1. capa
Por Rogério Godinho
e Anderson Costa
xecução
rmação tornou a e
era da info sucesso
A
o insuficie nte para o
ficiente alg taurar um
e
ios. É preciso ins nte.
nos negóc ado consta
aprendiz inteligência
p rocesso de no qual a
cenário dar a
N esse novo ia pode aju
tecnolog roduzir
p revalece, a extrair e p
cultura e
trans mitir uma ente da
nto n ovo diretam escola
conhecime esa é uma
. A empr
experiência
B2B
DEZ/JAN
2009
2. mobilidade
ᵬ mais valor
convergência
governo
rede social
indústria
talento
I
ISADORA TEM 14 ANOS. EM JULHO DO
ANO PASSADO, 400 PESSOAS ATENDERAM
AO SEU CHAMADO. NA ÉPOCA, TODA A
COMUNIDADE DE FÃS DO BRUXO HARRY
POTTER AGUARDAVA ANSIOSAMENTE O
LANÇAMENTO DO ÚLTIMO LIVRO DA
SÉRIE, O TÍTULO “AS RELÍQUIAS DA
MORTE”. A obra tem 784 páginas e estava para
ser lançada, ainda em inglês. Sem esperar pela
versão oficial, os fãs liderados pela internauta
adolescente traduziram tudo em dez dias.
A palavra mágica é colaboração. As empresas
precisam aprender com Isadora.
O modelo de execução de tarefas seguido
pelas corporações hoje ainda se baseia na era da
manufatura. Pioneiros como Henry Ford e
Frederick Taylor dividiram tarefas em ações
23
repetitivas e previsíveis em uma linha de
montagem. Inovador no passado, esse modelo
hoje está definitivamente superado. “Execução
sem falhas não garante mais o sucesso”, diz a
especialista em gestão de Harvard, Amy
Edmonson, em um artigo publicado em julho
deste ano. “A economia do conhecimento exige
decisões em colaboração para responder ao
complexo e imprevisível”.
B2B
DEZ/JAN
2009
3. capa ᵬ mais valor
Foi esse o conceito usado que ele gera. Desempenho Ricardo Fenley,
por Isadora para executar significa atributos como superintendente de educação
uma tarefa complexa e experimentação inteligente, do banco, coordena o
enorme em um período tão engenhosidade, habilidades conhecimento a ser
curto. Ela não tinha todo o interpessoais e resiliência transmitido para toda a área
conhecimento nem saberia em face da adversidade. comercial, o que inclui toda a
tomar todas as decisões. O espaço para manobra é rede de agências. Fenley já
Apenas o conjunto de extremamente alto. conseguiu colocar 16 mil
400 pessoas pôde realizar a Na era em que prevalece funcionários em treinamento
tradução. Cada página foi a economia do serviço, o no programa de educação de
lida e checada por pessoas conhecimento é acumulado negócios financeiros, chamado
diferentes. O conhecimento em algumas pessoas e se vai de Enfin. É metade do
coletivo supera a quando o funcionário sai contingente total do banco.
especialização individual. da empresa. Há poucas e Esses funcionários não
No modelo clássico da ineficientes formas de guardar realizam tarefas coletivamente
manufatura, a dependência do o conhecimento. Ele não está como o grupo coordenado
trabalhador era muito menor. no coletivo. Está isolado e pela menina Isadora, mas há
O processo reduzia o erro, em fragmentado nas pessoas. grandes semelhanças. Como
um contexto em que a tarefa E se perde quando elas saem. em diversas organizações, uma
era simples e o trabalhador Agora imagine uma carga enorme de conhecimento
fácil de controlar. Erros eram instituição que lida com um tem de ser passada para um
inadmissíveis e, portanto, elemento abstrato. Dinheiro, gerente para que ele possa
sumariamente punidos. por exemplo. Há processos tomar decisões sem consultar a
24 Para Amy, o modelo antigo bem estruturados nos bancos, todo momento um superior.
era baseado na eficiência da mas cada funcionário precisa Ele precisa saber e atuar
execução. O atual deve ser tomar decisões diferentes e com autonomia.
