel de educador, sendo um importante especialista para discutir temas e dúvidas como as que serão apre- sentadas a seguir. Toda criança que não aprende tem algum problema? Infelizmente, dentro de nossa cultura educacional, a criança que tem dificuldades para aprender sempre é vista como tendo algum problema em nível individual, como se ela sempre fosse a cul- pada pelas limitações que possa apresentar. Porém, esta crença não corresponde à ver- dade.Estima-sequeapenascercade10%das criançaspossamteralgumtipodeproblema intrínseco,quepossaprejudicaraaprendiza- gem, como nos casos, por exemplo, de disle- xia, discalculia, deficiência mental ou autis- O trabalho do Fonoaudiólogo na educação é coisa recente? Não, ape- sar de ser reconhecida como especialidade hápoucotempo,aFonoaudiologianoBrasil surgiu para ajudar professores a solucio- nar problemas de crianças que não apren- diam, por possuírem alguma dificuldade de comunicação. Portanto, Fonoaudiologia e Educação têm uma relação colaborativa bastante antiga.
  • 4. mo. Na realidade, a maior parte das crianças que estão com dificuldades de aprendiza- gem podem estar refletindo problemas de outra natureza, como limitações nas oportu- nidadesparaaprender,déficitspedagógicos ou metodológicos, problemas de natureza socioeconômica e assim por diante. É im- portante saber distinguir os verdadeiros e os falsos problemas de aprendizagem, uma vez que eles podem se manifestar de modos semelhantes.O fonoaudiólogoeducacional, juntamente com a equipe educacional, cola- bora com a identificação precoce dos verda- deiros problemas de aprendizagem. Qual o melhor método de alfabeti- zação? Crianças sem dificuldades mais significativas, que tenham demonstrado um bom desenvolvimento geral, e em es- pecial de linguagem oral, que tenham tido muita oportunidade de conviver com pes- soas que leem e escrevem, que estão habi- tuadas com leituras dirigidas para elas, e outras situações bastante favoráveis, não apresentam, de modo geral, problemas paraseremalfabetizadas,qualquerqueseja o método. Por outro lado, crianças com di- ficuldades e ou com falta de oportunidades para vivenciar situações ricas de interação com a leitura e a escrita, serão desafiadoras para a maior parte dos métodos e para os professores que os aplicam. Porém, consi- derando a natureza alfabética de nossa es- crita, que tem como base uma forte relação entre a fala e a escrita, mais especificamen- te entre os sons da fala e as letras usadas para escrever, os métodos ou abordagens fônicas têm se mostrado bastante efetivos para diminuir dificuldades na alfabetiza- ção e garantir progressos mais consisten- tes no processo de alfabetização. Comodesenvolverogostopelaleitu- ra? Encontramos crianças que “adoram” ler e,poroutroladoumnúmerograndedeoutras que“detestam”ler.Umdosfatoresfundamen- tais nesses tipos de sentimentos diz respeito às experiências que cada criança teve ao lon- go de sua vida. Aquelas crianças que, desde
  • 5. pequenas, vivem com adultos que leem para elas, que as encantam com os contos e histó- rias que os livros trazem, assim como estimu- lam sua imaginação e criatividade através das leituras, são privilegiadas. O adulto que lê com prazer para levar também prazer até a criança lança mão de uma fórmula bastan- te eficaz para desenvolver o gosto pela leitu- ra. Leiam bastante para os pequenos, desde muito cedo. Permita que eles descubram os encantos das palavras que estão nos textos. Mas muito cuidado: não façam destes mo- mentosdeintensatrocaafetivaentrepessoas e livros, uma atividade pedagógica, professo- ral, na qual a criança, obrigatoriamente tem queaprenderumaporçãodecoisas. É possível identificar possíveis pro- blemas de aprendizagem quando a criança é ainda pequena? A identifica- ção de problemas está diretamente ligada ao grau de dificuldades que a criança apre- senta. Algumas