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Estrutura da Obra
     Os Lusíadas podem ser considerados uma síntese da cultura
renascentista, quer nos aspectos literários e filosóficos de cariz classicista e
humanista, quer nos aspectos científicos, revelando um grande interesse
documental para a compreensão da mentalidade da época.
     Assim, o poeta seguiu fielmente os ensinamentos da Antiguidade greco-
latina no que se refere à estrutura de uma epopeia:


                        ESTRUTURA CLÁSSICA DA OBRA

    Divisão em partes:
          1. Proposição
          2. Invocação
          3. Dedicatória
          4. Narração

    A narração inclui:
          Intervenções do maravilhoso
          Episódios (narrativas menores)
          Narrações retrospectivas, retrocesso no tempo em relação à acção
      central, isto é, 1498, ano em que se efectuou a primeira viagem de
      Vasco da Gama para a Índia:
                  1. De Vasco da Gama ao rei de Melinde, contando a história
             de Portugal desde a sua fundação lendária - cantos III e IV
                  2. De Vasco da Gama ao rei de Melinde, contando a viagem
             de Lisboa a Moçambique, já que no canto I a narração começa in
             medias res - canto V
                3. Profecias, avanços no tempo em relação à acção central:
                  Profecia de Júpiter a Vénus - canto II;
                  Profecia dos rios Indo e Ganges a D. Manuel - canto IV;
                  Profecias do Gigante Adamastor a Vasco da Gama - canto V;
                  Profecias de Tétis a Vasco da Gama durante o banquete -
             canto X;
                  Profecias de Tétis no monte, frente à bola de cristal - canto X,

    Matéria Épica
    O Poeta soube adaptar sabiamente a matéria épica à realidade
portuguesa, respeitando o cânone do género: grandeza do assunto e da
personagem principal (herói da epopeia), unidade de acção, concentrada no
tempo e no espaço.

    Forma
    Em termos formais, o Poema está escrito em estilo "sublime", elevado,
adequado à temática abordada e seguindo estritamente as regras clássicas
para a elaboração de uma epopeia. O Poema está dividido em 10 cantos,
totalizando 1102 estâncias, sendo cada uma constituída por oito versos.
Planos narrativos
         1. Plano da viagem
         2. Plano dos Deuses
         3. Plano da História de Portugal
         4. Plano do Poeta




                     Esquematização dos cantos

   Legenda:

© = Amor          & = História        % = Aviso de perigo           h = Viagem
O = Perigo        V = Religião        ? = Opinião do Poeta          P = Profético


   Canto I
                   C 1-3 Proposição: o Poeta expõe o tema do seu poema.
                   C 4-5 Invocação: O Poeta pede inspiração às ninfas do Tejo,
               Tágides, para escrever a sua obra.
                   T 6-18 O Poeta dedica o seu poema ao rei: D. Sebastião.
                   T 19 h Início da narração: a armada de Vasco da Gama está
               no Oceano Índico.
                   n 20-42 % Consílio dos deuses para decidir o futuro dos
               Portugueses.
                   P 43-104 h A viagem prossegue com alguns problemas e
               intervenções dos deuses e finalmente chegam a Mombaça.
                   i 105-106 ? O Poeta reflecte sobre a fragilidade do homem.

   Canto II
                   C 1-10 A armada está em Mombaça.
                   C 11-63 Intervenções de Baco, Vénus, Júpiter e Mercúrio.
                   C 64-108 h Chegada a Melinde: o rei pede a Vasco da Gama
               que lhe conte onde fica Portugal, como foi a viagem e a História
               de Portugal.

   Canto III
                   C 1-2 O Poeta invoca a musa Calíope para, através de
               Vasco da Gama, iniciar a narração da história de Portugal.
                   V 3-143 Discurso de Vasco da Gama que responde às
               perguntas do rei de Melinde. Assim, começa por dar a localização
               de Portugal; em seguida fala da dinastia de Borgonha: de D.
Afonso Henriques a D. Fernando. Neste discurso são referidos
           vários episódios:
               v 42-54 V Batalha de Ourique.
               B 101-106 © Formosíssima Maria.
               F 107-117 & Batalha do Salado.
                  118-135 © InÍs de Castro.

