Este documento apresenta uma revista literária online chamada ELIS, que tem como tema principal a mulher. A primeira edição traz contos, ensaios e poemas que abordam a experiência feminina sob diferentes perspectivas. Há textos que retratam a vida de mulheres no subúrbio, como mães, lavadeiras e uma "puta", bem como peças que refletem sobre a condição feminina de forma mais ampla. A editora apresenta a proposta da publicação e convida os leitores a desfrutarem dos diversos trabalhos literários apresentados
1. SUBÚRBIO
ELIS::01
Ariadne Louca
Creuza
Dona Maria
Dorida Flor
Florisbela
Magnólia Reis
Maria Maria
Munique Duarte
Valeska Aguiar
Virgínia Z.
Weronika Kieslowski
participações especiais
Fernanda Nocam
Adriana Azenha
Renata Polydoro
revista literária on line::ano01.número01.edição01::março2012
2. ELIS::01
editora::Ani Almeida contate::colabore::
co-editora.diagramação::Tammy Almeida editora.revistaelis@gmail.com
colaboradores::Adriana Azenha::Alessandro de Paula::Cláudia de Andrade A. www.revistaelis.blogspot.com
Curcio::Daniele Souza Freitas::Francisco Ferreira::Glória Lopes::Guilherme twitter: @revistaelis
C. Antunes::Leonardo Valesi Valente::Munique Alvim Duarte::Rafael Zen
participação especial::Adriana Azenha::Fernanda Nocam::Renata Polydoro
imagens::André de Miranda::Bruno Veiga::Celine Michel::Fao Carreira::Gabriel ::Por ser uma Revista literária de colaboração coletiva, as idéias e con-
Antônio Serpa de Magalhães::Hélder Oliveira::Ialê Cardoso::Jussara ceitos expressos pelos autores selecionados são de responsabilidade dos
Romão::Renata Cabral::Renata Polydoro mesmos, assim como as declarações de autoria.
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3. ELIS é uma Revista Literária Online, gratuita, que tem a
mulher como personagem principal.
"Elis é irreverente, feminina, ousada, criativa, inteligente...
Elis é mulher, ama, sofre, talvez sofra mais do que ame, e
continua, viva. Elis é o que sobra no reflexo do espelho: o
elemento secreto em cada mulher."
mundo da ELIS | Com uma temática diferente à cada
Edição, os colaboradores são convidados a assumir um papel
feminino e contar uma história da forma que quiser (prosas,
verso, imagens, etc), com o desafio de convencer o leitor de
que sua trama é a melhor da Edição.
Opiniões e gostos à parte, o intuito é trazer ao leitor uma
variedade literária para o seu desfrute, com muito bom gosto
e prazer.
Assuma o seu melhor papel de mulher, perca o controle,
escreva e convença o leitor de que o seu texto é o mais
feminino da Revista, de que nele há a presença da Elis (mulher
brasileira, musa inspiradora da Revista, talvez, uma entidade).
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4. Sumário
editorial:: 06
ensaio:: 07
Nem toda brincaderia me diverte!!!
dama:: 09
Solitária::Mera
mãe:: 10
Papo Brabo
Náusea
Carmen
Pietá do Morro
puta:: 16
especial Pinapoly
Justiça Torta
neide.
Aprisionados
lavadeira:: 22
A Lavadeira.
Lavadeiras::Saindo do subúrbio
.alma.a.quarar.
Roupa suja se lava na rua
senhora:: 28
.errante.linha.
louca:: 29
Marli
álibi:: 31
Três mulheres:
mistérios do subúrbio do mundo e do sentir
créditos:: 36
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5. "Foi na constante busca por espaços onde eu, mulher e poetisa,
pudesse publicar e ser lida sem precisar escrever de forma
velada a minha feminilidade, de imprimir minha alma na palavra,
que senti crescer uma necessidade vital por tal espaço: um
abrigo confortável, um lar literário para ver desabrochar a
palavra. Sem muitos sucessos, pensei Por que não? Criar um
espaço, compartilhá-lo com tantos colegas e desfrutar dos
resultados dessa soma-múltipla, por quê não? E num ímpeto
mais forte que eu, ela já estava lá, a Elis! Bastava apenas
compartilhar a idéia... Agora, vem o desfrute. Apreciemos sem
moderação!"
Ani Almeida
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6. ::editorial Caras Amigas,
É num misto de êxtase, prazer e fé que trago a vocês instigantes. Alguns suburbanos, vividos na pele de
a primeira edição dela, de nós: Elis! retirantes, artistas, escritoras; outros demasiado
femininos, nas musas, damas (p.09), caçadoras e
Impressionante é notar como temos olhos, mas os até num combinado do tipo três-em-um (p.31), que
olhares jamais são os mesmos. No nosso subúrbio, buscaram traduzir a alma feminina suburbana.
uns se intimidam, olham com medo, intolerância, Dos textos recebidos, porém, muitos não estavam
curiosidade, tentam viver e vivenciar. Outros, embasados na temática central desta edição da
vivem, vêem, ou fingem tudo de forma tão natural Revista - o subúrbio; e/ou não exploraram o sentido
que, de repente, entramos no cotidiano de famílias de viver de Elis - o sagrado feminino.
suburbanas desse Brasil.
Todos os textos foram recebidos de peito aberto,
E as mulheres...Ah, as mulheres! Muitas putas (p.16) analisados conforme os critérios de nossa política
brotaram das propostas, umas mais bem resolvidas editoral e guardados com muito carinho em nossos
que outras, umas ácidas, sarcásticas, outras cômicas, arquivos.
sofridas e todas bem-vindas.
Mães (p.10) e lavadeiras (p.22) também se juntaram à Eis que a Revista Elis é viva e agora caminha com as
caminhada, aos montes, cantam e gritam suas dores próprias pernas!
e alegrias, e têm exaltadas sua reconhecida beleza
e encanto. Com imenso prazer, apresento-lhes Esse fruto do
Sentimos muita falta das filhas e médicas suburbanas trabalho de muitos escritores e escritoras - novos,
que parecem ter se ausentado do nosso chamado, amadores, profissionais, poéticos: apreciem sem
uma pena... moderação!
Mas, como compensação, recebemos álibis bons,
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7. Nem toda brincadeira me diverte!!!
::ensaio Fernanda Nocam
Elis, assim tão irreverente...pode ser uma exigência e come chocolate....de salto alto o pé dói, combina um
ao invés de meta. A mulher de hoje está encantada tênis com mini-saia, pele bronzeada, menina arretada,
com um modelo de mulher feminista rebelde, que ela fala palavrão com a boca pintada. Ela já tem 40
é ao mesmo tempo feminina, fera, é autônoma, é mas parece 20, cabelos compridos, toda maquiada,
independente, sabe gastar, sabe ganhar, sabe dizer, corpo escultural (em que será que ela foi moldada?),
sabe estar por cima, sabe bem o que é estar por faz teatro, canta, nada, trabalha muito para poder
baixo. investir mais em suas marcas prediletas....
