O documento discute as origens do monoteísmo judaico e sugere que ele foi influenciado pelas tentativas de monoteísmo no Egito antigo, especialmente sob Akenaton. Argumenta que termos como "Adonai" e "Elohenu" na profissão de fé judaica podem ter origens em deuses solares egípcios e que o judaísmo antigo pode ter sido mais politeísta do que se acredita.
1. O JUDEUS E AS ORIGENS DO MONOTEISMO
A investigação arqueológica há-de confirmar que terá sido por complexas
motivações históricas que a teologia egípcia de tendência monoteísta acabou
por triunfar no judaísmo onde Deus era acima de tudo o Senhor zeloso e
cioso de todo o povo eleito, o que significa que o monoteismo judeu era
apenas um nacionalismo teológico fundamentalista.1.
A profissão de fé judaica: Shema Jisroel Adonai Elohenu Adonai Ejod
(ouve Israel, Ad(t)on(ai) é o nosso único Deus!) é uma estranha alocução,
como Freud o notou, onde se encobrem verdades da teologia judaica que
nem os próprios judeus suspeitariam! Desde logo porque, não era Jeová o
nome inefável d´Aquele que é O que é? Quem é então Adonai!
Quanto a mim, perfilho da suspeita freudiana de que Adonai deriva de
Aton + ai < Atum, deus solar adoptado no sistema teológico de Akineton
para deus supremo do primeiro monoteísmo conhecido. Deste derivou o
Adonis sírio (de que derivou o deus grego dos mistérios agrários pré
-dionisíaco) da ressurreição anual e, possivelmente ainda, o deus caldeu
Adad! Ora, é impossível não pensar que o aparecimento destes deuses nada
tenha a ver com a revolução religiosa de Akineton. Se alguma coisa era
considerada de máxima importância social neste tempos recuados da história
os fenómenos religiosos eram uma delas. Assim sendo, há que ver no
movimento que antecedeu a formação do povo judeu algo que ultrapassou o
horizonte local da fixação do povo de Israel e correspondeu a uma
propagação da dinâmica religiosa do culto solar de Aton o qual se estendeu
até à mesopotâmia e acabou por sobreviver nos cultos dos mistérios em
substituição ou em paralelo com o deus que pretendeu combater
inicialmente, Osíris! Aton foi de facto o maior fomentador dos cultos dos
mortos no corredor Sírio o que é, de algum modo, contraditório com as
preocupações monoteístas de Akineton. Só que, nestes casos de movimentos
culturais, mesmo que religiosos, a vontade do fundador não consegue
superar a do próprio movimento. Ora, Aton já era um deus dos mortos e, por
isso, dos cultos de mistérios muito antes de ter sido escolhido por Akineton
como deus único! A barca solar de Aton não faz mais do que prefigurar os
cultos órficos do sono do Sol que diariamente se oculta por de baixo da terra
ou seja nos Infernos! Assim Aton era Único pelo menos no conseguir passar
quotidianamente pelo reino dos mortos sem ter de ficar lá para sempre.
Campeão dos deuses Aton tinha algo de Osíris com o qual partilhava afinal
o de heterónimo do mesmo deus da criação que era o Deus Knum (de
Karnum) com quem partilhava a figura de carneiro totémico.
Sigmund Freud em Moisés e a religião monoteísta.
1
2. Figura1: Barca Solar de Aton
De qualquer modo, para um contexto de monoteísmo purista ou Adonai
ou Elohenu estão a mais. Dada a repetição redundante de Adonai na
profissão de fé judaica não pode duvidar-se do valor enfático deste nome.
