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Cadernos Fórum Nacional 10


  ESTRATÉGIA DE IMPLANTAÇÃO

 DO CARRO ELÉTRICO NO BRASIL

                   Coordenador
         João Paulo dos Reis Velloso
                  Colaboradores
  Sergio Rezende, Ronaldo Mota e Adriano Duarte
Luciano Galvão Coutinho, Bernardo Hauch Ribeiro de
            Castro e Tiago Toledo Ferreira
    José Antonio Muniz Lopes ● Nelson Barbosa
       Dyogo Oliveira e Jose Antonio P. Souza
Jackson Schneider ● Pietro Erber ● Denise Menchen
           Fabiano Mezadre Pompermayer
  Carlos Ghosn ● Shai Agassi ● Roberto M. Torresi
  Nerilso Bocchi, Romeu C. Rocha-Filho e Sonia R.
             Biaggio ● Ana Maria Rocco




    Instituto Nacional de Altos Estudos, INAE
               Rio de Janeiro, 2010
Copyright © INAE, 2010
Sumário

            Introdução: estratégia de implantação
                  do carro elétrico no Brasil
                João Paulo dos Reis Velloso

             Os veículos elétricos e as ações do
              Ministério da Ciência e Tecnologia
      Sergio Rezende, Ronaldo Mota e Adriano Duarte

        Veículo elétrico, políticas públicas e o BNDES:
                   oportunidades e desafios
Luciano Galvão Coutinho, Bernardo Hauch Ribeiro de Castro
                   e Tiago Toledo Ferreira

       Mobilidade elétrica no Brasil, uma opção de futuro
                 José Antonio Muniz Lopes

     Carro elétrico: desafio e oportunidade para o Brasil
 Nelson Barbosa, Dyogo Oliveira e Jose Antonio P. Souza

             As duas estruturas de incentivo
 Nelson Barbosa, Dyogo Oliveira e Jose Antonio P. Souza

            Carro elétrico: em busca da viabilidade
                     Jackson Schneider

               Automóveis elétricos a bateria:
           uma política para sua utilização no Brasil
                         Pietro Erber

                       Carta de Campinas
    Documento final do 6º. Seminário de Veículos Elétricos,
organizado pela Associação Brasileira do Veículo Elétrico, ABVE
      e o Instituto Nacional de Eficiência Energética, INEE

          Governo culpa carro e moto por poluição
  Denise Menchen (reportagem na “Folha de São Paulo”)
1º. Inventário nacional de emissões atmosféricas
                  por veículos automotores rodoviários
                    (excerto do Sumário Executivo)
                     Ministério do Meio Ambiente

          Etanol: veículos elétricos: via de mão única dupla?
              Fabiano Mezadre Pompermayer (Ipea)

                O carro elétrico é presente, não futuro
       Entrevista de “Época” com Carlos Ghosn, presidente
                    mundial da Renault-Nissan

    Ferrari verde e Citröen elétrico na onda ecológica de Genebra
                     Reportagem de “O Globo”

    Renault-Nissan e Prefeitura fazem acordo para uso de elétricos
                            em São Paulo
                   Divulgação da “UOL Carros”

    Switched-on highways: electric cars are cheaper and faster than
                       any hybrid on the market
                            Shai Agassi
      (entrevista a Fareed Zakaria, Tim Wagner–Zuma Press)

         Projeto de carro elétrico à base de baterias de íon-lítio
                          Roberto M. Torresi

     Veículos elétricos: perspectivas de uso de baterias de íon-lítio
     Nerilso Bocchi, Romeu C. Rocha-Filho e Sonia R. Biaggio


       Carros elétricos e as baterias de íon-lítio: estado atual de
            desenvolvimento e perspectivas tecnológicas
                           Ana Maria Rocco




                                                                        6 
 
Introdução: Estratégia de Implantação do
             Carro Elétrico no Brasil
                                                  João Paulo dos Reis Velloso*


        É chegado o momento de o Brasil acordar para o fato
de que está atrasado na corrida para o Carro Elétrico, quando
deveria estar na vanguarda – como fez em relação ao Carro a
Etanol.


         ALTA PRIORIDADE DA IMPLANTAÇÃO DO CARRO
                     ELÉTRICO NO PAÍS
        Em primeiro lugar, consideremos o que mostra estudo
recente do Ministério do Meio Ambiente: o carro e a motocicleta
são os grandes responsáveis pela poluição nas cidades
brasileiras. “A frota de carros e motocicletas emite 40 vezes
mais CO (Monóxido de Carbono) do que a frota de ônibus
urbano”.
       Tomando os números: “Em 2009, as emissões de CO
por parte de carros e motos corresponderam a 83% do total
desse gás... Os ônibus responderam por 2%”. “E o número de
usuários foi equivalente.”
        Segundo, em termos de eficiência energética, o Carro
Elétrico está à frente, “no tráfego urbano, em especial quando
em baixas velocidades e constantes acelerações e frenagens”.
       Ao lado disso, os Carros Elétricos são também
vantajosos em termos de poluição sonora, pois os motores

                                                            
              *
          Coordenador-geral do Fórum Nacional, Presidente do
Ibmec-Mercado de Capitais e professor da EPGE (FGV). Ex-ministro
do Planejamento.
elétricos são silenciosos, diferentemente dos motores a
combustão.
      Vantagem financeira: “O custo do quilômetro rodado é
mais baixo e o custo de manutenção igualmente”.
       Em terceiro lugar, devido a esse conjunto de razões,
existe um Ciclo de Transformação na Indústria Automobilística
Mundial, impulsionado pelo Carro Elétrico. Se, nesse cenário
de “Inovação Radical”, o Brasil ficar de fora, poderá ter grandes
perdas, em termos de produção e exportações de carros,
assim como de autopeças (setor importante para o País).
        Note-se que o mercado mundial se volta para o Carro
Elétrico tendo uma Matriz de Energia desfavorável. Já a Matriz
do Brasil é favorável, principalmente considerando o nosso
enorme potencial hidroelétrico.
        Importante assinalar: o que se visualiza é um cenário
em que, num certo período, as três Tecnologias coexistam.
Mas há uma tendência a um grande impulso na área do Carro
Elétrico.
       Que se estabeleça, digamos, a meta de ter algo como
10% de produção (não de estoque) de Carro Elétrico em cerca
de cinco anos. É como se a montadora passasse a ter mais um
modelo de automóvel.
       Para isso, necessidade de uma “ESTRATÉGIA DE
IMPLANTAÇÃO DE CARRO ELÉTRICO NO BRASIL”, fazendo
o sistema de incentivos convergir para o engajamento das
montadoras e o interesse de compradores.


    LINHAS MESTRAS DA ESTRATÉGIA E PAPEL DAS
              DIFERENTES ENTIDADES



                                                               8 
 
A primeira linha mestra deve referir-se aos Incentivos
Fiscais. E, nisso, o papel do Ministério da Fazenda é crucial: de
um lado, definir a alíquota de IPI específica para veículos
elétricos e seus componentes. O caso do Imposto de
Importação é, também, relevante, assim como o PIS-COFINS.
        A segunda linha mestra refere-se aos incentivos ao
Desenvolvimento Tecnológico, dentro da orientação de
Creative Catching-Up, no caso das empresas estrangeiras. Ou
seja, Importação de Tecnologia, com criatividade.
      Isso permitirá tornar o Brasil plataforma de
desenvolvimento de produtos para a América Latina, África e,
em geral, países emergentes.
        Nessa área, deve-se destacar o papel do Ministério da
Ciência e Tecnologia (MCT), com seus dois principais órgãos:
FINEP e CNPq. Os instrumentos, claro, deverão ser o
SIBRATEC (Sistema Brasileiro de Tecnologia), com ênfase,
agora, na Inovação aplicada ao Carro Elétrico e a seus
componentes; e a Subvenção Econômica, com o mesmo
objetivo.
       O BNDES, como “principal provedor de crédito de longo
prazo” e agente relevante do Mercado de Capitais, tem papel
essencial   a    desempenhar     na    ESTRATÉGIA         DE
IMPLANTAÇÃO DO CARRO ELÉTRICO.
        Além disso, a abrangência do tema requer a adoção de
políticas transversais, com o envolvimento de diversos agentes
na construção deste projeto. Nesse sentido, cabe ao BNDES
ser um dos principais articuladores de um projeto estruturante,
que viabilize a produção de veículos elétricos no Brasil.
        Papéis essenciais devem, também, desempenhar a
ELETROBRAS, a PETROBRAS (estrutura de recarga) e as
Distribuidoras de Energia. É a “Opção de Futuro” a que se
                                                               9 
 
refere o Presidente da ELETROBRAS, em seu artigo, neste
livro.
       Nesse     campo      (estímulo  ao   Desenvolvimento
Tecnológico), cabe referência à comparação entre duas
estruturas propostas para o incentivo ao Carro Elétrico: o
SIBRATEC (e outros mecanismos), na área do MCT, e o
Centro de Inovação em Veículos Elétricos, proposto pela área
da Secretaria de Política Econômica do MF.
       A conclusão é: “As duas propostas não são conflitantes
nem superpostas, são complementares. Vejamos. Esse Centro,
se criado, será um cliente para os programas de formação de
pessoal, um membro das Redes Tecnológicas, e um parceiro
das Empresas nos projetos contemplados no programa de
Subvenção Econômica”.
       A terceira linha mestra implica “dar continuidade ao
processo de restrição de emissões, gerando, assim, incentivo
para novos padrões tecnológicos. Em particular, faz-se
necessária uma nova geração de padrões que leve em
consideração não apenas a emissão durante o uso do veículo,
mas também ao logo de toda a cadeia produtiva do
combustível e do veículo”.


                  DESAFIOS A SUPERAR
       O grande desafio tecnológico a superar é a bateria, que
hoje – e durante bastante tempo – é à base de íons de lítio. A
bateria determina a autonomia do veículo, o preço e o tempo
de recarga.
      A questão é saber se esses problemas se resolvem
com a produção em larga escala. E se é possível, em prazo
razoável, ter maior disponibilidade de lítio, hoje um material
escasso.
                                                           10 
 
Ainda um problema: hoje não se produzem baterias de
íon de lítio no Brasil, cuja fabricação é dominada por empresas
asiáticas. E desvincular o início de produção do Carro Elétrico
da fabricação de baterias adequadas no País não parece
indicado.
       Daí a necessidade de esforço especial no sentido de
contornar a dificuldade de reduzir o hiato ao menor prazo
possível.
       Dois outros elementos críticos são o Sistema de
Controle Eletrônico e os Motores Elétricos. Entretanto, nesses
casos, o problema parece ser de fácil superação.
        Destacar, igualmente, o desafio da construção da
Infraestrutura de Recarga (a geração de Energia não parece
constituir obstáculo).
       Estamos falando, essencialmente, de um sistema de
Eletropostos, o que pode acontecer até conjugado ao já
existente sistema de postos de gasolina (a PETROBRAS já
tem Eletropostos).
       É importante também que o país promova “a adequação
do seu planejamento energético à previsão do uso crescente
de veículos elétricos para os próximos dez anos”. Tal
adequação significa não apenas o aumento da geração de
Energia Elétrica (essencialmente, Hidroelétrica), mas também
“pesquisas sobre administração de redes e fornecimento de
fontes de carregamento em voltagem adequada às
necessidades do sistema de transporte.”


   CONCLUSÕES: DOIS TIPOS DE COMPLEMENTAÇÃO
       O primeiro tipo de complementação é com o sistema
econômico relativo ao Carro de Etanol. Isso poderia ser feito
através do uso do etanol no transporte de cargas (caminhões)
                                                          11 
 
e nos ônibus. E até mesmo em automóveis de grande porte
(grandes sedans, vans). Tudo isso, possivelmente, em veículos
híbridos.
       A outra complementação é com o transporte público,
que deve ser realizado, essencialmente, através de metrô, trem
e VLT (veículo leve sobre trilho). Com isso se evitariam
declarações como a do (então) Ministro Minc: o resultado do
estudo sobre emissões em transporte (já mencionado) “revela
a falência do modelo de transporte público no Brasil”.
       O Brasil está diante de uma nova e importante
oportunidade, que justifica a nossa mobilização para
desenvolvê-la.
       Nas palavras do Presidente da ANFAVEA: “...O fato é
que o Brasil, por suas autoridades governamentais, entidades
de ensino e pesquisa, Indústria Automotiva, deve acompanhar
a tendência mundial em torno desses veículos (elétricos)...”
       E mais: no Brasil, governo, ciência e iniciativa privada
haverão de construir soluções para o Veículo Elétrico brasileiro,
com o mesmo empenho que demonstramos no Pro-álcool e no
veículo flex, como também no recém iniciado programa do
BIODIESEL.




                                                              12 
 
OS VEÍCULOS ELÉTRICOS E AS AÇÕES DO
    MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA
   Sergio Rezende*, Ronaldo Mota** e Adriano Duarte***

INTRODUÇÃO
        O     expressivo   desenvolvimento     da      indústria
automobilística no século passado veio acompanhado de
preocupações crescentes com a poluição gerada pelos
veículos que utilizam motores a combustão. Ao longo das
últimas décadas, liderados pelos países desenvolvidos, foram
estabelecidos limites cada vez mais restritivos para as
emissões veiculares como um todo, levando à necessidade de
importantes desenvolvimentos tecnológicos nos motores e
veículos. Já nos últimos anos, com a ocorrência das
preocupações com o aquecimento global causado pelas
emissões de gases efeito estufa, a demanda por redução das
emissões veiculares aumentou, estimulando ainda mais a
investigação de tecnologias inovadoras para a propulsão
veicular.
        Em termos globais, os biocombustíveis, área onde o
Brasil é pioneiro com a utilização do etanol em larga escala,
apresentaram-se como uma resposta parcial ao problema. Os
programas de desenvolvimento da tecnologia do hidrogênio e
célula a combustível para geração de energia e propulsão de
veículos são exemplos.
        Recentemente os veículos ecológicos têm ocupado
posições de destaque nos salões do automóvel de Nova York,
Genebra e Detroit, incluindo modelos acionados apenas por
baterias, híbridos que combinam gasolina, diesel e eletricidade,
veículos “flex”, que utilizam biocombustíveis e carros
                                                            
              *
                   Ministro da Ciência e Tecnologia, MCT.
              **
                   Secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do
MCT
              ***
                    Coordenador geral de Tecnologias Setoriais do MCT
convencionais pequenos mais econômicos. Na feira de Xangai,
este ano, serão demonstrados cerca de 100 veículos a
hidrogênio e o maior posto de abastecimento desse
combustível1 do mundo. Grande atenção vem sendo
despertada pelos veículos elétricos, entendidos como os que
possuem pelo menos um motor elétrico envolvido com a sua
tração.
        Os veículos elétricos têm como vantagens a eficiência
do motor elétrico e as emissões de poluentes e gases de efeito
estufa desprezíveis no local de uso. Sua adoção em larga
escala contribuiria, por exemplo, para a redução das emissões
nas grandes metrópoles2. Eles também têm operação
silenciosa, alto torque em velocidade baixa, tecnologia bem
conhecida e mais simples e eficiente que a do motor a
explosão. As desvantagens estão relacionadas ao custo
desses veículos, da ordem de duas vezes o dos veículos atuais
equivalentes e às baterias que armazenam a energia para a
sua tração, envolvendo o seu peso, volume e custo, o tempo
de recarga e o tempo de vida (New York Times, 2009). Isso
sem falar nas questões ambientais – a maioria das baterias
contém ácidos e metais-pesados o que torna imperativo o
desenvolvimento das tecnologias para a indústria da
reciclagem.

