O documento discute as expectativas de entidades de saúde em relação ao novo governo estadual do Paraná, com foco na regionalização do atendimento, parcerias com hospitais filantrópicos e funcionamento pleno dos hospitais regionais. Também aborda a necessidade de incentivo financeiro diferenciado para hospitais que são referência em suas regiões.
APS Forte: Estratégia central para a Saúde Universal no Brasil e na América L...
Atendimento humanizado 4
1. PÁGS 4 e 5 | POLÍTICA E SAÚDE
Os desafios do novo governo estadual. Quais as expectativas das principais entidades de classe
ligadas ao segmento.
PÁGs 6 e 7 | ENTREVISTA
O secretário de saúde do Estado do Paraná, Michele Caputo Neto, fala ao VOZ SAÚDE sobre as
ações previstas para este primeiro ano à frente da Sesa.
PÁG 8 | ESPECIAL
Como hospitais beneficentes de cidades pequenas superam as dificuldades para manter o atendi-
mento aos paranaenses.
VOZSAÚDEJ A N E I R O / F E V E R E I R O 2 011 . N . 5 9
H O S P I TA I S H U M A N I T Á R I O S D O P A R A N Á
Hospitais apostam em
atendimento humanizado
PÁG 3
2. 2 FEMIPA
ano de 2011 começa com novas perspec-
tivas para a Saúde no Estado do Paraná.
Mudanças fazem nascer o sentimento de es-
perança de que haverá melhorias e inovação.
Os hospitais filantrópicos, por meio da Femi-
pa, acreditam na parceria séria que vem sendo
construída com o atual governo estadual. Em
um campo onde quem precisa ganhar são os
paranaenses atendidos pelo Sistema Único de
Saúde, os dois lados – entidade e poder pú-
blico – devem encontrar a melhor forma de
unir forças para levar serviços de saúde de
qualidade à população. Os desafios do Estado
na gestão da Saúde apontados pelas entidades
em matéria nesta edição são compartilhados
pela Femipa.
Também enfrentam desafios, alguns hospi-
tais beneficentes que tentam manter os aten-
dimentos em suas regiões, mas sofrem pela
escassez de recursos e falta de políticas pú-
blicas ao longo dos anos que aproveitem as
estruturas e o conhecimento dessas institui-
ções em uma rede integrada. O compromisso
da Secretaria Estadual de Saúde em apoiar fi-
lantrópicos considerados referências em suas
localidades é uma luz que deve beneficiar,
principalmente, os usuários do SUS. Usuários
que, a cada dia, podem contar com unidades
hospitalares filantrópicas mais preparadas e
com foco na pessoa. Na reportagem de capa
sobre o atendimento humanizado é possível
entender a importância do olhar para o pa-
ciente de maneira mais cuidadosa, uma das
missões das santas casas e um objetivo cons-
tante na rotina de cada afiliado.
Boa leitura.
O
Quais devem ser as prioridades do governo
estadual para a Saúde em 2011?
OPINIÃO
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“Na avaliação do Ministério Público do Paraná, as prioridades do governo estadual para a
saúde em 2011 devem se pautar pelo cumprimento da Emenda Constitucional nº29, quan-
to à aplicação mínima de 12% da receita líquida do Estado em ações e serviços estritos de
saúde, não se confundindo com despesas relacionadas a outras políticas públicas, ainda
que atuem sobre determinantes sociais e econômicas incidentes sobre as condições de
saúde. Somente com o adequado financiamento do SUS, o Estado pode disponibilizar à
sociedade paranaense a melhoria e ampliação dos serviços de saúde, mediante o aumento
do número de leitos de UTI, a adequada estruturação dos hospitais regionais, a ampliação
da assistência à saúde mental e a adequação do sistema de assistência farmacêutica, den-
tre outras prestações de saúde reputadas como fundamentais. Outra questão considerada
prioritária é a implementação da política de atenção integral aos usuários de álcool e
outras drogas, com especial ênfase para o combate ao uso do crack.”
