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FRUTAS – GLOBO REPÓRTER
As novas descobertas sobre o poder nutritivo e medicinal das
frutas brasileiras.

10-10-2008

Abacate: bom para as articulações e o coração
Força, energia, concentração e muito preparo físico. Em uma
academia de caratê, em Campinas, no estado de São Paulo,
instrutor e alunos se dedicam a um esporte que em apenas uma
hora de prática consome 400 calorias. É um grande esforço para os
músculos e um desgaste para os ossos e as articulações.
Mas o médico Edson Credídio, faixa preta desde a adolescência,
tem a solução. O nutrólogo é defensor e apreciador ferrenho do
abacate. Ele acredita que a fruta não deve faltar na alimentação dos
atletas.

"Evita a câimbra pelo alto teor de potássio. Ele é importante, porque
apresenta polifenóis, que ajudam a recuperar e a proteger as
cartilagens nas articulações. Então, é um complemento que todo o
atleta deveria utilizar", explica o médico.

Só de potássio, o abacate tem 485 miligramas em cada cem
gramas do fruto. É o dobro da banana. Na academia, o médico
recomenda o abacate aos alunos, assim como faz com seus
pacientes há 28 anos. Segundo ele, para prevenir uma série de
doenças.

"Evita doenças crônico-degenerativas, processos alérgicos,
processos reumáticos, doenças auto-imunes. Eu uso para tudo, só
que inserido em um plano pessoal", afirma doutor Credídio.
Acontece que o abacate, apesar de gostoso, tem fama de engordar.
Por isso, não é muito bem visto.

"Todos nós achávamos que era gorduroso", diz uma mulher.
"Sempre acharam que aumentaria o colesterol", comenta um aluno
da academia.
"Pelo fato de ter óleo, ele tem um alto teor energético. Cada 100
gramas tem 170 calorias. Só que você põe uma quantidade menor,
por exemplo, em um leite desnatado ou come com limão. Então,
fica pouca caloria. Compensa pelo benefício", explica doutor
Credídio.

Benefícios que pesquisadores do curso de engenharia de alimentos
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) estudam já há
dois anos. Orientado pela professora Glauce Pastore, doutor Edson
Credídio quer comprovar cada uma das propriedades do abacate na
sua tese de doutorado. Os estudos feitos no laboratório mostram
que o abacate é tão bom para o nosso organismo quanto o azeite
extra-virgem.

"A grande vantagem é que nós encontramos o abacate o ano todo.
Ele tem uma diversidade muito grande. No Brasil, temos mais de
cem espécies diferentes. Então, você consegue encontrar o ano
todo. O benefício que ele causa é aumentar o colesterol bom e
reduzir o colesterol ruim, levando à prevenção de doenças
cardiovasculares", diz o médico.

A constatação de que o abacate podia aumentar o bom colesterol
bom precisava ser comprovada cientificamente. Um desafio que
levou o pesquisador até o Comando de Policiamento do Interior, o
CPI2.

O grupo de policiais foi considerado ideal para o estudo, porque as
pessoas que fazem parte dele têm várias características parecidas.
São homens e mulheres na mesma faixa de idade, entre 25 e 45
anos. Eles possuem hábitos de alimentação e de atividade física
bem semelhantes. E todos têm uma profissão que provoca muito
estresse.

E o estresse é uma ameaça. Para reagir, consumimos nossas
reservas, inclusive o colesterol bom, o HDL. A proposta para os
militares do CPI2 era consumir um abacate pequeno por dia:
metade no almoço e a outra metade no jantar.

"No começo, eu estava meio cético. Como uma fruta que é tão
gordurosa pode melhorar o colesterol? Eu achei até estranho",
conta o terceiro sargento da Polícia Militar de São Paulo, Alex
Sandro Menegão.
O sargento Alex Sandro tinha boas razões para ter receio. Pouco
antes do teste, teve diagnosticado um problema de hipotireoidismo.
“É uma alteração na glândula tireóide que faz com que o
metabolismo tenha problemas. Então, o colesterol aumenta na
circulação. Eu tinha níveis de colesterol altíssimos. Eu ia ter que
tomar remédios e medicamentos para controle do colesterol”,
lembra.

Setenta policiais aderiram ao programa durante dois meses. Nada
mudou na alimentação deles, a não ser a entrada do abacate.
"Eu não quis interferir na dieta para mostrar a eficácia real do fruto
do abacate", explica o médico.

Os exames de sangue foram realizados antes e depois do estudo.
O resultado surpreendeu.

"A principal conclusão dessa pesquisa foi que 99% dos policiais
participantes tiveram uma melhora do colesterol HDL, que é bom
colesterol", informa doutor Credídio.

O sargento Alex Sandro e a soldado Cristina Proença apresentaram
as mudanças mais significativas. O HDL, o colesterol bom, da
soldado Cristina subiu 20% ao final dos dois meses. O sargento
Alex Sandro apresentou uma melhora geral do quadro dele:
redução do colesterol total e aumento do HDL.

"Eu me senti mais disposto e mais humorado. Só o fato de saber
que não estou mais doente e que não tenho mais nenhum problema
é ótimo. Então, eu vou prosseguir nessa dieta. Já é o suficiente, não
preciso tomar nenhum tipo de medicamento, nenhuma droga. Acho
mais natural", diz o sargento.

"O ideal seria uma porção por dia, o que corresponde a duas
colheres de sopa. Isso seria introduzido em um plano alimentar
balanceado", orienta doutor Credídio.




Frutas para exportação
"Eu vim para cá por causa do desemprego. Lá as condições de
emprego são fracas", explica João Paulo Barbosa Alves, de 21
anos, sobre sua migração para o Vale do São Francisco.
Do encontro das águas do Velho Chico com a seca do Nordeste
brotaram grandes oportunidades: frutas. A irrigação fez nascer a
esperança de emprego com carteira assinada.
"Tendo a coragem de trabalhar, há emprego. Tem muita fruta para
colher", diz Vilmar de Melo Souza, de 28 anos.

Na região, a fartura é de encher os olhos e as caixas.
O funcionário da fazenda José Cláudio dos Santos conta que passa
o dia todo experimentando uva. "E ainda ganho", ressalta.

João Paulo Barbosa Alves afirma que nunca pensou em ir para o
Sul ou para São Paulo. "Muitas pessoas foram e voltaram. Elas não
se deram bem. Então, eu não vou me arriscar. Vou ficar por aqui
mesmo. Aqui eu tenho emprego com carteira assinada", justifica.

A época do ano em que as fazendas do Vale do São Francisco mais
contratam trabalhadores é justamente durante o período de
entressafra dos outros países exportadores de frutas. É a hora de
atender grandes mercados consumidores, como Estados Unidos e
Europa. A manga, por exemplo, em 20 dias fica madurinha na mesa
dos americanos.

A fruta que nasce na região caiu no gosto do povo de lá. São
manga e uva para exportação. Uma das fazendas pertence a Suemi
Koshiyama, que nasceu em Nagasaki, no Japão. E até chegar a
Juazeiro, fez uma longa viagem.

"Foram 40 dias. Eu só tinha 5 anos de idade. Para os meus pais foi
um desafio atravessar o Pacífico e chegar em uma terra onde não
conheciam ninguém. Acho que esse foi um desafio grande. Penso
que essa agricultura que eu pratico hoje era sonho deles quando
vieram para o Brasil. Se meu pai estivesse vivo, ele ia ficar muito
feliz. Eu acho que ele está feliz", diz seu Koshiyama.