O CARRO ELÉTRICO E O CONTEXTO GEOPOLÍTICO DOS
COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS
       O setor de transporte é responsável pela alta demanda
de combustíveis líquidos no mundo em sua maioria derivados
de petróleo. Segundo o “World Energy Outlook 2009”, estudo
publicado pela Agencia Internacional de Energia - AIE, que
aborda as perspectivas energéticas mundiais até 2030, a
demanda por mobilidade e serviços relacionados à eletricidade
                                                            
              1
          Na realidade o hidrogênio pode ser mais apropriadamente
entendido como uma fonte energética.
        2
          Entretanto ainda não estão disponíveis avaliações do ciclo
de vida para identificação de suas reais emissões.
                                                                 14 
 
vai continuar a crescer de forma ampla em linha com o PIB dos
países, mas espera-se uma taxa de crescimento menor que no
passado, devido às políticas e subsídios aos ganhos em
eficiência energética.
        O estudo apresenta dois cenários para 2030: o Cenário
de Referência, que representa a evolução do quadro
energético mundial seguindo as práticas atuais, no qual a
concentração de gases de efeito estufa alcançaria mais de
1000 ppm de CO2 equivalente; e o Cenário 450, que estima
como esse quadro deveria evoluir para que a concentração de
CO2 fique limitada a 450 ppm.
        No Cenário de Referência a demanda de energia
primária aumentaria à taxa de 1,5% ao ano, de 2007 a 2030,
envolvendo investimentos de US$ 26 trilhões nesse período. Já
no Cenário 450 a taxa média de crescimento da demanda seria
reduzida para 0,8% ao ano, sendo que os investimentos
necessários alcançariam US$ 36,5 trilhões, até 2030, sendo
que 45% desse total seriam destinados à modificação dos
sistemas de transportes, inclusive a modificação das frotas de
veículos, com a difusão do emprego de veículos acionados
eletricamente.
        O cenário 450 representa um formidável desafio para a
humanidade, pois implica na implantação de políticas rígidas
em nível global, principalmente considerando-se que cerca de
90% do crescimento da demanda mundial de energia até 2030
virão dos países não pertencentes à OECD3, justamente os
menos desenvolvidos e mais necessitados de levar energia (a
baixo custo) para proporcionar o bem estar e desenvolvimento
social e econômico às suas populações.

                                                            
              3
           “Organization for Economic Cooperation and Development”
(OECD). Membros: Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, República
Tcheca, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria,
Islândia, Irlanda, Itália, Japão, Coréia, Luxemburgo, México, Holanda,
Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal, República Eslovaca, Espanha,
Suécia, Suíça, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos.
                                                                   15 
 
As projeções da AIE indicam, para o Cenário de
Referência, que em 2030, o setor de transportes será o maior
consumidor de energia, ultrapassando inclusive o setor
industrial (Fig. 1), sendo previsto um incremento do uso global
de energia para o setor de transportes de 1,4% ao ano até
2030. Observa-se ainda que o setor de transportes é movido
majoritariamente por derivados de petróleo, sendo previsto que
em 2030 haverá pequeno incremento relativo no uso da
biomassa (biocombustíveis) e eletricidade, sendo que para o
Cenário 450 haveria redução de 18% no consumo de derivados
de petróleo e aumento de mais de 100% da utilização de
combustíveis renováveis e eletricidade.




       Fig. 1 – Consumo final de energia por fonte e setor
                    no cenário de referência
                 Fonte: World Energy Outlook 2009

        Entre as formas finais de energia o consumo de energia
elétrica continuará a crescer rapidamente no período como
resultado do incremento de demanda por eletrodomésticos,
equipamentos industriais e comerciais elétricos em linha com o
aumento de prosperidade dos países.
        No Cenário de Referência, o uso mundial de energia
elétrica crescerá, em media, a uma taxa de 2,5% por ano e a
sua parcela no consumo final de energia crescerá de 17% em
2007 para 22% em 2030. A geração de energia elétrica deverá
crescer de 24.350 TWh em 2007 para 34.290 TWh em 2030,
                                                            16 
 
sendo produzida principalmente através de combustíveis
fósseis: carvão e gás natural.
        A parcela da energia gerada através de fontes de
energias renováveis (excetuando-se hidroelétrica de grande
porte) - biomassa, eólica, solar, geotérmica, ondas e mares,
continuará a crescer em sua participação no mercado,
passando de 2,5% em 2007 para 9% em 2030. A geração
hidroelétrica deverá sofrer pequena redução na sua
participação em termos globais. A geração térmica a carvão
dobrará nesse período, com o carvão permanecendo como o
principal combustível para geração de energia elétrica, seguido
pelo gás natural.
        Cabe comentar que nesse cenário é previsto que a
eficiência energética da geração térmica a carvão está
projetada para crescer de 35% em 2007 para 40% em 2030, a
medida que novas plantas de geração forem construídas
utilizando tecnologias mais avançadas (Fig. 2).




   Fig. 2 – Geração global de energia elétrica por combustível no 
                       Cenário de Referência 
                    Fonte: World Energy Outlook 2009 

       Do cenário prospectivo mundial, conclui-se que o setor
de transporte pode se constituir em um claro exemplo da
                                                           17 
 
complementaridade entre as políticas de mudanças climáticas
e de segurança do abastecimento energético. O aumento de
eficiência e da diversificação das fontes energéticas atende os
abrangentes desafios de simultaneamente cortar as emissões
de CO2 do setor de transporte e reduzir as importações de
petróleo, melhorando portanto a segurança energética.
        Nesse aspecto o Brasil com seu programa de etanol, o
Proálcool, iniciado há mais de 30 anos, é pioneiro e líder na
utilização dos biocombustíveis em sua frota automotiva, sendo
que hoje cerca de metade do combustível utilizado nos
veículos de passeio é renovável, situação extremamente
confortável tanto pela redução de emissões quanto por estar
contribuindo de forma efetiva para a segurança energética do
país. Com relação geração de energia elétrica a situação do
Brasil também é bem mais confortável que a projeção global
apresentada pelo estudo da AIE.
        Como comparação, o gráfico a seguir (Fig. 3) apresenta
a estrutura de oferta de eletricidade no Brasil, em 2008. Pode-
se observar que o Brasil apresenta uma matriz de geração
elétrica de origem predominantemente renovável, sendo que a
geração interna hidráulica responde por montante superior a
70% da oferta. Somando-se às importações, que
essencialmente também são de origem renovável, pode-se
afirmar que aproximadamente 80% da eletricidade no Brasil é
originada de fontes renováveis – sem considerar que parte da
geração térmica é proveniente de biomassa. Na média
mundial, fontes renováveis correspondem a apenas 15,6% da
geração de eletricidade (BEN 2009).
        Portanto observa-se uma grande diferença entre as
motivações que encaminham à discussão da introdução do
carro elétrico no mercado mundial e no Brasil. Mesmo
considerando as vantagens de maior eficiência energética e
menores emissões, na agenda mundial essa tecnologia tem
como apelo importante a redução da dependência em relação
ao petróleo importado e a maior autonomia energética. Já no
caso brasileiro, a situação é mais confortável, quer pela auto-

                                                            18 
 
suficiência em petróleo quer pela disponibilidade do etanol e
biodiesel.




    Fig. 3 – Energia elétrica – Estrutura da oferta interna segundo a 
                        fonte primária de geração 
                  Fonte: Balanço Energético Nacional – 2009 

       Sobre esse aspecto o “World Energy Outlook 2009”
comenta que, para o Cenário 450, a redução da utilização de
derivados de petróleo no setor de transporte e a penetração
dos veículos elétricos no mercado variam de acordo com as
circunstancias regionais, citando como exemplo o Brasil, onde
a frota utilizando biocombustíveis já atende, a um custo
competitivo, as metas que as outras economias deverão
atender em 2030. Por outro lado regiões que têm limitada
condição de crescimento sustentável e barato de biomassa,
tendem a favorecer a introdução de veículos elétricos híbridos
e elétricos ao invés de biocombustíveis. Adicionalmente
regiões urbanas densamente populosas incluindo aquelas nos
EUA, China e União Européia podem favorecer a introdução de
carros elétricos para reduzir a poluição local (World Energy
Outlook 2009, pag. 244).
       Cabe destacar, no entanto, que a introdução de uma
nova tecnologia no mercado automobilístico pode se

                                                                     19 
 
apresentar como uma oportunidade interessante para a
indústria brasileira.

OS ESFORÇOS PARA A            INTRODUÇÃO      DOS   VEÍCULOS
ELÉTRICOS NO MERCADO
        Com a crescente conscientização da possibilidade de
efeitos climáticos adversos devido às emissões de gases de
efeito estufa, em especial pela queima de combustíveis fósseis,
vários países vem adotando políticas de restrição dessas
emissões e investimento em tecnologias “limpas” ou de baixo
carbono. Em particular, no setor de transportes, vislumbra-se a
oportunidade de um grande desenvolvimento tecnológico em
“veículos verdes”, o que está levando a uma corrida por esse
novo mercado.
        De acordo com as potencialidades e capacidades
regionais, os países e empresas apostam em diversas
possibilidades complementares para o desenvolvimento de
veículos      “ambientalmente      amigáveis”,   entre    eles:
biocombustíveis, motores e veículos mais eficientes, veículos
híbridos, elétricos e a célula a combustível e desenvolvimento
de novos acumuladores de energia.
        Os desafios para a introdução dos veículos elétricos,
nas suas mais diversas modalidades, no mercado mundial são
imensos. Uma nova normalização terá que ser desenvolvida,
novos componentes deverão ser projetados, um novo conceito
de “postos de abastecimento” deverá ser implantado, e a infra-
estrutura de energia elétrica devera ser adaptada e expandida.
Adicionalmente, como em toda tecnologia inovadora,
mecanismos de incentivos e de fomento necessariamente
deverão ser implementados.
        O maior obstáculo para a introdução dos veículos
elétricos no mercado é o seu elevado custo. Segundo estudo
do “National Research Council” as baterias são o elemento

                                                            20 
 
determinante no custo e autonomia desses veículos, sendo que
existe grande esforço no desenvolvimento de baterias
avançadas (incluindo as de Lítio), mas ainda não foram
atingidos os objetivos essenciais de custo, vida útil e peso.
        Espera-se que rupturas tecnológicas possam contribuir
para a redução do custo e peso das baterias, porém ainda não
está claro que tipo de ruptura pode se tornar comercialmente
viável. Por outro lado, mesmo que elas ocorram dentro da
próxima década, não terão muito impacto nas emissões de
gases de efeito estufa antes de 2030, pois serão necessários
alguns anos para que um número significativo de veículos
incorpore as novas tecnologias na estrada.
        Segundo as estimativas apresentadas no estudo norte
americano, os custos de adicionais de fabricação para os
veículos híbridos, similares ao “Prius” da Toyota (PHEV-10) e
ao Volt da GM (PHEV-40), em comparação aos veículos
tradicionais, podem variar de US$ 7.000 a US$ 18.000, sendo
esperado que esses valores estejam na faixa de US$ 4.000 a
U$ 11.000 em 2030. O ponto de equilíbrio econômico
considerando o desenvolvimento tecnológico e a comparação
com os custos do petróleo poderá ser atingido em 2047
(Tabela 1).




    Tabela 1 – Custos incrementais estimados para veículos
                           híbridos
        Fonte: National Academy of Sciences, Transitions to Alternative
     Transportation Technologies--Plug-in – Hybrid Electric Vehicles – 2009

                                                                              21 
 
Conscientes das dificuldades para a introdução da nova
tecnologia envolvendo veículos mais “ambientalmente
amigáveis” e também da ameaça à sua indústria
automobilística caso não estejam aptos a concorrer nesse novo
mercado global4, os países estão implementando diversas
políticas de incentivos a veículos limpos e em especial aos
veículos elétricos.
        Estados Unidos, China, Países da União Europeia,
Inglaterra e Japão entre outros, movimentam-se no apoio à
pesquisa, implantação de infra-estrutura e incentivos à indústria
e aos adotantes iniciais desses veículos.
        Pode-se citar, por exemplo, o recente anúncio do
governo norte americano que concedeu US$ 2,4 bilhões em
recursos federais para empresas e universidades para o
desenvolvimento de energias renováveis, em particular de
baterias e veículos híbridos e elétricos, além de um subsídio de
US$ 7.500 por veículo para a aquisição de veículos elétricos e
a China, que estabeleceu um programa de US$ 1.5 bilhão para
a inovação na sua indústria automobilística, além de um
subsídio de US$ 8.800 para o comprador do veículo elétrico.

O BRASIL E SEU MERCADO AUTOMOBILÍSTICO
        A evolução da indústria automotiva nacional, ao longo
dos últimos anos, contribuiu para que o Brasil viesse a ocupar
                                                            
              4
          Sobre esse aspecto em 9 de fevereiro último, por ocasião da
reunião do Conselho informal dos ministros europeus da indústria e
da pesquisa, foi discutido relatório examinando os desafios para a
Europa fazer emergir uma indústria competitiva para os veículos
elétricos. O objetivo da reunião foi a promoção de uma estratégia
que, dentro dos próximos meses, permitirá às indústrias européias
competirem com seus concorrentes japoneses, americanos e
chineses.
         Fonte:ABVE,05/03/2010
         http://www.abve.org.br/destaques/2010/destaque10006.asp
                                                                  22 
 
posição de destaque na indústria automobilística mundial: a
produção nacional ocupa a sexta colocação na escala
internacional, o consumo interno (licenciamentos de veículos
nacionais e importados) nos classifica como o 5º maior
mercado consumidor de auto-veículos, e somos o 12º maior
exportador e o 13º maior importador.
        O Brasil é líder na produção de veículos que utilizam
combustível de origem renovável e ostenta ampla vantagem
competitiva nesse segmento. O licenciamento de veículos
leves em janeiro de 2010 teve um crescimento de 6% em
relação a janeiro de 2009, atingindo a marca de 201 mil
unidades. Desse total, os carros flex-fuel representaram 85,3%.
Entre 2003 e 2009, foram comercializados mais de 9,8 milhões
de veículos flex-fuel e sua participação estimada na frota total
de veículos leves é de 34%.
        Atualmente, a indústria automobilística nacional
compreende 19 montadoras com 40 fábricas distribuídas em 8
estados e 36 municípios e capacidade para produzir 4,0
milhões de auto-veículos por ano. A indústria automotiva
brasileira também é responsável pela existência de mais de
500 fabricantes de autopeças, aproximadamente 4,3 mil
concessionários e a geração de 1,5 milhão de postos de
trabalho diretos e indiretos, destacando-se, em 2009, 124,4 mil
empregos diretos nas montadoras.
        Desde 1957 até dezembro de 2009, foram produzidos
no Brasil 45,7 milhões de automóveis, 8,6 milhões de veículos
comerciais leves, 3,4 milhões de caminhões e 765 mil ônibus,
totalizando 58,5 milhões de unidades (Fig. 4). Neste mesmo
período (1957/2009), as vendas/licenciamento de automóveis
novos alcançaram 50,0 milhões de veículos, sendo 39,0
milhões de automóveis, 7,5 milhões de comerciais leves, 2,9
milhões de caminhões e 549 mil ônibus.


                                                             23 
 
Produção Brasileira de Autoveículos 1957-2009
                    em milhões de unidades - montados e desmontados

    50,0
                45,7
    45,0

    40,0

    35,0

    30,0

    25,0

    20,0

    15,0
                                          8,6
    10,0
                                                        3,4
     5,0
                                                                       0,8
     0,0
            Automóveis            Comerciais Leves   Caminhões        Ônibus
           Fonte: ANFAVEA   Elaboração: MF/SPE




    Fig. 4 – Produção brasileira de autoveículos 1957 – 2009
                    em milhões de unidades
                                Fonte ANFAVEA / MF-SPE

       A partir de 2000, o setor experimentou forte crescimento
no número de unidades produzidas, que saltou de 1,7 milhão
em 2000 para 3,2 milhões de unidades, em 2009. Desde 2003
foram apurados recordes sucessivos de unidades produzidas
anualmente.
       Em decorrência do desaquecimento econômico global,
que teve início a partir do último trimestre de 2008, houve uma
desaceleração nas taxas de crescimento da produção e
vendas. A produção de dezembro daquele ano foi 47% inferior
à quantidade produzida no mês anterior, novembro, e 54,1%
menor que os números de dezembro de 2007 (Fig. 5).




