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PAULO CESAR DE AQUINO SOARES:
Uma Trajetória de Vida!
2
FICHA TÉCNICA
PUC-RJ
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO TECNOLOGIAS EM EDUCAÇÃO
INCLUSÃO E TECNOLOGIAS ASSISTIVAS
SEMINÁRIO VIRTUAL
TEMA:
Tetraplegia com Cognição Normal
Grupo:
Turma 1 - Grupo C – Colaboratividade
Tutora:
Ana Beatriz Carvalho Pereira
Elaboradores:
Andréa Amaral Franco Pinto
Gisele Rodrigues Martins
Herold Torres Junior
Julio Ramalho de Souza
Rodrigo Santos Pereira
3
SUMÁRIO
1. Contextualização .................................................................................... 05
[PARA CONHECER EM QUE CONTEXTO ESTE TRABALHO ESTÁ INSERIDO]
2. Mensagem de Apresentação no Fórum .................................... 06
[PARA CONHECER A MENSAGEM INICIAL DO FÓRUM QUE APRESENTA ESTE TRABALHO E CONVIDA TODOS À PARTICIPAÇÃO]
3. Quem sou eu? .................................................................................... 07
[PARA CONHECER O PERFIL DE PAULO CESAR DE AQUINO SOARES]
4. Meus recursos: família, reabilitação e tecnologia .................................... 09
[PARA CONHECER OS RECURSOS QUE POSSIBILITARAM A OBTENÇÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL]
Família .............................................................................................. 09
Reabilitação .................................................................................. 10
Tecnologia .................................................................................. 12
4
5. Minha trajetória no Curso de Qualificação Profissional ........................ 13
[PARA CONHECER AS ESPECIFICADES RELATIVAS À FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE PAULO CESAR DE AQUINO SOARES]
O Início .................................................................................. 13
As Questões da Acessibilidade ............................................................ 13
O Conforto e o Transporte de Pessoas em Cadeira de Rodas ........... 15
A Cadeira de Rodas Acionada por Controle de Voz ...................... 16
O Uso do Computador ..................................................................... 17
Relacionamento Interpessoal .......................................................... 19
O Perfil Profissional do Curso e a Adaptação Curricular...................... 20
Interação Família e Escola ......................................................... 24
6. Minha vida hoje ................................................................................... 25
[PARA CONHECER A VIDA DE PAULO CESAR DE AQUINO SOARES EM 2013]
5
1. CONTEXTUALIZAÇÃO
Os elaboradores deste trabalho são colaboradores do Sistema Firjan na área de Educação
(Básica e Profissional) e atuam como Interlocutores de Tecnologias Educacionais nas Escolas do
SESI-RJ e SENAI-RJ como uma das funções do cargo exercido por cada um (coordenador de
projetos educacionais, analista em educação, analista técnico em educação e técnico em
educação).
Como iniciativa da Firjan foi oferecido aos Interlocutores de Tecnologias Educacionais a
possibilidade de aprimorar seus conhecimentos realizando uma Pós-graduação. Para tal foi
feita uma parceria com a PUC-RJ – CCEAD (Coordenadoria Central de Educação a Distância)
para oferta do Curso de Especialização Tecnologias em Educação.
Este trabalho é parte integrante da Disciplina “Inclusão e Tecnologias Assistivas” e consiste
num “Seminário Virtual” onde a turma foi dividida em grupos e cada grupo pesquisou um
tema, elaborou materiais e postou num “Fórum de Apresentação” para compartilhamento e
colaboração de toda a turma.
[PARA RETORNAR AO SUMÁRIO]
6
2. MENSAGEM DE APRESENTAÇÃO NO FÓRUM
Caros Companheiros,
O Grupo “Colaboratividade” pesquisou e elaborou materiais sobre a tetraplegia com cognição
normal, optando por narrar um caso na voz do próprio aluno tetraplégico (fictício). Para tal
foram utilizados os seguintes recursos:
1) Elaboração do Perfil do Aluno:
Criação de perfil no Facebook (aluno fictício) com interação dos membros do “Grupo
Colaboratividade”.
2) Descrição da Inclusão Escolar:
Criação de um diário, em formato de flipbook, escrito pelo próprio aluno (fictício), narrando
sua trajetória no Curso de Qualificação em Auxiliar Administrativo realizado no SENAI Nova
Iguaçu no ano de 2010.
Esperamos que este trabalho garanta um conhecimento à respeito do processo escolar de um
aluno com tetraplegia, suas possibilidades e limites, vistos nos aspectos técnicos, mas
especialmente, na ótica do ser humano que se define para muito além de sua deficiência.
“A verdadeira deficiência está no abandono dos sonhos, da vontade de viver, do
descaso ao próximo. A deficiência é aquilo que te prende por dentro, que engessa sua
alma, sua fé, pois ainda que incapacitados de andar, todos somos livres para sonhar,
para amar, para ajudar o próximo com uma palavra de afeto, um sorriso... somos livres
para voar nas asas da nossa imaginação!”
Marciah Pereira
[PARA RETORNAR AO SUMÁRIO]
7
3. QUEM SOU EU?
Sou Paulo Cesar de Aquino Soares, tenho 21 anos, sou tetraplégico, trabalho como Auxiliar
Administrativo em uma grande empresa e tenho muito orgulho da minha trajetória de luta e
sucesso.
Em 2006, quando tinha 14 anos, viajei para a casa de minha avó no interior do Rio de Janeiro.
Durante um passeio com meus primos, resolvi banhar-me em um rio e,como todo menino da
minha idade, achava que podia tudo. Mergulhei de cabeça no rio sem avaliar corretamente a
profundidade. A água era mais rasa do que eu imaginava, o que fez com que me chocasse
diretamente com uma pedra. Sofri fratura na coluna cervical, mais especificamente, entre a C4
e a C5.
O acidente ocasionou a perda total dos movimentos do pescoço para baixo. Fiquei internado
durante três meses e, desde que saí o hospital, utilizo de cadeira de rodas para me locomover
e faço uso de sonda para as necessidades fisiológicas. Os movimentos de cabeça ficaram
preservados, assim como, minha capacidade cognitiva, o que possibilitou com que eu
continuasse os estudos, após a fase inicial de adaptação.
“Segundo dados do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o mergulho em água rasa é a quarta
causa de lesão medular no Brasil. E em época de verão, o acidente ocupa a segunda maior
incidência do país. Para se ter uma ideia deste número, a cada semana, cerca de dez pessoas
ficam paraplégicas ou tetraplégicas ao bater a cabeça em mergulhos. A incidência é de 60,9%
dos casos.
Com relação ao perfil das vítimas, uma pesquisa realizada pela Rede Sarah mostrou que o
predomínio é de pacientes do sexo masculino e na maioria adolescentes e adultos jovens. O
Local de maior incidência é o rio, onde ocorre cerca de 43,5% dos casos.”
http://portal.rac.com.br/blog/blog_post.php?post_id=34613&blog_id=/32
Acessado em 02/05/2013.
“Para se ter uma ideia, a cada
semana, cerca de dez pessoas
ficam tetraplégicas ao bater a
cabeça em mergulhos. A
incidência é de 60,9% dos
casos. As vítimas são na
maioria adolescentes e adultos
do sexo masculino. Em 44%
dos casos, os acidentes
ocorrem em rios.”
http://www.blogdoguilhermebara.com.b
r/mergulho-em-agua-rasa
Acessado em 02/05/2013.
http://www.copacabanarunners.net/coluna-
cervical.html
Acessado em 02/05/2013.
“Qualquer lesão na medula espinhal acima dos
segmentos da coluna cervical C3, C4 e C5
pode interromper a respiração. Pessoas com
essas lesões precisam de suporte respiratório
imediato. Quando a lesão está no segmento
C5 da coluna cervical e abaixo, a função do
diafragma é preservada, porém a respiração
tende a ser rápida e a pessoa tem problema
para tossir e limpar secreções dos pulmões por
causa da fraqueza dos músculos torácicos.
Uma vez que a função pulmonar melhora, uma
grande percentagem das pessoas com lesão
no segmento C4 da coluna cervical podem se
livrar da respiração mecânica nas semanas
posteriores à lesão”.
8
Após o processo de adaptação, que durou o restante do ano de 2006, meus pais, apesar da
origem humilde, fizeram questão de me incentivar a continuar com os estudos e não
mediram esforços para tal.
Não foi nada fácil, sempre acompanhado por minha mãe, iniciei o Ensino Médio em 2007
em escola pública estadual do Rio de Janeiro.
Após os três anos de Ensino Médio decidi que queria ter uma profissão. Comecei a questionar-
me sobre o que gostaria de fazer e iniciei uma pesquisa de atividades profissionais que eu
poderia fazer.
Percebi diversas barreiras nesta busca, em 2010 optei por procurar o SENAI no Município em
que resido, Nova Iguaçu, na tentativa de obter orientação para ingresso num curso
profissionalizante.
Participamos, eu e minha mãe, de uma Reunião de Informação Profissional (RIP), feita com
todos os alunos que ingressam no SENAI. Juntos, escola e eu, chegamos a conclusão de que
um curso na área de Gestão seria mais interessante e adequado aos meus anseios do aluno. O
curso escolhido foi o Auxiliar Administrativo na modalidade Qualificação Profissional.
É a história da minha profissionalização que passo a narrar aqui. Toda a trajetória que me
levou a ter uma vida produtiva a partir do meu olhar, entretanto incluindo minha família e a
escola em que me formei Auxiliar Administrativo.
[PARA RETORNAR AO SUMÁRIO]
Sou sociável, alegre, batalhador, e
não me dobro fácil frente a um
desafio.
Passei e ainda passo por momentos
difíceis, mas quem não passa?
Luto a cada dia por mais
independência, estabeleço um
objetivo de cada vez e me dedico à
9
4. MEUS RECURSOS: FAMÍLIA, REABILITAÇÃO E TECNOLOGIA
Jamais chegaria sozinho aonde cheguei, tive três fortes aliados para atingir meus objetivos:
MinhaFAMÍLIA ,
a possibilidade de realizar uma REABILITAÇÃO de qualidade e
o acesso à .TECNOLOGIA.
