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capa
                                Por Rogério Godinho
                                 e Anderson Costa




                                                xecução
                          rmação    tornou a e
             era da info                          sucesso
          A
                         o insuficie nte para o
            ficiente alg                    taurar um
          e
                       ios. É  preciso ins        nte.
          nos negóc                  ado consta
                           aprendiz             inteligência
           p rocesso de             no qual a
                           cenário                dar a
           N  esse novo               ia pode aju
                            tecnolog                   roduzir
           p  revalece, a                  extrair e p
                               cultura e
            trans mitir uma                   ente da
                         nto n  ovo diretam       escola
             conhecime               esa é uma
                          . A empr
             experiência




B2B
DEZ/JAN
2009
mobilidade
                            ᵬ mais valor
                              convergência
                              governo
                              rede social
                              indústria
                              talento




I
   ISADORA TEM 14 ANOS. EM JULHO DO
ANO PASSADO, 400 PESSOAS ATENDERAM
AO SEU CHAMADO. NA ÉPOCA, TODA A
COMUNIDADE DE FÃS DO BRUXO HARRY
POTTER AGUARDAVA ANSIOSAMENTE O
LANÇAMENTO DO ÚLTIMO LIVRO DA
SÉRIE, O TÍTULO “AS RELÍQUIAS DA
MORTE”. A obra tem 784 páginas e estava para
ser lançada, ainda em inglês. Sem esperar pela
versão oficial, os fãs liderados pela internauta
adolescente traduziram tudo em dez dias.
A palavra mágica é colaboração. As empresas
precisam aprender com Isadora.
   O modelo de execução de tarefas seguido
pelas corporações hoje ainda se baseia na era da
manufatura. Pioneiros como Henry Ford e
Frederick Taylor dividiram tarefas em ações
                                                   23
repetitivas e previsíveis em uma linha de
montagem. Inovador no passado, esse modelo
hoje está definitivamente superado. “Execução
sem falhas não garante mais o sucesso”, diz a
especialista em gestão de Harvard, Amy
Edmonson, em um artigo publicado em julho
deste ano. “A economia do conhecimento exige
decisões em colaboração para responder ao
complexo e imprevisível”.




                                                    B2B
                                                   DEZ/JAN
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capa      ᵬ mais valor




             Foi esse o conceito usado     que ele gera. Desempenho            Ricardo Fenley,
          por Isadora para executar        significa atributos como         superintendente de educação
          uma tarefa complexa e            experimentação inteligente,      do banco, coordena o
          enorme em um período tão         engenhosidade, habilidades       conhecimento a ser
          curto. Ela não tinha todo o      interpessoais e resiliência      transmitido para toda a área
          conhecimento nem saberia         em face da adversidade.          comercial, o que inclui toda a
          tomar todas as decisões.         O espaço para manobra é          rede de agências. Fenley já
          Apenas o conjunto de             extremamente alto.               conseguiu colocar 16 mil
          400 pessoas pôde realizar a         Na era em que prevalece       funcionários em treinamento
          tradução. Cada página foi        a economia do serviço, o         no programa de educação de
          lida e checada por pessoas       conhecimento é acumulado         negócios financeiros, chamado
          diferentes. O conhecimento       em algumas pessoas e se vai      de Enfin. É metade do
          coletivo supera a                quando o funcionário sai         contingente total do banco.
          especialização individual.       da empresa. Há poucas e             Esses funcionários não
             No modelo clássico da         ineficientes formas de guardar   realizam tarefas coletivamente
          manufatura, a dependência do     o conhecimento. Ele não está     como o grupo coordenado
          trabalhador era muito menor.     no coletivo. Está isolado e      pela menina Isadora, mas há
          O processo reduzia o erro, em    fragmentado nas pessoas.         grandes semelhanças. Como
          um contexto em que a tarefa      E se perde quando elas saem.     em diversas organizações, uma
          era simples e o trabalhador         Agora imagine uma             carga enorme de conhecimento
          fácil de controlar. Erros eram   instituição que lida com um      tem de ser passada para um
          inadmissíveis e, portanto,       elemento abstrato. Dinheiro,     gerente para que ele possa
          sumariamente punidos.            por exemplo. Há processos        tomar decisões sem consultar a
  24         Para Amy, o modelo antigo     bem estruturados nos bancos,     todo momento um superior.
          era baseado na eficiência da     mas cada funcionário precisa     Ele precisa saber e atuar
          execução. O atual deve ser       tomar decisões diferentes e      com autonomia.
          baseado no aprendizado.          complexas todos os dias.            A paulistana Luciane
          Erros são permitidos desde       O Banco Real possui 33 mil       Martins Costa, por exemplo,
          que gerem conhecimento para      funcionários, dezenas de         conhece bem a atividade
          que não sejam repetidos.         produtos e mais de               bancária; trabalhava há dez
             O desempenho se media         14 milhões de clientes.          anos no setor antes de entrar
          por horas trabalhadas;           A complexidade é enorme          no Real no início de 2008.
          agora, se mede pelo              e o cenário econômico muda       Até então, atendia clientes
          conhecimento e o valor           todos os dias.                   comuns; no Real, passou a
                                                                            trabalhar com clientes de alta
                                                                            renda, categoria que no banco
                                                                            é chamada de Van Gogh.
                                                                            Luciane, aos 34 anos e
                                     algo tão antigo
               Trocar informação é                                          formada em administração,
                                     A tecnologia
               quanto a civilização.                                        passou a estudar os módulos
                                     ática a níveis
               potencializou essa pr                                        disponíveis na intranet.
                                      a nova inteligência
               ilimitados criando um                                           É onde começam as
                                                                            semelhanças. No grupo da
                                                                            adolescente Isadora, os fãs
 B2B
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2009
Ricardo Fernandes
                                                                    e Luciane Martins
                                                                    Costa, do Banco
                                                                    Real: em uma
                                                                    empresa baseada em
                                                                    informação, a rotina
                                                                    é estudar sempre




                                                                                                 25


precisavam saber inglês,      45 e 60 minutos. Cursos mais     radicalmente o modelo de
conhecer o mundo de           complicados, como o de           educação existente hoje em
Harry Potter e dominar as     crédito, chegam a duas horas.    universidades e empresas.
ferramentas de colaboração    No final da tarde, Luciane           No modelo tradicional, há
da internet. É o necessário   estudava mais. Em seis meses,    enormes discrepâncias no
para trabalhar em grupo.      a gerente fez 35 cursos.         desempenho dos alunos. Em
Da mesma forma, o primeiro       A informação oferecida        parte, diz Clayton, porque um
curso feito por Luciane       em rede, além de propiciar a     conceito absorvido facilmente
continha tudo sobre os        colaboração, também traz         por um indivíduo pode ser de
processos do Real,            uma nova possibilidade de        difícil compreensão para outro.
