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Revista do Tribunal de Justiça de Pernambuco - Ano III - no 4 - agosto/2012




                                                                              Esta edição, comemorativa dos
                                                                              190 anos do Tribunal de Justiça de
                                                                              Pernambuco, reúne os principais
                                                                              projetos e ações desenvolvidos pelo
                                                                              Judiciário estadual, revelando ainda
                                                                              a trajetória de vida de personalidades
                                                                              importantes do mundo jurídico
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                                                                                     Expediente
                                                                                     Produção e Revisão de Textos
                                                                                     Assessoria de Comunicação Social do TJPE

                                                                                     Chefe da Ascom TJPE
                                                                                     Zenaide Barbosa

                                                                                     Edição
                                                                                     Ivone Veloso
                                                                                     Micarla Xavier
                                                                                     Zenaide Barbosa

                                                                                     Repórteres
                                                                                     Bruno Brito
Editorial                                                                            Clareana Arôxa
                                                                                     Dyanne Melo
A cara bonita do TJPE                                                                Ivone Veloso
                                                                                     Izabela Raposo
Esta edição comemorativa da Revista       mo, pois, muito jovem, alto e magérri-     João Guilherme Peixoto
TJPE está linda. Bem escrita, diver-      mo, com grandes cabelos compridos          Micarla Xavier
sificada, com belo projeto gráfico e      que caiam sobre os ombros, ele era         Pedro Fernando da Hora
fotos de primeira qualidade. Mas não é    o único jornalista que eu conhecia         Rafael Cavalcanti
somente isso. Trata-se de uma edição      e a quem podia consultar: eu havia         Rebeka Maciel
histórica, um legado do que tem sido a    sido convidada pelo diretor da Rádio       Rosa Miranda
luta dos que fizeram/fazem este Tribu-    Difusora de Garanhuns, “seu” Ivo, para     Vanessa Oliveira
nal nos seus 190 anos de existência.      escrever a crônica da cidade aos do-       Wesley Prado
    Fiquei emocionada com a história      mingos, logo aos domingos. Precisava
de Selena, na página 60, menina pobre     dos conselhos de um profissional...        Projeto Gráfico e Diagramação
e doente de apenas cinco anos, mas            Esta revista revela, de cara desco-    Othon Vasconcelos
que soube conquistar a única coisa        berta, o quanto o Poder Judiciário está
sem a qual o ser humano não vive; ve-     fazendo, apesar da falta de verba e de     Núcleo de Imagem
geta e murcha como uma flor tardia: o     um mundo de outras dificuldades, pela      Felipe Cavalcanti
amor. Amor que a socorreu, protegeu-      prestação da Justiça e pelo acolhi-        Fernando Gonçalves
a e livrou-a da solidão. Tudo graças      mento dos jurisdicionados nas mais         Luciana Bacelar
ao Programa Estrela Guia, que há dez      diversas áreas.                            Luciano Costa
anos se consolida como uma alternati-         O ministro do STJ Og Fernandes,        Othon Vasconcelos
va de convívio familiar e comunitário.    a quem conheço desde que era um
    Vibrei com o trabalho da Vara de      garoto, me disse outro dia, ao me          Publicidade
Execução de Penas Alternativas, que       encontrar na sala do Tribunal Pleno:       Núcleo de Áudio Visual - NAVI
foi capaz de tirar Guilherme das drogas   “Você voltou para o TJPE, não foi? Fez     Núcleo de Imagem - Ascom TJPE
e transformá-lo em cidadão honesto e      muito bem; aqui é a sua casa, você
cheio de dignidade. Isto através do seu   tem a cara deste Tribunal!” Pois, minis-   Fotógrafos
Núcleo de Justiça Terapêutica. E me       tro, se eu tenho a cara do TJPE, então,    Assis Lima
enchi de encantamento com a história      nos meus 70 anos estou ficando cada        Juliana Motta
do presidente Jovaldo Nunes, meni-        vez mais jovem e bonita!                   Leandro Lima
no pobre que cavou o seu caminho              Como verá o leitor desta revista,      Luciano Costa
na vida com esforço, dedicação e          fruto do trabalho de toda a equipe da      Marcos Costa
honradez.                                 Assessoria de Comunicação, sobre-
    Morri de saudade lendo as histó-      tudo de Micarla Xavier, Ivone Veloso e     Foto da Capa
rias de vida do desembargador Jones       Othon Vasconcelos.                         Assis Lima
Figueirêdo, decano do TJPE, cujos
amigos de infância e adolescência, em                          Zenaide Barbosa
Garanhuns, são também amigos meus.                      Jornalista e assessora de
Ainda em Garanhuns, foi Jones quem                        Comunicação do TJPE
me deu as primeiras lições de jornalis-
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    6 história
     A Justiça em Pernambuco


12 perfil
     De menino pobre a presidente do TJPE: a trajetória de luta do desembargador Jovaldo Nunes

     Fractais do tempo


29 artigo
     Homenagem ao Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco pelos 190 anos


30 gestão
     Justiça amplia quadros para atender melhor

     Transparência é prioridade no TJPE

     Poderes firmam parcerias em prol da segurança pública e desenvolvimento do Estado


35 corregedoria
     Frederico Neves cria Núcleo de Apoio aos Juízes e Centro de Orientação Forense

     Corregedoria implanta Penhora Online


37 conciliação
     Investimento em conciliação resgata forma natural de resolução de conflitos

     Proendividados comemora aniversário de um ano com índice de acordos de 80%


42 perfil
     Alderita Ramos, a mulher que adorna e fortalece o TJPE


47 cidadania
     Judiciário estadual prioriza combate à violência contra a mulher


50 juizado especial
     Primeiro Juizado Especial da Fazenda Pública da Capital completa um semestre de funcionamento
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                                                   infância e juventude 52
                                          O direito à acolhida através do Judiciário

               Programa Mãe Legal comemora parceria com a Prefeitura do Recife

                                                    Escola Legal, Judiciário efetivo

                                   Estrela Guia: há dez anos iluminando caminhos


                                                     execuções penais 63
                             Vepa aprimora trabalho após implantação de núcleos


                                                                           perfil 66
                                                     A Justiça nas ondas do rádio

                                      Um magistrado e o fascínio pela Sétima Arte

                                                            Homem de leis e letras


                                                              infraestrutura 74
                                           Diriest adota práticas de racionalização


                                                        sustentabilidade 79
                                        TJPE investe em um ambiente sustentável


                                                                  tecnologia 82
          Reunião elenca prioridades de Tecnologia da Informação e Comunicação

Secretaria de Tecnologia da Informação desenvolve sistema de autenticidade digital


                                                                          artigo 86
                                         Duas décadas de atendimento às famílias

                                                                        Os Abutres


                                                                    imprensa 90
                                                                          Na mídia
8   história
9




                          A Justiça em Pernambuco
                                                                                                   Nomes e atos que marcam a sua história

                                                                                                                              Micarla Xavier


                   O Tribunal da Relação da Província         excessivas, distância, interrupção do      hoje Praça da República; em seguida
                   de Pernambuco foi instalado no dia         trabalho e, até mesmo, separação das       no antigo prédio do Erário, situado na
                   13 de agosto de 1822. Por meio de          suas famílias, para prosseguirem na        mesma praça; passando a se instalar,
                   alvará, em 6 de fevereiro de 1821,         busca de solução para as suas causas       posteriormente, no andar superior da
                   Dom João VI determinou a sua cria-         judiciais.                                 Cadeia Pública, na Rua da Cadeia –
                   ção, justificando-a com a citação de           Por sete décadas, esse Tribunal        hoje Rua do Imperador –, onde funcio-
                   algumas dificuldades enfrentadas pelos     administrou a Justiça em terras per-       nou até a sua extinção, em 1892.
                   habitantes de Pernambuco ao terem          nambucanas, mediando os conflitos              Em cumprimento à Constituição Fe-
                   que recorrer judicialmente, até então,     que necessitavam de sua intervenção.       deral, promulgada em 24 de fevereiro
                   ao Tribunal da Relação da Bahia. A         Nesse período, a sua sede enfrentou        de 1891, o Tribunal da Relação deu
                   partir da instalação do seu tribunal, os   constantes mudanças, funcionando,          passagem ao novo modelo republicano
                   pernambucanos não mais enfrentariam        inicialmente, no antigo Colégio dos Je-    de Justiça, o Superior Tribunal de Jus-
                   inconvenientes tais quais despesas         suítas, localizado na antiga Praça XVII,   tiça (STJ), criado por lei estadual. Em
foto: Assis Lima
10   história




                                                 Palácio da Justiça de Pernambuco
     sua primeira década de existência, o            Adentrar no Palácio da Justiça             O edifício-sede do TJPE marca a
     STJ teve como presidentes os desem-         de Pernambuco é passear majesto-           paisagem do Recife por sua relevância
     bargadores Gervásio Pires, Francisco        samente em seu passado; é como             arquitetônica. A presença de certos
     Correia de Andrade e Manoel do Nas-         saborear as madeleines proustianas e       elementos na sua composição arqui-
     cimento Fonseca Galvão. Funcionou           vislumbrar a história de sua edificação.   tetônica como, por exemplo, os frisos
     até o advento da Constituição Federal       Sua pedra fundamental foi lançada no       greco-romanos e os pilares coríntios,
     de 1934, quando foi denominado Cor-         dia 2 de julho de 1924 pelo governa-       encimados por capitéis jônicos, fazem
     te de Apelação. Com a decretação do         dor do Estado e juiz federal, Sérgio       com que o prédio possa ser classifica-
     Estado Novo e a Constituição de 1937,       Loreto, durante as comemorações do         do como um dos mais belos repre-
     o mesmo passou a ser chamado de             primeiro centenário da Confederação        sentantes da arquitetura eclética em
     Tribunal da Apelação, permanecendo          do Equador. A inauguração do novo          Pernambuco. Considerado, por muitos
     assim até o ano de 1946, quando foi         prédio aconteceu no dia 7 de setembro      profissionais e estudiosos, como uma
     constituído como Tribunal de Justiça        de 1930, na gestão do governador           das últimas edificações, em seu porte,
     de Pernambuco (TJPE).                       Estácio Coimbra, que, no ano de 1927,      no Estado.
                                                 sucedeu a Sérgio Loreto. Na ocasião,           Com uma área de 2.506 metros
        “Este livro há de servir para nelle se   o Judiciário pernambucano era presi-       quadrados, o palácio possui três
     lavrar a Acta da Abertura da nova Re-       dido pelo desembargador Bellarmino         pavimentos, além da cúpula, que
     lação, mandada instalar nesta Villa do      Gondim.                                    abriga mais dois. A fundação do prédio
     Recife e Província de Pernambuco, por           O projeto escolhido para a obra do     passou por um difícil processo, devido
     Carta Régia de S.A.R., o Príncipe Re-       Palácio da Justiça foi de autoria de       à constituição do terreno, situado
     gente Constitucional e Defensor Perpé-      Giácomo Palumbo - arquiteto italiano       numa área de mangue. Outrora, em
     tuo do Reyno do Brasil, de 2 de junho       formado pela Escola de Belas Artes de      suas proximidades, havia um braço
     do anno corrente, assim como prova          Paris - com colaboração de Evaristo de     de rio que fora aterrado no período da
     os termos dos lavramentos e posse do        Sá. O local escolhido para a edifica-      presença holandesa em Pernambuco
     Chanceler, e mais Desembargadores           ção do palácio – o bairro de Santo         (1630-1654). A parte central do prédio
     que foram empregados na mesma               Antônio, no Centro do Recife - está        foi reforçada, em sua fundação, com
     Relação. Vai por mim numerado e             intimamente relacionado com a história     12 pilastrões, que têm como intuito
     rubricado com o meo acolhido prévio e       do Estado de Pernambuco. Válido é          distribuir o peso da cúpula.
     tem no fim hum termo de encerramen-         ressaltar que aquela área pertenceu ao         A fachada principal do Palácio da
     to. Recife aos 13 de agosto de 1822.        Palácio Friburgh, conhecido como o         Justiça é adornada por dois conjuntos
     Como Chanceler interino Antônio José        “Palácio dos Despachos de Maurício         de esculturas, que representam a Jus-
     Osório de Pina Leitão”.                     de Nassau”. Para a construção do           tiça e a Ciência do Direito, executadas
                                                 novo prédio, houve a necessidade de        pelo escultor pernambucano Bibiano
        Termo de Abertura do Livro de            demolir a antiga ala das enfermarias do    Silva, sob orientação de A. Freyhoffer.
     Atas do Tribunal da Relação da Pro-         Convento de Santo Antônio e o prédio       Bibiano também executou os bustos
     víncia de Pernambuco, lavrado por           do 2º Batalhão da Força Pública,           de Paula Batista e Gervásio Pires,
     seu primeiro presidente, desembar-          situado defronte a Praça da República.     dois nomes importantes na história da
     gador Antônio José Osório de Pina           A demolição deste último fez com que       Justiça pernambucana, localizadas na
     Leitão. O documento marca o início          um novo quartel fosse construído no        entrada da Salão dos Passos Perdidos.
     da história do TJPE.                        bairro do Derby.
                                                                                                                                      foto: Assis Lima
história      11




                   Vitrais
                       O conjunto de vitrais que enrique-   no Siegener Zeitung, em 3 de junho
                   cem o Palácio da Justiça foi criado      de 1955, e também no catálogo da
                   pelo alemão Heinrich Moser, que veio     Exposição Johann Moritz Von Nassau-
                   ao Recife, em 1910, para desenvolver     Siegen, em 1979, no transcurso do ter-
                   projetos arquitetônicos do novo prédio   ceiro centenário da morte de Maurício
                   da Casa Alemã, na Rua Barão de Vitó-     de Nassau.
                   ria, hoje Rua Nova. Também desenhis-        Heinrich Moser executou, ainda,
                   ta, Moser marcou Pernambuco com a        outro belo trabalho na Sala Desembar-
                   sua sensibilidade artística.             gador Antônio de Brito Alves, onde,
                       No vestíbulo da sua escadaria        por muito tempo, funcionou o Tribunal
                   principal, há a representação da cena    do Júri do Recife, no qual atualmente
                   do primeiro Parlamento Democrático       se reúne o Tribunal Pleno do TJPE. Ali,
                   em terras americanas, convocado          Moser retratou, em 1934, a representa-
                   pelo conde Maurício de Nassau. Esses     ção da Justiça, um óleo sobre tela que
                   vitrais são compostos de três janelas,   mede 3,10 x 2,50 m, assentada ao
                   cada uma com cinco quadros. A obra       fundo da sala e considerada uma das
                   é conhecida e aclamada não apenas        mais expressivas alegorias da Justiça.
                   no Brasil. Foi apresentada na Holanda,
foto: Assis Lima
12   história




     Mobiliário
         Os luxuosos móveis da sede do
     TJPE foram projetados pelo arquiteto
     M. Noziéres, após a inauguração do
     prédio, em 7 de setembro de 1930. As
     peças foram executadas pelas Casas
     Leandro Martins e Cia., do Rio de
     Janeiro, e artisticamente entalhadas
     com o intuito de rememorar o antigo
     Tribunal da Relação de Pernambuco.

        “Esta casa bem que se poderá
     chamar o Templo da Justiça. E que
     haverá sobre a terra que mais mereça
     um templo? A Justiça é a mais pura
     faculdade do espírito humano”.

       Antônio Carneiro Leão, secretário
     da Justiça, na ocasião da inau-
     guração do Palácio da Justiça de
     Pernambuco, em 7 de setembro de
     1930.

         “O nosso Palácio da Justiça é,
     incontestavelmente, um verdadeiro
     monumento de arte”.

        Trecho de matéria veiculada
     no Jornal Pequeno do Recife, em
     08.09.1930, referente à inauguração
     do Palácio da Justiça.