Aliás El-ohenu sugere o nome do deus supremo cananeu El, seguido do
nome Ohenu o qual seria o nome específico de desse deus, variante
metamorfica possível do sumério Anu. Em boa verdade Ohenu tem
ressonâncias com Vishnu por Uishenu sendo possivel haver um étimo
comum bem mais remoto por Ophian, a cobra totémica da deusa mãe! De
facto EL é menos um nome próprio é mais uma alocução genérica com o
significado de Senhor2 (por excelência) e por isso adequado ao conceito
divino inicial do judaísmo patriarcal que seria apenas genérica e
tendencialmente monoteísta como O seria possivelmente para qualquer
sacerdote culto do Deus de Canaan, adorador do mesmo pai benévolo El,
como foi o caso do rei sacerdote do tempo do patriarca Abraão,
Melquisedec! 3Aliás o genérico El era já uma corruptela afectiva do deus
sumério do ar atmoférico, Enil preponderante antes da ascensão da
babilónia.
De facto, no capítulo 6 dos Génesis refere-se que “ 2os filhos de Deus
(Eloim), vendo que as filhas dos homens eram belas, escolheram entre elas
as que bem quiseram para suas mulheres” o que pressupõe que os filhos de
deus eram deuses também! De resto, parece que o termo autentico do texto
original é Eloim, plural do nome do deus cananneu El, pelo que terá em
deuses a melhor tradução!
Além do mais, o(s) autor(es) do Génesis não era(m) absolutamente
inculto(s) em relação à cultura geral do seu tempo na medida em que, no
mesmo Cap. 6, se refere sumariamente que nos tempos primordiais pré2
3
Tal como para os cristão Deus é Nosso Senhor e Nossa Senhora a Virgem Mãe!
( Mel ishkiash = literalmente rei sacerdote ou sacerdote de El?)
3. diluvianos “4havia gigantes na terra; e também depois 4, quando os filhos
de Deus (Eloim) se uniram às filhas dos homens e delas tiveram filhos.
Foram esses os famosos heróis dos tempos remotos.”
Este conceito de heróis míticos sem mais especificações caberia
perfeitamente na tradição homérica como aliás também, na cultura Suméria.
Para quê distinguir gigantes de titãs quando corresponderiam quiçá aos
mesmos mitos primordiais dos heróis lendários de tempos remotos filhos de
deuses e de homens e logo semideuses também? Ou seja, para os autores
bíblicos, pouco interessados em perder tempo com um assunto perigoso,
pelo risco de tentação politeísta que lhe está implícito, Deus teve filhos
deuses que fizeram filhos às mulheres dos homens de que nasceram
semideuses gigantes (monstruosidades físicas em consequência da
imoralidade implícita na contra naturalidade da situação?) que foram
heróis lendários noutro tempos, e … o melhor é não falar mais nisso!
Mas, então quantos deuses houve em Israel? Conhecidos pelo menos três:
El(oim), Adonai e Ihavé(Jeová) ou seja mais uma nova e misteriosa tríade
divina! Os judeus dirão que estes teónomos se referem ao mesmo deus e nós
acreditamos mas, sem a obrigação de evitar pensar que poderia não ter sido
sempre assim pelo menos em tese. No entanto além das referência veladas a
El e a Ophian a fórmula de fé judaica, acima descrita, parece apelar ainda
para o Sol (Shema < Shamas) que aliás Adonai já era.
Se apesar disto o judaísmo sempre se considerou genericamente
monoteísta é forçoso concluir que se passava com esta tríade o mesmo que
com a santíssima trindade cristã (três pessoas divinas num só e único deus)
ou então…correspondiam a nomes sinónimos e/ou epítetos do mesmo deus
ou a formas dialectais e/ou a resíduos linguísticos do mesmo nome de Deus.
Ora bem, esta possibilidade antropológica pode ter acontecido com todos
os povos antigos contemporâneos dos judeus, pelo menos na Suméria e na
piedosa e teocrática civilização babilónia, pelo que a singularidade do
politeísmo bíblico pode ser sido exageradamente distorcido seja por razões
de exegese sacerdotal seja por puro preconceito moral de superioridade de
raça, seja por puro dogmatismo fanático a que hoje em se chamaria
demagogia por vertigem radicalista!