conhecimento mínimo           aprendizado. Como explica        Módulos de ensino disponíveis
necessário para fazer parte   outro especialista de Harvard,   na internet, como os do Banco
da multinacional.             Clayton Christensen, cada        Real, permitem estudar na
   Todos os dias, Luciane     indivíduo tem ritmo e forma      velocidade própria de cada um.
chegava no banco e fazia um   de aprender diferente.           Luciane, que conhecia boa
ou dois cursos on-line        Clayton é conhecido por suas     parte dos conteúdos pela
providos pelo Real. Em        teorias de inovação e aposta     experiência de dez anos em
média, cada um durava entre   que a tecnologia pode alterar    bancos, pôde voltar quantas
                                                                                                  B2B
                                                                                                 DEZ/JAN
                                                                                                 2009
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                                                                                  Até então, Luciane atendia
                                                                              os clientes de maneira
                                       da informação
                O profissional da era                                         instintiva. Apesar de conhecer
                                      a enorme carga
                precisa absorver um                                           a rotina de um banco, ainda
                                     ra tomar decisões
                de conhecimento pa                                            não conseguia bater as metas
                                      ilidade
                com autonomia e ag                                            estipuladas. Após o curso,
                                                                              passou a abrir o sistema do
                                                                              banco sempre que recebia a
                                                                              ligação de um cliente. Na tela,
          vezes fosse necessário nos        financeira, economia e outras     ela vê rapidamente todo o
          pontos que desconhecia.           disciplinas necessárias a um      histórico da pessoa com quem
             Em meados de 2008,             gerente de banco.                 está falando. Em outubro, um
          Luciane completou os cursos           De volta à agência,           cliente veio à agência e ela
          indicados especificamente para    Fernandes percebeu Luciane        viu que ele tinha uma filha
          o seu trabalho e foi convocada    mais confiante. Como na           adolescente. Rapidamente,
          a participar de um treinamento    comparação de Amy, de             ofereceu um consórcio de um
          presencial. Na agência, embora    Harvard, o perfil de um           carro. O cliente comprou.
          existam 14 funcionários, os       operário da informação muda       Em novembro, um outro
          700 clientes Van Gogh são         radicalmente quando ele ganha     cliente ligou para uma
          atendidos somente por             conhecimento. Em uma linha        consulta de rotina e ela viu
          Luciane e mais uma gerente.       de montagem, o operário           que a conta corrente estava
          Para Luciane estudar, a           realiza tarefas repetitivas e a   descoberta. Ofereceu um
          agência Mandaqui perderia         atitude importa pouco. Na         empréstimo que já estava
          uma funcionária por 20 dias.      sociedade da informação, a        aprovado e o cliente pôde
  26
          Fenley, superintendente de        forma como o funcionário          cobrir o saldo. Luciane passou
          educação, comenta que             trabalha e se expressa            a bater a meta semanal
          os gerentes das agências          influencia no desempenho.         abrindo cinco contas novas
          resistem a liberar os
          funcionários para o
          treinamento com receio de
          prejudicar o atendimento.
             O gerente-geral de Luciane,
          Ricardo Fernandes, a liberou.
          Nesse período, ela deixou de ir
          à agência na zona norte de São
          Paulo a cinco minutos de sua
          casa e passou a se dirigir
          diariamente ao centro da
          cidade. Ali, em um hotel,
          pouco mais de 30 funcionários
          do Real assistiram a aulas                                                               Clayton
          desenvolvidas pelo Ibmec                                                                 Christensen:
                                                                                                   cada indivíduo
          São Paulo. O curso incluiu                                                               tem ritmo e
          aulas de etiqueta, matemática                                                            perfil diferentes
                                                                                                   para aprender
 B2B
DEZ/JAN
2009
por semana. Durante uma           rotineiramente o trabalho        e as impressões dos gerentes
campanha de venda de seguro       é realizado de forma             gerais foram registradas. Em
de vida, Luciane também           relativamente solitária.         2008, Fenley treinou 2,4 mil
bateu a meta individual de        Sim, há apoio. Ela pode tirar    pessoas em 120 turmas
R$ 10 mil em vendas.              dúvidas com os colegas da        como essa. Em janeiro, o
   Luciane pensa em               agência. Além disso, depois de   superintendente vai extrair e
fazer pós-graduação no futuro,    voltar ao banco o número de      organizar esse material. “A
mas ainda não decidiu quando.     amigos no comunicador            informação ali é riquíssima”.
No momento, tem mais seis         instantâneo do Real (uma            Trocar informação é uma
cursos on-line para fazer. Em     espécie de MSN interno)          prática tão antiga quanto a
uma organização baseada na        chegou a 20. Com pelo            civilização. A novidade é que
informação o aprendizado          menos três deles, Luciane        a tecnologia, e principalmente
nunca termina. Para o             conversa quase todos os          a internet, potencializou essa
trabalhador do conhecimento,      dias. Eles comentam o que        prática a níveis ilimitados.
a rotina é estudar sempre.        aprenderam e trocam              Uma adolescente capaz de
                                  experiências. Mas no geral,      coordenar centenas de pessoas
Compartilhe e ele virá            não há um repositório de         para uma tradução de um
    Apesar das semelhanças,       conhecimento criado pelos        livro inteiro é um exemplo
as histórias da adolescente       próprios funcionários.           singelo, mas ilustrativo do
Isadora e da gerente do              Fenley, o superintendente,    poder da colaboração. As
Real Luciane têm diferenças       busca hoje um repositório de     grandes corporações apenas
importantes. Traduzir o sétimo    informações como esse. Ele       começaram a se aproveitar
Harry Potter foi um trabalho      foi criado pelos que fizeram     desse recurso.
coletivo. Todos buscavam          os cursos presenciais como          O caso do Banco Real          27
um objetivo único que foi         Luciane. De volta ao             mostra como uma instituição
alcançado ao mesmo tempo.         Mandaqui, ela e Ricardo          pode levar conhecimento aos
Dos 400 interessados que a        Fernandes, gerente-geral de      funcionários de forma
menina Isadora reuniu em seu      sua agência, participaram de     flexível. É um cenário ainda
site, 20 ficaram responsáveis     uma teleconferência com          pouco comum, pelo menos
por transcrever a cópia baixada   todos os alunos e seus           com o nível de complexidade
da rede, outros dez receberam     respectivos gerentes. Durante    vivenciado por Luciane.
a tarefa de verter a obra para    meia hora, eles comentaram o        Mas há etapas ainda mais
português. O resto leu e          que foi aprendido. Notas de      avançadas, como mostra o
checou a qualidade do trabalho    desempenho foram atribuídas      exemplo da adolescente
realizado. Apesar das tarefas
distintas e de uma certa
hierarquia, o ganho foi similar
para todos. Se um falhasse, o                                 teligência podem
                                       Diferentes tipos de in
trabalho de todos seria                                      do. Ao colaborar,
                                       dificultar o aprendiza
comprometido. Não havia
                                                              nhecimento mais
metas pessoais, apenas o               o grupo absorve o co
                                                              dos melhores
sucesso geral.                         rápido e com resulta
    No caso de Luciane, há
metas individuais e
                                                                                                    B2B
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capa      ᵬ mais valor




          Isadora. Fenley, do Real,
          planeja buscar esse tipo de
          informação coletiva. O
          caminho, diz Amy, a
          especialista de Harvard é
          estabelecer processos
          padronizados para capturar
          rotineiramente a informação e
          tornar a informação disponível
          quando e onde for preciso.