Canto IV
               C 1-75 Continua o discurso de Vasco da Gama ao rei de
           Melinde: história da dinastia de Avis (de D. João I a D. Manuel),
           inclui dois episódios:
               i 28-44 & Batalha de Aljubarrota.
                   67-75 P Sonho de D. Manuel
                   76-104 Os preparativos para a viagem e as despedidas em
           Belém, inclui um episódio:
               B 94-104 % Velho do Restelo

Canto V
                C 1-89 h Vasco da Gama conta ao Rei de Melinde como foi a
           viagem de Lisboa até ali, que inclui os seguintes episódios:
                v 18 O Fogo de Santelmo
                   19-23 O Tromba Marítima
                   30-36 Fernão Veloso
                   37-60 O Gigante Adamastor
                   81-83 O Escorbuto
                   90-100 ? O poeta lamenta-se do desprezo pelas artes e
           letras.

Canto VI
               C 1-91 h A armada sai de Melinde, inicia-se aqui a última
           etapa da viagem rumo à Índia, no decorrer da qual são inseridos
           os seguintes episódios:
               o 16-37 % Consílio dos deuses marinhos.
                 43-69 O Os doze de Inglaterra.
                 70-91 O Tempestade
                 92-94 h Chegada à Índia.

Canto VII
              C 1-77 Na Índia: contactos; Vasco da Gama visita o Samorim
         e o Catual visita as naus.
              e 78-87 ? O Poeta invoca as ninfas do Tejo e do Mondego e
         comenta quem (não) merece ser incluído no seu poema.
Canto VIII
              C 1-46 Na Índia: Paulo da Gama recebe o Catual a bordo da
         sua nau e, através da descrição das bandeiras, refere alguns
         ilustres portugueses. Em seguida o Catual regressa a terra
              i 47-95 Intervenção de Baco e alguns incidentes, mas
         finalmente Vasco da Gama consegue regressar à nau.
              f 96-99 ? Reflexões do Poeta sobre o poder do ouro.
Canto IX
              C 1-17 h Inicia-se aqui a viagem de regresso a Portugal.
18-91 h A armada avista uma ilha e resolve aportar; trata-
                    se afinal da ilha que Vénus preparou para homenagear os
                    Portugueses: um paraíso povoado de ninfas; inclui episódio:
                        P 52-91 © Ilha dos Amores
                        I 92-95 ? Considerações do Poeta: como atingir a glória.
     Canto X
                        C 1-142 Na Ilha de Vénus ou dos Amores: decorre um
                    banquete. Tétis explica a máquina do mundo e faz profecias
                    sobre o futuro dos Portugueses na Ásia, África e América. O
                    próprio naufrágio de Camões é referido. Inclui os seguintes
                    episódios:
                        e 1-7 © Ilha dos Amores (continuação)
                        I 10-42 © Ilha dos Amores (continuação)
                        I 108-118 V Episódio de S. Tomé.
                        E 143-144 h Embarque e regresso a Portugal.
                           145-156 ? Considerações do Poeta: lamenta a decadÍncia
                    do seu país; apela ao rei, D. Sebastião, para que governe bem.




                                         Figuras de estilo



     As figuras de estilo são recursos que tornam a linguagem mais expressiva,
permitindo condensar múltiplas ideias em poucas palavras. Deste modo, o escritor /o
poeta, sugere ao leitor várias interpretações para os seus textos / poemas e leva-o, por
vezes, a associá-los a outros textos ou temas do conhecimento geral.



Alegoria

Metáfora desenvolvida de modo a sugerir, por alusão, uma ideia diferente; geralmente, o autor pretende
apresentar uma verdade moral ou espiritual subjacente à acção.

N’Os Lusíadas

A alegoria da ilha dos Amores

(Ilha = recompensa, paraíso)

C. IX, 52-91

C. X, 1-7; 10-142
Aliteração

Repetição de um som ou sílaba no início, no meio ou no fim das palavras; utilizada para criar um efeito
auditivo de harmonia ou de onomatopeia.

N’Os Lusíadas

Que um fraco rei faz fraca a forte gente

C. III, 138.8




Alusão

Referência breve a uma pessoa ou circunstância supostamente conhecida do leitor, de modo a alargar o
saber para além do próprio texto.