são evidentes desde o de- senvolvimento de bebê, como é o caso dos atrasos na evolução neuropsicomotora. Ou- tras alterações podem ser mais sutis e difí- ceisdeseremidentificadasprontamente.De qualquer modo, fiquem sempre atentos ao desenvolvimento,principalmentedalingua- gemdacriança.Atrasosnoaparecimentoda linguagemfalada,dificuldadesparaadquirir vocabulário, dificuldades para formar frases de acordo com o esperado para a idade, di- ficuldades com a fala (omissões e trocas de fonemas), limitações na compreensão da linguagem oral, dificuldades para dialogar, para iniciar interações, para responder para os outros, dificuldades para acompanhar as atividades típicas da idade e dificuldades para relacionar-se e brincar, podem ser in- dicativos de problemas de aprendizagem e desenvolvimento. Sempre que houver uma suspeita de problemas de comunicação, o fonoaudiólogo deve ser procurado. Problemas de linguagem oral podem prejudicar o aprendizado da escri- ta? Crianças que apresentam uma histó- ria de problemas na linguagem oral, como atrasos, dificuldades de compreensão, de expressão das ideias e também de fala, ten- dem em geral, a projetar tais dificuldades no aprendizado da leitura e da escrita, o que pode prejudicar o processo de decodifica- çãoecompreensãoleitora,deelaboraçãode textos e também da ortografia. Dai a impor- tância de se detectar, o mais cedo possível, crianças que apresentam tais dificuldades para que possam ser devidamente atendi- das em suas necessidades educacionais e de acompanhamento fonoaudiológico.
  • 6. A criança que espelha letras tem problemas de lateralidade ou de do- minância cerebral? Tal preocupação não procede. Espelhar letras é muito co- mum nas crianças pequenas, principalmen- te quando começam a desenhar letras com maisprecisão.Estecomportamentoénormal e, em geral, rapidamente tende a desapare- cerquandoacriançacomeçaacompreender que, no caso da escrita, a posição e a direção do traçado das letras é importante e conven- cional.Emoutrassituaçõesdavidaacriança para desenhar uma avião, por exemplo, não temquesepreocuparseobicoestáparaadi- reita, para a esquerda, para cima ou para bai- xo. Na vida real, ela aprendeu que a posição dos objetos não muda a identidade deles. É esse conhecimento que ela traz para o mun- do da escrita. Porém, quando descobre que a posição das letras pode determinar sua iden- tidade, assim como quando a criança apren- dequedeveescrevercomeçandopróximoda margem esquerda e direcionar a escrito para a direita, tais espelhamentos começam a de- saparecer. Poucas crianças manifestarão tal dificuldadedemodomaispersistente. Qualaidadecertaparaalfabetizar? Aprender a ler e escrever é uma aquisição cultural, o que significa que não há uma ida- de pré-determinada para que isso ocorra. A aprendizagem da linguagem escrita depen- de fortemente de fatores familiares, socio- culturaisede oportunidades.Poresta razão, criançasquenascemecrescememambien- tes letrados, que vivem situações sistemá- ticas de interação com pessoas que leem e escrevem, que experimentam situações envolvendo leitura e escrita voltadas para elas,quetêmoportunidadedefrequentaras séries da educação infantil, e quando estão muito motivadas, podem aprender a ler e escrever antes do início formal da alfabeti- zação, por volta dos 6 ou 7 anos. Porém, isto não é regra geral e uma minoria de crian- ças, em nosso meio, está apta a começar um processo de alfabetização antes dos 6 anos, mesmo quando condições favoráveis estão presentes. Forçar a alfabetização precoce- mente, como muitas vezes ocorre, pode ter o efeito contrário ao desejado, criando trau- mas, ansiedade e angústia nas crianças em relaçãoàaprendizagemdaleituraedaescri- ta.Omaisimportante,naetapadaeducação infantil é garantir um bom desenvolvimen- togeraldascriançase,emparticular,desuas habilidades comunicativas gerais.