Pedro do Nascimento também. Funcionário antigo, ele chegou do
Ceará há 15 anos.

"Deu para guardar um dinheirinho. Eu já comprei um teto, que eu
não tinha. Isso tudo se deve à fruta. Estar nessa área é o mesmo
que estar com meus amigos do mundo todo. Eu comprei móveis,
geladeira, fogão. Tenho dois celulares e um de reserva, que está
quebrado. Eu cheguei a morar em um lugar onde tinha que viajar de
seis a oito quilômetros para poder pegar um balde d'água para
poder beber. Hoje eu tenho muito prazer, porque muita gente está
vindo e sobrevivendo da irrigação e das frutas produzidas no solo",
conta seu Pedro.

A família de seu Pedro enche a casa de alegria.

"Eu não sei mais o que é necessidade. Tudo que eu quero, eu
tenho. Graças a Deus, me mantenho com meu salário. Dá para
comprar essas coisinhas. Na minha casa, tudo é lucro. Se não
tivesse esse trabalho, nem sei onde eu estaria. A terra já poderia ter
me comido, porque a fome mata. Estou feliz. Sempre digo hoje e
amanhã também", afirma seu Pedro.

Um dia depois do outro. É tempo de embarcar as mangas e as
uvas. A colheita está no auge.

"Nós trabalhamos o ano todo para chegar nisso aqui. Isso é fruto de
um trabalho, de uma equipe e de tecnologia. O que eu mais
consumo é fruta. Além de ser nutritiva e saudável para ser humano,
ela é gostosa", ressalta seu Koshiyama.

E as frutas colhidas na fazenda dele são muito doces. Um
aparelhinho confirma o grau de açúcar das uvas. Se der menos de
17, o cacho fica no pé.

"Um aqui deu 20. É doce. O sabor está mesmo ótimo", informa o
fiscal de colheita, Amadeus Martins da Silva.

Fruta colhida não pode esperar. Ela tem de ser selecionada,
embalada e refrigerada antes de seguir para exportação. Resultado:
mais emprego e mais gente trabalhando. Quando seu Koshiyama
começou, tinha 20 funcionários. Hoje, 1,8 mil pessoas estão
trabalhando na fazenda – plantando, colhendo e conferindo cada
detalhe. Tudo como manda o freguês.

"A região é seca. Então, não desenvolve fungos que danificam a
casca da fruta. Ela tem uma vida de prateleira mais prolongada. A
aparência somada com o sabor da fruta, que é mais concentrado
em açúcar, se torna uma coisa nobre. É uma fruta nobre”, constata
seu Koshiyama.

O cacau é a fruta que fez história e fortuna no sul da Bahia.
"Minha família começou há 150 anos, com uma das primeiras
plantações da Bahia. Desde criança eu entrava nos cochos e ficava
de cacau até o pescoço. Eu pisava ali. Adoro. Sou tataraneto do
cacau", conta o fazendeiro Diego Badaró.

Uma viagem no tempo: de olho no futuro, Diego Badaró recuperou
a plantação depois que uma praga devastou as lavouras de cacau.
Foi a vassoura de bruxa. Por onde passou, ela deixou um rastro de
abandono e desemprego.

O administrador da fazenda, Pedro Gomes, viu o pai trabalhar nas
terras e vive no local desde menino.

"Cada vez que eu andava na roça, sentia tristeza. Chegava em
casa e nem vontade de almoçar eu tinha, porque só pensava que a
decadência vinha cada vez mais. Eu até pensei que a vassoura de
bruxa podia tirar meu emprego. Minha leitura é muito pouca e não
tinha um emprego melhor em outro canto, na cidade grande. Eu
gosto muito da roça. É o lugar onde eu sempre vivi. Então, eu
pensava em tudo isso, até em passar fome", lembra seu Pedro.

No ano 2000, Diego Badaró decidiu investir na produção de cacau
orgânico para fazer chocolate. Na fazenda, agrotóxico não entra. A
mistura é um fertilizante natural.

"Ela nutre a planta, para que esteja sempre saudável, bem
resistente e que nunca adoeça. O manejo orgânico nada mais é do
que uma alimentação saudável, para que a planta tenha condições
de combater naturalmente as doenças e as pragas", explica o
fazendeiro.
"Eu sabia que meu patrão estava procurando o melhor para nós.
Mexer naquele caldeirão tinha fundamento, não era loucura. O
orgânico, hoje, é o que está valendo", observa seu Pedro.

Todo esse cuidado com a natureza na hora de transformar o fruto
em matéria-prima para o chocolate torna o processo um pouco mais
lento. No modo convencional, depois que sai do pé, o cacau pode
chegar às fábricas em até cinco dias. Já o cacau orgânico leva um
mês para ficar pronto. A diferença é que ele vale o triplo do que é
pago pelo outro e caiu na graça dos europeus.

"A qualidade é bem remunerada. É dinheiro", equipara Diego
Badaró.

O cacau puro é um pouquinho amargo, mas muito saboroso, quase
chocolate.

Energia de sobra para quem precisa trabalhar – e muito. As frutas
que nascem em terras nordestinas sustentam brasileiros como seu
Pedro de Ilhéus e seu Pedro de Juazeiro e garantem o emprego de
milhares de famílias.




Farinha de banana verde
A banana ficou famosa nos turbantes, nas músicas e nos cenários
dos filmes da nossa pequena notável, Carmem Miranda. Que
riqueza! Símbolo dos trópicos, a fruta é rica em carboidratos,
vitaminas A e C, fibras e sais minerais, especialmente o potássio.
Também ajuda a afastar o mau-humor, porque tem triptofano,
substância que aumenta os níveis de serotonina e age como um
antidepressivo. Um alimento tão completo que é sempre objeto de
estudos.

Em um laboratório, é a vez da banana verde. Tudo porque ela tem
uma substância especial: o amido resistente.
"O amido resistente é característico desse fruto verde. No processo
de amadurecimento, esse amido resistente é degradado e
transformado em sacarose", explica a mestre em ciência dos
alimentos Milana Dan.
No laboratório de química e bioquímica do Departamento de
Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências
Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), o objetivo é
aproveitar o amido resistente da fruta verde.

"Esse amido resistente passa direto pelo intestino delgado, não é
nem absorvido, nem digerido. Quando ele chega ao intestino
grosso, é digerido pelas bactérias que ali existem. Essas bactérias,
quando digerem esse amido resistente, produzem substâncias que
são benéficas, tanto no intestino grosso como no nosso organismo
em geral", acrescenta Milana Dan.

Benefícios que vão desde nos proteger contra um câncer de
intestino até evitar o aumento de glicose no nosso sangue e como
conseqüência, o diabetes.

"É importante sempre procurarmos controlar a glicemia – a glicose
no sangue – e os níveis de insulina também", orienta a doutora em
ciência dos alimentos Elisabete Wenzel de Menezes.

Mas como ninguém vai comer banana que ainda não está madura,
os pesquisadores estão desenvolvendo uma farinha: a farinha de
banana verde. Até agora, os testes em ratos durante 28 dias
apresentaram um resultado animador. Com os seres humanos, os
testes começam agora. Mas os primeiros ensaios mostram uma
grande diferença no aumento da glicose no nosso sangue.

"Quando consumimos a banana madura, esse aumento é elevado e
rápido. Quando consumimos a farinha de banana verde, esse
aumento é muito menor e bem lento", informa Milana Dan.