N’Os Lusíadas

D’água do esquecimento

C.I, 32.7

= Rio Letes que, segundo a lenda, se situava no Inferno pagão, cujas águas tiravam a memória aos que
dela bebessem.




Anáfora

Repetição de uma ou mais palavras no início de dois ou mais versos.

N’Os Lusíadas

Dai-me agora um som alto e sublimado,

................................................................

Dai-me ua fúria grande e sonorosa,

................................................................

Dai-me igual canto aos feitos da famosa

C.I, 4.5, 5.1, 5
Anástrofe

Processo que consiste na inversão da ordem habitual das palavras, de forma a pôr em relevo
elementos da frase. Neste caso, a inversão é menos violenta do que no Hipérbato.

Que sejam, determino, agasalhados (Os Lusíadas, I, 29, v. 5




Antítese

Expressão de ideias opostas numa só frase; tese significa afirmação, anti- contra.

N’Os Lusíadas

A pequena grandura de um batel

C. VI, 74.6




Antonomásia

Identificação de alguém através de um epíteto ou de qualquer outro termo que não seja o seu nome
próprio.

N’Os Lusíadas

Cessem do sábio Grego e do Troiano

C. I, 3.1

(Sábio Grego: Ulisses; Troiano: Eneias)




Apóstrofe

Interpelação de uma pessoa, entidade ou coisa personificada, no meio de uma narração, por exemplo, a
invocação às Musas na poesia. Pode ser utilizado para chamar a atenção do leitor, mudando de assunto.

N’Os Lusíadas

"Tu só, tu, puro Amor, com força crua,

III, 119.1
Assíndeto

Sequência de palavras ou frases às quais se omitiu a conjunção e, substituída por vírgula, condensando
várias ideias numa só frase, possibilitando, por vezes, diversas interpretações.

N’Os Lusíadas

Fere, mata, derriba, denodado;

C.III, 67.3




Assonância

Repetição dos mesmos sons vocálicos em palavras muito próximas.

N’Os Lusíadas

As armas e os barões assinalados

C.I, 1.1




Comparação

Método de aproximação de duas pessoas, ideias ou circunstâncias de modo a evidenciar as suas
semelhanças ou diferenças. Distingue-se da metáfora pela utilização de alguns nexos inter-frásicos:
como, tal como, assim como.

N’Os Lusíadas

Assi como a bonina, que cortada

C.III, 134

Qual o reflexo lume do polido

Espelho de aço ou de cristal fermoso

C.VIII, 87.1-2




Elipse

Supressão de palavras que facilmente se adivinham, tendo em consideração o contexto.
N’Os Lusíadas

Agora, pelos povos seus vizinhos,

Agora, pelos húmidos caminhos.

C. II, 108.7-8

(Agora, pergunta pelos povos seus vizinhos)




Eufemismo

Suavização de uma ideia desagradável ou cruel através de palavras ou expressões seleccionadas. Pode
confundir--se com a perífrase.

N’Os Lusíadas

Tirar Inês ao Mundo determina

C. III, 123.1

(=matar Inês)




Hipérbato (cf. Anástrofe)

Inversão violenta dos elementos da frase, alterando a ordem sintáctica normal. Utiliza-se para enfatizar o
discurso ou para imitar a estrutura sintáctica do latim. Os versos de Os Lusíadas são formados por
uma série de hipérbatos.

N’Os Lusíadas

A Deus pedi que removesse os duros

Casos, que Adamastor contou futuros.

C. V.60.7-8




Hipérbole

Expressões que exageram intencionalmente o pensamento. Utiliza-se para enfatizar o discurso. É um
dos recursos estilísticos mais utilizados n’Os Lusíadas.

N’Os Lusíadas
Agora sobre as nuvens os subiam

As ondas de Neptuno furibundo;

Agora a ver parece que desciam

As íntimas entranhas do Profundo.

C.VI, 76.1-4




Imagem

Impressão mental ou representação de um animal, pessoa ou coisa que permite criar imagens nítidas,
através de uma linguagem metafórica.

N’Os Lusíadas

O mar se via em fogos acendido

C.II, 91.6




Ironia

Recurso, que segundo Aristóteles é um disfarce que conduz à essência da verdade, pois as palavras
adquirem um significado diferente daquele em que são empregues.

