O documento discute as transformações na masculinidade em função das mudanças sociais e de gênero. A masculinidade deixou de ser algo rígido e natural, passando a ser um espaço simbólico em constante redefinição. A dominação masculina está sendo questionada, embora não se saiba se irá desaparecer ou se transformar.
2. A masculinidade em questão
Se a masculinidade fosse uma ordem natural das coisas, ela estaria em
crise?
Se existe crise é porque os fundamentos do masculino foram abalados
pela história e pela transformações sociais.
Masculinidade é um espaço simbólico de sentido estruturante, que
modela atitudes, comportamentos e emoções a serem seguidos.
Aqueles que seguem tais modelos não só são atestados como homens,
como também são atestados pelos outros que também seguem esses
símbolos.
3. Para entender essas transformações da masculinidade
precisamos entender as transformações ocorrida com a
feminilidade.
Sexo por prazer e sem fim reprodutivo (pílula); direito ao
voto; inserção no mercado de trabalho; acesso ao ensino
superior; reprodução independente; construção social do
gênero...
4. O que é ser homem?
Os papéis e os campos de circulação não são tão rígidos e
definidos pelo sexo.
As possibilidades de realização individual não é delimitado pelo
sexo biológico.
A masculinidade exige uma impostura que produz efeitos reais.
5. Assim como a fantasia da perda do falo (como símbolo que
me completa e me dá poder).
A ideia do “que se possuí” por consequência, se pode
perder, gera uma angústia (a castração em vários níveis) na
condição masculina.
6. Na pós-modernidade, o espaço público é ultrapassado pelo
espaço privado. O homem está muito mais doméstico.
A visibilidade da modernidade que garante a afirmação da
masculinidade, na pós-modernidade se desloca para o campo
da vida privada. Quem atesta a masculinidade é muito mais a
mulher que a sociedade. E quanto mais a mulher ocupa o
espaço público esses campos se aproximam de maneira
ameaçadora para os homens.
7. A mulher assume características que historicamente foram
construídas como masculinas como: prover a família e ser
bem sucedida no trabalho, coragem, força. A conquistas
desses atributos “masculinos” são vistos como um ganho.
Não há problema em ser uma mulher e ter possuir esses
atributos.
8. Já para o homem a feminilidade é ameaçadora. Melhor
dizendo, quando ele vê atribuído a si características que
historicamente foram determinadas como femininas, ele
sente sua condição masculina ameaçada (castração).
9. No entanto é “cobrado” do homem pós-moderno atributos
femininos, ao mesmo tempo que reforçar-se a necessidade
de dar contornos mais fortes as características viris. “O
homem deve ser sensível, mas não muito. Deve ser másculo
ter pegada, mas sem ser ogro”.
O homem absorve atributos da feminilidade, mas para evitar
a dúvida da masculinidade lhe dá novos nomes:
“Metrossexual, Ubersexual, G0y entre outros.
10. Os homens e a masculinidade constitui hoje uma espécie de
enigma. Há um palidez no ideário do que é ser homem.
O desempenho sexual masculino é hoje supervalorizado,
principalmente no ocidente.
11. Se retrocedermos no tempo, os guerreiros na Grécia
Clássica, Roma antiga eram viris, másculos e no entanto
tinham parceiros sexuais do mesmo sexo.
Hoje a passionalidade do homem é sintomática não do
apogeu da masculinidade mas sim da crise da masculinidade.
12. A mulher também é mulher, agora o homem só é homem.
Hoje tornasse homem é se opor a tudo que possa
assemelhar-se a ser feminino. A masculinidade hoje é
estreitamente vigiado. Que nada nele se aparente em nada
que seja da ordem da mulher.
Isso torna a masculinidade bastante constrangida.
13. Todo homem para qual a feminilidade é um tabu, denuncia o
que se quer esconder. Todo tabu indica um desejo recalcado
(incesto, virgindade)
A masculinidade numa posição agressivamente ativa pode
ser uma construção defensiva contra o gozo da passividade.
14. Os homens estão sendo sistematicamente ensinados a pensar que a
abertura quanto às próprias emoções é equivalente a seguir na
direção de se identificar com o outro gênero – e homens não fazem
isso. Apenas mulheres fazem.
É por isso que feministas muitas vezes se deparam com a questão de
ensinar aos homens que o patriarcado é tão prejudicial para os
homens quanto para as mulheres – e que isso cria uma prisão para as
duas identidades de gênero, enquanto que, além disso, prejudica
muitas outras identidades.
15. O homem branco, heterossexual será a matriz de
reivindicação de paridade de direitos. A matriz se transforma
numa representação do mal.
Isso cria o discurso de vitimização do homem
contemporâneo.
16. Mas há uma crise da masculinidade?
A palavra crise carrega consigo uma valoração de mudanças
que ocorrem rapidamente na sociedade.
Se não podemos falar em crise, podemos falar em ponto de
ruptura e/ou ponto de mutação.
17. De fato a dominação masculina está sendo colocada em
cheque no mundo ocidental.
Se essa dominação vai desaparecer ou vai se metamorfosear
é algo que ainda não podemos afirmar.
18. O conceito de masculinidade hegemônica não equivale a um
modelo de reprodução social.
É preciso reconhecer as lutas sociais subordinadas que
influenciam e transformam a ideia de masculinidade.