O processo de fabricação da farinha, totalmente desenvolvido na
Escola Politécnica da USP, já foi inclusive patenteado.
"Na fabricação da farinha de banana verde, você pode utilizar até
aquelas bananas que normalmente são rejeitadas para a
comercialização", diz a doutora em engenharia química Tatiana
Tribess.

"De 40% a 50% do que é produzido de banana no Brasil não são
utilizados como alimento", ressalta a doutora em tecnologia de
alimentos Carmen Tadini.

Consumir a farinha de banana verde é um dos desafios. Como ela
possui um sabor neutro, pode substituir em parte a farinha de trigo.
Por enquanto, uma das propostas já deu certo.

Flocos de arroz, aveia e banana madura desidratada entram em
uma receita, além da farinha de banana verde.

Uma barrinha tem uma grande quantidade de fibras que auxiliam a
digestão. Cada uma possui apenas 70 calorias. E as vantagens não
param por aí. Estudos indicam que um lanche com a barrinha pode
provocar uma sensação de saciedade, ajudar a inibir a fome.

A rota da banana

A banana é a fruta mais produzida do mundo. Só no Brasil são sete
milhões de toneladas por ano. A fruta mais popular do Brasil é cheia
de qualidades e nunca pode faltar à mesa. Por isso mesmo, o
brasileiro está acostumado a considerar a banana um alimento
comum, barato e fácil de encontrar o ano inteiro. Mas você sabe de
onde vem a banana comprada nas feiras e nos mercados?

Geralmente, ela não vem de muito longe. O Vale do Ribeira é a
região que mais produz bananas no país e que abastece o estado
de São Paulo. São 40 mil hectares às margens do Rio Ribeira do
Iguape cobertos de bananeiras.

"Existe uma fruta mais bem embalada do que a banana? Ela já vem
embalada da natureza. Você só a despenca. Então, é uma fruta
limpa, que qualquer pessoa pode comer", afirma o produtor de
bananas Ricardo Chimichaque.

Só no campo, a banana emprega 1,5 milhão de brasileiros. Ao todo,
80% são pequenos e médios produtores como seu Ricardo. Gente
que tem paciência para acompanhar, durante um ano, a bananeira
dar um cacho que esteja no ponto de ser colhido.

"Quando você corta o cacho, aquele pé morre. Só que ela já está
com duas ou três filhas embaixo. A mãe morre e a filha já fica quase
pronta para dar cacho. Essa vai soltando outra filha embaixo. Então,
a seqüência da vida é essa", explica seu Ricardo.

O ciclo de vida dessas plantas se repete na história de quem vive
delas. Antônio Josué Leite trabalha com toda a família no bananal
do Vale do Ribeira. A herança que recebeu do pai, ele está
passando para o filho Jean. "Sou filho de bananeiro e vivo até hoje
assim", diz o produtor.

Trabalho duro e delicado. Todo cuidado é pouco para não machucar
a banana. Mesmo assim, o descarte de parte da colheita já começa
no bananal. Evitar mais perdas é uma corrida contra o tempo:
colher, limpar, lavar e encaixotar.

Onde as bananas vão parar? O Globo Repórter colocou um selinho
em um cacho que seu Antônio acabara de colher. A equipe
acompanhou o caminho que as bananas fizeram até o consumidor
final, a pessoa que comeria as frutas.

Às 3h, o caminhão com 14 toneladas de banana saiu de Eldorado
em direção à cidade de São Paulo. E o Globo Repórter fez essa
viagem também. Durante as quatro horas de viagem, a banana
sofre. Cada solavanco e cada buraco na estrada é uma ameaça.
"Todas essas batidas no meio do caminho vão formar aquelas
manchas pretas que o consumidor está acostumado a ver na fruta
em casa", explica o diretor do Instituto Brasileiro de Frutas, Maurício
Ferraz.

Às 7h30m, o caminhão chegou a Companhia de Entrepostos e
Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), mas as bananas ainda
não estavam prontas para a venda.

Na maior central de distribuição de frutas e legumes do país, a
banana é descarregada e vai para uma câmara de climatização. Ela
leva três ou quatro dias para ficar quase madura, no ponto para ser
comercializada.

O cacho de banana do Globo Repórter chegou à casa de
Alessandra bem bonito e, pelo jeito, será totalmente aproveitado.
Mas nem sempre é assim. Nas feiras-livres, muitas bananas são
rejeitadas.

"Se a banana está passada, amassada e com cara de estragada,
eu não vou comprar", afirma uma consumidora.

"Quando está muito madura eu não levo. Para mim, já não dá", diz
outra consumidora.

Seu Antônio fala sobre a sensação de saber que boa parte da
banana que planta com todo carinho acaba se perdendo pelo
caminho: "Ficamos tristes, porque cuidamos, fazemos força e
queremos que tudo corra bem. Muita gente não come banana
porque não tem e nós estamos perdendo banana à toa".




Descobrindo as frutas do cerrado
Procuram-se lobeira, cagaita e baru.
"Baru? Nem sei o que é isso, rapaz!", afirma o analista de sistemas
Omar Sobrinho.

Frutas e frutos do Cerrado. A Feira do Guará, em uma cidade
satélite de Brasília, é uma espécie de mercado público, onde se
encontra de tudo: raízes, legumes, verduras. Em pleno Planalto
Central do país, região típica de Cerrado, será que as pessoas
conhecem as frutas que nascem lá?

"Esse tipo de fruta a gente não conhece. Conhecemos morango,
manga, poncã", explica o feirante Sebastião Pereira da Costa.

A pesquisadora Alinne Ferreira Marin, nutricionista da Universidade
de Brasília (UnB), estuda as propriedades nutricionais dos frutos e
frutas do Cerrado há sete anos, como jatobá, pitomba, mangaba. A
lista é grande.

"Vários frutos do Cerrado contêm vitaminas que são antioxidantes,
além de antioxidantes como tanino e fitato, que podem prevenir o
envelhecimento hoje em dia", explica a nutricionista.

A castanha do baru foi uma surpresa deliciosa. "Principalmente no
baru, nós encontramos uma dosagem muito boa de ferro, zinco,
magnésio, cálcio, que são minerais deficientes na população
brasileira. Para a anemia, o ferro do baru, seria ótimo", observa a
nutricionista.

Na fazenda da UnB é possível ver o baru de perto e descobrir o que
é que o Cerrado tem.

"Dentro do fruto há uma amêndoa comestível. O que se come, na
verdade, é a semente do baru", mostra o engenheiro florestal Vítor
Rodrigues Müller, da UnB. "Não se planta mais baru porque não se
conhece muito o fruto, não tem um comércio muito bom".

Não é preciso caminhar muito para ver outras frutas típicas da
região: lobeira, cagaita, jatobá-do-cerrado, cajuzinho-do-cerrado,
que é bem menor que o caju tradicional, mas igualzinho.

"A população ainda não está bem acostumada com o benefício que
essas frutas podem trazer para o dia-a-dia. E elas estão aqui
coladas, basta procurar", diz Alinne Martins Ferreira Marin.

Frutas para todos os gostos de Norte a Sul; de Leste a Oeste. Uma
pesquisa da UnB e do Ministério da Saúde está testando pratos
feitos com frutas típicas das cinco regiões do Brasil, para receitar
toda a riqueza nutricional que elas têm.