Família
Moro com meuspais, com um irmão mais novo (19 anos) que é estudante e uma irmã mais
velha (24 anos) que trabalha como Auxiliar Administrativa. Meu pai é operário em uma
indústria. Minha mãe se dedica ao lar e aos filhos e faz doces para fora.
A renda da minha família é suficiente para uma vida modesta, mas digna. Todos nós (os filhos)
pudemos estudar em escolas públicas e trabalhar somente após a conclusão do Ensino Médio.
Sou atendido pelo sistema público de saúde desde que sofri o acidente.
Nossa casa teve de passar por algumas adaptações internas para facilitar minha vida, mas é
uma casa de vila, o que me dá dando mobilidade.
Minha família é bem estruturada o que permite o apoio às minhas necessidades. Minha mãe
cuida mais diretamente de mim e meu irmão mais novo, por ter maior disponibilidade de
tempo, participa ativamente dos cuidados comigo. Meu pai e minha irmã mais velha
participam na medida de suas disponibilidades, ela foi a grande incentivadora para que eu não
desistisse de estudar e tivesse uma carreira.
10
Reabilitação
A reabilitação é uma das minhas grandes “tarefas”, exigindo não só meu esforço pessoal, mas
também de toda minha família, especialmente no que diz respeito à minha locomoção e,
inicialmente, aos recursos financeiros para a manutenção dos tratamentos e aquisição de
materiais, instrumentos, medicamentos, tecnologias, etc. necessários para que eu tenha uma
melhor qualidade de vida.
Na reabilitação, segundo Gabriela Mader,
Os pais esperam:
Compreensão, consolo, incentivo, momentos para descarregar sentimentos
de culpa, palavras de esperança, pessoas que escutam e pessoas com quem
dividir a responsabilidade.
Os profissionais esperam:
Interesse pelo programa de reabilitação, compreensão, informações
corretas do que é realizado em casa e na escola, otimismo em relação ao
tratamento e cooperação para o alcance dos objetivos.
Em 2007 fui inserido num programa de atendimento especializado ao tetraplégico composto
de atendimento médico, fisioterapia e terapia ocupacional. Onde, as expectativas de todos
(minhas, da minha família e dos terapeutas que me acompanharam / acompanham) vêm
sendo atendidas.
A TERAPIA OCUPACIONAL
A partir da avaliação do nível funcional a terapia ocupacional avalia as potencialidades
e capacidades funcionais do paciente e desenvolve um trabalho para: aumentar a força
dos músculos; aumentar a resistência física; maximizar a independência; explorar as
atividades de lazer e trabalho; auxiliar no ajuste psicossocial; avaliar, recomendar e
treinar no uso dos equipamentos médicos utilizados; garantir a acessibilidade com
segurança e independência; garantir que as atividades de vida diária e as atividades
instrumentais da vida diária sejam reconquistadas.
Atividades da Vida Diária (AVD):
São atividades relacionadas com os seguintes itens:
⋅ Auto cuidado,
⋅ Mobilidade,
11
⋅ Alimentação,
⋅ Higiene pessoal;
⋅ Vestir-se, despir-se, calçar-se.
Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD):
São atividades que permitem a integração de uma pessoa na comunidade, gerir a sua
casa e a sua vida:
⋅ Ir às compras
⋅ Gerir o dinheiro
⋅ Utilizar o telefone
⋅ Limpar
⋅ Cozinhar
⋅ Utilizar transportes
http://www.advita.pt/cuidadoscontinuados/definicao-de-avd-e-aivd
Acessado em 04/05/2013.
Quatro anos após o acidente que me deixou paraplégico (2010), já havia resgatado diversas
funcionalidades. Ocasião em que iniciei minha formação profissional.
Além deste resgate, o fato de ter cursado todo o Ensino Médio já tetraplégico me deu uma
segurança maior para iniciar este novo desafio. Contei com uma escola compromissada com a
minha aprendizagem e consciente e atuante em relação às minhas possibilidades e limites.
A FISIOTERAPIA
A fisioterapia tem importante papel na assistência aguda do paciente visando facilitar
uma transição rápida e eficiente para o processo de reabilitação. Isso pode incluir a
prevenção de deformidades, maximização da função muscular e respiratória e
aquisição de postura em pé (ZIELIG et al, 2000; BROMLEY, 1985).
Quando os pacientes se recuperam dos problemas agudos, são feitos planos de
reabilitação baseados no prognóstico de futuras habilidades funcionais. Para se obter
um serviço eficiente, os programas de reabilitação devem ser baseados na escolha de
metas realistas (MAYNARD et al, 1997).
Os principais objetivos são evitar as complicações, promover independência em termos
de alimentação e ingestão de líquidos, cuidados no vestir e higiene, controle da bexiga
e intestino, sentar e sair da cadeira de rodas e a capacidade de usá-la, retorno às
atividades laborais e se possível retorno da marcha com uso de dispositivos ortóticos
(LIANZA et al, 1993; UMPHERED e SCHINEIDER, 1994).
http://www.ccs.uel.br/espacoparasaude/v5n1/doc/artigo2.htm
Acessado em 04/05/2013.
A fisioterapia é uma atividade constante em minha vida. Este atendimento iniciou-se logo após
o acidente e continua até hoje compareço semanalmente às sessões, apesar das dificuldades
de dirigir-me ao centro de atendimento. Realizo também diversos exercícios em casa auxílio do
meu irmão, a partir das orientações do fisioterapeuta.
12
Tecnologia
Como todos da minha geração sempre fui muito ligado nas tecnologias. Meus pais,
reconhecendo a importância que um computador tem para a formação educacional,
compraram um desktop à prestação e, desde os 14 anos tive contato com o mundo digital.
Hoje, mais do que nunca, as tecnologias são imprescindíveis em minha vida. Estou cercado por
elas, desde minha cadeira de rodas, que hoje (2013) é acionada por controle de voz, aos
softwares que utilizo para acessar e interagir na internet.
Quando fiquei tetraplégico iniciei uma busca por tudo e por todos que pudessem ajudar a
superar minhas dificuldades. Fui encaminhado a profissionais especializados que muito me
auxiliaram nesta busca. Descobri que existe muita coisa para auxiliar o tetraplégico a ter maior
independência e melhor qualidade de vida.
Algumas coisas são simples e baratas ou gratuitas, outras, são caras e mais complexas, porém
conhecendo os caminhos certos é possível ter acesso a cada vez mais recursos, lutar por
direitos, encontrar aliados...
O foco deste “diário” é minha formação profissional, minha trajetória escolar contemplando as
normas de acessibilidade, as adaptações curriculares e as tecnologias assistivas para que fosse
uma trajetória de sucesso.
[PARA RETORNAR AO SUMÁRIO]
Tecnologia Assistivaé uma área do conhecimento, de
característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos,
metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam
promover a funcionalidade, relacionada à atividade e
participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou
mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência,
qualidade de vida e inclusão social.
Ata VII – Comitê de Ajudas Técnicas – CAT
13
5. MINHA TRAJETÓRIA NO CURSO DE QUALIFICAÇÃO PROFSSIONAL
O Início
Definido o curso (Auxiliar Administrativo) começamos todos (eu, minha família, a escola, os
professores) a buscar os recursos necessários para um processo educativo eficiente, eficaz e
efetivo.
Saiba mais emhttp://www.cursosenairio.com.br/
O conhecimento a respeito de minhas deficiências foi feito logo no início da minha vida
escolar, considerando a mobilidade, alimentação e higiene pessoal.Os principais cuidados, que
exigiram orientação da minha família e minha própria, foram direcionados aos professores e
demais alunos.
As Questões da Acessibilidade
Quando cheguei á Escola SENAI de Nova Iguaçu, no início de 2010, começo a ser feito um
levantamento das condições de acessibilidade da escola, para que o ambiente físico pudesse
estar acessível não só a mim, mas a todos que necessitassem.
Este levantamento levou à busca de normas e soluções para acesso à sala de aula,
deslocamento para outros ambientes como auditório, biblioteca, laboratório,etc. Pensou-se na
localização da cadeira de rodas, no meu deslocamento em sala de aula, etc.
O que diz a Legislação?
14
“A necessidade de adaptações razoáveis como um meio de eliminar barreiras, principalmente
nos locais de trabalho, é citada inúmeras vezes no texto da Convenção sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência (CDPcD), adotada em 2006 pela Assembleia Geral da Organização das
Nações Unidas (Brasil, 2007), e que o nosso país ratificou (Brasil, 2008) e promulgou (Brasil,
2009).No artigo 3 da CDPcD tem que ter adaptações razoáveis e tornar acessíveis para as
pessoas com deficiência os ambientes, os equipamentos e as ferramenta de trabalho”.
O Ministério do Trabalho e do Emprego estabelece normas regulamentadoras que foram
pesquisadas e adotadas para garantir segurança e saúde para todos. Especialmente a NR 8 –
Edificações e a NR 17 – Ergonomia.
http://www.mte.gov.br/seg_sau/leg_normas_regulamentadoras.asp
A Lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000, estabelece normas gerais e
critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas
portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, diz que os locais
de aula deverão dispor de espaços reservados para pessoas que utilizam
cadeira de rodas, e de lugares específicos para pessoas com deficiência
auditiva e visual, inclusive acompanhante, de acordo com a ABNT, de
modo a facilitar-lhes as condições de acesso, circulação e comunicação.
Estabelece requisitos técnicos mínimos
que devem ser observados nas
edificações para garantir segurança e
conforto aos que nelas trabalhem.
Visa estabelecer parâmetros que permitam a
adaptação das condições de trabalho às características
psicofisiológicas dos trabalhadores de modo a
proporcionar um máximo de conforto, segurança e
desempenho eficiente.
15
O que foi feito?