Essa mulher que não dá chá de colher, que é rosa O preço das coisas não importa, o que importa é ficar
choque, que por favor, não provoque, essa mulher em vantagem....por que afinal, ela não é de nada!!!!
louca, apaixonada, madame, bem amada por si mesma, Que insistência a minha dizer mal dessa menina tão bem
ah...essa mulher não é de nada. aparentada.....com conta cheia, cama desarrumada,
Essa mulher é o máximo, é de revista, é de papel.... livro aberto na ultima página, é Goethe? Não, é auto-
não caiu do céu, é potente, mas é fake, é inteligente, ajuda, é auto-maquiagem, é Vogue, é Caras, é cara
a base de Gloss... o que ela quer não é pensar pensar dela ficar envergonhada quando lê sobre coisas que
pensar pensar...é ser linda, ser amada, ser alguma não dizem nada....
coisa que a cubra de olhares, ser desejada, ser
respeitada......mas essa mulher não é de nada!!! Essa menina está tão pra frente, é tão guerreira, e
Ela sai com alguns garotos ao mesmo tempo, ela é tão vazia, que se sente desamparada, uma plástica
dança, ela remexe, ela sabe colocar camisinha sem a mais pode resolver, uma transa a menos talvez,
perder o fôlego, sabe discutir sobre ecologia, sabe um amante para o fim de tarde....os homens preferem
sobre combate a celulite, sobre transtorno bipolar, cerveja neste horário....um pouco de glamour, um
manda muitas mensagens por celular, ela não leva reality show, uma novela, arrasar na passarela,
adiante esses namoros, seu humor é inconstante, ela serve pelo menos passear no shopping ou postar
engorda mesmo quando come alface, corta o alface, uma foto nova no facebook......mas continua a menina
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8. sendo ela mesma, com suas questões, um sentimento fora na metade da viagem.....parou com besteira e
de vazio, um sentimento de que quer algo, quer ser aboliu as bobagens...bagagens....Ela é uma pessoa,
algo, como se já não o fosse.... com vagina, e isso a intimida, ser penetrada, falta
Ora, embaixo de tanta produção há alguém com algo nela? Engravida-se de grandes ideias, passa a
coração (perguntou o homem de lata a Dorothy)? transformar o mundo para postar-se nele, penetrar
Na busca desenfreada ela abandona o chocolate, o o mundo e ser penetrada pela existência. Suas fotos
pão, e até o alface....é a vez da água..... são de paisagens, fatos, mundos, e ela agora é uma
Mais magra, mais magra, mais magra, o que importa é lente, um olhar, sua imagem é uma lembrança de que
ver o que há dentro, o que sobra de uma existência ela não é outra pessoa, ela tem contorno...se ama
baseada no prazer? Sobra um esqueleto e uma assim, separada de tantas identidades vendidas no
sensação dolorida, que se vive as próprias custas... açougue da mídia....
com o pouco de ar que ainda respira. Tem medo de perder-se de novo, tem medo de que
Por outro lado essa menina, muda de idéia.....ela vai essa sensação de simplicidade renda-se logo a alguma
as compras. E gasta....e assume para si tudo aquilo necessidade imposta, de ser doutora, de ser gostosa,
que é pensado como belo....ela não sabe mais o que de ser genial, de ser uma bosta, de ser gentil, de ser
acha belo, aquilo que acreditava ridículo faz parte do fogosa, de ser submissa, de ser poderosa, de ser
seu figurino.....quem é ela? vítima.....
Chateada com tanto exterior, com tanta pintura da Ela quer apenas, ser Feliz, ou Elis......pelo menos feliz
fachada, com viver de água, com viver de Daslu, a com a sua proposta de ser-se.
menina, viaja, e trafega em si mesma, é dolorido, é Por isso mesmo que ela não é de nada.....nem disso...
abafado o espaço que existe entre o que ela é, e o nem daquilo...nem dessa tribo....nem daquela praia....e
que gostaria de ser, o que é, e o que acredita ser...... sendo nada tudo pode ser.
assim mesmo mergulha para bem dentro de si....leva
consigo uma bussola e a chama de liberdade, joga
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9. Mera Solitária
::dama Dorida Flor Dorida Flor
Não ama O véu da noite
A dor oprime
Cópula as dobras
É esmola da pele.
No corpo Mordaça
Alma vazia na escuridão
Pelas mãos essa imprópria veste
Arma continha ainda intocada.
Esperava vida Espalho a voz
Quem nunca foi por dentre o desejo
E morria gritando-me
Vazia palavras vãs.
Leveza Sou prisão,
Era rainha se não me amaram
Os olhos outro poder.
Perdidos de vista
Coração
Gozo proibido
E de novo
A pele fria
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10. Papo brabo
::mãe Munique Duarte
Alguém tem que falar pra esse menino que agora Quem vai ensinar pra ele "certas coisas" da vida?
ele calça quarenta e já tem o bigode esboçado na Quem vai dizer pra ele que a vida não é fácil, que é
cara. Que ele não pode usar meias com desenhos de mais não do que sim, que o bonzinho pode ser muito
bola de basquete. Video game só duas horas por dia mau, o bobo muito esperto e a mulher nem tão mulher
e refrigerante dia sim e outro não. Alguém precisa assim?
dizer pra esse menino que a toalha tem que ir pro Quem vai falar isso tudo pra ele? Quem? Eu? Eu
varal e a roupa suja não pra debaixo da cama. Que tenho muito o que fazer nesta vida. Lavar, passar,
deve tratar as mulheres com jeito, os cães só com cozinhar, cuidar das crianças, cuidar da casa inteira e
ração e que o interurbano está pela hora da morte. da tintura do meu cabelo. Esse menino precisa nascer
Esse menino já tem idade pra saber que dinheiro não de novo, parar de almoçar cachorro-quente e não
se colhe em árvore, que fumar é proibido e que filmes estragar os botões do controle remoto.
proibidos continuam proibidos. A cada semana cortar Vai falar você com ele. Hoje é meu dia de carteado e
as unhas e a cada mês lavar a garagem. Carro? Sem não tenho hora pra voltar.
idade pra isso! Moto? Nem sonhando! Bicicleta? Nem
pensar em vender pro vizinho embrulhão que mora na
frente. Boné de marca só no sonho, e laptop só na
televisão.
Esse menino tão marmanjo tem que se arranjar
na escola, ter notas exemplares e parar de sujar
a barra da calça em dia de garoa. Passar direto ao
ver boteco, bordéu, banca de jogo, desmanche de
carro, boca de fumo, cambista de ingresso, mendigo
suspeito e manifestação política. Passar direto de
ano também.
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11. Náusea
::mãe Munique Duarte
Náusea, nada São cinco
Pausa, pálida E sinto
Entre verões e nuvens turvas Que tudo começou ainda ontem mesmo
Ao lado do seu chapéu
O tempo passa e para
Gardênia prometida e esquecida
Tão doces eram seus passos na chegada
Euforia
O relógio dispara e com ele se vão
Amor, paciência, temência, perdão
Vestido de noiva empoeirado
Quatro resguardos
Colchão marcado
Móveis gastos
Bom dia
Boa tarde
Boa noite
Lábios empedrados
Culpas guardadas
Ares sem perguntas, pois perderam a importância
Não tem problema
A mala está no porão
Só não me leve o dinheiro do mês
Resguardo
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12. Carmen
::mãe Virgínia Z.