                                                                               24 
 
Fig. 5 – Produção da indústria automobilística

                                     Fonte ANFAVEA / MF-SPE




                        Produção indústria automobilística
3.500                                                                                     600

                    Automóveis (E)
3.000               Comerciais leves (D)
                                                                                          500
                    Caminhões (D)

2.500               Õnibus (D)
                                                                                          400

2.000
                                                                                          300
1.500

                                                                                          200
1.000

                                                                                          100
 500


   0                                                                                      0
         2000    2001       2002     2003       2004   2005   2006   2007   2008   2009
          Fonte: ANFAVEA   Elaboração: MF/SPE




               No setor automotivo cabe destacar o de autopeças.
        Com faturamento previsto de US$ 40 bilhões para 2010 esse
        setor é responsável por exportações de US$ 6,8 bilhões em
        2010, já tendo atingido a marca de US$ 10 bilhões em 2008,
        antes da crise. O setor exporta para mais de 20 países,
        principalmente Argentina, Estados unidos, Alemanha e México.
               Dentro do cenário de inovação tecnológica radical no
        setor automobilístico que está ocorrendo no mundo, o Brasil
        pode facilmente perder a sua posição significativa na produção
de veículos e autopeças e passar a ser importador das novas
tecnologias.
        Devem ser adotados mecanismos que permitam à
indústria nacional realizar a transição para ser fornecedora de
componentes e sistemas para os novos veículos verdes, nas
suas diversas configurações possíveis, focando para além do
mercado nacional, pois apesar do Brasil, com os
biocombustíveis, já atender os requisitos de emissões de
carbono que muitos países pretendem alcançar em 2030,
haverá a necessidade e a oportunidade da adaptação da
indústria nacional para esse novo mercado.

AÇÕES DO MCT NO APOIO AOS VEÍCULOS ELÉTRICOS
       De modo geral a tecnologia inovadora tem custos
maiores que as convencionais e já disponíveis no mercado. É
somente através do aprendizado proporcionado pela pesquisa,
demonstração e introdução inicial no mercado é que essas
tecnologias tornar-se-ão econômicas e levarão à inovação.
       Novas tecnologias requerem, em certo estágio de seu
desenvolvimento, o estímulo à pesquisa e à demanda inicial
para introdução futura no mercado. Em casos nos quais se
pretende rápido desenvolvimento, tanto o estímulo quanto a
demanda inicial necessitam ser organizados e apoiados pelos
governos. Como exemplo pode-se citar a recente implantação
do programa de biodiesel brasileiro, no qual ações de estímulo
ao mercado, regulação e incentivos tributários, foram
complementadas por ações de pesquisa, capacitação
laboratorial e formação de recursos humanos especializados.
       Dentro desse contexto, o Ministério da Ciência e
Tecnologia (MCT), com relação às tecnologias inovadoras no
setor automotivo, atua no desenvolvimento da pesquisa,
formação de recursos humanos e apoio às empresas
inovadoras.
       Para exercer as suas atividades o Ministério dispõe de
duas agências de fomento para a implementação das ações: o
CNPq voltado ao fomento da formação de recursos humanos e

                                                            26 
 
pesquisa acadêmica e a FINEP voltada a projetos fomento
público à Ciência, Tecnologia e Inovação em empresas,
universidades, institutos tecnológicos e outras instituições
públicas ou privadas. Entre os mecanismos de apoio das
inovações direcionados às empresas, destacam-se dois
recentes instrumentos operados pela FINEP: a Subvenção
Econômica e o Sibratec.
        A Subvenção Econômica apoia o desenvolvimento de
produtos, serviços e processos inovadores em empresas
brasileiras, sendo que os projetos tecnológicos são apoiados
mediante edital público anual. O aporte de recursos aos
projetos é a fundo perdido mediante contrapartida das
empresas.
        O Sistema Brasileiro de Tecnologia - Sibratec (Decreto
nº 6.259, de 21 de novembro de 2007) é um instrumento de
articulação e aproximação da comunidade científica e
tecnológica com as empresas brasileiras. O Sibratec tem por
objetivo apoiar o desenvolvimento tecnológico do setor
empresarial nacional, por meio da promoção de atividades de
pesquisa e desenvolvimento de processos ou produtos
inovadores, seja essa inovação radical ou incremental, de
prestação de serviços tecnológicos e de extensão tecnológica.
Assim, no SIBRATEC são estruturadas redes temáticas de
Centros de Inovação com disponibilidade de recursos
humanos,      materiais   e   financeiros   para     apoiar   o
desenvolvimento de inovações em produtos e processos
demandados por empresas brasileiras.
        Em especial, quanto às ações do MCT em veículos
elétricos, está em desenvolvimento a estruturação de um
programa para apoio ao desenvolvimento tecnológico, as
pesquisas e a cadeia produtiva voltada a veículos elétricos.
Durante 2009 foram realizados seminários e reuniões setoriais
para prospecção no meio acadêmico e em empresas
fabricantes de veículos e baterias, dos temas estratégicos para
pesquisa e desenvolvimento na área.
        Para 2010 estão propostos editais para formação de RH
e desenvolvimento de P,D&I em tecnologia veicular e baterias
                                                             27 
 
no CNPq e linhas de apoio para pesquisa em empresas
(possivelmente através do edital de subvenção da FINEP) nas
áreas de “Desenvolvimento de acumuladores de energia
(baterias, super-capacitores) e seus processos de reciclagem”
e “Desenvolvimento de partes, peças e sistemas completos
aplicados a veículos elétricos, híbridos e hidrogênio”.
         Destaque-se também que ao longo deste primeiro
semestre de 2010 está em implantação a Rede SIBRATEC de
Inovação voltada ao apoio às empresas do segmento de
veículos elétricos e baterias. A Rede tem como objetivo de
desenvolver, aperfeiçoar e identificar: matérias primas e
materiais aplicáveis à cadeia produtiva de veículos elétricos;
sistemas de abastecimento de energia a veículos provenientes
de fontes de energia externa; sistemas embarcados de
conversão de energia, excetuando-se a reforma de
combustível; motores elétricos e seus componentes, sistemas
mecânicos como chassis, suspensão, engrenagens, sistemas
de freios, transmissão aplicáveis aos veículos elétricos;
sistemas      eletroeletrônicos,    inversores,    controladores,
supervisores, acumuladores de energia elétrica, medidores,
softwares, protocolos e interfaces de diagnóstico de
componentes e demais sistemas eletroeletrônicos aplicáveis à
cadeia produtiva de veículos elétricos.
         Em conclusão, entende o MCT que há um próspero
caminho a ser percorrido até o estabelecimento definitivo da
opção dos veículos elétricos em escala comercial e que o
Ministério é parte essencial, juntamente com os demais
importantes atores da área, no estímulo e na consolidação das
iniciativas em curso no País. O MCT tem pautado sua atuação
pelo suporte aos projetos em implantação a partir da
concepção de que é necessário apoiar tecnologias veiculares
mais eficientes e com menos emissões, sem privilegiar apenas
uma em particular, tendo em vista que várias alternativas estão
em estágio de desenvolvimento e apresentam futuros
promissores.


                                                              28 
 
Referências Bibliográficas
         1.       International Energy Agency – IEA, World Energy
Outlook 2009.
         2.       Ministério de Minas e Energia – MME / Empresa de
Pesquisa Energética – EPE, Balanço Energético Nacional – 2009.
Disponível em (https://ben.epe.gov.br)
         3.       National Academy of Sciences, Transitions to
Alternative Transportation Technologies--Plug-in Hybrid Electric
Vehicles        –     2009       (pré-publicação).     Disponível em
(http://www.nap.edu/catalog/12826.html)
         4.       The New York Times, White House Awards $2.3
Billion in Tax Credits for Clean Energy Developers, Green Inc,
January              8,           2010.           Disponível      em
(http://greeninc.blogs.nytimes.com/2010/01/08/white-house-awards-
23-billion-in-tax-credits-for-clean-energy-developers/)
         5.       The New York Times, China Vies to Be World’s
Leader in Electric Cars, Keith Bradsher, Published: April 1, 2009.
Disponível                                                        em
(http://www.nytimes.com/2009/04/02/business/global/02electric.html)
         6.       Anfavea - Associação Nacional dos Fabricantes de
Veículos Automotores em (http://www.anfavea.com.br)
         7.       Sindipeças - Sindicato Nacional da Indústria de
Componentes para Veículos Automotores, Perspectivas Econômicas
Indústria       Brasileira     de      Autopeças.      Disponível em
(www.sindipecas.org.br)
         8.       Ministério da Fazenda, Relatório do Grupo de
Trabalho da Indústria Automotiva – 2010.
         9.       Ministério de Minas e Energia, Boletim Mensal dos
Combustíveis Renováveis, nº 25, jan de 2010.
         10.      Associação Brasileira do Veículo Elétrico – ABVE.
Disponível em (www.abve.org.br/)
VEÍCULO ELÉTRICO, POLÍTICAS
 PÚBLICAS E O BNDES: OPORTUNIDADES
             E DESAFIOS5
                    Luciano Galvão Coutinho*,
          Bernardo Hauch Ribeiro de Castro** eTiago Toledo
                            Ferreira***


INTRODUÇÃO
        Nesse começo do século XXI, a eletrificação veicular
emerge como uma tendência tecnológica inexorável. Essa
nova tendência representa uma mudança substantiva no setor
automotivo, implicando na substituição dos motores a
combustão interna por motores elétricos como fonte de força
motriz veicular. Espera-se, em um futuro próximo, que os
veículos elétricos disputem mercado com os tradicionais.
        Mudanças tecnológicas reabilitaram os veículos
elétricos, muito difundidos no começo do século XX. Naquela
época, além de modelos propulsionados por motores elétricos
ou a combustão, existiam veículos movidos por motores a
vapor. Basicamente, a crescente disponibilidade e o baixo
custo de derivados do petróleo, associado à ausência de
pressões ambientais, favoreceram a adoção do motor a
combustão interna. Apesar do maior conforto, propiciado pelo
menor ruído e emissão de gases, o veículo elétrico enfrentava
problemas relacionados à autonomia e ao carregamento da
bateria. Entretanto, novos fatores promoveram o renascimento

                                                            
              5
           Os autores agradecem os comentários de João Carlos
Ferraz, Felipe Marques, Haroldo Prates e Patrícia Zendron.
Naturalmente, eventuais imperfeições remanescentes são de inteira
responsabilidade dos autores.
       *
          Presidente do BNDES.
       **
           Engenheiro do BNDES.
       ***
           Economista do BNDES.
dos veículos elétricos, em especial, o desenvolvimento
tecnológico das baterias, a questão da segurança energética e
a redução de impactos ambientais.
        Neste artigo, enfatizaremos os aspectos industriais
relacionados aos veículos elétricos, visando a constituição de
um panorama geral, a partir do qual a atuação do BNDES será
discutida. A seção seguinte aborda os principais fatores
indutores do ressurgimento dos veículos elétricos. A terceira
seção apresenta os principais modelos disponíveis e em
desenvolvimento para discutir, em seção posterior, os
principais desafios e entraves à difusão dos veículos elétricos.
As eventuais transformações na estrutura industrial são
tratadas na quinta seção, enquanto, a sexta seção discute o
apoio do BNDES a eventuais mudanças na indústria
automotiva. Uma breve conclusão consolida os principais
tópicos discutidos ao longo do texto.

INDUTORES DO RENASCIMENTO DOS VEÍCULOS ELÉTRICOS
              A redução dos impactos ambientais é tema de
crescente importância na agenda pública. O combate ao
aquecimento global torna-se, cada vez mais, um imperativo
político na maioria das nações. O setor de transportes, que
responde por parcela significativa do consumo de derivados de
petróleo e das emissões de CO2, é um dos principais focos de
atenção.
              A questão energética é outro fator que reforça a
necessidade de redução do consumo de petróleo. O IEA6
(2009) projeta um crescimento médio anual da demanda
mundial de energia de 1,5% entre 2007 e 2030, ao passo que,
no mesmo período, a oferta de petróleo deve ter expansão
média anual de 1%. Em termos acumulados, o aumento da
demanda energética será da ordem de 40,7% contra 25,7% da
oferta             de          petróleo.               Esses números apontam a
insustentabilidade da matriz energética atual e, em especial, a
                                                            
        6
            International Energy Agency ou Agência Internacional de
Energia.
                                                                           31 
 
necessidade da redução da participação do petróleo. O setor
de transporte, por consumir cerca de 61,3% do petróleo7, é o
alvo natural para medidas que visem o rebalanceamento da
matriz energética. E não faltam sinais que o desequilíbrio
gerado pelo excesso de demanda já é um problema no curto
prazo, tendo em vista a elevada volatilidade do preço do
petróleo no período recente. O preço do barril de petróleo8, na
casa dos US$ 72 em 2007, alcançou a marca de US$ 144 em
julho de 2008, pouco antes do momento mais agudo da crise
financeira internacional. Este caiu a cerca de US$ 40 em fins
de 2008 e, desde então, vem se recuperando, chegando
próximo a US$ 85 no início de abril de 2010.
              Adicionalmente, desde o Choque do Petróleo de 1973,
os governos dos países centrais perceberam o risco derivado
da elevada concentração da produção em um número pequeno
de países. Nesse caso, eles procuram aumentar sua
segurança energética, entendida como o acesso, a um preço
razoável, à fonte energética demandada, provida por
produtores confiáveis. A dependência em relação a poucos
produtores, organizados em cartel, e a grande volatilidade dos
preços do barril de petróleo fundamentam questionamentos
acerca da segurança energética dos países dependentes da
importação de petróleo.
              O choque motivou os governos a restringirem o
consumo de derivados do petróleo pelos veículos –
usualmente, através de regulamentações que limitam as
emissões ou exijam maior eficiência no consumo energético –
e a financiarem tecnologias alternativas, dentre as quais se
encontra o veículo elétrico. A recente alta do petróleo e as
pressões por medidas que preservem o meio ambiente
redundaram em um aprofundamento desses programas.
              Atualmente, vários governos oferecem incentivos para a
compra de veículos elétricos. Usualmente, esses incentivos
                                                            
       7
        Ver IEA (2009).
       8
         Fonte: Ipeadata. Preço por barril do pétroleo bruto Brent
(FOB). No original: Europe Brent Spot Price FOB.
                                                                 32 
 
assumem a forma de isenções fiscais ou bônus monetários.
Dentre os países que oferecem esse incentivo, estão os
Estados Unidos, o Japão, a China e a Alemanha.
        No Brasil, os veículos elétricos não recebem tratamento
diferenciado. No caso do Imposto sobre Produtos
Industrializados – IPI, os veículos elétricos são enquadrados na
categoria “outros”, sobre a qual incide a alíquota mais elevada.
Um automóvel elétrico, por exemplo, tem alíquota de 25%.
        Nesse momento de transição, os incentivos são
essenciais para acelerar a penetração desses veículos. Além
de não gozarem de economias de escala, os veículos elétricos
enfrentam elevados custos de baterias, desconfiança dos
consumidores e carência de infraestrutura. O preço9 médio de
um Ford Fusion, um dos sedans mais vendidos nos Estados
Unidos, é inferior a US$ 20 mil, enquanto o preço esperado do
GM Volt, o veículo híbrido, está na casa do US$ 40 mil. O
Nissan Leaf, outro veículo elétrico que será lançado em breve,
deverá custar cerca de US$ 34 mil.
        Vale ressalvar que a eletrificação veicular não substitui
a agenda de busca por combustíveis alternativos ao petróleo.
No caso dos modelos híbridos, por exemplo, eles alimentariam
motores a combustão dos próprios veículos. Já em veículos
puramente elétricos, esses podem ser usados na geração de
energia elétrica.
        Sem o avanço das baterias, o renascimento dos
veículos elétricos não seria possível. Ele foi iniciado nos
setores de informática e telecomunicações, impulsionado pelas
vendas de laptops e telefones celulares. Por isso, a maior parte
dos modelos que vem sendo lançados são equipados com
baterias de íon-lítio, similares às usadas em eletrônicos
portáteis. Conforme será discutido, o desenvolvimento de
baterias é o principal desafio tecnológico enfrentado
atualmente.

                                                            
              9
          Cotações obtidas no sítio http://www.edmunds.com, em
8/4/2010, que desconsideram os benefícios concedidos pelo governo.
                                                               33 
 
MODELOS DE VEÍCULOS ELÉTRICOS
        De modo simplificado, podemos classificar os veículos
elétricos em duas categorias: os veículos elétricos puros e os
híbridos.