“Dentre os inúmeros problemas na área de saúde pública que necessitam de urgente aten-
ção, dois pontos parecem fundamentais para a nova gestão da administração estadual:
a regionalização dos serviços de média complexidade e a redução de custos a partir de
investimento na prevenção e combate à ineficiência. A atenção à “média complexidade”
é aquela que mais impacta no orçamento da saúde. Diariamente chegam a Curitiba e a
outros grandes centros do estado inúmeras caravanas de pessoas em busca de tratamento.
A atuação regional, por meio da criação de novos hospitais públicos ou da atuação estatal
conjunta com o setor privado poderá promover o atendimento em cidades estratégicas.
Também é possível identificar o custo da ineficiência da atividade médico-hospitalar para
os cofres públicos. As ações por erro médico vêm crescendo em larga escala. Basta dizer
que nos últimos 10 anos o número de processos cíveis envolvendo erro médico quadripli-
cou e o estado acaba ocupando lugar cativo nas demandas judiciais. As sentenças conde-
nam a Administração ao pagamento de indenizações que variam entre 10 e 100 mil reais.
A prevenção é a medida menos custosa e mais eficiente.”
Simone Maria Tavarnaro
Pereira
Silvio Felipe Guidi
Promotora de Justiça de Proteção à Saúde Pública,
Curitiba (PR)
Presidente da Comissão de Direito à Saúde da OAB
Paraná
3. CAPA
Hospitais apostam em atendimento
humanizado
Primeiro programa de humanização do Hospital Pequeno Príncipe tem mais de 30 anos.
Projeto enfrentou resistências, mas hoje é complementado por outras ações.
As ações de humanização em hospitais trazem comprovada-
mente bons resultados. Entretanto, a implantação de pro-
gramas nessa área nem sempre é fácil. A humanização depende
de uma mudança de cultura, o que nem sempre ocorre de manei-
ra rápida. Mas os hospitais que realizam ações de humanização
concordam: vale a pena investir para melhorar o atendimento
aos pacientes e seus familiares, além de melhorar a qualidade de
trabalho para os funcionários.
O Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, implantou o pri-
meiro programa de humanização da instituição em 1980. Desde
então, não parou mais. Em 2010, a média de internação ficou
em 4,7 dias. Antigamente, eram duas semanas dentro do hos-
pital. O índice de infecção cruzada também diminuiu significa-
tivamente. “É melhor a mãe manipular a sua criança do que a
enfermeira manipular dez crianças ao mesmo tempo”, explica
Tatiana Forte, psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia
da Faculdade Pequeno Príncipe, vinculada ao hospital.
Tatiana foi uma das responsáveis pela implantação do pro-
grama Família Participante, há 30 anos. O projeto garantiu o
acompanhamento de um familiar 24 horas dentro do hospital.
“Quando iniciamos, teve muita resistência de enfermeiros, mé-
dicos, pessoal da limpeza”, lembra Tatiana. Atualmente existem
diversas ações de humanização dentro do Pequeno Príncipe. O
Programa Cores, por exemplo, é direcionado aos funcionários.
Eles podem participar, dentro do horário de trabalho, de ativi-
dades como reike, ioga, relaxamento e coral.
No Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba, as ações de
humanização também abrangem pacientes e colaboradores.
Funcionários e voluntários acompanham o paciente desde a sua
chegada até o fim de sua internação. “Para o hospital, pode ser
apenas mais um paciente. Mas para o paciente seu caso é úni-
co. Treinamos a nossa equipe para que ela aja da forma mais
acolhedora possível”, afirma Claudio Enrique Lubacher, diretor
geral do Cajuru.
Para ele, existe em muitos hospitais um falso conceito de
humanização, que estaria mais ligado com a decoração do hos-
pital. “É mais do que ambiente. Enraizar uma nova cultura é
difícil. Isso não vem apenas depois de assinar um documento”,
revela Lubacher.
Melhorar o atendimento do paciente
também passa pela implantação de um
programa de gerenciamento de risco
Melhorar o atendimento do paciente também
passa pela implantação de um programa de geren-
ciamento de risco. É possível conseguir excelentes
resultados ao conhecer possíveis brechas, agir para
impedi-las e atuar rapidamente quando um evento
adverso acontece. O Hospital São Camilo, de São
Paulo, implantou o programa há seis anos. Tudo co-
meçou com poucas referências, mas hoje as ações
são preventivas e pró-ativas, de acordo com Dario
Ferreira, diretor médico do hospital.