                                            foto: Assis Lima
história       13




O Palácio da Justiça hoje
    Da data de sua inauguração até os       técnico da Fundação do Patrimônio
dias atuais, o Palácio da Justiça pas-      Histórico e Artístico de Pernambuco,
sou por diversas mudanças. Um dos           que preserva os prédios tombados em
exemplos refere-se à Sala de Casar,         âmbito estadual, bem como da empre-
onde aconteciam os casamentos civis,        sa Coral, que não apenas forneceu o
que cedeu o espaço ao Salão Nobre.          material, mas o suporte necessário no
Para facilitar a circulação dos magistra-   tocante aos cuidados que antecediam
dos, servidores e usuários da Justiça,      a aplicação da tinta.
o principal acesso deixou de ser efetu-        A iluminação externa do palácio
ado pela fachada central, voltada para      também foi efetivada com o intuito
a Praça da República, passando a ser        de destacar e valorizar o prédio no
feito pela fachada lateral, situada na      período noturno. Para a execução,
Rua do Imperador. Ressalta-se, tam-         o TJPE contou com a parceria da
bém, a colocação de uma nova ordem          empresa Philips do Brasil, que doou
de colunas nos dois pátios internos.        todo o equipamento necessário para
    No período de gestão dos desem-         a concretização do projeto. Os vitrais
bargadores José Ferraz Ribeiro do           de Heinrich Moser também foram res-
Valle, Mauro Jordão e Luís Belém de         taurados e o trabalho compreendeu o
Alencar, à frente da Presidência do         desmonte, a lavagem e a remontagem
TJPE, respectivamente, as mudanças          de toda a obra, com a colaboração
contemplaram a substituição das lâm-        da Fundação Banco do Brasil. Hoje,
padas holandesas do Salão Nobre por         o palácio prepara-se para receber um
outra iluminação mais moderna, sem,         elevador panorâmico, com estrutura
para isso, descaracterizar o ambiente;      metálica e revestimento de vidro, locali-
nova pintura na entrada principal; ces-     zado no segundo átrio do prédio.
são de espaço no segundo pavimento             O Palácio da Justiça continua sendo
para abrigar as câmaras criminais, para     admirado pela população pernam-
as quais foram confeccionados móveis        bucana e pelos turistas que visitam
semelhantes aos do pavimento inferior;      a cidade do Recife. Sua constante
restauração das redes de eletricidade e     restauração só demonstra o quanto
telefonia; instalação do Tribunal Pleno,    esta obra é valorizada pelos magistra-
composto pelos 42 desembargadores           dos que vêm presidindo o TJPE. Sua
da Corte, no salão que antes abrigava       majestosa edificação é um patrimônio
o Tribunal do Júri do Recife, transferi-    edificado na história pernambucana,
do, por sua vez, para o Fórum Thomaz        abrigando consigo um significativo
de Aquino Cirylo Wanderley, que             acervo de arte e, principalmente, cum-
também é sede da Corregedoria Geral         prindo a sua função de fortaleza para
da Justiça.                                 as justas decisões - obra maior do
    A gestão do desembargador Wal-          Poder Judiciário de Pernambuco. •
demir Oliveira Lins como presidente
do TJPE, dentre outras realizações,
trouxe um novo projeto de cores para
o palácio. Para tanto, contou com
um programa gráfico de Informática,
através do qual foram desenhadas,
por meio de um levantamento arquite-
tônico, todas as fachadas do prédio,
aplicando-se, posteriormente, diversas
propostas de cores. A escolha final re-
caiu para tons derivados do ocre, indo
da cor bege até a marrom, levando-se
em conta as cores de outros edifícios
construídos no mesmo estilo. Na opor-
tunidade, o TJPE contou com o apoio
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foto: Assis Lima
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   De menino pobre a
 presidente do TJPE:
a trajetória de luta do
      desembargador
       Jovaldo Nunes
    A história do atual chefe do Poder Judiciário de Pernambuco, homem
                    simples e batalhador que não esquece as suas origens

                                   Micarla Xavier e Rafael Cavalcanti
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     No gabinete da atual Presidência do
     Tribunal de Justiça de Pernambuco
     (TJPE), na mesa de reuniões, vemos
     uma escultura. Trata-se de um carro
     de boi e nele está escrito “nobre e
     humilde”. A peça é de autoria de João,
     funcionário do Palácio do Governo
     que, nas horas vagas, trabalha com
     pintura de casas. João foi contratado
     para pintar o apartamento de Jovaldo
     e, durante o trabalho, fez o carro de
     boi e dedicou ao desembargador. Na
     ocasião, o artista afirmou que só fazia
     a escultura para pessoas nobres e hu-
     mildes, como bem registrou na própria
     obra. Humildade é o traço que mais
     marca o atual presidente do TJPE.
     Tal traço é evidente, está claro na sua
     fala, nos gestos, nas declarações de
     sua família, amigos e companheiros
     de magistratura. Humildade foi uma
     das grandes riquezas que Seu Antônio
     Nunes Sobrinho e Dona Estela Nunes
     Gomes transmitiram ao filho Jovaldo.
         Quem vê Jovaldo Nunes Gomes
     hoje, como desembargador e presi-
     dente do TJPE, não consegue imaginar
     por quantas coisas ele já passou
     na vida e quantas histórias tem pra
     contar. O segundo dos seis filhos – três
     homens e três mulheres – de um casal
     de oficiais de registro civil da Paraíba,
     nascido em Emas, uma pequena cida-
     de no sertão paraibano, Jovaldo teve
     um cotidiano “de criança do interior”,
     como ele mesmo afirma. Em Emas,
     localizada no Vale do Piancó, ele pas-
     sou grande parte de sua infância. Foi
     lá onde aprendeu as primeiras letras,
     o significado da vida. Por lá, o menino
     Jovaldo perambulou pela calçada da
     igreja, pelos antigos bancos da praça;
     tomou banho de rio com os amigos;
     sorriu e se divertiu nas festividades de
     São João e de Santa Terezinha.              Se não faço bem o meu trabalho no
         Com 11 anos, Jovaldo Nunes se
     mudou junto com a família para Pian-        Judiciário, pelo menos eu me esforço para
     có, cidade histórica localizada também
     no sertão da Paraíba, para a qual o         fazê-lo. Eu me sinto realizado e acho que
     pai tinha sido designado para fiscalizar
     algumas obras de reestruturação em          não me daria bem em outra profissão
     decorrência de uma severa seca que
     tinha se abatido sobre a região. “Na-       como me dou bem como serventuário da
     quele momento, em relação a Emas,
     Piancó era tida como cidade grande”,        Justiça, como juiz
     lembra Jovaldo. Nessa época, seus
     pais sustentavam os seis filhos com os
                                                                                             foto: Assis Lima
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trabalhos no cartório e também com            “Tudo era difícil. Meu primo era
a agricultura. A família possuía uma      cabo do Exército, mas naquela época
propriedade onde o pai Antônio tam-       um cabo do exército era autorida-
bém trabalhava como agricultor. Foi       de. Ele vinha para o quartel, que era
em Piancó, um dos marcos da Coluna        aqui no Parque Treze de Maio, e eu o
Prestes e cidade onde morreu um           acompanhava com o intuito de ficar no
dos maiores bandeirantes brasileiros,     Mercado de São José e comprar frutas
Domingos Jorge Velho, que Jovaldo         e verduras para o nosso bar. Para não
passou a adolescência, povoada por        pagar passagem, ele me colocava
estudos, jogos de sinuca e tentativas     para entrar pela frente da condução. O
de virar “empresário”.                    motorista sempre via isso e não dizia
    “Cheguei a trabalhar em Piancó na     nada, até que, numa certa vez, ele dis-
adolescência, acompanhado do amigo        se: ‘Mas, cabo, todo dia?’. Meu primo
Manuel Monteiro. Esta é uma parte         respondeu de imediato: ‘Ele vai preso’.
da minha história de que eu sempre        Ele disse que eu ia preso para não
me lembro. Nós éramos meio jovens         pagar a passagem”, lembra Jovaldo.
e precisávamos de dinheiro. Hoje, o       O atual presidente do TJPE afirma que
meu amigo também é desembargador,         provavelmente gosta de contar essa
no Tribunal de Justiça da Paraíba. Nós    história para sempre se lembrar de
fizemos uma aventura, montamos uma        onde veio e que as coisas nunca foram
banca e fomos vender verdura na feira     fáceis. A humildade sempre transpare-
de Piancó. Nós nos sentíamos como         ce nas palavras.
empresários vendendo as verduras e            No Recife, Jovaldo também serviu
frutas”, recorda entre risos. O desem-    ao Exército, passando 11 meses na 7ª
bargador Manuel Monteiro lembra bem       Companhia de Intendência, em Tejipió.
da história contada pelo seu amigo de     Depois dessa fase, ele começou a
infância. O magistrado define Jovaldo     trabalhar no Palácio da Justiça de
Nunes como alguém rico em pureza          Pernambuco como prestador de servi-
de espírito, como um amigo leal. Ele      ços. Na época, a esposa de um primo
também se recorda da infância dividida    trabalhava no 1º Cartório Cível, cujo
entre o sofrimento e as brincadeiras      titular era Antônio de Morais Dourado,
com uma bola de pano, quando am-          e Jovaldo passou a prestar serviços
bos moravam no bairro Belo Horizonte,     ali por aproximadamente oito meses.
em Piancó. “Eu não me distancio dele,     Depois disso, ele começou a atuar no
a nossa amizade permanece a mesma         4º Cartório de Notas e Ofícios de Olin-
de sempre. Acho que o sofrimento          da como tabelião substituto. O titular
compartilhado nos ensinou a viver”,       do cartório era Robert John Tom, mais
concluiu o desembargador do Tribunal      conhecido como o “Inglês de Caruaru”.
paraibano.                                Nesse tempo, enquanto cumpria seu
    Aos 16 anos, sentindo a necessi-      trabalho, Jovaldo Nunes concluiu o
dade de investir nos estudos, Jovaldo     ensino médio e tentou vestibular em
resolveu mudar para o Recife. Na          João Pessoa, pois tinha como objetivo
capital pernambucana, as aventuras e      o retorno para a Paraíba. Não tendo
a saga estavam apenas começando.          o sucesso esperado no certame, ele
A princípio, ele ficou hospedado na       optou por ser aluno da primeira turma
casa de um primo que estava servindo      da Faculdade de Direito de Olinda, no
ao Exército e que morava no bairro da     período de 1971 a 1975.
Mangueira. Como a vida não era fácil,         Uma das irmãs de Jovaldo Nunes
e o salário do primo não era lá essas     também havia se estabilizado em
coisas, os dois montaram um bar perto     Pernambuco. A princípio como funcio-
da linha do trem. “Fiquei morando com     nária, depois como juíza do Tribunal
ele e nós montamos um bar de madei-       Regional do Trabalho. Juntos, os dois
ra, uma barraca de madeira para ser       resolveram propor aos pais, que nesta
mais exato. Esse bar servia refeição,     época já residiam em João Pessoa,
era um negócio popular, e lá nós vendí-   que se mudassem para Pernambuco.
amos cachaça com tira-gosto”, conta       A missão não deve ter sido fácil, mas
o desembargador.                          o amor e a saudade que sentiam dos
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                                             filhos falaram mais alto. Assim, Antônio    aos meus filhos. O patrimônio mate-
                                             e Estela concordaram com a mudança,         rial a gente tem hoje, mas pode não
                                             venderam a propriedade da Paraíba,          ter amanhã; é algo que se compra.
                                             que era fruto de herança, e se esta-        O patrimônio moral a gente adquire”,
                                             beleceram em Olinda. “A propriedade         conclui.
                                             dos meus pais não tinha tanto valor             Jovaldo é casado com Darci Dias
                                             material, mas o valor sentimental era       de Queiroz Nunes e com ela tem três
                                             imenso. Mesmo assim, eles aceitaram         filhos – Dayse, Jovaldo Júnior e Anne.
                                             a nossa proposta e compraram uma            Já funcionária da Justiça do Trabalho,
                                             casa em Olinda, na Rua Cleto Cam-           atuando na Assistência Judiciária, Darci
                                             pelo, 477. Lembro-me como se fosse          conheceu Jovaldo no cartório onde ele
                                             hoje”, conta Jovaldo.                       trabalhava. Foi naquele ambiente que
                                                 Falar de seu pai é falar de amor        Jovaldo começou sua paquera com
                                             incondicional, é lembrar de um homem        Darci. Ela relembra, aos risos, do dia
                                             que dedicou toda a sua vida aos filhos.     em que ele lhe ofereceu uma carona
                                             Jovaldo comenta que Seu Antônio             para o bairro das Graças, acreditando
                                             gostava de reunir toda a família com        piamente que ela morava no local.
                                             frequência. Já morando em Pernam-           “Mas por que Graças?”, Darci pergun-
                                             buco, o pai fazia questão de preencher      tou na ocasião. “Eu moro em Olinda”,
                                             seus domingos com grandes almoços,          esclareceu para o jovem. O casal
                                             com o intuito de ter os filhos ao seu       terminou tendo um encontro apaixo-
                                             redor, numa mesa farta não apenas de        nado e decisivo no Carnaval de 1975,
                                             comida, mas também de muito cari-           num baile no Clube Náutico Capibaribe.
                                             nho. Durante a entrevista, a lembrança      Depois de um ano, casaram. “Um
                                             do pai emocionou o chefe do Poder           amigo afirmou que eu iria fazer um bom
                                             Judiciário pernambucano. Passados           casamento, porque Jovaldo era um
                                             alguns minutos, enquanto continha a         bom filho. E quem é bom filho é um
                                             emoção e as lágrimas, Jovaldo Nunes         bom marido e um bom pai. Ele conti-
                                             retorna e pergunta ao repórter: “Seus       nua sendo o mesmo homem humilde
                                             pais são vivos?”. Diante da resposta        que conheci, eu nunca vi sequer um
                                             positiva, ele conclui: “Graças a Deus!”.    traço de arrogância nele”, comenta
                                                 “O meu pai parecia uma criança          Darci Nunes.
                                             quando todos nós estávamos na sua               Para Darci, Jovaldo sempre foi um
                                             casa. Então, é difícil falar nele sem me    pai muito permissivo. Ela cumpria a
                                             emocionar, é natural. Ele foi um ho-        missão de disciplinar e dar bronca nas
                                             mem que cumpriu o seu papel aqui na         crianças; depois, ele chegava e “estra-
                                             terra; deu bons exemplos para todos         gava” tudo. Jovaldo Nunes ressalta que
                                             nós, para todos os filhos. Meu pai foi      tem mais uma riqueza na vida, além do
                                             um homem humano, decente, hones-            patrimônio moral: seus três filhos. “Eu
                                             to. O patrimônio que ele deixou nós         adoro meus filhos, sempre fiz questão
                                             vamos sempre conservar: o patrimônio        de ser um pai amigo e de investir numa
                                             moral. Eu conservo isso em homena-          relação de carinho. A nossa ligação é
                                             gem a eles, a ele e a ela, minha mãe,       muito forte”, ele comenta, mais uma
                                             que também foi uma guerreira nos            vez emocionado. Jovaldo relata que
                                             momentos difíceis ao lado do esposo.        certa vez deixou de fazer um intercâm-
                                             Eles criaram seis filhos naquela época,     bio em Nova Iorque só porque queria
                                             com todas as dificuldades, mas cria-        ficar com os filhos. Ele compartilha,
                                             ram, educaram, amaram. Então, esse          cheio de alegria, que os filhos também
                                             legado moral haverá de ser honrado          apreciam muito a sua companhia. “Mi-
     Na primeira foto, o desembargador       com muita satisfação, em homenagem          nha filha mais velha, Dayse, comanda
     Jovaldo Nunes entre a mãe Dona Estela   à memória deles”, desabafa Jovaldo          um cartório em Abreu e Lima; meu filho
     Nunes e a esposa Darci Dias, e nas      Nunes.                                      Jovaldo Júnior é procurador da Fazen-
     demais os filhos Dayse, Jovaldo Jr. e       Ainda sobre a herança moral deixa-      da Nacional; minha caçula, Anne, já é
     Anne em momentos com a família          da pelos pais, Jovaldo confessa que         formada em jornalismo e agora estuda
                                             procura transferir a mesma herança          direito”, conta o pai, com orgulho.
                                             para os filhos. “O patrimônio moral é           A filha primogênita, Dayse, lembra
                                                                                                                                    fotos: Arquivo Pessoal




                                             inalienável. E eu procuro transferir isso   bem da época em que o pai era juiz
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                        no interior. Ela conta que, todo fim de
                        semana, quando o pai vinha para casa,
                        costumava levar ela e o irmão para
                        uma lanchonete chinesa. Os dois fica-
                        vam contando as horas para que o pai
                        chegasse e os levasse para o passeio
                        de sempre (naquele tempo, a caçula
                        ainda não havia nascido). Questionada
                        acerca dos ensinamentos que seu pai
                        costuma transmitir, Dayse é rápida na
                        resposta: “Uma característica muito
                        importante que meu pai me legou é a
                        moral. Como ele sempre diz: o meu
                        patrimônio é a minha moral. Tenho
                        pautado minha conduta pela morali-
                        dade. Na verdade, agir com probidade
                        e ética é uma obrigação e não um
                        favor. Acho que este é um dos maiores
                        legados que meu pai me ensinou e
                        demonstra, a cada dia, com a sua
                        postura”. Dayse confessa que lágrimas
                        vêm aos seus olhos quando pensa em
                        algo para escrever sobre o pai. “Tenho
                        muito orgulho de ser filha de Jovaldo.
                        Não só do desembargador Jovaldo
                        Nunes, mas principalmente do pai, do
                        filho, do marido que ele é. Meu pai é
                        uma pessoa boníssima, de coração tão
                        gigante, que mal cabe em seu peito
                        tanta bondade”, diz a filha.
                            Uma das lembranças mais marcan-
                        tes da infância de Jovaldo Júnior foi
                        quando viu o pai pegar nos braços,
                        pela primeira vez, a sua irmã caçula
                        Anne. Com esta declaração, imagi-
                        namos a grandeza da cena de um
                        pai que, ao imprimir tanto amor no
                        gesto de aninhar a filha mais nova nos
                        braços, marcou a memória sentimen-
                        tal do filho que herdou o seu nome.
                        Sobre o fato de ser filho do presidente
                        do TJPE, Jovaldo Júnior ressalta que
                        qualquer um que conhece a história
                        do seu pai considera-o um vencedor.
                        “Sinto-me orgulhoso em ser filho desse    O nosso Judiciário precisa ser reestruturado
                        vencedor”, declara. Sobre o filho, que
                        atua em Petrolina, Jovaldo Nunes diz      para atender às necessidades da
                        que tem necessidade de falar com ele
                        diariamente. Emocionado, também           população. Sinto-me feliz, pois, mesmo
                        confessa que o filho não passa quinze
                        dias sem vê-lo. Jovaldo Júnior acredita   com dificuldades, eu sei que temos
                        que o chefe de um Poder tem a opor-
                        tunidade de realizar grandes obras,       avançado. E este é um trabalho gratificante,
                        mas, principalmente, de deixar uma
                        boa mensagem para os outros. “Apro-       em prol da Justiça e da população
                        veite a oportunidade e deixe a sua boa
                        mensagem, pai”, pontua.
foto: Arquivo Pessoal
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         “Lembro das tardes no Clube de           do Judiciário estadual. No concurso,
     Campo Sítio do Picapau; dos lanches          foram aprovados 32 nomes e Jovaldo
     no supermercado depois da feira, que         foi o 12º colocado. De sua turma, ele
     deixava minha mãe louca porque ele           cita os desembargadores Bartolomeu
     me dava comida perto da hora do              Bueno, Fernando Cerqueira, Eduardo
     almoço; dos banhos de mar em Itama-          Paurá, Nivaldo Mulatinho, Alberto Vir-
     racá. São lembranças sempre felizes!”,       gínio, Antônio Fernando Martins, Luiz
     recorda a filha caçula de Jovaldo Nu-        Carlos Figueiredo e Alfredo Jambo.
     nes, Anne. Ela conta que a presença          Sobre a missão de ser magistrado,
     do pai sempre lhe trouxe a sensação          Jovaldo Nunes afirma: “Se não faço
     de segurança. Ela também lembra que,         bem o meu trabalho no Judiciário, pelo
     aos três anos, machucou o queixo na          menos eu me esforço para fazê-lo. Eu
     borda da piscina de um clube. Levada         me sinto realizado e acho que não me
     à enfermaria do local, o médico disse        daria bem em outra profissão como
     que era necessário três pontos para          me dou bem como serventuário da
     que o corte não deixasse cicatriz. Ela       Justiça, como juiz”.
     lembra claramente do pai na porta da             A atuação de Jovaldo Nunes como
     sala, sem querer chegar muito perto,         juiz teve início na Comarca de Betânia.
     por conta do sangue e para não ver a         De lá, ele foi removido para Riacho
     filha sofrer, dizendo que ela era muito      das Almas e, em seguida, como juiz
     novinha pra levar os pontos. Resulta-        substituto, foi lotado em Jaboatão dos
     do: a cicatriz aparece até hoje. Assim       Guararapes. Jovaldo sabia que, como
     como os irmãos, Anne também diz que          juiz substituto, ele poderia ser remo-
     o pai é motivo de orgulho na sua vida.       vido para qualquer lugar do Estado.
     “Só o fato de ele ter chegado a ocupar       Até que um dia, ele soube da neces-
     uma cadeira no TJ, independente de           sidade de juiz em Petrolina. Na época,
     ser a de presidente, já me orgulha.          o chefe do Judiciário pernambucano
     Quem conhece meu pai, sabe a his-            era o desembargador Cláudio Améri-
     tória de vida dele: vida difícil no sertão   co de Miranda. “Teve uma passagem
     paraibano, poucos recursos, cinco            interessante. Eu era juiz substituto em
     irmãos, uma casa humilde, estudo em          Jaboatão e desejava demais ir para
     escola pública. Sair de casa aos 16          Olinda. Eu morava em Olinda, sempre
     anos, deixar a família e tentar a sorte      morei em Olinda... Até que numa tarde,
     na cidade grande, sem dinheiro nem           eis que recebo um telefonema do
     perspectiva, e chegar aonde chegou,          então presidente do Tribunal, Cláudio
     não só me orgulha, como me emocio-           Américo, pedindo para eu vir aqui, ao
     na. A história dele é um exemplo pra         gabinete da Presidência do TJPE, pois
     todos de que, quando se tem vontade          ele queria falar comigo. Eu pensei:
     e um objetivo, você pode chegar aon-         ‘Pronto vou para Olinda!’. Só que não
     de quiser. Tenho muito orgulho do pai        era Olinda, era Petrolina. Houve uma
     que tenho, não só no âmbito profissio-       necessidade de juiz naquela comarca e
     nal, mas, acima de tudo, pela pessoa         o presidente disse: ‘Jovaldo, eu estou
     que ele é”, afirma Anne.                     precisando de você em Petrolina’. Eu
                                                  respondi: ‘Se não tem opção, eu vou.
     O curso de direito, o ingresso na            Sou soldado!’. Aí fui para Petrolina”,
     magistratura                                 relembra.
        Aos 26 anos, Jovaldo Nunes ingres-            Jovaldo passou aproximadamente
     sou na primeira turma da Faculdade           oito meses na comarca. Depois, voltou
     de Direito de Olinda. Na época, ele          para Jaboatão, já como juiz titular. Em
     conciliava o trabalho no 4º Cartório         1989, ele foi promovido por mereci-
     de Notas e Ofícios de Olinda com os          mento a juiz da 3ª Entrância (Comarca
     estudos. Jovaldo conta que a atuação         da Capital), tornando-se titular da 4ª
     no cartório ajudou muito na condução         Vara da Fazenda Pública. Jovaldo
     do seu curso, visto que vivenciava o         também coordenou a instalação da
     dia-a-dia dos advogados e juízes com         17ª Vara Cível, pela qual passou a
     os processos. Em 1982, ele resolveu          responder, e por último assumiu a
     prestar concurso para magistrado             10ª Vara Cível, onde permaneceu até
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                                                              Ser presidente do
                                                              TJPE não é fácil,
                                                              porém é mais uma
                                                              missão, é mais um
                                                              trabalho




