Ebook Minerphos - Como minimizar prejuízos referentes a acidose e micotoxinas...
Material Lallemand
1. Lucas Mari
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Edson Poppi1
Introdução
Com a chegada do inverno que veio acompanhado de estiagem desde os
meses finais do outono, alguns produtores sofreram com a perda de valor nutritivo
de parte da safra e da safrinha. Além disso, nos estados do Sul do país, algumas
regiões sofreram com geada nos campos semeados para a colheita do milho
“safrinha” ou de outras culturas.
O objetivo deste texto é comentar sobre as situações evidenciadas, alertar
sobre as possibilidades e apresentar soluções para esses casos, acerca do controle
do processo fermentativo.
Características dessa forragem
SPECIFIC
FORYOUR
SUCCESS
Duas situações práticas deste inverno
em lavouras de milho a serem ensiladas
Normalmente o aspecto visual leva-nos a achar que as plantas estão secas.
Muitas vezes, o teor de MS dessas plantas pode ser ainda abaixo daquele
preconizado para uma boa fermentação, podendo haver quantidade significativa de
água no colmo das plantas. Deve-se ainda considerar o aspecto visual das folhas e
da espiga que em muitas casos nos fazem crer que a forragem está passada. Para
não incorrer em erros, o primeiro procedimento que deve ser feito é a amostragem
de algumas plantas para monitoramento do teor de MS. Esse monitoramento deve
ser feito com o Koster, estufa de ventilação forçada ou mesmo pelo método do forno
micro-ondas (método está descrito em www.ensilagem.com.br/micro-ondas/).
As plantas de milho que passaram pela seca apresentam algumas
características específicas (abaixo) e podem ser acompanhados na Tabela 1, que
devem ser consideradas quando forem ensiladas:
● Baixo conteúdo de amido: a falta de chuva dificulta o enchimento dos grãos e
a translocação de nutrientes para a espiga (também evidenciado na Foto 1);
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2. ● Altos níveis de açúcares: relacionado ao tópico acima (baixo conteúdo de
amido), as plantas de milho que tenham passado por seca têm os
carboidratos solúveis (açúcares) que não foram convertidos em amido,
fazendo com que a concentração esteja na planta na forma de açúcares;
● Produção de MV reduzida: baixo crescimento vegetal como é evidente em
áreas que sofrem com período de escassez de água durante o
desenvolvimento vegetal (Foto 2). A redução na altura, associada ao menor
acúmulo de amido têm impacto negativo nos dois principais fatores de uma
boa silagem de milho: produção de MS e densidade energética;
● Maior digestibilidade do FDN: como faltou água, não houve estímulo de
formação de tecido de sustentação vegetal. Sabe-se que a inturgescência
das células vegetais (acúmulo de água) é uma das responsáveis pela
formação e deposição de porções menos digestíveis das plantas, tal como a
lignina. Sendo assim, a fibra torna-se mais digestível (maiores valores de
FDN-D);
● Alto conteúdo de nitrato: esta questão está relacionada ao metabolismo de
nitrogênio na planta. Alto nitrato nas plantas é crítico, sobretudo, para
algumas categorias de animais (gado de leite e animais de cria). O nitrato
acumulado pode levar à intoxicação por nitrito nos animais. Mais abaixo isso
será comentado em mais detalhes.
A Tabela 1 mostra valores de amostras (n = 1.386) avaliadas em um
laboratório nos EUA, comparando algumas que passaram por seca e outras que
tiveram as situações climáticas normais.
Tabela 1 – Comparativo de amostras analisadas nos EUA considerando materiais
que sofreram déficit hídrico (seca) e materiais normais.
Amostras
MS
(%)
PB
(% MS)
FDN
(% MS)
FDA
(% MS)
FDN-D
(%)
Cinzas
(% MS)
Amido
(% MS)
Carboidratos
solúveis
(% MS)
Déficit
hídrico
25,2 10,1 53,7 31,1 59,0 6,3 10,5 7,0
Planta
normal
35,1 8,8 45,0 28,1 55,0 4,3 32,0 1,0
Nota: FDN-D – Digestibilidade do FDN.