             Um exemplo raro de uso                                                          Rafael Gomes:
                                                                                             postar no
          inovador desse conceito é o                                                        blog, mediar
          que ocorre hoje na brasileira                                                      comentários da
                                                                                             comunidade e
          CPM Braxis. Maria Carolina                                                         criar novo portal
          Mello Passos, gerente de
          qualidade, organiza o
          conhecimento da empresa.
          Ela precisa fazer com que
          os cinco mil funcionários
          da empresa troquem
          informações. E se trata de um
          conhecimento extremamente
          sofisticado, que vai de
  28      linguagens de programação a
          complexas regras de negócios     mil realmente acessam as bases     tempo lendo e escrevendo na
          de clientes em todos os          de dados. E embora algumas         internet. Toca um blog pessoal,
          setores da economia.             equipes não trabalhem sem a        participa de uma comunidade
             Nesse caso, não basta         base, há executivos que ainda      de software livre e ainda é um
          executar um serviço em           mantêm tudo duplicado no           dos embaixadores brasileiros
          grupo, como foi a tradução do    disco rígido pessoal (é apenas     do projeto Fedora, uma
          Harry Potter. Programadores      uma resistência cultural; o        variação do sistema
          de software, ainda que em        risco de vazamento de              operacional Linux.
          grupos menores, fazem isso o     informação é pequeno,                 Na CPM Braxis, Rafael foi
          tempo todo. Na CPM Braxis,       somente executivos de alto         um dos primeiros e mais
          a idéia foi mais adiante. Cada   escalão acessam dados críticos).   entusiasmados colaboradores
          funcionário pode publicar seu        Hoje, o que impulsiona         do portal de compartilhamento
          conhecimento para que todos      mesmo os portais são os fãs da     de informações, o Go Share,
          possam acessar. A soma das       colaboração. Para criar as bases   no qual ele medeia o
          informações de todos é mais      de conhecimento, Maria             tópico sobre software livre.
          do que qualquer especialista     Carolina conta principalmente      E a carga de trabalho do jovem
          pode saber individualmente.      com funcionários como o            técnico ainda deve aumentar.
             O projeto ainda está longe    baiano Rafael Gomes. Analista      Isso porque Maria Carolina
          de ser completo. Dos cinco mil   de infra-estrutura, o técnico de   está montando portais para
          funcionários, pouco mais de      23 anos passa boa parte de seu     cada área da empresa. Ela
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DEZ/JAN
2009
tem de criar uma nova            A própria comunidade se                Um post chega a ter
cultura no funcionário da        auto-regula. Qualquer              algumas dezenas de
empresa; precisa fomentar        funcionário que comportasse        comentários. Para Rafael,
os fóruns e estimular as         mal ou mesmo gastasse tempo        a atividade aumentou a
pessoas a publicar. Há hoje      demais com a atividade, seria      visibilidade profissional
quatro portais: processos,       prontamente percebido.             dentro da CPM Braxis;
aplicações, metodologia e o          Pelo menos uma vez por         alguns posts são comentados
GoShare (que inclui todo         dia Rafael checa os posts          por executivos do
tipo de documento).              publicados. Se não tiver nada      primeiro escalão.
    Até o final de dezembro,     de interessante, gasta menos           Mas o retorno para a
Maria Carolina espera ter sete   de dez minutos, faz uma            empresa é mais interessante.
portais. Alguns funcionários     leitura dinâmica. Às vezes,        Em dezembro, a CPM
simplesmente ligam para ela e    chega a gastar meia hora.          Braxis começa a operar a
sugerem um portal sobre          Publica uma vez por semana,        infra-estrutura de um novo
determinado assunto. Proposta    no mínimo, e sempre no             cliente. É o grupo de empresas
feita, proposta aceita; o        tempo vago, dentro do              financeiras americanas Citco.
funcionário ajuda a montar e     horário de almoço. Nesse           Duas equipes, uma baiana e
administrar o novo site.         caso, leva uma hora; requer        outra paulista, vão monitorar e
    Um desses portais será       estudo, a busca de referências     dar suporte aos mais de 1,3
para clientes globais e Rafael   e então o tempo para               mil servidores do cliente, uma
já se prontificou a cuidar       finalmente escrever o post.        infra-estrutura espalhada pelo
da área de infra-estrutura.      Para participar da montagem        mundo inteiro. A equipe, já
Para muitos executivos e         do novo portal, terá de gastar     montada, é composta por dez
empresários, ferramentas de      mais tempo, uma parte dele         funcionários, Rafael entre eles.   29
conhecimento como essas          no expediente normal.              Em breve, serão 27.
podem consumir tempo
demais, algo que poderia ser
gasto atendendo melhor e         Biblioteca
mais clientes. É uma
                                     Alguns livros que passeiam bem pelo conceito de
preocupação similar à dos
                                 inteligência coletiva:
gerentes de agência nos
                                 “Wikinomics”, de Don Tapscott e Anthony D. Williams
bancos, que relutam em              Mostra como empresas inteligentes podem explorar
deixar os funcionários           competência e genialidade do coletivo para estimular inovação,
se ausentarem para               crescimento e sucesso.
freqüentar treinamentos.         “Convergence Culture”, de Henry Jenkins (ainda sem
    Antes de considerar          tradução no Brasil)
possíveis ganhos com esse tipo      Investiga o alvoroço em torno das novas mídias e expõe as
de atividade, é importante       importantes transformações culturais que ocorrem à medida
                                 que esses meios convergem.
dimensionar o tempo gasto.
Rafael não precisa aprovar os    “Disrupting Class: How Disruptive Innovation Will Change
                                 the Way the World”, de Clayton Christensen (ainda sem
posts na comunidade na qual é
                                 tradução no Brasil)
mediador. Nunca teve                Aplica a teoria de inovação do autor ao segmento
de chamar a atenção de           educacional, oferecendo modelos de transmissão de
ninguém ou deletar posts.        conhecimento para grupos não atendidos atualmente.