E limpa o quarto, pelo amor de Deus. Hoje de panelas que aquele armário fica uma zona. Pelo amor
manhã fui arrumar ele e nunca vi tanta roupa jogada de Deus, como que vocês conseguem ser assim. Eu
em cima da cama. Como é que você consegue? Tem iria morrer se fosse assim estabanada.
pena da tua mãe, pelo amor de Deus. Pelo menos teu Daí a gente chega em casa e tu me ajudas a
quarto deixa arrumado. Ninguém consegue viver numa limpar a cozinha, teu pai podia dar banho no Toby.
sujeira daquelas, Alessandro. Ninguém. Ele está imundo. Teu pai já está reclamando que não
Ainda mais agora que a Gisele arranjou emprego agüenta mais o cheiro daquele cachorro em cima do
de manhã. Foi terça, não, foi segunda que ela me ligou sofá. Eu já falei que lugar de cachorro não é no sofá,
dizendo que agora ela só pode vir um dia por semana é lá fora na casinha dele, mas daí ele toma as dores
e a tarde. Daí já viu, né? Em uma tarde ela não tem do cachorro e já viu, né? Daí eu chego em casa, dou
condição de arrumar a casa toda. Vai ter que todo uma dormida, quando acordar te chamo e a gente
mundo ajudar um pouco. Se bem que é até bom, que arruma a cozinha, e teu pai arruma o Toby.
daí a gente gasta menos com isso, né? Mas vai ter Quarta eu queria dar uma geral na casa, sabe?
que todo mundo ajudar um pouco. Até teu pai passou Porque com meio período só, a Gisele não vai dar
um paninho na casa inteira ontem. Verdade. conta de limpar direitinho tudo. Como o teu quarto,
Eu queria chegar em casa agora e dar uma geral Alessandro. Tem que levantar a cama, passar aqueles
na cozinha, mas eu estou tão cansada. Chega por produtos no armário que dá brilho, o computador?
essa hora me dá uma dor nas costas. Acho que vou Tem que tirar aquele negocinho pra fora e tirar o
ver a novela primeiro. Dou uma descansada e depois pó lá atrás, porque a coitada não vai poder ver os
arrumo a cozinha. Vais sair hoje, filho? Não, né? Acho detalhes assim, né? Vai mais dar uma limpada por
que teu pai vai. Mas é só aquela voltinha que ele dá, cima.
depois já volta. Daí vocês podiam me ajudar lavando Já falei pro teu pai. Se quiser passear no final
a louça enquanto eu arrumo o armário das panelas. de semana, a gente pode passear. Mas antes deixar a
Aquilo está uma folia. É tu e teu pai encostar nas casa ajeitada, né? Vai que chega visita no domingo e
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13. a sala tá aquela zona que tava hoje ao meio dia. Teu pro quarto, essas coisas que estragam o piso da
pai chega do trabalho e joga cada dia um sapato novo gente.
em cima da poltrona. Adivinha se ele tira? Por ele fica Não sei se vou comprar não. Muita poeira na
a semana toda lá. Já falei que, se ele quiser, a gente nossa casa. Só se teu pai visse tv na sala com a
muda a sapateira pra sala, pra ser mais confortável janela fechada. Se ele der banho no Toby duas vezes
pro queridão lá. Agora já falei pra Giseli que ela não por semana acho que nem dá de sentir o cheiro do
precisa mais botar nada no lugar, senão não dá tempo cachorro, daí. Problema vai ser o calor, né? Nossa
nem de lavar as vidraças. Esses dias, acho que foi na rua faz calor porque não tem vento. Se tivesse
sexta, cheguei na sala e teu pai tinha palitado os vento ia dar de ficar domingo a tarde vendo tv ali.
dentes e deixado o palito em cima do sofá. Em cima do Odeio ficar na varanda no domingo, os vizinhos ali da
sofá. Vê se pode uma coisa dessas. Já meti a língua e frente ficam reparando na gente. Esses dias eu vi
disse: Não gosto dessas coisas. como aquela pequena que usa sempre o short curto
A Dona Rose tava me falando de um produto ficou caçoando do teu pai. Mas também. Teu pai vive
que passa, assim, no chão, e fica o brilho por uma arrotando ali fora. Pensa que os vizinhos não ouvem.
semana. Uma semana sem precisar limpar o chão de Ouvem tudo, meu filho, ouvem tudinho.
novo. Se bem que ali em casa eu duvido, né? Tem Será que ainda tem pão em casa? Acho que vai
muito pó. Mas é que a gente deixa muito as janelas ter que passar no mercado e comprar. Se bem que eu
abertas, também, daí é normal acumular pó, né? Mas to tão cansada. Podias botar o Toby na coleira e ir
esse produto, ela disse que passou e, na casa dela, a pé no mercado, né Alessandro? Assim a mãe podia
ficou uma semana brilhando. Eu queria comprar, só descansar, vendo a novela, enquanto tu compravas o
pra testar. Ela inventa um pouco também. Mas se eu pão. Daí tens que lembrar de comprar leite também.
comprasse, bem, tu e teu pai iam ter que mudar um E margarina, acho que aquela está acabando. Daí, lá
pouco, sabe? Não chegar com o tênis cheio de barro e perto do pão, tem sempre uma prateleira cheia de
andar pelo piso, não sair molhado do banho correndo uns bolinhos, sabe? Aqueles que o mercado mesmo
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14. faz. Sabe, Alessandro? Se tiver um com caldinha de estaciona aquela porcaria daquele fusca na minha
maracujá por cima, podes trazer também. Mas só se vaga, mas a mãe tem dó de reclamar, né? Ajuda a
tiver aquela caldinha de maracujá com as sementinhas. mãe a trazer esses panos, depois.
É tão gostoso aquele bolo. Se bem que sempre Tá chorando, filho? Que aconteceu? Pára de
dá sujeira, tu e teu pai comendo em cima do sofá. O chorar, Alessandro. Ajuda a mãe que passa.
Toby que se esbanja com tanta migalha lá em cima.
Quer saber? Não traz o bolo, não. A gente tá gordo
que chega, já. Chega de tanta comida... comilança.
Traz só o pão. Se tiver aquele pão mais escurinho,
de forma, com sementes em cima, pode ser daquele.
Compra também uns pães franceses porque teu pai
reclama se só tiver pão de forma. Não esquece do
leite, se tu for depois passear com o Toby e passar
no mercado pra mãe.
Meu Deus o horário com a costureira. Eu era
obrigada a passar lá hoje pra ver o vestido que
mandei fazer pro casamento da Gerusa. Já fosse
atrás de algum amigo teu que tenha terno? Aposto
que não, né? Mas já falei com uma amiga da mãe, lá do
trabalho, e ela disse que o terno do filho dela pode
ser que sirva. Ele é mais magro, mas é mais largo,
também. Vamos ver, né?