"Nós aproveitamos o máximo que conseguimos das receitas
enviadas pelas secretarias de Saúde e criamos outras a partir do
que a culinária brasileira já tinha de receitas regionais", afirma a
nutricionista Raquel Botelho, da UnB.

Até o feijão com arroz pode ser incrementado. "É uma receita de
arroz bem simples, qualquer pessoa pode fazer. É o arroz que
comemos no dia-a-dia, que é a cara do brasileiro, com alho e
cebola, como costumamos preparar em casa", explica a
nutricionista Verônica Cortez Ginani, da UnB.

"O baru é triturado. Depois que o arroz está pronto, só misturamos a
castanha triturada. Também podemos utilizar o baru inteiro", ensina
Verônica.

"Queremos mostrar que é viável, não é caro e que podemos fazer
coisas com frutas e deixá-las saudáveis. Muitas vezes as pessoas
dizem que utilizam muitas frutas, mas é para fazer doces em calda,
compotas, doces cristalizados", ressalva Raquel.

Que tal uma surpresa de abacaxi?

"O Sudeste é um dos maiores produtores de abacaxi. É bom para a
saúde porque ajuda na digestão, hidrata e é diurético. Fizemos uma
adaptação importante: a receita leva abacaxi, açúcar, coco, ovo e
mandioca, que integra essa receita de uma forma bem diferente,
dando a consistência de leite condensado, só que sem a gordura.
Assim, valorizamos um produto nosso", explica Verônica.
Doces ou salgados, todas as receitas foram feitas com menos
gordura, menos açúcar e mais frutas.

"Temos muita coisa para aproveitar, não usamos o que podemos
usar e que está disponível no nosso quintal. Pessoas que estão
próximas a esses frutos, muitas vezes têm uma qualidade de
alimentação baixa porque não sabem utilizar", observa Verônica.

Do Nordeste, vem o bolo de jenipapo. Do Sul, rocambole de pinhão.
E do Norte, pãozinho de açaí.

"O açaí é muito energético. Então, em termos de calorias, é uma
fruta que tem muitas calorias. O pessoal que malha gosta muito. Ele
tem ferro, cálcio e é muito rico em fibra. Então, ajuda no
funcionamento do intestino", explica Raquel.

"Transportam a maçã do Sul lá para o Norte porque valorizam muito
e deixam de valorizar as frutas de lá. A região Norte é um campo
vastíssimo de frutas. Então, às vezes, economizamos também.
Apesar de haver produção no Brasil, até a fruta chegar lá, chega
muito cara", acrescenta Raquel.

De volta à Feira do Guará, duas receitas para fazer um teste: bolo
de baru e pãozinho de jatobá. Quem provou gostou.

De repente, aparece baru torradinho. É só descascar e comer.
"Há seis meses que eu fiz essa encomenda. Isso é ouro", conta o
feirante Francisco de Assis Araújo Oliveira.

Um verdadeiro tesouro da natureza, assim como cada fruta
brasileira, rica em nutrientes importantes para nossa saúde.




Pomares sem agrotóxicos
Um lugar especial, onde se produzem frutas orgânicas. O agrônomo
Marc Ferrez Weinberg e a ecologista Nicole Doerrzapf plantam
morangos, laranjas, bananas, goiabas e pêssegos – tudo orgânico.
Mas, afinal, onde estão as frutas?
Quem olha uma lavoura orgânica tem dificuldade em separar o que
é mato do que é plantação. Em um mesmo local estão escondidas
algumas preciosidades como figo, banana e até um palmito trazido
da Região Amazônica. Quem misturou tudo isso com flores e ervas
tem mesmo um olhar diferente. E Marc enxerga longe.

"Parece bagunçado, mas não é. Tudo é pensado. O mato tem a
função muito grande de recuperar a terra e manter o nível de
matéria orgânica no solo. A terra fica bem úmida, e formiga não
gosta disso", aponta o agrônomo.

Contra formigas, pragas e insetos, flores. Entre elas, a capuchinha.
“O cheiro é picante, e os insetos não gostam. Por ser forte, o cheiro
espanta as brocas das árvores”, explica Nicole.

De flor em flor, eles vão cultivando frutas mais saudáveis e sem
usar nenhum tipo de veneno. E lá está a plantação de morangos. O
casal afirma que o fruto pode ser ingerido sem medo.

"Você pode catar do pé e morder direto. Só com frutas orgânicas
podemos fazer isso", ressalta Nicole.

"O morango convencional é uma das frutas mais envenenadas que
existem", alerta Marc.

Na encosta da montanha, há pêssegos embrulhados para presente.
“É um papelzinho especial que resiste à chuva. Parece saquinho de
pipoca. Pegamos, colocamos em volta da frutinha, dobramos o
saquinho e depois grampeamos. A idéia é evitar fisicamente que os
insetos cheguem ao pêssego”, explica Nicole.

"No pêssego orgânico não precisamos botar nenhum veneno de
pós-colheita, que é o principal veneno que causa problemas para os
consumidores", completa Marc.

O cheiro é doce. É de dar água na boca! As goiabeiras prometem
uma safra e tanto. O grande desafio para os agricultores orgânicos
é distribuir e vender as frutas na hora certa, respeitando o tempo da
colheita. Tudo isso, sem uma gota de veneno. Marc e Nicole têm
orgulho de tudo que produzem no sítio.
Com um pouco de açúcar orgânico, as frutas se transformam em
goiabada, pessegada e morangada.

"Foi o jeito de ficarmos independentes do sistema de atacados e de
grandes redes varejistas", conta Marc.

É em uma feira de produtos orgânicos no Rio de Janeiro que Marc e
Nicole vendem as frutas. Desde 1995, eles têm o certificado da
Associação de Agricultores Biológicos do Rio de Janeiro (Abio).

"Eu sinto que isso aqui é um trabalho de verdade. Não são coisas
teóricas. É uma coisa que diretamente vai ter um impacto para
muitas pessoas, muitos animais, tem um impacto direto para nós.
Vivemos juntos, trabalhamos juntos, é uma coisa muito boa. O que
mais gosto de fazer é beijar meu marido orgânico", brinca Nicole.




Especialista alerta para o consumo de frutas




O Brasil é um dos três maiores produtores de frutas do mundo. São
mais de 43 milhões de toneladas por ano – e com uma variedade
incrível. Mas, segundo os especialistas, infelizmente, os brasileiros
não estão entre aqueles que mais consomem frutas no dia-a-dia.
"As frutas desempenham no país muito mais um papel na pauta de
exportação do que de consumo interno, quando, na verdade, nós
precisamos das duas coisas. Precisamos incrementar o consumo
interno, porque as frutas são fontes de vários nutrientes
importantes, em geral, de fibras, de vitaminas do complexo B que
fazem o organismo funcionar melhor, de substâncias protetoras a
diversos ataques, inclusive de contaminação de meio ambiente",
explica Glaucia Pastore, doutora em ciência dos alimentos da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o consumo
insuficiente de frutas, legumes e verduras está entre os dez
principais fatores de risco para as doenças que atingem a
população mundial.

"Comprar remédio significa que a doença já se instalou, e a visão
moderna hoje é trabalhar na prevenção. Então, com uma
alimentação variada de frutas e hortaliças, com certeza nossa
população estará mais preparada", afirma Glaucia Pastore.

A especialista em alimentos da Unicamp diz que hábitos
alimentares são desenvolvidos desde a infância. Os pais e a escola
precisam estar atentos a isso.