                   2001. Questionado sobre a decisão          também contou com a presença de
                   mais importante que tomou como juiz,       diversos familiares e amigos, dentre
                   Jovaldo relembra de uma ocasião em         estes os irmãos Assis e Lauro, que na
                   Riacho das Almas, quando presenciou        ocasião continuavam carinhosamente
                   uma família disputando herança. Os         chamando Jovaldo pelo apelido de
                   herdeiros não se entendiam, dirigiam e     infância, Vavá. “Essa ligação com a
                   sofriam ameaças, inclusive de morte.       minha terra e origem, eu faço questão
                   Diante da contenda, o juiz Jovaldo         de preservar. Sempre que posso, vou
                   resolveu marcar uma audiência de           lá e me sinto à vontade. Quando vou à
                   conciliação e juntou todos os herdeiros    Paraíba, eu sou recebido com festa”,
                   numa mesa. A audiência durou cerca         declara Jovaldo.
                   de duas horas e o juiz conseguiu unir          “Por favor, não me peça para decidir
                   aquela família, dividindo a propriedade    entre Pernambuco e Paraíba”, é o que
                   entre todos e pedindo que os presen-       diz Jovaldo ao repórter, antes mesmo
                   tes pedissem perdão uns aos outros.        deste abordar o assunto. Para Jovaldo,
                   “Para mim, essa história tem muito         não há escolha, ambas as terras são
                   significado. Como juiz, eu fiquei muito    dignas de seu agradecimento. Em
                   satisfeito”, afirma.                       março de 2001, quando ainda era juiz
                      Em março de 2001, a cidade de           da 10ª Vara Cível, ele recebeu o título
                   Emas fez uma festa. O ilustre filho da     de Cidadão de Pernambuco, outorga-
                   terra, Jovaldo Nunes, acabara de ser       do por unanimidade pelos membros
                   nomeado desembargador do Judiciário        da Assembleia Legislativa do Estado.
                   pernambucano, por merecimento. O           Dez anos depois, no dia 7 de abril de
                   pessoal de sua terra resolveu prestar      2011, ele recebeu o título de Cidadão
                   uma homenagem, já que Jovaldo era          do Recife, outorgado pela Câmara de
                   o primeiro desembargador daquela           Vereadores. No requerimento da co-
                   região. Teve churrasco, faixas nas ruas,   menda, a escolha de seu nome acon-
                   saudação na Câmara dos Vereado-            teceu tendo como objetivo “registrar
                   res com a presença dos prefeitos de        a importância de uma vida dedicada
                   Emas, Piancó e Catingueiras. A festa       à Justiça”. Ao falar de Pernambuco,
foto: Assis Lima
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     Jovaldo Nunes declara imediatamente         apenas te agradecer todos os dias que
     seu louvor à Olinda. Ele diz: “Eu adoro     restarem da minha vida’”, compartilhou
     Olinda. De Olinda, só sairei levado, só     em seu discurso.
     sairei à força”.                                Ainda em seu discurso de posse, o
        Como desembargador, Jovaldo              novo presidente do TJPE citou a sua
     Nunes foi diretor da Escola da Magis-       cidade natal, Emas, bem como a sua
     tratura de Pernambuco (Esmape), pre-        chegada ao Recife. Ele também se
     sidente do Tribunal Regional Eleitoral e,   dirigiu aos servidores do Judiciário, afir-
     ainda, vice-presidente do TJPE. Duran-      mando que assumia a missão de ser
     te a gestão como diretor da Esmape,         presidente do Tribunal com uma imen-
     no biênio 2002/2003, ele foi responsá-      sa vontade de acertar. “Eu sou filho
     vel pela aquisição da sede própria da       de servidores públicos do Estado da
     entidade. “Eu me sinto muito satisfeito     Paraíba. Meus pais eram serventuários
     de ter tomado a iniciativa para comprar     da Justiça. Também fiz parte dessa
     a sede da Escola. Na época, consegui-       classe durante 17 anos na Comarca de
     mos dar uma nova visão, uma melhoria        Olinda. Essa é minha origem, da qual
     no ensino. Depois, o desembargador          me orgulho. Pretendo manter com a
     José Fernandes, que me sucedeu, deu         classe um relacionamento cordial, res-
     continuidade ao trabalho. Depois dele,      peitoso e sincero. Precisamos trabalhar
     os desembargadores Jones Figuerêdo,         juntos”, afirmou o desembargador.
     Frederico Neves e, hoje, o desembar-            Questionado hoje sobre como é ser
     gador Leopoldo Raposo”, conta.              chefe do Poder Judiciário de Pernam-
                                                 buco, Jovaldo responde que “não é
     A Presidência do TJPE                       fácil, porém é mais uma missão, é
         No dia 9 de fevereiro deste ano, o      mais um trabalho”. Como presidente
     desembargador Jovaldo Nunes Gomes           do TJPE, ele propôs a criação de mais
     tomou posse como presidente do              três cargos de desembargadores para
     Tribunal de Justiça de Pernambuco.          a Casa. Atento, ele também efetuou
     Ao seu lado, ocupando os cargos de          uma radiografia do Judiciário, contem-
     vice-presidente e corregedor geral da       plando a necessidade de criar mais
     Justiça, respectivamente, os desem-         1.019 cargos de servidores para lotar
     bargadores Fernando Ferreira e Fre-         as unidades judiciárias, sobretudo do
     derico Neves. A solenidade aconteceu        interior do Estado. “Esses exemplos
     no Palácio da Justiça de Pernambuco,        são projetos que, como presidente
     na Sala Des. Antônio de Brito Alves. O      de um Tribunal, qualquer magistrado
     espaço se tornou pequeno para abri-         se sente lisonjeado em poder efetuar.
     gar as autoridades, servidores, amigos      Porém, eu tenho mais coisas a fazer.
     e familiares presentes. Emocionado,         O nosso Judiciário precisa ser reestru-
     Jovaldo Nunes iniciou seu discurso          turado para atender às necessidades
     de posse agradecendo aos pais, já           da população. Sinto-me feliz, pois,
     falecidos, pelo exemplo de vida que         mesmo com dificuldades, eu sei que
     transmitiram; e à família que constituiu    temos avançado. E este é um trabalho
     em Pernambuco - sua esposa Darci e          gratificante, em prol da Justiça e da
     os filhos Dayse, Jovaldo Júnior e Anne.     população”, comenta.
     Na ocasião, ele também falou sobre              Jovaldo não esconde sua indigna-
     uma particularidade do seu cotidiano        ção ao se referir aos entraves buro-
     no TJPE, algo já muito notado pelos         cráticos e seus extensos prazos e,
     servidores e magistrados da Casa. Ele       como exemplo, ele cita as necessárias
     se referiu ao seu momento de devo-          reconstruções dos fóruns nas co-
     ção na capela do Palácio da Justiça,        marcas do interior, que muitas vezes,
     onde constantemente ele pratica sua         demoram a se concretizar. Contudo o
     religiosidade, agradecendo a Deus pela      presidente do TJPE se sente feliz ao
     vida. “Então, no final das minhas bre-      ver nos jornais a produção do Judici-
     ves orações, naquela pequena capela,        ário pernambucano aumentando: “Se
     digo: ‘Senhor, não tenho o direito de te    a nossa produtividade aumenta, isso
     pedir mais nada; já me deste tudo. O        significa que nós estamos distribuindo
     meu dever, de agora em diante, é de         Justiça. Nós estamos corresponden-
                                                                                               foto: Assis Lima
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                      Para o vice-presidente do TJPE,
                      desembargador Fernando Ferreira, Jovaldo
                      é um humanista nato




                                                                 do à expectativa. Outra coisa que me        conseguir dotar as unidades judiciá-
                                                                 deixa alegre é a procura. Muita gente,      rias de mais pessoal. “Esta é a minha
                                                                 muita gente procurando a Justiça. Mês       principal meta. Eu não posso, repito,
                                                                 a mês, ano a ano, a procura pela Justi-     exigir alta produtividade do juiz do 1º
                                                                 ça é grande. Para mim, tal fato significa   Grau que possui apenas um ou dois
                                                                 que o povo confia na Justiça e isso me      funcionários. Mas, a partir do mo-
                                                                 deixa satisfeito”.                          mento que proporcionamos melhores
                                                                    Quando fala em metas de gestão,          condições de trabalho, teremos como
                                                                 o presidente do TJPE retorna ao seu         cobrar o retorno. E eu tenho certeza de
                                                                 discurso de posse. Sua principal            que, dentro do possível, esse retorno
                                                                 meta é lotar as unidades judiciárias        vem acontecendo na minha gestão.
                                                                 de servidores. “Minha equipe fez um         Em quatro meses de gestão, eu já
                                                                 levantamento. Nós chegamos à con-           nomeei cerca de 500 servidores”, diz o
                                                                 clusão de que cada unidade judiciária       presidente do TJPE.
                                                                 de primeira entrância deve ter seis ser-        Zelo e cuidado com a instituição
                                                                 vidores; de segunda, sete servidores;       e o jurisdicionado são traços bem
                                                                 e de terceira entrância, nove. É um         visíveis no magistrado Jovaldo Nunes.
                                                                 quantitativo mínimo, e não quer dizer       Para o chefe de gabinete da Presi-
                                                                 que numa unidade não possa ter mais         dência do TJPE, Daniel Leão, Jovaldo
                                                                 servidores. Com esse estudo, conclu-        preza pela simplicidade e clareza nas
                                                                 ímos que não podemos exigir tanto           suas decisões, inclusive ele sempre
                                                                 de um juiz que só tem um ou dois            recomenda à sua equipe a trabalhar
                                                                 funcionários. Se você estrutura uma         com uma linguagem em que todas as
                                                                 unidade judicial, essa unidade tem          partes entendam o que foi decidido.
                                                                 condições de render mais. Então, este       Daniel trabalha com o desembargador
                                                                 é o meu grande objetivo. Se no final        Jovaldo Nunes desde 2008 e diz que
                                                                 da minha gestão, eu tiver preenchido        ele sabe como proporcionar união
                                                                 e dotado todas as unidades com esse         em sua equipe, sempre agindo com
                                                                 quantitativo de pessoal, eu me sentirei     cordialidade e procurando quebrar as
                                                                 muito feliz”, afirma.                       barreiras que, por ventura, possam
                                                                    Numa de suas viagens institucio-         existir entre magistrados e servidores.
                                                                 nais a Brasília, o chefe do Judiciário      “O desembargador Jovaldo trata todos
                                                                 estadual visitou o presidente do            com igualdade, ele é um chefe que
                                                                 Superior Tribunal de Justiça, minis-        ganha o respeito de todos nós sem
                                                                 tro Ari Pargendler. Na visita, Jovaldo      precisar impor autoridade. O seu senso
                                                                 apresentou um cronograma com o              de Justiça é sua principal virtude como
                                                                 projeto de lotar as unidades judiciárias    magistrado, ele sempre nos ressalta
                                                                 pernambucanas com mais servidores.          que a função do julgador é fazer Justi-
                                                                 O ministro gostou do que viu e disse        ça”, afirma Daniel.
                                                                 ao presidente do TJPE que este pode             Para o vice-presidente do TJPE,
                                                                 se considerar realizado como gestor se      desembargador Fernando Ferreira,
foto: Juliana Motta
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              uma característica muito peculiar da        do Judiciário pernambucano”, declarou
              personalidade de Jovaldo é particu-         o desembargador Fernando Ferreira.
              larmente notável: “O amigo concilia,            Ao fim da entrevista, Jovaldo Nunes
              com rara felicidade, a sensibilidade de     encara o repórter e ressalta que não foi
              um humanista nato com um invulgar           fácil chegar à Presidência do Tribunal
              tirocínio para a função judicante”. Ele     de Justiça pernambucano. “Estas são
              também destaca os gestos bondosos           as linhas gerais da minha trajetória de
              de Jovaldo Nunes no dia-a-dia, tanto        vida. Para chegar aqui, eu ralei e sofri
              nas atividades jurisdicionais e adminis-    muito”, diz. Depois do comentário,
              trativas no Tribunal de Justiça quanto      Jovaldo sorri e prova que não se deixa
              nas interações familiares que ambos         ferir ou abalar pelos obstáculos passa-
              costumam promover ao longo de mais          dos, mostrando que soube absorver
              de 15 anos de estreita amizade. “Sua        grandes lições diante de todas as
              historia de vida é, certamente, a mais      adversidades que enfrentou. Na mesa
              bonita deste Tribunal. Jovaldo soube        de reuniões da Presidência do TJPE,
              vencer todas as adversidades em seu         o desembargador observa o carro de
              caminho, tendo construído, junto com        boi nordestino. “Eu acho essa obra
              Darci, uma prole bonita, unida e vitorio-   muito importante. E nem é pelo valor
              sa. Ele é um homem rico de recursos         material, mas sim pelo valor emocional.
              íntimos, dotado de invulgar inteligên-      O gesto dele, de me achar nobre e
              cia despida de eruditismo pedante.          humilde, emociona. O porquê dele me
              Costumo defini-lo como uma pessoa           considerar nobre e humilde, eu não
              que nasceu premiada com o tirocínio         sei... Olha, eu me sinto muito lison-
              de magistrado. Sempre me impres-            jeado com o reconhecimento dessa
              siona sua capacidade para desarmar          nobreza e humildade que o seu João
              espíritos e intrigas, sua tranquilidade     ‘Pintor’ acha que eu tenho. Seu João
              no enfrentamento dos problemas, os          é uma pessoa extraordinária, uma pes-
              mais diversos, e a transparência no         soa muito simples. É um artista não é?
              trabalho voltado para a administração       Fazer isso aí, só sendo um artista...”,
              da Justiça. Sinto-me honrado por ser        assim conclui Jovaldo Nunes Gomes.
              seu amigo e, atualmente, escudeiro          Com humildade. •
              no desenvolvimento de ambiciosos                                 Texto: Micarla Xavier
              projetos para um bom governo à frente                    Entrevista: Rafael Cavalcanti




               Escultura feita por João “Pintor” em
               homenagem ao desembargador
               Jovaldo Nunes
perfil    25




                                                                   Fractais
                                                                   do tempo
                                                                   Decano do Tribunal, o
                                                                   desembargador Jones Figueirêdo
                                                                   revela momentos marcantes da
                                                                   sua história