N’Os Lusíadas

Vede, Ninfas, que engenhos de senhores

O vosso Tejo cria valerosos,

Que assim sabem prezar, com tais favores,

A quem os faz, cantando, gloriosos!

C.VII, 82.1-4

(Camões ironiza a incompreensão dos seus compatriotas)




Metáfora
Comparação abreviada, implícita, sem a partícula comparativa como, que permite identificar uma coisa
com outra através de um processo imaginativo.

Tomai as rédeas Vós do Reino vosso

(Tomai as rédeas = governai)

C. I, 15.3




Metonímia

Substituição do nome dum objecto ou duma ideia por outro relacionado com ele. Assim, dizer a
coroa ou o ceptro em vez de o soberano; a cruz e a espada em vez de a religião e o exército; os copos em
vez de as bebidas alcoólicas são exemplos de metonímia.

N’Os Lusíadas

De Portugal, armar madeiro leve

(madeiro = nau, feita de madeira)

C. VI, 52.3




Onomatopeia

Palavras cujo som evoca um determinado objecto ou ideia, muitas vezes, são sons da natureza. Trata-se,
portanto, da utilização de palavras imitativas para alcançar um efeito estilístico. Pode coincidir com a
aliteração.

N’Os Lusíadas

Bramindo, o negro mar de longe brada

C. V, 38.3




Perífrase

Consiste em dizer em muitas palavras, o que poderia ser dito apenas numa.

N’Os Lusíadas

Mas assim como os raios espalhados
Do Sol foram no mundo, e num momento

Apareceu no rúbido Horizonte

Na moça de Titão a roxa fronte,

C. II, 13.5-8

(= Aurora, deusa; aurora, nascer do dia)




Personificação / Prosopopeia

Atribuição de características humanas a abstracções, animais, ideias ou objectos inanimados.

N’Os Lusíadas

A figura do Gigante Adamastor, personificação de um cabo, que aparece a falar.

... e Guadiana

Atrás tornou as ondas de medroso

C. IV, 28.3-4




Pleonasmo

Repetição desnecessária da mesma ideia utilizando muitas palavras.

N’Os Lusíadas

Vi, claramente visto, o lume vivo

C. V, 18.1




Sinédoque

Consiste em se tomar a parte pelo todo ou o todo pela parte.

É uma espécie de metáfora, por exemplo, dizer velas por navios ou cabeças por animais; na expressão o
pão nosso de cada dia, pão significa não apenas alimento, mas todo o sustento duma maneira geral. Esta
figura de estilo tem ainda algumas semelhanças com a perífrase e a metonímia.

N’Os Lusíadas
Vós, ó novo temor da Maura lança,

 (canto I,6.5),

 (= poderio militar dos mouros)




 Sinestesia

 Associação de sensações recebidas por vários sentidos, por exemplo, uma nota azul (ouvido, vista) ou
 um verde frio (vista, tacto). são expressões sinestésicas.

 N’Os Lusíadas

 As areias ali de prata fina;

 C. VI, 9.2

 (vista: prateado; tacto: textura fina)




 Fogo de Santelmo e Tromba Marítima

Ambos os episódios são naturalistas e descrevem “cousas do mar” que os sábios
não entendem mas que Vasco da Gama e a sua tripulação presenciaram. Camões
faz uma breve referÍncia a este “lume vivo“ salientado que os olhos dos
marinheiros não os enganavam pelo uso de um pleonasmo do verbo ver = “Vi,
claramente visto, o lume vivo”.

Este fogo aparece na extremidade dos mastros e vergas dos navios em altura de
tempestade, e que resulta de descargas eléctricas.

A tromba marítima é reflectida como um enorme tubo que aumentava em direcção
ao céu, partia de um “vaporzinho”, adensava-se chupando a água das ondas para
uma nuvem que se carregava para esvaziar uma violenta chuvada sobre o oceano.

É feita a descrição em pormenor da formação da tromba de água, e nas duas
últimas estrofes, o poeta salienta que os marinheiros por experiÍncia própria, tÍm
mais capacidades de explicar estes fenómenos naturais, do que os sábios que o
fazem por meio de obras escritas, teóricas.
Escorbuto

O escorbuto é uma doença que resulta da falta de frutas e vegetais frescos e do
excesso da carne e do peixe salgado, neste caso, por parte dos navegantes.