"Se uma criança não enxerga dentro da sua casa o que os pais
valorizam nas refeições, ela também não vai valorizar. Então, é
muito importante que tanto a escola quanto o lar sejam fonte de
informação, de novos hábitos para essa criança", aconselha Glaucia
Pastore.



Fonte:
Programa Globo Repórter – data: 10-10-2008 –
Tema: “Frutas” – As novas descobertas sobre o poder nutritivo e
medicinal das frutas brasileiras.
http://globoreporter.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-
20236-3,00.html

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  • 1. FRUTAS – GLOBO REPÓRTER As novas descobertas sobre o poder nutritivo e medicinal das frutas brasileiras. 10-10-2008 Abacate: bom para as articulações e o coração Força, energia, concentração e muito preparo físico. Em uma academia de caratê, em Campinas, no estado de São Paulo, instrutor e alunos se dedicam a um esporte que em apenas uma hora de prática consome 400 calorias. É um grande esforço para os músculos e um desgaste para os ossos e as articulações. Mas o médico Edson Credídio, faixa preta desde a adolescência, tem a solução. O nutrólogo é defensor e apreciador ferrenho do abacate. Ele acredita que a fruta não deve faltar na alimentação dos atletas. "Evita a câimbra pelo alto teor de potássio. Ele é importante, porque apresenta polifenóis, que ajudam a recuperar e a proteger as cartilagens nas articulações. Então, é um complemento que todo o atleta deveria utilizar", explica o médico. Só de potássio, o abacate tem 485 miligramas em cada cem gramas do fruto. É o dobro da banana. Na academia, o médico recomenda o abacate aos alunos, assim como faz com seus pacientes há 28 anos. Segundo ele, para prevenir uma série de doenças. "Evita doenças crônico-degenerativas, processos alérgicos, processos reumáticos, doenças auto-imunes. Eu uso para tudo, só que inserido em um plano pessoal", afirma doutor Credídio. Acontece que o abacate, apesar de gostoso, tem fama de engordar. Por isso, não é muito bem visto. "Todos nós achávamos que era gorduroso", diz uma mulher. "Sempre acharam que aumentaria o colesterol", comenta um aluno da academia.
  • 2. "Pelo fato de ter óleo, ele tem um alto teor energético. Cada 100 gramas tem 170 calorias. Só que você põe uma quantidade menor, por exemplo, em um leite desnatado ou come com limão. Então, fica pouca caloria. Compensa pelo benefício", explica doutor Credídio. Benefícios que pesquisadores do curso de engenharia de alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) estudam já há dois anos. Orientado pela professora Glauce Pastore, doutor Edson Credídio quer comprovar cada uma das propriedades do abacate na sua tese de doutorado. Os estudos feitos no laboratório mostram que o abacate é tão bom para o nosso organismo quanto o azeite extra-virgem. "A grande vantagem é que nós encontramos o abacate o ano todo. Ele tem uma diversidade muito grande. No Brasil, temos mais de cem espécies diferentes. Então, você consegue encontrar o ano todo. O benefício que ele causa é aumentar o colesterol bom e reduzir o colesterol ruim, levando à prevenção de doenças cardiovasculares", diz o médico. A constatação de que o abacate podia aumentar o bom colesterol bom precisava ser comprovada cientificamente. Um desafio que levou o pesquisador até o Comando de Policiamento do Interior, o CPI2. O grupo de policiais foi considerado ideal para o estudo, porque as pessoas que fazem parte dele têm várias características parecidas. São homens e mulheres na mesma faixa de idade, entre 25 e 45 anos. Eles possuem hábitos de alimentação e de atividade física bem semelhantes. E todos têm uma profissão que provoca muito estresse. E o estresse é uma ameaça. Para reagir, consumimos nossas reservas, inclusive o colesterol bom, o HDL. A proposta para os militares do CPI2 era consumir um abacate pequeno por dia: metade no almoço e a outra metade no jantar. "No começo, eu estava meio cético. Como uma fruta que é tão gordurosa pode melhorar o colesterol? Eu achei até estranho", conta o terceiro sargento da Polícia Militar de São Paulo, Alex Sandro Menegão.
  • 3. O sargento Alex Sandro tinha boas razões para ter receio. Pouco antes do teste, teve diagnosticado um problema de hipotireoidismo. “É uma alteração na glândula tireóide que faz com que o metabolismo tenha problemas. Então, o colesterol aumenta na circulação. Eu tinha níveis de colesterol altíssimos. Eu ia ter que tomar remédios e medicamentos para controle do colesterol”, lembra. Setenta policiais aderiram ao programa durante dois meses. Nada mudou na alimentação deles, a não ser a entrada do abacate. "Eu não quis interferir na dieta para mostrar a eficácia real do fruto do abacate", explica o médico. Os exames de sangue foram realizados antes e depois do estudo. O resultado surpreendeu. "A principal conclusão dessa pesquisa foi que 99% dos policiais participantes tiveram uma melhora do colesterol HDL, que é bom colesterol", informa doutor Credídio. O sargento Alex Sandro e a soldado Cristina Proença apresentaram as mudanças mais significativas. O HDL, o colesterol bom, da soldado Cristina subiu 20% ao final dos dois meses. O sargento Alex Sandro apresentou uma melhora geral do quadro dele: redução do colesterol total e aumento do HDL. "Eu me senti mais disposto e mais humorado. Só o fato de saber que não estou mais doente e que não tenho mais nenhum problema é ótimo. Então, eu vou prosseguir nessa dieta. Já é o suficiente, não preciso tomar nenhum tipo de medicamento, nenhuma droga. Acho mais natural", diz o sargento. "O ideal seria uma porção por dia, o que corresponde a duas colheres de sopa. Isso seria introduzido em um plano alimentar balanceado", orienta doutor Credídio. Frutas para exportação
  • 4. "Eu vim para cá por causa do desemprego. Lá as condições de emprego são fracas", explica João Paulo Barbosa Alves, de 21 anos, sobre sua migração para o Vale do São Francisco. Do encontro das águas do Velho Chico com a seca do Nordeste brotaram grandes oportunidades: frutas. A irrigação fez nascer a esperança de emprego com carteira assinada. "Tendo a coragem de trabalhar, há emprego. Tem muita fruta para colher", diz Vilmar de Melo Souza, de 28 anos. Na região, a fartura é de encher os olhos e as caixas. O funcionário da fazenda José Cláudio dos Santos conta que passa o dia todo experimentando uva. "E ainda ganho", ressalta. João Paulo Barbosa Alves afirma que nunca pensou em ir para o Sul ou para São Paulo. "Muitas pessoas foram e voltaram. Elas não se deram bem. Então, eu não vou me arriscar. Vou ficar por aqui mesmo. Aqui eu tenho emprego com carteira assinada", justifica. A época do ano em que as fazendas do Vale do São Francisco mais contratam trabalhadores é justamente durante o período de entressafra dos outros países exportadores de frutas. É a hora de atender grandes mercados consumidores, como Estados Unidos e Europa. A manga, por exemplo, em 20 dias fica madurinha na mesa dos americanos. A fruta que nasce na região caiu no gosto do povo de lá. São manga e uva para exportação. Uma das fazendas pertence a Suemi Koshiyama, que nasceu em Nagasaki, no Japão. E até chegar a Juazeiro, fez uma longa viagem. "Foram 40 dias. Eu só tinha 5 anos de idade. Para os meus pais foi um desafio atravessar o Pacífico e chegar em uma terra onde não conheciam ninguém. Acho que esse foi um desafio grande. Penso