Os veículos híbridos
        Os veículos híbridos são assim chamados por
combinarem um motor de combustão interna com um gerador,
uma bateria e um ou mais motores elétricos. Sua função é
reduzir o gasto de energia associado à ineficiência dos
processos mecânicos se comparados aos sistemas
eletrônicos10.
        Boa parte da ineficiência energética vem da geração de
calor causada principalmente pelo atrito entre as partes móveis
do motor de combustão interna. Estima-se que apenas 15% da
energia potencial de um combustível em um automóvel é
efetivamente utilizada para movimentá-lo.
        Em um veículo híbrido, há quatro fatores que ajudam a
aumentar sua eficiência:
        •      Assistência do Motor Elétrico ao de Combustão
Interna: a menor variação em sua operação permite atingir um
nível de eficiência muito mais elevado pela adoção de motores
com menor perda, como os do ciclo Atkinson-Miller ao invés do
difundido ciclo Otto.
        •      Desligamento Automático: sistema híbrido pode
desligar automaticamente o motor em caso de parada,
enquanto no veículo convencional o motor a combustão
continua funcionando.
        •      Tecnologias de Recarga da Bateria, como
frenagem regenerativa: no caso dos motores a combustão,
embora a aplicação seja possível, a armazenagem da energia
gerada para fins de movimentação não é, ficando restrita ao
consumo de periféricos (como o ar condicionado, luzes etc.).

                                                            
              10
                   Raskin & Shah (2006).
                                                               34 
 
•      Otimização da Transmissão: o paradigma
mecânico permite apenas um número limitado de combinações
de rotação e potência, que limitam a eficiência do conjunto. Já,
com sistemas eletrônicos, as possibilidades de combinações
são muito maiores. A Toyota, por exemplo, desenvolveu um
sistema de transmissão eletrônica, que permite um número
infinito de combinações. Seu sistema é extensivamente
patenteado, o que leva os competidores a licenciar essa
tecnologia ou a utilizar sistemas menos eficientes, baseados
em combinações amplas, mas não infinitas.
        Há duas formas básicas de arranjo dos componentes de
um sistema híbrido, que resultam em arquiteturas diferentes
dos automóveis. Nos sistemas em série, o motor a combustão
interna é ligado a um gerador e não diretamente ao trem de
acionamento. O motor elétrico é que movimenta as rodas. Já
no sistema em paralelo, tanto o motor elétrico quanto o motor a
combustão podem movimentar as rodas, conjunta ou
independentemente.

                          
                                                          
                          

                          

                      Motor a
                                               Motor a       Motor




                                                                      


                Figura 1 – Motor a        Figura 2 – Sistema Híbrido 
                Combustão Interna                  Paralelo 


                                                                     35 
 
                                                            
 
 
 
                  Motor a            Motor       Motor a          Motor
 
 
 
                                                                             

                Figura 3 – Sistema Híbrido    Figura 4 – Sistema Híbrido 
                         em Série             Combinado Série‐Paralelo 
 
 
              Há ainda um terceiro sistema que conjuga os dois
anteriores, incorporando a possibilidade de recarga da bateria
pelo motor a combustão mesmo quando ele estiver tracionando
o veículo.
              As Figuras 1 a 4 trazem, de forma simplificada, um
desenho esquemático da arquitetura dos sistemas
apresentados, bem como do sistema tradicional.
              Um exemplo de veículo com sistema híbrido é o Toyota
Prius, lançado em 1997 no Japão e em 2000 em outros
mercados como os EUA e a Europa. Atualmente em sua quarta
geração, é considerado o primeiro veículo híbrido produzido em
massa e lançado mundialmente. Foi lançado com um sistema
híbrido paralelo, tendo evoluído para o combinado. Em 2009,
atingiu um acumulado de dois milhões de veículos vendidos
desde o seu lançamento11.
                                                            
       11
            Toyota (2010).
                                                                          36 
 
Um outro exemplo, o GM Volt, funciona com um sistema
híbrido em série, com recarga feita por sistema plug-in12 e
baterias de íon lítio. Com o conceito apresentado em 2007, tem
previsão de lançamento comercial em 2011.
Os veículos elétricos puros
         Já os veículos puramente elétricos não possuem um
motor a combustão. São integralmente movidos por energia
elétrica, seja provida por baterias, por células combustível13,
por placas fotovoltaicas (energia solar) ou ligados à rede
elétrica, como os trolebus. A maioria dos lançamentos das
grandes montadoras tem se concentrado em veículos movidos
a bateria.
         Para ilustração, são veículos elétricos puros o Nissan
Leaf, com lançamento previsto para 2010, e o Mitsubishi iMiEV,
já lançado. Ambos utilizam baterias de íon lítio, sendo que o
iMiEV possui três motores elétricos ao invés de um, sendo um
para cada roda dianteira e um para o conjunto traseiro.
         No Brasil, há alguns projetos em desenvolvimento,
dentre os quais podemos citar o Projeto VE, iniciado em 2006,
da Itaipu Binacional, em cooperação com a empresa suíça
Kraftwerke Oberhasli (KWO), controladora de hidrelétricas
suíças, e a montadora Fiat, além de outras empresas e
instituições    de    pesquisa.   São     dois    veículos  em
desenvolvimento, o Palio Weekend Elétrico e o caminhão leve
Iveco Daily Elétrico. Ambos são veículos elétricos puros, sendo
                                                            
              12
           A denominação plug-in indica que a bateria do veículo pode
ser recarregada por um plug conectado a uma fonte externa de
energia elétrica.
        13
           Células combustível (fuel cells) são células eletroquímicas
(como as pilhas) que convertem combustível em eletricidade. Apesar
da possibilidade de se utilizar diferentes combustíveis, há um forte
apelo pelo uso do hidrogênio, que resultaria em veículos praticamente
não-poluentes..
                                                                   37 
 
que o Palio utiliza uma bateria de níquel e o Daily, três baterias,
de sódio, níquel e cádmio. Do Palio, são produzidos, em
caráter experimental, quatro unidades por mês atualmente.
        Há também projetos em fase mais embrionária, como o
do Triciclo Pompéo, em desenvolvimento por uma empresa na
incubadora tecnológica da Itaipu Binacional, que utiliza baterias
de íon lítio e motor elétrico fornecido pela empresa Weg. Tem
lançamento previsto para 2011.
        Já em escala comercial, encontra-se no Brasil as
motocicletas do tipo scooter elétricas, produzidas pelas
empresas Motor Z (em São Bernardo do Campo/SP), Bramont
(em Manaus/AM) e GPS Electric Movement (em Natal/RN)14, e
ônibus urbanos com tração elétrica fornecida pelas empresas
Eletra e a célula de hidrogênio fabricados pela Tutto Transporti.
A Eletra afirma ter 300 trolebus e 45 ônibus híbridos em
operação na Grande São Paulo15. Além disso, há veículos
elétricos fabricados no Brasil para transporte em áreas
particulares (ambientes fabris, centros de distribuição, campos
de golfe etc.) por algumas empresas como Jacto e Agix.
        A Tabela 1 traz um breve comparativo de alguns
modelos citados.
        Percebe-se uma clara distinção entre os veículos
elétricos puros e os híbridos em relação a dois aspectos: a
autonomia, que é maior nos híbridos justamente pela utilização
acessória de um motor a combustão, e o peso do conjunto de
baterias. Os demais parâmetros são similares para os modelos
estudados.




                                                            
              14
                   Scooters (2009).
              15
                   Eletra (2010).
                                                                38 
 
 

                      Tabela 1 – Comparativo de alguns modelos de veículos elétricos.
                                                                Híbridos                                            Puros
                                                          Toyota Prius




                                                                                                                                     (Itaipu/Fiat) 
                                                                                                                      Nissan Leaf 
                                                                                                      Mitsubishi 
                                                                                           GM Volt 




                                                                                                                                        Elétrico 
                                                                                                       iMiEV 




                                                                                                                                         Palio 
                                                        Geração    Geração    Geração 
                                           Geração I 
                                                           II         III       IV 


                                            1997‐       2000‐      2003‐
    Lançamento                                                                 2009       2011        2010          2010                n.d. 
                                            1999        2003       2009 
    Potência do motor a combustão                                                                      Não           Não               Não 
                                              58          70         76         98        n.d. 
    (HP)                                                                                              possui        possui            possui 
    Potência do motor elétrico (HP)           40         44         67         80          71           63          107                  20 
    Aceleração 0‐96 km/h (s)                 14,1       12,5       10,1        9,8        n.d.         n.d.          9                 28***
    Peso das baterias (kg)                    57         52         45         44         180         165           200                 165
    Peso do veículo (kg)                     n.d.       1254       1317       1380       1580         1080          n.d.               1029
                                                                                         64* /
    Autonomia (km)                           n.d.       579**      547**       n.d.                    160          160                 120
                                                                                         483**
    Velocidade máxima (km/h)                 n.d.        159        178        n.d.       160          130          140                 110
Fontes: Zapata & Nieuwenhuis (2007), GM (2010), Mitsubishi (2010), Nissan (2010), Toyota (2010). Elaboração própria.
Obs.: * Usando exclusivamente a bateria. / ** Utilizando também o motor a combustão. / *** 0-100 km/h.
n.d. = não disponível
DESAFIOS E GARGALOS
        A adoção em massa dos veículos elétricos enfrenta
diversos desafios. Dentre os principais entraves, pode-se listar
o preço elevado, a autonomia da bateria e a necessidade de
constituição de uma infraestrutura específica.
        A bateria é o componente crucial, sendo seu
desenvolvimento responsável tanto pela elevação da
autonomia, quanto pela redução do preço do veículo.
Atualmente, o padrão adotado é o de íon lítio. No entanto, essa
tecnologia não necessariamente será dominante por conta de
seu elevado custo e de questões relacionadas à oferta de
matéria-prima. Outros padrões despontam como potenciais
concorrentes como níquel hidreto metálico e zebra (à base de
sódio, níquel e cádmio). O desenvolvimento da bateria é mais
premente em um cenário de transição, em que fatores culturais
– como a tradição dos veículos a combustão, por exemplo – e
a ausência de infraestrutura reduzem a predisposição dos
consumidores em adquirirem veículos elétricos.
        Os veículos elétricos demandam modificações na
infraestrutura existente, estando o ponto chave relacionado à
nova forma de alimentação energética, que será realizada
através da rede elétrica. Essas modificações abrangem da
necessidade de tomadas de força nas garagens das
residências à existência de estações de carregamento rápido
ao longo das vias de transporte. Apenas para exemplificar a
complexidade envolvida, a simples colocação de tomadas nas
garagens de edifícios precisa atender alguns requisitos, como
voltagem adequada e mecanismo de tarifação individual do
proprietário do veículo. A grande energia acumulada na bateria
abre novas possibilidades ao automóvel. Ele pode exercer a
função de um no-break residencial ou devolver energia à rede,
arbitrando seu fluxo com a concessionária de energia elétrica
de acordo com o preço das tarifas.
        As expectativas otimistas apontam para o domínio de
mercado pelos veículos híbridos ou puramente elétricos em
2030. Após um período de pelo menos 10 anos de penetração
mais lenta, essa velocidade deverá sofrer uma aceleração
robusta, conforme os principais entraves (sobrepreço,
autonomia da bateria e infraestrutura) forem sendo superados.
Nesse período, também deverá ser definido o padrão
vencedor.
         A inexistência de resistência técnica à produção de um
híbrido que utiliza etanol e energia elétrica pode ser
aproveitada para consolidar a posição de vanguarda do Brasil
na utilização de energia limpa para o transporte.
Tabela 2 – Projeção de Penetração de Veículos Híbridos/Elétricos
Híbridos / Elétricos como % das Vendas Totais   2010   2015    2020     2030 
EUA                                             4,2%   10,2%   26,7%    75,8% 
China                                           0,4%   7,7%    25,8%    78,3% 
Global                                          1,7%   6,2%    19,9%    66,0% 
Híbridos / Elétricos como % da Frota            2010   2015    2020     2030 
EUA                                             0,9%   3,0%    8,8%     39,8% 
China                                           0,1%   3,5%    15,4%    63,1% 
Global                                          0,3%   1,8%    6,6%     35,6% 
Fonte: Deutsche Bank (2009).

IMPACTO NA CADEIA DE FORNECEDORES
         A introdução de veículos elétricos promoverá uma
profunda reestruturação na indústria automotiva. As
modificações não atingem somente o powertrain, principal
sistema veicular, que abarca o motor e a transmissão. Novos
componentes, como regeneradores de energia dispersada na
frenagem, serão incorporados aos veículos. A energia
acumulada na bateria, tradicionalmente utilizada para partida
do automóvel e para os itens de eletrônica embarcada (injeção
eletrônica, ABS, airbag, trio elétrico, ar condicionado, alarme
etc.), terá que alimentar o motor de tração, exercendo função
realizada pelo tanque de combustível nos modelos
convencionais. Fabricantes de bateria, portanto, precisarão se
transformar em fabricantes de sistemas, aproximando-se dos

                                                                          41 
 
sistemistas16. Poderá haver também desdobramentos
relacionados ao mercado de minério, tendo em vista que o lítio
está presente na maior parte das baterias veiculares já
desenvolvidas. Estima-se que, até 2020, o consumo subirá de
24 mil toneladas em 2010 para 54 mil17. Sendo o lítio um
minério não abundante e com reservas concentradas em
poucos países (65% estão na Bolívia e no Chile), é possível
vislumbrar um incentivo para a pesquisa de alternativas. Por
ser reciclável, pode-se esperar também o crescimento da
indústria de reciclagem.
         Naturalmente, o principal sistema atingido pela
eletrificação veicular será o powertrain. Mesmo nos modelos
em que o motor a combustão não é eliminado, as mudanças
são diversas. De responsável pela tração, o motor a combustão
assume papel de gerador de energia para alimentação da
bateria nos modelos híbridos, representando uma alternativa à
rede elétrica. Nessa configuração, a necessidade de potência e
o modo de funcionamento são diferentes. A transmissão
também sofre profundas modificações, tornando-se um
componente eletrônico. Assim, espera-se uma aceleração da
mudança de paradigma da indústria de autopeças, com a
utilização cada vez maior de sistemas eletrônicos em
substituição aos mecânicos.
         Os mercados de reposição também podem sofrer
mudanças, tendo em vista que, por serem mais simples e com
menos partes móveis, os motores elétricos provavelmente
necessitarão de menor manutenção. Sistemas de diagnóstico à
distância podem se tornar mais presentes no mercado
automobilístico.


                                                            
              16
                   Book et al. (2009).
              17
                   Gonçalves (2010).
                                                               42 
 
Uma alteração dessa ordem gera naturalmente espaço
para novos entrantes. Os exemplos citados neste artigo, sobre
as experiências brasileiras de desenvolvimento de veículos
elétricos, dão uma amostra disso. Empresas geradoras de
energia elétrica têm se interessado pelo tema, assim como
empresas fornecedoras de equipamentos elétricos.
        Segundo Vian (2009), “o sistema elétrico brasileiro não
deverá ter maiores problemas para atender à demanda dos
carros elétricos”. No entanto, embora haja energia disponível,
há dois fatores a considerar. O primeiro diz respeito à
infraestrutura para recarga dos veículos elétricos. O argumento
mais frequente é que as distâncias médias percorridas pelos
automóveis nas cidades é menor que a autonomia do carro, o
que permitiria que a recarga fosse feita apenas na residência
do motorista. Porém, é um ponto que causa uma restrição a
seu uso e, portanto, dificulta sua difusão. É possível vislumbrar
uma proliferação de pontos de recarga em estacionamentos,
por exemplo, e outros locais.