                                                                   Wesley Prado

                                                                   Numa tarde fria de junho, conversei
                                                                   com o desembargador, que então
                                                                   assumia interinamente a Presidência do
                                                                   Tribunal de Justiça enquanto o colega
                                                                   desembargador Jovaldo Nunes assu-
                                                                   mia o Governo do Estado. A conversa
                                                                   foi longa, ia e voltava no tempo, várias
                                                                   vezes. Era até difícil acompanhá-lo
                                                                   nessa viagem. Afinal, alguém com uma
                                                                   carga de histórias como de a Jones
                                                                   Figueirêdo Alves, decano do Judiciário
                                                                   pernambucano, tem muita coisa para
                                                                   contar. Num dado momento, o diretor
                                                                   geral do TJPE, Leovegildo Mota, que
                                                                   esteve presente em parte da entrevista,
                                                                   lançou a epígrafe do livro de memórias
                                                                   do escritor Gabriel Garcia Marquez: “A
                                                                   vida não é a que a gente viveu, e sim a
                                                                   que a gente recorda, e como recorda
                                                                   para contá-la”. Se essa frase cabe a
                                                                   alguém mais além de Garcia Marquez,
                                                                   esse alguém se chama Jones Figuei-
                                                                   rêdo.
                                                                       Nascido no Recife, em 20 de agosto
                                                                   de 1947, na Rua José de Alencar, Boa
                                                                   Vista, e criado em Garanhuns, Jones
                                                                   cresceu sob importante valor: o da
                                                                   qualidade. Seu pai, Sebastião, mestre
                                                                   de obras e topógrafo, chegava a
                                                                   recusar trabalhos se o material da obra
                                                                   fosse de segunda qualidade. “Fui edu-
                                                                   cado assim. Valorar as coisas e não ser
                                                                   refém daquelas que não sejam verda-
                                                                   deiras”. Além desse nível de exigência
                                                                   diante da vida, seu pai foi um visioná-
                                                                   rio. Em 1951, comprou um terreno nas
                                                                   cercanias de Garanhuns, loteou a área,
                                                                   denominando-a Jardim Mundaú. Hoje,
                                                                   esse loteamento configura-se em um
                                                                   dos bairros daquele município. Esse
                      Jones Figueirêdo: “Fui educado assim.        mesmo terreno, certamente, desper-
                      Valorar as coisas e não ser refém daquelas   tou inspirações futuras no menino
                      que não sejam verdadeiras”                   Jones. Ao menos indiretamente. Seu
foto: Juliana Motta
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     Sebastião colocou anúncio na rádio          de direito na Universidade Federal de
     da cidade, patrocinando o programa          Pernambuco, e jornalismo na Uni-
     A Crônica do Meio-Dia, onde o locutor       versidade Católica de Pernambuco.
     lia uma crônica sobre um assunto do         A admiração pela toga não veio da
     dia-a-dia, com uma voz tonitruante,         família – nenhum de seus parentes
     empostada. “A gente corria, eu e meu        era bacharel em direito. A vontade de
     irmão, para ouvir o jingle do terreno e     ser aluno da Faculdade de Direito veio
     a crônica. Com seis anos de idade, eu       da mística do lugar, de ser “a casa
     ficava em cima de um tamborete, repe-       de Tobias Barreto”. Não acreditava,
     tindo o que o locutor dizia. Talvez tenha   porém, que conseguiria ser aprovado
     surgido daí aquela ideia de oratória”.      na UFPE. “Não tinha feito cursinho
     Talvez nasceu ali, sem ele nem mesmo        preparatório. Naquela época, só existia
     saber, a vocação para duas carreiras        um famoso, o Curso Torres, e eu não
     que ele seguiria futuramente: o direito e   tinha condições de pagar”. Escolher
     o jornalismo.                               um segundo curso em outra faculdade
         Anos mais tarde, Jones e o amigo,       foi um caminho natural. “Então, resolvi
     Gladstone Vieira Belo... Sim, o vice-       que faria jornalismo. Se não passasse
     presidente do Diario de Pernambuco. A       [em direito], pelo menos poderia passar
     vida tem das suas coincidências, tam-       em jornalismo e aí, não teria que
     bém conhecidas como destino... Jones        perder um ano”. Passadas as pro-
     e Gladstone estudavam no Colégio            vas, o resultado: 14º lugar em direito
     Diocesano, em Garanhuns. Cursaram           e 4º lugar em jornalismo. Guerreiro,
     juntos o clássico – equivalente ao atual    Jones cursou ambas as graduações
     ensino médio. Jones escrevia para o         simultaneamente. Direito pela manhã
     semanário da Diocese, chamado O             e jornalismo à noite. E ainda trabalha-
     Monitor, geralmente uma coluna literá-      va no Jornal do Commercio, à tarde.
     ria. Mais tarde, ele e Gladstone tiveram    “Para me sustentar, tinha que custear
     um programa de rádio, com atualida-         a faculdade. Meus pais não moravam
     des e notícias. Numa das edições des-       aqui, moravam em Garanhuns. Passei        Desde o primeiro
     se programa, um caso muito curioso          um ano morando em república”.
     aconteceu. O papa João XXIII falecera,          Precoce, Jones teve sua primeira      minuto da minha
     e os dois jovens radialistas resolveram     experiência de júri ainda muito verde
     fazer uma edição homenageando o             no curso de direito. Precisamente 15      carreira, sempre
     pontífice. Jones foi até o bispo Dom        dias após começarem as aulas. De
     Adelino Dantas, conseguir réquiens          volta a Garanhuns, para aproveitar as     me dediquei
     para a trilha sonora do programa.           férias e comemorar a aprovação nos
     Jones e Gladstone redigiram o texto,        dois vestibulares, encontra o advogado    a um trabalho
     produziram o programa, a história de        Everardo Gueiros, a quem chamou de
     João XXIII passada a limpo. Lá pelas        velho professor durante a conversa, e     institucional de
     tantas, havia uma referência ao então       recebe o convite: “Jones, você agora
     presidente americano Dwight Eisenho-        é estudante de direito. Devia fazer um    cooperação com
     wer e ao secretário-geral da ONU, Dag       júri aqui. Você fazia júri simulado no
     Hammarskjöld. “Só que ninguém sabia         Diocesano [como, por exemplo, o júri      a melhoria do
     pronunciar o nome dos dois... Não           de Lampião]... Tenho um em Angelim,
     lembro quem de nós emperrou na pro-         você podia fazer. Topa?”. Jones topou.    Judiciário
     núncia, o nome não saía. Caímos na          Em 17 de março de 1966, estava ele
     gargalhada, e a sonoplastia subiu para      defendendo um ancião, acusado de
     tentar encobrir a gafe”, conta risonho      matar duas mulheres, mãe e filha, vizi-
     o desembargador. Escrever para um           nhas dele, por uma briga de roçado.
     semanário e produzir um programa de             Everardo Gueiros fez a abertura dos
     rádio ainda rendeu mais uma inusitada       trabalhos de defesa e passou a bola
     conquista para Jones: ser secretário de     para Jones. Que fez bonito, por sinal.
     Imprensa da Prefeitura de Garanhuns,        Absolvição por cinco a dois. Satisfei-
     no Governo de Amílcar da Mota Valen-        to, o acusado absolvido pagou cinco
     ça, com 16 anos e meio.                     cruzeiros. O primeiro da carreira dele.
         Voltemos para Recife. Jones estava      Com esse dinheiro, Jones conseguiu
     para fazer o vestibular. Tentou o curso     comprar quatro livros de direito. Os
                                                                                                              foto: Assis Lima
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primeiros de sua vida. O primeiro deles,        Jones viveu uma época do jorna-         qualificado e a reunião não vai aconte-
uma obra sobre criminologia de um           lismo que ele chama de “romântica”.         cer”. “Mas o senhor me autoriza a dizer
autor italiano, foi lavrado em ata. De      Tempos onde o sujeito chegava diante        isso?”. “Pode, não vai ter reunião”.
sua biblioteca pessoal com mais de 12       de uma máquina de escrever Olivetti e       Jones correu para a redação, para não
mil volumes, esse é seu xodó.               começava a bater a pauta, sem poder         perder aquele furo. E aconteceu como
    Se seu primeiro episódio de carreira    errar – se errasse, jogava a página         Sarney disse... (Em tempo: o assessor
acadêmica foi inusitado, que dizer          inteira no lixo. Tinha que escrever rápi-   de imprensa da Sudene era redator do
daquele momento que fechou parte            do, lead e sublead, concentrar ideias,      Diario).
desse ciclo? Jones foi orador de turma      escrever texto... Sem auxílio de Inter-         Além das editorias mais conhecidas,
em ambos os cursos, mas na forma-           net, celular ou agências de notícias na     Jones trabalhou em uma que os mais
tura de jornalismo, em 1978, certos         apuração. Só havia o legwalking, que        jovens praticamente nunca ouviram
acontecimentos foram históricos. A          o lendário jornalista Gay Talese tanto      falar (hoje, nem existe mais): personali-
cerimônia, no mosteiro de São Bento,        defendia: a necessidade do jornalista       dades em trânsito. Ele explica: “Gente
contou com um convidado nada es-            de botar o pé fora da redação e ir atrás    importante que chegasse no Recife,
pecial: a ditadura. O 4º Exército – hoje,   de sua notícia.                             eu cobria a visita. Tanto podia entrevis-
Comando Militar Nordeste – queria               Jones trabalhou em praticamente         tar um deputado suíço como discutir
tomar o discurso preparado por Jones        todas as principais editorias de um         com um cientista nuclear sobre reator
para censura. Ele se negou, no que          jornal. Só não trabalhou em jornalismo      atômico, ou quem sabe, esbarrar com
teve apoio do então reitor da Unicap,       policial e esportivo. O primeiro pela       a Miss Brasil... Conheci Vera Fischer
Potiguar Matos, a quem permitiu a           crueza das notícias, o envolvimento,        quando ela tinha 18 anos e veio aqui,
leitura do discurso. “Vai depender da       até certo ponto, com os maus elemen-        de Joinville, para a Fecin (Feira de
sua entonação, da sua gesticulação”,        tos. O segundo, por não lhe atrair. Co-     Comércio e Indústria do Nordeste),
brincou o reitor. O discurso era infla-     meçou na editoria de política. Cobria       realizada onde hoje é a Jaqueira, em
mado – “coisas de estudante revolu-         as sessões da Assembleia Legislativa        1969”. Ele também fez a completa
cionário”, ele sorri. Mas o ponto alto da   de Pernambuco (Alepe). Pouco tempo          cobertura da visita da Rainha Elisabeth
solenidade foi a presença da patrones-      depois, foi transferido para a de econo-    ao Recife, naquele ano.
se Niomar Muniz Sodré de Bittencourt,       mia, quase simultaneamente ao convite           Mas o grande desafio nessa editoria
dona do Correio da Manhã, jornal            do deputado Paulo Rangel Moreira, en-       eram os estrangeiros. Jones admite
emblemático no combate à ditadura.          tão presidente da Alepe, para que ele       que nunca teve grande domínio da lín-
Na sua vez de discursar, ela contou a       chefiasse a bancada de imprensa do          gua inglesa. E pior, ele “concorria” com
história do pai, jornalista e fundador do   órgão. “Assim, ganhei meu segundo           Lino Rocha, do Diario de Pernambuco,
jornal, durante o Estado Novo... Uma        emprego”, conta.                            que, dentre tantas línguas, falava até
forma inteligente de protestar diante da        Já como repórter de economia, co-       russo. Um dia, recebeu a informação
intenção dos militares de censurarem a      bria pautas relativas à Superintendên-      de que Euclides Zerbini, o “homem
formatura. “Mera coincidência”, ironiza     cia de Desenvolvimento do Nordeste          do coração”, médico que realizou o
Jones, que completa: “Tudo aquilo que       (Sudene). Foi onde conheceu Sarney.         primeiro transplante de coração no
ela dizia da ditadura de Vargas cabia       O governador do Maranhão tinha              Brasil, convidara o médico sul-africano
naquele momento”. Niomar acabou             35 anos e veio ao Recife para uma           Christiaan Barnard, que tinha realizado
detida após o encerramento da forma-        reunião com outros governadores da          o primeiro transplante de coração do
tura, para prestar mais depoimentos.        região, na Sudene. O chefe de Estado        mundo, para palestrar, em São Paulo,
Seu jornal, no entanto, não resistiu        paraibano, João Agripino, defendia          sobre uma técnica nova que ele havia
à pressão e acabou sendo fechado            participação de lucro das empresas          desenvolvido. Jones seguiu viagem e
tempos depois.                              pelos empregados, tema que estava           esperou o voo de Barnard no aeropor-
    As histórias de Jones Figueirêdo        na agenda da Sudene. Quando Jones           to. Chegando lá, na tentativa do furo
naquela que seria sua segunda vo-           terminou seu dia de trabalho, partiu        de reportagem, encontra Lino Rocha.
cação, o jornalismo, são no mínimo          para a faculdade, passando depois           Não teve outra: os dois “disputaram” a
interessantes. De conversas acom-           pelo Grande Hotel, um dos melhores          atenção do médico. Jones fez uma en-
panhadas de uísque com Sarney, no           da cidade entre os anos 50 e 70, e          trevista rápida com Barnard. O médico
antigo Grande Hotel, a driblar barrei-      onde estavam hospedados os que par-         havia descido junto com a tripulação.
ras idiomáticas com boas ideias de          ticipariam da reunião. No Esquina 17,       Jones teve uma ideia: procurou o capi-
improviso, Jones tem muitas delas. “O       encontrou Sarney, tomando uísque. Ele       tão da aeronave e perguntou quem via-
jornalismo foi uma experiência boa. Eu      o chamou para dividir a bebida e Jones      jou ao lado de Barnard. Deu sorte. O
acho uma escola de vida. Porque você        aproveitou para perguntar: “A reunião       companheiro de viagem do médico foi
passa a ter um exercício de dialética,      de amanhã será uma pauta muito con-         um empresário paulista. E melhor, os
de retórica, de estilo, de tudo. Sempre     trovertida?”. Sarney disse: “Não, vai ter   dois haviam conversado muito durante
foi muito bom, como aprendizado de          uma questão técnica amanhã, vamos           a viagem. Jones teve detalhes que Lino
vida, de humanidade”.                       suscitar um problema de quórum              não conseguira, como saber que o
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     médico estava com uma enfermidade                 O relator foi o pernambucano Ricar-
     numa das mãos ou que já manifestava           do Fiúza, e o presidente da comissão,
     vontade de trabalhar com transplante          João Castelo. Ficou resolvido que
     de rins, por exemplo. Graças à astúcia        seriam feitas audiências públicas com
     de Jones em driblar a situação, o             vários juristas do país. Gente como Mi-
     Jornal do Commercio publicou matéria          guel Reale, autor do projeto original, Ál-
     muito mais ampla.                             varo Vilaça, Moreira Alves, entre outros.
         Jones Figueirêdo deixou o JC em           Ao término da série de audiências,
     69, no fim do curso de jornalismo, para       Fiúza quis a participação de alguém
     advogar. Seu velho amigo Gladstone            de Pernambuco e pediu indicação de
     foi enfático. “Jones, você não pode           nome ao TJPE. Jones foi indicado para
     deixar jornal! Você vai escrever aqui         fazer uma das palestras sobre o pro-
     pro Diario”. E assim, voltou à atividade      jeto na Comissão da Câmara Federal
     jornalística, escrevendo uma coluna de        para os 32 deputados.
     notícias variadas e literatura, que ele           Jones notou logo um problema. O
     não podia assinar por não ter vínculo         lapso de tempo entre o trâmite do pro-
     trabalhista. Era algo que fazia mais por      jeto o deixou desatualizado, especial-
     devoção do que por necessidade. Um            mente na presença da então recente
     freelancer em termos.                         Constituição Federal de 1988. “Havia
         Não pense o caro leitor que a             um buraco negro e aquele projeto todo
     carreira jurídica de Jones Figueirêdo         deveria ser salvo com normas de con-
     não tem a mínima relevância. Essa             sonância. Ou seja, ajustar a legislação
     longa tratativa sobre o jornalista Jones,     superveniente e fazer com que aquele
     até agora, foi apenas para trazer um          texto pudesse ser adequado em
     aspecto inusitado do ilustre desembar-        relação à própria Constituição. Para se
     gador. Maior prova disso é uma impor-         ter uma ideia, já existiam leis de união
     tante contribuição sua para a vida do         estável e o projeto sequer abarcava
     brasileiro: a participação na Comissão        isso. Elenquei mais de 40 situações de
     Especial do novo Código Civil.                inconstitucionalidade, por omissão ou
         A reforma do Código Civil é um pro-       porque havia uma quebra da própria
     jeto que vem desde 1971. Na época,            ordem constitucional nova”, comenta o
     Jones estava terminando a graduação           desembargador.
     em direito. Foi criada uma comissão de            Fechada essa fase das sessões, foi
     notáveis para elaborar um anteprojeto         feito um relatório geral da comissão.
     de lei que pretendia mudar o Código           Foi por apontar esse problema do pro-
     Civil de 1916, até então vigente. O           jeto que Jones acabou recebendo um
     Executivo recebeu o anteprojeto e o           convite de Michel Temer, presidente da
     encaminhou à Câmara Federal, em               Câmara Federal, para ficar à disposi-
     1975. Ano em que Jones entrava na             ção da mesma e ajudar. Foram mais
     magistratura. Coincidências...                de seis meses, no ano de 1999; Jones
         “Veja como as coisas são interes-         estava começando sua carreira de
     santes... Eu não comprei muito livro de       desembargador no TJPE. O relatório
     direito civil porque os livros que eu tinha   preliminar teve mais de mil páginas.
     da faculdade eram todos do Código             “Foi quando a Câmara resolveu fazer
     de 1916, e quando entrei na magistra-         uma solução bicameral, permitindo que
     tura, foi exatamente quando se fez o          o projeto voltasse ao Senado, para que
     primeiro projeto de lei do Código Civil.      houvesse um parecer, atualizando-o,
     Pensei comigo ‘não vou comprar muito          para depois retorná-lo à Câmara.
     livro de direito civil porque vai mudar           Àquela altura, o presidente da
     rapidamente’. E se passaram 27 anos...        Câmara era Aécio Neves, que pediu a
     O projeto ficou na Câmara Federal de          Jones para que retornasse e ficasse
     1975 a 1984, e no Senado, de 84 a 96.         novamente à disposição. Assim se fez.
     Em 96, voltou para a Câmara apreciar          Nessas voltas e voltas do projeto, ele
     as trezentas e poucas emendas do              finalmente é aprovado. “Repare bem,
     Senado. Em 99, criaram uma Comis-             o primeiro projeto desse Código Civil
     são Especial na Câmara Federal para a         foi publicado no Diário do Congresso
     reforma do Código Civil”.                     quando eu entrei na magistratura. Mal
perfil   29