  • 5. que essa agricultura que eu pratico hoje era sonho deles quando vieram para o Brasil. Se meu pai estivesse vivo, ele ia ficar muito feliz. Eu acho que ele está feliz", diz seu Koshiyama. Pedro do Nascimento também. Funcionário antigo, ele chegou do Ceará há 15 anos. "Deu para guardar um dinheirinho. Eu já comprei um teto, que eu não tinha. Isso tudo se deve à fruta. Estar nessa área é o mesmo que estar com meus amigos do mundo todo. Eu comprei móveis, geladeira, fogão. Tenho dois celulares e um de reserva, que está quebrado. Eu cheguei a morar em um lugar onde tinha que viajar de seis a oito quilômetros para poder pegar um balde d'água para poder beber. Hoje eu tenho muito prazer, porque muita gente está vindo e sobrevivendo da irrigação e das frutas produzidas no solo", conta seu Pedro. A família de seu Pedro enche a casa de alegria. "Eu não sei mais o que é necessidade. Tudo que eu quero, eu tenho. Graças a Deus, me mantenho com meu salário. Dá para comprar essas coisinhas. Na minha casa, tudo é lucro. Se não tivesse esse trabalho, nem sei onde eu estaria. A terra já poderia ter me comido, porque a fome mata. Estou feliz. Sempre digo hoje e amanhã também", afirma seu Pedro. Um dia depois do outro. É tempo de embarcar as mangas e as uvas. A colheita está no auge. "Nós trabalhamos o ano todo para chegar nisso aqui. Isso é fruto de um trabalho, de uma equipe e de tecnologia. O que eu mais consumo é fruta. Além de ser nutritiva e saudável para ser humano, ela é gostosa", ressalta seu Koshiyama. E as frutas colhidas na fazenda dele são muito doces. Um aparelhinho confirma o grau de açúcar das uvas. Se der menos de 17, o cacho fica no pé. "Um aqui deu 20. É doce. O sabor está mesmo ótimo", informa o fiscal de colheita, Amadeus Martins da Silva. Fruta colhida não pode esperar. Ela tem de ser selecionada, embalada e refrigerada antes de seguir para exportação. Resultado:
  • 6. mais emprego e mais gente trabalhando. Quando seu Koshiyama começou, tinha 20 funcionários. Hoje, 1,8 mil pessoas estão trabalhando na fazenda – plantando, colhendo e conferindo cada detalhe. Tudo como manda o freguês. "A região é seca. Então, não desenvolve fungos que danificam a casca da fruta. Ela tem uma vida de prateleira mais prolongada. A aparência somada com o sabor da fruta, que é mais concentrado em açúcar, se torna uma coisa nobre. É uma fruta nobre”, constata seu Koshiyama. O cacau é a fruta que fez história e fortuna no sul da Bahia. "Minha família começou há 150 anos, com uma das primeiras plantações da Bahia. Desde criança eu entrava nos cochos e ficava de cacau até o pescoço. Eu pisava ali. Adoro. Sou tataraneto do cacau", conta o fazendeiro Diego Badaró. Uma viagem no tempo: de olho no futuro, Diego Badaró recuperou a plantação depois que uma praga devastou as lavouras de cacau. Foi a vassoura de bruxa. Por onde passou, ela deixou um rastro de abandono e desemprego. O administrador da fazenda, Pedro Gomes, viu o pai trabalhar nas terras e vive no local desde menino. "Cada vez que eu andava na roça, sentia tristeza. Chegava em casa e nem vontade de almoçar eu tinha, porque só pensava que a decadência vinha cada vez mais. Eu até pensei que a vassoura de bruxa podia tirar meu emprego. Minha leitura é muito pouca e não tinha um emprego melhor em outro canto, na cidade grande. Eu gosto muito da roça. É o lugar onde eu sempre vivi. Então, eu pensava em tudo isso, até em passar fome", lembra seu Pedro. No ano 2000, Diego Badaró decidiu investir na produção de cacau orgânico para fazer chocolate. Na fazenda, agrotóxico não entra. A mistura é um fertilizante natural. "Ela nutre a planta, para que esteja sempre saudável, bem resistente e que nunca adoeça. O manejo orgânico nada mais é do que uma alimentação saudável, para que a planta tenha condições de combater naturalmente as doenças e as pragas", explica o fazendeiro.
  • 7. "Eu sabia que meu patrão estava procurando o melhor para nós. Mexer naquele caldeirão tinha fundamento, não era loucura. O orgânico, hoje, é o que está valendo", observa seu Pedro. Todo esse cuidado com a natureza na hora de transformar o fruto em matéria-prima para o chocolate torna o processo um pouco mais lento. No modo convencional, depois que sai do pé, o cacau pode chegar às fábricas em até cinco dias. Já o cacau orgânico leva um mês para ficar pronto. A diferença é que ele vale o triplo do que é pago pelo outro e caiu na graça dos europeus. "A qualidade é bem remunerada. É dinheiro", equipara Diego Badaró. O cacau puro é um pouquinho amargo, mas muito saboroso, quase chocolate. Energia de sobra para quem precisa trabalhar – e muito. As frutas que nascem em terras nordestinas sustentam brasileiros como seu Pedro de Ilhéus e seu Pedro de Juazeiro e garantem o emprego de milhares de famílias. Farinha de banana verde A banana ficou famosa nos turbantes, nas músicas e nos cenários dos filmes da nossa pequena notável, Carmem Miranda. Que riqueza! Símbolo dos trópicos, a fruta é rica em carboidratos, vitaminas A e C, fibras e sais minerais, especialmente o potássio. Também ajuda a afastar o mau-humor, porque tem triptofano, substância que aumenta os níveis de serotonina e age como um antidepressivo. Um alimento tão completo que é sempre objeto de estudos. Em um laboratório, é a vez da banana verde. Tudo porque ela tem uma substância especial: o amido resistente. "O amido resistente é característico desse fruto verde. No processo de amadurecimento, esse amido resistente é degradado e transformado em sacarose", explica a mestre em ciência dos alimentos Milana Dan.
  • 8. No laboratório de química e bioquímica do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), o objetivo é aproveitar o amido resistente da fruta verde. "Esse amido resistente passa direto pelo intestino delgado, não é nem absorvido, nem digerido. Quando ele chega ao intestino grosso, é digerido pelas bactérias que ali existem. Essas bactérias, quando digerem esse amido resistente, produzem substâncias que são benéficas, tanto no intestino grosso como no nosso organismo em geral", acrescenta Milana Dan. Benefícios que vão desde nos proteger contra um câncer de intestino até evitar o aumento de glicose no nosso sangue e como conseqüência, o diabetes. "É importante sempre procurarmos controlar a glicemia – a glicose no sangue – e os níveis de insulina também", orienta a doutora em ciência dos alimentos Elisabete Wenzel de Menezes. Mas como ninguém vai comer banana que ainda não está madura, os pesquisadores estão desenvolvendo uma farinha: a farinha de banana verde. Até agora, os testes em ratos durante 28 dias apresentaram um resultado animador. Com os seres humanos, os testes começam agora. Mas os primeiros ensaios mostram uma grande diferença no aumento da glicose no nosso sangue. "Quando consumimos a banana madura, esse aumento é elevado e rápido. Quando consumimos a farinha de banana verde, esse aumento é muito menor e bem lento", informa Milana Dan. O processo de fabricação da farinha, totalmente desenvolvido na Escola Politécnica da USP, já foi inclusive patenteado. "Na fabricação da farinha de banana verde, você pode utilizar até aquelas bananas que normalmente são rejeitadas para a comercialização", diz a doutora em engenharia química Tatiana Tribess. "De 40% a 50% do que é produzido de banana no Brasil não são utilizados como alimento", ressalta a doutora em tecnologia de alimentos Carmen Tadini. Consumir a farinha de banana verde é um dos desafios. Como ela