“Nós identificamos os riscos e colocamos em
uma escala de graduação. Um exemplo exagerado
e intolerável seria uma cirurgia em uma parte errada
do corpo, mas a infecção hospitalar também é con-
siderada intolerável. Reduzimos assustadoramente
depois que tomamos esta atitude, quando o hospital
começou a encarar que infecção hospitalar não deve
acontecer, mesmo sabendo que ela vai”, analisa.
Outro resultado citado por Ferreira é a diminuição
de 15 para um caso por mês de úlceras de pressão
(feridas) em pacientes. O programa de gerenciamen-
to de riscos tem metas periódicas. Para 2011, uma
delas é diminuir em 75% a pneumonia associada à
ventilação mecânica. “Essa é difícil”, considera. No
entanto, para Ferreira, vale muito a pena apostar no
gerenciamento de risco.
Diminuir riscos
Por Joyce Carvalho
Fotografia:HospitalPequenoPríncipe
Janeiro | Fevereiro, 2011 3
4. 4 FEMIPA
governador Beto Richa (PSDB) assumiu o governo estadual
há pouco tempo e já encontra grandes desafios pela frente
na área da saúde. As expectativas ainda são muitas por parte
de hospitais beneficentes e entidades de classe ligadas à saúde.
Estas vão agendar encontros com o novo governador para dis-
cutir aspectos importantes que devem ser tratados e priorizados
nesta gestão do Poder Executivo. Entre elas, por exemplo, está a
efetiva regionalização do atendimento de complexidade e par-
cerias com hospitais filantrópicos.
O Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) está
aguardando o secretário estadual de Saúde, Michele Caputo
Neto, tomar conhecimento de toda a realidade da pasta e da
situação da saúde no Estado para marcar um encontro e levar
algumas sugestões para ele. “O grande desafio será o funcio-
namento pleno dos hospitais regionais. Os hospitais que foram
construídos nos últimos anos enfrentaram dificuldades estrutu-
rais e de pessoal. Muitos deles se tornaram ambulatórios e não
hospitais, como deveriam ser”, afirma Alexandre Gustavo Bley,
vice-presidente da entidade de classe.
Ele lembra que cada vez mais há um aumento na demanda
por leitos de urgência e emergência, mas a quantidade de va-
gas não é suficiente para atender todos os pacientes. A falta
de leitos é uma das reclamações que mais chegam ao CRM-PR,
enviadas tanto por pacientes quanto por médicos. “Os pacientes
ficam em macas nos corredores à espera de um leito. Não tem
para onde encaminhar. Com os hospitais regionais funcionando
plenamente, esse problema será minimizado. Mas é necessário
refazer todo o sistema de urgência e emergência”, opina Bley.
Ele lembra que o fato de não ter para onde encaminhar deixa
o médico em uma situação complicada, pois ele precisa fazer o
necessário e não tem como. “Outro hospital não quer receber e
no meio disso tudo fica o povo”, diz.
O vice-presidente do conselho ressalta que o governo esta-
dual pode cumprir a sua proporção de investimentos em saúde
sem esperar a regulamentação da Emenda Constitucional 29,
que tramita no Congresso Nacional. “Se o Estado tem interesse,
pode fazer a parte dele antes da emenda. Se há vontade política
para estes recursos, quando vier a Emenda 29 já estará regula-
rizado”, lembra.
Financiamento
Outra ação que depende de vontade política é o financia-
mento indireto de hospitais filantrópicos e beneficentes, com a
desoneração de impostos sobre o consumo de energia elétrica
e telefonia, entre outros. “Os impostos representam 30% dos
gastos com isso. O hospital não pode simplesmente ficar sem
energia elétrica. Tem a desoneração para a agricultura, mas não
tem para os hospitais. Essa é uma reivindicação de longa data
e espero que o novo governo possa acatar”, comenta Fahd Ha-
ddad, superintendente da Irmandade da Santa Casa de Londri-
na, na região norte do Paraná.