                                                                                                            Como pesquisador, o desembargador
                                                                                                            Jones Figueirêdo colaborou em diversas
                                                                                                            obras jurídicas




                     sabia eu que 27 anos depois, viria ser     nome pra fazer essa palestra. Eu fui o      Nos idos de 1981, quando os compu-
                     participante junto à Comissão Relatora     indicado. Nunca houve antes alguém          tadores de grande capacidade eram os
                     da reforma do Código Civil”.               que pudesse ser colocado à dispo-           enormes mainframes, Jones estabele-
                        O reconhecimento por esse trabalho      sição de outro Poder como juiz pra          ceu o plano diretor de implantação do
                     está afixado na parede de seu gabi-        trabalhar no processo legislativo”.         sistema de Informática do TJPE, tendo
                     nete, junto de tantos outros títulos.                                                  realizado visitas de benchmarking, em
                     Uma foto e uma placa, com Aécio            Deixando marcas                             1985, no Judiciário de São Paulo e de
                     Neves e João Castelo, onde recebeu a          A importância do trabalho de             Belo Horizonte. A intenção era analisar
                     Medalha do Legislativo pelos serviços      Jones Figueirêdo também aparece             o modelo dos sistemas de Informática
                     prestados. Sobre a experiência, Jones      em nível estadual. “Completei 36 anos       dessas instituições e avaliar qual seria
                     comenta: “Foi muito boa. A primeira        de magistratura, iniciados em 27 de         o mais adequado para o Tribunal.
                     obra doutrinária sobre o CC teve minha     novembro de 1975. Se você consi-               Ao assumir a Presidência do TJPE,
                     participação. É muito importante você      derar tudo que aconteceu em nosso           em 2008, ele deu continuidade a essa
                     ver certas coisas que acontecem e que      Poder Judiciário, vai sempre encontrar      modernização, através da informatiza-
                     eu diria imprevisíveis”.                   minhas impressões digitais”. Ele não        ção de todas as comarcas de Per-
                        Em 1996, o Tribunal abriu um            diz isso por orgulho besta, muito pelo      nambuco. Até junho daquele ano, nem
                     prêmio de monografias jurídicas.           contrário. Jones sempre teve interesse      metade das comarcas era informatiza-
                     “Participei e ganhei o primeiro prêmio     em trabalhar pelo Judiciário, indo além     da. “Não havia ligação em rede algu-
                     com uma monografia sobre o poder           da função judicante. “Desde o primeiro      ma. A informatização se resumia a um
                     ex-officio”. Nos dois anos seguintes,      minuto da minha carreira, sempre me         computador na mesa. Partimos de 56
                     conquistou a mesma honraria. Parou         dediquei a um trabalho institucional        comarcas informatizadas e chegamos
                     de se inscrever depois disso. Nesses       de cooperação com a melhoria do             a 150, porque eu instalei a comarca
                     três prêmios, todos foram sobre direito    Judiciário”.                                de nº 150, Lagoa Grande. Fechou-se
                     processual civil. “Eu não podia nunca         Uma das suas contribuições de            um ciclo”. E outro foi iniciado, com
                     imaginar que depois fosse me dedicar       grande vulto para o Tribunal de Justiça,    a implantação do Processo Judicial
                     ao direito civil. E aconteceu acidental-   e que mostra o quanto ele herdou o          Eletrônico (PJe), na gestão de José
                     mente, porque o relator da comissão        sentido visionário do pai, foi ele ter      Fernandes de Lemos. “É uma obra que
                     era de Pernambuco, eu tinha chegado        presidido o primeiro plano diretor de In-   você vai botando um tijolo a cada dia.
                     no TJ e ele pediu uma indicação de         formática do Judiciário pernambucano.       As coisas nunca terminam, tem acrés-
foto: Agência TJPE
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  • 1. 1 Revista do Tribunal de Justiça de Pernambuco - Ano III - no 4 - agosto/2012 Esta edição, comemorativa dos 190 anos do Tribunal de Justiça de Pernambuco, reúne os principais projetos e ações desenvolvidos pelo Judiciário estadual, revelando ainda a trajetória de vida de personalidades importantes do mundo jurídico
  • 2. 2
  • 3. 3
  • 4. 4
  • 5. 5 Expediente Produção e Revisão de Textos Assessoria de Comunicação Social do TJPE Chefe da Ascom TJPE Zenaide Barbosa Edição Ivone Veloso Micarla Xavier Zenaide Barbosa Repórteres Bruno Brito Editorial Clareana Arôxa Dyanne Melo A cara bonita do TJPE Ivone Veloso Izabela Raposo Esta edição comemorativa da Revista mo, pois, muito jovem, alto e magérri- João Guilherme Peixoto TJPE está linda. Bem escrita, diver- mo, com grandes cabelos compridos Micarla Xavier sificada, com belo projeto gráfico e que caiam sobre os ombros, ele era Pedro Fernando da Hora fotos de primeira qualidade. Mas não é o único jornalista que eu conhecia Rafael Cavalcanti somente isso. Trata-se de uma edição e a quem podia consultar: eu havia Rebeka Maciel histórica, um legado do que tem sido a sido convidada pelo diretor da Rádio Rosa Miranda luta dos que fizeram/fazem este Tribu- Difusora de Garanhuns, “seu” Ivo, para Vanessa Oliveira nal nos seus 190 anos de existência. escrever a crônica da cidade aos do- Wesley Prado Fiquei emocionada com a história mingos, logo aos domingos. Precisava de Selena, na página 60, menina pobre dos conselhos de um profissional... Projeto Gráfico e Diagramação e doente de apenas cinco anos, mas Esta revista revela, de cara desco- Othon Vasconcelos que soube conquistar a única coisa berta, o quanto o Poder Judiciário está sem a qual o ser humano não vive; ve- fazendo, apesar da falta de verba e de Núcleo de Imagem geta e murcha como uma flor tardia: o um mundo de outras dificuldades, pela Felipe Cavalcanti amor. Amor que a socorreu, protegeu- prestação da Justiça e pelo acolhi- Fernando Gonçalves a e livrou-a da solidão. Tudo graças mento dos jurisdicionados nas mais Luciana Bacelar ao Programa Estrela Guia, que há dez diversas áreas. Luciano Costa anos se consolida como uma alternati- O ministro do STJ Og Fernandes, Othon Vasconcelos va de convívio familiar e comunitário. a quem conheço desde que era um Vibrei com o trabalho da Vara de garoto, me disse outro dia, ao me Publicidade Execução de Penas Alternativas, que encontrar na sala do Tribunal Pleno: Núcleo de Áudio Visual - NAVI foi capaz de tirar Guilherme das drogas “Você voltou para o TJPE, não foi? Fez Núcleo de Imagem - Ascom TJPE e transformá-lo em cidadão honesto e muito bem; aqui é a sua casa, você cheio de dignidade. Isto através do seu tem a cara deste Tribunal!” Pois, minis- Fotógrafos Núcleo de Justiça Terapêutica. E me tro, se eu tenho a cara do TJPE, então, Assis Lima enchi de encantamento com a história nos meus 70 anos estou ficando cada Juliana Motta do presidente Jovaldo Nunes, meni- vez mais jovem e bonita! Leandro Lima no pobre que cavou o seu caminho Como verá o leitor desta revista, Luciano Costa na vida com esforço, dedicação e fruto do trabalho de toda a equipe da Marcos Costa honradez. Assessoria de Comunicação, sobre- Morri de saudade lendo as histó- tudo de Micarla Xavier, Ivone Veloso e Foto da Capa rias de vida do desembargador Jones Othon Vasconcelos. Assis Lima Figueirêdo, decano do TJPE, cujos amigos de infância e adolescência, em Zenaide Barbosa Garanhuns, são também amigos meus. Jornalista e assessora de Ainda em Garanhuns, foi Jones quem Comunicação do TJPE me deu as primeiras lições de jornalis-
  • 6. 6 6 história A Justiça em Pernambuco 12 perfil De menino pobre a presidente do TJPE: a trajetória de luta do desembargador Jovaldo Nunes Fractais do tempo 29 artigo Homenagem ao Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco pelos 190 anos 30 gestão Justiça amplia quadros para atender melhor Transparência é prioridade no TJPE Poderes firmam parcerias em prol da segurança pública e desenvolvimento do Estado 35 corregedoria Frederico Neves cria Núcleo de Apoio aos Juízes e Centro de Orientação Forense Corregedoria implanta Penhora Online 37 conciliação Investimento em conciliação resgata forma natural de resolução de conflitos Proendividados comemora aniversário de um ano com índice de acordos de 80% 42 perfil Alderita Ramos, a mulher que adorna e fortalece o TJPE 47 cidadania Judiciário estadual prioriza combate à violência contra a mulher 50 juizado especial Primeiro Juizado Especial da Fazenda Pública da Capital completa um semestre de funcionamento
  • 7. 7 infância e juventude 52 O direito à acolhida através do Judiciário Programa Mãe Legal comemora parceria com a Prefeitura do Recife Escola Legal, Judiciário efetivo Estrela Guia: há dez anos iluminando caminhos execuções penais 63 Vepa aprimora trabalho após implantação de núcleos perfil 66 A Justiça nas ondas do rádio Um magistrado e o fascínio pela Sétima Arte Homem de leis e letras infraestrutura 74 Diriest adota práticas de racionalização sustentabilidade 79 TJPE investe em um ambiente sustentável tecnologia 82 Reunião elenca prioridades de Tecnologia da Informação e Comunicação Secretaria de Tecnologia da Informação desenvolve sistema de autenticidade digital artigo 86 Duas décadas de atendimento às famílias Os Abutres imprensa 90 Na mídia
  • 8. 8 história
  • 9. 9 A Justiça em Pernambuco Nomes e atos que marcam a sua história Micarla Xavier O Tribunal da Relação da Província excessivas, distância, interrupção do hoje Praça da República; em seguida de Pernambuco foi instalado no dia trabalho e, até mesmo, separação das no antigo prédio do Erário, situado na 13 de agosto de 1822. Por meio de suas famílias, para prosseguirem na mesma praça; passando a se instalar, alvará, em 6 de fevereiro de 1821, busca de solução para as suas causas posteriormente, no andar superior da Dom João VI determinou a sua cria- judiciais. Cadeia Pública, na Rua da Cadeia – ção, justificando-a com a citação de Por sete décadas, esse Tribunal hoje Rua do Imperador –, onde funcio- algumas dificuldades enfrentadas pelos administrou a Justiça em terras per- nou até a sua extinção, em 1892. habitantes de Pernambuco ao terem nambucanas, mediando os conflitos Em cumprimento à Constituição Fe- que recorrer judicialmente, até então, que necessitavam de sua intervenção. deral, promulgada em 24 de fevereiro ao Tribunal da Relação da Bahia. A Nesse período, a sua sede enfrentou de 1891, o Tribunal da Relação deu partir da instalação do seu tribunal, os constantes mudanças, funcionando, passagem ao novo modelo republicano pernambucanos não mais enfrentariam inicialmente, no antigo Colégio dos Je- de Justiça, o Superior Tribunal de Jus- inconvenientes tais quais despesas suítas, localizado na antiga Praça XVII, tiça (STJ), criado por lei estadual. Em foto: Assis Lima
  • 10. 10 história Palácio da Justiça de Pernambuco sua primeira década de existência, o Adentrar no Palácio da Justiça O edifício-sede do TJPE marca a STJ teve como presidentes os desem- de Pernambuco é passear majesto- paisagem do Recife por sua relevância bargadores Gervásio Pires, Francisco samente em seu passado; é como arquitetônica. A presença de certos Correia de Andrade e Manoel do Nas- saborear as madeleines proustianas e elementos na sua composição arqui- cimento Fonseca Galvão. Funcionou vislumbrar a história de sua edificação. tetônica como, por exemplo, os frisos até o advento da Constituição Federal Sua pedra fundamental foi lançada no greco-romanos e os pilares coríntios, de 1934, quando foi denominado Cor- dia 2 de julho de 1924 pelo governa- encimados por capitéis jônicos, fazem te de Apelação. Com a decretação do dor do Estado e juiz federal, Sérgio com que o prédio possa ser classifica- Estado Novo e a Constituição de 1937, Loreto, durante as comemorações do do como um dos mais belos repre- o mesmo passou a ser chamado de primeiro centenário da Confederação sentantes da arquitetura eclética em Tribunal da Apelação, permanecendo do Equador. A inauguração do novo Pernambuco. Considerado, por muitos assim até o ano de 1946, quando foi prédio aconteceu no dia 7 de setembro profissionais e estudiosos, como uma constituído como Tribunal de Justiça de 1930, na gestão do governador das últimas edificações, em seu porte, de Pernambuco (TJPE). Estácio Coimbra, que, no ano de 1927, no Estado. sucedeu a Sérgio Loreto. Na ocasião, Com uma área de 2.506 metros “Este livro há de servir para nelle se o Judiciário pernambucano era presi- quadrados, o palácio possui três lavrar a Acta da Abertura da nova Re- dido pelo desembargador Bellarmino pavimentos, além da cúpula, que lação, mandada instalar nesta Villa do Gondim. abriga mais dois. A fundação do prédio Recife e Província de Pernambuco, por O projeto escolhido para a obra do passou por um difícil processo, devido Carta Régia de S.A.R., o Príncipe Re- Palácio da Justiça foi de autoria de à constituição do terreno, situado gente Constitucional e Defensor Perpé- Giácomo Palumbo - arquiteto italiano numa área de mangue. Outrora, em tuo do Reyno do Brasil, de 2 de junho formado pela Escola de Belas Artes de suas proximidades, havia um braço do anno corrente, assim como prova Paris - com colaboração de Evaristo de de rio que fora aterrado no período da os termos dos lavramentos e posse do Sá. O local escolhido para a edifica- presença holandesa em Pernambuco Chanceler, e mais Desembargadores ção do palácio – o bairro de Santo (1630-1654). A parte central do prédio que foram empregados na mesma Antônio, no Centro do Recife - está foi reforçada, em sua fundação, com Relação. Vai por mim numerado e intimamente relacionado com a história 12 pilastrões, que têm como intuito rubricado com o meo acolhido prévio e do Estado de Pernambuco. Válido é distribuir o peso da cúpula. tem no fim hum termo de encerramen- ressaltar que aquela área pertenceu ao A fachada principal do Palácio da to. Recife aos 13 de agosto de 1822. Palácio Friburgh, conhecido como o Justiça é adornada por dois conjuntos Como Chanceler interino Antônio José “Palácio dos Despachos de Maurício de esculturas, que representam a Jus- Osório de Pina Leitão”. de Nassau”. Para a construção do tiça e a Ciência do Direito, executadas novo prédio, houve a necessidade de pelo escultor pernambucano Bibiano Termo de Abertura do Livro de demolir a antiga ala das enfermarias do Silva, sob orientação de A. Freyhoffer. Atas do Tribunal da Relação da Pro- Convento de Santo Antônio e o prédio Bibiano também executou os bustos víncia de Pernambuco, lavrado por do 2º Batalhão da Força Pública, de Paula Batista e Gervásio Pires, seu primeiro presidente, desembar- situado defronte a Praça da República. dois nomes importantes na história da gador Antônio José Osório de Pina A demolição deste último fez com que Justiça pernambucana, localizadas na Leitão. O documento marca o início um novo quartel fosse construído no entrada da Salão dos Passos Perdidos. da história do TJPE. bairro do Derby. foto: Assis Lima
  • 11. história 11 Vitrais O conjunto de vitrais que enrique- no Siegener Zeitung, em 3 de junho cem o Palácio da Justiça foi criado de 1955, e também no catálogo da pelo alemão Heinrich Moser, que veio Exposição Johann Moritz Von Nassau- ao Recife, em 1910, para desenvolver Siegen, em 1979, no transcurso do ter- projetos arquitetônicos do novo prédio ceiro centenário da morte de Maurício da Casa Alemã, na Rua Barão de Vitó- de Nassau. ria, hoje Rua Nova. Também desenhis- Heinrich Moser executou, ainda, ta, Moser marcou Pernambuco com a outro belo trabalho na Sala Desembar- sua sensibilidade artística. gador Antônio de Brito Alves, onde, No vestíbulo da sua escadaria por muito tempo, funcionou o Tribunal principal, há a representação da cena do Júri do Recife, no qual atualmente do primeiro Parlamento Democrático se reúne o Tribunal Pleno do TJPE. Ali, em terras americanas, convocado Moser retratou, em 1934, a representa- pelo conde Maurício de Nassau. Esses ção da Justiça, um óleo sobre tela que vitrais são compostos de três janelas, mede 3,10 x 2,50 m, assentada ao cada uma com cinco quadros. A obra fundo da sala e considerada uma das é conhecida e aclamada não apenas mais expressivas alegorias da Justiça. no Brasil. Foi apresentada na Holanda, foto: Assis Lima
  • 12. 12 história Mobiliário Os luxuosos móveis da sede do TJPE foram projetados pelo arquiteto M. Noziéres, após a inauguração do prédio, em 7 de setembro de 1930. As peças foram executadas pelas Casas Leandro Martins e Cia., do Rio de Janeiro, e artisticamente entalhadas com o intuito de rememorar o antigo Tribunal da Relação de Pernambuco. “Esta casa bem que se poderá chamar o Templo da Justiça. E que haverá sobre a terra que mais mereça um templo? A Justiça é a mais pura faculdade do espírito humano”. Antônio Carneiro Leão, secretário da Justiça, na ocasião da inau- guração do Palácio da Justiça de Pernambuco, em 7 de setembro de 1930. “O nosso Palácio da Justiça é, incontestavelmente, um verdadeiro monumento de arte”. Trecho de matéria veiculada no Jornal Pequeno do Recife, em 08.09.1930, referente à inauguração do Palácio da Justiça. foto: Assis Lima