Até que enfim eu chego em casa e ainda tem
vaga nesse estacionamento, né? A Dona Lina sempre
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15. Pietá do Morro
Ariadne, a Louca
O rosto imberbe do filho
sobre o seio já murcho
sugados leite e sangue
pelas agruras do tempo
num tempo de agruras.
As feridas sangram as almas
alma que se esvai
com a vida adolescente
alma de mãe - ressequida alma -
que embrutesce
e penetra-lhe mais e mais
o corpo alquebrado.
Dor maior de mãe
mãe de um de menor...
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17. Justiça torta
::puta Valeska Aguiar
Desceu do ônibus um pouco antes do sol raiar, se num poste e arrancou as sandálias. Naquele
o bairro ainda mergulhado num silêncio sepulcral. vestidinho florido até parecia uma mulher descente,
Começou a andar devagar, o salto fazendo um barulho mas não precisava sofrer pra manter a pose. E não
irritante na calçada velha. Daqui a pouco vai ter tinha vergonha de quem era. Voltava pra casa com um
chefe de família engravatado indo para o trabalho e dinheiro minguado mas ganho honestamente. Pensou
aquelas velhacas de véu a caminho da missa. Mas por em especial na última nota de cinquenta, largada
enquanto a rua era só dela e dos vagabundos. com má vontade sobre o criado mudo. O cretino
Andava sem medo, nada poderia lhe acontecer. tinha deixado quase metade do que ela cobrava.
Não havia mal maior do que sua vida. Há menos de Antigamente eles lhe davam até mais do que pedia.
uma hora saíra de um muquifo rançoso no centro da E eram mais gentis também. Agora só pegava esses
cidade. Bons tempos aqueles em que desfilava pelo porcos que achavam de fazer com ela o que tinham
calçadão de Copacabana... Mas agora, o peito já meio vontade e depois atiravam o dinheiro na cara, como
murcho, a bunda caindo, não dava mais pra escolher. uma ofensa. Sentiam tesão até nisso, aqueles sujos
Lembrou-se da ruiva novinha que chegou na Casa que durante o dia se travestiam de pais de família.
outro dia. Aquela estória de musculação dava certo Como se isso fosse alguma grande coisa... pais de
mesmo? As menininhas viviam na academia... ela tinha família... fugiu de casa com quatorze por causa dos
dúvidas se compensava tanto esforço e suor. Então abusos do seu. E passou a vida sendo abusada por
lembrou que tinha que tomar o coquetel quando outros.
chegasse em casa e deixou escapar um suspiro que Esse não era diferente. Arrancou sua roupa com
subiu quente e aveludado como fumaça de cigarro. violência, fez com ela tudo o que não tinha coragem
Talvez não tomasse. Talvez fosse melhor assim. de fazer com a esposa, aquela santa nojenta que,
Talvez não precisasse se preocupar com a bunda, provavelmente, só abria as pernas pra fazer filho.
enfim... E quando ela o lembrou da camisinha o calhorda riu,
O barulho do salto ainda a irritava. Segurou- apertou seu pescoço até quase sufocar e meteu
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18. fundo. Gonorréia, herpes, cancro mole... já devia
ter pego todas as doenças venéreas de nojentos
como esse. Todos se achando super-homens, alguns
felizes em lhe dar alguma doença de presente.
Sorriu maliciosamente pensando com nojo no
imbecil sobre ela, resfolegando e suando como um
animal. Quem disse que essa vida era fácil? Mas
agora até que tinha um lado bom. E ela nem tinha
culpa, o chauvinista não se preveniu porque não quis.
Ultimamente era essa a sua vingança. Esse o prazer
que a mantinha. Antes até pensava em aposentadoria,
mas parar justo agora, quando finalmente se
divertia? Não. A justiça sempre foi uma coisa muito
torta, pensou. Agora eu distribuo a minha, sussurrou
entre dentes enquanto apertava carinhosamente
o ventre pensando no vírus com o carinho de quem
espera um filho.
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19. neide.
::puta Virgínia Z.
Daí eu pensei em vender Natura, mas pra isso
eu precisava comprar aquele estojinho, sabe? E eu
não tinha condições de comprar o estojinho porque eu
queria o emprego justamente porque eu estava sem
grana nenhuma. Pensei também em vender aqueles
iogurtes do tipo Top Term, mas tinha que comprar os
ingredientes, os lactobacilos vivos, aquela coisa toda.
Eu fiquei pensando: meu Deus, o que eu posso fazer
sem precisar gastar com fabricação, com estojinho?
Sabe quando rola aqueles estalos do tipo:
Eureka? No outro dia eu era puta.
O engraçado é que nunca me passou pela cabeça
que o que eu fazia era errado. Eu achava um pouco
incômodo. Estranho. Normal, né? Parando para
analisar, era alguém que eu não conhecia, dentro de
uma parte minha que eu conhecia menos ainda. Eram
dois estranhos dentro de mim e eu lá, parada. Não
que, ás vezes, eu não gostasse, isso é mito. Tive
experiências prazerosíssimas no ramo. Mas na maior
parte das vezes eu ficava lá, parada, quieta, ganhava
meu dinheiro e ia embora.
Pode até parecer patético da minha parte,
mas, por exemplo, eu nunca tive uma banheira. É até
engraçado, logo eu, dizer isso, porque eu vim de uma
elis::subúrbio 19
20. cidade não muito grande, mas de onde banheira era um uma culpa. Uma tristeza que eu não sabia de onde
luxo igual casa na praia. Então eu não tive banheira, começava, mas que parecia que vinha do pé e subia
tive daquelas duchas que só tem verão e inverno. até a garganta. Tentei procurar outras coisas pra
E eu achava o máximo deitar naquelas banheiras fazer, mas sempre que você se candidata, no meio
enormes quando um cliente me levava pro motel. Eu da entrevista, tem aquele espaço em branco que diz:
me sentia mulher. Uma daquelas loiras do olho claro profissão anterior. Eu olho aquele espacinho e saio
que se deitam na banheira como se não existisse da sala. E eu sempre roubo a caneta.
nada pra fazer. Nenhuma louça pra lavar, roupa pra Ontem fui buscar meu filho na escola e um
deixar tomando sol, nada. Elas simplesmente deitam cliente meu estava parado na porta da sala do lado,
e se lavam. Um banho desses lava até a alma, se buscando uma menina bonita, do cabelo cacheadinho.
perguntarem pra mim. Mas ninguém nunca pergunta. Ele me olhou como se fosse um crime eu buscar meu
É engraçado. Às vezes estou andando pelo filho naquela escola. Eu o busco quantas vezes achar
calçadão e para um corno qualquer e pergunta: de que devo, busco na faculdade se quiser (e ele deixar).
onde veio essa beleza toda, hein vagaba? Eu digo: do Ele vai ser advogado, juiz, pra ser mais precisa. E eu
Acre. Eles somem. não vou dar a mínima pra quando o povo dizer que ele
Pode parecer vaidade, mas ali nua em cima é um "grandessíssimo filho da puta".
de uma cama, com um homem embaixo de mim, eu me
sentia boa em alguma coisa. E não um bom cheio de
pecado, cheio de pudor, como achava meu ex-marido,
o Clóvis. Não. Um bom, bom. Meu corpo era apenas
bom. Eu colocava a roupa e a sensação no momento
passava, mas aqueles trinta minutos na cama me
visitavam a semana toda.