Sendo esta uma “doença crua e feia”, está Gama a narrá-la ao Rei de Melinde e
refere que, para além do desânimo e do cansaço, foi o que mais afectou a
tripulação, pois o desenlace desta doença que atingia os tripulantes era a morte.

Por fim, é feito um comentário à fragilidade da vida humana, sobressaindo a
incapacidade do Homem em superar algumas situações, como a doença e a
morte.

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  • 1. Estrutura da Obra Os Lusíadas podem ser considerados uma síntese da cultura renascentista, quer nos aspectos literários e filosóficos de cariz classicista e humanista, quer nos aspectos científicos, revelando um grande interesse documental para a compreensão da mentalidade da época. Assim, o poeta seguiu fielmente os ensinamentos da Antiguidade greco- latina no que se refere à estrutura de uma epopeia: ESTRUTURA CLÁSSICA DA OBRA Divisão em partes: 1. Proposição 2. Invocação 3. Dedicatória 4. Narração A narração inclui: Intervenções do maravilhoso Episódios (narrativas menores) Narrações retrospectivas, retrocesso no tempo em relação à acção central, isto é, 1498, ano em que se efectuou a primeira viagem de Vasco da Gama para a Índia: 1. De Vasco da Gama ao rei de Melinde, contando a história de Portugal desde a sua fundação lendária - cantos III e IV 2. De Vasco da Gama ao rei de Melinde, contando a viagem de Lisboa a Moçambique, já que no canto I a narração começa in medias res - canto V 3. Profecias, avanços no tempo em relação à acção central: Profecia de Júpiter a Vénus - canto II; Profecia dos rios Indo e Ganges a D. Manuel - canto IV; Profecias do Gigante Adamastor a Vasco da Gama - canto V; Profecias de Tétis a Vasco da Gama durante o banquete - canto X; Profecias de Tétis no monte, frente à bola de cristal - canto X, Matéria Épica O Poeta soube adaptar sabiamente a matéria épica à realidade portuguesa, respeitando o cânone do género: grandeza do assunto e da personagem principal (herói da epopeia), unidade de acção, concentrada no tempo e no espaço. Forma Em termos formais, o Poema está escrito em estilo "sublime", elevado, adequado à temática abordada e seguindo estritamente as regras clássicas para a elaboração de uma epopeia. O Poema está dividido em 10 cantos, totalizando 1102 estâncias, sendo cada uma constituída por oito versos.
  • 2. Planos narrativos 1. Plano da viagem 2. Plano dos Deuses 3. Plano da História de Portugal 4. Plano do Poeta Esquematização dos cantos Legenda: © = Amor & = História % = Aviso de perigo h = Viagem O = Perigo V = Religião ? = Opinião do Poeta P = Profético Canto I C 1-3 Proposição: o Poeta expõe o tema do seu poema. C 4-5 Invocação: O Poeta pede inspiração às ninfas do Tejo, Tágides, para escrever a sua obra. T 6-18 O Poeta dedica o seu poema ao rei: D. Sebastião. T 19 h Início da narração: a armada de Vasco da Gama está no Oceano Índico. n 20-42 % Consílio dos deuses para decidir o futuro dos Portugueses. P 43-104 h A viagem prossegue com alguns problemas e intervenções dos deuses e finalmente chegam a Mombaça. i 105-106 ? O Poeta reflecte sobre a fragilidade do homem. Canto II C 1-10 A armada está em Mombaça. C 11-63 Intervenções de Baco, Vénus, Júpiter e Mercúrio. C 64-108 h Chegada a Melinde: o rei pede a Vasco da Gama que lhe conte onde fica Portugal, como foi a viagem e a História de Portugal. Canto III C 1-2 O Poeta invoca a musa Calíope para, através de Vasco da Gama, iniciar a narração da história de Portugal. V 3-143 Discurso de Vasco da Gama que responde às perguntas do rei de Melinde. Assim, começa por dar a localização de Portugal; em seguida fala da dinastia de Borgonha: de D.