Se calhar a fórmula de fé Judaica tem um outro significado oculto o que
não é sequer inédito pois estas interjeições rituais costumam ser, como o
Kyrie Eleyson católico, tão arcaicas que teriam necessáriamente que andar
mal traduzidas. No caso do Kyrie Eleyson esta intrejeição ritual costuma
traduzir-se por «Senhor, tende piedade de nós» quando na verdade deverá
ter paralelismo na expressão biblica EL-ELYON (< El-Eli An), nítida
redundância enfática que costuma ter o suposto significada literal de
Altíssimo Senhor Deus mas que eu suspeito só corresponder a essa tradução
Alusão a Sanção que, apesar das suas semelhanças com o lendário Hércules, é colocado
pelos autores bíblicos no tempo dos filisteus, o que reforça a suspeita de o texto bíblico
ter sido fixado depois de revisto à luz da visão pré helenista do mundo do sec. V a. C.,
na época do império Persa!
4
4. se o Altíssimo for um teónimo enfático do Deus da atmosfera, Lil! Quanto à
formula de fé Judaica, Shema Jisroel Adonai Elohenu Adonai Ejod talvez
tenha por tradução mais literal: «O (deus) sol de Israel é Adonai e Adonai é
o único Senhor Deus Phi.»
Fosse como e porque fosse, e apesar de todos este indícios de um
politeismo igual aos de todos os outros povos vizinhos, os sacerdotes judeus
teimaram na decisão de se tornarem sobranceiramente intolerantes em
relação a crenças e superstições populares, ao culto (dos espíritos) dos
antepassados e familiares ou a divindades infernais e a deuses estrangeiros
ou regionais ou a divindades menores!5
Quando Carl Grimberg refere que no Egipto “o culto animal era
sobretudo praticado pelo povo. Não preocupava os teólogos egípcios”,
esta e dizer o que é valido para todos os tempos e lugares: Que nas classes
dominantes a doutrina (como o resto) é sempre mais pura e requintada e que
por via de regra a crendice beata é um mal popular que só costuma torna-se
um caso sério e real em épocas de crise! Reportados para a questão do
politeísmo poderíamos referir que os judeus abordaram esta questão (e
outras colaterais) com excessivo snobismo e pouco pragmatismo porque os
Egípcios também chegaram ao monoteísmo (quiçá primeiro do que os
judeus) e pela via da simples reflexão teológica (ou seja sem terem estado à
espera do favor duma revelação divina na sarça ardente do monte Sinai!)
Segundo refere Freud no seu livro Moisés e a religião monoteísta, na
escola menfítica de On (Heliópolis) desenvolvia-se desde há muito o
conceito teológico essencialmente ético de um Deus universal o que teve
como resultado a revelação de que Maat, a filha da Luz solar de Ra, era a
trindade suprema da Verdade do pensamento, da Ordem na natureza e na
vida e da Justiça da monarquia faraónica!
A mando de Amenopfis IV que tanto se irritava com a soberba dos
poderosos sacerdotes de Tebas buscou-se um nome para o deus solar que
não fosse Amon-Ra e encontrou-se no passado Atum um antiquíssimo nome
do deus solar que o faraó converteu à sua imagem e semelhança em Deus
único e ciumento! Ora, pasme-se, este nome deve ser mesmo muito antigo
porque se parece de forma flagrante com o nome do mesmo deus solar Utu
da teogonia dos sumérios.
Utu > Atu > Atum > Aton (por analogia com Amon)
Outra variante fonética pluri-linguistica pode ter sido aton > atanus >
adanus de que se originou Adão o pai bíblico de todos os homens e o
Adonis fenício dos mistérios agrários da morte e ressurreição anual da
natureza!
Em boa verdade, o monoteísmo judeu não poderia ter surgido por geração
espontânea! Seria um absurdo pensar que a histórica do monoteísmo judeu
Se esta intolerância teimosa e fanática dos judeu constitui um critério de aferição das
virtude do monoteísmo então o puritanismo protestante marca pontos em relação à
idolatria das estatuas e imagens dos santos e beatos católicos!