POLÍTICA E SAÚDE
Os desafios do novo
governo estadual
Regionalização do atendimento de complexidade, parceria
com filantrópicos e funcionamento dos hospitais regionais
são algumas das expectativas das entidades de classe.
Por Joyce Carvalho
O
Santas Casas do interior defendem
incentivofinanceiroestadualaoshospitais
que são referência em suas regiões
5. Janeiro | Fevereiro, 2011 5
POLÍTICA E SAÚDE
De acordo com ele, o grande problema para o setor é o
financiamento. Ele propõe mecanismos para premiar os
hospitais com resultados mais expressivos. “O benefí-
cio do governo é igual para todo mundo. Alguns hos-
pitais atendem muito e são tratados iguais aos outros.
A remuneração deve ser diferenciada para os hospitais
regionais e de referência, especialmente em emergência
e UTI”, analisa. Haddad ainda aponta que a valorização
dos profissionais da saúde também merece atenção, além
do apoio e do subsídio para a aquisição de equipamentos,
especialmente para as instituições que atendem pelo Sis-
tema Único de Saúde (SUS).
O apoio para os hospitais que são referências nas regi-
ões é destacado também pelo presidente da Santa Casa de
Campo Mourão, Elmo Linhares. Na opinião dele, a ênfase
na regionalização, com apoio especialmente para as San-
tas Casas no interior do Estado, pode ser a melhor política
para tirar as ambulâncias das rodovias. “A Santa Casa
de Campo Mourão faz as vezes de hospital municipal ou
estadual. Em razão disso, nossa demanda aumentou mais
de 40% em 2009 e 56% em 2010. Não temos com quem
compartilhar esta demanda”, conta.
A cidade de Campo Mourão tem 87 mil habitantes e
na região atendida pela Santa Casa há uma população de
330 mil pessoas. Não existe na cidade um hospital públi-
co de grande porte para atender essas pessoas. Na gestão
passada do governo do Estado, a Santa Casa de Campo
Mourão mostrou que exerce este papel de hospital regio-
nal e, por isso, conseguiu recursos estaduais para uma
nova maternidade (que atenderá pelo Sistema Único de
Saúde), um novo Pronto Socorro e equipamentos. Foram
investidos R$ 8 milhões, com recursos estaduais. “Espe-
ramos agora que esse entendimento permaneça. Conse-
guimos absorver a demanda crescente e manter a qua-
lidade no serviço. Queremos manter esta parceria para
novos serviços e evitar o deslocamento desnecessário de
pacientes para outras cidades”, diz Linhares. Ele ainda
tem uma grande expectativa sobre o que virá do governo
da presidente Dilma Rousseff. Durante o último debate do
segundo turno das eleições presidenciais, um dos temas
ressaltados foi a falência das Santas Casas. Diante do po-
sicionamento da presidente eleita, ele aguarda a liberação
de recursos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) para socorrer as instituições.
“Se isso acontecer, o dinheiro será usado para reestrutu-
ração dos hospitais, capitalização, pagamento de dívidas
e investimentos”, explica Linhares.
O presidente do Conselho Regional de Enfermagem do
Paraná (Coren-PR), Montgomery Pastorelo Benites, avalia
como positivo este início de governo. Ele gostou muito
da escolha de Michele Caputo Neto para a Secretaria de
Estado da Saúde. Benites ainda destaca a atuação inicial
da pasta para controlar uma possível epidemia de den-
gue no Paraná. O governo estadual criou um plano de
emergência de controle da doença, incentivando ações
preventivas e reforçando o atendimento aos doentes.
Para o Coren-PR, uma das áreas que podem ser prio-
rizadas neste governo é a efetiva implantação de respon-
sáveis técnicos em hospitais. A legislação vigente prevê
que toda instituição de saúde precisa ter um enfermeiro
responsável pela equipe de enfermagem. “Já existe o de-
sejo de ter estas equipes de enfermagem com responsá-
veis técnicos, o que não existia antes”, esclarece Benites.