                                                                                                        B2B
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              O primeiro passo da            aplicações, padrões,
          equipe é consultar a base de       configurações. Para isso,
          conhecimento e compreender         precisavam perguntar aos
          quais são as melhores práticas     próprios técnicos da Citco.
          para esse tipo projeto, obter      Em 17 de novembro, três
          uma lista a ser checada,           americanos chegaram ao
          modelos, descobrir o que é         Brasil para uma maratona de
          necessário para fazer um           reuniões. Durante seis dias,
          plano do projeto e como            Rafael e a equipe enfrentaram
          avaliar riscos. Tudo baseado       10 horas diárias de conversas,
          na experiência anterior de         perguntando cada detalhe que
          outros funcionários e boa          lembrassem sobre quais eram
          parte postados por eles            as ferramentas e sua forma de
          mesmos. Essa informação            operação. Alguns levaram         Rogério Costa, da USP:
          antes estava dispersa na           notebooks, outros blocos de      multidão anônima
                                                                              produz conhecimento
          intranet e desde o início do       anotação. Era preciso aprender   coletivo quando há um
          semestre, graças ao trabalho       rápido, o cliente tinha pouco    propósito comum
          de Maria Carolina, está            tempo. Quando os americanos
          centralizada em uma única          foram embora, toda a             e maneira diferente. O
          base de dados, o Go Share.         informação foi colocada          aprendizado da equipe de
              Depois de descobrir o          na base de conhecimento.         Rafael foi compartilhado.
          procedimento, faltava o mais       Cada dado coletado se somou      No fim, não é muito diferente
          difícil para a equipe de           ao do colega. Como o teórico     do Harry Potter de Isadora.
  30      Rafael: entender a gigantesca      da inovação Clayton              No mundo da colaboração,
          infra-estrutura do cliente. Isso   Christensen lembra,              o sucesso só pode ser
          inclui um número enorme de         cada um aprende com ritmo        alcançado coletivamente.




          Inteligência coletiva
              O conceito de inteligência     compartilhamento da              com Pierre Levy na década de
          coletiva não é novo. Desde os      informação de um grupo em        90. Para ele, as tecnologias de
          tempos das cavernas, humanos       determinado ambiente propício,   comunicação ampliaram
          discutem e tomam decisões          baseado em determinados          de fato as possibilidades de
          coletivamente. Foi a dimensão      fatores, para a ampliação        inter-relação entre as pessoas.
          do conceito que mudou,             do conhecimento.                 “Se inteligência coletiva é, num
          redefinida na década de 90             O professor Rogério da       primeiro momento, troca de
          dentro de debates acadêmicos       Costa, doutor em história da     idéias, claro que as redes de
          promovidos por filósofos da        filosofia pela Université de     comunicação como internet e
          informação como Piérre Levy e      Paris IV (Paris-Sorbonne) e      celulares ampliam em muito
          Harold Bloom. Agora, analisa-se    mestre em filosofia pela         esse fenômeno.”
          a “inteligência coletiva em        Universidade de São Paulo            Antes do ambiente on-line,
          rede”. Todo o resultado do         (USP), trabalhou diretamente     o trabalho coletivo era mais
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demorado e difícil. Hoje, é         e se tornar algo maior, que todos       Entretanto é importante
possível se comunicar em várias     podem aproveitar.                   enfatizar que inteligência
direções, a distância e em escala       Mas a inteligência coletiva     coletiva não significa
global. Consumidores criticam       também ocorre em ambientes          simplesmente adotar novas
produtos com defeito e ouvem a      corporativos. Em 2001, algumas      tecnologias ou métodos
crítica do vizinho. Pesquisadores   empresas de produtos                administrativos. É uma nova       31
se unem para trocar                 medicinais (Procter & Gamble,       forma de comunicação. A
experiências. Pacientes já não se   Eli Lilly, Exxon etc.) procuravam   perspectiva de mudança cultural
contentam mais com o que o          soluções externas para              existe no médio e longo prazo,
médico diz. E leitores não          problemas internos da empresa.      na forma de gerar e lidar com
esperam meses pela tradução de      Assim surgiu a Innocentive          o conhecimento.
um livro. A chegada da internet     (www.innocentive.com), um               Coletivos inteligentes não
mudou a maneira de gerar            portal na internet no qual          são criados do nada; são
conhecimento. As produções          empresas buscam soluções para       estimulados a acontecer em
intelectuais não são apenas         seus problemas e oferecem, de       ambientes favoráveis e cercados
exclusivas de uma pessoa, país      forma anônima, recompensas          por alguns fatores (veja quadro
ou classe social isolada, mas       em dinheiro. Qualquer               na página seguinte). Quando se
da coletividade.                    pesquisador pode tentar resolver    pensa em controlar grupos ou
    A inteligência coletiva tem     o problema. Com a máquina           coletivos maiores, é possível
uma conexão óbvia com o             funcionando, bastaria que as        obter respostas coletivas a
desenvolvimento da própria          empresas formulassem bem            determinados estímulos. O
educação. Com novos meios à         seus problemas que a “sabedoria     projeto Innocentive é um caso
disposição, por que aprender        das multidões” da rede da           de coletivo inteligente, mas
algo em meios tradicionais?         Innocentive traria os resultados,   trabalha com a premiação
Os conhecimentos de uma             sem investir e desenvolver a        financeira como incentivo e
pessoa podem se somar a outros      solução internamente.               estabelece competição entre os
                                                                                                           B2B
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          participantes. Embora traga        moderados por “guardiões”,                   também que muitos outros
          soluções benéficas para a          os próprios usuários, que                    não costumam interagir
          comunidade, elas serão aplicadas   impedem alterações bruscas e                 com freqüência e apenas
          somente pela compradora da         vandalismos nos textos. Esse                 observam as ações de outros
          solução. Ou seja, diz Rogério, é   cuidado resulta em um “grande                usuários. Desse modo, é
          colaborativo somente para o        cérebro”, um banco de dados                  comum encontrar usuários
          propositor do prêmio.              acessível instantaneamente.                  “espectadores” que são
              Para haver inteligência           A Wikipédia também exibe                  cadastrados nos serviço, mas
          coletiva, diz o professor, é       uma distância entre quem                     raramente acessam. Para a
          preciso compromisso. E isso só é   pesquisa e quem colabora.                    inteligência coletiva se
          obtido com propósitos comuns,      Se por um lado há usuários                   desenvolver completamente,
          com a inspiração de uma causa.     assíduos que diariamente estão               é importante o engajamento
          E um propósito e uma causa não     sempre participando, acontece                dos envolvidos em participar.
          aparecem de forma natural. Um
          ponto de partida sugerido é de
          extrair de um grupo de usuários    Fatores a favor de
          um tipo de troca de informação,    um coletivo inteligente
          e posteriormente, conhecimento.
              O ideal é partir de um             Grupos que se tornam inteligências coletivas surgem
          problema a ser resolvido que os    apenas com alguns fatores a favor, que são:
                                             Diversidade Opiniões divergentes são essenciais para
          indivíduos do grupo, sozinhos,     a formação de um consciente democrático e ampliam
          não seriam capazes de              as perspectivas.
          solucionar. O propósito diz o      Estrutura hierárquica (ou a falta dela) Segundo o
          que deve ser feito. A causa é o    professor Rogério da Costa, a hierarquia deve assegurar
  32      que inspira a fazer. A Wikipédia   que o propósito esteja vivo, que a causa valha a pena. “Isso
                                             significa que a verdadeira liderança nunca desaparece, porque
          (pt.wikipedia.org), por exemplo,
                                             alguns estão mais aptos do que outros a liderar dessa forma.
          tem o propósito da construção      Mas autoritarismo é incompatível com inteligência coletiva.”
          coletiva do conhecimento. Se       Tarefa em módulos A distribuição de tarefas entre grupos
          cada um sabe um pouco, todos       reduz a interdependência entre os membros e aumenta
          juntos sabem muito.                a performance.
