O documento discute o mercado de bois no Brasil em 2010-2011. Fatores como crescimento econômico, inflação e custos elevados influenciaram os preços. Os preços da arroba bateram recordes em 2010, beneficiando produtores. No entanto, terminadores enfrentaram altos custos de reposição. A mão-de-obra tornou-se a segunda maior despesa dos pecuaristas.
Mercado do boi em 2010: crescimento, inflação e custos definem negócios
1. Ano 3 - Edição 18
Janeiro/fevereiro 2011
CRESCIMENTO ECONÔMICO, AUMENTO
DA INFLAÇÃO E ALTA DOS CUSTOS
DEFINEM O MERCADO DO BOI
O volume de negócios efetivos do boi É importante destacar que esta forma de referência para os
gordo comercializados no mercado fu- comercialização tem a intenção de redu- acertos financeiros das
turo, em 2010, pela BM&F (Bolsa de zir os riscos da atividade para o produtor, posições de compra e
Mercadorias e Futuros), atingiu 201.738 tomando como base as informações do de venda, dos dias 18
contratos, em 2010. Apenas para ven- mercado, como o aumento da inflação, ou 19 de janeiro, para
cimentos em maio do ano passado, o crescimento econômico e preços dos in- fechamento nos meses de
total de contratos efetivos chegou a sumos. Assim, conhecendo o seu custo janeiro, maio e outubro. Na
11.052, alcançando a soma de 83.639 de produção, o pecuarista poderá definir seqüência, a tabela 2 localiza os
em outubro. Para 2011, o valor foi de qual será o seu lucro e não ficará à mercê valores médios mensais do mercado
10.562 contratos até 11 de janeiro, com das instabilidades do mercado. físico em São Paulo (à vista NPR) e a tabela 3,
estimativas de 98 para maio e de 122 Mostramos na tabela 1 os preços que, mostra a variação entre os preços encontra-
para outubro deste ano. ao final de um dia de negociações, será dos no mercado físico e o futuro.
TABELA 1: PREÇOS DE AJUSTES DOS DIAS 18 OU 19 DE JANEIRO PARA FECHAMENTO
NOS MESES DE JANEIRO, MAIO E NOVEMBRO
Mercado Futuro - Ajustes
18/01/2008 19/01/2009 18/01/2010 18/01/2011
Janeiro (F) R$ 74,24 R$ 80,81 R$ 75,09 R$ 101,85
Maio (K) R$ 67,69 R$ 76,39 R$ 74,00 R$ 93,30
Outubro (V) R$ 74,05 R$ 81,00 R$ 79,49 R$ 99,97
TABELA 2: PREÇOS MÉDIOS MENSAIS DO MERCADO FÍSICO EM SÃO PAULO (À VISTA NPR)
Mercado Físico - Média mensal do Estado de São Paulo (à vista NPR)
2008 2009 2010 2011 (até dia 11/01)
Janeiro (F) R$ 73,65 R$ 82,53 R$ 74,58 R$ 102,88
Maio (K) R$ 78,94 R$ 77,40 R$ 79,57 –
Outubro (V) R$ 90,31 R$ 76,26 R$ 97,83 –
TABELA 3: VARIAÇÃO ENTRE OS VALORES DO MERCADO FÍSICO E O MERCADO FUTURO
Variação Mercado Físico/Mercado Futuro
2008 2009 2010 2011
Janeiro (F) -079% 2,13% -0,69% 1,01%
Maio (K) 16,62% 1,32% 7,53% –
Outubro (V) 21,96% -5,85% 23,07% –
Fonte: Cepea/BM&F
2. CRESCIMENTO ECONÔMICO E
AUMENTO DE PREÇOS EM 2010
A comparação entre as variações dos Preços ao Consumidor Amplo) ficará para os confinamentos ainda estão em
valores do mercado físico com o futuro, em 5,53%. Por esse motivo, o gover- patamares elevados, assim como os
nos anos de 2008 a 2010, mostra que no federal já está implantando metas preços do milho e da soja, o que pode-
foi mais interessante utilizar o merca- para frear a inflação, com o aumento rá reduzir a oferta por meio do sistema
do futuro em outubro de 2009. Hou- dos juros, na tentativa de conter a de- de produção.