  • 3. Afonso Henriques a D. Fernando. Neste discurso são referidos vários episódios: v 42-54 V Batalha de Ourique. B 101-106 © Formosíssima Maria. F 107-117 & Batalha do Salado. 118-135 © InÍs de Castro. Canto IV C 1-75 Continua o discurso de Vasco da Gama ao rei de Melinde: história da dinastia de Avis (de D. João I a D. Manuel), inclui dois episódios: i 28-44 & Batalha de Aljubarrota. 67-75 P Sonho de D. Manuel 76-104 Os preparativos para a viagem e as despedidas em Belém, inclui um episódio: B 94-104 % Velho do Restelo Canto V C 1-89 h Vasco da Gama conta ao Rei de Melinde como foi a viagem de Lisboa até ali, que inclui os seguintes episódios: v 18 O Fogo de Santelmo 19-23 O Tromba Marítima 30-36 Fernão Veloso 37-60 O Gigante Adamastor 81-83 O Escorbuto 90-100 ? O poeta lamenta-se do desprezo pelas artes e letras. Canto VI C 1-91 h A armada sai de Melinde, inicia-se aqui a última etapa da viagem rumo à Índia, no decorrer da qual são inseridos os seguintes episódios: o 16-37 % Consílio dos deuses marinhos. 43-69 O Os doze de Inglaterra. 70-91 O Tempestade 92-94 h Chegada à Índia. Canto VII C 1-77 Na Índia: contactos; Vasco da Gama visita o Samorim e o Catual visita as naus. e 78-87 ? O Poeta invoca as ninfas do Tejo e do Mondego e comenta quem (não) merece ser incluído no seu poema. Canto VIII C 1-46 Na Índia: Paulo da Gama recebe o Catual a bordo da sua nau e, através da descrição das bandeiras, refere alguns ilustres portugueses. Em seguida o Catual regressa a terra i 47-95 Intervenção de Baco e alguns incidentes, mas finalmente Vasco da Gama consegue regressar à nau. f 96-99 ? Reflexões do Poeta sobre o poder do ouro. Canto IX C 1-17 h Inicia-se aqui a viagem de regresso a Portugal.
  • 4. 18-91 h A armada avista uma ilha e resolve aportar; trata- se afinal da ilha que Vénus preparou para homenagear os Portugueses: um paraíso povoado de ninfas; inclui episódio: P 52-91 © Ilha dos Amores I 92-95 ? Considerações do Poeta: como atingir a glória. Canto X C 1-142 Na Ilha de Vénus ou dos Amores: decorre um banquete. Tétis explica a máquina do mundo e faz profecias sobre o futuro dos Portugueses na Ásia, África e América. O próprio naufrágio de Camões é referido. Inclui os seguintes episódios: e 1-7 © Ilha dos Amores (continuação) I 10-42 © Ilha dos Amores (continuação) I 108-118 V Episódio de S. Tomé. E 143-144 h Embarque e regresso a Portugal. 145-156 ? Considerações do Poeta: lamenta a decadÍncia do seu país; apela ao rei, D. Sebastião, para que governe bem. Figuras de estilo As figuras de estilo são recursos que tornam a linguagem mais expressiva, permitindo condensar múltiplas ideias em poucas palavras. Deste modo, o escritor /o poeta, sugere ao leitor várias interpretações para os seus textos / poemas e leva-o, por vezes, a associá-los a outros textos ou temas do conhecimento geral. Alegoria Metáfora desenvolvida de modo a sugerir, por alusão, uma ideia diferente; geralmente, o autor pretende apresentar uma verdade moral ou espiritual subjacente à acção. N’Os Lusíadas A alegoria da ilha dos Amores (Ilha = recompensa, paraíso) C. IX, 52-91 C. X, 1-7; 10-142
  • 5. Aliteração Repetição de um som ou sílaba no início, no meio ou no fim das palavras; utilizada para criar um efeito auditivo de harmonia ou de onomatopeia. N’Os Lusíadas Que um fraco rei faz fraca a forte gente C. III, 138.8 Alusão Referência breve a uma pessoa ou circunstância supostamente conhecida do leitor, de modo a alargar o saber para além do próprio texto. N’Os Lusíadas D’água do esquecimento C.I, 32.7 = Rio Letes que, segundo a lenda, se situava no Inferno pagão, cujas águas tiravam a memória aos que dela bebessem. Anáfora Repetição de uma ou mais palavras no início de dois ou mais versos. N’Os Lusíadas Dai-me agora um som alto e sublimado, ................................................................ Dai-me ua fúria grande e sonorosa, ................................................................ Dai-me igual canto aos feitos da famosa C.I, 4.5, 5.1, 5