baseado no aprendizado. complexas todos os dias. A paulistana Luciane
Erros são permitidos desde O Banco Real possui 33 mil Martins Costa, por exemplo,
que gerem conhecimento para funcionários, dezenas de conhece bem a atividade
que não sejam repetidos. produtos e mais de bancária; trabalhava há dez
O desempenho se media 14 milhões de clientes. anos no setor antes de entrar
por horas trabalhadas; A complexidade é enorme no Real no início de 2008.
agora, se mede pelo e o cenário econômico muda Até então, atendia clientes
conhecimento e o valor todos os dias. comuns; no Real, passou a
trabalhar com clientes de alta
renda, categoria que no banco
é chamada de Van Gogh.
Luciane, aos 34 anos e
algo tão antigo
Trocar informação é formada em administração,
A tecnologia
quanto a civilização. passou a estudar os módulos
ática a níveis
potencializou essa pr disponíveis na intranet.
a nova inteligência
ilimitados criando um É onde começam as
semelhanças. No grupo da
adolescente Isadora, os fãs
B2B
DEZ/JAN
2009
4. Ricardo Fernandes
e Luciane Martins
Costa, do Banco
Real: em uma
empresa baseada em
informação, a rotina
é estudar sempre
25
precisavam saber inglês, 45 e 60 minutos. Cursos mais radicalmente o modelo de
conhecer o mundo de complicados, como o de educação existente hoje em
Harry Potter e dominar as crédito, chegam a duas horas. universidades e empresas.
ferramentas de colaboração No final da tarde, Luciane No modelo tradicional, há
da internet. É o necessário estudava mais. Em seis meses, enormes discrepâncias no
para trabalhar em grupo. a gerente fez 35 cursos. desempenho dos alunos. Em
Da mesma forma, o primeiro A informação oferecida parte, diz Clayton, porque um
curso feito por Luciane em rede, além de propiciar a conceito absorvido facilmente
continha tudo sobre os colaboração, também traz por um indivíduo pode ser de
processos do Real, uma nova possibilidade de difícil compreensão para outro.
conhecimento mínimo aprendizado. Como explica Módulos de ensino disponíveis
necessário para fazer parte outro especialista de Harvard, na internet, como os do Banco
da multinacional. Clayton Christensen, cada Real, permitem estudar na
Todos os dias, Luciane indivíduo tem ritmo e forma velocidade própria de cada um.
chegava no banco e fazia um de aprender diferente. Luciane, que conhecia boa
ou dois cursos on-line Clayton é conhecido por suas parte dos conteúdos pela
providos pelo Real. Em teorias de inovação e aposta experiência de dez anos em
média, cada um durava entre que a tecnologia pode alterar bancos, pôde voltar quantas
B2B
DEZ/JAN
2009
5. capa ᵬ mais valor
Até então, Luciane atendia
os clientes de maneira
da informação
O profissional da era instintiva. Apesar de conhecer
a enorme carga
precisa absorver um a rotina de um banco, ainda
ra tomar decisões
de conhecimento pa não conseguia bater as metas
ilidade
com autonomia e ag estipuladas. Após o curso,
passou a abrir o sistema do
banco sempre que recebia a
ligação de um cliente. Na tela,
vezes fosse necessário nos financeira, economia e outras ela vê rapidamente todo o
pontos que desconhecia. disciplinas necessárias a um histórico da pessoa com quem
Em meados de 2008, gerente de banco. está falando. Em outubro, um
Luciane completou os cursos De volta à agência, cliente veio à agência e ela
indicados especificamente para Fernandes percebeu Luciane viu que ele tinha uma filha
o seu trabalho e foi convocada mais confiante. Como na adolescente. Rapidamente,
a participar de um treinamento comparação de Amy, de ofereceu um consórcio de um
presencial. Na agência, embora Harvard, o perfil de um carro. O cliente comprou.