Fonte: Dairyland Labs – 1.386 amostras de silagem de milho que foram ensiladas entre 01/Julho a
07/Agosto de 2012, nos EUA em regiões de déficit hídrico e planta normal.
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3. Cuidados com as plantas nas situações de seca e geada
Como comentado, uma das características dessas plantas é parecerem mais
secas do que realmente estão, portanto há risco de colheita mais precoce do que
deveria, o que leva a fermentação butírica. Se o teor de MS estiver baixo e mesmo
assim já for preciso a colheita nesse momento, a inoculação com bactérias
homofermentativas é recomendada.
Foto 1 – Característica dos grãos de milho de plantas que sofreram estresse hídrico
no estado de Goiás. Cortesia: Jorge Jawabri.
Existem formulações desenhadas para isso com associação destas bactérias
que atuam de maneira a manter boa fermentação. Um bom exemplo é a associação
de Pediococcus acidilactici e Lactobacillus plantarum. O primeiro atua mais
precocemente (em pH mais alto e com maior pressão osmótica), o último é mais
lento para atuar inicialmente, todavia mais efetivo no longo prazo. Se fizermos uma
analogia seria: o Pediococcus acidilactici é um corredor de 100 m rasos (tal como o
fenômeno jamaicano Usain Bolt) com saída rápida, mas que não consegue correr
com grande velocidade por longo tempo; o Lactobacillus plantarum se compararia a
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4. um maratonista (talvez o mais famoso deles o tcheco Emil Zatopek ou o nosso
brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima), com início da corrida cadenciada, mas com
fôlego suficiente para completar uma longa prova.
Foto 2 – Lavoura de milho no estado de Goiás demonstrando a baixa produção de
MS devido a seca que a plantação passou nos meses de março e abril de
2016. Cortesia: Jorge Jawabri.
Em plantas com teores de MS mais altos (acima de 33% de MS) a história é
outra, pois elas têm características distintas e deve ser considerado o uso de
Lactobacillus buchneri, ou seja, alto teor de carboidratos solúveis (açúcares) e alto
teor de MS. Isso pode ser um risco considerável de menor estabilidade após a
abertura, o que se traduz, usualmente, em aquecimento da massa que ocorre
devido ao ingresso de oxigênio. Isso acontece porque os açúcares solúveis são
usados como substrato por fungos e leveduras que levam à deterioração aeróbica.
Graças à capacidade de produzir ácido acético o L. buchneri tem reconhecida ação
de controlar fungos e leveduras ao produzir esse ácido.
As plantas que passaram por seca acumulam nitrato durante o metabolismo
de nitrogênio, principalmente nas porções mais baixas da planta, como
demonstrado na Figura 1, em resultados de pesquisa da Universidade de
Wisconsin.
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5. Figura 1 - Níveis de nitrato em plantas de milho que cresceram com falta d’água.
Fonte: Universidade de Wisconsin.
O nitrato é absorvido, reduzido à amônia e excretado como ureia na urina ou
convertido em proteína microbiana no rúmen, mas até aí não haveria problema.
Entretanto, como intermediário nesse metabolismo ocorre a produção de nitrito e
este composto é tóxico para os animais. Muito embora esse problema seja
conhecido como “intoxicação por nitrato”, o produto que é tóxico aos animais é o
nitrito, portanto, o nome correto deveria ser ”intoxicação por nitrito”. Ele se liga à
hemoglobina e forma a meta-hemoglobina. Enquanto a hemoglobina é responsável
por carrear oxigênio dos pulmões para os outros tecidos, a meta-hemoglobina não
consegue fazê-lo. Os sinais clínicos dos animais intoxicados com nitrito são:
mucosas de coloração azulada (cianótica), baixa temperatura corporal,
descoordenação motora, fraqueza, devem afetar o comportamento normal com
consumo prejudicado, e em casos mais graves levam o animal à morte.
Alguns autores afirmam que o acúmulo de nitrato pelas plantas é dependente
dos seguintes fatores:
● Espécie vegetal;
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6. ● Estádio de maturidade;
● Parte da planta;
● Nível de fertilizante;
● Incidência de chuva;
● Horário do dia ;
● Local de plantio.
