O documento discute como Guerra nas Estrelas reapresenta temas mitológicos como a jornada do herói. A saga acompanha a jornada de Luke Skywalker, que começa como um indivíduo comum e é convocado para uma aventura, enfrentando desafios para provar seu valor e derrotar o mal. Seu maior desafio é enfrentar seu pai, Darth Vader, retratando o conflito entre pai e filho presente em muitos mitos.
Mitologia e guerra nas estrelas: a jornada do herói | sociedade gnóstica
1. Mitologia e Guerra nas Estrelas: a Jornada do Herói
Ela começa como uma simples narrativa da luta do bem contra o mal, mas acaba se
convertendo num dos maiores fenômenos culturais de todos os tempos. Composta
por seis capítulos que a formam em um autêntico épico universal, Guerra nas
Estrelas se transformou numa saga que narra um dos temas mais relevantes
presentes em toda literatura, mitologia e tradições religiosas mundiais.
Muito semelhante à uma escritura sagrada dos dias atuais, a obra cinematográfica de
George Lucas atualizou os antigos arquétipos presentes nas obras simbólicas das
mais importantes tradições antigas e apresentou velhos mitos repaginados para as
novas gerações. Não há dúvida que o filme rompeu os limites da comunicação da
mensagem universal presente nos grandes clássicos da antiguidade.
Ainda na década de 1970, Guerra nas Estrelas inaugura o
fenômeno da criação do mito moderno, exibido nas
grandes telas do cinema e carregado de sons, imagens e
efeitos especiais.
Naquela época, a sociedade passava por difíceis e
profundas transformações sociais e políticas, e o indivíduo
experimentava uma crise de identidade, uma vez que os
antigos valores haviam sido virados de cabeça para baixo.
O ciclo de Guerra nas Estrelas reapresenta de maneira impactante o cerne mitológico
que compreende a existência do bem e do mal, bem como a missão de um herói que é
levado à enfrentar este mal e vencê-lo.
Os mitos sempre foram ferramentas de grande importância para que o ser humano
pudesse compreender o funcionamento do universo, e não apenas o grande universo
que se manifesta em seu exterior, mas também do seu próprio universo interior.
Por isso, um de seus temas centrais é a jornada do herói, presente em todos os seis
filmes de Guerra nas Estrelas. A conexão entre a saga da família Skywalker e a
mitologia começa com o famoso historiador e mitólogo Joseph Campbell, o autor do
livro O Herói de Mil Faces, que foi usado por George Lucas na construção de sua
obra.
Veja a Série Completa:
Mitologia e Guerra nas Estrelas: Parte 1
2. Mitologia e Guerra nas Estrelas: Parte 2
Mitologia e Guerra nas Estrelas: Parte 3
Mitologia e Guerra nas Estrelas: Parte 4
Mitologia e Guerra nas Estrelas: Parte 5
Mitologia e Guerra nas Estrelas: Parte 6
Mitologia e Guerra nas Estrelas: Parte 7
De acordo com Campbell, o mito é uma metáfora para a experiência da vida. Ele teve
seu trabalho influenciado por Carl Gustav Jung, o psicólogo suíço que deu origem à
Psicologia Analítica e às teorias dos arquétipos do inconsciente. George Lucas
estudou a obra de Campbell e acabou usando em seus filmes a temática da Jornada
do Herói, uma das formas mitológicas apresentadas em O Herói de Mil Faces.
Esta jornada é o fundamento da maioria dos grandes mitos presentes em todas as
civilizações, e consiste numa caminhada iniciática que leva o personagem principal à
uma transformação onde uma identidade adolescente que antecede a vida sexual é
trocada por outra, a identidade adulta já familiarizada com a sexualidade e os demais
desafios apresentados pela existência humana.
Ao longo de Guerra nas Estrelas, a Jornada do Herói é percorrida por dois
personagens, Anakin Skywalker e seu filho Luke Skywalker. Os dois recebem um
chamado para a aventura, e nenhum deles espera ser um herói. Os dois são atraídas
para a luta entre o bem e o mal, e então precisam decidir de qual lado irão ficar. A
jornada de Anakin acaba se tornando uma tragédia, quando ele é levado pelo medo e
pela ambição à se juntar ao lado negro da Força, enquanto a jornada de Luke se
converte em uma busca pela redenção de seu pai.
No início, Luke é uma pessoa comum, que vive uma vida tranquila e aborrecedora.