ve redução do consumo interno e das manda. Porém, a projeção para cresci- A relação entre os preços de 2010
exportações devido à crise econômica, mento do PIB, estimada pelo FMI (Fun- e 2011, no mercado físico, também
principalmente no segundo semestre de do Monetário Internacional), está em é um indicativo de como estarão os
2009, o que provocou redução nos pre- 4,5%. Se confirmada, o consumo ain- preços para os próximos trimestres,
ços da carne. Os anos de 2008 e 2010 da deverá ser maior que 2010, mesmo como demonstra a tabela 4.
foram muito semelhantes, de cresci- com as medidas do governo. Os anos que iniciam com altos valo-
mento econômico e aumento dos pre- Outros fatores importantes a conside- res têm dificuldade em manter estes
ços. Conseqüentemente, a expectativa rar é a recuperação da economia de al- preços ao longo do ano. A diferença
de preços era menor em janeiro, perío- guns países, que pode contribuir para nos preços de janeiro, entre 2010 e
do de efetivação do contrato. o aumento das exportações. Para suprir 2011, teve uma grande variação em
Segundo o Banco Central, em 2011, a esta demanda, a oferta precisará cres- relação aos outros anos, de pratica-
meta projetada para o IPCA (Índice de cer. No entanto, os preços de reposição mente 38%.
TABELA 4: COMPARATIVO ENTRE O ANO ATUAL E O ANO ANTERIOR DOS PREÇOS DE
AJUSTES DOS DIAS 18 OU 19 DE JANEIRO PARA FECHAMENTO NOS MESES DE
JANEIRO, MAIO E OUTUBRO.
Mercado Físico Ano atual em relação ao ano anterior
2009/2008 2010/2009 2011/2010
Janeiro (F) 12,06% -9,64% 37,96%
Maio (K) -1,96% 2,81% –
Outubro (V) -15,56% 28,28% –
Fonte: Cepea/CNA
3. ARROBA DO BOI BATEU RECORDES DE PREÇOS NO ANO
Diversos fatores influenciaram o merca- Os preços da arroba começaram a subir a das pastagens a partir de junho e o baixo
do pecuário ao longo do ano de 2010. A partir de março, em São Paulo. Porém, em volume de vendas do boi gordo, à espera
arroba do boi bateu recordes de preços, abril, houve pequena queda nos valores, de melhores preços, também foram fatores
gerando um bom cenário ao produtor. retomando o ritmo de alta de maio ao final para a baixa comercialização do bezerro.
O bezerro também esteve muito valori- de outubro. Os preços novamente tiveram Durante o segundo semestre, as comercia-
zado, beneficiando o criador, apesar do redução em novembro, devido às vendas lizações continuaram em ritmo lento, com
pequeno volume de negócios decorrente pontuais de alguns pecuaristas e a redução escassez de boi no mercado. Diante da
dos altos preços. O elevado custo da re- do consumo provocada pelos elevados pre- dificuldade de compra, os frigoríficos bus-
posição afetou, porém, os terminadores. ços da carne no varejo, além do fechamen- caram animais para abate fora da região
Apesar da grande quantidade de animais to temporário de algumas plantas frigorí- de compra tradicional. A partir de agosto,
prontos para abate no início do ano, hou- ficas e a diminuição das escalas de abate. quando a falta de animais começou a preo-
ve pequeno volume de negócios. Produ- Quanto ao mercado de reposição, 2010 cupar, os compradores passaram a remune-
tores aproveitaram as boas condições das iniciou com baixo volume de negócios. A rar o produtor à vista ou com menor prazo,
pastagens para segurar o gado e esperar partir de março, no entanto, começou a e com os valores da arroba para 30 dias.
por melhores preços. A retenção de ani- melhorar, devido à expectativa de eleva- As maiores altas de preço, tanto da arroba
mais no pasto ocorreu, também, pela rela- dos preços da arroba. Apesar da resistência quanto da carcaça casada, ocorreram em
ção desfavorável de troca entre o bezerro para aquisição de animais de reposição, o outubro, quebrando recordes da série histó-
e a arroba, segundo alguns colaboradores elevado preço do bezerro animou os cria- rica dia após dia, atingindo valorização da ar-
do CEPEA (Centro de Estudos Avançados dores durante grande parte do ano. Um roba de 20,23%, no acumulado deste mês.
em Economia Aplicada). Assim, mesmo dos motivos para a alta do valor do animal O alto preço da carne bovina abriu espaços
com a queda de temperatura em maio e de reposição foi o baixo volume de oferta para os mercados de frango e suíno, ocor-
a piora significativa das pastagens a partir ocasionado pelo excessivo abate de vacas rendo valorizações de 43,8% para o frango
de junho, a oferta se manteve restrita. em anos anteriores. A péssima condição congelado e de 18,8% para a carcaça suína.