5
5. possa ter passado ao lado da tentativa de Amenóphis IV para instaurar no
Egipto um deus único e ciumento. Ou seja, há partida tem que haver relação
entre estes factos e o contrário é que teria que ser muito bem demonstrado.
figura 2 - Hino
ao sol de Akenaton
“(…)Quando te pões no horizonte ocidental do céu,
as tuas criaturas adormecem como mortos;
obscurecem-se-lhe os cérebros,
se lhes tapam as narinas
até que de manhã, o teu brilho se renova
no horizonte austral do céu!
Então, os seus braços imploram o teu Ka
e a cor da tua luz acorda a vida que renasce!
De resto, o simples facto de a bíblia, supostamente sempre tão bem
informada nos assuntos do Deus único, ter estado tão perto no tempo e no lugar
e, mesmo assim, ter conseguido passar ao lado desta clamorosa revolução
monoteísta é um exemplo expressivo dum esquecimento freudiano!6 ! Pois bem,
este típico fenómeno de cegueira histérica só se explica pelo princípio óbvio de
que, na falta de reflexão especular (ou seja, de condições objectivas de
imparcialidade), o crente só vê aquilo que lhe convêm, e raramente se vê a si
próprio!
“Ao crente é tão difícil a verdade
quanto é cara a liberdade
a quem se perde de paixão!
Almejar a salvação antes dum palmo do nariz,
ver a fé lançar raiz insidiosa sobre a testa
eis a esperança do martírio: transportar em festa
o que, de tanto se roer e já delírio triunfante!
Já nem sequer se sente o que se arrasta às costas!”7
Um apoio a estas teses vem-nos dos escritos “from E.S.Drower: The
Mandaeans of Iraq and Iran, Clarendon Press, Oxford,1937” de que se
transcreve o sugestivi extrato:
“G. Another Version of the Red Sea Story
Para Melka was obstinate, and was punished for his obstinacy. The
people of Egypt were of our religion, and Musa (Moses), who was brought up
with Para Melka, learnt something of our knowledge. The Jews in general
No novo testamento volta a acontecer este mesmo fenómeno de denegação com a omissão de
referências explícitas nos evangelhos aos essénicos.
7
Extrato do poema SOLEDADES, do próprio autor.
6
6. worshipped Ruha and her children, especially Yurba, and knew nothing of the
Light or the teachings of the children of Light. And even to-day the Jews
worship Yurba, who is of the Sun. Yurba is to the sun-ship what a captain is to
an earthly ship-he controls it, but he himself is under the orders of the Lords of
Light, for the children of dark- ness and those who are of the portion of Ruha
serve the children of Light. So it was that Shamish gave Musa power.”
DILÚVIO, O FIMDA ATLANTIDA, E A EXPLUSÃO DE
SANTORINI
Que é que os Hebreus poderiam ter a ver com Amenóphis?
A data do êxodo não pode ser reportada aos termos da Bíblia quando esta
refere que os judeus cativos “construíram as cidades de Pitom e Ramsés” uma
vez que é frequente os autores bíblicos equivocarem-se nos nomes de localidades
que relatam de memória milénios depois dos factos. Ramsés pode ter a ver com
Rá e o culto solar da nova capital Akhetaton de Amenóphis IV mas pode também
ser uma alusão mal localizada ao protótipo dos faraós que foi Ramsés que,
enquanto autentico “rei sol”, marcou toda a história do Novo Império!