Algumas adaptações foram feitas no SENAI Nova Iguaçu para minha chegada, as mais
significativas foram:
⋅ As portas dos ambientes da escola frequentados por mim receberam um sistema de chips
que faz com que sejam abertas sem necessidade de serem tocadas e tiveram sua largura
ampliada para passagem da cadeira de rodas;
⋅ Foram instalados pia e vaso sanitário adaptáveis nos banheiros, mesmo usando sonda, a
escola compreendeu a necessidade desta adaptação;
⋅ Foi construída uma rampa para acesso ao segundo pavimento onde se localiza o auditório
e a biblioteca e
⋅ Foi designada para minha turma uma sala de aula ampla possibilitando a circulação de
minha cadeira de rodas e localizada no primeiro pavimento.
O Conforto e o Transporte de Pessoas em Cadeira de Rodas
Outras questões foram observadas como minha acomodação na postura correta, me foi
orientado o uso de almofadas e faixas para estabilização do tronco. São recursos simples de
adaptações físicas e, muitas vezes, bem eficazes para auxiliar no processo de aprendizagem.
Uma postura correta é vital para um trabalho eficiente na sala de aula e no computador.
De minha parte, tive de orientar / esclarecer aos colegas e professores algumas questões
relativas a estar numa cadeira de rodas:
⋅ Para mim e para qualquer pessoa sentada em cadeira de rodas, é incômodo ficar olhando
para cima por muito tempo. Portanto, é muito importante que a lousa, materiais,
equipamentos, etc. estejam numa altura cômoda para se olhar sentado.
⋅ Numa conversa, com uma pessoa em cadeira de rodas, quando demora mais do que
alguns minutos, é importante que o interlocutor sente-se para que fiquemos com os olhos
no mesmo nível.
16
⋅ A cadeira de rodas (assim como bengala e muleta para quem as usa) é parte do meu
espaço corporal, quase uma extensão do meu corpo. É necessário que todos saibam que
nunca devem movimentarminha cadeira de rodas sem antes me pedir permissão.
⋅ Empurrar uma pessoa em cadeira de rodas não é como empurrar um carrinho de
supermercado. Quando estiver empurrando uma pessoa sentada numa cadeira de rodas, e
quando parar para conversar com alguém, lembre-se de virar a cadeira de frente, para que
eu também possa participar da conversa.
⋅ Ao me empurrar na cadeira de rodas, faça-o com cuidado. Preste atenção para não bater
nas pessoas que caminham na frente. Quando conversarem comigo, lembre-se de que
sentado tenho um ângulo de visão diferente. Se quiser mostrar-me qualquer coisa, abaixe-
se para que eu efetivamente a veja.
A Cadeira de Rodas Acionada por Comando de Voz
Foi surpreendente o envolvimento de toda a equipe pedagógica, dos professores e de meus
colegas na minha adaptação.
Os alunos de outras turmas do SENAI Nova Iguaçu tomaram ciência das minhas dificuldades e
resolveram desenvolver (como Projeto Integrador) uma cadeira de rodas acionada por
comando de voz, que pudesse me auxiliar e a outras pessoas que enfrentam as mesmas
dificuldades.
O Projeto da CADEIRA DE RODAS ACIONADA POR COMANDO DE VOZganhou notoriedade
nacional quando foi apresentado na Olímpiada Nacional de Educação Profissional, em 2010,
tendo sido consagrado vencedor em um concurso de projetos inovadores na categoria voto
popular.
A metodologia utilizada pelo SENAI consiste em uma formação baseada
em competências de acordo, com esta metodologia, o aluno vem
desenvolvendo competências ao longo do curso, estando preparado
para exercer a qualificação ao término do mesmo.
Os alunos desenvolvem, em grupo, um projeto associado à atividade
prática, a fim de comprovar, ao final do curso, a aquisição das
competências correspondentes este momento de culminância deve ser
planejado pelos docentes responsáveis pelo curso com o apoio da
equipe pedagógica da devendo ser adequado à avaliação das
competências previstas.
O Projeto Integrador representa uma inovação em termos de
metodologia de formação educacional, uma vez que permite a
contextualização de todas as unidades curriculares na temática da área
de formação profissional do curso, introduzindo assim a possibilidade de
aprendizado por competências. Este consiste em desenvolver a
capacidade de mobilizar os recursos necessários no cumprimento do
objetivo.
17
https://www.youtube.com/watch?v=xgkg6jiAROA
https://www.youtube.com/watch?v=2kvNfTtbA0E
Não sei se vocês podem imaginar o significado deste projeto para mim. Senti-me acolhido por
meus colegas de escola, senti uma real preocupação deles com os tetraplégicos como eu e
acompanhei o empenho no desenvolvimento do projeto, desde a concepção até o produto
final, demonstrando o quanto todos realmente se importam.
Desde então faço uso desta cadeira de rodas, o que me permitiu maior mobilidade e
independência. Sinto-me orgulhoso de ter sido o “detonador” deste projeto.
O Uso do Computador
No mundo atual é inconcebível qualquer processo educativo sem o uso do computador, já que
estamos na era digital e nosso universo é cercado de tecnologia. A despeito dos usos comuns,
feitos por mim, o uso do computador é imprescindível, pois é minha única forma de
comunicação escrita.
Eu, a equipe pedagógica e os professores nos empenhamos em selecionar, providenciar a
instalação dos programas nos equipamentos e buscar treinamento para seu uso.
Chegamos a alguns programas que utilizo até hoje e que possibilitaram minha trajetória
escolar:
PROJETO INOVADOR
INOVA SENAI / OC 2010
18
É um programa diferente e inovador, permitindo que os usuários mexam o mouse e usem seu
desktop, fazendo apenas alguns movimentos com a cabeça. O programa trabalha em conjunto
com qualquer webcam, que detecta estes movimentos e os transmitem para o mouse.
Esta aplicação foi desenvolvida pela Universidade de Lleida, na Espanha, com o intuito de
auxiliar pessoas que apresentem comprometimentos motores. Criando-se um mouse virtual,
estes usuários podem ter acesso a computadores, movendo os olhos, lábios e sobrancelhas,
garantindo uma interação com as máquinas.
Leia mais em:http://www.baixaki.com.br/download/headmouse.htm#ixzz2SH1uwrwo
http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,MUL1392648-6174,00.html
Acessado em 02/05/2013.
É um software produzido pelo Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (NCE / UFRJ) que permite ações do mouse e do teclado, acionamento de
programas do Windows, acionamento de scripts adaptativos, seleção de menus de comando
por meio de voz.
“O programa é simples e está disponível de graça na internet. Precisa apenas instalar
uma câmera no computador. Primeiro, ela reconhece o movimento da cabeça e move
o cursor na tela. O clique é feito com os olhos. Um teclado virtual escreve textos,
endereços eletrônicos e a abre a porta da rede mundial de computadores para pessoas
com essa limitação.
"A partir daí podemos ver o potencial do paciente e executar o principal da
reabilitação, que é reinclui-lo socialmente", explica Marcelo Ares, gerente de
reabilitação da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). "Ganhar essa
autoestima e a possibilidade de poder executar uma função é fundamental."
“Uma ferramenta como essa faz mais do que devolver a autoestima e a
independência. Imagine-se na frente de um computador, mas sem poder usar o mouse
ou o teclado. Para muita gente, esse mundo - e tudo o que ele traz de bom para o
nosso mundo real - ficou mais acessível.”
19
Os comandos possuem uma diferença sonora entre as palavras, aumentando assim a
confiabilidade do entendimento pela máquina. Sempre que um comando é acionado ele é
escrito na barra de comandos do Windows, e desta forma a pessoa pode ter um feedback
sobre o entendimento ou não do comando pelo reconhecedor. O sistema permite também
digitação soletrando. Para diferenciar os sons das letras, o Motrix utiliza o alfabeto fonético de
aviação.
http://vidamaislivre.com.br/colunas/post.php?id=4845&/motrix_ou_headmouse
Acessado em 05/05/2013.
http://intervox.nce.ufrj.br/motrix/
Acessado em 02/05/2013.
Juntos, fomos aprendendo e ensinando uns aos outros. Professores e colegas de classe
envolveram-se na tarefa. A escola disponibilizou computadores específicos para que eu
utilizasse. Fui evoluindo a cada dia e ganhei velocidade e agilidade no uso do computador.
Relacionamento Interpessoal
Sempre fui muito extrovertido e comunicativo, após o acidente passei um período sem
entender o que tinha acontecido comigo, precisei de ajuda para encarar a “nova vida”. Minha
família em primeiro lugar e os profissionais que me atenderam, desempenharam papel
fundamental para organizar minha cabeça. Passei pela fase do questionamento, da negação,
da revolta, da aceitação e, hoje, encontro-me permanentemente na fase de superação. Onde
limite é algo que se desloca a cada dia e que persigo a todo custo.
Em 2010 quando entrei no Curso de Qualificação eu já havia vencido muitas das dificuldades
que a minha condição de tetraplégico impõe. Isso facilitou a vida de todos na escola.
O SENAI Nova Iguaçu sempre adotou uma prática inclusiva, onde garante não só a entrada (a
matrícula) do aluno como também os recursos para a sua aprendizagem. A escola vê a pessoa
e não a deficiência, isto para mim significou ser olhado nas minhas possibilidades e limites e
não através da tetraplegia.
Antes da minha chegada, a única preparação foi no ambiente físico, o restante foi realizado na
convivência, no conhecimento mútuo.
“O uso do Motrix torna viável a execução pelo tetraplégico de quase todas as
operações que são realizadas por pessoas não portadoras de deficiência, mesmo as
que possuem acionamento físico complexo, tais como jogos, através de um mecanismo
inteligente, em que o computador realiza a parte motora mais difícil destas tarefas. O
sistema pode ser acoplado a dispositivos externos de home automation para facilitar
em especial a interação do tetraplégico com o ambiente de sua própria casa.”
20
Tanto os professores quanto os colegas de classe me receberam muito bem, alguns
extremamente prestativos, outros curiosos, alguns indiferentes... Mas no geral, obtive apoio e
incentivo.