existam 14 funcionários, os operário da informação muda Em novembro, um outro
700 clientes Van Gogh são radicalmente quando ele ganha cliente ligou para uma
atendidos somente por conhecimento. Em uma linha consulta de rotina e ela viu
Luciane e mais uma gerente. de montagem, o operário que a conta corrente estava
Para Luciane estudar, a realiza tarefas repetitivas e a descoberta. Ofereceu um
agência Mandaqui perderia atitude importa pouco. Na empréstimo que já estava
uma funcionária por 20 dias. sociedade da informação, a aprovado e o cliente pôde
26
Fenley, superintendente de forma como o funcionário cobrir o saldo. Luciane passou
educação, comenta que trabalha e se expressa a bater a meta semanal
os gerentes das agências influencia no desempenho. abrindo cinco contas novas
resistem a liberar os
funcionários para o
treinamento com receio de
prejudicar o atendimento.
O gerente-geral de Luciane,
Ricardo Fernandes, a liberou.
Nesse período, ela deixou de ir
à agência na zona norte de São
Paulo a cinco minutos de sua
casa e passou a se dirigir
diariamente ao centro da
cidade. Ali, em um hotel,
pouco mais de 30 funcionários
do Real assistiram a aulas Clayton
desenvolvidas pelo Ibmec Christensen:
cada indivíduo
São Paulo. O curso incluiu tem ritmo e
aulas de etiqueta, matemática perfil diferentes
para aprender
B2B
DEZ/JAN
2009
6. por semana. Durante uma rotineiramente o trabalho e as impressões dos gerentes
campanha de venda de seguro é realizado de forma gerais foram registradas. Em
de vida, Luciane também relativamente solitária. 2008, Fenley treinou 2,4 mil
bateu a meta individual de Sim, há apoio. Ela pode tirar pessoas em 120 turmas
R$ 10 mil em vendas. dúvidas com os colegas da como essa. Em janeiro, o
Luciane pensa em agência. Além disso, depois de superintendente vai extrair e
fazer pós-graduação no futuro, voltar ao banco o número de organizar esse material. “A
mas ainda não decidiu quando. amigos no comunicador informação ali é riquíssima”.
No momento, tem mais seis instantâneo do Real (uma Trocar informação é uma
cursos on-line para fazer. Em espécie de MSN interno) prática tão antiga quanto a
uma organização baseada na chegou a 20. Com pelo civilização. A novidade é que
informação o aprendizado menos três deles, Luciane a tecnologia, e principalmente
nunca termina. Para o conversa quase todos os a internet, potencializou essa
trabalhador do conhecimento, dias. Eles comentam o que prática a níveis ilimitados.
a rotina é estudar sempre. aprenderam e trocam Uma adolescente capaz de
experiências. Mas no geral, coordenar centenas de pessoas
Compartilhe e ele virá não há um repositório de para uma tradução de um
Apesar das semelhanças, conhecimento criado pelos livro inteiro é um exemplo
as histórias da adolescente próprios funcionários. singelo, mas ilustrativo do
Isadora e da gerente do Fenley, o superintendente, poder da colaboração. As
Real Luciane têm diferenças busca hoje um repositório de grandes corporações apenas
importantes. Traduzir o sétimo informações como esse. Ele começaram a se aproveitar
Harry Potter foi um trabalho foi criado pelos que fizeram desse recurso.
coletivo. Todos buscavam os cursos presenciais como O caso do Banco Real 27
um objetivo único que foi Luciane. De volta ao mostra como uma instituição
alcançado ao mesmo tempo. Mandaqui, ela e Ricardo pode levar conhecimento aos
Dos 400 interessados que a Fernandes, gerente-geral de funcionários de forma
menina Isadora reuniu em seu sua agência, participaram de flexível. É um cenário ainda
site, 20 ficaram responsáveis uma teleconferência com pouco comum, pelo menos
por transcrever a cópia baixada todos os alunos e seus com o nível de complexidade
da rede, outros dez receberam respectivos gerentes. Durante vivenciado por Luciane.