              Na Wikipédia, um indivíduo     Densa estrutura de comunicação Quanto mais canais
                                             de comunicação disponíveis para os membros, melhor o
          pode editar um verbete com o
                                             entendimento e o andamento do projeto.
          que conhece dele, passar para      Incentivos à contribuição Não há nada de graça. Premiações
          outras pessoas revisarem e, por    e reconhecimento por colaboração são bem-vindos, e no caso
          fim, o verbete é publicado,        de remuneração aumenta a contribuição do membro em 30%.
          disponível para qualquer um        Não é uma regra irrefutável, mas, sim, um incentivo.
          pesquisar. Todos se beneficiam     Vocabulário comum Facilita e agiliza o compartilhamento
                                             da informação. Pode ser feito por meio de palavras comuns,
          e por isso a participação é        de fácil entendimento ao coletivo participante.
          maciça: 75 mil colaboradores       Uso de taxonomia O termo denomina o uso de “apelidos”
          ativos e dez milhões de verbetes   ou etiquetas que você pode colocar em um termo para
          em mais de 250 línguas. A causa    classificá-lo de outras maneiras que a simples categorização
          é manter o conhecimento            não alcança. É muito usado em sites 2.0, como o Delicious,
          vivo e relevante. A Wikipédia      e lojas on-line, como a Amazon.
                                             Conscientização Saber qual o seu papel em uma atividade.
          pode não parecer confiável,
          mas seus verbetes são                       Fonte: Cartilha de Pesquisas do Center for Collective Intelligence, do MIT
 B2B
DEZ/JAN
2009

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  • 1. capa Por Rogério Godinho e Anderson Costa xecução rmação tornou a e era da info sucesso A o insuficie nte para o ficiente alg taurar um e ios. É preciso ins nte. nos negóc ado consta aprendiz inteligência p rocesso de no qual a cenário dar a N esse novo ia pode aju tecnolog roduzir p revalece, a extrair e p cultura e trans mitir uma ente da nto n ovo diretam escola conhecime esa é uma . A empr experiência B2B DEZ/JAN 2009
  • 2. mobilidade ᵬ mais valor convergência governo rede social indústria talento I ISADORA TEM 14 ANOS. EM JULHO DO ANO PASSADO, 400 PESSOAS ATENDERAM AO SEU CHAMADO. NA ÉPOCA, TODA A COMUNIDADE DE FÃS DO BRUXO HARRY POTTER AGUARDAVA ANSIOSAMENTE O LANÇAMENTO DO ÚLTIMO LIVRO DA SÉRIE, O TÍTULO “AS RELÍQUIAS DA MORTE”. A obra tem 784 páginas e estava para ser lançada, ainda em inglês. Sem esperar pela versão oficial, os fãs liderados pela internauta adolescente traduziram tudo em dez dias. A palavra mágica é colaboração. As empresas precisam aprender com Isadora. O modelo de execução de tarefas seguido pelas corporações hoje ainda se baseia na era da manufatura. Pioneiros como Henry Ford e Frederick Taylor dividiram tarefas em ações 23 repetitivas e previsíveis em uma linha de montagem. Inovador no passado, esse modelo hoje está definitivamente superado. “Execução sem falhas não garante mais o sucesso”, diz a especialista em gestão de Harvard, Amy Edmonson, em um artigo publicado em julho deste ano. “A economia do conhecimento exige decisões em colaboração para responder ao complexo e imprevisível”. B2B DEZ/JAN 2009
  • 3. capa ᵬ mais valor Foi esse o conceito usado que ele gera. Desempenho Ricardo Fenley, por Isadora para executar significa atributos como superintendente de educação uma tarefa complexa e experimentação inteligente, do banco, coordena o enorme em um período tão engenhosidade, habilidades conhecimento a ser curto. Ela não tinha todo o interpessoais e resiliência transmitido para toda a área conhecimento nem saberia em face da adversidade. comercial, o que inclui toda a tomar todas as decisões. O espaço para manobra é rede de agências. Fenley já Apenas o conjunto de extremamente alto. conseguiu colocar 16 mil 400 pessoas pôde realizar a Na era em que prevalece funcionários em treinamento tradução. Cada página foi a economia do serviço, o no programa de educação de lida e checada por pessoas conhecimento é acumulado negócios financeiros, chamado diferentes. O conhecimento em algumas pessoas e se vai de Enfin. É metade do coletivo supera a quando o funcionário sai contingente total do banco. especialização individual. da empresa. Há poucas e Esses funcionários não No modelo clássico da ineficientes formas de guardar realizam tarefas coletivamente manufatura, a dependência do o conhecimento. Ele não está como o grupo coordenado trabalhador era muito menor. no coletivo. Está isolado e pela menina Isadora, mas há O processo reduzia o erro, em fragmentado nas pessoas. grandes semelhanças. Como um contexto em que a tarefa E se perde quando elas saem. em diversas organizações, uma era simples e o trabalhador Agora imagine uma carga enorme de conhecimento fácil de controlar. Erros eram instituição que lida com um tem de ser passada para um inadmissíveis e, portanto, elemento abstrato. Dinheiro, gerente para que ele possa sumariamente punidos. por exemplo. Há processos tomar decisões sem consultar a 24 Para Amy, o modelo antigo bem estruturados nos bancos, todo momento um superior. era baseado na eficiência da mas cada funcionário precisa Ele precisa saber e atuar execução. O atual deve ser tomar decisões diferentes e com autonomia. baseado no aprendizado. complexas todos os dias. A paulistana Luciane Erros são permitidos desde O Banco Real possui 33 mil Martins Costa, por exemplo, que gerem conhecimento para funcionários, dezenas de conhece bem a atividade que não sejam repetidos. produtos e mais de bancária; trabalhava há dez O desempenho se media 14 milhões de clientes. anos no setor antes de entrar por horas trabalhadas; A complexidade é enorme no Real no início de 2008. agora, se mede pelo e o cenário econômico muda Até então, atendia clientes conhecimento e o valor todos os dias. comuns; no Real, passou a trabalhar com clientes de alta renda, categoria que no banco é chamada de Van Gogh. Luciane, aos 34 anos e algo tão antigo Trocar informação é formada em administração, A tecnologia quanto a civilização. passou a estudar os módulos ática a níveis potencializou essa pr disponíveis na intranet. a nova inteligência ilimitados criando um É onde começam as semelhanças. No grupo da adolescente Isadora, os fãs B2B DEZ/JAN 2009