Como não tenho vida social intensa me dedico muito aos estudos e isto faz com me destaque e
seja requisitado por meus colegas para os trabalhos de grupo.
Os professores se viram desafiados, a todo momento, para criar uma forma adequada de me
incluir nas aulas, trabalhos e avaliações. A maioria deles foi bastante criativo, possibilitando
que eu concluísse o curso com uma gama enorme de competências adquiridas.
O Perfil Profissional do Curso e a Adaptação Curricular
Visando o meu desenvolvimento no curso e observando minhas limitações a equipe técnico-
pedagógica da escola realizou uma avaliação do perfil profissional do curso Auxiliar
Administrativo para que pudesse traçar estratégias paraacompanhamento das aulas e para
avaliação da aprendizagem.
A partir da análise realizada, foi identificada que nem todas as atividades do Auxiliar
Administrativo eu poderia realizar de forma plena considerando minhas limitações físicas.
As competências “Prestar apoio logístico no ambiente de trabalho” e “Controlar a
movimentação de documentos” foram as mais prejudicadas por essas limitações, assim, elas
foram abordadas apenas visando o conhecimento teórico por mim. A equipe decidiu também
dar foco ao desenvolvimento da competência “Organizar e executar as rotinas administrativas”
pela possibilidade concreta de minha atuação profissional.
A partir de uma análise mais apurada percebeu-se que o grande conjunto de padrões
desempenho poderia ser desenvolvido com as devidas adaptações e apenas os padrões de
desempenho “Realizando serviços de reprografia” e “Utilizando projetor multimídia e
retroprojetor” teriam que ter também uma abordagem apenas teórica.
Em todos os componentes em que a atuação permitida era apenas teórica, devido às minhas
limitações, fui incentivado e orientado a fazer observações dirigidas, relatórios, narrativas,
descrição de processos, etc. possibilitando um conhecimento consistente mesmo que teórico.
SENAI – NOVA IGUAÇU
Janeiro / 2012
ANÁLISE DO PERFIL PROFISSIONAL DO CURSO PARA REALIZAÇÃO DE ADAPTAÇÃO
CURRICULAR PARA O ALUNO PAULO CESAR DE AQUINO SOARES
Curso de Qualificação em Auxiliar Administrativo
COMPETÊNCIA GERAL
Prestar serviços de apoio e suporte às atividades das áreas administrativas, financeiras,
comerciais e de recursos humanos cumprindo as rotinas e processos estabelecidos com foco
na otimização e nos padrões de qualidade requeridos.
21
A competência geral do curso apresenta de uma forma sintética todas as atividades desenvolvidas pelo profissional
plenamente desenvolvido.
COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS ELEMENTOS DE COMPETÊNCIA APTO A
REALIZAR?
Prestar apoio logístico no ambiente
de trabalho.
Transportar documentos entre áreas Não
Manusear material de expediente. Não
Apoiar na realização de eventos. Não
Controlar a movimentação de
documentos.
Receber e expedir documentos. Não
Arquivar documentos Não
Organizar e executar as rotinas
administrativas.
Executar serviços em meios
eletrônicos Sim
Operar recursos tecnológicos de
apoio à área administrativa Sim
Atender ao cliente Sim
As competências específicas são aquelas relacionadas às atividades específicas realizadas pelo profissional. A partir
delas foi realiza-se uma análise considerando as limitações e as adaptações necessárias para o desenvolvimento das
mesmas e ainda a possibilidade de atuação das atividades do profissional quando inserido no mercado.
COMPETÊNCIAS DE GESTÃO
Trabalhar em equipe.
Demonstrar visão sistêmica do processo ao qual está inserido.
Demonstrar capacidade de planejamento e organização do próprio trabalho.
Demonstrar capacidade de relacionamento interpessoal mantendo comportamento ético.
Demonstrar capacidade de solucionar problemas.
Atuar com foco na qualidade dos processos.
Demonstrar capacidade de administrar as adversidades.
As competências de gestão apresentam aspectos que são desenvolvidos de forma transversal em todo curso.
22
ORGANIZAR E EXECUTAR AS ROTINAS ADMINISTRATIVAS
ELEMENTOS DE COMPETÊNCIA PADRÕES DE DESEMPENHO
APTO A
REALIZAR?
Executar serviços em meios
eletrônicos
Considerando as especificidades da
área Sim
Utilizando editor de texto, planilhas
eletrônicas, apresentações, dentre
outros recursos Sim
Utilizando recursos da Internet e
Intranet Sim
Observando as orientações do
supervisor imediato Sim
Operar recursos tecnológicos de
apoio à área administrativa
Transmitindo e recebendo
documentos via fax Sim
Realizando serviços de reprografia Não
Utilizando projetor multimídia e
retroprojetor Não
Atender ao cliente Identificando os serviços e produtos
da empresa Sim
Realizando o atendimento telefônico
em conformidade com o padrão
adotado pela empresa Sim
Contatando por mensagem
eletrônica aos clientes internos Sim
Fornecendo informações necessárias
e/ou encaminhando ao local de
destino. Sim
Comunicando-se de forma clara e
objetiva, observando a norma culta
da Língua Portuguesa Sim
A principal competência específica identificada (organizar e executar as rotinas administrativas) foi desmembrada
em elementos de competência e padrões dedesempenho para um maior detalhamento.
23
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
UNIDADES DE COMPETÊNCIA ELEMENTOS DE COMPETÊNCIA FOCO DA AVALIAÇÃO
Prestar apoio logístico no
ambiente de trabalho.
Transportar documentos entre
áreas
Conhecimentos
teóricos
Manusear material de
expediente.
Conhecimentos
teóricos
Apoiar na realização de eventos.
Conhecimentos
teóricos
Controlar a movimentação de
documentos. Receber e expedir documentos.
Conhecimentos
teóricos
Arquivar documentos
Conhecimentos
teóricos
Organizar e executar as rotinas
administrativas.
Executar serviços em meios
eletrônicos
ConhecimentosTeóricos
e práticos
Operar recursos tecnológicos de
apoio à área administrativa Teóricos e práticos
Atender ao cliente Teóricos e práticos
Processo de avaliação da aprendizagem realizado de forma a observar os conhecimentos
teóricos nas competências identificadas como inaptas a realizar e foco nos conhecimentos
teóricos e práticos naquelas identificadas como possíveis de serem realizadas.
Não houve necessidade de relatórios específicos, em função da minha deficiência. Durante
todo o processo de ensino-aprendizagem foram realizados para mim os mesmos registros
realizados para os outros alunos.
Minha participação no curso deu-se de forma oral e escrita (a partir do uso de editores de
texto).
A prática exigiu de mim um apoio maior da reabilitação.Tanto o Terapeuta Ocupacional quanto
o Fisioterapeuta dispunham do meu prontuário e prepararam um relatório que foi
disponibilizado ao SENAI de Nova Iguaçu, contribuindo com o estabelecimento das adaptações
curriculares. Também dedicaram-se ao trabalho com as novas competências que eu poderia
adquirir em função da minha formação em Auxiliar Administrativo.
A escola, por sua vez, disponibilizou o Plano de Curso para que os profissionais pudessem
compreender as competências que seriam trabalhadas no curso e realizassem atividades
contextualizadas e produtivas nos momentos de reabilitação. Entendendo ser o trabalho maior
na área motora e no uso das tecnologias assistivas empregadas na minha inclusão escolar.
24
Este trabalho integrado só rendeu bons frutos, facilitando minha trajetória escolar.
Esmerei-me na aquisição das competências de gestão entendendo que poderia ser meu
diferencial. Dediquei-me à parte prática com maior intensidade, considerando ser minha real
possibilidade de atuação e busquei compreender em minucias a parte teórica para que
pudesse orientar ou coordenar um colega que, junto comigo, poderia realizar as tarefas
motoras que eu era impedido de fazer.
Interação Família e Escola
Mesmo sendo maior de idade, estou sempre acompanhado por alguém da família que me
ajuda na locomoção, alimentação e higiene pessoal. Em geral minha mãe ou meu irmão mais
novo, desta forma o contato de minha família com a escola sempre foi constante.
Mais do que qualquer exame ou relatório, a escola teve o próprio aluno (EU) para narrar meus
limites e demonstrar minhas possibilidades, bem como exigir a garantia de meus direitos de
aluno.
Todos (eu, minha família e a escola) reconheceram que o convívio diário foi que
demonstrouminhas reais necessidades, mas reconheceram também que os relatórios dos
especialistas que me acompanhavam deram pistas mais detalhadas e específicas para melhor
adequação e atendimento às minhas necessidades.Ao realizar minha matrícula prontifiquei-me
a solicitar relatórios do Terapeuta Ocupacional e do Fisioterapeuta que me acompanhavam.
Como possuo as funções cognitivas preservadas sempre fui o principal elo na relação entre
escola – família – terapeutas.
Minha família, como a família de qualquer aluno, foi incumbida de fornecer informações no
caso de afastamento temporário por doença ou qualquer outro problema que venha ocorrer
comigo.
A escola, como no caso de qualquer aluno, tem a responsabilidade de comunicar à minha
família qualquer ocorrência que julgue pertinente para o meu bem estar, para a melhoria no
meu aprendizado, para o bom andamento do trabalho escolar, etc.
O SENAI de Nova Iguaçu, através de seus Pedagogos, possui um estreito relacionamento com a
família de todos os alunos, promovendo encontros e reuniões, comunicando-se com as
famílias sempre que necessário, bem como, disponibilizando-se ao atendimento às mesmas
quando solicitado.
A integração família-escola estende-se para além das atividades pedagógicas, e para além dos
alunos com deficiência ou indisciplinados ou com dificuldades de aprendizagem ou ..., ocorre
também na promoção de palestras, festas, comemorações e atividades internas ou externas,
etc. Nestas ocasiões familiares são convidados a participar, conviver e contribuir para a
formação de seus filhos e filhas, irmãos e irmãs, maridos e esposas... Tornando esta integração
parte essencial de todo o processo educacional de todo e qualquer aluno.