a tarefa de verter a obra para meia hora, eles comentaram o Mas há etapas ainda mais
português. O resto leu e que foi aprendido. Notas de avançadas, como mostra o
checou a qualidade do trabalho desempenho foram atribuídas exemplo da adolescente
realizado. Apesar das tarefas
distintas e de uma certa
hierarquia, o ganho foi similar
para todos. Se um falhasse, o teligência podem
Diferentes tipos de in
trabalho de todos seria do. Ao colaborar,
dificultar o aprendiza
comprometido. Não havia
nhecimento mais
metas pessoais, apenas o o grupo absorve o co
dos melhores
sucesso geral. rápido e com resulta
No caso de Luciane, há
metas individuais e
B2B
DEZ/JAN
2009
7. capa ᵬ mais valor
Isadora. Fenley, do Real,
planeja buscar esse tipo de
informação coletiva. O
caminho, diz Amy, a
especialista de Harvard é
estabelecer processos
padronizados para capturar
rotineiramente a informação e
tornar a informação disponível
quando e onde for preciso.
Um exemplo raro de uso Rafael Gomes:
postar no
inovador desse conceito é o blog, mediar
que ocorre hoje na brasileira comentários da
comunidade e
CPM Braxis. Maria Carolina criar novo portal
Mello Passos, gerente de
qualidade, organiza o
conhecimento da empresa.
Ela precisa fazer com que
os cinco mil funcionários
da empresa troquem
informações. E se trata de um
conhecimento extremamente
sofisticado, que vai de
28 linguagens de programação a
complexas regras de negócios mil realmente acessam as bases tempo lendo e escrevendo na
de clientes em todos os de dados. E embora algumas internet. Toca um blog pessoal,
setores da economia. equipes não trabalhem sem a participa de uma comunidade
Nesse caso, não basta base, há executivos que ainda de software livre e ainda é um
executar um serviço em mantêm tudo duplicado no dos embaixadores brasileiros
grupo, como foi a tradução do disco rígido pessoal (é apenas do projeto Fedora, uma
Harry Potter. Programadores uma resistência cultural; o variação do sistema
de software, ainda que em risco de vazamento de operacional Linux.
grupos menores, fazem isso o informação é pequeno, Na CPM Braxis, Rafael foi
tempo todo. Na CPM Braxis, somente executivos de alto um dos primeiros e mais
a idéia foi mais adiante. Cada escalão acessam dados críticos). entusiasmados colaboradores
funcionário pode publicar seu Hoje, o que impulsiona do portal de compartilhamento
conhecimento para que todos mesmo os portais são os fãs da de informações, o Go Share,
possam acessar. A soma das colaboração. Para criar as bases no qual ele medeia o
informações de todos é mais de conhecimento, Maria tópico sobre software livre.
do que qualquer especialista Carolina conta principalmente E a carga de trabalho do jovem
pode saber individualmente. com funcionários como o técnico ainda deve aumentar.
O projeto ainda está longe baiano Rafael Gomes. Analista Isso porque Maria Carolina
de ser completo. Dos cinco mil de infra-estrutura, o técnico de está montando portais para
funcionários, pouco mais de 23 anos passa boa parte de seu cada área da empresa. Ela
B2B
DEZ/JAN
2009
8. tem de criar uma nova A própria comunidade se Um post chega a ter
cultura no funcionário da auto-regula. Qualquer algumas dezenas de
empresa; precisa fomentar funcionário que comportasse comentários. Para Rafael,
os fóruns e estimular as mal ou mesmo gastasse tempo a atividade aumentou a
pessoas a publicar. Há hoje demais com a atividade, seria visibilidade profissional
quatro portais: processos, prontamente percebido. dentro da CPM Braxis;
aplicações, metodologia e o Pelo menos uma vez por alguns posts são comentados
GoShare (que inclui todo dia Rafael checa os posts por executivos do
tipo de documento). publicados. Se não tiver nada primeiro escalão.