Outro passo importante indicado por ele é a nomeação
de uma enfermeira para comandar uma das regionais de
saúde do Estado.
6. 6 FEMIPA
ENTREVISTA
Quais os projetos da Secretaria Estadual de Saúde para
2011 e de que forma os hospitais filantrópicos serão en-
volvidos em parte dessas ações?
Nos primeiros 180 dias de governo, na área de Saúde, es-
tamos estruturando ações estratégicas necessárias para o es-
tabelecimento das bases, para já a partir do segundo semestre
de 2011 colocarmos em execução todas as propostas do plano
de governo Beto Richa 2011 a 2014.
Uma das primeiras ações foi promover medidas emergen-
ciais voltadas ao enfrentamento da dengue, devido à grave si-
tuação epidemiológica que encontramos no Estado, com risco
de epidemia ainda no início desse ano. Trabalhamos também
para equacionar a operação verão com equipes médicas e de
enfermagem nos hospitais do litoral e pronto-atendimentos,
com insumos e o apoio logístico de ambulâncias do Siate e de
transporte aéreo para os casos que forem necessários.
Iniciamos um processo de reorganização da Secretaria,
tanto de processos administrativos como de gestão, com a
definição de prioridades e planejamento estratégico e mar-
co conceitual, que é a construção das Redes de Atenção à
Saúde. Para isso, iniciaremos já em fevereiro um processo de
capacitação de todos os profissionais que atuam na sede da
Secretaria e nas regionais de saúde.
Da mesma forma, estamos preparando nossas equipes para
trabalharmos ainda no primeiro semestre, a gestão para resulta-
dos, ou seja, todas essas ações criam base para que ainda em 2011,
possamos implantar o Programa Mãe Paranaense (melhoria da
atenção materno-infantil) e iniciarmos a estruturação da Rede de
Urgências e Emergências. A parceria com os hospitais filantrópi-
cos será fundamental nessas duas redes que vamos implantar.
Muitos gestores de hospitais afirmam que falta preparo
das equipes das regionais de Saúde. Como resolver essa
questão?
Nos últimos anos, o pouco investimento na capacitação
permanente, na reposição dos profissionais que saíram e,
principalmente, pela inexistência de planejamento estratégico
e uma definição clara do papel da Sesa, fizeram com que as
equipes regionais ficassem afastadas do processo de coorde-
nação das ações no âmbito das regionais.
A Secretaria de Estado da Saúde tem excelentes profissio-
nais no seu quadro, tanto na sede da secretaria quanto nas
regionais. Já iniciamos um processo de definição de priori-
dades e de reorganização da gestão estadual, definimos um
novo funcionograma das regionais de saúde para viabilizar
as propostas do nosso plano de governo para a área de saúde
e atender os anseios da população do Paraná. Vamos inves-
tir em um programa de capacitação permanente de nossas
equipes envolvendo também os profissionais que atuam nos
serviços que atendem o SUS. As equipes regionais voltarão a
ser referência para a discussão da política de saúde e da ope-
racionalização dessa política no âmbito das regiões.
Secretário de Estado da Saúde,
Michele Caputo Neto
Farmacêutico, servidor público da Secretaria de Estado
da Saúde (Sesa) desde 1985. Foi chefe de gabinete da
Fundação Nacional de Saúde, chefe da Vigilância Sani-
tária Estadual, diretor geral do Centro de Medicamentos
do Paraná e diretor dos Órgãos Produtores de Insumos e
Imunobiológicos da Sesa. Em Curitiba, foi duas vezes se-
cretário municipal de saúde e secretário municipal de as-
suntos metropolitanos. Natural de Maringá, tem 48 anos.
7. Janeiro | Fevereiro, 2011 7
ENTREVISTA
O secretário anunciou no discurso de transmissão de cargo
investimentos na capacitação dos profissionais da Saúde.
Como e quando será implantando esse programa? Ele inclui-
rá os profissionais dos filantrópicos?
Uma das solicitações do governador é de que todos os cida-
dãos do Paraná, independente do lugar onde vivem, tenham uma
assistência de qualidade e isso só se faz com recursos humanos
preparados e capacitados permanentemente, com infraestrutura
adequada e com base em protocolos clínicos baseados em evi-
dência. Portanto, o processo de capacitação dos profissionais de
saúde é nossa prioridade.