[PARA RETORNAR AO SUMÁRIO]
25
6. MINHA VIDA HOJE
Tenho consciência do que perdi: o futebol com os amigos, as baladas, os passeios no
shopping... Porém reconheço tudo o que ganhei: uma família amorosa; amigos leais, éticos e
solidários; uma escola de qualidade para realizar minha formação profissional; uma profissão;
um emprego, maturidade, consciência crítica...
Hoje estou em busca de difundir minha trajetória, de incentivar outros jovens a não desistir
nunca. Estou organizando uma comunidade na internet para troca de informações,
experiências, sentimentos, inovações...
Vejo isso quase que como uma missão. Percebi que não sou o único, que não estou só, que sou
diferente e que posso fazer a diferença.
[PARA RETORNAR AO SUMÁRIO]

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  • 1. 1 PAULO CESAR DE AQUINO SOARES: Uma Trajetória de Vida!
  • 2. 2 FICHA TÉCNICA PUC-RJ CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO TECNOLOGIAS EM EDUCAÇÃO INCLUSÃO E TECNOLOGIAS ASSISTIVAS SEMINÁRIO VIRTUAL TEMA: Tetraplegia com Cognição Normal Grupo: Turma 1 - Grupo C – Colaboratividade Tutora: Ana Beatriz Carvalho Pereira Elaboradores: Andréa Amaral Franco Pinto Gisele Rodrigues Martins Herold Torres Junior Julio Ramalho de Souza Rodrigo Santos Pereira
  • 3. 3 SUMÁRIO 1. Contextualização .................................................................................... 05 [PARA CONHECER EM QUE CONTEXTO ESTE TRABALHO ESTÁ INSERIDO] 2. Mensagem de Apresentação no Fórum .................................... 06 [PARA CONHECER A MENSAGEM INICIAL DO FÓRUM QUE APRESENTA ESTE TRABALHO E CONVIDA TODOS À PARTICIPAÇÃO] 3. Quem sou eu? .................................................................................... 07 [PARA CONHECER O PERFIL DE PAULO CESAR DE AQUINO SOARES] 4. Meus recursos: família, reabilitação e tecnologia .................................... 09 [PARA CONHECER OS RECURSOS QUE POSSIBILITARAM A OBTENÇÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL] Família .............................................................................................. 09 Reabilitação .................................................................................. 10 Tecnologia .................................................................................. 12
  • 4. 4 5. Minha trajetória no Curso de Qualificação Profissional ........................ 13 [PARA CONHECER AS ESPECIFICADES RELATIVAS À FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE PAULO CESAR DE AQUINO SOARES] O Início .................................................................................. 13 As Questões da Acessibilidade ............................................................ 13 O Conforto e o Transporte de Pessoas em Cadeira de Rodas ........... 15 A Cadeira de Rodas Acionada por Controle de Voz ...................... 16 O Uso do Computador ..................................................................... 17 Relacionamento Interpessoal .......................................................... 19 O Perfil Profissional do Curso e a Adaptação Curricular...................... 20 Interação Família e Escola ......................................................... 24 6. Minha vida hoje ................................................................................... 25 [PARA CONHECER A VIDA DE PAULO CESAR DE AQUINO SOARES EM 2013]
  • 5. 5 1. CONTEXTUALIZAÇÃO Os elaboradores deste trabalho são colaboradores do Sistema Firjan na área de Educação (Básica e Profissional) e atuam como Interlocutores de Tecnologias Educacionais nas Escolas do SESI-RJ e SENAI-RJ como uma das funções do cargo exercido por cada um (coordenador de projetos educacionais, analista em educação, analista técnico em educação e técnico em educação). Como iniciativa da Firjan foi oferecido aos Interlocutores de Tecnologias Educacionais a possibilidade de aprimorar seus conhecimentos realizando uma Pós-graduação. Para tal foi feita uma parceria com a PUC-RJ – CCEAD (Coordenadoria Central de Educação a Distância) para oferta do Curso de Especialização Tecnologias em Educação. Este trabalho é parte integrante da Disciplina “Inclusão e Tecnologias Assistivas” e consiste num “Seminário Virtual” onde a turma foi dividida em grupos e cada grupo pesquisou um tema, elaborou materiais e postou num “Fórum de Apresentação” para compartilhamento e colaboração de toda a turma. [PARA RETORNAR AO SUMÁRIO]
  • 6. 6 2. MENSAGEM DE APRESENTAÇÃO NO FÓRUM Caros Companheiros, O Grupo “Colaboratividade” pesquisou e elaborou materiais sobre a tetraplegia com cognição normal, optando por narrar um caso na voz do próprio aluno tetraplégico (fictício). Para tal foram utilizados os seguintes recursos: 1) Elaboração do Perfil do Aluno: Criação de perfil no Facebook (aluno fictício) com interação dos membros do “Grupo Colaboratividade”. 2) Descrição da Inclusão Escolar: Criação de um diário, em formato de flipbook, escrito pelo próprio aluno (fictício), narrando sua trajetória no Curso de Qualificação em Auxiliar Administrativo realizado no SENAI Nova Iguaçu no ano de 2010. Esperamos que este trabalho garanta um conhecimento à respeito do processo escolar de um aluno com tetraplegia, suas possibilidades e limites, vistos nos aspectos técnicos, mas especialmente, na ótica do ser humano que se define para muito além de sua deficiência. “A verdadeira deficiência está no abandono dos sonhos, da vontade de viver, do descaso ao próximo. A deficiência é aquilo que te prende por dentro, que engessa sua alma, sua fé, pois ainda que incapacitados de andar, todos somos livres para sonhar, para amar, para ajudar o próximo com uma palavra de afeto, um sorriso... somos livres para voar nas asas da nossa imaginação!” Marciah Pereira [PARA RETORNAR AO SUMÁRIO]
  • 7. 7 3. QUEM SOU EU? Sou Paulo Cesar de Aquino Soares, tenho 21 anos, sou tetraplégico, trabalho como Auxiliar Administrativo em uma grande empresa e tenho muito orgulho da minha trajetória de luta e sucesso. Em 2006, quando tinha 14 anos, viajei para a casa de minha avó no interior do Rio de Janeiro. Durante um passeio com meus primos, resolvi banhar-me em um rio e,como todo menino da minha idade, achava que podia tudo. Mergulhei de cabeça no rio sem avaliar corretamente a profundidade. A água era mais rasa do que eu imaginava, o que fez com que me chocasse diretamente com uma pedra. Sofri fratura na coluna cervical, mais especificamente, entre a C4 e a C5. O acidente ocasionou a perda total dos movimentos do pescoço para baixo. Fiquei internado durante três meses e, desde que saí o hospital, utilizo de cadeira de rodas para me locomover e faço uso de sonda para as necessidades fisiológicas. Os movimentos de cabeça ficaram preservados, assim como, minha capacidade cognitiva, o que possibilitou com que eu continuasse os estudos, após a fase inicial de adaptação. “Segundo dados do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o mergulho em água rasa é a quarta causa de lesão medular no Brasil. E em época de verão, o acidente ocupa a segunda maior incidência do país. Para se ter uma ideia deste número, a cada semana, cerca de dez pessoas ficam paraplégicas ou tetraplégicas ao bater a cabeça em mergulhos. A incidência é de 60,9% dos casos. Com relação ao perfil das vítimas, uma pesquisa realizada pela Rede Sarah mostrou que o predomínio é de pacientes do sexo masculino e na maioria adolescentes e adultos jovens. O Local de maior incidência é o rio, onde ocorre cerca de 43,5% dos casos.” http://portal.rac.com.br/blog/blog_post.php?post_id=34613&blog_id=/32 Acessado em 02/05/2013. “Para se ter uma ideia, a cada semana, cerca de dez pessoas ficam tetraplégicas ao bater a cabeça em mergulhos. A incidência é de 60,9% dos casos. As vítimas são na maioria adolescentes e adultos do sexo masculino. Em 44% dos casos, os acidentes ocorrem em rios.” http://www.blogdoguilhermebara.com.b r/mergulho-em-agua-rasa Acessado em 02/05/2013. http://www.copacabanarunners.net/coluna- cervical.html Acessado em 02/05/2013. “Qualquer lesão na medula espinhal acima dos segmentos da coluna cervical C3, C4 e C5 pode interromper a respiração. Pessoas com essas lesões precisam de suporte respiratório imediato. Quando a lesão está no segmento C5 da coluna cervical e abaixo, a função do diafragma é preservada, porém a respiração tende a ser rápida e a pessoa tem problema para tossir e limpar secreções dos pulmões por causa da fraqueza dos músculos torácicos. Uma vez que a função pulmonar melhora, uma grande percentagem das pessoas com lesão no segmento C4 da coluna cervical podem se livrar da respiração mecânica nas semanas posteriores à lesão”.