  • 13. história 13 O Palácio da Justiça hoje Da data de sua inauguração até os técnico da Fundação do Patrimônio dias atuais, o Palácio da Justiça pas- Histórico e Artístico de Pernambuco, sou por diversas mudanças. Um dos que preserva os prédios tombados em exemplos refere-se à Sala de Casar, âmbito estadual, bem como da empre- onde aconteciam os casamentos civis, sa Coral, que não apenas forneceu o que cedeu o espaço ao Salão Nobre. material, mas o suporte necessário no Para facilitar a circulação dos magistra- tocante aos cuidados que antecediam dos, servidores e usuários da Justiça, a aplicação da tinta. o principal acesso deixou de ser efetu- A iluminação externa do palácio ado pela fachada central, voltada para também foi efetivada com o intuito a Praça da República, passando a ser de destacar e valorizar o prédio no feito pela fachada lateral, situada na período noturno. Para a execução, Rua do Imperador. Ressalta-se, tam- o TJPE contou com a parceria da bém, a colocação de uma nova ordem empresa Philips do Brasil, que doou de colunas nos dois pátios internos. todo o equipamento necessário para No período de gestão dos desem- a concretização do projeto. Os vitrais bargadores José Ferraz Ribeiro do de Heinrich Moser também foram res- Valle, Mauro Jordão e Luís Belém de taurados e o trabalho compreendeu o Alencar, à frente da Presidência do desmonte, a lavagem e a remontagem TJPE, respectivamente, as mudanças de toda a obra, com a colaboração contemplaram a substituição das lâm- da Fundação Banco do Brasil. Hoje, padas holandesas do Salão Nobre por o palácio prepara-se para receber um outra iluminação mais moderna, sem, elevador panorâmico, com estrutura para isso, descaracterizar o ambiente; metálica e revestimento de vidro, locali- nova pintura na entrada principal; ces- zado no segundo átrio do prédio. são de espaço no segundo pavimento O Palácio da Justiça continua sendo para abrigar as câmaras criminais, para admirado pela população pernam- as quais foram confeccionados móveis bucana e pelos turistas que visitam semelhantes aos do pavimento inferior; a cidade do Recife. Sua constante restauração das redes de eletricidade e restauração só demonstra o quanto telefonia; instalação do Tribunal Pleno, esta obra é valorizada pelos magistra- composto pelos 42 desembargadores dos que vêm presidindo o TJPE. Sua da Corte, no salão que antes abrigava majestosa edificação é um patrimônio o Tribunal do Júri do Recife, transferi- edificado na história pernambucana, do, por sua vez, para o Fórum Thomaz abrigando consigo um significativo de Aquino Cirylo Wanderley, que acervo de arte e, principalmente, cum- também é sede da Corregedoria Geral prindo a sua função de fortaleza para da Justiça. as justas decisões - obra maior do A gestão do desembargador Wal- Poder Judiciário de Pernambuco. • demir Oliveira Lins como presidente do TJPE, dentre outras realizações, trouxe um novo projeto de cores para o palácio. Para tanto, contou com um programa gráfico de Informática, através do qual foram desenhadas, por meio de um levantamento arquite- tônico, todas as fachadas do prédio, aplicando-se, posteriormente, diversas propostas de cores. A escolha final re- caiu para tons derivados do ocre, indo da cor bege até a marrom, levando-se em conta as cores de outros edifícios construídos no mesmo estilo. Na opor- tunidade, o TJPE contou com o apoio
  • 14. 14 perfil foto: Assis Lima
  • 15. 15 De menino pobre a presidente do TJPE: a trajetória de luta do desembargador Jovaldo Nunes A história do atual chefe do Poder Judiciário de Pernambuco, homem simples e batalhador que não esquece as suas origens Micarla Xavier e Rafael Cavalcanti
  • 16. 16 perfil No gabinete da atual Presidência do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), na mesa de reuniões, vemos uma escultura. Trata-se de um carro de boi e nele está escrito “nobre e humilde”. A peça é de autoria de João, funcionário do Palácio do Governo que, nas horas vagas, trabalha com pintura de casas. João foi contratado para pintar o apartamento de Jovaldo e, durante o trabalho, fez o carro de boi e dedicou ao desembargador. Na ocasião, o artista afirmou que só fazia a escultura para pessoas nobres e hu- mildes, como bem registrou na própria obra. Humildade é o traço que mais marca o atual presidente do TJPE. Tal traço é evidente, está claro na sua fala, nos gestos, nas declarações de sua família, amigos e companheiros de magistratura. Humildade foi uma das grandes riquezas que Seu Antônio Nunes Sobrinho e Dona Estela Nunes Gomes transmitiram ao filho Jovaldo. Quem vê Jovaldo Nunes Gomes hoje, como desembargador e presi- dente do TJPE, não consegue imaginar por quantas coisas ele já passou na vida e quantas histórias tem pra contar. O segundo dos seis filhos – três homens e três mulheres – de um casal de oficiais de registro civil da Paraíba, nascido em Emas, uma pequena cida- de no sertão paraibano, Jovaldo teve um cotidiano “de criança do interior”, como ele mesmo afirma. Em Emas, localizada no Vale do Piancó, ele pas- sou grande parte de sua infância. Foi lá onde aprendeu as primeiras letras, o significado da vida. Por lá, o menino Jovaldo perambulou pela calçada da igreja, pelos antigos bancos da praça; tomou banho de rio com os amigos; sorriu e se divertiu nas festividades de São João e de Santa Terezinha. Se não faço bem o meu trabalho no Com 11 anos, Jovaldo Nunes se mudou junto com a família para Pian- Judiciário, pelo menos eu me esforço para có, cidade histórica localizada também no sertão da Paraíba, para a qual o fazê-lo. Eu me sinto realizado e acho que pai tinha sido designado para fiscalizar algumas obras de reestruturação em não me daria bem em outra profissão decorrência de uma severa seca que tinha se abatido sobre a região. “Na- como me dou bem como serventuário da quele momento, em relação a Emas, Piancó era tida como cidade grande”, Justiça, como juiz lembra Jovaldo. Nessa época, seus pais sustentavam os seis filhos com os foto: Assis Lima
  • 17. perfil 17 trabalhos no cartório e também com “Tudo era difícil. Meu primo era a agricultura. A família possuía uma cabo do Exército, mas naquela época propriedade onde o pai Antônio tam- um cabo do exército era autorida- bém trabalhava como agricultor. Foi de. Ele vinha para o quartel, que era em Piancó, um dos marcos da Coluna aqui no Parque Treze de Maio, e eu o Prestes e cidade onde morreu um acompanhava com o intuito de ficar no dos maiores bandeirantes brasileiros, Mercado de São José e comprar frutas Domingos Jorge Velho, que Jovaldo e verduras para o nosso bar. Para não passou a adolescência, povoada por pagar passagem, ele me colocava estudos, jogos de sinuca e tentativas para entrar pela frente da condução. O de virar “empresário”. motorista sempre via isso e não dizia “Cheguei a trabalhar em Piancó na nada, até que, numa certa vez, ele dis- adolescência, acompanhado do amigo se: ‘Mas, cabo, todo dia?’. Meu primo Manuel Monteiro. Esta é uma parte respondeu de imediato: ‘Ele vai preso’. da minha história de que eu sempre Ele disse que eu ia preso para não me lembro. Nós éramos meio jovens pagar a passagem”, lembra Jovaldo. e precisávamos de dinheiro. Hoje, o O atual presidente do TJPE afirma que meu amigo também é desembargador, provavelmente gosta de contar essa no Tribunal de Justiça da Paraíba. Nós história para sempre se lembrar de fizemos uma aventura, montamos uma onde veio e que as coisas nunca foram banca e fomos vender verdura na feira fáceis. A humildade sempre transpare- de Piancó. Nós nos sentíamos como ce nas palavras. empresários vendendo as verduras e No Recife, Jovaldo também serviu frutas”, recorda entre risos. O desem- ao Exército, passando 11 meses na 7ª bargador Manuel Monteiro lembra bem Companhia de Intendência, em Tejipió. da história contada pelo seu amigo de Depois dessa fase, ele começou a infância. O magistrado define Jovaldo trabalhar no Palácio da Justiça de Nunes como alguém rico em pureza Pernambuco como prestador de servi- de espírito, como um amigo leal. Ele ços. Na época, a esposa de um primo também se recorda da infância dividida trabalhava no 1º Cartório Cível, cujo entre o sofrimento e as brincadeiras titular era Antônio de Morais Dourado, com uma bola de pano, quando am- e Jovaldo passou a prestar serviços bos moravam no bairro Belo Horizonte, ali por aproximadamente oito meses. em Piancó. “Eu não me distancio dele, Depois disso, ele começou a atuar no a nossa amizade permanece a mesma 4º Cartório de Notas e Ofícios de Olin- de sempre. Acho que o sofrimento da como tabelião substituto. O titular compartilhado nos ensinou a viver”, do cartório era Robert John Tom, mais concluiu o desembargador do Tribunal conhecido como o “Inglês de Caruaru”. paraibano.  Nesse tempo, enquanto cumpria seu Aos 16 anos, sentindo a necessi- trabalho, Jovaldo Nunes concluiu o dade de investir nos estudos, Jovaldo ensino médio e tentou vestibular em resolveu mudar para o Recife. Na João Pessoa, pois tinha como objetivo capital pernambucana, as aventuras e o retorno para a Paraíba. Não tendo a saga estavam apenas começando. o sucesso esperado no certame, ele A princípio, ele ficou hospedado na optou por ser aluno da primeira turma casa de um primo que estava servindo da Faculdade de Direito de Olinda, no ao Exército e que morava no bairro da período de 1971 a 1975. Mangueira. Como a vida não era fácil, Uma das irmãs de Jovaldo Nunes e o salário do primo não era lá essas também havia se estabilizado em coisas, os dois montaram um bar perto Pernambuco. A princípio como funcio- da linha do trem. “Fiquei morando com nária, depois como juíza do Tribunal ele e nós montamos um bar de madei- Regional do Trabalho. Juntos, os dois ra, uma barraca de madeira para ser resolveram propor aos pais, que nesta mais exato. Esse bar servia refeição, época já residiam em João Pessoa, era um negócio popular, e lá nós vendí- que se mudassem para Pernambuco. amos cachaça com tira-gosto”, conta A missão não deve ter sido fácil, mas o desembargador. o amor e a saudade que sentiam dos
  • 18. 18 perfil filhos falaram mais alto. Assim, Antônio aos meus filhos. O patrimônio mate- e Estela concordaram com a mudança, rial a gente tem hoje, mas pode não venderam a propriedade da Paraíba, ter amanhã; é algo que se compra. que era fruto de herança, e se esta- O patrimônio moral a gente adquire”, beleceram em Olinda. “A propriedade conclui. dos meus pais não tinha tanto valor Jovaldo é casado com Darci Dias material, mas o valor sentimental era de Queiroz Nunes e com ela tem três imenso. Mesmo assim, eles aceitaram filhos – Dayse, Jovaldo Júnior e Anne. a nossa proposta e compraram uma Já funcionária da Justiça do Trabalho, casa em Olinda, na Rua Cleto Cam- atuando na Assistência Judiciária, Darci pelo, 477. Lembro-me como se fosse conheceu Jovaldo no cartório onde ele hoje”, conta Jovaldo. trabalhava. Foi naquele ambiente que Falar de seu pai é falar de amor Jovaldo começou sua paquera com incondicional, é lembrar de um homem Darci. Ela relembra, aos risos, do dia que dedicou toda a sua vida aos filhos. em que ele lhe ofereceu uma carona Jovaldo comenta que Seu Antônio para o bairro das Graças, acreditando gostava de reunir toda a família com piamente que ela morava no local. frequência. Já morando em Pernam- “Mas por que Graças?”, Darci pergun- buco, o pai fazia questão de preencher tou na ocasião. “Eu moro em Olinda”, seus domingos com grandes almoços, esclareceu para o jovem. O casal com o intuito de ter os filhos ao seu terminou tendo um encontro apaixo- redor, numa mesa farta não apenas de nado e decisivo no Carnaval de 1975, comida, mas também de muito cari- num baile no Clube Náutico Capibaribe. nho. Durante a entrevista, a lembrança Depois de um ano, casaram. “Um do pai emocionou o chefe do Poder amigo afirmou que eu iria fazer um bom Judiciário pernambucano. Passados casamento, porque Jovaldo era um alguns minutos, enquanto continha a bom filho. E quem é bom filho é um emoção e as lágrimas, Jovaldo Nunes bom marido e um bom pai. Ele conti- retorna e pergunta ao repórter: “Seus nua sendo o mesmo homem humilde pais são vivos?”. Diante da resposta que conheci, eu nunca vi sequer um positiva, ele conclui: “Graças a Deus!”. traço de arrogância nele”, comenta “O meu pai parecia uma criança Darci Nunes. quando todos nós estávamos na sua Para Darci, Jovaldo sempre foi um casa. Então, é difícil falar nele sem me pai muito permissivo. Ela cumpria a emocionar, é natural. Ele foi um ho- missão de disciplinar e dar bronca nas mem que cumpriu o seu papel aqui na crianças; depois, ele chegava e “estra- terra; deu bons exemplos para todos gava” tudo. Jovaldo Nunes ressalta que nós, para todos os filhos. Meu pai foi tem mais uma riqueza na vida, além do um homem humano, decente, hones- patrimônio moral: seus três filhos. “Eu to. O patrimônio que ele deixou nós adoro meus filhos, sempre fiz questão vamos sempre conservar: o patrimônio de ser um pai amigo e de investir numa moral. Eu conservo isso em homena- relação de carinho. A nossa ligação é gem a eles, a ele e a ela, minha mãe, muito forte”, ele comenta, mais uma que também foi uma guerreira nos vez emocionado. Jovaldo relata que momentos difíceis ao lado do esposo. certa vez deixou de fazer um intercâm- Eles criaram seis filhos naquela época, bio em Nova Iorque só porque queria com todas as dificuldades, mas cria- ficar com os filhos. Ele compartilha, ram, educaram, amaram. Então, esse cheio de alegria, que os filhos também legado moral haverá de ser honrado apreciam muito a sua companhia. “Mi- Na primeira foto, o desembargador com muita satisfação, em homenagem nha filha mais velha, Dayse, comanda Jovaldo Nunes entre a mãe Dona Estela à memória deles”, desabafa Jovaldo um cartório em Abreu e Lima; meu filho Nunes e a esposa Darci Dias, e nas Nunes. Jovaldo Júnior é procurador da Fazen- demais os filhos Dayse, Jovaldo Jr. e Ainda sobre a herança moral deixa- da Nacional; minha caçula, Anne, já é Anne em momentos com a família da pelos pais, Jovaldo confessa que formada em jornalismo e agora estuda procura transferir a mesma herança direito”, conta o pai, com orgulho. para os filhos. “O patrimônio moral é A filha primogênita, Dayse, lembra fotos: Arquivo Pessoal inalienável. E eu procuro transferir isso bem da época em que o pai era juiz
  • 19. 19 no interior. Ela conta que, todo fim de semana, quando o pai vinha para casa, costumava levar ela e o irmão para uma lanchonete chinesa. Os dois fica- vam contando as horas para que o pai chegasse e os levasse para o passeio de sempre (naquele tempo, a caçula ainda não havia nascido). Questionada acerca dos ensinamentos que seu pai costuma transmitir, Dayse é rápida na resposta: “Uma característica muito importante que meu pai me legou é a moral. Como ele sempre diz: o meu patrimônio é a minha moral. Tenho pautado minha conduta pela morali- dade. Na verdade, agir com probidade e ética é uma obrigação e não um favor. Acho que este é um dos maiores legados que meu pai me ensinou e demonstra, a cada dia, com a sua postura”. Dayse confessa que lágrimas vêm aos seus olhos quando pensa em algo para escrever sobre o pai. “Tenho muito orgulho de ser filha de Jovaldo. Não só do desembargador Jovaldo Nunes, mas principalmente do pai, do filho, do marido que ele é. Meu pai é uma pessoa boníssima, de coração tão gigante, que mal cabe em seu peito tanta bondade”, diz a filha. Uma das lembranças mais marcan- tes da infância de Jovaldo Júnior foi quando viu o pai pegar nos braços, pela primeira vez, a sua irmã caçula Anne. Com esta declaração, imagi- namos a grandeza da cena de um pai que, ao imprimir tanto amor no gesto de aninhar a filha mais nova nos braços, marcou a memória sentimen- tal do filho que herdou o seu nome. Sobre o fato de ser filho do presidente do TJPE, Jovaldo Júnior ressalta que qualquer um que conhece a história do seu pai considera-o um vencedor. “Sinto-me orgulhoso em ser filho desse O nosso Judiciário precisa ser reestruturado vencedor”, declara. Sobre o filho, que atua em Petrolina, Jovaldo Nunes diz para atender às necessidades da que tem necessidade de falar com ele diariamente. Emocionado, também população. Sinto-me feliz, pois, mesmo confessa que o filho não passa quinze dias sem vê-lo. Jovaldo Júnior acredita com dificuldades, eu sei que temos que o chefe de um Poder tem a opor- tunidade de realizar grandes obras, avançado. E este é um trabalho gratificante, mas, principalmente, de deixar uma boa mensagem para os outros. “Apro- em prol da Justiça e da população veite a oportunidade e deixe a sua boa mensagem, pai”, pontua. foto: Arquivo Pessoal