RELAÇÃO ENTRE OS PREÇOS MÉDIOS MENSAIS DEFLACIONADOS DO
INDICADOR DO BOI ESALQ/BM&F E DA CARCAÇA CASADA
(JANEIRO/2004 E DEZEMBRO DE 2010)
R$ 120,00 R$ 7,50/kg
R$ 110,00 R$ 7,00/kg
R$ 100,00 R$ 6,50/kg
R$ 90,00 R$ 6,00/kg
R$ 80,00 R$ 5,50/kg
R$ 70,00 R$ 5,00/kg
R$ 60,00 R$ 4,50/kg
R$ 50,00 R$ 4,00/kg
R$ 40,00 R$ 3,50/kg
jan/04
mai/04
set/04
jan/05
mai/05
set/05
jan/06
mai/06
set/06
jan/07
mai/07
set/07
jan/08
mai/08
set/08
jan/09
mai/09
set/09
jan/10
mai/10
set/10
Indicador Esalq/BM&F Carcaça Casada
Fonte: Cepea/CNA/BM&F
4. CUSTO COM MÃO-DE-OBRA É
O SEGUNDO MAIOR GASTO DO PECUARISTA
Os maiores gastos do pecuarista sempre 2009, lidera as despesas do pecuarista,
foram com reposição de animais, suple- devido principalmente ao aumento dos
mentação mineral e mão-de-obra, não preços do bezerro e à queda nos valores
necessariamente nesta ordem, se consi- de sal mineral após a crise em 2009. O
derada a média dos 10 Estados pesqui- problema pode se agravar para produto-
sados (Goiás, Minas Gerais, Mato Gros- res que fazem recria ou recria-engorda.
so do Sul, Mato Grosso, Pará, Paraná, Quanto a mão-de-obra, os reajustes
Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo são anuais e independem de produção,
e Tocantins). Entre estes insumos, a des- pois estão vinculados a fatores políti-
pesa com mão-de-obra ganhou impor- cos, já que a maior parte dos produ-
tância, pois cresce anualmente. tores paga o salário vinculado ao míni-
Os gastos do produtor variam de acordo mo federal ou estadual. Em janeiro de
com os aumentos de preços ou queda nos 2004, o gasto do pecuarista com con-
valores dos insumos, a exceção da mão-de- tratação de funcionário e serviços ter-
-obra, que tem aumento anual. O aumen- ceirizados era de 15,63%, índice que
to do preço do sal mineral em 2008 é um subiu para 22,65% em dezembro de
bom exemplo, ocasionado pela elevação 2010, ocupando o segundo lugar en-
do preço do fosfato bicálcico no mercado tre as despesas para produzir boi. No
internacional. O gasto com suplementação Rio Grande do Sul, onde o salário mí-
chegou a 28,76% do COT (Custo Opera- nimo estadual é maior que o federal,
cional Total), em setembro de 2008. a despesa com mão-de-obra chegou a
A reposição de animais é outra grande 24,44% do total das despesas do pecu-
preocupação do produtor. Desde abril de arista em dezembro de 2010.
GASTOS COM SUPLEMENTAÇÃO MINERAL, COMPRA DE ANIMAIS E
MÃO-DE-OBRA - MÉDIA BRASIL DESDE 2004
31,00%
29,00%
27,00%
25,00%
23,00%
21,00%
19,00%
17,00%
15,00%
jan/04
abr/04
jul/04
out/04
jan/05
abr/05
jul/05
out/05
jan/06
abr/06
jul/06
out/06
jan/07
abr/07
jul/07
out/07
jan/08
abr/08
jul/08
out/08
jan/09
abr/09
jul/09
out/09
jan/10
abr/10
jul/10
out/10
Suplementação Mineral Mão-de-Obra Compra de Animais
Fonte: Cepea/CNA
5. PRODUTOR RECUPERA MARGEM COM
ALTA DA ARROBA
Os custos de produção subiram em todos econômico, com exceção de dezembro. a arroba do boi também apresentou au-
os meses de 2010, um ano de crescimento Mas, assim como os gastos do pecuarista, mentos, recuperando em parte a mar-
gem do produtor. Embora a evolução
VARIAÇÕES DOS PREÇOS DOS PRINCIPAIS INSUMOS DA dos custos tenha acompanhado a alta
PECUÁRIA DE CORTEMÉDIA PONDERADA PARA GO, MT, nos preços da arroba, não foi na mesma
MS, PA, RO, RS, MG, PR, TO E SP proporção. A alta no COT (Custo Opera-
cional Total) foi de 20,9%, no acumulado
Ponderação COT Variação acumulada
de janeiro a dezembro. Na série histórica
dezembro/10 jan/10 - dez/10 dezembro/10
de 2004 a 2010, não superou apenas
Bezerro e outros animais de reprodução 28,39% 19,66% -1,58%
2008, cuja alta foi de 33,2%.