  • 8. 8 Após o processo de adaptação, que durou o restante do ano de 2006, meus pais, apesar da origem humilde, fizeram questão de me incentivar a continuar com os estudos e não mediram esforços para tal. Não foi nada fácil, sempre acompanhado por minha mãe, iniciei o Ensino Médio em 2007 em escola pública estadual do Rio de Janeiro. Após os três anos de Ensino Médio decidi que queria ter uma profissão. Comecei a questionar- me sobre o que gostaria de fazer e iniciei uma pesquisa de atividades profissionais que eu poderia fazer. Percebi diversas barreiras nesta busca, em 2010 optei por procurar o SENAI no Município em que resido, Nova Iguaçu, na tentativa de obter orientação para ingresso num curso profissionalizante. Participamos, eu e minha mãe, de uma Reunião de Informação Profissional (RIP), feita com todos os alunos que ingressam no SENAI. Juntos, escola e eu, chegamos a conclusão de que um curso na área de Gestão seria mais interessante e adequado aos meus anseios do aluno. O curso escolhido foi o Auxiliar Administrativo na modalidade Qualificação Profissional. É a história da minha profissionalização que passo a narrar aqui. Toda a trajetória que me levou a ter uma vida produtiva a partir do meu olhar, entretanto incluindo minha família e a escola em que me formei Auxiliar Administrativo. [PARA RETORNAR AO SUMÁRIO] Sou sociável, alegre, batalhador, e não me dobro fácil frente a um desafio. Passei e ainda passo por momentos difíceis, mas quem não passa? Luto a cada dia por mais independência, estabeleço um objetivo de cada vez e me dedico à
  • 9. 9 4. MEUS RECURSOS: FAMÍLIA, REABILITAÇÃO E TECNOLOGIA Jamais chegaria sozinho aonde cheguei, tive três fortes aliados para atingir meus objetivos: MinhaFAMÍLIA , a possibilidade de realizar uma REABILITAÇÃO de qualidade e o acesso à .TECNOLOGIA. Família Moro com meuspais, com um irmão mais novo (19 anos) que é estudante e uma irmã mais velha (24 anos) que trabalha como Auxiliar Administrativa. Meu pai é operário em uma indústria. Minha mãe se dedica ao lar e aos filhos e faz doces para fora. A renda da minha família é suficiente para uma vida modesta, mas digna. Todos nós (os filhos) pudemos estudar em escolas públicas e trabalhar somente após a conclusão do Ensino Médio. Sou atendido pelo sistema público de saúde desde que sofri o acidente. Nossa casa teve de passar por algumas adaptações internas para facilitar minha vida, mas é uma casa de vila, o que me dá dando mobilidade. Minha família é bem estruturada o que permite o apoio às minhas necessidades. Minha mãe cuida mais diretamente de mim e meu irmão mais novo, por ter maior disponibilidade de tempo, participa ativamente dos cuidados comigo. Meu pai e minha irmã mais velha participam na medida de suas disponibilidades, ela foi a grande incentivadora para que eu não desistisse de estudar e tivesse uma carreira.
  • 10. 10 Reabilitação A reabilitação é uma das minhas grandes “tarefas”, exigindo não só meu esforço pessoal, mas também de toda minha família, especialmente no que diz respeito à minha locomoção e, inicialmente, aos recursos financeiros para a manutenção dos tratamentos e aquisição de materiais, instrumentos, medicamentos, tecnologias, etc. necessários para que eu tenha uma melhor qualidade de vida. Na reabilitação, segundo Gabriela Mader, Os pais esperam: Compreensão, consolo, incentivo, momentos para descarregar sentimentos de culpa, palavras de esperança, pessoas que escutam e pessoas com quem dividir a responsabilidade. Os profissionais esperam: Interesse pelo programa de reabilitação, compreensão, informações corretas do que é realizado em casa e na escola, otimismo em relação ao tratamento e cooperação para o alcance dos objetivos. Em 2007 fui inserido num programa de atendimento especializado ao tetraplégico composto de atendimento médico, fisioterapia e terapia ocupacional. Onde, as expectativas de todos (minhas, da minha família e dos terapeutas que me acompanharam / acompanham) vêm sendo atendidas. A TERAPIA OCUPACIONAL A partir da avaliação do nível funcional a terapia ocupacional avalia as potencialidades e capacidades funcionais do paciente e desenvolve um trabalho para: aumentar a força dos músculos; aumentar a resistência física; maximizar a independência; explorar as atividades de lazer e trabalho; auxiliar no ajuste psicossocial; avaliar, recomendar e treinar no uso dos equipamentos médicos utilizados; garantir a acessibilidade com segurança e independência; garantir que as atividades de vida diária e as atividades instrumentais da vida diária sejam reconquistadas. Atividades da Vida Diária (AVD): São atividades relacionadas com os seguintes itens: ⋅ Auto cuidado, ⋅ Mobilidade,
  • 11. 11 ⋅ Alimentação, ⋅ Higiene pessoal; ⋅ Vestir-se, despir-se, calçar-se. Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD): São atividades que permitem a integração de uma pessoa na comunidade, gerir a sua casa e a sua vida: ⋅ Ir às compras ⋅ Gerir o dinheiro ⋅ Utilizar o telefone ⋅ Limpar ⋅ Cozinhar ⋅ Utilizar transportes http://www.advita.pt/cuidadoscontinuados/definicao-de-avd-e-aivd Acessado em 04/05/2013. Quatro anos após o acidente que me deixou paraplégico (2010), já havia resgatado diversas funcionalidades. Ocasião em que iniciei minha formação profissional. Além deste resgate, o fato de ter cursado todo o Ensino Médio já tetraplégico me deu uma segurança maior para iniciar este novo desafio. Contei com uma escola compromissada com a minha aprendizagem e consciente e atuante em relação às minhas possibilidades e limites. A FISIOTERAPIA A fisioterapia tem importante papel na assistência aguda do paciente visando facilitar uma transição rápida e eficiente para o processo de reabilitação. Isso pode incluir a prevenção de deformidades, maximização da função muscular e respiratória e aquisição de postura em pé (ZIELIG et al, 2000; BROMLEY, 1985). Quando os pacientes se recuperam dos problemas agudos, são feitos planos de reabilitação baseados no prognóstico de futuras habilidades funcionais. Para se obter um serviço eficiente, os programas de reabilitação devem ser baseados na escolha de metas realistas (MAYNARD et al, 1997). Os principais objetivos são evitar as complicações, promover independência em termos de alimentação e ingestão de líquidos, cuidados no vestir e higiene, controle da bexiga e intestino, sentar e sair da cadeira de rodas e a capacidade de usá-la, retorno às atividades laborais e se possível retorno da marcha com uso de dispositivos ortóticos (LIANZA et al, 1993; UMPHERED e SCHINEIDER, 1994). http://www.ccs.uel.br/espacoparasaude/v5n1/doc/artigo2.htm Acessado em 04/05/2013. A fisioterapia é uma atividade constante em minha vida. Este atendimento iniciou-se logo após o acidente e continua até hoje compareço semanalmente às sessões, apesar das dificuldades de dirigir-me ao centro de atendimento. Realizo também diversos exercícios em casa auxílio do meu irmão, a partir das orientações do fisioterapeuta.
  • 12. 12 Tecnologia Como todos da minha geração sempre fui muito ligado nas tecnologias. Meus pais, reconhecendo a importância que um computador tem para a formação educacional, compraram um desktop à prestação e, desde os 14 anos tive contato com o mundo digital. Hoje, mais do que nunca, as tecnologias são imprescindíveis em minha vida. Estou cercado por elas, desde minha cadeira de rodas, que hoje (2013) é acionada por controle de voz, aos softwares que utilizo para acessar e interagir na internet. Quando fiquei tetraplégico iniciei uma busca por tudo e por todos que pudessem ajudar a superar minhas dificuldades. Fui encaminhado a profissionais especializados que muito me auxiliaram nesta busca. Descobri que existe muita coisa para auxiliar o tetraplégico a ter maior independência e melhor qualidade de vida. Algumas coisas são simples e baratas ou gratuitas, outras, são caras e mais complexas, porém conhecendo os caminhos certos é possível ter acesso a cada vez mais recursos, lutar por direitos, encontrar aliados... O foco deste “diário” é minha formação profissional, minha trajetória escolar contemplando as normas de acessibilidade, as adaptações curriculares e as tecnologias assistivas para que fosse uma trajetória de sucesso. [PARA RETORNAR AO SUMÁRIO] Tecnologia Assistivaé uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social. Ata VII – Comitê de Ajudas Técnicas – CAT
  • 13. 13 5. MINHA TRAJETÓRIA NO CURSO DE QUALIFICAÇÃO PROFSSIONAL O Início Definido o curso (Auxiliar Administrativo) começamos todos (eu, minha família, a escola, os professores) a buscar os recursos necessários para um processo educativo eficiente, eficaz e efetivo. Saiba mais emhttp://www.cursosenairio.com.br/ O conhecimento a respeito de minhas deficiências foi feito logo no início da minha vida escolar, considerando a mobilidade, alimentação e higiene pessoal.Os principais cuidados, que exigiram orientação da minha família e minha própria, foram direcionados aos professores e demais alunos. As Questões da Acessibilidade Quando cheguei á Escola SENAI de Nova Iguaçu, no início de 2010, começo a ser feito um levantamento das condições de acessibilidade da escola, para que o ambiente físico pudesse estar acessível não só a mim, mas a todos que necessitassem. Este levantamento levou à busca de normas e soluções para acesso à sala de aula, deslocamento para outros ambientes como auditório, biblioteca, laboratório,etc. Pensou-se na localização da cadeira de rodas, no meu deslocamento em sala de aula, etc. O que diz a Legislação?
  • 14. 14 “A necessidade de adaptações razoáveis como um meio de eliminar barreiras, principalmente nos locais de trabalho, é citada inúmeras vezes no texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPcD), adotada em 2006 pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (Brasil, 2007), e que o nosso país ratificou (Brasil, 2008) e promulgou (Brasil, 2009).No artigo 3 da CDPcD tem que ter adaptações razoáveis e tornar acessíveis para as pessoas com deficiência os ambientes, os equipamentos e as ferramenta de trabalho”. O Ministério do Trabalho e do Emprego estabelece normas regulamentadoras que foram pesquisadas e adotadas para garantir segurança e saúde para todos. Especialmente a NR 8 – Edificações e a NR 17 – Ergonomia. http://www.mte.gov.br/seg_sau/leg_normas_regulamentadoras.asp A Lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000, estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, diz que os locais de aula deverão dispor de espaços reservados para pessoas que utilizam cadeira de rodas, e de lugares específicos para pessoas com deficiência auditiva e visual, inclusive acompanhante, de acordo com a ABNT, de modo a facilitar-lhes as condições de acesso, circulação e comunicação. Estabelece requisitos técnicos mínimos que devem ser observados nas edificações para garantir segurança e conforto aos que nelas trabalhem. Visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.