Eu tentei parar. Um dia acordei e me bateu
elis::subúrbio 20
21. Aprisionados
::puta Maria Maria
Sente um aperto no coração diante do homem amar, pernas grossas, toda ela redonda, farta. Bebe
esquálido, olhos arregalados a boca entreaberta. Era da água e sente o veneno enodoando seu corpo.
amante, deixou de ser. A morte e a vulnerabilidade do Obrigada. Tinha que ter agilidade na direção, para
corpo. Chama a enfermeira, ela examina daqui e dali, O chegar rápido em casa, para não alimentar suspeitas.
doutor, já vem - diz. Enquanto espera, a brisa invade Naquele dia encontrou uma árvore no caminho de volta
suas vestes. Recompõem-se. Se tivesse prestado para casa. Está pálida. O doutor pesca as palavras.
atenção, ela bem que avisou. Ele: Benzinho, cerveja é Quero ir embora. Ele sugere repouso. Examina-a, olha
cerveja. O doutor e o olhar preciso, além das lentes, além de seus olhos e dispara: Avisaremos quando o
Hum... Não fala, ela já sabia. Maldita sorte. Não chora. corpo do seu marido for liberado.
Não consegue se condoer por ele. A mulher dele deve
vir grudada com os filhos.
Não. Segue o pensamento nele. Não há amor,
nem ódio. Quer do veneno que o levou. Sente uma leve
tontura. A enfermeira vai buscar um copo d'água, o
doutor a retém pelo braço. Senta-a na cadeira ao
lado do corpo ainda morno - triste.
Pensa nas crianças, menino com oito e menina
com cinco. Um a cara dele, outro a simbiose dele com
a mulher. A brisa e o desatino, Que horas são? Três
e quinze, responde o médico. Abraça o corpo pouco
febril do amante.
A água. Nem bebida nem consideração. Se não
voltasse para ela, se esquecesse àquela mulher sem
eira nem beira, os cabelos despenteados de tanto
elis::subúrbio 21
22. A Lavadeira.
Florisbela
Quando seu pai a abandonou, menina nova saiu de
casa para sustentar o lar e cuidar da mãe, ou vice-
versa. Aprendeu ser lavadeira na casa de senhora
que a ensinou outras coisas mais do que apenas
tanques e sabão. Além de secar as roupas ao sol,
menina aprendeu a secar as próprias lágrimas, entre
as humilhações da patroa que dizia guria fazer tudo
errado. Aprendeu matemática mesmo tendo largado
tão cedo a escola, quando se dividiu em duas, para
dar conta das obrigações da vida e dar atenção à
sua mãe doente. Aprendeu que os domingos não eram
como o padre lá do bairro dizia, guardado para festas
ou um cadinho que seja de descanso, mas antes
mais um dia comum de trabalho. Aprendeu menina a
gostar da noite, quando sozinha voltava pelas ruas
na madrugada, sem dinheiro pra pagar a condução.
Aprendeu que ter doença só serve pra diminuir o
seu salário e ouvir mais broncas. Aprendeu também
menina, entre os amargos da vida, lavar a Alma com
as gentilezas que ao longo do dia se apercebia,
passar ao largo da tristeza quando esta chamava
seu nome, costurar sorrisos na boca e no coração.
Pela varanda sabia do mundo; entre o imundo sabia
sua luz. Menina fazia hora-extra para ser feliz.
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23. Lavadeiras Saindo do subúrbio
::lavadeira Dona Maria Dona Maria
Mulher ajoelhada na pedra Inspirou-se nela:
Manga arregaçada, coxa descoberta. Anos e Danos
No mexe e remexe ela cria sua dança, de amor a ele
A roupa suja a acompanha: Em troca: roupa suja.
Lava...
Lava, esfrega, A filha mais velha
Esfrega , lava, esfrega. Preferiu o lucro
Enxágua... abriu uma lavanderia:
Enxágua, esfrega, Dona Maria
Esfrega , enxágua, esfrega. - homenagem a mãe.
E a tarde inteira se vai no mesmo ritmo:
Mulher e roupa dançam à beira do subúrbio.
Outra mulher traz a roupa
E joga numa caixa fria e oca.
Máquina ligada na tomada,
Com sabão em pó e alvejante.
Batidas mecânicas,
Ritmo sem beleza.
Tudo ficará pronto num instante!
Basta apertar um botão.
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24. .alma.a.quarar.
::lavadeira Magnólia Reis
O rio que canta
O rio que cresce
Maldito rio que me vê apodrecê
O rio inchô
Como meu bucho
E em lua cheia
levô o pai
A menina nasceu órfã
dum e d'otra
abandonei
pelo ralo do barraco.
Peito apertado
lancei feito oferenda
a prenda do desgosto
e lavei rosto com as ropa
água e sabão.
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25. (Diálogo para Creuza e Cleonice)
Roupa suja se lava na rua
::lavadeira Creuza
Cleonice: Roupa suja se lava em casa. Cleonice: Dinheiro sujo me dá medo.
Creuza: Não! Roupa suja se lava na rua. Creuza: Não quer sujar as mãos?
Tem tanta luta pública, tanto movimento, passeata, Então, lave a roupa suja por causa justa.
assentamento. Escolha suas armas, mas de preferência bote a mão
Tem muita roupa suja de sangue sendo lavada em na massa.
lavanderia Express. Roupa suja, roupa pública.
O negócio funciona assim: à luz do dia, um homem de Não lave as mãos.
terno e gravata chega com sua cesta, retira uma
ficha, coloca na máquina as roupas sujas, algumas já Cleonice: A não ser que seja pra evitar a contaminação.
muito antigas, senta, pega uma revista, uma xícara
de café e um cigarro e lava tudo publicamente, paga Creuza: Esteja com as mãos limpas e a consciência
uma quantia ínfima e sai com tudo limpinho, dobrado. tranquila. Se for preciso, faça a revolução, lavando
Toda semana é assim e o pior é que a roupa suja é a roupa suja da corrupção.
lavada na rua, bem debaixo da nossa fuça.
Eu aprendi isso a duras penas. Quando meus filhos
Cleonice: Entendi. E a gente se faz de besta, fica de eram pequenos, a gente morava num bairro próximo
olho só na nossa cesta. a uma rodovia de pista larga, perigosa e pra levar
É. Lavanderia é coisa de gente fina, gente que não as crianças pra escola que ficava do outro lado,
suja a mão, prefere pagar pra outro lavar. era muito arriscado. Então a gente se revesava. É,
porque tudo que era mãe trabalhava. Um dia tava eu
Creuza: Sabia que tem gente que lava também dinheiro, na beira da estrada com a garotada, quando Edmilson,
abrindo bingo, creche, escola de samba, igreja e até meu afilhado, filho da comadre Lurdes, desenbestou
puteiro? a correr atrás de uma pipa.
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26. Cleonice: Não diga? nós rodamos a baiana.