  • 9. possui um sabor neutro, pode substituir em parte a farinha de trigo. Por enquanto, uma das propostas já deu certo. Flocos de arroz, aveia e banana madura desidratada entram em uma receita, além da farinha de banana verde. Uma barrinha tem uma grande quantidade de fibras que auxiliam a digestão. Cada uma possui apenas 70 calorias. E as vantagens não param por aí. Estudos indicam que um lanche com a barrinha pode provocar uma sensação de saciedade, ajudar a inibir a fome. A rota da banana A banana é a fruta mais produzida do mundo. Só no Brasil são sete milhões de toneladas por ano. A fruta mais popular do Brasil é cheia de qualidades e nunca pode faltar à mesa. Por isso mesmo, o brasileiro está acostumado a considerar a banana um alimento comum, barato e fácil de encontrar o ano inteiro. Mas você sabe de onde vem a banana comprada nas feiras e nos mercados? Geralmente, ela não vem de muito longe. O Vale do Ribeira é a região que mais produz bananas no país e que abastece o estado de São Paulo. São 40 mil hectares às margens do Rio Ribeira do Iguape cobertos de bananeiras. "Existe uma fruta mais bem embalada do que a banana? Ela já vem embalada da natureza. Você só a despenca. Então, é uma fruta limpa, que qualquer pessoa pode comer", afirma o produtor de bananas Ricardo Chimichaque. Só no campo, a banana emprega 1,5 milhão de brasileiros. Ao todo, 80% são pequenos e médios produtores como seu Ricardo. Gente que tem paciência para acompanhar, durante um ano, a bananeira dar um cacho que esteja no ponto de ser colhido. "Quando você corta o cacho, aquele pé morre. Só que ela já está com duas ou três filhas embaixo. A mãe morre e a filha já fica quase pronta para dar cacho. Essa vai soltando outra filha embaixo. Então, a seqüência da vida é essa", explica seu Ricardo. O ciclo de vida dessas plantas se repete na história de quem vive delas. Antônio Josué Leite trabalha com toda a família no bananal do Vale do Ribeira. A herança que recebeu do pai, ele está
  • 10. passando para o filho Jean. "Sou filho de bananeiro e vivo até hoje assim", diz o produtor. Trabalho duro e delicado. Todo cuidado é pouco para não machucar a banana. Mesmo assim, o descarte de parte da colheita já começa no bananal. Evitar mais perdas é uma corrida contra o tempo: colher, limpar, lavar e encaixotar. Onde as bananas vão parar? O Globo Repórter colocou um selinho em um cacho que seu Antônio acabara de colher. A equipe acompanhou o caminho que as bananas fizeram até o consumidor final, a pessoa que comeria as frutas. Às 3h, o caminhão com 14 toneladas de banana saiu de Eldorado em direção à cidade de São Paulo. E o Globo Repórter fez essa viagem também. Durante as quatro horas de viagem, a banana sofre. Cada solavanco e cada buraco na estrada é uma ameaça. "Todas essas batidas no meio do caminho vão formar aquelas manchas pretas que o consumidor está acostumado a ver na fruta em casa", explica o diretor do Instituto Brasileiro de Frutas, Maurício Ferraz. Às 7h30m, o caminhão chegou a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), mas as bananas ainda não estavam prontas para a venda. Na maior central de distribuição de frutas e legumes do país, a banana é descarregada e vai para uma câmara de climatização. Ela leva três ou quatro dias para ficar quase madura, no ponto para ser comercializada. O cacho de banana do Globo Repórter chegou à casa de Alessandra bem bonito e, pelo jeito, será totalmente aproveitado. Mas nem sempre é assim. Nas feiras-livres, muitas bananas são rejeitadas. "Se a banana está passada, amassada e com cara de estragada, eu não vou comprar", afirma uma consumidora. "Quando está muito madura eu não levo. Para mim, já não dá", diz outra consumidora. Seu Antônio fala sobre a sensação de saber que boa parte da
  • 11. banana que planta com todo carinho acaba se perdendo pelo caminho: "Ficamos tristes, porque cuidamos, fazemos força e queremos que tudo corra bem. Muita gente não come banana porque não tem e nós estamos perdendo banana à toa". Descobrindo as frutas do cerrado Procuram-se lobeira, cagaita e baru. "Baru? Nem sei o que é isso, rapaz!", afirma o analista de sistemas Omar Sobrinho. Frutas e frutos do Cerrado. A Feira do Guará, em uma cidade satélite de Brasília, é uma espécie de mercado público, onde se encontra de tudo: raízes, legumes, verduras. Em pleno Planalto Central do país, região típica de Cerrado, será que as pessoas conhecem as frutas que nascem lá? "Esse tipo de fruta a gente não conhece. Conhecemos morango, manga, poncã", explica o feirante Sebastião Pereira da Costa. A pesquisadora Alinne Ferreira Marin, nutricionista da Universidade de Brasília (UnB), estuda as propriedades nutricionais dos frutos e frutas do Cerrado há sete anos, como jatobá, pitomba, mangaba. A lista é grande. "Vários frutos do Cerrado contêm vitaminas que são antioxidantes, além de antioxidantes como tanino e fitato, que podem prevenir o envelhecimento hoje em dia", explica a nutricionista. A castanha do baru foi uma surpresa deliciosa. "Principalmente no baru, nós encontramos uma dosagem muito boa de ferro, zinco, magnésio, cálcio, que são minerais deficientes na população brasileira. Para a anemia, o ferro do baru, seria ótimo", observa a nutricionista. Na fazenda da UnB é possível ver o baru de perto e descobrir o que é que o Cerrado tem. "Dentro do fruto há uma amêndoa comestível. O que se come, na verdade, é a semente do baru", mostra o engenheiro florestal Vítor
  • 12. Rodrigues Müller, da UnB. "Não se planta mais baru porque não se conhece muito o fruto, não tem um comércio muito bom". Não é preciso caminhar muito para ver outras frutas típicas da região: lobeira, cagaita, jatobá-do-cerrado, cajuzinho-do-cerrado, que é bem menor que o caju tradicional, mas igualzinho. "A população ainda não está bem acostumada com o benefício que essas frutas podem trazer para o dia-a-dia. E elas estão aqui coladas, basta procurar", diz Alinne Martins Ferreira Marin. Frutas para todos os gostos de Norte a Sul; de Leste a Oeste. Uma pesquisa da UnB e do Ministério da Saúde está testando pratos feitos com frutas típicas das cinco regiões do Brasil, para receitar toda a riqueza nutricional que elas têm. "Nós aproveitamos o máximo que conseguimos das receitas enviadas pelas secretarias de Saúde e criamos outras a partir do que a culinária brasileira já tinha de receitas regionais", afirma a nutricionista Raquel Botelho, da UnB. Até o feijão com arroz pode ser incrementado. "É uma receita de arroz bem simples, qualquer pessoa pode fazer. É o arroz que comemos no dia-a-dia, que é a cara do brasileiro, com alho e cebola, como costumamos preparar em casa", explica a nutricionista Verônica Cortez Ginani, da UnB. "O baru é triturado. Depois que o arroz está pronto, só misturamos a castanha triturada. Também podemos utilizar o baru inteiro", ensina Verônica. "Queremos mostrar que é viável, não é caro e que podemos fazer coisas com frutas e deixá-las saudáveis. Muitas vezes as pessoas dizem que utilizam muitas frutas, mas é para fazer doces em calda, compotas, doces cristalizados", ressalva Raquel. Que tal uma surpresa de abacaxi? "O Sudeste é um dos maiores produtores de abacaxi. É bom para a saúde porque ajuda na digestão, hidrata e é diurético. Fizemos uma adaptação importante: a receita leva abacaxi, açúcar, coco, ovo e mandioca, que integra essa receita de uma forma bem diferente, dando a consistência de leite condensado, só que sem a gordura.