  • 15. 15 O que foi feito? Algumas adaptações foram feitas no SENAI Nova Iguaçu para minha chegada, as mais significativas foram: ⋅ As portas dos ambientes da escola frequentados por mim receberam um sistema de chips que faz com que sejam abertas sem necessidade de serem tocadas e tiveram sua largura ampliada para passagem da cadeira de rodas; ⋅ Foram instalados pia e vaso sanitário adaptáveis nos banheiros, mesmo usando sonda, a escola compreendeu a necessidade desta adaptação; ⋅ Foi construída uma rampa para acesso ao segundo pavimento onde se localiza o auditório e a biblioteca e ⋅ Foi designada para minha turma uma sala de aula ampla possibilitando a circulação de minha cadeira de rodas e localizada no primeiro pavimento. O Conforto e o Transporte de Pessoas em Cadeira de Rodas Outras questões foram observadas como minha acomodação na postura correta, me foi orientado o uso de almofadas e faixas para estabilização do tronco. São recursos simples de adaptações físicas e, muitas vezes, bem eficazes para auxiliar no processo de aprendizagem. Uma postura correta é vital para um trabalho eficiente na sala de aula e no computador. De minha parte, tive de orientar / esclarecer aos colegas e professores algumas questões relativas a estar numa cadeira de rodas: ⋅ Para mim e para qualquer pessoa sentada em cadeira de rodas, é incômodo ficar olhando para cima por muito tempo. Portanto, é muito importante que a lousa, materiais, equipamentos, etc. estejam numa altura cômoda para se olhar sentado. ⋅ Numa conversa, com uma pessoa em cadeira de rodas, quando demora mais do que alguns minutos, é importante que o interlocutor sente-se para que fiquemos com os olhos no mesmo nível.
  • 16. 16 ⋅ A cadeira de rodas (assim como bengala e muleta para quem as usa) é parte do meu espaço corporal, quase uma extensão do meu corpo. É necessário que todos saibam que nunca devem movimentarminha cadeira de rodas sem antes me pedir permissão. ⋅ Empurrar uma pessoa em cadeira de rodas não é como empurrar um carrinho de supermercado. Quando estiver empurrando uma pessoa sentada numa cadeira de rodas, e quando parar para conversar com alguém, lembre-se de virar a cadeira de frente, para que eu também possa participar da conversa. ⋅ Ao me empurrar na cadeira de rodas, faça-o com cuidado. Preste atenção para não bater nas pessoas que caminham na frente. Quando conversarem comigo, lembre-se de que sentado tenho um ângulo de visão diferente. Se quiser mostrar-me qualquer coisa, abaixe- se para que eu efetivamente a veja. A Cadeira de Rodas Acionada por Comando de Voz Foi surpreendente o envolvimento de toda a equipe pedagógica, dos professores e de meus colegas na minha adaptação. Os alunos de outras turmas do SENAI Nova Iguaçu tomaram ciência das minhas dificuldades e resolveram desenvolver (como Projeto Integrador) uma cadeira de rodas acionada por comando de voz, que pudesse me auxiliar e a outras pessoas que enfrentam as mesmas dificuldades. O Projeto da CADEIRA DE RODAS ACIONADA POR COMANDO DE VOZganhou notoriedade nacional quando foi apresentado na Olímpiada Nacional de Educação Profissional, em 2010, tendo sido consagrado vencedor em um concurso de projetos inovadores na categoria voto popular. A metodologia utilizada pelo SENAI consiste em uma formação baseada em competências de acordo, com esta metodologia, o aluno vem desenvolvendo competências ao longo do curso, estando preparado para exercer a qualificação ao término do mesmo. Os alunos desenvolvem, em grupo, um projeto associado à atividade prática, a fim de comprovar, ao final do curso, a aquisição das competências correspondentes este momento de culminância deve ser planejado pelos docentes responsáveis pelo curso com o apoio da equipe pedagógica da devendo ser adequado à avaliação das competências previstas. O Projeto Integrador representa uma inovação em termos de metodologia de formação educacional, uma vez que permite a contextualização de todas as unidades curriculares na temática da área de formação profissional do curso, introduzindo assim a possibilidade de aprendizado por competências. Este consiste em desenvolver a capacidade de mobilizar os recursos necessários no cumprimento do objetivo.
  • 17. 17 https://www.youtube.com/watch?v=xgkg6jiAROA https://www.youtube.com/watch?v=2kvNfTtbA0E Não sei se vocês podem imaginar o significado deste projeto para mim. Senti-me acolhido por meus colegas de escola, senti uma real preocupação deles com os tetraplégicos como eu e acompanhei o empenho no desenvolvimento do projeto, desde a concepção até o produto final, demonstrando o quanto todos realmente se importam. Desde então faço uso desta cadeira de rodas, o que me permitiu maior mobilidade e independência. Sinto-me orgulhoso de ter sido o “detonador” deste projeto. O Uso do Computador No mundo atual é inconcebível qualquer processo educativo sem o uso do computador, já que estamos na era digital e nosso universo é cercado de tecnologia. A despeito dos usos comuns, feitos por mim, o uso do computador é imprescindível, pois é minha única forma de comunicação escrita. Eu, a equipe pedagógica e os professores nos empenhamos em selecionar, providenciar a instalação dos programas nos equipamentos e buscar treinamento para seu uso. Chegamos a alguns programas que utilizo até hoje e que possibilitaram minha trajetória escolar: PROJETO INOVADOR INOVA SENAI / OC 2010
  • 18. 18 É um programa diferente e inovador, permitindo que os usuários mexam o mouse e usem seu desktop, fazendo apenas alguns movimentos com a cabeça. O programa trabalha em conjunto com qualquer webcam, que detecta estes movimentos e os transmitem para o mouse. Esta aplicação foi desenvolvida pela Universidade de Lleida, na Espanha, com o intuito de auxiliar pessoas que apresentem comprometimentos motores. Criando-se um mouse virtual, estes usuários podem ter acesso a computadores, movendo os olhos, lábios e sobrancelhas, garantindo uma interação com as máquinas. Leia mais em:http://www.baixaki.com.br/download/headmouse.htm#ixzz2SH1uwrwo http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,MUL1392648-6174,00.html Acessado em 02/05/2013. É um software produzido pelo Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NCE / UFRJ) que permite ações do mouse e do teclado, acionamento de programas do Windows, acionamento de scripts adaptativos, seleção de menus de comando por meio de voz. “O programa é simples e está disponível de graça na internet. Precisa apenas instalar uma câmera no computador. Primeiro, ela reconhece o movimento da cabeça e move o cursor na tela. O clique é feito com os olhos. Um teclado virtual escreve textos, endereços eletrônicos e a abre a porta da rede mundial de computadores para pessoas com essa limitação. "A partir daí podemos ver o potencial do paciente e executar o principal da reabilitação, que é reinclui-lo socialmente", explica Marcelo Ares, gerente de reabilitação da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). "Ganhar essa autoestima e a possibilidade de poder executar uma função é fundamental." “Uma ferramenta como essa faz mais do que devolver a autoestima e a independência. Imagine-se na frente de um computador, mas sem poder usar o mouse ou o teclado. Para muita gente, esse mundo - e tudo o que ele traz de bom para o nosso mundo real - ficou mais acessível.”
  • 19. 19 Os comandos possuem uma diferença sonora entre as palavras, aumentando assim a confiabilidade do entendimento pela máquina. Sempre que um comando é acionado ele é escrito na barra de comandos do Windows, e desta forma a pessoa pode ter um feedback sobre o entendimento ou não do comando pelo reconhecedor. O sistema permite também digitação soletrando. Para diferenciar os sons das letras, o Motrix utiliza o alfabeto fonético de aviação. http://vidamaislivre.com.br/colunas/post.php?id=4845&/motrix_ou_headmouse Acessado em 05/05/2013. http://intervox.nce.ufrj.br/motrix/ Acessado em 02/05/2013. Juntos, fomos aprendendo e ensinando uns aos outros. Professores e colegas de classe envolveram-se na tarefa. A escola disponibilizou computadores específicos para que eu utilizasse. Fui evoluindo a cada dia e ganhei velocidade e agilidade no uso do computador. Relacionamento Interpessoal Sempre fui muito extrovertido e comunicativo, após o acidente passei um período sem entender o que tinha acontecido comigo, precisei de ajuda para encarar a “nova vida”. Minha família em primeiro lugar e os profissionais que me atenderam, desempenharam papel fundamental para organizar minha cabeça. Passei pela fase do questionamento, da negação, da revolta, da aceitação e, hoje, encontro-me permanentemente na fase de superação. Onde limite é algo que se desloca a cada dia e que persigo a todo custo. Em 2010 quando entrei no Curso de Qualificação eu já havia vencido muitas das dificuldades que a minha condição de tetraplégico impõe. Isso facilitou a vida de todos na escola. O SENAI Nova Iguaçu sempre adotou uma prática inclusiva, onde garante não só a entrada (a matrícula) do aluno como também os recursos para a sua aprendizagem. A escola vê a pessoa e não a deficiência, isto para mim significou ser olhado nas minhas possibilidades e limites e não através da tetraplegia. Antes da minha chegada, a única preparação foi no ambiente físico, o restante foi realizado na convivência, no conhecimento mútuo. “O uso do Motrix torna viável a execução pelo tetraplégico de quase todas as operações que são realizadas por pessoas não portadoras de deficiência, mesmo as que possuem acionamento físico complexo, tais como jogos, através de um mecanismo inteligente, em que o computador realiza a parte motora mais difícil destas tarefas. O sistema pode ser acoplado a dispositivos externos de home automation para facilitar em especial a interação do tetraplégico com o ambiente de sua própria casa.”