  • 6. Anástrofe Processo que consiste na inversão da ordem habitual das palavras, de forma a pôr em relevo elementos da frase. Neste caso, a inversão é menos violenta do que no Hipérbato. Que sejam, determino, agasalhados (Os Lusíadas, I, 29, v. 5 Antítese Expressão de ideias opostas numa só frase; tese significa afirmação, anti- contra. N’Os Lusíadas A pequena grandura de um batel C. VI, 74.6 Antonomásia Identificação de alguém através de um epíteto ou de qualquer outro termo que não seja o seu nome próprio. N’Os Lusíadas Cessem do sábio Grego e do Troiano C. I, 3.1 (Sábio Grego: Ulisses; Troiano: Eneias) Apóstrofe Interpelação de uma pessoa, entidade ou coisa personificada, no meio de uma narração, por exemplo, a invocação às Musas na poesia. Pode ser utilizado para chamar a atenção do leitor, mudando de assunto. N’Os Lusíadas "Tu só, tu, puro Amor, com força crua, III, 119.1
  • 7. Assíndeto Sequência de palavras ou frases às quais se omitiu a conjunção e, substituída por vírgula, condensando várias ideias numa só frase, possibilitando, por vezes, diversas interpretações. N’Os Lusíadas Fere, mata, derriba, denodado; C.III, 67.3 Assonância Repetição dos mesmos sons vocálicos em palavras muito próximas. N’Os Lusíadas As armas e os barões assinalados C.I, 1.1 Comparação Método de aproximação de duas pessoas, ideias ou circunstâncias de modo a evidenciar as suas semelhanças ou diferenças. Distingue-se da metáfora pela utilização de alguns nexos inter-frásicos: como, tal como, assim como. N’Os Lusíadas Assi como a bonina, que cortada C.III, 134 Qual o reflexo lume do polido Espelho de aço ou de cristal fermoso C.VIII, 87.1-2 Elipse Supressão de palavras que facilmente se adivinham, tendo em consideração o contexto.
  • 8. N’Os Lusíadas Agora, pelos povos seus vizinhos, Agora, pelos húmidos caminhos. C. II, 108.7-8 (Agora, pergunta pelos povos seus vizinhos) Eufemismo Suavização de uma ideia desagradável ou cruel através de palavras ou expressões seleccionadas. Pode confundir--se com a perífrase. N’Os Lusíadas Tirar Inês ao Mundo determina C. III, 123.1 (=matar Inês) Hipérbato (cf. Anástrofe) Inversão violenta dos elementos da frase, alterando a ordem sintáctica normal. Utiliza-se para enfatizar o discurso ou para imitar a estrutura sintáctica do latim. Os versos de Os Lusíadas são formados por uma série de hipérbatos. N’Os Lusíadas A Deus pedi que removesse os duros Casos, que Adamastor contou futuros. C. V.60.7-8 Hipérbole Expressões que exageram intencionalmente o pensamento. Utiliza-se para enfatizar o discurso. É um dos recursos estilísticos mais utilizados n’Os Lusíadas. N’Os Lusíadas
  • 9. Agora sobre as nuvens os subiam As ondas de Neptuno furibundo; Agora a ver parece que desciam As íntimas entranhas do Profundo. C.VI, 76.1-4 Imagem Impressão mental ou representação de um animal, pessoa ou coisa que permite criar imagens nítidas, através de uma linguagem metafórica. N’Os Lusíadas O mar se via em fogos acendido C.II, 91.6 Ironia Recurso, que segundo Aristóteles é um disfarce que conduz à essência da verdade, pois as palavras adquirem um significado diferente daquele em que são empregues. N’Os Lusíadas Vede, Ninfas, que engenhos de senhores O vosso Tejo cria valerosos, Que assim sabem prezar, com tais favores, A quem os faz, cantando, gloriosos! C.VII, 82.1-4 (Camões ironiza a incompreensão dos seus compatriotas) Metáfora