                              Figura 5 – Triciclo Pompéo (Fonte:
                                        Pompéo, 2010)




                                                                   43 
 
 
        O segundo fator refere-se ao tempo de recarga, que
pode ser considerado elevado em alguns casos. Algumas
empresas estão pesquisando formas de fazer uma recarga
rápida, com a disponibilização de tensões mais elevadas e
consequente redução do tempo.
        Outra solução é a possibilidade de implantação de
postos para troca das baterias18, como tem sido testado em
países de menor extensão territorial, como Israel e Dinamarca.
        É importante notar que esses problemas afetam mais os
veículos elétricos puros que os híbridos, que normalmente
possuem autonomia estendida pelo uso do motor a combustão.
        Outra solução é a possibilidade de implantação de
postos para troca das baterias19, como tem sido testado em
países de menor extensão territorial, como Israel e Dinamarca.
        É importante notar que esses problemas afetam mais os
veículos elétricos puros que os híbridos, que normalmente
possuem autonomia estendida pelo uso do motor a combustão.
        Por fim, é possível que tanto o design quanto os
materiais utilizados na fabricação do carro sofram alguma
alteração, já que o peso do veículo influencia sua autonomia, a
bateria é um conjunto relativamente pesado e a motorização do
veículo elétrico difere substancialmente do veículo a gasolina.
Veículos como o Pompéo, citado anteriormente neste artigo,
tem um design que foge do padrão atual dos veículos. Na
questão dos materiais, a título de ilustração, em abril de 2010,
uma joint venture entre a montadora BMW e o SGL Group
divulgou a intenção de construir duas plantas para fabricação
de materiais compósitos de fibra de carbono, que são mais

                                                            
              18
                   Better Place (2010).
              19
                   Better Place (2010).
                                                               44 
 
leves e mais resistentes que o aço, para utilização nos veículos
elétricos a serem lançados20.
        O que se pode concluir é que a proliferação de veículos
elétricos parece ser uma interessante oportunidade para a
entrada de outros players na indústria automotiva mundial.

O BNDES
        Principal provedor de crédito de longo prazo e agente
relevante no mercado de capitais brasileiro, o BNDES deverá
desempenhar papel de destaque na introdução dos veículos
elétricos no Brasil.
        Um paralelo pode ser traçado com a atuação do Banco
no apoio aos combustíveis alternativos. No campo industrial,
ele financiou do desenvolvimento do sistema flex fuel à
implantação de linhas de montagem dos modelos que
incorporaram esta tecnologia. O BNDES também tem
financiado toda a cadeia sucroalcooleira, atuando junto às
usinas e aos fornecedores de equipamentos.
        Mais do que um provedor de crédito ou investidor em
ativos, o BNDES atua como um interlocutor presente,
empreendendo ações de fomento. A longa relação com o setor
automotivo, com vários financiamentos concedidos, coloca o
Banco em posição privilegiada para identificar as necessidades
e potencialidades relacionadas a essa mudança paradigmática.
Além disso, a abrangência do tema requer a adoção de
políticas transversais com o envolvimento de diversos agentes
na construção deste projeto. Nesse sentido, cabe ao BNDES
ser um dos principais articuladores de um apoio estruturante,
que viabilize a produção de veículos elétricos no Brasil.
        A divulgação dessa solução tecnológica constitui um
dos principais focos de ação do BNDES nesse estágio inicial.
Um exemplo foi o apoio institucional ao VE 2009, o maior
evento de veículos elétricos do País, realizado em Campinas.
No primeiro semestre de 2010, o Banco organizou Oficina de
                                                            
              20
                   Shields (2010).
                                                               45 
 
Trabalho, que procurou ampliar a integração dos agentes
relevantes. Ainda na esfera não financeira, o BNDES está
presente nos principais debates, participando de grupos de
trabalho no setor público e de reuniões com organizações que
congregam as empresas do setor automotivo. Em decorrência
dessas ações, procura-se identificar oportunidades para o
desenvolvimento da indústria nacional.
       Em termos mais tradicionais, para apoiar a introdução
dos veículos elétricos no País, o Banco dispõe de diversos
instrumentos, disponíveis para pronta aplicação.
       Os esforços iniciais de desenvolvimento de tecnologia
não existente no Brasil são elegíveis para a Linha de Inovação
Tecnológica do BNDES, que com o Programa de Sustentação
do Investimento (PSI), está, até dezembro de 2010, com o
custo financeiro de taxa fixa de 3,5% aa. Os produtores de
bateria são potenciais usuários dessa linha, que visa ampliar o
conteúdo tecnológico da produção local. Novos componentes,
como regeneradores de energia de frenagem, também
merecem especial atenção. Uma alternativa é a Linha de
Capital Inovador, que apoia empresas no desenvolvimento de
capacidade para empreender atividades inovativas em caráter
sistemático, por meio de investimentos tanto nos capitais
intangíveis quanto nos tangíveis, incluindo a implementação de
centros de pesquisa e desenvolvimento.
       Depois, quando a tecnologia atingir certo estágio de
maturidade, as pesquisas passam a envolver adaptações à
realidade regional, melhorias marginais nos sistemas ou
modernização da capacidade produtiva necessária à absorção
dos resultados do processo de pesquisa e desenvolvimento ou
inovação. Complementarmente, as montadoras iniciarão a
concepção de modelos. Nessa etapa, o apoio do Banco pode
ocorrer através de linhas e programas, como o Programa
BNDES Proengenharia e a Linha de Inovação Produção.
       O auxílio à implantação ou modernização de unidades
produtivas, a forma mais tradicional de atuação do BNDES, é
realizado através do Produto BNDES Finem. Idealmente, a
etapa de produção leva ao mercado produtos que incorporam
                                                             46 
 
tecnologias desenvolvidas localmente. O produto permite o
apoio à entrada de novos players, o que, em alguns casos,
pode assegurar a produção de certos componentes localmente.
        Naturalmente, os veículos elétricos comerciais –
comerciais leves, caminhões e ônibus – contarão com o apoio
à comercialização através do BNDES Finame e do Cartão
BNDES, desde que atingido o índice de nacionalização mínimo
de 60%. Adicionalmente, as linhas do BNDES Exim podem ser
utilizadas para financiar exportação de veículos e
componentes.
        Além dos pesados investimentos em desenvolvimento
tecnológico e implantação de unidades produtivas, são
esperadas operações de consolidação de empresas e entrada
de novos players, que podem contar com a participação do
Banco, através da BNDESPar, subsidiária do BNDES
responsável pelas operações da instituição no mercado de
capitais.

CONCLUSÕES
       O sucesso do veículo elétrico exige a superação de
obstáculos, como logística, infraestrutura e resistência dos
consumidores. A superação desses entraves na difusão de
veículos movidos a etanol no Brasil fundamenta a assunção de
perspectivas otimistas sobre o futuro da indústria automotiva
local.
       Perpassando todo o processo, conforme apontado nas
seções anteriores, a introdução de veículos elétricos será
responsável por um profundo rearranjo na indústria automotiva,
promovendo transformações na indústria. O setor precisará
acompanhar esse movimento, a fim de manter sua posição
como um dos principais produtores mundiais de veículos. Na
presença de diversas oportunidades para ampliar o conteúdo
tecnológico da produção local, as montadoras de veículos têm
função decisiva na inserção do Brasil neste novo paradigma.
       O ritmo de difusão do veículo elétrico, acelerado
recentemente por preocupações com segurança energética e

                                                           47 
 
meio ambiente, dependerá, além de fatores técnicos, como o
desenvolvimento tecnológico das baterias, de políticas públicas
de incentivo, já adotadas em diversos países. O BNDES
assume, portanto, papel central na articulação dos diversos
atores e no fomento a iniciativas visando à geração e a difusão
das novas tecnologias. A identificação de novas possibilidades,
com consequentes ações de fomento, será essencial.
        Os esforços governamentais devem almejar que o
Brasil, mais do que um simples produtor, consolide-se como
um polo desenvolvedor e exportador de tecnologia, como foi
alcançado no caso dos veículos a etanol. O leque de
instrumentos do BNDES está disponível para este objetivo.

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                                                                    49 
 
MOBILIDADE ELÉTRICA NO BRASIL,
             UMA OPÇÃO DE FUTURO
   Eletrobras investe em pesquisa e parcerias estratégicas
           para apoio ao desenvolvimento do tema

                                                               José Antonio Muniz Lopes*

        Orientada pela visão de ser referência mundial no
negócio de energia elétrica limpa e renovável, com eficiência,
rentabilidade e responsabilidade socioambiental, a Eletrobras
vem participando ativamente do projeto de desenvolvimento de
veículos elétricos (VEs), com apoio a pesquisas e ao
desenvolvimento do tema. A concretização do veículo elétrico
como uma opção para o transporte urbano nas grandes
cidades brasileiras é uma idéia totalmente em sintonia com a
missão e os objetivos das empresas Eletrobras. Devido à alta
eficiência dos motores elétricos, eles propiciam o uso racional
dos recursos naturais, além de não emitirem gás carbônico. A
utilização desses veículos representará, ainda, a uma maior
eficiência no uso da infraestrutura construída para atendimento
ao mercado de energia elétrica.
         Além dessas vantagens mais evidentes, uma análise
um pouco mais cuidadosa traz à tona outros aspectos que
justificam plenamente os investimentos no projeto do veículo
elétrico. Os benefícios ao meio ambiente e ao desenvolvimento
são indiscutíveis, assim como a necessidade da criação de
políticas adequadas e de tarifas diferenciadas. No que diz
respeito aos interesses do setor de energia, o fato de os
veículos serem utilizados essencialmente durante o dia
constitui-se uma importante vantagem. Dessa forma, o período
noturno poderá ser usualmente utilizado para a recarga das
                                                            
              *
                  Presidente da Eletrobras.
baterias, incentivando o deslocamento da carga para este
horário, fora do período de pico de consumo.
       Outra perspectiva vislumbrada é a futura integração dos
veículos elétricos com o setor de energia, no âmbito do
conceito conhecido mundialmente como smart grid. Esse
conceito considera a possibilidade de utilização da energia
armazenada nas baterias dos veículos conectados à rede, que
podem atuar, então, como fonte de energia distribuída. A
energia armazenada nas baterias pode ser devolvida à rede
nos horários de maior demanda, aliviando o sistema elétrico.
Imaginando-se um cenário futuro em que a quantidade de
veículos elétricos seja significativa, tal perspectiva torna-se
bastante interessante para o setor elétrico.
        Da mesma forma que a utilização do veículo elétrico
como opção em nossas grandes cidades ainda exigirá a
criação de políticas públicas adequadas, também a
concretização plena desse conceito depende de inúmeros
aprimoramentos tecnológicos. Atenta a essas perspectivas e
consciente da importância do desenvolvimento dos veículos
elétricos para a sociedade brasileira, a Eletrobras vem
incentivando os estudos dessas tecnologias em seu conjunto
de empresas. Além disso, convidou outras companhias de
energia da iniciativa publica e privada interessadas no assunto,
unindo forças e criando a massa crítica necessária ao
desenvolvimento do projeto, com ações sinérgicas e
aproveitamento do que cada instituição possui de melhor.
       Nesse sentido, a Itaipu Binacional vem tendo um papel
fundamental. Por intermédio de acordos de cooperação
tecnológica com a empresa KWO (Kraftwerke Oberhasli AG),
do ramo de hidrelétricas, a empresa viabilizou um projeto de
pesquisa para o desenvolvimento de veículos elétricos.
Denominado “Veículo Elétrico”, o projeto visa à transferência


                                                             51 
 
de know-how e à nacionalização dos componentes necessários
à produção de veículos elétricos no Brasil.
        O projeto teve início em 2005, durante visita do
presidente do conselho da KWO, Peter Schmid, a Itaipu,
decorrente do acordo de cooperação tecnológica previamente
existente. O objetivo inicial foi reunir esforços para o
desenvolvimento de um veículo elétrico, viável técnica e
economicamente, a partir de tecnologia existente e em uso em
caráter experimental nas instalações da empresa na Suíça.
Considerando a conformidade da proposta com as premissas
de preservação do meio ambiente e os benefícios da
transferência de tecnologia, a Eletrobras, em conjunto com a
Itaipu Binacional, firmou o convênio 8226/2006.
         Em função da abrangência e da complexidade
tecnológica exigidas pelo projeto, o convênio previu a inclusão
de entidades parceiras, ligadas tanto à Eletrobras e à Itaipu
quanto à KWO. Diversos ramos de atividades foram
identificados como essenciais ao projeto, tais como baterias,
acessórios eletrônicos, montadoras automotivas, motores
elétricos e sistemas de controle, concessionárias de energia
elétrica, institutos de pesquisa e universidades. Atualmente, o
grupo de empresas envolvidas no projeto inclui: Eletrobras,
Itaipu Binacional, Fiat, Iveco, Eletrobras Cepel, Copel, Lactec,
Ande, Cemig, CPFL, Ampla, Light, WEG, Correios, Eletrobras
Furnas, FPTE e Petrobras, além das empresas associadas à
KWO.
         Por meio de pesquisas, realizadas de forma coordenada
e sinérgica e com a parceria entre estas empresas e
instituições de ensino envolvidos, o grupo pretende
desenvolver tecnologia nacional para veículos movidos a
eletricidade, com vistas a uma série de benefícios diretos e
indiretos, dentre os quais se pode destacar: a preservação do
meio ambiente; a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologia

                                                             52 
 
nacional; a capacitação de profissionais; a aquisição de know-
how; a geração de emprego e renda; a utilização do veículo
elétrico em frotas próprias, reduzindo custos de combustível; a
otimização da curva de carga, ampliando o consumo fora do
horário de ponta para recarga das baterias (smart grid); a
indução à produção de componentes nacionais; e o fomento à
produção de veículos elétricos pelas indústrias brasileiras.
        Para condução do projeto, foram criados dois comitês,
com a participação de representantes de todas as empresas
envolvidas. Ao Comitê Gestor cabem as definições globais
sobre o projeto, as deliberações sobre propostas do Comitê
Técnico, o apoio à produção de componentes em território
nacional, e ações governamentais visando à obtenção de
recursos para P&D e de benefícios fiscais, com incentivo pela
preservação do meio ambiente. Já o Comitê Técnico tem como
atribuições o acompanhamento e a execução das pesquisas, a
avaliação e análise dos resultados, a proposição de novas
linhas de pesquisa e o subsídio ao Comitê Gestor nos aspectos
técnicos.
        A parceria com a Fiat e a Iveco foram fundamentais
para a montagem dos primeiros protótipos produzidos no
Brasil. Utilizando sua engenharia e conhecimentos na área
automotiva, as empresas integraram os componentes
eletrônicos da MES-DEA, parceira da KWO no projeto “Veículo
Elétrico”. Os protótipos, montados no Centro de Pesquisas e
Desenvolvimento de Veículos Elétricos (localizado nas
instalações da Itaipu Binacional), destinam-se à realização de
ensaios reais, com utilização, na prática, das inovações
desenvolvidas pelo projeto.
        Após uma série de ações, que incluíram a
transformação do Fiat Palio Weekend em protótipo de veículo
elétrico, a homologação do protótipo junto ao Denatran, a
criação de infraestrutura básica para recarga dos veículos

                                                            53 
 
elétricos, o treinamento básico para as empresas parceiras,
ações junto ao governo para propiciar a redução de impostos
para veículos não-poluentes e o desenvolvimento de protótipos
de veículos elétricos para pequenas cargas e miniônibus
elétricos, o projeto pode ser considerado um sucesso.
       Atualmente, mais de 30 unidades do protótipo, tendo
como base o Fiat Palio Weekend, já estão nas ruas, integrando
a frota das empresas parceiras (Eletrobras, Itaipu Binacional,
Fiat, Copel, CPFL, Ampla e Light). Os protótipos do caminhão
para pequenas cargas (tendo por base o Daily, da Iveco) e do
miniônibus (com chassi do Daily e carroçaria da Mascarello) já
foram desenvolvidos e estão em fase de avaliação.
        Foram      desenvolvidos,      ainda,     sistemas      de
condicionamento de ar para utilização em veículos elétricos –
nos quais os compressores tradicionais, acionados por motores
a explosão, não são aplicáveis – e protótipos nacionais de
power trains (sistemas de tração formados por conjuntos motor
e inversor) para uso nos veículos em desenvolvimento. Estão
em versão preliminar eletropostos que já permitem o
reabastecimento e, futuramente, permitirão a tarifação da
energia utilizada. E foram iniciados os estudos para verificar a
adequação do uso dos veículos elétricos no conceito smart
grid, com a integração à rede elétrica e a fontes alternativas.
       Ao mesmo tempo em que os avanços já alcançados
apontam o sucesso da iniciativa, colocam no horizonte novos
desafios, exigindo novas pesquisas e orientando, assim, os
próximos passos da fecunda parceria criada. Ao longo do
desenvolvimento do projeto, a Eletrobras identificou, por
exemplo, que o ponto crucial do veículo elétrico está no
acumulador de energia, o que requer o uso de baterias com
tecnologia avançada. O desenvolvimento dessas baterias será
extremamente benéfico, já que elas se prestam não apenas
aos veículos elétricos, mas também à armazenagem de

