Este documento discute os desafios enfrentados por famílias com crianças deficientes. Ele descreve como o nascimento de uma criança com deficiências causa surpresa e como os pais precisam superar a rejeição inicial para cuidar das necessidades especiais da criança. Também destaca como os familiares precisam aprender novas habilidades técnicas e como as crianças deficientes, apesar de seus sofrimentos, ensinam muito às pessoas que cuidam delas sobre empatia e evolução humana.
2. Deficientes
ANJO DEFICIENTE?
Aquela mãe, aquele pai, aquela avó, aquele avô ansiosamente aguardam o feliz dia do
nascimento da criança que certamente virá encher de alegria os dias futuros da família.
Chega esse dia e, com grande surpresa, todos vêem que a pequena criança não é
perfeitamente normal. A cada nova observação constata-se uma nova deficiência , talvez
por motivos genéticos, talvez por acidente no momento do nascimento, no novo ser que
chega ao início de sua vida
A causa não é muito importante e sim as conseqüências que advirão certamente. É o início
de uma grande luta que modificará a vida de muita gente, principalmente daqueles que
mais junto estarão do novo pequeno ser.
A primeira dificuldade a vencer pelos parentes mais próximos será dominar a rejeição. É
óbvio que não se trata de um objeto que se acaba de comprar e se verifica que está com
defeito. Aqui é o amor que já estabelecia seus laços entre eles e o neném, antes mesmo do
momento do parto e que agora aumenta e se fortalece pela presença. O amor, com seu
extraordinário poder, anula a rejeição por completo.
As necessidades especiais da nova criança demandarão um
imediato, constante, permanente e difícil aprendizado por parte de todos que dela
cuidarão.
3. Deficientes
Será um curso prático inevitável, além do aprendizado técnico que será indicado pelos
especialistas das diversas áreas envolvidas.
Nova dificuldade a vencer será a vergonha ( injustificável ) que os familiares venham a sentir
diante de seus pares, com crianças perfeitamente normais, nas atividades do dia a dia.
Fisicamente, também terá de haver desenvolvimentos, para suprir as deficiências daquela
criança no transporte e em todas as suas necessidades diárias. Essas pessoas que lidam com
os deficientes têm de se tornar portanto, fisicamente, intelectualmente, moralmente, e
psicologicamente superiores ao padrão humano vulgar, e muito acima daquilo que eram
antes das novas atividades assim impostas. Sem muito exagero podemos dizer que serão
aprendizes de atletas, técnicos e monges. É muito comum se ver, em frente à ABBR, uma
pessoa descer de um ônibus, portando ao colo um deficiente de peso quase igual ao seu
próprio peso. Um pai ou uma mãe de nível de instrução primário conversar falando em
terapia hiperbárica.
Sofrerão muito, sem dúvida, mas não esmorecerão, porque estarão sempre direcionadas a
objetivos bem definidos, e sempre sentirão que seu sofrimento não é maior que o da pessoa
assistida. Esta tem de lutar sem ter as armas adequadas, sentindo sempre, publicamente, a
deficiência que o destino lhe impôs, não sendo capaz de fazer o que deseja e vê os outros
fazerem.
Isto não é uma batalha, mas uma guerra em que há muitas batalhas a vencer. Uma a
uma, essas batalhas vão sendo travadas. Umas são vencidas outras não. Pequenas alegrias
grandes decepções.
4. Deficientes
Ao longo do tempo, com auxílio de profissionais capazes e dedicados, a evolução
geralmente vai sendo alcançada tornando o deficiente menos deficiente. Em geral, a
custa de grande empenho e muito sacrifício, pequenas metas (que para eles são muito
grandes), são alcançadas.
Um dia contudo, geralmente já na adolescência, muitas vezes termina a vida sofrida
dessas crianças, que como anjos, partem para a eternidade, diante dos olhos tristes de
seus responsáveis. Ela se foi...
A sensação é de que tudo foi em vão. Tanto esforço, tanto sacrifício, para no fim nada
restar. Quanta coisa aquela pobre criança teve de aprender a custa de muito
sofrimento. Quanto nós lhe ensinamos ao longo de trabalhosos anos em que dela
cuidamos.
... Mas será que nós fomos mesmo os professores e elas os alunos?
Pensemos no que nós éramos ao início de tudo e no que chegamos a ser. Pensemos em
quanto aprendemos ao longo desses anos, em variados campos da evolução
humana...
...Não: nós não fomos mestres e sim alunos aplicados. Esses anjos, com seu
sacrifício, com seu sofrimento, muito fizeram por nós. Eles nos ensinaram muito e nos
transformaram para muito melhor, sacrificando-se muito para atingir esse objetivo.
Deus lhes recompense o sacrifício produtivo.
Será que devemos mesmo chamá-los de Anjos deficientes?
Certamente será muito mais correto chamá-los ANJOS EFICIENTES.