Até o final de dezembro, de interessante, gasta menos Mas o retorno para a
Maria Carolina espera ter sete de dez minutos, faz uma empresa é mais interessante.
portais. Alguns funcionários leitura dinâmica. Às vezes, Em dezembro, a CPM
simplesmente ligam para ela e chega a gastar meia hora. Braxis começa a operar a
sugerem um portal sobre Publica uma vez por semana, infra-estrutura de um novo
determinado assunto. Proposta no mínimo, e sempre no cliente. É o grupo de empresas
feita, proposta aceita; o tempo vago, dentro do financeiras americanas Citco.
funcionário ajuda a montar e horário de almoço. Nesse Duas equipes, uma baiana e
administrar o novo site. caso, leva uma hora; requer outra paulista, vão monitorar e
Um desses portais será estudo, a busca de referências dar suporte aos mais de 1,3
para clientes globais e Rafael e então o tempo para mil servidores do cliente, uma
já se prontificou a cuidar finalmente escrever o post. infra-estrutura espalhada pelo
da área de infra-estrutura. Para participar da montagem mundo inteiro. A equipe, já
Para muitos executivos e do novo portal, terá de gastar montada, é composta por dez
empresários, ferramentas de mais tempo, uma parte dele funcionários, Rafael entre eles. 29
conhecimento como essas no expediente normal. Em breve, serão 27.
podem consumir tempo
demais, algo que poderia ser
gasto atendendo melhor e Biblioteca
mais clientes. É uma
Alguns livros que passeiam bem pelo conceito de
preocupação similar à dos
inteligência coletiva:
gerentes de agência nos
“Wikinomics”, de Don Tapscott e Anthony D. Williams
bancos, que relutam em Mostra como empresas inteligentes podem explorar
deixar os funcionários competência e genialidade do coletivo para estimular inovação,
se ausentarem para crescimento e sucesso.
freqüentar treinamentos. “Convergence Culture”, de Henry Jenkins (ainda sem
Antes de considerar tradução no Brasil)
possíveis ganhos com esse tipo Investiga o alvoroço em torno das novas mídias e expõe as
de atividade, é importante importantes transformações culturais que ocorrem à medida
que esses meios convergem.
dimensionar o tempo gasto.
Rafael não precisa aprovar os “Disrupting Class: How Disruptive Innovation Will Change
the Way the World”, de Clayton Christensen (ainda sem
posts na comunidade na qual é
tradução no Brasil)
mediador. Nunca teve Aplica a teoria de inovação do autor ao segmento
de chamar a atenção de educacional, oferecendo modelos de transmissão de
ninguém ou deletar posts. conhecimento para grupos não atendidos atualmente.
B2B
DEZ/JAN
2009
9. capa ᵬ mais valor
O primeiro passo da aplicações, padrões,
equipe é consultar a base de configurações. Para isso,
conhecimento e compreender precisavam perguntar aos
quais são as melhores práticas próprios técnicos da Citco.
para esse tipo projeto, obter Em 17 de novembro, três
uma lista a ser checada, americanos chegaram ao
modelos, descobrir o que é Brasil para uma maratona de
necessário para fazer um reuniões. Durante seis dias,
plano do projeto e como Rafael e a equipe enfrentaram
avaliar riscos. Tudo baseado 10 horas diárias de conversas,
na experiência anterior de perguntando cada detalhe que
outros funcionários e boa lembrassem sobre quais eram
parte postados por eles as ferramentas e sua forma de
mesmos. Essa informação operação. Alguns levaram Rogério Costa, da USP:
antes estava dispersa na notebooks, outros blocos de multidão anônima
produz conhecimento
intranet e desde o início do anotação. Era preciso aprender coletivo quando há um
semestre, graças ao trabalho rápido, o cliente tinha pouco propósito comum
de Maria Carolina, está tempo. Quando os americanos
centralizada em uma única foram embora, toda a e maneira diferente. O
base de dados, o Go Share. informação foi colocada aprendizado da equipe de
Depois de descobrir o na base de conhecimento. Rafael foi compartilhado.
procedimento, faltava o mais Cada dado coletado se somou No fim, não é muito diferente
difícil para a equipe de ao do colega. Como o teórico do Harry Potter de Isadora.