Segundo A HISTÓRIA DOS TEMPOS BÍBLICOS 8 só «a última prega pertence
inteiramente ao reino do sobrenatural». Ora, a meu ver, bem pelo
contrário, é a única que tem foros de verosimilhança porque a morte
prematura do primogénito dum faraó não era coisa que custasse muito a
profetizar, nem a esperar que acontecesse de forma miraculosa ou insidiosa
e muito menos a inventar. A mortalidade infantil era nesses tempos uma
fatalidade tão pesada que a ela nem os filhos dos faraós escapavam! Ora, os
registos referem que a monarquia faraónica teve graves problemas de
progenitura nesta época pois que todos os irmãos e irmãs de Amenóphis
morreram novos, ele próprio não deixou descendente masculinos e
Tutankhamon, um dos genros que lhe sucedeu morreu sem deixar filhos,
sendo possível que lhe tenha falecido tragicamente um primogénito ou ele
próprio ter sido esse primogénito morto tragicamente já que faleceu muito
novo, com 19 anos de idade e “foram encontradas no seu túmulo duas
múmias de dois nado-mortos, sem dúvida seus filhos!”9 De qualquer modo
e fosse qual fosse a real identidade de Moisés, o Êxodo deve ter acontecido
antes da subida ao poder do primeiro Ramsés que referiu a presença de
israelitas na palestina ou entre a morte de Tutankhamon e a subida ao poder
do faraó Ay.
Quando a bíblia fala na contribuição dos escravos hebreus para a
construção de uma cidade de nome Pitom e Ramsés deve estar a referir-se,
no caso de Pitom (celeiros) ou à construção dos celeiros de Akhetaton,
cidade do faraó herético, ou à cidade celeiro Per-Atum que pelo nome Atum
só pode ter sido edificada no reinado de Akineton. No caso da cidade
hipotética de Ramsés o autor bíblico deve ter confundido Per-Ramsés, a
nova residência dos faraós da 19ª dinastia, com o nome das ruínas de Avaris
8
9
organizada pelas S.R.Digest
Pierre Lévêque, volume I- DOS IMPÉRIOS DO BRONZE
7. sobre as quais foi edificada. Este local tinha sido a capital dos Hicsos que os
hebreus recordariam bem.
Pitom (seleiro?10)
Ramsés
Per-atum > Pitom
Per-Ramsés < Avaris
Akhetaton foi abandonada por Tutank(aton)amon três anos depois da
morte do faraó herético. Tempos depois foi arrasada o que permitiu a sua
relativa conservação até aos tempos actuais em que foi descoberta pelos
arqueólogos como Amarna permitindo conhecer as condições requintadas de
qualidade de vida da época de Akhet-Aton. “Fora dos limites da cidade,
para leste, perto dos penhascos, encontra-se a aldeia dos operários da
necrópole.(…) Na realidade a aldeia estava rodeada de uma muralha, ao
que parece, muito vigiada”11
Os operários desta aldeia poderiam pertencer a uma antiga comunidade
de emigrantes judeus trazidos para o Egipto pelo filho de Jacob de nome
José (Cafenât-Paneah, apelido que, segundo a bíblia, lhe terá sido dado pelo
faraó que o casou com Asenat, filha de Pôti-Pera, sacerdote de On).12
Segundo Pierre Lévêque, na 13ª dinastia os arquivos do que poderia
chamar-se «Secretaria do Trabalho» referem que, «sob um tal Sebekhotep,
numerosíssimos asiáticos estavam adidos ao funcionalismo público do Alto
Egipto»
Entre Cafenat-Paneah e Sebek-Hotep poderia ser estabelecida alguma
semelhança fonética pois,
Cafenat > sabenat > Sabek
Peneah > Heanep > Hotep
Claro que para tal seria necessário pressupor alguns trambolhões no rigor
da tradição histórica dos autores bíblicos que se sabe ter dependido durante
muito tempo da memória inerente à tradição oral.
Ora, quando o velho sábio Ipu-Wer relata no papiro de Leida que no
Primeiro Período Intermédio da história do país dos faraós:
“qualquer asiático é pessoa ilustre
enquanto os Egípcios
se comportam como habiru (nómadas)”, o mais provável é que este
estado de coisas tenha sido bem pior para os egípcios no Segundo Período
Intermédio em que o poder passou para as mãos de reis pastores chamados
Hicsos também eles nómadas Habirus (>Gabirus). Neste tempo, Saratis, o
chefe destes «asiáticos», iniciou a XV dinastia transferindo a capital para
Avaris, no Delta, onde se deu a fusão de Ba el “o senhor pai”, deus dos
exércitos dos cananneus (e quiçá dos hebreus também), com o deus idêntico
dos Egípcios. Neste clima de poder religioso e militar de origem asiática no
Gr. Pithoi = grandes potes de barro > pitom = armazém (de potes de barro)
Hubrrrert de Navion em As Grandes Civilizações Desaparecidas.