  • 4. Ricardo Fernandes e Luciane Martins Costa, do Banco Real: em uma empresa baseada em informação, a rotina é estudar sempre 25 precisavam saber inglês, 45 e 60 minutos. Cursos mais radicalmente o modelo de conhecer o mundo de complicados, como o de educação existente hoje em Harry Potter e dominar as crédito, chegam a duas horas. universidades e empresas. ferramentas de colaboração No final da tarde, Luciane No modelo tradicional, há da internet. É o necessário estudava mais. Em seis meses, enormes discrepâncias no para trabalhar em grupo. a gerente fez 35 cursos. desempenho dos alunos. Em Da mesma forma, o primeiro A informação oferecida parte, diz Clayton, porque um curso feito por Luciane em rede, além de propiciar a conceito absorvido facilmente continha tudo sobre os colaboração, também traz por um indivíduo pode ser de processos do Real, uma nova possibilidade de difícil compreensão para outro. conhecimento mínimo aprendizado. Como explica Módulos de ensino disponíveis necessário para fazer parte outro especialista de Harvard, na internet, como os do Banco da multinacional. Clayton Christensen, cada Real, permitem estudar na Todos os dias, Luciane indivíduo tem ritmo e forma velocidade própria de cada um. chegava no banco e fazia um de aprender diferente. Luciane, que conhecia boa ou dois cursos on-line Clayton é conhecido por suas parte dos conteúdos pela providos pelo Real. Em teorias de inovação e aposta experiência de dez anos em média, cada um durava entre que a tecnologia pode alterar bancos, pôde voltar quantas B2B DEZ/JAN 2009
  • 5. capa ᵬ mais valor Até então, Luciane atendia os clientes de maneira da informação O profissional da era instintiva. Apesar de conhecer a enorme carga precisa absorver um a rotina de um banco, ainda ra tomar decisões de conhecimento pa não conseguia bater as metas ilidade com autonomia e ag estipuladas. Após o curso, passou a abrir o sistema do banco sempre que recebia a ligação de um cliente. Na tela, vezes fosse necessário nos financeira, economia e outras ela vê rapidamente todo o pontos que desconhecia. disciplinas necessárias a um histórico da pessoa com quem Em meados de 2008, gerente de banco. está falando. Em outubro, um Luciane completou os cursos De volta à agência, cliente veio à agência e ela indicados especificamente para Fernandes percebeu Luciane viu que ele tinha uma filha o seu trabalho e foi convocada mais confiante. Como na adolescente. Rapidamente, a participar de um treinamento comparação de Amy, de ofereceu um consórcio de um presencial. Na agência, embora Harvard, o perfil de um carro. O cliente comprou. existam 14 funcionários, os operário da informação muda Em novembro, um outro 700 clientes Van Gogh são radicalmente quando ele ganha cliente ligou para uma atendidos somente por conhecimento. Em uma linha consulta de rotina e ela viu Luciane e mais uma gerente. de montagem, o operário que a conta corrente estava Para Luciane estudar, a realiza tarefas repetitivas e a descoberta. Ofereceu um agência Mandaqui perderia atitude importa pouco. Na empréstimo que já estava uma funcionária por 20 dias. sociedade da informação, a aprovado e o cliente pôde 26 Fenley, superintendente de forma como o funcionário cobrir o saldo. Luciane passou educação, comenta que trabalha e se expressa a bater a meta semanal os gerentes das agências influencia no desempenho. abrindo cinco contas novas resistem a liberar os funcionários para o treinamento com receio de prejudicar o atendimento. O gerente-geral de Luciane, Ricardo Fernandes, a liberou. Nesse período, ela deixou de ir à agência na zona norte de São Paulo a cinco minutos de sua casa e passou a se dirigir diariamente ao centro da cidade. Ali, em um hotel, pouco mais de 30 funcionários do Real assistiram a aulas Clayton desenvolvidas pelo Ibmec Christensen: cada indivíduo São Paulo. O curso incluiu tem ritmo e aulas de etiqueta, matemática perfil diferentes para aprender B2B DEZ/JAN 2009
  • 6. por semana. Durante uma rotineiramente o trabalho e as impressões dos gerentes campanha de venda de seguro é realizado de forma gerais foram registradas. Em de vida, Luciane também relativamente solitária. 2008, Fenley treinou 2,4 mil bateu a meta individual de Sim, há apoio. Ela pode tirar pessoas em 120 turmas R$ 10 mil em vendas. dúvidas com os colegas da como essa. Em janeiro, o Luciane pensa em agência. Além disso, depois de superintendente vai extrair e fazer pós-graduação no futuro, voltar ao banco o número de organizar esse material. “A mas ainda não decidiu quando. amigos no comunicador informação ali é riquíssima”. No momento, tem mais seis instantâneo do Real (uma Trocar informação é uma cursos on-line para fazer. Em espécie de MSN interno) prática tão antiga quanto a uma organização baseada na chegou a 20. Com pelo civilização. A novidade é que informação o aprendizado menos três deles, Luciane a tecnologia, e principalmente nunca termina. Para o conversa quase todos os a internet, potencializou essa trabalhador do conhecimento, dias. Eles comentam o que prática a níveis ilimitados. a rotina é estudar sempre. aprenderam e trocam Uma adolescente capaz de experiências. Mas no geral, coordenar centenas de pessoas Compartilhe e ele virá não há um repositório de para uma tradução de um Apesar das semelhanças, conhecimento criado pelos livro inteiro é um exemplo as histórias da adolescente próprios funcionários. singelo, mas ilustrativo do Isadora e da gerente do Fenley, o superintendente, poder da colaboração. As Real Luciane têm diferenças busca hoje um repositório de grandes corporações apenas importantes. Traduzir o sétimo informações como esse. Ele começaram a se aproveitar Harry Potter foi um trabalho foi criado pelos que fizeram desse recurso. coletivo. Todos buscavam os cursos presenciais como O caso do Banco Real 27 um objetivo único que foi Luciane. De volta ao mostra como uma instituição alcançado ao mesmo tempo. Mandaqui, ela e Ricardo pode levar conhecimento aos Dos 400 interessados que a Fernandes, gerente-geral de funcionários de forma menina Isadora reuniu em seu sua agência, participaram de flexível. É um cenário ainda site, 20 ficaram responsáveis uma teleconferência com pouco comum, pelo menos por transcrever a cópia baixada todos os alunos e seus com o nível de complexidade da rede, outros dez receberam respectivos gerentes. Durante vivenciado por Luciane. a tarefa de verter a obra para meia hora, eles comentaram o Mas há etapas ainda mais português. O resto leu e que foi aprendido. Notas de avançadas, como mostra o checou a qualidade do trabalho desempenho foram atribuídas exemplo da adolescente realizado. Apesar das tarefas distintas e de uma certa hierarquia, o ganho foi similar para todos. Se um falhasse, o teligência podem Diferentes tipos de in trabalho de todos seria do. Ao colaborar, dificultar o aprendiza comprometido. Não havia nhecimento mais metas pessoais, apenas o o grupo absorve o co dos melhores sucesso geral. rápido e com resulta No caso de Luciane, há metas individuais e B2B DEZ/JAN 2009