  • 7. Qual letra deve ser usada na alfa- betização? A letra chamada “bastão”, de “imprensa” ou de “forma” maiúscula, é a mais apropriada por ser o tipo mais fre- quentemente encontrado nos escritos em geral e também pela facilidade de seu tra- çado. As crianças devem aprender a traçar as letras maiúsculas e também a reconhe- cer as correspondentes minúsculas, o que lhes permitirá ler textos, como livros, pois eles vêm impressos com letras de impren- sa maiúsculas e minúsculas. Na medida em que a criança comece a dominar com segurança o processo de alfabetização, a letra cursiva pode ser progressivamente in- troduzidaumavezqueéamaiscomumente usada para a escrita manual. Devemos corrigir os erros de escri- ta ou esperar que as crianças cons- truamashipótesesortográficases- pontaneamente? Os erros ortográficos devem ser sistemática e adequadamente trabalhados durante todo o processo esco- lar uma vez que o risco de errar está sempre presente, mesmo em pessoas que têm bom domínio da linguagem escrita. Aguardar queacriança,porcontaprópria,construaas hipóteses ortográficas corretas tem se mos- trado uma medida com resultados desfavo- ráveis, manifestados no grande número de erros que alunos, já em séries mais avança- das, ainda cometem quando escrevem. Nossafamíliaébrasileiraemeufilho estuda em escola bilíngue. Em casa falamos português. Em que língua ele deve ser alfabetizado primeiro? Para as crianças que aprendem uma segun- dalínguasomentenaescola,temsemostra- do mais conveniente alfabetizar primeira- mente na língua materna, em nosso caso o português. Deve-se considerar que esta é a língua que a criança mais conhece e usa, o que lhe dará maior segurança e facilidade. Uma vez dominado e sistematizado o prin- cípio alfabético na língua materna, pode ser iniciado o processo de alfabetização na se- gunda língua. Quem lê bastante escreve bem: falso ou verdadeiro? Seria muito bom se so- mente a prática constante da leitura fosse suficiente para levar as crianças a dominar a ortografia em toda a sua complexidade. Curiosamente, muitas crianças que são lei- toras ativas, apesar de toda a destreza que mostramnessaatividade,nahoraemquevão escrever cometem muitos erros. A principal razãoparaestefatoéquequemlêestáfunda- mentalmente preocupado em compreender osignificadodotextoenãoemanalisarcomo as palavras estão escritas. Isso significa que bons leitores nem sempre dão atenção a de- talhesortográficos.Nãohádúvidaquantoao fatodequelerbastantepodeajudarnodomí- nio da escrita, o que não dispensa um cuida- do especial em preparar atividades especial- mente voltadas para o ensino da ortografia, diretamenteaplicadasaoatodeescrever.
  • 8. Possodeixaracriançaficarpronun- ciado os sons das palavras enquan- to escreve ou ela tem que aprender a escrever sem falar? Os sistemas de escrita alfabéticos envolvem relações entre letras e sons da fala. Em razão de tal associa- ção, é muito comum que as crianças anali- sem a pronúncia das palavras, articulando sílaba por sílaba, lentamente, para poderem identificar os sons presentes na fala e daí de- cidir as letras que devem usar para escrever. Essa é uma estratégia bastante natural e útil para as crianças que estão iniciando uma Quemdevefazerascorreçõesdoser- ros das crianças? O professor ou os pais? O objetivo de corrigir os erros que as criançasfazemquandoescrevemébastante claro: levá-las a aprimorar a arte de escrever bem. Porém, a forma geralmente adotada pelos adultos, quer sejam os pais ou profes- sores, dificilmente leva aos resultados dese- jados. Nesta dinâmica, a criança escreve e alguém corrige, apontando os erros encon- etapa alfabética. Dependendo do método de alfabetização, elas podem até mesmo ser incentivadas pela professora a usar tal pro- cedimento. Na medida em que as crianças avançam na alfabetização, essa estratégia tende a diminuir gradativamente, tornando- -se cada vez mais rara sua ocorrência. trados e, raramente, conseguindo explicar o porquêdosmesmos. Narealidade,aprópria criançadeveaprenderasecorrigir.Escrever bem não significa escrever sem errar. Todos cometem erros ao escrever, porém, aqueles que aprendem a monitorar ou controlar a própriaescrita,sendocapazesdeidentificar aspectos ortográficos ou gramaticais que podem gerar erros, são os que mais bem es- crevem. Portanto, mais do que corrigir pela criança, todos devem educá-la no sentido de que ela mesma desenvolva esse tipo de procedimento, de controle contínuo e aten- do da produção escrita.