  • 20. 20 perfil “Lembro das tardes no Clube de do Judiciário estadual. No concurso, Campo Sítio do Picapau; dos lanches foram aprovados 32 nomes e Jovaldo no supermercado depois da feira, que foi o 12º colocado. De sua turma, ele deixava minha mãe louca porque ele cita os desembargadores Bartolomeu me dava comida perto da hora do Bueno, Fernando Cerqueira, Eduardo almoço; dos banhos de mar em Itama- Paurá, Nivaldo Mulatinho, Alberto Vir- racá. São lembranças sempre felizes!”, gínio, Antônio Fernando Martins, Luiz recorda a filha caçula de Jovaldo Nu- Carlos Figueiredo e Alfredo Jambo. nes, Anne. Ela conta que a presença Sobre a missão de ser magistrado, do pai sempre lhe trouxe a sensação Jovaldo Nunes afirma: “Se não faço de segurança. Ela também lembra que, bem o meu trabalho no Judiciário, pelo aos três anos, machucou o queixo na menos eu me esforço para fazê-lo. Eu borda da piscina de um clube. Levada me sinto realizado e acho que não me à enfermaria do local, o médico disse daria bem em outra profissão como que era necessário três pontos para me dou bem como serventuário da que o corte não deixasse cicatriz. Ela Justiça, como juiz”. lembra claramente do pai na porta da A atuação de Jovaldo Nunes como sala, sem querer chegar muito perto, juiz teve início na Comarca de Betânia. por conta do sangue e para não ver a De lá, ele foi removido para Riacho filha sofrer, dizendo que ela era muito das Almas e, em seguida, como juiz novinha pra levar os pontos. Resulta- substituto, foi lotado em Jaboatão dos do: a cicatriz aparece até hoje. Assim Guararapes. Jovaldo sabia que, como como os irmãos, Anne também diz que juiz substituto, ele poderia ser remo- o pai é motivo de orgulho na sua vida. vido para qualquer lugar do Estado. “Só o fato de ele ter chegado a ocupar Até que um dia, ele soube da neces- uma cadeira no TJ, independente de sidade de juiz em Petrolina. Na época, ser a de presidente, já me orgulha. o chefe do Judiciário pernambucano Quem conhece meu pai, sabe a his- era o desembargador Cláudio Améri- tória de vida dele: vida difícil no sertão co de Miranda. “Teve uma passagem paraibano, poucos recursos, cinco interessante. Eu era juiz substituto em irmãos, uma casa humilde, estudo em Jaboatão e desejava demais ir para escola pública. Sair de casa aos 16 Olinda. Eu morava em Olinda, sempre anos, deixar a família e tentar a sorte morei em Olinda... Até que numa tarde, na cidade grande, sem dinheiro nem eis que recebo um telefonema do perspectiva, e chegar aonde chegou, então presidente do Tribunal, Cláudio não só me orgulha, como me emocio- Américo, pedindo para eu vir aqui, ao na. A história dele é um exemplo pra gabinete da Presidência do TJPE, pois todos de que, quando se tem vontade ele queria falar comigo. Eu pensei: e um objetivo, você pode chegar aon- ‘Pronto vou para Olinda!’. Só que não de quiser. Tenho muito orgulho do pai era Olinda, era Petrolina. Houve uma que tenho, não só no âmbito profissio- necessidade de juiz naquela comarca e nal, mas, acima de tudo, pela pessoa o presidente disse: ‘Jovaldo, eu estou que ele é”, afirma Anne. precisando de você em Petrolina’. Eu respondi: ‘Se não tem opção, eu vou. O curso de direito, o ingresso na Sou soldado!’. Aí fui para Petrolina”, magistratura relembra. Aos 26 anos, Jovaldo Nunes ingres- Jovaldo passou aproximadamente sou na primeira turma da Faculdade oito meses na comarca. Depois, voltou de Direito de Olinda. Na época, ele para Jaboatão, já como juiz titular. Em conciliava o trabalho no 4º Cartório 1989, ele foi promovido por mereci- de Notas e Ofícios de Olinda com os mento a juiz da 3ª Entrância (Comarca estudos. Jovaldo conta que a atuação da Capital), tornando-se titular da 4ª no cartório ajudou muito na condução Vara da Fazenda Pública. Jovaldo do seu curso, visto que vivenciava o também coordenou a instalação da dia-a-dia dos advogados e juízes com 17ª Vara Cível, pela qual passou a os processos. Em 1982, ele resolveu responder, e por último assumiu a prestar concurso para magistrado 10ª Vara Cível, onde permaneceu até
  • 21. perfil 21 Ser presidente do TJPE não é fácil, porém é mais uma missão, é mais um trabalho 2001. Questionado sobre a decisão também contou com a presença de mais importante que tomou como juiz, diversos familiares e amigos, dentre Jovaldo relembra de uma ocasião em estes os irmãos Assis e Lauro, que na Riacho das Almas, quando presenciou ocasião continuavam carinhosamente uma família disputando herança. Os chamando Jovaldo pelo apelido de herdeiros não se entendiam, dirigiam e infância, Vavá. “Essa ligação com a sofriam ameaças, inclusive de morte. minha terra e origem, eu faço questão Diante da contenda, o juiz Jovaldo de preservar. Sempre que posso, vou resolveu marcar uma audiência de lá e me sinto à vontade. Quando vou à conciliação e juntou todos os herdeiros Paraíba, eu sou recebido com festa”, numa mesa. A audiência durou cerca declara Jovaldo. de duas horas e o juiz conseguiu unir “Por favor, não me peça para decidir aquela família, dividindo a propriedade entre Pernambuco e Paraíba”, é o que entre todos e pedindo que os presen- diz Jovaldo ao repórter, antes mesmo tes pedissem perdão uns aos outros. deste abordar o assunto. Para Jovaldo, “Para mim, essa história tem muito não há escolha, ambas as terras são significado. Como juiz, eu fiquei muito dignas de seu agradecimento. Em satisfeito”, afirma. março de 2001, quando ainda era juiz Em março de 2001, a cidade de da 10ª Vara Cível, ele recebeu o título Emas fez uma festa. O ilustre filho da de Cidadão de Pernambuco, outorga- terra, Jovaldo Nunes, acabara de ser do por unanimidade pelos membros nomeado desembargador do Judiciário da Assembleia Legislativa do Estado. pernambucano, por merecimento. O Dez anos depois, no dia 7 de abril de pessoal de sua terra resolveu prestar 2011, ele recebeu o título de Cidadão uma homenagem, já que Jovaldo era do Recife, outorgado pela Câmara de o primeiro desembargador daquela Vereadores. No requerimento da co- região. Teve churrasco, faixas nas ruas, menda, a escolha de seu nome acon- saudação na Câmara dos Vereado- teceu tendo como objetivo “registrar res com a presença dos prefeitos de a importância de uma vida dedicada Emas, Piancó e Catingueiras. A festa à Justiça”. Ao falar de Pernambuco, foto: Assis Lima
  • 22. 22 perfil Jovaldo Nunes declara imediatamente apenas te agradecer todos os dias que seu louvor à Olinda. Ele diz: “Eu adoro restarem da minha vida’”, compartilhou Olinda. De Olinda, só sairei levado, só em seu discurso. sairei à força”. Ainda em seu discurso de posse, o Como desembargador, Jovaldo novo presidente do TJPE citou a sua Nunes foi diretor da Escola da Magis- cidade natal, Emas, bem como a sua tratura de Pernambuco (Esmape), pre- chegada ao Recife. Ele também se sidente do Tribunal Regional Eleitoral e, dirigiu aos servidores do Judiciário, afir- ainda, vice-presidente do TJPE. Duran- mando que assumia a missão de ser te a gestão como diretor da Esmape, presidente do Tribunal com uma imen- no biênio 2002/2003, ele foi responsá- sa vontade de acertar. “Eu sou filho vel pela aquisição da sede própria da de servidores públicos do Estado da entidade. “Eu me sinto muito satisfeito Paraíba. Meus pais eram serventuários de ter tomado a iniciativa para comprar da Justiça. Também fiz parte dessa a sede da Escola. Na época, consegui- classe durante 17 anos na Comarca de mos dar uma nova visão, uma melhoria Olinda. Essa é minha origem, da qual no ensino. Depois, o desembargador me orgulho. Pretendo manter com a José Fernandes, que me sucedeu, deu classe um relacionamento cordial, res- continuidade ao trabalho. Depois dele, peitoso e sincero. Precisamos trabalhar os desembargadores Jones Figuerêdo, juntos”, afirmou o desembargador. Frederico Neves e, hoje, o desembar- Questionado hoje sobre como é ser gador Leopoldo Raposo”, conta. chefe do Poder Judiciário de Pernam- buco, Jovaldo responde que “não é A Presidência do TJPE fácil, porém é mais uma missão, é No dia 9 de fevereiro deste ano, o mais um trabalho”. Como presidente desembargador Jovaldo Nunes Gomes do TJPE, ele propôs a criação de mais tomou posse como presidente do três cargos de desembargadores para Tribunal de Justiça de Pernambuco. a Casa. Atento, ele também efetuou Ao seu lado, ocupando os cargos de uma radiografia do Judiciário, contem- vice-presidente e corregedor geral da plando a necessidade de criar mais Justiça, respectivamente, os desem- 1.019 cargos de servidores para lotar bargadores Fernando Ferreira e Fre- as unidades judiciárias, sobretudo do derico Neves. A solenidade aconteceu interior do Estado. “Esses exemplos no Palácio da Justiça de Pernambuco, são projetos que, como presidente na Sala Des. Antônio de Brito Alves. O de um Tribunal, qualquer magistrado espaço se tornou pequeno para abri- se sente lisonjeado em poder efetuar. gar as autoridades, servidores, amigos Porém, eu tenho mais coisas a fazer. e familiares presentes. Emocionado, O nosso Judiciário precisa ser reestru- Jovaldo Nunes iniciou seu discurso turado para atender às necessidades de posse agradecendo aos pais, já da população. Sinto-me feliz, pois, falecidos, pelo exemplo de vida que mesmo com dificuldades, eu sei que transmitiram; e à família que constituiu temos avançado. E este é um trabalho em Pernambuco - sua esposa Darci e gratificante, em prol da Justiça e da os filhos Dayse, Jovaldo Júnior e Anne. população”, comenta. Na ocasião, ele também falou sobre Jovaldo não esconde sua indigna- uma particularidade do seu cotidiano ção ao se referir aos entraves buro- no TJPE, algo já muito notado pelos cráticos e seus extensos prazos e, servidores e magistrados da Casa. Ele como exemplo, ele cita as necessárias se referiu ao seu momento de devo- reconstruções dos fóruns nas co- ção na capela do Palácio da Justiça, marcas do interior, que muitas vezes, onde constantemente ele pratica sua demoram a se concretizar. Contudo o religiosidade, agradecendo a Deus pela presidente do TJPE se sente feliz ao vida. “Então, no final das minhas bre- ver nos jornais a produção do Judici- ves orações, naquela pequena capela, ário pernambucano aumentando: “Se digo: ‘Senhor, não tenho o direito de te a nossa produtividade aumenta, isso pedir mais nada; já me deste tudo. O significa que nós estamos distribuindo meu dever, de agora em diante, é de Justiça. Nós estamos corresponden- foto: Assis Lima
  • 23. 23 Para o vice-presidente do TJPE, desembargador Fernando Ferreira, Jovaldo é um humanista nato do à expectativa. Outra coisa que me conseguir dotar as unidades judiciá- deixa alegre é a procura. Muita gente, rias de mais pessoal. “Esta é a minha muita gente procurando a Justiça. Mês principal meta. Eu não posso, repito, a mês, ano a ano, a procura pela Justi- exigir alta produtividade do juiz do 1º ça é grande. Para mim, tal fato significa Grau que possui apenas um ou dois que o povo confia na Justiça e isso me funcionários. Mas, a partir do mo- deixa satisfeito”. mento que proporcionamos melhores Quando fala em metas de gestão, condições de trabalho, teremos como o presidente do TJPE retorna ao seu cobrar o retorno. E eu tenho certeza de discurso de posse. Sua principal que, dentro do possível, esse retorno meta é lotar as unidades judiciárias vem acontecendo na minha gestão. de servidores. “Minha equipe fez um Em quatro meses de gestão, eu já levantamento. Nós chegamos à con- nomeei cerca de 500 servidores”, diz o clusão de que cada unidade judiciária presidente do TJPE. de primeira entrância deve ter seis ser- Zelo e cuidado com a instituição vidores; de segunda, sete servidores; e o jurisdicionado são traços bem e de terceira entrância, nove. É um visíveis no magistrado Jovaldo Nunes. quantitativo mínimo, e não quer dizer Para o chefe de gabinete da Presi- que numa unidade não possa ter mais dência do TJPE, Daniel Leão, Jovaldo servidores. Com esse estudo, conclu- preza pela simplicidade e clareza nas ímos que não podemos exigir tanto suas decisões, inclusive ele sempre de um juiz que só tem um ou dois recomenda à sua equipe a trabalhar funcionários. Se você estrutura uma com uma linguagem em que todas as unidade judicial, essa unidade tem partes entendam o que foi decidido. condições de render mais. Então, este Daniel trabalha com o desembargador é o meu grande objetivo. Se no final Jovaldo Nunes desde 2008 e diz que da minha gestão, eu tiver preenchido ele sabe como proporcionar união e dotado todas as unidades com esse em sua equipe, sempre agindo com quantitativo de pessoal, eu me sentirei cordialidade e procurando quebrar as muito feliz”, afirma. barreiras que, por ventura, possam Numa de suas viagens institucio- existir entre magistrados e servidores. nais a Brasília, o chefe do Judiciário “O desembargador Jovaldo trata todos estadual visitou o presidente do com igualdade, ele é um chefe que Superior Tribunal de Justiça, minis- ganha o respeito de todos nós sem tro Ari Pargendler. Na visita, Jovaldo precisar impor autoridade. O seu senso apresentou um cronograma com o de Justiça é sua principal virtude como projeto de lotar as unidades judiciárias magistrado, ele sempre nos ressalta pernambucanas com mais servidores. que a função do julgador é fazer Justi- O ministro gostou do que viu e disse ça”, afirma Daniel. ao presidente do TJPE que este pode Para o vice-presidente do TJPE, se considerar realizado como gestor se desembargador Fernando Ferreira, foto: Juliana Motta
  • 24. 24 perfil uma característica muito peculiar da do Judiciário pernambucano”, declarou personalidade de Jovaldo é particu- o desembargador Fernando Ferreira. larmente notável: “O amigo concilia, Ao fim da entrevista, Jovaldo Nunes com rara felicidade, a sensibilidade de encara o repórter e ressalta que não foi um humanista nato com um invulgar fácil chegar à Presidência do Tribunal tirocínio para a função judicante”. Ele de Justiça pernambucano. “Estas são também destaca os gestos bondosos as linhas gerais da minha trajetória de de Jovaldo Nunes no dia-a-dia, tanto vida. Para chegar aqui, eu ralei e sofri nas atividades jurisdicionais e adminis- muito”, diz. Depois do comentário, trativas no Tribunal de Justiça quanto Jovaldo sorri e prova que não se deixa nas interações familiares que ambos ferir ou abalar pelos obstáculos passa- costumam promover ao longo de mais dos, mostrando que soube absorver de 15 anos de estreita amizade. “Sua grandes lições diante de todas as historia de vida é, certamente, a mais adversidades que enfrentou. Na mesa bonita deste Tribunal. Jovaldo soube de reuniões da Presidência do TJPE, vencer todas as adversidades em seu o desembargador observa o carro de caminho, tendo construído, junto com boi nordestino. “Eu acho essa obra Darci, uma prole bonita, unida e vitorio- muito importante. E nem é pelo valor sa. Ele é um homem rico de recursos material, mas sim pelo valor emocional. íntimos, dotado de invulgar inteligên- O gesto dele, de me achar nobre e cia despida de eruditismo pedante. humilde, emociona. O porquê dele me Costumo defini-lo como uma pessoa considerar nobre e humilde, eu não que nasceu premiada com o tirocínio sei... Olha, eu me sinto muito lison- de magistrado. Sempre me impres- jeado com o reconhecimento dessa siona sua capacidade para desarmar nobreza e humildade que o seu João espíritos e intrigas, sua tranquilidade ‘Pintor’ acha que eu tenho. Seu João no enfrentamento dos problemas, os é uma pessoa extraordinária, uma pes- mais diversos, e a transparência no soa muito simples. É um artista não é? trabalho voltado para a administração Fazer isso aí, só sendo um artista...”, da Justiça. Sinto-me honrado por ser assim conclui Jovaldo Nunes Gomes. seu amigo e, atualmente, escudeiro Com humildade. • no desenvolvimento de ambiciosos Texto: Micarla Xavier projetos para um bom governo à frente Entrevista: Rafael Cavalcanti Escultura feita por João “Pintor” em homenagem ao desembargador Jovaldo Nunes
  • 25. perfil 25 Fractais do tempo Decano do Tribunal, o desembargador Jones Figueirêdo revela momentos marcantes da sua história Wesley Prado Numa tarde fria de junho, conversei com o desembargador, que então assumia interinamente a Presidência do Tribunal de Justiça enquanto o colega desembargador Jovaldo Nunes assu- mia o Governo do Estado. A conversa foi longa, ia e voltava no tempo, várias vezes. Era até difícil acompanhá-lo nessa viagem. Afinal, alguém com uma carga de histórias como de a Jones Figueirêdo Alves, decano do Judiciário pernambucano, tem muita coisa para contar. Num dado momento, o diretor geral do TJPE, Leovegildo Mota, que esteve presente em parte da entrevista, lançou a epígrafe do livro de memórias do escritor Gabriel Garcia Marquez: “A vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la”. Se essa frase cabe a alguém mais além de Garcia Marquez, esse alguém se chama Jones Figuei- rêdo. Nascido no Recife, em 20 de agosto de 1947, na Rua José de Alencar, Boa Vista, e criado em Garanhuns, Jones cresceu sob importante valor: o da qualidade. Seu pai, Sebastião, mestre de obras e topógrafo, chegava a recusar trabalhos se o material da obra fosse de segunda qualidade. “Fui edu- cado assim. Valorar as coisas e não ser refém daquelas que não sejam verda- deiras”. Além desse nível de exigência diante da vida, seu pai foi um visioná- rio. Em 1951, comprou um terreno nas cercanias de Garanhuns, loteou a área, denominando-a Jardim Mundaú. Hoje, esse loteamento configura-se em um dos bairros daquele município. Esse Jones Figueirêdo: “Fui educado assim. mesmo terreno, certamente, desper- Valorar as coisas e não ser refém daquelas tou inspirações futuras no menino que não sejam verdadeiras” Jones. Ao menos indiretamente. Seu foto: Juliana Motta