12
Segundo Pierre Lévêque no Volume I na 13ª dinastia os arquivos do que poderia chamar-se
«Secretaria do Trabalho» “ referem que, «sob um tal Sebekhotep, numerosíssimos asiáticos estavam
adidos ao funcionalismo público do Alto Egipto»
10
11
8. Delta de faraós com nomes semitas como é Yakub-Hor (Jacob de Ur) o
episódio de José no Egipto torna-se verosímil tanto mais que existem
inscrições que referem que um dos «Tesoureiros» teve o nome semita de
«Hur», mais tarde frequente entre os judeus13 (que poderia ter sido o apelido
gentílico de José descendente, por Abraão, de Ur).
Assim sendo, cerca de 1650 AC os judeu terão entrado no Egipto onde
terão permanecido, segunda a bíblia, cerca de quatro séculos inicialmente
em vantagem até que, cerca de 1550 AC, Amósis expulsou do Delta a força
militar da XV dinastia semita dos Hiczos (Heqa khassut = chefe dos
estrangeiros). Alguns destes semitas, entre os quais os hebreus, terão
permanecido no Egipto mas apenas como servos, operários ou escravos pelo
menos até ao reinado de Amenóphis IV em 1350 a.C. O êxodo pode ter
acontecido no fim do reinado de Tutankhamon em 1327 a.C.
> 1650 - 1327 = 337 = cerca de 4 séculos referidos pela Bíblia! Para o
que é habito nos judeus quanto a erros de longevidades, neste caso nem é
muito!
figura 3: Escravos(operários?) sírios (semitas) num canteiro do templo de Amon
Convertidos ao culto de Aton e possivelmente 14
Que outro Faraó poderia ter familiaridades com subalternos e estrangeiro
senão Akineton, para conseguir seguidores para a nova fé?
A figura seguinte é referida por Carl Grimberg como relacionada com
dois grupos de adoradores de Aton. Ora, enquanto em posição superior se
encontram indubitavelmente nove egípcios, em posição inferior, ajoelhados
e ligeiramente curvados, encontra-se um grupo de cinco semitas com o perfil
que habitualmente corresponde ao dos judeus na iconografia egípcia. Se
existiu um grupo de judeus entre os adoradores de Aton, este e os fieis mais
fanáticos deste culto tiveram que fugir quando a cidade de El-Amarna foi
destruída. Para onde e liderados por quem? Pelo menos no inicio o grupo de
fugitivos foi liderados por Moisés.
13
ver o romance Ben-Hur
14
Genesis (41,45)
9. Ora bem, o facto de o papel dos judeus na história ser controverso por
força do seu estranho, orgulhoso e fanático monoteísta não invalida que tudo
possa ser posto em causa na tradição bíblica judaica. Por muito que de
mítico ande à volta da figura de Moisés não seria sensato decidir que só é
valida a tradição contemporânea quando escrita. É certo que a tradição
bíblica só terá começado a passar para letra de forma nos tempos áureos de
Salomão ou seja cerca do ano 1000 AC e portanto cerca de 300 anos depois
do êxodo15
que, na sua qualidade de general fiel ao herético Faraó, terá caído em
desgraça quando tentou vingar a morte dum judeu como ele adorador de
Aton! Depois e uma vez em terras bem conhecidas dos habirus (nómadas)
do grupo a sorte de Moisés pode ter sido a referida antes.