Creuza: Maldita, veio o caminhão, se eu pudesse parava Cleonice: Bacana.
ele com a mão, ai meu coração, o caminhão, o menino
caido no chão, morreu na hora, o anjinho, 9 anos. Creuza: Tudo quanto é mãe se reuniu na beira da
estrada e fizemos uma fogueira que ardia e de longe
Cleonice: Tadinho. se via. Queimamos pneu, colchão, estrado de cama,
caixote de feira e um monte de tranqueira. Cada mãe
Creuza: Foi o velório mais triste que eu já vi na que surgia trazia uma tralha a almentar a fumaça.
vida. A comadre teve que tomar uma bomba na veia,
acompanhou o cortejo dopada. Cleonice: Que desgraça.
Cleonice: Coitada. Creuza: O céu ficou preto, fizemos não sei quantos
quilômetros de engarrafamento. Peitamos de frente
Creuza: A dor a era tanta que a gente achava que ela um bando de caminhoneiro metido a machão, a gente
ia se enterra debaixo da terra junto com ele. deitava no chão e se fingia de morta. A gente tava
Mas sabe o que é isso? morta. "Vai passa encima, passa encima se tu é
homem". Baixou polícia, corpo de bombeiro, repórter.
Cleonice: Destino.
Cleonice: Repórter?
Creuza: Não. Isso é descaso. A gente já tinha feito
tanto abaixo assinado, pra botar passarela, lombada,
farol, qualquer merda pra garantir a segurança da Creuza: Eu dei até entrevista, meti bronca, botei a boca
garotada. Mas dessa vez a gente não foi civilizada, no trombone. Deu no rádio, no jornal, na televisão.
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27. Cleonice: Televisão? Cleonice: Fogo!
Ops! Quero dizer. Água neles!
Creuza: Não demorou muito, a passarela tava lá,
teve inauguração, com direito a discurso, rojão, uma
pataquada, uma conversa fiada e no meio daquela
confusão eu fiz o meu minuto de silêncio, de saudade,
de revolta, aprendi a lição.
Não se pode esconder a roupa suja dentro da gaveta,
Cleonice: Ela pode criar fungo, mofar, pode empestear
nosso lar.
Creuza: Se há algo de podre no reino da nossa casa,
de nosso bairro, cidade, país, a gente não pode perder
tempo - avante!
Cleonice: Eu convoco os responsáveis e boto todo
mundo em torno do tanque.
Creuza: E esteja certa de que a tarefa foi concluída e
de que não restou nem um resíduo, nenhum resquício
das nojeiras que fedem e poluem nossas lutas mais
verdadeiras.
Pelotão! Escovão na mão! Preparar. Apontar.
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28. .errante.linha.
::senhora Magnólia Reis
Fio Fio
de cabelo de cabelo
cai cai
como caem como cai
meus dias, na vida,
brancos. aturdida.
Fio Fio
um tecido novo um vestido novo
um vestido novo um tecido novo
para para
nova vida. o dia branco.
Fio Fio
por aí vai por aí vai
no mundo vai no mundo vai
fugido nascido
monstruoso. desgostoso.
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29. Marli
::louca Virgínia Z.
No porta malas. O Ademar está morto no porta malas.
Calma, não fui eu quem o matou. Eu só o trouxe aqui
para provar o fraque.
As moças me olham de lado. Essas mocinhas aí de vinte
e pouquíssimos anos, peitinhos durinhos, balconistas.
Já devem ter chamado a polícia por estas horas, assim
que me viram abrir o porta malas para tirar algumas
medidas que faltavam. A família dele também já deve
tê-los acionado.
Eu estava desesperada. Mulher quando passa dos
quarenta e não casou, dizem que o ventre seca. Meu
sonho é ter um filho. Mas filho de pai mesmo. Filho
de vidrinho pouco me interessa. Eu tinha quarenta e
três. Conheci o Ademar.
Ele é pouco bonito, pouco atraente, pouquíssimo
inteligente. Deus sabe que eu não estava em posição
de exigir grande coisa, pois se há algo de terrível
neste mundo, este algo é uma mulher solteira. Velha
e solteira.
Marcamos o casamento três meses depois da primeira
noite. Estou com tudo pronto, pode conferir. Velas,
flores, vestido, salão, suspensório e o fraque.
Tudo conforme manda a tradição. Ontem, durante o
trabalho, me bateu uma alegria súbita que há tempos
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30. eu não sentia. Uma vontade incrível. Era como se eu mil. Se vivesse até os oitenta (eu chuto por baixo)
fosse chegar em casa e a minha vida de mulher casada seriam mais de vinte e nove mil. Destes vinte e nove,
começaria em instantes. Eu estava noiva. Noiva, feliz Ademar escolhe morrer ontem. Um dia antes do
e, finalmente, magra. Chego em casa, abro a porta e casamento que eu planejo desde que ganhei minha
vejo o Ademar. Morto. No chão. Durinho. Só para me boneca noiva. Dizem que a vida é uma loteria. Touché.
provocar: com um sorriso na cara. A família dele. Ah, a família dele. Belo consolo que me
Eu sou viúva antes mesmo do casamento. E não uma ofereceram nesta madrugada. A gente leva a comida
viúva honrada, dessas que batem no peito e dizem e as bebidas pro velório uma ova. Desculpem se
"O Alessandro era bombeiro, morreu salvando oito pareço demasiada egoísta, mas a celebração é minha.
criancinhas de um incêndio no centro". Tampouco sou A celebração é nossa. Eu vou entrar na igreja, de um
o tipo de noiva "O Carlos era um ótimo homem. Morreu jeito ou de outro.
de câncer no cérebro, tadinho. Tinha 28 anos". Ademar Você deve se perguntar se eu estou respeitando
morreu de ataque cardíaco comendo um pacote de a vontade do morto. O morto, rufem os tambores,
sonho de valsa. Eu não sou uma viúva digna de pena. está morto. Morto. E a vontade da viva, ninguém vai
Entendam minha amargura. Três dias atrás, num respeitar, meu bom Deus? Eu acredito que se Ademar
ataque fulminante de romantismo inédito, Ademar tivesse que escolher, ele escolheria não estar morto.
me olhou e disse: Amor, promete que nosso amor Não estando morto, casaríamos no dia de hoje.
durará para sempre? Que nenhum de nós jamais se Eu pago o fraque, pego ele sobre meu braço direito,
encontrará com outra pessoa? O que eu poderia ergo e saio triunfante. No caminho, jogo um pequeno
dizer? Eu era noiva. Eu disse um grande, gordo e buquê no chão da loja. As meninas dos peitos
ácido: sim. Desculpem pelo uso da palavra, mas eu duros olham aterrorizadas e tentam se esconder
quero que karma se foda. no provador. Eu olho por cima do ombro, sorrio um
Existem trezentos e sessenta e cinco dias em um ano. pouco, entre uma risadinha forçada digo: quem pegar
Eu, com quarenta e quatro, já vivi cerca de dezesseis o buquê é a próxima a casar.
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31. Três mulheres: mistérios nos subúrbios do mundo e do sentir
::álibi Weronika Kieslowski
1. VERONICA Mas nem ligo pra esses. Apenas a crueldade de tudo
me faz chorar.