  • 20. 20 Tanto os professores quanto os colegas de classe me receberam muito bem, alguns extremamente prestativos, outros curiosos, alguns indiferentes... Mas no geral, obtive apoio e incentivo. Como não tenho vida social intensa me dedico muito aos estudos e isto faz com me destaque e seja requisitado por meus colegas para os trabalhos de grupo. Os professores se viram desafiados, a todo momento, para criar uma forma adequada de me incluir nas aulas, trabalhos e avaliações. A maioria deles foi bastante criativo, possibilitando que eu concluísse o curso com uma gama enorme de competências adquiridas. O Perfil Profissional do Curso e a Adaptação Curricular Visando o meu desenvolvimento no curso e observando minhas limitações a equipe técnico- pedagógica da escola realizou uma avaliação do perfil profissional do curso Auxiliar Administrativo para que pudesse traçar estratégias paraacompanhamento das aulas e para avaliação da aprendizagem. A partir da análise realizada, foi identificada que nem todas as atividades do Auxiliar Administrativo eu poderia realizar de forma plena considerando minhas limitações físicas. As competências “Prestar apoio logístico no ambiente de trabalho” e “Controlar a movimentação de documentos” foram as mais prejudicadas por essas limitações, assim, elas foram abordadas apenas visando o conhecimento teórico por mim. A equipe decidiu também dar foco ao desenvolvimento da competência “Organizar e executar as rotinas administrativas” pela possibilidade concreta de minha atuação profissional. A partir de uma análise mais apurada percebeu-se que o grande conjunto de padrões desempenho poderia ser desenvolvido com as devidas adaptações e apenas os padrões de desempenho “Realizando serviços de reprografia” e “Utilizando projetor multimídia e retroprojetor” teriam que ter também uma abordagem apenas teórica. Em todos os componentes em que a atuação permitida era apenas teórica, devido às minhas limitações, fui incentivado e orientado a fazer observações dirigidas, relatórios, narrativas, descrição de processos, etc. possibilitando um conhecimento consistente mesmo que teórico. SENAI – NOVA IGUAÇU Janeiro / 2012 ANÁLISE DO PERFIL PROFISSIONAL DO CURSO PARA REALIZAÇÃO DE ADAPTAÇÃO CURRICULAR PARA O ALUNO PAULO CESAR DE AQUINO SOARES Curso de Qualificação em Auxiliar Administrativo COMPETÊNCIA GERAL Prestar serviços de apoio e suporte às atividades das áreas administrativas, financeiras, comerciais e de recursos humanos cumprindo as rotinas e processos estabelecidos com foco na otimização e nos padrões de qualidade requeridos.
  • 21. 21 A competência geral do curso apresenta de uma forma sintética todas as atividades desenvolvidas pelo profissional plenamente desenvolvido. COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS ELEMENTOS DE COMPETÊNCIA APTO A REALIZAR? Prestar apoio logístico no ambiente de trabalho. Transportar documentos entre áreas Não Manusear material de expediente. Não Apoiar na realização de eventos. Não Controlar a movimentação de documentos. Receber e expedir documentos. Não Arquivar documentos Não Organizar e executar as rotinas administrativas. Executar serviços em meios eletrônicos Sim Operar recursos tecnológicos de apoio à área administrativa Sim Atender ao cliente Sim As competências específicas são aquelas relacionadas às atividades específicas realizadas pelo profissional. A partir delas foi realiza-se uma análise considerando as limitações e as adaptações necessárias para o desenvolvimento das mesmas e ainda a possibilidade de atuação das atividades do profissional quando inserido no mercado. COMPETÊNCIAS DE GESTÃO Trabalhar em equipe. Demonstrar visão sistêmica do processo ao qual está inserido. Demonstrar capacidade de planejamento e organização do próprio trabalho. Demonstrar capacidade de relacionamento interpessoal mantendo comportamento ético. Demonstrar capacidade de solucionar problemas. Atuar com foco na qualidade dos processos. Demonstrar capacidade de administrar as adversidades. As competências de gestão apresentam aspectos que são desenvolvidos de forma transversal em todo curso.
  • 22. 22 ORGANIZAR E EXECUTAR AS ROTINAS ADMINISTRATIVAS ELEMENTOS DE COMPETÊNCIA PADRÕES DE DESEMPENHO APTO A REALIZAR? Executar serviços em meios eletrônicos Considerando as especificidades da área Sim Utilizando editor de texto, planilhas eletrônicas, apresentações, dentre outros recursos Sim Utilizando recursos da Internet e Intranet Sim Observando as orientações do supervisor imediato Sim Operar recursos tecnológicos de apoio à área administrativa Transmitindo e recebendo documentos via fax Sim Realizando serviços de reprografia Não Utilizando projetor multimídia e retroprojetor Não Atender ao cliente Identificando os serviços e produtos da empresa Sim Realizando o atendimento telefônico em conformidade com o padrão adotado pela empresa Sim Contatando por mensagem eletrônica aos clientes internos Sim Fornecendo informações necessárias e/ou encaminhando ao local de destino. Sim Comunicando-se de forma clara e objetiva, observando a norma culta da Língua Portuguesa Sim A principal competência específica identificada (organizar e executar as rotinas administrativas) foi desmembrada em elementos de competência e padrões dedesempenho para um maior detalhamento.
  • 23. 23 AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM UNIDADES DE COMPETÊNCIA ELEMENTOS DE COMPETÊNCIA FOCO DA AVALIAÇÃO Prestar apoio logístico no ambiente de trabalho. Transportar documentos entre áreas Conhecimentos teóricos Manusear material de expediente. Conhecimentos teóricos Apoiar na realização de eventos. Conhecimentos teóricos Controlar a movimentação de documentos. Receber e expedir documentos. Conhecimentos teóricos Arquivar documentos Conhecimentos teóricos Organizar e executar as rotinas administrativas. Executar serviços em meios eletrônicos ConhecimentosTeóricos e práticos Operar recursos tecnológicos de apoio à área administrativa Teóricos e práticos Atender ao cliente Teóricos e práticos Processo de avaliação da aprendizagem realizado de forma a observar os conhecimentos teóricos nas competências identificadas como inaptas a realizar e foco nos conhecimentos teóricos e práticos naquelas identificadas como possíveis de serem realizadas. Não houve necessidade de relatórios específicos, em função da minha deficiência. Durante todo o processo de ensino-aprendizagem foram realizados para mim os mesmos registros realizados para os outros alunos. Minha participação no curso deu-se de forma oral e escrita (a partir do uso de editores de texto). A prática exigiu de mim um apoio maior da reabilitação.Tanto o Terapeuta Ocupacional quanto o Fisioterapeuta dispunham do meu prontuário e prepararam um relatório que foi disponibilizado ao SENAI de Nova Iguaçu, contribuindo com o estabelecimento das adaptações curriculares. Também dedicaram-se ao trabalho com as novas competências que eu poderia adquirir em função da minha formação em Auxiliar Administrativo. A escola, por sua vez, disponibilizou o Plano de Curso para que os profissionais pudessem compreender as competências que seriam trabalhadas no curso e realizassem atividades contextualizadas e produtivas nos momentos de reabilitação. Entendendo ser o trabalho maior na área motora e no uso das tecnologias assistivas empregadas na minha inclusão escolar.
  • 24. 24 Este trabalho integrado só rendeu bons frutos, facilitando minha trajetória escolar. Esmerei-me na aquisição das competências de gestão entendendo que poderia ser meu diferencial. Dediquei-me à parte prática com maior intensidade, considerando ser minha real possibilidade de atuação e busquei compreender em minucias a parte teórica para que pudesse orientar ou coordenar um colega que, junto comigo, poderia realizar as tarefas motoras que eu era impedido de fazer. Interação Família e Escola Mesmo sendo maior de idade, estou sempre acompanhado por alguém da família que me ajuda na locomoção, alimentação e higiene pessoal. Em geral minha mãe ou meu irmão mais novo, desta forma o contato de minha família com a escola sempre foi constante. Mais do que qualquer exame ou relatório, a escola teve o próprio aluno (EU) para narrar meus limites e demonstrar minhas possibilidades, bem como exigir a garantia de meus direitos de aluno. Todos (eu, minha família e a escola) reconheceram que o convívio diário foi que demonstrouminhas reais necessidades, mas reconheceram também que os relatórios dos especialistas que me acompanhavam deram pistas mais detalhadas e específicas para melhor adequação e atendimento às minhas necessidades.Ao realizar minha matrícula prontifiquei-me a solicitar relatórios do Terapeuta Ocupacional e do Fisioterapeuta que me acompanhavam. Como possuo as funções cognitivas preservadas sempre fui o principal elo na relação entre escola – família – terapeutas. Minha família, como a família de qualquer aluno, foi incumbida de fornecer informações no caso de afastamento temporário por doença ou qualquer outro problema que venha ocorrer comigo. A escola, como no caso de qualquer aluno, tem a responsabilidade de comunicar à minha família qualquer ocorrência que julgue pertinente para o meu bem estar, para a melhoria no meu aprendizado, para o bom andamento do trabalho escolar, etc. O SENAI de Nova Iguaçu, através de seus Pedagogos, possui um estreito relacionamento com a família de todos os alunos, promovendo encontros e reuniões, comunicando-se com as famílias sempre que necessário, bem como, disponibilizando-se ao atendimento às mesmas quando solicitado. A integração família-escola estende-se para além das atividades pedagógicas, e para além dos alunos com deficiência ou indisciplinados ou com dificuldades de aprendizagem ou ..., ocorre também na promoção de palestras, festas, comemorações e atividades internas ou externas, etc. Nestas ocasiões familiares são convidados a participar, conviver e contribuir para a formação de seus filhos e filhas, irmãos e irmãs, maridos e esposas... Tornando esta integração parte essencial de todo o processo educacional de todo e qualquer aluno. [PARA RETORNAR AO SUMÁRIO]
  • 25. 25 6. MINHA VIDA HOJE Tenho consciência do que perdi: o futebol com os amigos, as baladas, os passeios no shopping... Porém reconheço tudo o que ganhei: uma família amorosa; amigos leais, éticos e solidários; uma escola de qualidade para realizar minha formação profissional; uma profissão; um emprego, maturidade, consciência crítica... Hoje estou em busca de difundir minha trajetória, de incentivar outros jovens a não desistir nunca. Estou organizando uma comunidade na internet para troca de informações, experiências, sentimentos, inovações... Vejo isso quase que como uma missão. Percebi que não sou o único, que não estou só, que sou diferente e que posso fazer a diferença. [PARA RETORNAR AO SUMÁRIO]