  • 13. Assim, valorizamos um produto nosso", explica Verônica. Doces ou salgados, todas as receitas foram feitas com menos gordura, menos açúcar e mais frutas. "Temos muita coisa para aproveitar, não usamos o que podemos usar e que está disponível no nosso quintal. Pessoas que estão próximas a esses frutos, muitas vezes têm uma qualidade de alimentação baixa porque não sabem utilizar", observa Verônica. Do Nordeste, vem o bolo de jenipapo. Do Sul, rocambole de pinhão. E do Norte, pãozinho de açaí. "O açaí é muito energético. Então, em termos de calorias, é uma fruta que tem muitas calorias. O pessoal que malha gosta muito. Ele tem ferro, cálcio e é muito rico em fibra. Então, ajuda no funcionamento do intestino", explica Raquel. "Transportam a maçã do Sul lá para o Norte porque valorizam muito e deixam de valorizar as frutas de lá. A região Norte é um campo vastíssimo de frutas. Então, às vezes, economizamos também. Apesar de haver produção no Brasil, até a fruta chegar lá, chega muito cara", acrescenta Raquel. De volta à Feira do Guará, duas receitas para fazer um teste: bolo de baru e pãozinho de jatobá. Quem provou gostou. De repente, aparece baru torradinho. É só descascar e comer. "Há seis meses que eu fiz essa encomenda. Isso é ouro", conta o feirante Francisco de Assis Araújo Oliveira. Um verdadeiro tesouro da natureza, assim como cada fruta brasileira, rica em nutrientes importantes para nossa saúde. Pomares sem agrotóxicos Um lugar especial, onde se produzem frutas orgânicas. O agrônomo Marc Ferrez Weinberg e a ecologista Nicole Doerrzapf plantam morangos, laranjas, bananas, goiabas e pêssegos – tudo orgânico. Mas, afinal, onde estão as frutas?
  • 14. Quem olha uma lavoura orgânica tem dificuldade em separar o que é mato do que é plantação. Em um mesmo local estão escondidas algumas preciosidades como figo, banana e até um palmito trazido da Região Amazônica. Quem misturou tudo isso com flores e ervas tem mesmo um olhar diferente. E Marc enxerga longe. "Parece bagunçado, mas não é. Tudo é pensado. O mato tem a função muito grande de recuperar a terra e manter o nível de matéria orgânica no solo. A terra fica bem úmida, e formiga não gosta disso", aponta o agrônomo. Contra formigas, pragas e insetos, flores. Entre elas, a capuchinha. “O cheiro é picante, e os insetos não gostam. Por ser forte, o cheiro espanta as brocas das árvores”, explica Nicole. De flor em flor, eles vão cultivando frutas mais saudáveis e sem usar nenhum tipo de veneno. E lá está a plantação de morangos. O casal afirma que o fruto pode ser ingerido sem medo. "Você pode catar do pé e morder direto. Só com frutas orgânicas podemos fazer isso", ressalta Nicole. "O morango convencional é uma das frutas mais envenenadas que existem", alerta Marc. Na encosta da montanha, há pêssegos embrulhados para presente. “É um papelzinho especial que resiste à chuva. Parece saquinho de pipoca. Pegamos, colocamos em volta da frutinha, dobramos o saquinho e depois grampeamos. A idéia é evitar fisicamente que os insetos cheguem ao pêssego”, explica Nicole. "No pêssego orgânico não precisamos botar nenhum veneno de pós-colheita, que é o principal veneno que causa problemas para os consumidores", completa Marc. O cheiro é doce. É de dar água na boca! As goiabeiras prometem uma safra e tanto. O grande desafio para os agricultores orgânicos é distribuir e vender as frutas na hora certa, respeitando o tempo da colheita. Tudo isso, sem uma gota de veneno. Marc e Nicole têm orgulho de tudo que produzem no sítio.
  • 15. Com um pouco de açúcar orgânico, as frutas se transformam em goiabada, pessegada e morangada. "Foi o jeito de ficarmos independentes do sistema de atacados e de grandes redes varejistas", conta Marc. É em uma feira de produtos orgânicos no Rio de Janeiro que Marc e Nicole vendem as frutas. Desde 1995, eles têm o certificado da Associação de Agricultores Biológicos do Rio de Janeiro (Abio). "Eu sinto que isso aqui é um trabalho de verdade. Não são coisas teóricas. É uma coisa que diretamente vai ter um impacto para muitas pessoas, muitos animais, tem um impacto direto para nós. Vivemos juntos, trabalhamos juntos, é uma coisa muito boa. O que mais gosto de fazer é beijar meu marido orgânico", brinca Nicole. Especialista alerta para o consumo de frutas O Brasil é um dos três maiores produtores de frutas do mundo. São mais de 43 milhões de toneladas por ano – e com uma variedade incrível. Mas, segundo os especialistas, infelizmente, os brasileiros não estão entre aqueles que mais consomem frutas no dia-a-dia. "As frutas desempenham no país muito mais um papel na pauta de exportação do que de consumo interno, quando, na verdade, nós precisamos das duas coisas. Precisamos incrementar o consumo interno, porque as frutas são fontes de vários nutrientes importantes, em geral, de fibras, de vitaminas do complexo B que fazem o organismo funcionar melhor, de substâncias protetoras a diversos ataques, inclusive de contaminação de meio ambiente",
  • 16. explica Glaucia Pastore, doutora em ciência dos alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o consumo insuficiente de frutas, legumes e verduras está entre os dez principais fatores de risco para as doenças que atingem a população mundial. "Comprar remédio significa que a doença já se instalou, e a visão moderna hoje é trabalhar na prevenção. Então, com uma alimentação variada de frutas e hortaliças, com certeza nossa população estará mais preparada", afirma Glaucia Pastore. A especialista em alimentos da Unicamp diz que hábitos alimentares são desenvolvidos desde a infância. Os pais e a escola precisam estar atentos a isso. "Se uma criança não enxerga dentro da sua casa o que os pais valorizam nas refeições, ela também não vai valorizar. Então, é muito importante que tanto a escola quanto o lar sejam fonte de informação, de novos hábitos para essa criança", aconselha Glaucia Pastore. Fonte: Programa Globo Repórter – data: 10-10-2008 – Tema: “Frutas” – As novas descobertas sobre o poder nutritivo e medicinal das frutas brasileiras. http://globoreporter.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703- 20236-3,00.html ---------------------------------