30 Rafael: entender a gigantesca da inovação Clayton No mundo da colaboração,
infra-estrutura do cliente. Isso Christensen lembra, o sucesso só pode ser
inclui um número enorme de cada um aprende com ritmo alcançado coletivamente.
Inteligência coletiva
O conceito de inteligência compartilhamento da com Pierre Levy na década de
coletiva não é novo. Desde os informação de um grupo em 90. Para ele, as tecnologias de
tempos das cavernas, humanos determinado ambiente propício, comunicação ampliaram
discutem e tomam decisões baseado em determinados de fato as possibilidades de
coletivamente. Foi a dimensão fatores, para a ampliação inter-relação entre as pessoas.
do conceito que mudou, do conhecimento. “Se inteligência coletiva é, num
redefinida na década de 90 O professor Rogério da primeiro momento, troca de
dentro de debates acadêmicos Costa, doutor em história da idéias, claro que as redes de
promovidos por filósofos da filosofia pela Université de comunicação como internet e
informação como Piérre Levy e Paris IV (Paris-Sorbonne) e celulares ampliam em muito
Harold Bloom. Agora, analisa-se mestre em filosofia pela esse fenômeno.”
a “inteligência coletiva em Universidade de São Paulo Antes do ambiente on-line,
rede”. Todo o resultado do (USP), trabalhou diretamente o trabalho coletivo era mais
B2B
DEZ/JAN
2009
10. demorado e difícil. Hoje, é e se tornar algo maior, que todos Entretanto é importante
possível se comunicar em várias podem aproveitar. enfatizar que inteligência
direções, a distância e em escala Mas a inteligência coletiva coletiva não significa
global. Consumidores criticam também ocorre em ambientes simplesmente adotar novas
produtos com defeito e ouvem a corporativos. Em 2001, algumas tecnologias ou métodos
crítica do vizinho. Pesquisadores empresas de produtos administrativos. É uma nova 31
se unem para trocar medicinais (Procter & Gamble, forma de comunicação. A
experiências. Pacientes já não se Eli Lilly, Exxon etc.) procuravam perspectiva de mudança cultural
contentam mais com o que o soluções externas para existe no médio e longo prazo,
médico diz. E leitores não problemas internos da empresa. na forma de gerar e lidar com
esperam meses pela tradução de Assim surgiu a Innocentive o conhecimento.