Ele é inocente e inseguro, assim como os heróis de outras mitologias, antigos como o
rei Arthur ou mais modernos, como Dorothy Gale, de o Mágico de Oz, ou mesmo o
pequeno mago Harry Potter. Estes personagens provocam a simpatia dos
espectadores, pois compartilham das mesmas inseguranças e dos mesmos medos de
todo ser humano.
Mas logo o herói é convocado para uma aventura quando um dos robôs comprados
por seu tio reproduz a mensagem de uma princesa pedindo socorro. Esta convocação
tira Luke do conforto e de perto daquilo que lhe é familiar. Ao procurar Obi-Wan
Kenobi ele se dirige para o desconhecido e o desafiador, e o conhecimento de vida
que possuía até então já não será mais suficiente.
3. Logo o velho Ben o convida para seguir viagem com ele até Alderaan, e assim
ingressar definitivamente na luta do bem contra o mal. Luke hesita, da mesma forma
como o grego Ulisses ou o hebreu Moisés não desejavam encarar aquilo que parecia
ser muito maior do que eles próprios. Mas a vida o arrasta para a jornada, e quando
seus tios são assassinados perlas forças imperiais, ele decide seguir em frente.
Para chegar à Alderaan, é preciso encontrar transporte em Mos Eisley, que Obi-Wan
descreve como sendo “uma colmeia miserável de escória e vilania.” Na cantina de
Mos Eisley, um lugar bizarro e perigoso, Luke enfrenta a etapa da Travessia do
Umbral, o momento em que todo herói, à maneira da pequena Dorothy, sente que
não está mais no Kansas.
Depois de realizar esta travessia, Luke começa a enfrentar uma série de desafios para
provar seu valor. Todo herói mitológico cumpre este requisito, e podemos ver como
Hércules realiza seus doze trabalhos, ou como o salvador gnóstico Neo, do filme
Matrix, segue as instruções de Morpheus para se livrar dos Agentes, ou os Arcontes
dos Aeons da mitologia gnóstica.
Luke enfrenta as tropas imperiais ainda no porto de Mos Eisley, quando embarca na
lendária Milleniun Falcon com Han Solo e Chewbacca. Em seguida ele resgata a
princesa, ajuda a destruir a Estrela da Morte, enfrenta o Império da batalha de Hoth,
na qual é parcialmente derrota mas consegue se reerguer, e resgata Han Solo e seus
amigos ao derrotar o poderoso Jabba.
Contudo, seu maior desafio ainda está por vir, e será revelado quando encontrar seu
próprio pai. A luta entre pai e filho é um tema fundamental da Jornada do Herói, e
pode ser encontrado em vários mitos gregos. O próprio Zeus só chegou a ser o pai
dos deuses quando derrotou Cronos, seu pai, quem por sua vez havia chegado ao
poder depois de derrotar Urano, seu pai.
A temática do conflito entre Luke e seu pai, Darth Vader, pode ser encontrado
também na Bíblia, onde existe a noção de que os erros cometidos pelo pai são
transmitidos para os filhos e as gerações seguintes. Há sempre uma marca deixada
pelos antepassados e o herói não pode simplesmente escapar de seus efeitos.
Em uma batalha contada no quinto filme da série, o Ataque dos Clones, o pai de
Luke é ferido por um golpe de sabre de luz do Conde Dooku. Seu braço é arrancado
e uma prótese é colocada em seu lugar. Anakin, já convertido em Darth Vader,
transmite sua cicatriz para seu filho, arrancando a mão de Luke quando os dois
duelam na Cidade das Nuvens acima de Bespin, lar de Lando Calrissian.
4. A maldição é transmitida definitivamente logo após a mão ser arrancada pelo sabre
de luz vermelha de Darth Vader, quando este conta à Luke que é seu pai. Neste
momento Luke se dá conta que faz parte de uma família e pode decidir não
perpetuar os erros de seu pai. Este é o ponto central em torno do qual giram os
demais elementos mitológicos de Guerra nas Estrelas.
Todo drama mitológico narra uma grande batalha, na qual o herói recebe uma
grande ferida. Esta será determinante ao longo de toda a sua jornada. Ela é a marca
da maturidade do personagem central, que aprendeu sobre as dificuldades da vida
adulta. Suas dores são grandes, mas maior ainda é a sabedoria que ela oferece ao
herói, quem sempre se recordará dela nem que seja em sua própria carne.
Veja a Série Completa:
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