figura 4 : Grupos de adoradores de Atum
A verdade é que é possível a suspeita de que esta intolerância se tenha
agravando com o tempo constituindo-se o monoteísmo judeu numa espécie
de imagem de marca de racismo moral em torno do qual se reuniam os
derradeiros aristocrática judeus, resistentes e nacionalistas, liderados pelos
principais interessados no monoteísmo e que eram os que restavam da casta
levítica. De facto, o judaísmo do tempo de Cristo era já uma dádiva de Ciro
porque, das doze tribos do êxodo já só restava, neste campeonato pelo
triunfo do monoteísmo, parte da tribo de Judá. Como os livros sagrado da
Bíblia foram fixados precisamente nesta altura em que até já Ciro da Pérsia
era monoteísta é bem possível que os judeus se tenham sentido na obrigação
de o serem também ou, pelo menos, de uma forma renovada e nunca antes
tão fanática! Nunca saberemos ao certo qual o verdadeiro grau de pureza
monoteísta do judaísmo. Sabemos que a bíblia descreve uma luta constante
pelo monoteísmo sendo constantes os pecados de idolatria cometidos tanto
pelo povo como pela classe dirigente na sequencia dos quais o estado de
Israel acaba por ser severamente castigado com desgraças político-militares
apesar de tudo mais naturais e dentro do habitual para a época do que o
profetizado pelos zeladores da tradição. A bíblia é uma antologia de textos
15
.O Novo Testamento remontam ao sec. IV D. C.
10. de cultura sacerdotal pelo que parciais e tendenciosos porque o pecado mais
habitual dos detentores da verdade é o da mentira piedosa e o do fanatismo
moralmente edificante!
Uma das características dos textos sagrados do tipo da bíblia é o de os
sacerdotes que o escrevem pretenderem de tal modo manipular o passado
para esconderem as mentiras do diabo que acabam por deixar-lhe o rabo de
fora.
Uma destas passagens de rabo na boca é o estranho relato dos Números
Cap. 21 “8 «faz uma serpente ardente e coloca-a sobre um poste. Todo
aquele que for mordido, olhando para ela, viverá» Se não é idolatria nem
bruxaria não se sabe o que possa ser!
Outro facto estranho é o dos querubins na arca da aliança.
Querubins = Kur ibu (em hebreu). = touros alados com ou sem cabeça
humana ou, menos frequentemente, leões alados com cabeça humana e patas
de touro. Kur pode ser o nome encoberto do deus primitivo que procuramos
nas cinzas de Urano, K(a)ur(ano). Ibu será o mesmo que zebus (< zabus <
Ka ibus) , touros selvagens de origem indiana importados pelos egípcios do
novo império ou seja, na época do êxodo!16
Estes seres quiméricos, tal como a bíblia os fixou, a ladear as duas
extremidades da arca da aliança, são típicos da civilização assíria. Este facto
indicia que o texto bíblico seja de época próxima da dominação ressente às
mão pesadas dos assírios (sec. V a. C.) e levanta a possibilidade de os
querubins serem uma espécie de tradução aproximada da forma primitiva do
misterioso conteúdo da arca da aliança! Seriam estes querubins, no sentido
de touros alados, as imagens do deus Ápis e de qualquer outro dos vários
deuses alados (Maat ou Ra)? Seriam pura e simplesmente especímenes
preciosos, e por isso mesmo sagrados, de zebus transportados para
aculturação na terra prometida? Ou seriam apenas imagens esculpidas de
touros com bossa, zebus?
Para um povo que acabava de sair do Egipto o estranho episódio do
bezerro de ouro ressoa a algo fora do contexto por não corresponder a
nenhum ritual egípcio conhecido! No entanto, é um episódio de idolatria
demasiado flagrante (e tanto que se tornou em paradigma deste fenómeno na
literatura judia) para ser verdadeiro, sobretudo depois de se ter posto a
hipótese de os querubins que ornamentavam a arca da aliança serem de
facto bezerros (crias de zebus)!