  • 7. capa ᵬ mais valor Isadora. Fenley, do Real, planeja buscar esse tipo de informação coletiva. O caminho, diz Amy, a especialista de Harvard é estabelecer processos padronizados para capturar rotineiramente a informação e tornar a informação disponível quando e onde for preciso. Um exemplo raro de uso Rafael Gomes: postar no inovador desse conceito é o blog, mediar que ocorre hoje na brasileira comentários da comunidade e CPM Braxis. Maria Carolina criar novo portal Mello Passos, gerente de qualidade, organiza o conhecimento da empresa. Ela precisa fazer com que os cinco mil funcionários da empresa troquem informações. E se trata de um conhecimento extremamente sofisticado, que vai de 28 linguagens de programação a complexas regras de negócios mil realmente acessam as bases tempo lendo e escrevendo na de clientes em todos os de dados. E embora algumas internet. Toca um blog pessoal, setores da economia. equipes não trabalhem sem a participa de uma comunidade Nesse caso, não basta base, há executivos que ainda de software livre e ainda é um executar um serviço em mantêm tudo duplicado no dos embaixadores brasileiros grupo, como foi a tradução do disco rígido pessoal (é apenas do projeto Fedora, uma Harry Potter. Programadores uma resistência cultural; o variação do sistema de software, ainda que em risco de vazamento de operacional Linux. grupos menores, fazem isso o informação é pequeno, Na CPM Braxis, Rafael foi tempo todo. Na CPM Braxis, somente executivos de alto um dos primeiros e mais a idéia foi mais adiante. Cada escalão acessam dados críticos). entusiasmados colaboradores funcionário pode publicar seu Hoje, o que impulsiona do portal de compartilhamento conhecimento para que todos mesmo os portais são os fãs da de informações, o Go Share, possam acessar. A soma das colaboração. Para criar as bases no qual ele medeia o informações de todos é mais de conhecimento, Maria tópico sobre software livre. do que qualquer especialista Carolina conta principalmente E a carga de trabalho do jovem pode saber individualmente. com funcionários como o técnico ainda deve aumentar. O projeto ainda está longe baiano Rafael Gomes. Analista Isso porque Maria Carolina de ser completo. Dos cinco mil de infra-estrutura, o técnico de está montando portais para funcionários, pouco mais de 23 anos passa boa parte de seu cada área da empresa. Ela B2B DEZ/JAN 2009
  • 8. tem de criar uma nova A própria comunidade se Um post chega a ter cultura no funcionário da auto-regula. Qualquer algumas dezenas de empresa; precisa fomentar funcionário que comportasse comentários. Para Rafael, os fóruns e estimular as mal ou mesmo gastasse tempo a atividade aumentou a pessoas a publicar. Há hoje demais com a atividade, seria visibilidade profissional quatro portais: processos, prontamente percebido. dentro da CPM Braxis; aplicações, metodologia e o Pelo menos uma vez por alguns posts são comentados GoShare (que inclui todo dia Rafael checa os posts por executivos do tipo de documento). publicados. Se não tiver nada primeiro escalão. Até o final de dezembro, de interessante, gasta menos Mas o retorno para a Maria Carolina espera ter sete de dez minutos, faz uma empresa é mais interessante. portais. Alguns funcionários leitura dinâmica. Às vezes, Em dezembro, a CPM simplesmente ligam para ela e chega a gastar meia hora. Braxis começa a operar a sugerem um portal sobre Publica uma vez por semana, infra-estrutura de um novo determinado assunto. Proposta no mínimo, e sempre no cliente. É o grupo de empresas feita, proposta aceita; o tempo vago, dentro do financeiras americanas Citco. funcionário ajuda a montar e horário de almoço. Nesse Duas equipes, uma baiana e administrar o novo site. caso, leva uma hora; requer outra paulista, vão monitorar e Um desses portais será estudo, a busca de referências dar suporte aos mais de 1,3 para clientes globais e Rafael e então o tempo para mil servidores do cliente, uma já se prontificou a cuidar finalmente escrever o post. infra-estrutura espalhada pelo da área de infra-estrutura. Para participar da montagem mundo inteiro. A equipe, já Para muitos executivos e do novo portal, terá de gastar montada, é composta por dez empresários, ferramentas de mais tempo, uma parte dele funcionários, Rafael entre eles. 29 conhecimento como essas no expediente normal. Em breve, serão 27. podem consumir tempo demais, algo que poderia ser gasto atendendo melhor e Biblioteca mais clientes. É uma Alguns livros que passeiam bem pelo conceito de preocupação similar à dos inteligência coletiva: gerentes de agência nos “Wikinomics”, de Don Tapscott e Anthony D. Williams bancos, que relutam em Mostra como empresas inteligentes podem explorar deixar os funcionários competência e genialidade do coletivo para estimular inovação, se ausentarem para crescimento e sucesso. freqüentar treinamentos. “Convergence Culture”, de Henry Jenkins (ainda sem Antes de considerar tradução no Brasil) possíveis ganhos com esse tipo Investiga o alvoroço em torno das novas mídias e expõe as de atividade, é importante importantes transformações culturais que ocorrem à medida que esses meios convergem. dimensionar o tempo gasto. Rafael não precisa aprovar os “Disrupting Class: How Disruptive Innovation Will Change the Way the World”, de Clayton Christensen (ainda sem posts na comunidade na qual é tradução no Brasil) mediador. Nunca teve Aplica a teoria de inovação do autor ao segmento de chamar a atenção de educacional, oferecendo modelos de transmissão de ninguém ou deletar posts. conhecimento para grupos não atendidos atualmente. B2B DEZ/JAN 2009
  • 9. capa ᵬ mais valor O primeiro passo da aplicações, padrões, equipe é consultar a base de configurações. Para isso, conhecimento e compreender precisavam perguntar aos quais são as melhores práticas próprios técnicos da Citco. para esse tipo projeto, obter Em 17 de novembro, três uma lista a ser checada, americanos chegaram ao modelos, descobrir o que é Brasil para uma maratona de necessário para fazer um reuniões. Durante seis dias, plano do projeto e como Rafael e a equipe enfrentaram avaliar riscos. Tudo baseado 10 horas diárias de conversas, na experiência anterior de perguntando cada detalhe que outros funcionários e boa lembrassem sobre quais eram parte postados por eles as ferramentas e sua forma de mesmos. Essa informação operação. Alguns levaram Rogério Costa, da USP: antes estava dispersa na notebooks, outros blocos de multidão anônima produz conhecimento intranet e desde o início do anotação. Era preciso aprender coletivo quando há um semestre, graças ao trabalho rápido, o cliente tinha pouco propósito comum de Maria Carolina, está tempo. Quando os americanos centralizada em uma única foram embora, toda a e maneira diferente. O base de dados, o Go Share. informação foi colocada aprendizado da equipe de Depois de descobrir o na base de conhecimento. Rafael foi compartilhado. procedimento, faltava o mais Cada dado coletado se somou No fim, não é muito diferente difícil para a equipe de ao do colega. Como o teórico do Harry Potter de Isadora. 