Uma maneira de se evitar a concentração mais alta de nitrato é realizar o
corte da forragem mais alta, já que esse metabólito tende a se acumular nas
porções basais das plantas. Contudo, em tempo de falta de forragem, o corte mais
alto, muitas vezes, deve ser desconsiderado já que o produtor precisa de massa.
Outra opção é esperar passar 3 ou 5 dias após uma chuva para fazer a
colheita de plantas de menor desenvolvimento que tenham passado por seca, pois
logo após a chuva as plantas aumentam o metabolismo de nitrogênio e o nitrato
tende a se acumular nas plantas.
A boa notícia é que a ensilagem é capaz de diminuir consideravelmente o
nível de nitrato durante o processo fermentativo, podendo alcançar até 60% de
diminuição do teor de nitrato original na planta fresca, segundo alguns autores.
O efeito dos “gases dos silos”
Ainda que isso não esteja somente associado às plantas que passaram por
seca severa, a formação de gases tóxicos pode ocorrer em qualquer forragem e
serve de alerta.
Durante a fermentação, outro composto derivado do nitrogênio pode ser
produzido, trata-se do óxido nítrico (NO2). É um gás que tinge a forragem de uma
cor vermelho-alaranjada. Na Foto 3 o gás escapou de um silo bolsa e tingiu o solo.
Deve ter muito cuidado ao abrir esse tipo de silo, pois esse gás pode se acumular e,
durante abertura pode-se inalá-lo. Ele se acumula nas porções mais baixas do silo,
por ser mais pesado que o ar. Além dos silos bolsa, também é crítico em silos tipo
fosso ou cisterna, embora esse tipo de estrutura não seja mais usado no Brasil.
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7. Foto 3 – Gás do silo, possivelmente óxido nítrico, que tingiu o solo na abertura de
um silo bolsa. Cortesia: Renato Schmidt.
Como alerta aos trabalhadores responsáveis pela alimentação dos animais
deve-se ter muito cuidado, de preferência deixar que haja boa circulação de ar logo
após a abertura. Se possível, ao abrir um silo, ir acompanhado de um colega de
trabalho para o caso de necessidade e NUNCA cheirar uma silagem, de quem quer
que seja! Além do risco de inalação desses gases, há o risco microbiológico, pois
nunca sabemos qual o microrganismo que atuou naquela fermentação, podendo ser
um patógeno.
Silagem de forragens que sofreram com geada
Muito semelhante à seca, a geada compromete as plantas em momentos em
que, geralmente, ainda não estão prontas para colheita, como demonstra a Foto 4.
Nota-se que as folhas estão secas, mas as espigas ainda estão verdes, porém
como citado acima, plantas que passaram pela seca ainda podem ter água no
colmo, o que poderia levar a uma fermentação inadequada.
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8. Foto 4 – Lavoura que passou por geada no estado de SC.
A maior parte das recomendações é que essas lavouras devem ser colhidas
até alguns dias (entre 5 e 7 dias) após a geada e garantir a boa fermentação. Se for
necessário, deve-se utilizar inoculantes que podem ajudar a controlar fungos e
leveduras (L. buchneri ou Propionibacterium acidipropionici).
Recomendações gerais
1. Monitore o teor de MS de lavouras atingidas por seca ou geada se o objetivo
for ensilá-las;
2. Mantenha as áreas que sofreram seca pelo tempo mais longo possível no
campo, pois os níveis de nitrato devem diminuir com o avanço da maturidade;
3. O corte mais alto tende a levar para o silo um material de menor teor de
nitrato;
4. Espere entre 3 e 5 dias após a chuva para colher o material;
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9. 5. Use bactérias homofermentativas (Pediococcus acidilactici e Lactobacillus
plantarum, por exemplo) para inocular a forragem se estiver abaixo de 33%
de MS;
6. Use L. buchneri se o teor de MS estiver acima de 33% de MS para ajudar
também após a abertura;
7. Por maior que seja o dano climático (seca ou geada) os animais podem ter
desempenho zootécnico adequado. Somente um técnico tem a capacidade
de ajustar a formulação e determinar o correto uso do inoculante na sua
ensilagem e o balanceamento da dieta de seus animais.
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