  • 26. 26 perfil Sebastião colocou anúncio na rádio de direito na Universidade Federal de da cidade, patrocinando o programa Pernambuco, e jornalismo na Uni- A Crônica do Meio-Dia, onde o locutor versidade Católica de Pernambuco. lia uma crônica sobre um assunto do A admiração pela toga não veio da dia-a-dia, com uma voz tonitruante, família – nenhum de seus parentes empostada. “A gente corria, eu e meu era bacharel em direito. A vontade de irmão, para ouvir o jingle do terreno e ser aluno da Faculdade de Direito veio a crônica. Com seis anos de idade, eu da mística do lugar, de ser “a casa ficava em cima de um tamborete, repe- de Tobias Barreto”. Não acreditava, tindo o que o locutor dizia. Talvez tenha porém, que conseguiria ser aprovado surgido daí aquela ideia de oratória”. na UFPE. “Não tinha feito cursinho Talvez nasceu ali, sem ele nem mesmo preparatório. Naquela época, só existia saber, a vocação para duas carreiras um famoso, o Curso Torres, e eu não que ele seguiria futuramente: o direito e tinha condições de pagar”. Escolher o jornalismo. um segundo curso em outra faculdade Anos mais tarde, Jones e o amigo, foi um caminho natural. “Então, resolvi Gladstone Vieira Belo... Sim, o vice- que faria jornalismo. Se não passasse presidente do Diario de Pernambuco. A [em direito], pelo menos poderia passar vida tem das suas coincidências, tam- em jornalismo e aí, não teria que bém conhecidas como destino... Jones perder um ano”. Passadas as pro- e Gladstone estudavam no Colégio vas, o resultado: 14º lugar em direito Diocesano, em Garanhuns. Cursaram e 4º lugar em jornalismo. Guerreiro, juntos o clássico – equivalente ao atual Jones cursou ambas as graduações ensino médio. Jones escrevia para o simultaneamente. Direito pela manhã semanário da Diocese, chamado O e jornalismo à noite. E ainda trabalha- Monitor, geralmente uma coluna literá- va no Jornal do Commercio, à tarde. ria. Mais tarde, ele e Gladstone tiveram “Para me sustentar, tinha que custear um programa de rádio, com atualida- a faculdade. Meus pais não moravam des e notícias. Numa das edições des- aqui, moravam em Garanhuns. Passei Desde o primeiro se programa, um caso muito curioso um ano morando em república”. aconteceu. O papa João XXIII falecera, Precoce, Jones teve sua primeira minuto da minha e os dois jovens radialistas resolveram experiência de júri ainda muito verde fazer uma edição homenageando o no curso de direito. Precisamente 15 carreira, sempre pontífice. Jones foi até o bispo Dom dias após começarem as aulas. De Adelino Dantas, conseguir réquiens volta a Garanhuns, para aproveitar as me dediquei para a trilha sonora do programa. férias e comemorar a aprovação nos Jones e Gladstone redigiram o texto, dois vestibulares, encontra o advogado a um trabalho produziram o programa, a história de Everardo Gueiros, a quem chamou de João XXIII passada a limpo. Lá pelas velho professor durante a conversa, e institucional de tantas, havia uma referência ao então recebe o convite: “Jones, você agora presidente americano Dwight Eisenho- é estudante de direito. Devia fazer um cooperação com wer e ao secretário-geral da ONU, Dag júri aqui. Você fazia júri simulado no Hammarskjöld. “Só que ninguém sabia Diocesano [como, por exemplo, o júri a melhoria do pronunciar o nome dos dois... Não de Lampião]... Tenho um em Angelim, lembro quem de nós emperrou na pro- você podia fazer. Topa?”. Jones topou. Judiciário núncia, o nome não saía. Caímos na Em 17 de março de 1966, estava ele gargalhada, e a sonoplastia subiu para defendendo um ancião, acusado de tentar encobrir a gafe”, conta risonho matar duas mulheres, mãe e filha, vizi- o desembargador. Escrever para um nhas dele, por uma briga de roçado. semanário e produzir um programa de Everardo Gueiros fez a abertura dos rádio ainda rendeu mais uma inusitada trabalhos de defesa e passou a bola conquista para Jones: ser secretário de para Jones. Que fez bonito, por sinal. Imprensa da Prefeitura de Garanhuns, Absolvição por cinco a dois. Satisfei- no Governo de Amílcar da Mota Valen- to, o acusado absolvido pagou cinco ça, com 16 anos e meio. cruzeiros. O primeiro da carreira dele. Voltemos para Recife. Jones estava Com esse dinheiro, Jones conseguiu para fazer o vestibular. Tentou o curso comprar quatro livros de direito. Os foto: Assis Lima
  • 27. perfil 27 primeiros de sua vida. O primeiro deles, Jones viveu uma época do jorna- qualificado e a reunião não vai aconte- uma obra sobre criminologia de um lismo que ele chama de “romântica”. cer”. “Mas o senhor me autoriza a dizer autor italiano, foi lavrado em ata. De Tempos onde o sujeito chegava diante isso?”. “Pode, não vai ter reunião”. sua biblioteca pessoal com mais de 12 de uma máquina de escrever Olivetti e Jones correu para a redação, para não mil volumes, esse é seu xodó. começava a bater a pauta, sem poder perder aquele furo. E aconteceu como Se seu primeiro episódio de carreira errar – se errasse, jogava a página Sarney disse... (Em tempo: o assessor acadêmica foi inusitado, que dizer inteira no lixo. Tinha que escrever rápi- de imprensa da Sudene era redator do daquele momento que fechou parte do, lead e sublead, concentrar ideias, Diario). desse ciclo? Jones foi orador de turma escrever texto... Sem auxílio de Inter- Além das editorias mais conhecidas, em ambos os cursos, mas na forma- net, celular ou agências de notícias na Jones trabalhou em uma que os mais tura de jornalismo, em 1978, certos apuração. Só havia o legwalking, que jovens praticamente nunca ouviram acontecimentos foram históricos. A o lendário jornalista Gay Talese tanto falar (hoje, nem existe mais): personali- cerimônia, no mosteiro de São Bento, defendia: a necessidade do jornalista dades em trânsito. Ele explica: “Gente contou com um convidado nada es- de botar o pé fora da redação e ir atrás importante que chegasse no Recife, pecial: a ditadura. O 4º Exército – hoje, de sua notícia. eu cobria a visita. Tanto podia entrevis- Comando Militar Nordeste – queria Jones trabalhou em praticamente tar um deputado suíço como discutir tomar o discurso preparado por Jones todas as principais editorias de um com um cientista nuclear sobre reator para censura. Ele se negou, no que jornal. Só não trabalhou em jornalismo atômico, ou quem sabe, esbarrar com teve apoio do então reitor da Unicap, policial e esportivo. O primeiro pela a Miss Brasil... Conheci Vera Fischer Potiguar Matos, a quem permitiu a crueza das notícias, o envolvimento, quando ela tinha 18 anos e veio aqui, leitura do discurso. “Vai depender da até certo ponto, com os maus elemen- de Joinville, para a Fecin (Feira de sua entonação, da sua gesticulação”, tos. O segundo, por não lhe atrair. Co- Comércio e Indústria do Nordeste), brincou o reitor. O discurso era infla- meçou na editoria de política. Cobria realizada onde hoje é a Jaqueira, em mado – “coisas de estudante revolu- as sessões da Assembleia Legislativa 1969”. Ele também fez a completa cionário”, ele sorri. Mas o ponto alto da de Pernambuco (Alepe). Pouco tempo cobertura da visita da Rainha Elisabeth solenidade foi a presença da patrones- depois, foi transferido para a de econo- ao Recife, naquele ano. se Niomar Muniz Sodré de Bittencourt, mia, quase simultaneamente ao convite Mas o grande desafio nessa editoria dona do Correio da Manhã, jornal do deputado Paulo Rangel Moreira, en- eram os estrangeiros. Jones admite emblemático no combate à ditadura. tão presidente da Alepe, para que ele que nunca teve grande domínio da lín- Na sua vez de discursar, ela contou a chefiasse a bancada de imprensa do gua inglesa. E pior, ele “concorria” com história do pai, jornalista e fundador do órgão. “Assim, ganhei meu segundo Lino Rocha, do Diario de Pernambuco, jornal, durante o Estado Novo... Uma emprego”, conta. que, dentre tantas línguas, falava até forma inteligente de protestar diante da Já como repórter de economia, co- russo. Um dia, recebeu a informação intenção dos militares de censurarem a bria pautas relativas à Superintendên- de que Euclides Zerbini, o “homem formatura. “Mera coincidência”, ironiza cia de Desenvolvimento do Nordeste do coração”, médico que realizou o Jones, que completa: “Tudo aquilo que (Sudene). Foi onde conheceu Sarney. primeiro transplante de coração no ela dizia da ditadura de Vargas cabia O governador do Maranhão tinha Brasil, convidara o médico sul-africano naquele momento”. Niomar acabou 35 anos e veio ao Recife para uma Christiaan Barnard, que tinha realizado detida após o encerramento da forma- reunião com outros governadores da o primeiro transplante de coração do tura, para prestar mais depoimentos. região, na Sudene. O chefe de Estado mundo, para palestrar, em São Paulo, Seu jornal, no entanto, não resistiu paraibano, João Agripino, defendia sobre uma técnica nova que ele havia à pressão e acabou sendo fechado participação de lucro das empresas desenvolvido. Jones seguiu viagem e tempos depois. pelos empregados, tema que estava esperou o voo de Barnard no aeropor- As histórias de Jones Figueirêdo na agenda da Sudene. Quando Jones to. Chegando lá, na tentativa do furo naquela que seria sua segunda vo- terminou seu dia de trabalho, partiu de reportagem, encontra Lino Rocha. cação, o jornalismo, são no mínimo para a faculdade, passando depois Não teve outra: os dois “disputaram” a interessantes. De conversas acom- pelo Grande Hotel, um dos melhores atenção do médico. Jones fez uma en- panhadas de uísque com Sarney, no da cidade entre os anos 50 e 70, e trevista rápida com Barnard. O médico antigo Grande Hotel, a driblar barrei- onde estavam hospedados os que par- havia descido junto com a tripulação. ras idiomáticas com boas ideias de ticipariam da reunião. No Esquina 17, Jones teve uma ideia: procurou o capi- improviso, Jones tem muitas delas. “O encontrou Sarney, tomando uísque. Ele tão da aeronave e perguntou quem via- jornalismo foi uma experiência boa. Eu o chamou para dividir a bebida e Jones jou ao lado de Barnard. Deu sorte. O acho uma escola de vida. Porque você aproveitou para perguntar: “A reunião companheiro de viagem do médico foi passa a ter um exercício de dialética, de amanhã será uma pauta muito con- um empresário paulista. E melhor, os de retórica, de estilo, de tudo. Sempre trovertida?”. Sarney disse: “Não, vai ter dois haviam conversado muito durante foi muito bom, como aprendizado de uma questão técnica amanhã, vamos a viagem. Jones teve detalhes que Lino vida, de humanidade”. suscitar um problema de quórum não conseguira, como saber que o
  • 28. 28 perfil médico estava com uma enfermidade O relator foi o pernambucano Ricar- numa das mãos ou que já manifestava do Fiúza, e o presidente da comissão, vontade de trabalhar com transplante João Castelo. Ficou resolvido que de rins, por exemplo. Graças à astúcia seriam feitas audiências públicas com de Jones em driblar a situação, o vários juristas do país. Gente como Mi- Jornal do Commercio publicou matéria guel Reale, autor do projeto original, Ál- muito mais ampla. varo Vilaça, Moreira Alves, entre outros. Jones Figueirêdo deixou o JC em Ao término da série de audiências, 69, no fim do curso de jornalismo, para Fiúza quis a participação de alguém advogar. Seu velho amigo Gladstone de Pernambuco e pediu indicação de foi enfático. “Jones, você não pode nome ao TJPE. Jones foi indicado para deixar jornal! Você vai escrever aqui fazer uma das palestras sobre o pro- pro Diario”. E assim, voltou à atividade jeto na Comissão da Câmara Federal jornalística, escrevendo uma coluna de para os 32 deputados. notícias variadas e literatura, que ele Jones notou logo um problema. O não podia assinar por não ter vínculo lapso de tempo entre o trâmite do pro- trabalhista. Era algo que fazia mais por jeto o deixou desatualizado, especial- devoção do que por necessidade. Um mente na presença da então recente freelancer em termos. Constituição Federal de 1988. “Havia Não pense o caro leitor que a um buraco negro e aquele projeto todo carreira jurídica de Jones Figueirêdo deveria ser salvo com normas de con- não tem a mínima relevância. Essa sonância. Ou seja, ajustar a legislação longa tratativa sobre o jornalista Jones, superveniente e fazer com que aquele até agora, foi apenas para trazer um texto pudesse ser adequado em aspecto inusitado do ilustre desembar- relação à própria Constituição. Para se gador. Maior prova disso é uma impor- ter uma ideia, já existiam leis de união tante contribuição sua para a vida do estável e o projeto sequer abarcava brasileiro: a participação na Comissão isso. Elenquei mais de 40 situações de Especial do novo Código Civil. inconstitucionalidade, por omissão ou A reforma do Código Civil é um pro- porque havia uma quebra da própria jeto que vem desde 1971. Na época, ordem constitucional nova”, comenta o Jones estava terminando a graduação desembargador. em direito. Foi criada uma comissão de Fechada essa fase das sessões, foi notáveis para elaborar um anteprojeto feito um relatório geral da comissão. de lei que pretendia mudar o Código Foi por apontar esse problema do pro- Civil de 1916, até então vigente. O jeto que Jones acabou recebendo um Executivo recebeu o anteprojeto e o convite de Michel Temer, presidente da encaminhou à Câmara Federal, em Câmara Federal, para ficar à disposi- 1975. Ano em que Jones entrava na ção da mesma e ajudar. Foram mais magistratura. Coincidências... de seis meses, no ano de 1999; Jones “Veja como as coisas são interes- estava começando sua carreira de santes... Eu não comprei muito livro de desembargador no TJPE. O relatório direito civil porque os livros que eu tinha preliminar teve mais de mil páginas. da faculdade eram todos do Código “Foi quando a Câmara resolveu fazer de 1916, e quando entrei na magistra- uma solução bicameral, permitindo que tura, foi exatamente quando se fez o o projeto voltasse ao Senado, para que primeiro projeto de lei do Código Civil. houvesse um parecer, atualizando-o, Pensei comigo ‘não vou comprar muito para depois retorná-lo à Câmara. livro de direito civil porque vai mudar Àquela altura, o presidente da rapidamente’. E se passaram 27 anos... Câmara era Aécio Neves, que pediu a O projeto ficou na Câmara Federal de Jones para que retornasse e ficasse 1975 a 1984, e no Senado, de 84 a 96. novamente à disposição. Assim se fez. Em 96, voltou para a Câmara apreciar Nessas voltas e voltas do projeto, ele as trezentas e poucas emendas do finalmente é aprovado. “Repare bem, Senado. Em 99, criaram uma Comis- o primeiro projeto desse Código Civil são Especial na Câmara Federal para a foi publicado no Diário do Congresso reforma do Código Civil”. quando eu entrei na magistratura. Mal
  • 29. perfil 29 Como pesquisador, o desembargador Jones Figueirêdo colaborou em diversas obras jurídicas sabia eu que 27 anos depois, viria ser nome pra fazer essa palestra. Eu fui o Nos idos de 1981, quando os compu- participante junto à Comissão Relatora indicado. Nunca houve antes alguém tadores de grande capacidade eram os da reforma do Código Civil”. que pudesse ser colocado à dispo- enormes mainframes, Jones estabele- O reconhecimento por esse trabalho sição de outro Poder como juiz pra ceu o plano diretor de implantação do está afixado na parede de seu gabi- trabalhar no processo legislativo”. sistema de Informática do TJPE, tendo nete, junto de tantos outros títulos. realizado visitas de benchmarking, em Uma foto e uma placa, com Aécio Deixando marcas 1985, no Judiciário de São Paulo e de Neves e João Castelo, onde recebeu a A importância do trabalho de Belo Horizonte. A intenção era analisar Medalha do Legislativo pelos serviços Jones Figueirêdo também aparece o modelo dos sistemas de Informática prestados. Sobre a experiência, Jones em nível estadual. “Completei 36 anos dessas instituições e avaliar qual seria comenta: “Foi muito boa. A primeira de magistratura, iniciados em 27 de o mais adequado para o Tribunal. obra doutrinária sobre o CC teve minha novembro de 1975. Se você consi- Ao assumir a Presidência do TJPE, participação. É muito importante você derar tudo que aconteceu em nosso em 2008, ele deu continuidade a essa ver certas coisas que acontecem e que Poder Judiciário, vai sempre encontrar modernização, através da informatiza- eu diria imprevisíveis”. minhas impressões digitais”. Ele não ção de todas as comarcas de Per- Em 1996, o Tribunal abriu um diz isso por orgulho besta, muito pelo nambuco. Até junho daquele ano, nem prêmio de monografias jurídicas. contrário. Jones sempre teve interesse metade das comarcas era informatiza- “Participei e ganhei o primeiro prêmio em trabalhar pelo Judiciário, indo além da. “Não havia ligação em rede algu- com uma monografia sobre o poder da função judicante. “Desde o primeiro ma. A informatização se resumia a um ex-officio”. Nos dois anos seguintes, minuto da minha carreira, sempre me computador na mesa. Partimos de 56 conquistou a mesma honraria. Parou dediquei a um trabalho institucional comarcas informatizadas e chegamos de se inscrever depois disso. Nesses de cooperação com a melhoria do a 150, porque eu instalei a comarca três prêmios, todos foram sobre direito Judiciário”. de nº 150, Lagoa Grande. Fechou-se processual civil. “Eu não podia nunca Uma das suas contribuições de um ciclo”. E outro foi iniciado, com imaginar que depois fosse me dedicar grande vulto para o Tribunal de Justiça, a implantação do Processo Judicial ao direito civil. E aconteceu acidental- e que mostra o quanto ele herdou o Eletrônico (PJe), na gestão de José mente, porque o relator da comissão sentido visionário do pai, foi ele ter Fernandes de Lemos. “É uma obra que era de Pernambuco, eu tinha chegado presidido o primeiro plano diretor de In- você vai botando um tijolo a cada dia. no TJ e ele pediu uma indicação de formática do Judiciário pernambucano. As coisas nunca terminam, tem acrés- foto: Agência TJPE