Tive pena daquela criatura, quase um homem, quase
um ser vivo. Era insuportável. Tive que levar a toalha e sair do meio
da multidão dos sem identidade. Uns piedosos, como eu
Quase morto. - principalmente mulheres -, outros escarnecedores.
Tive ódio e quis pisar em seus calos. Fiz melhor:
Tive pena porque era um espetáculo vil. Sempre era avancei por entre a multidão, pus-me ao seu lado
vil. As pessoas parecem ter prazer na crueldade, em em seu caminho e limpei a face daquele homem que
ver o sofrimento alheio. mal tinha uma expressão naquele momento. Não era
justo nem digno. Se pudesse, recebê-lo-ia em meu
E eu, quem sou? Não sou alguém. Era, no máximo, a seio e o protegeria do sarcasmo, dos risos repletos
mulher no meio do caminho. Sempre estive a caminho de maldade, das cusparadas e golpes que recebia.
de algo. Vertia meu sangue e ninguém me notava. Não
era importante e tampouco ameaçava o Estado. Seria De mim, ele receberia o amor que merece. Caminharia
estranho se alguém me notasse. com ele apenas, se pudesse salvá-lo. E, no entanto,
ele é quem me salvou. Porque já estaria morta agora,
Ele estava ali, carregando aquele madeiro pesado. se continuasse a deixar meu sangue pelos caminhos.
Chicoteado e escarrado por quê? Por que podia mais
do que eu ou do que você que lê? Diziam que ele era Foi apenas um toque.
maluco, que iria causar uma revolução e derrubar
toda a estrutura do que havia no mundo. Vivi e hoje tenho aquela face gravada. Vocês acreditam
em milagres? Pois só aqui foram dois. Nem vou dizer
Quem tem o poder sempre tem medo de cair, né? outra coisa. Sei que vai parecer muito absurdo pra
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32. vocês. Pra mim também é absurdo, mas sei o que Não sei dessas coisas. Tenho só este mundo para
aconteceu. Depois, quando o homem morria, pregado viver. Mas gostei de não precisar mais perder sangue
ao madeiro, ainda vi o céu tão estranho, preenchido como era antes. Tenho o sangue dele em minha toalha.
por tantas cores, que parecia que o mundo ia acabar. Coitado...
Parecia um lamento de morte e era. A cada minuto o
mundo morria de crueldade. Tive tanta pena...
Deixo que os outros digam, porque cada vez mais
se fala no nome daquele homem, que nem sei se era 2. A SEM NOME E SEM SALVAÇÃO
maluco como diziam antes. Agora dizem que ele era
mágico. Mas morria como um bandido entre bandidos; Não tive pena. Esbofeteei aquele cara e esmaguei
como um porco retirado do chiqueiro. o saco dele. Pensando o quê? Se deixasse, era ele
quem vinha pra cima de mim.
"Filho do Pai", ele dizia. Parece que falava em
palavras de amor e de guerra. Que iria causar mesmo Saí correndo daquela pocilga onde estávamos, peguei
uma revolução. Falava de cidades que arderiam um táxi e agora estou aqui. Tarado filho da puta.
em chamas. E que muitas coisas iriam acontecer à
humanidade de agora e do futuro. Mas seu reino não Tá bom, eu sei, a puta sou eu, mas ele não é meu
era desse mundo, era também o que se ouvia falar filho nem gigolô pra querer me explorar. Já basta eu
dele. Falaram até que o viram subir para o céu na mal ter esse quarto aqui, no cu do mundo, pra poder
companhia de anjos. Loucura tudo isso? dormir. Você tem pó? Tô precisando, pra aguentar
essa merda toda. Não é porque eu ganho a vida com a
buceta que qualquer um pode se apropriar dela como
[Pausa para olhar para o céu] quiser. Até puta quer dignidade.
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33. Fazer a vida na rua é foda, amiga, você sabe. Quantas ficou alguma coisa no meu nariz? Olha direitinho, que
vezes nós estivemos na corda bamba? Quantas vezes eu não gosto que sobra nada.
quiseram fuder você? Ao menos, você tem um caralho Agora, sim. Tô legal, tô ligadona. Nessa vida, a gente
no meio das pernas. Se fosse só o sexo... ah ah ah! tem que estar ligada, mulher. Mas também até que
Cadê o pó, seu traveco de merda? Já te pedi no outro tem uns caras gentis, que respeitam a gente. Pode
parágrafo. até ser feio, ter barriga, faltar dente. Só não gosto
de homem que cheira mal e de homem que bate na
Olha, essa vida tá ficando cada dia mais difícil. gente. Daí eu boto pra correr. Ou ele ou eu. Tô ligada,
Se ao menos me dessem um trampo de caixa num amiga.
supermercado, mas ah... eu não ia aguentar aquele
tédio. A exploração também existe ali e nem é Tenho medo de homem, não. Sabe do que tenho medo?
divertido. Trampo decente, trampo decente... trampo De ficar velha e ninguém mais me querer. Hoje eu
decente as minhas bolas, que eu nem tenho! Ah ah ah! tenho o corpo em cima, sou gostosona. Pega aqui nos
meus peitos, ó. Não te dá vontade, não, viado? Até
você fica a fim, não é? Sou gostosa pacas, meu! Ah
[Pausa para o pó] ah ah! Mas e depois? Depois é só o fim do mundo...
preferia morrer. Mas não na mão de homem.
Porque a gente se diverte com alguns carinhas, pelo Homem tem é que penar com mulher. Tem que ser tudo
menos, né? Eu me mato de rir, por dentro, quando corno. Por que eles corneiam mesmo, né? Tirando um
vem menino que nem sabe fazer as coisas direito. Mas ou outro...
eles têm que aprender, né? Até curto ensinar. Seria
uma boa professora, ó. Dar aula de educação sexual Faz outra carreira aí pra mim, vai. Tem pena de mim.
pra pivetada... ah ah ah! Ia dar muito. Você não? Ei, Não vê que eu tô morrendo?
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34. 3. A MOÇA NO APARTAMENTO Mulher em casa de suruba. Que sabe gozar.
Mulher que nunca goza.
Eu, neste apartamento, meu cubículo suburbano,
Mulher com juízo, mulher louca.
neste domingo chuvoso e de folga. Isolada, da janela
vi torrentes de água na rua intransitável. Nada que Mulher nascendo.
possa fazer. Sozinha hoje, anseio meu amor. Na Florescendo.
impossibilidade, devaneio. Morrendo.
Entre essas duas mulheres que vêm de assalto à Eu, mulher.
minha mente, há tantas outras:
Mulher mãe, mulher esposa. Escrevo sem pausas e tenho pavor. Compaixão. Amor.
E sou, tão somente, mulher como tantas, inserida
Mulher com medo. Mulher que trabalha feito homem. Que entre rótulos do que é ser mulher, assumindo meu
trabalha mais que homem. Que nada faz: só cara de paisagem.
papel de jovem e modesta jornalista, meu não rosto.