Suplementação Mineral 21,22% 14,42% 0,85%
As sementes forrageiras contribuíram
Adubos e Corretivos 4,97% 16,79% 1,33%
para a elevação das despesas devido ao
Sementes Forrageiras 2,33% 37,51% 0,00%
grande volume de chuvas no período de
Máquinas Agrícolas 3,99% 1,24% 0,01%
plantio e colheita, que ocasionaram uma
Implementos Agrícolas 2,48% 24,99% 1,67%
quebra na safra do insumo. Houve falta
Defensivos Agrícolas 0,12% -5,46% 0,77%
de produto no mercado, o que impulsio-
Medicamentos - Vacinas 1,43% 21,08% 0,25%
nou os preços. Seguem, com maior alta
Medicamentos - Controle Parasitário 0,85% 8,64% 0,89%
no acumulado do ano, os implementos
Medicamentos em geral 0,40% 2,35% 0,00%
agrícolas e as vacinas. A elevação nos
Insumos para reprodução animal 0,14% -2,86% 2,77%
preços do bezerro também impulsio-
Mão de Obra 22,65% 9,68% 0,00%
nou os gastos dos produtores de recria,
Construções Civil 6,09% 7,10% 0,00%
recria-engorda e confinamento. Em rela-
Brinco de Identificação 0,02% 3,38% 0,45%
ção aos Estados pesquisados, Goiás teve
Outros (Energia, Administrativos, Utilitário) 4,92%
o maior aumento do COT, seguido por
Fonte: Cepea/CNA
Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.
VARIAÇÃO MENSAL E ACUMULADA
COE (1) COT (2) Boi Gordo R$/@ Ponderações
Estados dezembro/10 jan/10 - dez/10 dezembro/10 jan/10 - dez/10 dezembro/10 jan/10 - dez/10
Goiás -1,13% 23,87% -0,87% 26,58% -9,91% 34,55% 15,0%
Minas Gerais -1,06% 19,33% -0,78% 17,05% -8,68% 36,08% 14,6%
Mato Grosso 0,38% 25,57% 0,26% 22,77% -7,71% 33,90% 14,6%
Mato Grosso do Sul -2,52% 25,53% -1,45% 24,45% -7,72% 37,30% 12,7%
Pará -2,18% 18,55% -2,04% 16,18% -7,14% 42,39% 9,8%
Paraná 0,62% 25,66% -0,10% 21,72% -5,31% 33,64% 8,2%
Rio Grande do Sul 0,02% 18,52% 0,06% 15,48% 3,79% 27,85% 7,7%
Rondônia 0,50% 23,03% 0,56% 20,80% -6,22% 35,06% 6,7%
São Paulo -0,22% 12,99% -0,32% 12,16% -7,19% 38,58% 6,2%
Tocantins 0,27% 22,80% 0,08% 20,61% -7,51% 31,39% 4,5%
Brasil* -1,28% 21,89% -1,07% 20,90% -7,19% 40,40% 100,0%
* Referente a 79,22% do rebanho nacional segundo o Rebanho Efetivo Bovino PPM / IBGE 2008. 1 - Custo Operacional Efetivo (COE)
Fonte: Cepea/USP-CNA – Fonte: Cepea/CNA 2 - Custo Operacional Total (COT)
ATIVOS DA PECUÁRIA DECORTE é um boletim
mensal elaborado pela Superintendência
Técnica da CNA e Centro de Estudos SGAN - Quadra 601 - Módulo K
70.830-903 Brasília - DF
Avançados em Economia Aplicada - Cepea/ Fone (61) 2109-1458 Fax (61) 2109-1490
Esalq - da Universidade de São Paulo. CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM
ECONOMIA.APLICADA.-. ESALQ/USP E-mail: cna.sut@cna.org.br
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