  • 9. O que é o método fônico? O método ou abordagem fônica corresponde a um conjunto de procedimentos que têm como objetivo levar as crianças a compreender a natureza da escrita alfabética, mais precisa- mente que existem relações entre sons da fala, por um lado, e as letras corresponden- tes a tais sons, por outro. Em geral, as crian- ças são levadas a descobrir que as palavras faladas podem ser divididas em sílabas e que, dentro das sílabas existem unidades menores de sons, que são os chamados fo- nemas. Por exemplo, na palavra “barato”, temos os fonemas “b - a - r - a - t - o”, que po- dem ser pronunciados um a um. A criança deve aprender a relacionar tais sons com as letras que podem representá-los na escrita. Podemos comparar a um jogo de quebra- -cabeças: a criança deve aprender a des- montar as palavras, passando pelas sílabas até chegar aos fonemas, assim como deve aprender a montá-las fundindo os fonemas em sílabas e as sílabas em palavras. Dessa forma, quando vai ler uma palavra, as crian- ças transformam progressivamente letras nos sons correspondentes até formar uma palavra falada. Contrariamente, quando es- crevem, as crianças devem pensar nos sons queapalavrafaladapossuiedaidecidirqual a letra que usarão para representá-los. Como o fonoaudiólogo educa- cional pode ajudar a lidar com os TRANSTORNOS ou DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM? O fonoaudiólogo edu- cacional é um dos principais especialistas para orientar, junto com a equipe educa- cional, professores e familiares de crianças com transtornos de aprendizagem, inclusi- ve acompanhando o andamento dos trata- mentos realizados fora da escola (quando indicados). A seguir são apresentadas al- gumas dúvidas comuns sobre os transtor- nos de aprendizagem.
  • 10. O que é a dislexia? A dislexia é um dis- túrbio específico da linguagem escrita, ca- racterizada por dificuldades persistentes na decodificaçãoleitora,istoé,naidentificação Dislexia tem cura? As dificuldades que caracterizam a dislexia tendem a ser persis- tentes e a acompanhar as pessoas durante toda a vida. Quando devidamente assisti- dos, o que inclui abordagens pedagógicas apropriadas, os disléxicos podem apresen- tar grandes avanços e superar muitas das limitações inicialmente presentes. Porém, em situações de alta demanda, como no caso da leitura de textos com vocabulário menos conhecido, estresse ou cansaço, al- gumas dificuldades podem se manifestar de modo mais visível. Como a dislexia se manifesta? As dificuldades que caracterizam a dislexia se evidenciam, mais nitidamente, quan- do tem início a alfabetização. A criança tem limitações para identificar os sons que compõem as palavras faladas e para compreender as associações entre letras e sons, o que provoca as dificuldades em termos de reconhecimento das palavras edecompreensãodostextoslidos.Oser- ros de escrita, que podem envolver des- de dificuldades em compreender como se escrevem as palavras até omissões e substituições mais pontuais de letras também são muito comuns. ou reconhecimento das palavras impressas durante a leitura e também pela presença deumgrandenúmerodeerrosortográficos. A dislexia pode estar presente em crianças inteligentes e saudáveis, com boas oportu- nidades pedagógicas e socioculturais, sem déficitssensoriaisouemocionais.Apesarde todas essas condições favoráveis para uma boa aprendizagem, o disléxico evidencia uma dificuldade significativa, constante e acima daquilo que é esperado para apren- der a ler e escrever.