30 Rafael: entender a gigantesca da inovação Clayton No mundo da colaboração, infra-estrutura do cliente. Isso Christensen lembra, o sucesso só pode ser inclui um número enorme de cada um aprende com ritmo alcançado coletivamente. Inteligência coletiva O conceito de inteligência compartilhamento da com Pierre Levy na década de coletiva não é novo. Desde os informação de um grupo em 90. Para ele, as tecnologias de tempos das cavernas, humanos determinado ambiente propício, comunicação ampliaram discutem e tomam decisões baseado em determinados de fato as possibilidades de coletivamente. Foi a dimensão fatores, para a ampliação inter-relação entre as pessoas. do conceito que mudou, do conhecimento. “Se inteligência coletiva é, num redefinida na década de 90 O professor Rogério da primeiro momento, troca de dentro de debates acadêmicos Costa, doutor em história da idéias, claro que as redes de promovidos por filósofos da filosofia pela Université de comunicação como internet e informação como Piérre Levy e Paris IV (Paris-Sorbonne) e celulares ampliam em muito Harold Bloom. Agora, analisa-se mestre em filosofia pela esse fenômeno.” a “inteligência coletiva em Universidade de São Paulo Antes do ambiente on-line, rede”. Todo o resultado do (USP), trabalhou diretamente o trabalho coletivo era mais B2B DEZ/JAN 2009
  • 10. demorado e difícil. Hoje, é e se tornar algo maior, que todos Entretanto é importante possível se comunicar em várias podem aproveitar. enfatizar que inteligência direções, a distância e em escala Mas a inteligência coletiva coletiva não significa global. Consumidores criticam também ocorre em ambientes simplesmente adotar novas produtos com defeito e ouvem a corporativos. Em 2001, algumas tecnologias ou métodos crítica do vizinho. Pesquisadores empresas de produtos administrativos. É uma nova 31 se unem para trocar medicinais (Procter & Gamble, forma de comunicação. A experiências. Pacientes já não se Eli Lilly, Exxon etc.) procuravam perspectiva de mudança cultural contentam mais com o que o soluções externas para existe no médio e longo prazo, médico diz. E leitores não problemas internos da empresa. na forma de gerar e lidar com esperam meses pela tradução de Assim surgiu a Innocentive o conhecimento. um livro. A chegada da internet (www.innocentive.com), um Coletivos inteligentes não mudou a maneira de gerar portal na internet no qual são criados do nada; são conhecimento. As produções empresas buscam soluções para estimulados a acontecer em intelectuais não são apenas seus problemas e oferecem, de ambientes favoráveis e cercados exclusivas de uma pessoa, país forma anônima, recompensas por alguns fatores (veja quadro ou classe social isolada, mas em dinheiro. Qualquer na página seguinte). Quando se da coletividade. pesquisador pode tentar resolver pensa em controlar grupos ou A inteligência coletiva tem o problema. Com a máquina coletivos maiores, é possível uma conexão óbvia com o funcionando, bastaria que as obter respostas coletivas a desenvolvimento da própria empresas formulassem bem determinados estímulos. O educação. Com novos meios à seus problemas que a “sabedoria projeto Innocentive é um caso disposição, por que aprender das multidões” da rede da de coletivo inteligente, mas algo em meios tradicionais? Innocentive traria os resultados, trabalha com a premiação Os conhecimentos de uma sem investir e desenvolver a financeira como incentivo e pessoa podem se somar a outros solução internamente. estabelece competição entre os B2B DEZ/JAN 2009
  • 11. capa ᵬ mais valor participantes. Embora traga moderados por “guardiões”, também que muitos outros soluções benéficas para a os próprios usuários, que não costumam interagir comunidade, elas serão aplicadas impedem alterações bruscas e com freqüência e apenas somente pela compradora da vandalismos nos textos. Esse observam as ações de outros solução. Ou seja, diz Rogério, é cuidado resulta em um “grande usuários. Desse modo, é colaborativo somente para o cérebro”, um banco de dados comum encontrar usuários propositor do prêmio. acessível instantaneamente. “espectadores” que são Para haver inteligência A Wikipédia também exibe cadastrados nos serviço, mas coletiva, diz o professor, é uma distância entre quem raramente acessam. Para a preciso compromisso. E isso só é pesquisa e quem colabora. inteligência coletiva se obtido com propósitos comuns, Se por um lado há usuários desenvolver completamente, com a inspiração de uma causa. assíduos que diariamente estão é importante o engajamento E um propósito e uma causa não sempre participando, acontece dos envolvidos em participar. aparecem de forma natural. Um ponto de partida sugerido é de extrair de um grupo de usuários Fatores a favor de um tipo de troca de informação, um coletivo inteligente e posteriormente, conhecimento. O ideal é partir de um Grupos que se tornam inteligências coletivas surgem problema a ser resolvido que os apenas com alguns fatores a favor, que são: Diversidade Opiniões divergentes são essenciais para indivíduos do grupo, sozinhos, a formação de um consciente democrático e ampliam não seriam capazes de as perspectivas. solucionar. O propósito diz o Estrutura hierárquica (ou a falta dela) Segundo o que deve ser feito. A causa é o professor Rogério da Costa, a hierarquia deve assegurar 32 que inspira a fazer. A Wikipédia que o propósito esteja vivo, que a causa valha a pena. “Isso significa que a verdadeira liderança nunca desaparece, porque (pt.wikipedia.org), por exemplo, alguns estão mais aptos do que outros a liderar dessa forma. tem o propósito da construção Mas autoritarismo é incompatível com inteligência coletiva.” coletiva do conhecimento. Se Tarefa em módulos A distribuição de tarefas entre grupos cada um sabe um pouco, todos reduz a interdependência entre os membros e aumenta juntos sabem muito. a performance. Na Wikipédia, um indivíduo Densa estrutura de comunicação Quanto mais canais de comunicação disponíveis para os membros, melhor o pode editar um verbete com o entendimento e o andamento do projeto. que conhece dele, passar para Incentivos à contribuição Não há nada de graça. Premiações outras pessoas revisarem e, por e reconhecimento por colaboração são bem-vindos, e no caso fim, o verbete é publicado, de remuneração aumenta a contribuição do membro em 30%. disponível para qualquer um Não é uma regra irrefutável, mas, sim, um incentivo. pesquisar. Todos se beneficiam Vocabulário comum Facilita e agiliza o compartilhamento da informação. Pode ser feito por meio de palavras comuns, e por isso a participação é de fácil entendimento ao coletivo participante. maciça: 75 mil colaboradores Uso de taxonomia O termo denomina o uso de “apelidos” ativos e dez milhões de verbetes ou etiquetas que você pode colocar em um termo para em mais de 250 línguas. A causa classificá-lo de outras maneiras que a simples categorização é manter o conhecimento não alcança. É muito usado em sites 2.0, como o Delicious, vivo e relevante. A Wikipédia e lojas on-line, como a Amazon. Conscientização Saber qual o seu papel em uma atividade. pode não parecer confiável, mas seus verbetes são Fonte: Cartilha de Pesquisas do Center for Collective Intelligence, do MIT B2B DEZ/JAN 2009