Assim sendo, este episódio corresponde a uma história tão mal contada
no Êxodo (32, 26) que deve estar a encobrir algo de muito mais grave. Um
crime de idolatria que teve como exagerado castigo o «Cerca de três mil
homens morrerem nesse dia, entre o povo» às mãos dos levitas sem que a
cumplicidade de Aarão tenha sido sequer reconhecida apesar de duplamente
confessa é no mínimo estranho num clima de cólera e fanatismo
revolucionário! Ou a história está próxima dos factos e terá servido mais
16
Jean-Claude Goyon em les paysans du Nil et leurs produits, science &vie, hors série nº179/12/96
11. para que Moisés manifestasse a sua liderança contra o oportunismo de
Aarão ou em vez de exemplificar um crime de idolatria corresponde a uma
descrição distorcida duma disputa de liderança. «Colocando-se à entrada
do acampamento gritou “quem é pelo senhor junte-se a mim!” seguida de
um crime político, facto que, esse sim, pode explicar a mortandade referida.
No ponto de vista de Freud, no livro referido, foi Moisés que acabou por
ser assassinado facto que muito naturalmente levou a «todos os filhos de
Levi se unirem à volta dele», mas sem sucesso!
A verdade é que os chifres eram frequentemente um símbolo de divindade
no antigo oriente. Os altares eram ornados com cornos de touro e mesmo a
bíblia fala em “cornos ou hastes do altar”. O próprio Moisés é
representado com cornos de luz!
Como é muito provável que o touro fosse também o animal simbólico da
divindade medianita e vulcânica de Yhavé, mas não o de Adonai, o episódio
do bezerro de ouro pode ser apenas uma reminiscência das lutas teológicas
de Akeneton contra os cultos populares do Egipto, particularmente o
importantíssimo culto dos mortos a que Osíris presidia e de que o boi Ápis
era uma das incarnações nas cheias do Nilo! Mas, nem sequer esta hipótese
é segura porque Adonis aparecia na Grécia ligado a estes mistérios! A
ambiguidade entre o Adonai monoteísta de Akineton e o culto javaista do
Deus supremo, idêntico à corrente dos deuses taurinos das forças da
Natureza comum no oriente da época do bronze, irá permanecer
possivelmente até ao tempo de Jesus.
Assim, o que pode ter acontecido realmente nunca o saberemos mas, é
bem possível que nos montes do Sinai se tenha dado um compromisso
doutrinário entre o culto de Aton e as correntes emergentes dos cultos
Javaista e medianitas do Deus Pai na forma duma divindade que tinha por
animal totémico o zebu ou querobim, símbolo das forças vulcânicas e
tempestuosas da natureza! Este compromisso pode ter tido como preço o
assassino de Moisés e o trunfo do Yhavé medianita com Aarão como sumo
sacerdote mas, a longo prazo teve como resultado segundo Freud o
aparecimento dum sentimento de culpa nacional na forma dum pecado
original de idolatria o que lentamente levou à prevalência do puritanismo
fanático e monoteísta, típico do judaísmo!
Então, a uma evolução no nome assistiu-se entre os judeus a uma mutação
do conceito de Deus no sentido da sua universalização em direcção ao
conceito de Deus Pai. O Eloim, pai benévolo dos patriarcas deu lugar ao
mosaico Adonai, ciumento deus nacional do povo eleito que, com o evoluir
das vicissitudes e atribulações pouco felizes da história de Israel tenderia a
tornar-se num Deus pai da humanidade de nome Yhavé ou Jeová. Ora, por
coincidência ou não e tal como Freud o referiu também no mesmo estudo,
Yhavé é foneticamente aparentado com Zeus (< Jhaué > zau > zeu) e Jeová
ainda mais o é, com o nome latino de deus Pai Jovis, nome poético de
Júpiter. Ou seja, antes de se tornar no pai dos homens Deus começou por
12. ser o pai dos deuses e na imagem genérica e simbólica de todos os pais
ideais e por isso de Pai de Toda a Humanidade e arquétipo do Patriarcado.