  • 11. É o professor quem deve dar o diag- nóstico de problemas de aprendiza- gem, identificando qual o tipo de transtorno, como no caso da disle- xia? Os professores não foram preparados para fazer diagnósticos. Tampouco esse é um papel que lhes deva ser atribuído. Cabe aos professores o compromisso de ensinar e de procurar metodologias adequadas também para aqueles que têm problemas para aprender. O professor deve estar aten- to e começar a fazer uma observação mais sistemática para identificar os alunos que estão dando sinais de possíveis problemas para aprender. Dai deve ajudá-los em sala Oqueédisgrafia?Alémdesabercomoas palavras devem ser escritas, as letras devem ser bem traçadas, bem desenhadas, seguin- do os padrões convencionais que permitam sua identificação por qualquer pessoa. A disgrafia diz respeito a dificuldades ou limi- tações quanto ao traçado das letras, fazen- do com o que as mesmas sejam irregulares, distorcidas, incompletas ou não proporcio- nais. Este tipo de problema, comumente conhecido como “letra feia” pode, nos casos mais severos, tornar o escrito irreconhecí- vel, dificultando a compreensão de quem lê. A disgrafia pode ser devida a dificuldades motoraseouvisuais/espaciaisedeveserdi- ferenciada da letra com traçado displicente, sem cuidados por parte de quem escreve. de aula, com todos os recursos possíveis. No caso de persistirem as dificuldades, a criança deve ser encaminhada para um diagnóstico, preferencialmente de cará- ter multidisciplinar. Cabe a um conjunto de profissionais, como o fonoaudiólogo, o médico, o psicólogo e o psicopedagogo, re- alizar uma avaliação ampla, buscar o diag- nóstico e indicar o tipo de intervenção a ser feita, quando ela se faz necessária.
  • 12. O que é desordem do processamen- to auditivo (DPA)? Também conhecido como transtorno, distúrbio ou alteração do processamento auditivo, a DPA é caracteri- zadaporumadificuldadedeprestaratenção e sintetizar informações auditivas (como seguir instruções verbais, recontar histó- rias, etc.), dificuldades em manter o foco de atenção em um estímulo auditivo em am- bientes ruidosos (como prestar atenção ao professor em uma sala de aula barulhenta), gerando comportamentos agitados, distra- ídos ou mesmo inibidos. Tais dificuldades frequentemente estão associadas a proble- mas de aprendizagem. O que é a disortografia? Todas as lín- guas determinam a forma como as palavras devem ser escritas. No português, por exem- plo, temos que escrever “gelo” com a letra “g” enãocom“j”,nãopodemosescrever“cabeça” com“ss”,secolocarmosaletra“s”entrevogais (como em “casa”), o som desta letra será /z/ e não /s/ (como no caso de “semana). Existem regrasquedeterminamomodoconvencional de escrita das palavras. Espera-se que, com a prática progressiva da escrita, as crianças dominem, cada vez com mais segurança e precisão, a ortografia ou modo correto de se grafar as palavras. Porém, algumas crianças terãoumadificuldadeacimadamédiaparatal aprendizagem e produzirão, em seus escritos, errossistemáticoseduradourosdeortografia, exibindo um padrão de alterações não mais esperadoparaseugraudeescolaridade,oque podeviracaracterizaradisortografia.