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energia de qualquer fonte, beneficiando, particularmente, a
geração eólica e a fotovoltaica, além de outras fontes de
energia alternativa.
        O projeto desenvolvido constitui, por outro lado, uma
significativa análise de contexto sobre os desafios tecnológicos
a serem vencidos para transformar o Brasil num importante
player no segmento de veículos elétricos. O que se constatou é
que a indústria nacional encontra-se alinhada a boa parte das
modernas soluções utilizadas nos Estados Unidos e na Europa,
requerendo esforços complexos, porém compatíveis com o
cronograma projetado para este segmento.
        No que tange às baterias modernas, aplicadas à tração
elétrica, existe uma grande lacuna na indústria nacional,
consequência sobretudo dos altos investimentos requeridos,
das incertezas relativas à produção e da inexistência de
mercado. Para fazer frente a esta fraqueza, a Eletrobras e a
Itaipu Binacional realizaram gestões junto ao Ministério de
Ciência e Tecnologia e à Finep para o desenvolvimento de
baterias modernas, utilizando o know how das parcerias
internacionais e criando infraestrutura e recursos humanos
necessários para o desenvolvimento e a produção, no Brasil,
de baterias de sódio.
        Embora tenham sido pesquisadas outras baterias, as de
sódio, similares à Zebra, do fabricante MES-DEA, apresentam
vantagens insuperáveis frente a outros modelos: são
recicláveis, os materiais são facilmente utilizados na indústria,
apresentam peso reduzido quando comparadas às baterias de
chumbo ácido de mesma capacidade de armazenamento (um
terço do peso), não possuem efeito memória e usam matéria-
prima abundante.
       Utilizando-se de mecanismos de transferência de
tecnologia, o projeto está em fase inicial de desenvolvimento e
é mais uma prova dos benefícios que podem advir da
                                                              55 
 
importante parceria entre empresas públicas e privadas e
instituições de ensino. As empresas Eletrobras têm absoluta
crença na validade do projeto dos veículos elétricos e
continuarão investindo em pesquisa e desenvolvimento de
tecnologias, incentivando a formação de parcerias em benefício
do futuro de nosso país e do planeta.
        Além das iniciativas com projetos desta natureza, tem
se verificado em outras partes do mundo para a fabricação de
carros elétricos, que dependem de investimentos no seu
desenvolvimento, mercado consumidor que viabilize a
fabricação e outros tipos de incentivos.
        Estudos iniciais indicam que no Brasil um programa que
tenha uma abrangência para o desenvolvimento e a utilização
do carro elétrico, contribuiria com uma redução de cerca de 20
Mt de gás carbônico em veículos de passageiros e comerciais,
considerando-se uma frota de cerca de 10% utilizando esta
tecnologia. O tamanho do mercado automobilístico brasileiro,
as metas de redução previstas, a infraestrutura do sistema
elétrico nacional já disponível e a possibilidade da
competitividade das tarifas a serem praticadas seriam fatores
motivadores para que grandes montadoras instalassem seu
parque fabril no país.
       A participação de entidades do governo e da iniciativa
privada na elaboração do plano, nas diversas vertentes do
conhecimento, é fator critico de sucesso, e uma empresa no
setor elétrico junto de outros catalisadores para o setor
automobilístico pode levar ao sucesso do programa. As
empresas Eletrobras têm absoluta crença na validade do
projeto dos veículos elétricos e continuarão investindo em
pesquisa e desenvolvimento de tecnologias, incentivando a
formação de parcerias em benefício do futuro de nosso país e
do planeta.


                                                           56 
 
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Estratégia para implantação do carro elétrico no Brasil