  • 10. Comparação abreviada, implícita, sem a partícula comparativa como, que permite identificar uma coisa com outra através de um processo imaginativo. Tomai as rédeas Vós do Reino vosso (Tomai as rédeas = governai) C. I, 15.3 Metonímia Substituição do nome dum objecto ou duma ideia por outro relacionado com ele. Assim, dizer a coroa ou o ceptro em vez de o soberano; a cruz e a espada em vez de a religião e o exército; os copos em vez de as bebidas alcoólicas são exemplos de metonímia. N’Os Lusíadas De Portugal, armar madeiro leve (madeiro = nau, feita de madeira) C. VI, 52.3 Onomatopeia Palavras cujo som evoca um determinado objecto ou ideia, muitas vezes, são sons da natureza. Trata-se, portanto, da utilização de palavras imitativas para alcançar um efeito estilístico. Pode coincidir com a aliteração. N’Os Lusíadas Bramindo, o negro mar de longe brada C. V, 38.3 Perífrase Consiste em dizer em muitas palavras, o que poderia ser dito apenas numa. N’Os Lusíadas Mas assim como os raios espalhados
  • 11. Do Sol foram no mundo, e num momento Apareceu no rúbido Horizonte Na moça de Titão a roxa fronte, C. II, 13.5-8 (= Aurora, deusa; aurora, nascer do dia) Personificação / Prosopopeia Atribuição de características humanas a abstracções, animais, ideias ou objectos inanimados. N’Os Lusíadas A figura do Gigante Adamastor, personificação de um cabo, que aparece a falar. ... e Guadiana Atrás tornou as ondas de medroso C. IV, 28.3-4 Pleonasmo Repetição desnecessária da mesma ideia utilizando muitas palavras. N’Os Lusíadas Vi, claramente visto, o lume vivo C. V, 18.1 Sinédoque Consiste em se tomar a parte pelo todo ou o todo pela parte. É uma espécie de metáfora, por exemplo, dizer velas por navios ou cabeças por animais; na expressão o pão nosso de cada dia, pão significa não apenas alimento, mas todo o sustento duma maneira geral. Esta figura de estilo tem ainda algumas semelhanças com a perífrase e a metonímia. N’Os Lusíadas
  • 12. Vós, ó novo temor da Maura lança, (canto I,6.5), (= poderio militar dos mouros) Sinestesia Associação de sensações recebidas por vários sentidos, por exemplo, uma nota azul (ouvido, vista) ou um verde frio (vista, tacto). são expressões sinestésicas. N’Os Lusíadas As areias ali de prata fina; C. VI, 9.2 (vista: prateado; tacto: textura fina) Fogo de Santelmo e Tromba Marítima Ambos os episódios são naturalistas e descrevem “cousas do mar” que os sábios não entendem mas que Vasco da Gama e a sua tripulação presenciaram. Camões faz uma breve referÍncia a este “lume vivo“ salientado que os olhos dos marinheiros não os enganavam pelo uso de um pleonasmo do verbo ver = “Vi, claramente visto, o lume vivo”. Este fogo aparece na extremidade dos mastros e vergas dos navios em altura de tempestade, e que resulta de descargas eléctricas. A tromba marítima é reflectida como um enorme tubo que aumentava em direcção ao céu, partia de um “vaporzinho”, adensava-se chupando a água das ondas para uma nuvem que se carregava para esvaziar uma violenta chuvada sobre o oceano. É feita a descrição em pormenor da formação da tromba de água, e nas duas últimas estrofes, o poeta salienta que os marinheiros por experiÍncia própria, tÍm mais capacidades de explicar estes fenómenos naturais, do que os sábios que o fazem por meio de obras escritas, teóricas.
  • 13. Escorbuto O escorbuto é uma doença que resulta da falta de frutas e vegetais frescos e do excesso da carne e do peixe salgado, neste caso, por parte dos navegantes. Sendo esta uma “doença crua e feia”, está Gama a narrá-la ao Rei de Melinde e refere que, para além do desânimo e do cansaço, foi o que mais afectou a tripulação, pois o desenlace desta doença que atingia os tripulantes era a morte. Por fim, é feito um comentário à fragilidade da vida humana, sobressaindo a incapacidade do Homem em superar algumas situações, como a doença e a morte.