um livro. A chegada da internet (www.innocentive.com), um Coletivos inteligentes não
mudou a maneira de gerar portal na internet no qual são criados do nada; são
conhecimento. As produções empresas buscam soluções para estimulados a acontecer em
intelectuais não são apenas seus problemas e oferecem, de ambientes favoráveis e cercados
exclusivas de uma pessoa, país forma anônima, recompensas por alguns fatores (veja quadro
ou classe social isolada, mas em dinheiro. Qualquer na página seguinte). Quando se
da coletividade. pesquisador pode tentar resolver pensa em controlar grupos ou
A inteligência coletiva tem o problema. Com a máquina coletivos maiores, é possível
uma conexão óbvia com o funcionando, bastaria que as obter respostas coletivas a
desenvolvimento da própria empresas formulassem bem determinados estímulos. O
educação. Com novos meios à seus problemas que a “sabedoria projeto Innocentive é um caso
disposição, por que aprender das multidões” da rede da de coletivo inteligente, mas
algo em meios tradicionais? Innocentive traria os resultados, trabalha com a premiação
Os conhecimentos de uma sem investir e desenvolver a financeira como incentivo e
pessoa podem se somar a outros solução internamente. estabelece competição entre os
B2B
DEZ/JAN
2009
11. capa ᵬ mais valor
participantes. Embora traga moderados por “guardiões”, também que muitos outros
soluções benéficas para a os próprios usuários, que não costumam interagir
comunidade, elas serão aplicadas impedem alterações bruscas e com freqüência e apenas
somente pela compradora da vandalismos nos textos. Esse observam as ações de outros
solução. Ou seja, diz Rogério, é cuidado resulta em um “grande usuários. Desse modo, é
colaborativo somente para o cérebro”, um banco de dados comum encontrar usuários
propositor do prêmio. acessível instantaneamente. “espectadores” que são
Para haver inteligência A Wikipédia também exibe cadastrados nos serviço, mas
coletiva, diz o professor, é uma distância entre quem raramente acessam. Para a
preciso compromisso. E isso só é pesquisa e quem colabora. inteligência coletiva se
obtido com propósitos comuns, Se por um lado há usuários desenvolver completamente,
com a inspiração de uma causa. assíduos que diariamente estão é importante o engajamento
E um propósito e uma causa não sempre participando, acontece dos envolvidos em participar.
aparecem de forma natural. Um
ponto de partida sugerido é de
extrair de um grupo de usuários Fatores a favor de
um tipo de troca de informação, um coletivo inteligente
e posteriormente, conhecimento.
O ideal é partir de um Grupos que se tornam inteligências coletivas surgem
problema a ser resolvido que os apenas com alguns fatores a favor, que são:
Diversidade Opiniões divergentes são essenciais para
indivíduos do grupo, sozinhos, a formação de um consciente democrático e ampliam
não seriam capazes de as perspectivas.
solucionar. O propósito diz o Estrutura hierárquica (ou a falta dela) Segundo o
que deve ser feito. A causa é o professor Rogério da Costa, a hierarquia deve assegurar
32 que inspira a fazer. A Wikipédia que o propósito esteja vivo, que a causa valha a pena. “Isso
significa que a verdadeira liderança nunca desaparece, porque
(pt.wikipedia.org), por exemplo,
alguns estão mais aptos do que outros a liderar dessa forma.
tem o propósito da construção Mas autoritarismo é incompatível com inteligência coletiva.”
coletiva do conhecimento. Se Tarefa em módulos A distribuição de tarefas entre grupos
cada um sabe um pouco, todos reduz a interdependência entre os membros e aumenta
juntos sabem muito. a performance.
Na Wikipédia, um indivíduo Densa estrutura de comunicação Quanto mais canais
de comunicação disponíveis para os membros, melhor o
pode editar um verbete com o
entendimento e o andamento do projeto.
que conhece dele, passar para Incentivos à contribuição Não há nada de graça. Premiações
outras pessoas revisarem e, por e reconhecimento por colaboração são bem-vindos, e no caso
fim, o verbete é publicado, de remuneração aumenta a contribuição do membro em 30%.
disponível para qualquer um Não é uma regra irrefutável, mas, sim, um incentivo.
pesquisar. Todos se beneficiam Vocabulário comum Facilita e agiliza o compartilhamento
da informação. Pode ser feito por meio de palavras comuns,
e por isso a participação é de fácil entendimento ao coletivo participante.
maciça: 75 mil colaboradores Uso de taxonomia O termo denomina o uso de “apelidos”
ativos e dez milhões de verbetes ou etiquetas que você pode colocar em um termo para
em mais de 250 línguas. A causa classificá-lo de outras maneiras que a simples categorização
é manter o conhecimento não alcança. É muito usado em sites 2.0, como o Delicious,
vivo e relevante. A Wikipédia e lojas on-line, como a Amazon.
Conscientização Saber qual o seu papel em uma atividade.
pode não parecer confiável,
mas seus verbetes são Fonte: Cartilha de Pesquisas do Center for Collective Intelligence, do MIT
B2B
DEZ/JAN
2009