  • 1.
  • 2.
  • 3. Cadernos Fórum Nacional 10 ESTRATÉGIA DE IMPLANTAÇÃO DO CARRO ELÉTRICO NO BRASIL Coordenador João Paulo dos Reis Velloso Colaboradores Sergio Rezende, Ronaldo Mota e Adriano Duarte Luciano Galvão Coutinho, Bernardo Hauch Ribeiro de Castro e Tiago Toledo Ferreira José Antonio Muniz Lopes ● Nelson Barbosa Dyogo Oliveira e Jose Antonio P. Souza Jackson Schneider ● Pietro Erber ● Denise Menchen Fabiano Mezadre Pompermayer Carlos Ghosn ● Shai Agassi ● Roberto M. Torresi Nerilso Bocchi, Romeu C. Rocha-Filho e Sonia R. Biaggio ● Ana Maria Rocco Instituto Nacional de Altos Estudos, INAE Rio de Janeiro, 2010
  • 5. Sumário Introdução: estratégia de implantação do carro elétrico no Brasil João Paulo dos Reis Velloso Os veículos elétricos e as ações do Ministério da Ciência e Tecnologia Sergio Rezende, Ronaldo Mota e Adriano Duarte Veículo elétrico, políticas públicas e o BNDES: oportunidades e desafios Luciano Galvão Coutinho, Bernardo Hauch Ribeiro de Castro e Tiago Toledo Ferreira Mobilidade elétrica no Brasil, uma opção de futuro José Antonio Muniz Lopes Carro elétrico: desafio e oportunidade para o Brasil Nelson Barbosa, Dyogo Oliveira e Jose Antonio P. Souza As duas estruturas de incentivo Nelson Barbosa, Dyogo Oliveira e Jose Antonio P. Souza Carro elétrico: em busca da viabilidade Jackson Schneider Automóveis elétricos a bateria: uma política para sua utilização no Brasil Pietro Erber Carta de Campinas Documento final do 6º. Seminário de Veículos Elétricos, organizado pela Associação Brasileira do Veículo Elétrico, ABVE e o Instituto Nacional de Eficiência Energética, INEE Governo culpa carro e moto por poluição Denise Menchen (reportagem na “Folha de São Paulo”)
  • 6. 1º. Inventário nacional de emissões atmosféricas por veículos automotores rodoviários (excerto do Sumário Executivo) Ministério do Meio Ambiente Etanol: veículos elétricos: via de mão única dupla? Fabiano Mezadre Pompermayer (Ipea) O carro elétrico é presente, não futuro Entrevista de “Época” com Carlos Ghosn, presidente mundial da Renault-Nissan Ferrari verde e Citröen elétrico na onda ecológica de Genebra Reportagem de “O Globo” Renault-Nissan e Prefeitura fazem acordo para uso de elétricos em São Paulo Divulgação da “UOL Carros” Switched-on highways: electric cars are cheaper and faster than any hybrid on the market Shai Agassi (entrevista a Fareed Zakaria, Tim Wagner–Zuma Press) Projeto de carro elétrico à base de baterias de íon-lítio Roberto M. Torresi Veículos elétricos: perspectivas de uso de baterias de íon-lítio Nerilso Bocchi, Romeu C. Rocha-Filho e Sonia R. Biaggio Carros elétricos e as baterias de íon-lítio: estado atual de desenvolvimento e perspectivas tecnológicas Ana Maria Rocco 6   
  • 7. Introdução: Estratégia de Implantação do Carro Elétrico no Brasil João Paulo dos Reis Velloso* É chegado o momento de o Brasil acordar para o fato de que está atrasado na corrida para o Carro Elétrico, quando deveria estar na vanguarda – como fez em relação ao Carro a Etanol. ALTA PRIORIDADE DA IMPLANTAÇÃO DO CARRO ELÉTRICO NO PAÍS Em primeiro lugar, consideremos o que mostra estudo recente do Ministério do Meio Ambiente: o carro e a motocicleta são os grandes responsáveis pela poluição nas cidades brasileiras. “A frota de carros e motocicletas emite 40 vezes mais CO (Monóxido de Carbono) do que a frota de ônibus urbano”. Tomando os números: “Em 2009, as emissões de CO por parte de carros e motos corresponderam a 83% do total desse gás... Os ônibus responderam por 2%”. “E o número de usuários foi equivalente.” Segundo, em termos de eficiência energética, o Carro Elétrico está à frente, “no tráfego urbano, em especial quando em baixas velocidades e constantes acelerações e frenagens”. Ao lado disso, os Carros Elétricos são também vantajosos em termos de poluição sonora, pois os motores                                                              * Coordenador-geral do Fórum Nacional, Presidente do Ibmec-Mercado de Capitais e professor da EPGE (FGV). Ex-ministro do Planejamento.
  • 8. elétricos são silenciosos, diferentemente dos motores a combustão. Vantagem financeira: “O custo do quilômetro rodado é mais baixo e o custo de manutenção igualmente”. Em terceiro lugar, devido a esse conjunto de razões, existe um Ciclo de Transformação na Indústria Automobilística Mundial, impulsionado pelo Carro Elétrico. Se, nesse cenário de “Inovação Radical”, o Brasil ficar de fora, poderá ter grandes perdas, em termos de produção e exportações de carros, assim como de autopeças (setor importante para o País). Note-se que o mercado mundial se volta para o Carro Elétrico tendo uma Matriz de Energia desfavorável. Já a Matriz do Brasil é favorável, principalmente considerando o nosso enorme potencial hidroelétrico. Importante assinalar: o que se visualiza é um cenário em que, num certo período, as três Tecnologias coexistam. Mas há uma tendência a um grande impulso na área do Carro Elétrico. Que se estabeleça, digamos, a meta de ter algo como 10% de produção (não de estoque) de Carro Elétrico em cerca de cinco anos. É como se a montadora passasse a ter mais um modelo de automóvel. Para isso, necessidade de uma “ESTRATÉGIA DE IMPLANTAÇÃO DE CARRO ELÉTRICO NO BRASIL”, fazendo o sistema de incentivos convergir para o engajamento das montadoras e o interesse de compradores. LINHAS MESTRAS DA ESTRATÉGIA E PAPEL DAS DIFERENTES ENTIDADES 8   
  • 9. A primeira linha mestra deve referir-se aos Incentivos Fiscais. E, nisso, o papel do Ministério da Fazenda é crucial: de um lado, definir a alíquota de IPI específica para veículos elétricos e seus componentes. O caso do Imposto de Importação é, também, relevante, assim como o PIS-COFINS. A segunda linha mestra refere-se aos incentivos ao Desenvolvimento Tecnológico, dentro da orientação de Creative Catching-Up, no caso das empresas estrangeiras. Ou seja, Importação de Tecnologia, com criatividade. Isso permitirá tornar o Brasil plataforma de desenvolvimento de produtos para a América Latina, África e, em geral, países emergentes. Nessa área, deve-se destacar o papel do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), com seus dois principais órgãos: FINEP e CNPq. Os instrumentos, claro, deverão ser o SIBRATEC (Sistema Brasileiro de Tecnologia), com ênfase, agora, na Inovação aplicada ao Carro Elétrico e a seus componentes; e a Subvenção Econômica, com o mesmo objetivo. O BNDES, como “principal provedor de crédito de longo prazo” e agente relevante do Mercado de Capitais, tem papel essencial a desempenhar na ESTRATÉGIA DE IMPLANTAÇÃO DO CARRO ELÉTRICO. Além disso, a abrangência do tema requer a adoção de políticas transversais, com o envolvimento de diversos agentes na construção deste projeto. Nesse sentido, cabe ao BNDES ser um dos principais articuladores de um projeto estruturante, que viabilize a produção de veículos elétricos no Brasil. Papéis essenciais devem, também, desempenhar a ELETROBRAS, a PETROBRAS (estrutura de recarga) e as Distribuidoras de Energia. É a “Opção de Futuro” a que se 9   
  • 10. refere o Presidente da ELETROBRAS, em seu artigo, neste livro. Nesse campo (estímulo ao Desenvolvimento Tecnológico), cabe referência à comparação entre duas estruturas propostas para o incentivo ao Carro Elétrico: o SIBRATEC (e outros mecanismos), na área do MCT, e o Centro de Inovação em Veículos Elétricos, proposto pela área da Secretaria de Política Econômica do MF. A conclusão é: “As duas propostas não são conflitantes nem superpostas, são complementares. Vejamos. Esse Centro, se criado, será um cliente para os programas de formação de pessoal, um membro das Redes Tecnológicas, e um parceiro das Empresas nos projetos contemplados no programa de Subvenção Econômica”. A terceira linha mestra implica “dar continuidade ao processo de restrição de emissões, gerando, assim, incentivo para novos padrões tecnológicos. Em particular, faz-se necessária uma nova geração de padrões que leve em consideração não apenas a emissão durante o uso do veículo, mas também ao logo de toda a cadeia produtiva do combustível e do veículo”. DESAFIOS A SUPERAR O grande desafio tecnológico a superar é a bateria, que hoje – e durante bastante tempo – é à base de íons de lítio. A bateria determina a autonomia do veículo, o preço e o tempo de recarga. A questão é saber se esses problemas se resolvem com a produção em larga escala. E se é possível, em prazo razoável, ter maior disponibilidade de lítio, hoje um material escasso. 10   
  • 11. Ainda um problema: hoje não se produzem baterias de íon de lítio no Brasil, cuja fabricação é dominada por empresas asiáticas. E desvincular o início de produção do Carro Elétrico da fabricação de baterias adequadas no País não parece indicado. Daí a necessidade de esforço especial no sentido de contornar a dificuldade de reduzir o hiato ao menor prazo possível. Dois outros elementos críticos são o Sistema de Controle Eletrônico e os Motores Elétricos. Entretanto, nesses casos, o problema parece ser de fácil superação. Destacar, igualmente, o desafio da construção da Infraestrutura de Recarga (a geração de Energia não parece constituir obstáculo). Estamos falando, essencialmente, de um sistema de Eletropostos, o que pode acontecer até conjugado ao já existente sistema de postos de gasolina (a PETROBRAS já tem Eletropostos). É importante também que o país promova “a adequação do seu planejamento energético à previsão do uso crescente de veículos elétricos para os próximos dez anos”. Tal adequação significa não apenas o aumento da geração de Energia Elétrica (essencialmente, Hidroelétrica), mas também “pesquisas sobre administração de redes e fornecimento de fontes de carregamento em voltagem adequada às necessidades do sistema de transporte.” CONCLUSÕES: DOIS TIPOS DE COMPLEMENTAÇÃO O primeiro tipo de complementação é com o sistema econômico relativo ao Carro de Etanol. Isso poderia ser feito através do uso do etanol no transporte de cargas (caminhões) 11   
  • 12. e nos ônibus. E até mesmo em automóveis de grande porte (grandes sedans, vans). Tudo isso, possivelmente, em veículos híbridos. A outra complementação é com o transporte público, que deve ser realizado, essencialmente, através de metrô, trem e VLT (veículo leve sobre trilho). Com isso se evitariam declarações como a do (então) Ministro Minc: o resultado do estudo sobre emissões em transporte (já mencionado) “revela a falência do modelo de transporte público no Brasil”. O Brasil está diante de uma nova e importante oportunidade, que justifica a nossa mobilização para desenvolvê-la. Nas palavras do Presidente da ANFAVEA: “...O fato é que o Brasil, por suas autoridades governamentais, entidades de ensino e pesquisa, Indústria Automotiva, deve acompanhar a tendência mundial em torno desses veículos (elétricos)...” E mais: no Brasil, governo, ciência e iniciativa privada haverão de construir soluções para o Veículo Elétrico brasileiro, com o mesmo empenho que demonstramos no Pro-álcool e no veículo flex, como também no recém iniciado programa do BIODIESEL. 12   
  • 13. OS VEÍCULOS ELÉTRICOS E AS AÇÕES DO MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA Sergio Rezende*, Ronaldo Mota** e Adriano Duarte*** INTRODUÇÃO O expressivo desenvolvimento da indústria automobilística no século passado veio acompanhado de preocupações crescentes com a poluição gerada pelos veículos que utilizam motores a combustão. Ao longo das últimas décadas, liderados pelos países desenvolvidos, foram estabelecidos limites cada vez mais restritivos para as emissões veiculares como um todo, levando à necessidade de importantes desenvolvimentos tecnológicos nos motores e veículos. Já nos últimos anos, com a ocorrência das preocupações com o aquecimento global causado pelas emissões de gases efeito estufa, a demanda por redução das emissões veiculares aumentou, estimulando ainda mais a investigação de tecnologias inovadoras para a propulsão veicular. Em termos globais, os biocombustíveis, área onde o Brasil é pioneiro com a utilização do etanol em larga escala, apresentaram-se como uma resposta parcial ao problema. Os programas de desenvolvimento da tecnologia do hidrogênio e célula a combustível para geração de energia e propulsão de veículos são exemplos. Recentemente os veículos ecológicos têm ocupado posições de destaque nos salões do automóvel de Nova York, Genebra e Detroit, incluindo modelos acionados apenas por baterias, híbridos que combinam gasolina, diesel e eletricidade, veículos “flex”, que utilizam biocombustíveis e carros                                                              * Ministro da Ciência e Tecnologia, MCT. ** Secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCT *** Coordenador geral de Tecnologias Setoriais do MCT
  • 14. convencionais pequenos mais econômicos. Na feira de Xangai, este ano, serão demonstrados cerca de 100 veículos a hidrogênio e o maior posto de abastecimento desse combustível1 do mundo. Grande atenção vem sendo despertada pelos veículos elétricos, entendidos como os que possuem pelo menos um motor elétrico envolvido com a sua tração. Os veículos elétricos têm como vantagens a eficiência do motor elétrico e as emissões de poluentes e gases de efeito estufa desprezíveis no local de uso. Sua adoção em larga escala contribuiria, por exemplo, para a redução das emissões nas grandes metrópoles2. Eles também têm operação silenciosa, alto torque em velocidade baixa, tecnologia bem conhecida e mais simples e eficiente que a do motor a explosão. As desvantagens estão relacionadas ao custo desses veículos, da ordem de duas vezes o dos veículos atuais equivalentes e às baterias que armazenam a energia para a sua tração, envolvendo o seu peso, volume e custo, o tempo de recarga e o tempo de vida (New York Times, 2009). Isso sem falar nas questões ambientais – a maioria das baterias contém ácidos e metais-pesados o que torna imperativo o desenvolvimento das tecnologias para a indústria da reciclagem. O CARRO ELÉTRICO E O CONTEXTO GEOPOLÍTICO DOS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS O setor de transporte é responsável pela alta demanda de combustíveis líquidos no mundo em sua maioria derivados de petróleo. Segundo o “World Energy Outlook 2009”, estudo publicado pela Agencia Internacional de Energia - AIE, que aborda as perspectivas energéticas mundiais até 2030, a demanda por mobilidade e serviços relacionados à eletricidade                                                              1 Na realidade o hidrogênio pode ser mais apropriadamente entendido como uma fonte energética. 2 Entretanto ainda não estão disponíveis avaliações do ciclo de vida para identificação de suas reais emissões. 14   
  • 15. vai continuar a crescer de forma ampla em linha com o PIB dos países, mas espera-se uma taxa de crescimento menor que no passado, devido às políticas e subsídios aos ganhos em eficiência energética. O estudo apresenta dois cenários para 2030: o Cenário de Referência, que representa a evolução do quadro energético mundial seguindo as práticas atuais, no qual a concentração de gases de efeito estufa alcançaria mais de 1000 ppm de CO2 equivalente; e o Cenário 450, que estima como esse quadro deveria evoluir para que a concentração de CO2 fique limitada a 450 ppm. No Cenário de Referência a demanda de energia primária aumentaria à taxa de 1,5% ao ano, de 2007 a 2030, envolvendo investimentos de US$ 26 trilhões nesse período. Já no Cenário 450 a taxa média de crescimento da demanda seria reduzida para 0,8% ao ano, sendo que os investimentos necessários alcançariam US$ 36,5 trilhões, até 2030, sendo que 45% desse total seriam destinados à modificação dos sistemas de transportes, inclusive a modificação das frotas de veículos, com a difusão do emprego de veículos acionados eletricamente. O cenário 450 representa um formidável desafio para a humanidade, pois implica na implantação de políticas rígidas em nível global, principalmente considerando-se que cerca de 90% do crescimento da demanda mundial de energia até 2030 virão dos países não pertencentes à OECD3, justamente os menos desenvolvidos e mais necessitados de levar energia (a baixo custo) para proporcionar o bem estar e desenvolvimento social e econômico às suas populações.                                                              3 “Organization for Economic Cooperation and Development” (OECD). Membros: Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, República Tcheca, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Islândia, Irlanda, Itália, Japão, Coréia, Luxemburgo, México, Holanda, Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal, República Eslovaca, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos. 15   
  • 16. As projeções da AIE indicam, para o Cenário de Referência, que em 2030, o setor de transportes será o maior consumidor de energia, ultrapassando inclusive o setor industrial (Fig. 1), sendo previsto um incremento do uso global de energia para o setor de transportes de 1,4% ao ano até 2030. Observa-se ainda que o setor de transportes é movido majoritariamente por derivados de petróleo, sendo previsto que em 2030 haverá pequeno incremento relativo no uso da biomassa (biocombustíveis) e eletricidade, sendo que para o Cenário 450 haveria redução de 18% no consumo de derivados de petróleo e aumento de mais de 100% da utilização de combustíveis renováveis e eletricidade. Fig. 1 – Consumo final de energia por fonte e setor no cenário de referência Fonte: World Energy Outlook 2009 Entre as formas finais de energia o consumo de energia elétrica continuará a crescer rapidamente no período como resultado do incremento de demanda por eletrodomésticos, equipamentos industriais e comerciais elétricos em linha com o aumento de prosperidade dos países. No Cenário de Referência, o uso mundial de energia elétrica crescerá, em media, a uma taxa de 2,5% por ano e a sua parcela no consumo final de energia crescerá de 17% em 2007 para 22% em 2030. A geração de energia elétrica deverá crescer de 24.350 TWh em 2007 para 34.290 TWh em 2030, 16   
  • 17. sendo produzida principalmente através de combustíveis fósseis: carvão e gás natural. A parcela da energia gerada através de fontes de energias renováveis (excetuando-se hidroelétrica de grande porte) - biomassa, eólica, solar, geotérmica, ondas e mares, continuará a crescer em sua participação no mercado, passando de 2,5% em 2007 para 9% em 2030. A geração hidroelétrica deverá sofrer pequena redução na sua participação em termos globais. A geração térmica a carvão dobrará nesse período, com o carvão permanecendo como o principal combustível para geração de energia elétrica, seguido pelo gás natural. Cabe comentar que nesse cenário é previsto que a eficiência energética da geração térmica a carvão está projetada para crescer de 35% em 2007 para 40% em 2030, a medida que novas plantas de geração forem construídas utilizando tecnologias mais avançadas (Fig. 2). Fig. 2 – Geração global de energia elétrica por combustível no  Cenário de Referência  Fonte: World Energy Outlook 2009  Do cenário prospectivo mundial, conclui-se que o setor de transporte pode se constituir em um claro exemplo da 17   
  • 18. complementaridade entre as políticas de mudanças climáticas e de segurança do abastecimento energético. O aumento de eficiência e da diversificação das fontes energéticas atende os abrangentes desafios de simultaneamente cortar as emissões de CO2 do setor de transporte e reduzir as importações de petróleo, melhorando portanto a segurança energética. Nesse aspecto o Brasil com seu programa de etanol, o Proálcool, iniciado há mais de 30 anos, é pioneiro e líder na utilização dos biocombustíveis em sua frota automotiva, sendo que hoje cerca de metade do combustível utilizado nos veículos de passeio é renovável, situação extremamente confortável tanto pela redução de emissões quanto por estar contribuindo de forma efetiva para a segurança energética do país. Com relação geração de energia elétrica a situação do Brasil também é bem mais confortável que a projeção global apresentada pelo estudo da AIE. Como comparação, o gráfico a seguir (Fig. 3) apresenta a estrutura de oferta de eletricidade no Brasil, em 2008. Pode- se observar que o Brasil apresenta uma matriz de geração elétrica de origem predominantemente renovável, sendo que a geração interna hidráulica responde por montante superior a 70% da oferta. Somando-se às importações, que essencialmente também são de origem renovável, pode-se afirmar que aproximadamente 80% da eletricidade no Brasil é originada de fontes renováveis – sem considerar que parte da geração térmica é proveniente de biomassa. Na média mundial, fontes renováveis correspondem a apenas 15,6% da geração de eletricidade (BEN 2009). Portanto observa-se uma grande diferença entre as motivações que encaminham à discussão da introdução do carro elétrico no mercado mundial e no Brasil. Mesmo considerando as vantagens de maior eficiência energética e menores emissões, na agenda mundial essa tecnologia tem como apelo importante a redução da dependência em relação ao petróleo importado e a maior autonomia energética. Já no caso brasileiro, a situação é mais confortável, quer pela auto- 18   
  • 19. suficiência em petróleo quer pela disponibilidade do etanol e biodiesel. Fig. 3 – Energia elétrica – Estrutura da oferta interna segundo a  fonte primária de geração  Fonte: Balanço Energético Nacional – 2009  Sobre esse aspecto o “World Energy Outlook 2009” comenta que, para o Cenário 450, a redução da utilização de derivados de petróleo no setor de transporte e a penetração dos veículos elétricos no mercado variam de acordo com as circunstancias regionais, citando como exemplo o Brasil, onde a frota utilizando biocombustíveis já atende, a um custo competitivo, as metas que as outras economias deverão atender em 2030. Por outro lado regiões que têm limitada condição de crescimento sustentável e barato de biomassa, tendem a favorecer a introdução de veículos elétricos híbridos e elétricos ao invés de biocombustíveis. Adicionalmente regiões urbanas densamente populosas incluindo aquelas nos EUA, China e União Européia podem favorecer a introdução de carros elétricos para reduzir a poluição local (World Energy Outlook 2009, pag. 244). Cabe destacar, no entanto, que a introdução de uma nova tecnologia no mercado automobilístico pode se 19   