  • 13. Comoofonoaudiólogoeducacional pode colaborar na educação espe- cial inclusiva? O fonoaudiólogo educa- cional,naredepúblicadeensino,deveorien- tarosprofessoresespecialistas,querealizam o Atendimento Educacional Especializado (AEE) na Sala de Recursos Multifuncionais (SRMF), no atendimento às crianças com necessidades educacionais especiais, bem como suas famílias. Essa orientação consis- te no auxílio ao trabalho pedagógico do pro- fessor na elaboração, execução e avaliação de um plano de atendimento educacional especializado parao aluno.Nãosetrata,por- tanto, de um trabalho clínico. O fonoaudió- logopode,dentreoutrosaspectos,orientaro professorsobreosaspectosconceituaisrela- cionados à aquisição e desenvolvimento da linguagem, suas alterações, e apontar a im- portância para o processo de aprendizagem dos alunos. Ele pode auxiliar e beneficiar o trabalho do professor ao mostrar a relevân- cia do uso da comunicação alternativa para uma criança com deficiência motora, inte- lectual ou autista, por exemplo. A relevância deseupapeltambémsedeveàsorientações nasatividadesdevidadiária,comoaalimen- tação. Durante a hora do lanche, o fonoaudi- ólogo,poderáorientaraalimentaçãodeuma criançacomparalisiacerebralqueapresente problemas posturais e/ou dificuldades em realizarasfunçõesorais,comoamastigação e a deglutição, por exemplo. Por que atendimentos clínicos não podemserfeitosdentrodasescolas? O fonoaudiólogo educacional, ao assumir o papel de educador, pode desenvolver pro- cedimentos para identificação de crianças com problemas de aprendizagem, porém o atendimento clínico deve ser realizado fora da escola, junto aos serviços que a comu- nidade dispõe no âmbito público (SUS) ou privado. A escola é um espaço para apren- dizagem e atividades em grupo, sendo um importante instrumento para a inclusão so- cial da criança. Atividades individualizadas, se fossem realizadas na escola, privariam a criançadeparticipardeoutrasatividadesdo seu grupo, trazendo prejuízos emocionais e cognitivos. Atendimentos clínicos, princi- palmente dentro da educação regular, con- trariam as diretrizes educacionais do Minis- tériodaEducaçãoquenãoprevêestetipode ação dentro das escolas, qualquer que seja sua natureza. A legislação que regulamenta a atuação do fonoaudiólogo, de acordo com normas do Conselho Federal de Fonoaudio- logia, também coíbe esse tipo de atuação.
  • 14. O fonoaudiólogo pode atuar com consultorias, planejamento e ges- tão educacionais? Sim, independente- mente de ser consultor ou gestor, o fono- audiólogo deve conhecer os problemas da escola (ou da rede), identificar prioridades e propor alternativas viáveis, considerando o contexto econômico e sociocultural da es- cola e de sua clientela. SBFa_gestão 2012-2013 Diretoria Irene Queiroz Marchesan_presidente Ana Cristina Cortês Gama_vice presidente Lia Inês Marino Duarte_diretora secretária 1 Aline Epiphanio Wolf_diretora secretária 2 Ana Elisa Moreira-Ferreira_diretora tesoureira 1 Adriana Tessitore_diretora tesoureira 2 Marileda Cattelan Tomé_diretora científica 1 Hilton Justino_diretor científico 2 departamento de fonoaudiologia educacional [membros] Bianca Queiroga Jaime Zorzi ficha técnica Departamento de Fonoaudiologia Educacional_concepção e texto Ana Cristina Gama, Aline Wolf e Lia Duarte _revisão Luisa Furman_ilustrações Lia Assumpção_design outubro 2012 O fonoaudiólogo educacional pode realizarumtrabalhovoltadoàsaú- dedoprofessor?Sim,assumindoopapel de agente de promoção de saúde o fonoau- diólogo educacional poderá desenvolver ações de aconselhamento e educação em saúde para professores e demais profissio- nais da equipe. Um exemplo claro tem sido as estratégias de promoção da saúde vocal, uma vez que a voz é o principal instrumento de trabalho dos professores.
  • 15. nãojogue lixonarua sociedade brasileira de fonoaudiologia Alameda Jaú, 684, 70 andar São Paulo, SP, cep 01420 002 [11] 3873 4211 www.sbfa.org.br