Temos vários projetos de capacitação, que envolvem todas as
equipes municipais, voltados à melhoria do acesso e à reorgani-
zação da atenção primária; para os serviços hospitalares temos a
proposta de capacitar as equipes de pronto-socorro e de pronto-
atendimento para melhoria do atendimento às situações de ur-
gências e emergências. Além disso, estamos elaborando, dentro
de um programa de apoio aos hospitais, um curso de especializa-
ção para a melhoria da gestão hospitalar.
Como serão administrados os hospitais construídos na ges-
tão anterior, que ainda não estão em funcionamento? A par-
ceria com os filantrópicos como administradores seria uma
opção?
Nós recebemos sete novos hospitais do governo anterior (Hos-
pital Regional do Litoral, Hospital Regional do Sudoeste, Hospi-
tal de Guaraqueçaba, Hospital de Reabilitação, Hospital Infantil
Waldemar Monastier, Hospital Regional de Ponta Grossa, Hospital
Regional de Telêmaco Borba em construção). Esses hospitais não
tiveram a definição do seu perfil assistencial e do seu modelo
de gerência. Faltam equipamentos e, por problemas estruturais,
várias obras terão que ser executadas. Além da falta de recursos
humanos para que esses hospitais possam funcionar plenamente.
Estamos elaborando um diagnóstico e tomando as medidas
necessárias para a não paralisação dos serviços, como no caso de
Francisco Beltrão, onde os profissionais contratados por teste se-
letivo tinham seus contratos definidos até dia 20 de janeiro. Ime-
diatamente, ao assumir, solicitei ao governador, que prontamente
autorizou a prorrogação do prazo dos profissionais contratados
por mais dois meses e a nomeação dos profissionais concursa-
dos.
A partir do diagnóstico de cada unidade hospitalar vamos de-
finir o seu perfil assistencial na região de acordo com as neces-
sidades da população e com nosso plano de governo e estabele-
cer as estratégias que forem necessárias para viabilizar o pleno
funcionando. Não descartamos nenhuma possibilidade de gestão
desses hospitais, desde que atendam os princípios da legalidade,
da eficiência e da qualidade, o nosso compromisso é com o cida-
dão do Paraná em primeiro lugar.
Ao assumir a secretaria, quais foram as dificuldades encon-
tradas?
Encontramos a Sesa com inúmeros problemas de ordem ad-
ministrativa, financeira, de organização e de gestão. Nos últimos
anos, o governo anterior levou a Secretaria de Saúde a um déficit
financeiro de mais de 100 milhões de reais. O acúmulo de dividas
com prestadores (hospitais e serviços que atendem o SUS) somam
hoje 38 milhões, dívidas com fornecedores somam 54 milhões. O
aumento de gastos com internações e atendimentos ambulatoriais
sem o devido aporte de recursos financeiros, somam quase 6 mi-
lhões/mensais.
O repasse para os municípios referente aos medicamentos, da
parte que cabe ao Estado, estava atrasado desde setembro de 2010,
somando mais de 3 milhões. Além da falta de recursos humanos
em áreas estratégicas da gestão estadual.
Obviamente já tínhamos uma noção anterior desses problemas.
Para enfrentar essa situação, organizamos as seguintes ações:
• Implantamos na primeira semana de janeiro ações
para o enfrentamento da Dengue em todo o Estado, como
foco prioritário nos municípios das regiões norte e noro-
este;
• Garantimos imediatamente o suprimento de insumos
e medicamentos em toda a rede;
• Garantimos o atendimento de saúde na Operação Ve-
rão;
• Estamos realizando auditoria para o levantamento de
todos os problemas financeiros, administrativos e na exe-
cução das obras para a adoção de medidas de correção.
Além desses desafios imediatos estamos trabalhando para es-
truturar todas as ações do plano de governo. Nosso governo será
de parceria com a sociedade, com as entidades representativas
dos profissionais de saúde, com os prestadores de serviços públi-
cos, filantrópicos e privados para a melhoria da assistência em
todo o Estado.