Mulher com corpo sarado, mulher relaxada. Com minhas unhas, arranho a superfície do mistério
dessas mulheres. Meu mistério, também. De tudo, sei
Mulher rainha. Princesa, sonhadora. Realista. Pessimista. que existo e tenho o dom de fazer existir.
Mulher que canta. Que escreve. Mulher poeta. Da minha simplicidade e limitação, recrio dois perfis de
mulheres. Admiro-as e sou capaz de amá-las. Invejo-
Mulher quase santa, quase puta.
Mulher na cama, no fogão. as. Estou no subúrbio de seu exercício de ser em cada
linha, incapaz de consolar o Cristo e da valentia da
Mulher que sai do subúrbio para o centro. que não tem salvação.
elis::subúrbio 34
35. Desespero-me com esta chuva, a imobilidade que
ela traz. Minha mente viaja enquanto meu corpo fica
imóvel, depositado na cadeira frente à escrivaninha
do meu quarto pouco iluminado por opção. Enlouqueço
de existir e criar. Você, que está tão longe agora,
pode me dar sua mão? Ajuda-me, meu homem, meu
amor, a ser mais mulher?
elis::subúrbio 35
36. créditos
Ani Almeida é comunicóloga e poetisa com pretensões de escritora
iniciante. É também a idealizadora e editora da Revista Elis.
anialmeida@gmail.com
Tammy Almeida é arquiteta e sonhadora
::participação especial::
Fernanda Nocam é Atriz, psicóloga clínica, doutora em saúde mental.
fnocam@gmail.com
Pinapoly, um livro virtual de:
Adriana Azenha e Renata Polydoro
http://www.youblisher.com/p/152094-Pinapoly-Gestos-e-Palavreados/
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37. créditos
autores desta edição
Ariadne Louca é Francisco Ferreira Florisbela é Guilherme C. Antunes
Poeta e contista do interior de Minas Gerais, alguns prêmios literários, Sommelier de groselha, alvissareiro, poeta e farsante. Sinestésico e
umas participações em antologias e dois ou três livros em compasso de musical. Buscador, contraditório, intenso. Vasto...
espera para serem publicados. www.arkhipelago.blogspot.com | guglicardoso@gmail.com
francisco.ferreira68@hotmail.com
Creuza é Adriana Azenha Magnólia Reis é Ani Almeida
Atriz, dramaturga e diretora de teatro. Autora dos espetáculos: A Bomba Poetisa paulista com pretensões de escritora iniciante, tem mil textos
Anatômica, Jejum-no suor do teu rosto comerás o teu pão torradinho, começados. Publicou, independente e artesanal, Uma Simples Coletânea a
A Mãe d'Ele, Lavadeiras da Memória, Garden Now e O Miolo da Missiva. É Uma Pessoa Rara em 2009, além de colaborações com algumas Revistas
diretora da Cia Azenha de Teatro, onde desenvolve projetos de pesquisa Literárias.
de linguagem cênica em caráter permanente. www.lunaticapoesia.blogspot.com | anialmeida.rp@gmail.com
www.azenhadeteatro.com.br | adrianaazenha@bol.com.br
Dona Maria é Daniele Souza Freitas Maria Maria é Cláudia de Andrade Aurelio Curcio
Natural de Criciúma, Santa Catarina. Formada em Letras, Daniele é 31 anos, é natural da cidade de Esteio/RS. Escrevendo a mais de uma década
professora de Língua Potuguesa. Conquistou vários prêmios literários, tem algumas premiações em concursos literários. Formou-se em Letras em
dentre eles o terceiro lugar no TOC 140 - poesia no twitter organizado 2004. Em 2001 cursou Oficina de Criação Literária com Luiz Antonio de
pela FLIPORTO. Interessada na área da literatura digital desenvolveu um Assis Brasil. Atualmente participa do grupo Reinações, coordenado pelo
estudo monográfico sobre Twitteratura e participou da organização dos escritor Caio Ritter.
primeiros saraus literários no twitter. www.claudiacurcio.com.br | claudia.curcio@ig.com.br
www.imaginacaoemacao.blogspot.com | dani.s.freitas@gmail.com
Dorida Flor é Leonardo Valesi Valente Munique Duarte é Munique Alvim Duarte
Poeta, terapeuta de formação, dedica-se ao postulado da ausência - seu Nasceu e vive em Santos Dumont-MG. É jornalista responsável pelas
meio de produção de linguagem e estética perante o vazio da vida, esse tão publicações de quatro sindicatos em Juiz de Fora-MG. Já colaborou n'O
intransponível de se dizer. Radicado em Montes Claros / MG. Organizador BULE, Sobrecapa Literal, Escrita Criativa (Portugal), Revista Diversos
do Coletivo Revolucionário. Afins, Jornal Opção e Jornal Relevo.
www.lioh.arteblog.com.br | leovalentebh@yahoo.com.br www.textosimperdoaveis.blogspot.com | muniqued@bol.com.br
elis::subúrbio 37
38. créditos
autores desta edição imagens
Valeska Aguiar é glohlopes (assim mesmo, em minúsculas) ::capa::Sem título da série Subúrbio
Nasceu em Guaratinguetá-SP. Passou a vida se escondendo pelo mundo. Bruno Veiga::foto
Há sete anos aderiu à Aldeia Global e fixou residência em São Paulo. É
psicóloga não praticante, empresária falida, artista amadora. Viciada em ::09::Senhora Cobalte
internet, freecell e balas de hortelã. Detesta filmes de terror, violência e Celine Michel::pintura
a nova reforma ortográfica.
www.glohlopes.com | glohlopes@glohlopes.com ::12::Sem título, in: Série PROCURA-SE: Boa Dona de Casa
Jussara Romão::desenho
Virgínia Z. é Rafael Zen ::15::Lembrança de pai e mãe
Publicitário, participa de projetos nas áreas da literatura, dança, artes Hélder Oliveira::pintura
visuais e fotografia. Os poemas aqui publicados são inéditos e pertencem
a um projeto intitulado "Não deixamos sementes". ::16::Periférica, in: Pinapoly
www.rafikizen.blogspot.com | rafikizen@hotmail.com Renata Polydoro::ilustração
Weronika Kieslowski é Alessandro de Paula ::19::A Prostituta
Prosador e poeta paulistano, Alessandro de Paula é o cara por trás (opa!) Fao Carreira::desenho
de Weronika Kieslowski. Admirador de cinema europeu, razão pela qual o
pseudônimo lhe pareceu natural. Aos 38 anos, sobrevive de revisar textos ::22::Sem título, in Releituras das Lavadeiras de Mário Zanini
para editoras e agências de marketing. Como poeta, lançou o livro Palavra Ialê Cardoso::desenho
Atômica (2003), esgotado, e faz parte do Coletivo Revolucionário, grupo
que promove saraus de poesia no Twitter. ::24::A Lavadeira
www.coletivorevolucionario.blogspot.com Gabriel Antônio Serpa de Magalhães::xilogravura
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::28::Sem título
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Autoria desconhecida::desenho
::29::Noiva Neurótica
Renata Cabral::escultura
::36::SUBÚRBIO 2
André de Miranda::xilogravura
elis::subúrbio 38