8. 8 FEMIPA
ESPECIAL
Nem pequeno, nem
grande: como sobreviver?
Eles não são considerados pequenos,
pois possuem mais de 30 leitos, mas tam-
bém estão longe dos hospitais médios e
grandes. Uma parcela de hospitais fi-
lantrópicos do Paraná está em uma área
obscura, que, algumas vezes, dificulta a
manutenção dos atendimentos em seus
municípios, mas, por outro lado, ser-
ve de motivação para encontrar novos
modos de continuar prestando serviços
de qualidade à população. Para o pre-
sidente da Femipa, Maçazumi Furtado
Niwa, é preciso que os hospitais que são
importantes para as suas regiões sejam
mais valorizados. “Aqueles que traba-
lham corretamente, atendem as metas e
mostram disposição para melhorar seus
pontos negativos precisam ser reconhe-
cidos”, afirma Niwa.
No município de Sengés, os quase
18 mil habitantes contam apenas com
o Hospital e Maternidade de Sengés,
filantrópico, para os procedimentos de
baixa complexidade. A unidade, com 34
leitos, que atende apenas pelo Sistema
Único de Saúde (SUS), é também a única
que disponibiliza o serviço de plantão
24 horas para urgências e emergências.
De acordo com a administradora Roseli
Rodrigues dos Santos Camargo, há dez
anos na gestão do hospital, a principal
dificuldade está no custeio da folha de
pagamento. Os 45 funcionários contra-
tados consomem 60% dos recursos fi-
nanceiros. Roseli conta que a subvenção
repassada pela prefeitura municipal, de
95 mil reais por mês, não é suficiente.
“No final do ano sempre estamos com
um déficit”, revela. A administradora
afirma que seria necessário um orça-
mento anual de 1,5 milhão para man-
ter o hospital em funcionamento. “Já
estamos pensando como serão pagos os
reajustes salariais deste ano”, desabafa.
A unidade pertence à regional de Ponta
Grossa.
Novos caminhos
A Secretaria de Saúde do Estado do
Paraná (Sesa) estuda um projeto que
poderá fortalecer hospitais filantrópicos
e públicos que são referência em suas
regiões. A ideia é valorizar aqueles que
apresentam resolutividade, independen-
te do porte, com incentivos financeiros,
equipamentos e capacitação profissio-
nal. A proposta ainda está sendo discu-
tida dentro da secretaria.
A N U N C I E
41 3027 5036
No município de Sengés, os quase 18 mil habitantes
contam apenas com um filantrópico para o serviço
de plantão 24 horas para urgências e emergências.
Secretaria de Saúde do Estado
estudaprojetoquepoderáfortalecer
hospitais filantrópicos e públicos
que são referência em suas regiões
Presidente da Femipa defende valorização
dos hospitais que prestam bom atendimento
Aposta na gestão
Em Ribeirão do Pinhal, o hospital fi-
lantrópico, que leva o nome da cidade
e também é o único do município, passa
por um processo de revitalização. Com
46 leitos, divididos entre SUS, particula-
res e convênios, a instituição começou
2011 com o objetivo de reorganizar a
gestão e investir na profissionalização
para ir mais longe. Onivaldo Aparecido
Zanoto, que acaba de assumir a adminis-
tração do hospital, acredita que com pla-
nejamento será possível, inclusive, atender
procedimentos de média complexidade. Li-
gado à 18ª Regional de Saúde, de Cornélio
Procópio, o hospital tem um custo médio
mensal de 70 mil reais. Da prefeitura, a
unidade recebe apenas uma “pequena”
subvenção para o laboratório, afirma o
administrador. Zanoto diz que o hospital
não fecha no vermelho, que os pagamen-
tos de salário estão em dia e as contas
equalizadas, mas ainda é preciso contar
com doações da comunidade, promo-
ção de feiras e venda dos produtos da
horta. “Queremos ser auto-sustentáveis
e planejamos uma ampliação. Para isso,
estamos negociando para oferecer ser-
viços para outros municípios da região”,
revela.