  • 20. apresentar como uma oportunidade interessante para a indústria brasileira. OS ESFORÇOS PARA A INTRODUÇÃO DOS VEÍCULOS ELÉTRICOS NO MERCADO Com a crescente conscientização da possibilidade de efeitos climáticos adversos devido às emissões de gases de efeito estufa, em especial pela queima de combustíveis fósseis, vários países vem adotando políticas de restrição dessas emissões e investimento em tecnologias “limpas” ou de baixo carbono. Em particular, no setor de transportes, vislumbra-se a oportunidade de um grande desenvolvimento tecnológico em “veículos verdes”, o que está levando a uma corrida por esse novo mercado. De acordo com as potencialidades e capacidades regionais, os países e empresas apostam em diversas possibilidades complementares para o desenvolvimento de veículos “ambientalmente amigáveis”, entre eles: biocombustíveis, motores e veículos mais eficientes, veículos híbridos, elétricos e a célula a combustível e desenvolvimento de novos acumuladores de energia. Os desafios para a introdução dos veículos elétricos, nas suas mais diversas modalidades, no mercado mundial são imensos. Uma nova normalização terá que ser desenvolvida, novos componentes deverão ser projetados, um novo conceito de “postos de abastecimento” deverá ser implantado, e a infra- estrutura de energia elétrica devera ser adaptada e expandida. Adicionalmente, como em toda tecnologia inovadora, mecanismos de incentivos e de fomento necessariamente deverão ser implementados. O maior obstáculo para a introdução dos veículos elétricos no mercado é o seu elevado custo. Segundo estudo do “National Research Council” as baterias são o elemento 20   
  • 21. determinante no custo e autonomia desses veículos, sendo que existe grande esforço no desenvolvimento de baterias avançadas (incluindo as de Lítio), mas ainda não foram atingidos os objetivos essenciais de custo, vida útil e peso. Espera-se que rupturas tecnológicas possam contribuir para a redução do custo e peso das baterias, porém ainda não está claro que tipo de ruptura pode se tornar comercialmente viável. Por outro lado, mesmo que elas ocorram dentro da próxima década, não terão muito impacto nas emissões de gases de efeito estufa antes de 2030, pois serão necessários alguns anos para que um número significativo de veículos incorpore as novas tecnologias na estrada. Segundo as estimativas apresentadas no estudo norte americano, os custos de adicionais de fabricação para os veículos híbridos, similares ao “Prius” da Toyota (PHEV-10) e ao Volt da GM (PHEV-40), em comparação aos veículos tradicionais, podem variar de US$ 7.000 a US$ 18.000, sendo esperado que esses valores estejam na faixa de US$ 4.000 a U$ 11.000 em 2030. O ponto de equilíbrio econômico considerando o desenvolvimento tecnológico e a comparação com os custos do petróleo poderá ser atingido em 2047 (Tabela 1). Tabela 1 – Custos incrementais estimados para veículos híbridos Fonte: National Academy of Sciences, Transitions to Alternative Transportation Technologies--Plug-in – Hybrid Electric Vehicles – 2009 21   
  • 22. Conscientes das dificuldades para a introdução da nova tecnologia envolvendo veículos mais “ambientalmente amigáveis” e também da ameaça à sua indústria automobilística caso não estejam aptos a concorrer nesse novo mercado global4, os países estão implementando diversas políticas de incentivos a veículos limpos e em especial aos veículos elétricos. Estados Unidos, China, Países da União Europeia, Inglaterra e Japão entre outros, movimentam-se no apoio à pesquisa, implantação de infra-estrutura e incentivos à indústria e aos adotantes iniciais desses veículos. Pode-se citar, por exemplo, o recente anúncio do governo norte americano que concedeu US$ 2,4 bilhões em recursos federais para empresas e universidades para o desenvolvimento de energias renováveis, em particular de baterias e veículos híbridos e elétricos, além de um subsídio de US$ 7.500 por veículo para a aquisição de veículos elétricos e a China, que estabeleceu um programa de US$ 1.5 bilhão para a inovação na sua indústria automobilística, além de um subsídio de US$ 8.800 para o comprador do veículo elétrico. O BRASIL E SEU MERCADO AUTOMOBILÍSTICO A evolução da indústria automotiva nacional, ao longo dos últimos anos, contribuiu para que o Brasil viesse a ocupar                                                              4 Sobre esse aspecto em 9 de fevereiro último, por ocasião da reunião do Conselho informal dos ministros europeus da indústria e da pesquisa, foi discutido relatório examinando os desafios para a Europa fazer emergir uma indústria competitiva para os veículos elétricos. O objetivo da reunião foi a promoção de uma estratégia que, dentro dos próximos meses, permitirá às indústrias européias competirem com seus concorrentes japoneses, americanos e chineses. Fonte:ABVE,05/03/2010 http://www.abve.org.br/destaques/2010/destaque10006.asp 22   
  • 23. posição de destaque na indústria automobilística mundial: a produção nacional ocupa a sexta colocação na escala internacional, o consumo interno (licenciamentos de veículos nacionais e importados) nos classifica como o 5º maior mercado consumidor de auto-veículos, e somos o 12º maior exportador e o 13º maior importador. O Brasil é líder na produção de veículos que utilizam combustível de origem renovável e ostenta ampla vantagem competitiva nesse segmento. O licenciamento de veículos leves em janeiro de 2010 teve um crescimento de 6% em relação a janeiro de 2009, atingindo a marca de 201 mil unidades. Desse total, os carros flex-fuel representaram 85,3%. Entre 2003 e 2009, foram comercializados mais de 9,8 milhões de veículos flex-fuel e sua participação estimada na frota total de veículos leves é de 34%. Atualmente, a indústria automobilística nacional compreende 19 montadoras com 40 fábricas distribuídas em 8 estados e 36 municípios e capacidade para produzir 4,0 milhões de auto-veículos por ano. A indústria automotiva brasileira também é responsável pela existência de mais de 500 fabricantes de autopeças, aproximadamente 4,3 mil concessionários e a geração de 1,5 milhão de postos de trabalho diretos e indiretos, destacando-se, em 2009, 124,4 mil empregos diretos nas montadoras. Desde 1957 até dezembro de 2009, foram produzidos no Brasil 45,7 milhões de automóveis, 8,6 milhões de veículos comerciais leves, 3,4 milhões de caminhões e 765 mil ônibus, totalizando 58,5 milhões de unidades (Fig. 4). Neste mesmo período (1957/2009), as vendas/licenciamento de automóveis novos alcançaram 50,0 milhões de veículos, sendo 39,0 milhões de automóveis, 7,5 milhões de comerciais leves, 2,9 milhões de caminhões e 549 mil ônibus. 23   
  • 24. Produção Brasileira de Autoveículos 1957-2009 em milhões de unidades - montados e desmontados 50,0 45,7 45,0 40,0 35,0 30,0 25,0 20,0 15,0 8,6 10,0 3,4 5,0 0,8 0,0 Automóveis Comerciais Leves Caminhões Ônibus Fonte: ANFAVEA Elaboração: MF/SPE Fig. 4 – Produção brasileira de autoveículos 1957 – 2009 em milhões de unidades Fonte ANFAVEA / MF-SPE A partir de 2000, o setor experimentou forte crescimento no número de unidades produzidas, que saltou de 1,7 milhão em 2000 para 3,2 milhões de unidades, em 2009. Desde 2003 foram apurados recordes sucessivos de unidades produzidas anualmente. Em decorrência do desaquecimento econômico global, que teve início a partir do último trimestre de 2008, houve uma desaceleração nas taxas de crescimento da produção e vendas. A produção de dezembro daquele ano foi 47% inferior à quantidade produzida no mês anterior, novembro, e 54,1% menor que os números de dezembro de 2007 (Fig. 5). 24   
  • 25. Fig. 5 – Produção da indústria automobilística Fonte ANFAVEA / MF-SPE Produção indústria automobilística 3.500 600 Automóveis (E) 3.000 Comerciais leves (D) 500 Caminhões (D) 2.500 Õnibus (D) 400 2.000 300 1.500 200 1.000 100 500 0 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Fonte: ANFAVEA Elaboração: MF/SPE No setor automotivo cabe destacar o de autopeças. Com faturamento previsto de US$ 40 bilhões para 2010 esse setor é responsável por exportações de US$ 6,8 bilhões em 2010, já tendo atingido a marca de US$ 10 bilhões em 2008, antes da crise. O setor exporta para mais de 20 países, principalmente Argentina, Estados unidos, Alemanha e México. Dentro do cenário de inovação tecnológica radical no setor automobilístico que está ocorrendo no mundo, o Brasil pode facilmente perder a sua posição significativa na produção
  • 26. de veículos e autopeças e passar a ser importador das novas tecnologias. Devem ser adotados mecanismos que permitam à indústria nacional realizar a transição para ser fornecedora de componentes e sistemas para os novos veículos verdes, nas suas diversas configurações possíveis, focando para além do mercado nacional, pois apesar do Brasil, com os biocombustíveis, já atender os requisitos de emissões de carbono que muitos países pretendem alcançar em 2030, haverá a necessidade e a oportunidade da adaptação da indústria nacional para esse novo mercado. AÇÕES DO MCT NO APOIO AOS VEÍCULOS ELÉTRICOS De modo geral a tecnologia inovadora tem custos maiores que as convencionais e já disponíveis no mercado. É somente através do aprendizado proporcionado pela pesquisa, demonstração e introdução inicial no mercado é que essas tecnologias tornar-se-ão econômicas e levarão à inovação. Novas tecnologias requerem, em certo estágio de seu desenvolvimento, o estímulo à pesquisa e à demanda inicial para introdução futura no mercado. Em casos nos quais se pretende rápido desenvolvimento, tanto o estímulo quanto a demanda inicial necessitam ser organizados e apoiados pelos governos. Como exemplo pode-se citar a recente implantação do programa de biodiesel brasileiro, no qual ações de estímulo ao mercado, regulação e incentivos tributários, foram complementadas por ações de pesquisa, capacitação laboratorial e formação de recursos humanos especializados. Dentro desse contexto, o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), com relação às tecnologias inovadoras no setor automotivo, atua no desenvolvimento da pesquisa, formação de recursos humanos e apoio às empresas inovadoras. Para exercer as suas atividades o Ministério dispõe de duas agências de fomento para a implementação das ações: o CNPq voltado ao fomento da formação de recursos humanos e 26   
  • 27. pesquisa acadêmica e a FINEP voltada a projetos fomento público à Ciência, Tecnologia e Inovação em empresas, universidades, institutos tecnológicos e outras instituições públicas ou privadas. Entre os mecanismos de apoio das inovações direcionados às empresas, destacam-se dois recentes instrumentos operados pela FINEP: a Subvenção Econômica e o Sibratec. A Subvenção Econômica apoia o desenvolvimento de produtos, serviços e processos inovadores em empresas brasileiras, sendo que os projetos tecnológicos são apoiados mediante edital público anual. O aporte de recursos aos projetos é a fundo perdido mediante contrapartida das empresas. O Sistema Brasileiro de Tecnologia - Sibratec (Decreto nº 6.259, de 21 de novembro de 2007) é um instrumento de articulação e aproximação da comunidade científica e tecnológica com as empresas brasileiras. O Sibratec tem por objetivo apoiar o desenvolvimento tecnológico do setor empresarial nacional, por meio da promoção de atividades de pesquisa e desenvolvimento de processos ou produtos inovadores, seja essa inovação radical ou incremental, de prestação de serviços tecnológicos e de extensão tecnológica. Assim, no SIBRATEC são estruturadas redes temáticas de Centros de Inovação com disponibilidade de recursos humanos, materiais e financeiros para apoiar o desenvolvimento de inovações em produtos e processos demandados por empresas brasileiras. Em especial, quanto às ações do MCT em veículos elétricos, está em desenvolvimento a estruturação de um programa para apoio ao desenvolvimento tecnológico, as pesquisas e a cadeia produtiva voltada a veículos elétricos. Durante 2009 foram realizados seminários e reuniões setoriais para prospecção no meio acadêmico e em empresas fabricantes de veículos e baterias, dos temas estratégicos para pesquisa e desenvolvimento na área. Para 2010 estão propostos editais para formação de RH e desenvolvimento de P,D&I em tecnologia veicular e baterias 27   
  • 28. no CNPq e linhas de apoio para pesquisa em empresas (possivelmente através do edital de subvenção da FINEP) nas áreas de “Desenvolvimento de acumuladores de energia (baterias, super-capacitores) e seus processos de reciclagem” e “Desenvolvimento de partes, peças e sistemas completos aplicados a veículos elétricos, híbridos e hidrogênio”. Destaque-se também que ao longo deste primeiro semestre de 2010 está em implantação a Rede SIBRATEC de Inovação voltada ao apoio às empresas do segmento de veículos elétricos e baterias. A Rede tem como objetivo de desenvolver, aperfeiçoar e identificar: matérias primas e materiais aplicáveis à cadeia produtiva de veículos elétricos; sistemas de abastecimento de energia a veículos provenientes de fontes de energia externa; sistemas embarcados de conversão de energia, excetuando-se a reforma de combustível; motores elétricos e seus componentes, sistemas mecânicos como chassis, suspensão, engrenagens, sistemas de freios, transmissão aplicáveis aos veículos elétricos; sistemas eletroeletrônicos, inversores, controladores, supervisores, acumuladores de energia elétrica, medidores, softwares, protocolos e interfaces de diagnóstico de componentes e demais sistemas eletroeletrônicos aplicáveis à cadeia produtiva de veículos elétricos. Em conclusão, entende o MCT que há um próspero caminho a ser percorrido até o estabelecimento definitivo da opção dos veículos elétricos em escala comercial e que o Ministério é parte essencial, juntamente com os demais importantes atores da área, no estímulo e na consolidação das iniciativas em curso no País. O MCT tem pautado sua atuação pelo suporte aos projetos em implantação a partir da concepção de que é necessário apoiar tecnologias veiculares mais eficientes e com menos emissões, sem privilegiar apenas uma em particular, tendo em vista que várias alternativas estão em estágio de desenvolvimento e apresentam futuros promissores. 28   
  • 29. Referências Bibliográficas 1. International Energy Agency – IEA, World Energy Outlook 2009. 2. Ministério de Minas e Energia – MME / Empresa de Pesquisa Energética – EPE, Balanço Energético Nacional – 2009. Disponível em (https://ben.epe.gov.br) 3. National Academy of Sciences, Transitions to Alternative Transportation Technologies--Plug-in Hybrid Electric Vehicles – 2009 (pré-publicação). Disponível em (http://www.nap.edu/catalog/12826.html) 4. The New York Times, White House Awards $2.3 Billion in Tax Credits for Clean Energy Developers, Green Inc, January 8, 2010. Disponível em (http://greeninc.blogs.nytimes.com/2010/01/08/white-house-awards- 23-billion-in-tax-credits-for-clean-energy-developers/) 5. The New York Times, China Vies to Be World’s Leader in Electric Cars, Keith Bradsher, Published: April 1, 2009. Disponível em (http://www.nytimes.com/2009/04/02/business/global/02electric.html) 6. Anfavea - Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores em (http://www.anfavea.com.br) 7. Sindipeças - Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores, Perspectivas Econômicas Indústria Brasileira de Autopeças. Disponível em (www.sindipecas.org.br) 8. Ministério da Fazenda, Relatório do Grupo de Trabalho da Indústria Automotiva – 2010. 9. Ministério de Minas e Energia, Boletim Mensal dos Combustíveis Renováveis, nº 25, jan de 2010. 10. Associação Brasileira do Veículo Elétrico – ABVE. Disponível em (www.abve.org.br/)
  • 30. VEÍCULO ELÉTRICO, POLÍTICAS PÚBLICAS E O BNDES: OPORTUNIDADES E DESAFIOS5 Luciano Galvão Coutinho*, Bernardo Hauch Ribeiro de Castro** eTiago Toledo Ferreira*** INTRODUÇÃO Nesse começo do século XXI, a eletrificação veicular emerge como uma tendência tecnológica inexorável. Essa nova tendência representa uma mudança substantiva no setor automotivo, implicando na substituição dos motores a combustão interna por motores elétricos como fonte de força motriz veicular. Espera-se, em um futuro próximo, que os veículos elétricos disputem mercado com os tradicionais. Mudanças tecnológicas reabilitaram os veículos elétricos, muito difundidos no começo do século XX. Naquela época, além de modelos propulsionados por motores elétricos ou a combustão, existiam veículos movidos por motores a vapor. Basicamente, a crescente disponibilidade e o baixo custo de derivados do petróleo, associado à ausência de pressões ambientais, favoreceram a adoção do motor a combustão interna. Apesar do maior conforto, propiciado pelo menor ruído e emissão de gases, o veículo elétrico enfrentava problemas relacionados à autonomia e ao carregamento da bateria. Entretanto, novos fatores promoveram o renascimento                                                              5 Os autores agradecem os comentários de João Carlos Ferraz, Felipe Marques, Haroldo Prates e Patrícia Zendron. Naturalmente, eventuais imperfeições remanescentes são de inteira responsabilidade dos autores. * Presidente do BNDES. ** Engenheiro do BNDES. *** Economista do BNDES.
  • 31. dos veículos elétricos, em especial, o desenvolvimento tecnológico das baterias, a questão da segurança energética e a redução de impactos ambientais. Neste artigo, enfatizaremos os aspectos industriais relacionados aos veículos elétricos, visando a constituição de um panorama geral, a partir do qual a atuação do BNDES será discutida. A seção seguinte aborda os principais fatores indutores do ressurgimento dos veículos elétricos. A terceira seção apresenta os principais modelos disponíveis e em desenvolvimento para discutir, em seção posterior, os principais desafios e entraves à difusão dos veículos elétricos. As eventuais transformações na estrutura industrial são tratadas na quinta seção, enquanto, a sexta seção discute o apoio do BNDES a eventuais mudanças na indústria automotiva. Uma breve conclusão consolida os principais tópicos discutidos ao longo do texto. INDUTORES DO RENASCIMENTO DOS VEÍCULOS ELÉTRICOS A redução dos impactos ambientais é tema de crescente importância na agenda pública. O combate ao aquecimento global torna-se, cada vez mais, um imperativo político na maioria das nações. O setor de transportes, que responde por parcela significativa do consumo de derivados de petróleo e das emissões de CO2, é um dos principais focos de atenção. A questão energética é outro fator que reforça a necessidade de redução do consumo de petróleo. O IEA6 (2009) projeta um crescimento médio anual da demanda mundial de energia de 1,5% entre 2007 e 2030, ao passo que, no mesmo período, a oferta de petróleo deve ter expansão média anual de 1%. Em termos acumulados, o aumento da demanda energética será da ordem de 40,7% contra 25,7% da oferta de petróleo. Esses números apontam a insustentabilidade da matriz energética atual e, em especial, a                                                              6 International Energy Agency ou Agência Internacional de Energia. 31   
  • 32. necessidade da redução da participação do petróleo. O setor de transporte, por consumir cerca de 61,3% do petróleo7, é o alvo natural para medidas que visem o rebalanceamento da matriz energética. E não faltam sinais que o desequilíbrio gerado pelo excesso de demanda já é um problema no curto prazo, tendo em vista a elevada volatilidade do preço do petróleo no período recente. O preço do barril de petróleo8, na casa dos US$ 72 em 2007, alcançou a marca de US$ 144 em julho de 2008, pouco antes do momento mais agudo da crise financeira internacional. Este caiu a cerca de US$ 40 em fins de 2008 e, desde então, vem se recuperando, chegando próximo a US$ 85 no início de abril de 2010. Adicionalmente, desde o Choque do Petróleo de 1973, os governos dos países centrais perceberam o risco derivado da elevada concentração da produção em um número pequeno de países. Nesse caso, eles procuram aumentar sua segurança energética, entendida como o acesso, a um preço razoável, à fonte energética demandada, provida por produtores confiáveis. A dependência em relação a poucos produtores, organizados em cartel, e a grande volatilidade dos preços do barril de petróleo fundamentam questionamentos acerca da segurança energética dos países dependentes da importação de petróleo. O choque motivou os governos a restringirem o consumo de derivados do petróleo pelos veículos – usualmente, através de regulamentações que limitam as emissões ou exijam maior eficiência no consumo energético – e a financiarem tecnologias alternativas, dentre as quais se encontra o veículo elétrico. A recente alta do petróleo e as pressões por medidas que preservem o meio ambiente redundaram em um aprofundamento desses programas. Atualmente, vários governos oferecem incentivos para a compra de veículos elétricos. Usualmente, esses incentivos                                                              7 Ver IEA (2009). 8 Fonte: Ipeadata. Preço por barril do pétroleo bruto Brent (FOB). No original: Europe Brent Spot Price FOB. 32   
  • 33. assumem a forma de isenções fiscais ou bônus monetários. Dentre os países que oferecem esse incentivo, estão os Estados Unidos, o Japão, a China e a Alemanha. No Brasil, os veículos elétricos não recebem tratamento diferenciado. No caso do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI, os veículos elétricos são enquadrados na categoria “outros”, sobre a qual incide a alíquota mais elevada. Um automóvel elétrico, por exemplo, tem alíquota de 25%. Nesse momento de transição, os incentivos são essenciais para acelerar a penetração desses veículos. Além de não gozarem de economias de escala, os veículos elétricos enfrentam elevados custos de baterias, desconfiança dos consumidores e carência de infraestrutura. O preço9 médio de um Ford Fusion, um dos sedans mais vendidos nos Estados Unidos, é inferior a US$ 20 mil, enquanto o preço esperado do GM Volt, o veículo híbrido, está na casa do US$ 40 mil. O Nissan Leaf, outro veículo elétrico que será lançado em breve, deverá custar cerca de US$ 34 mil. Vale ressalvar que a eletrificação veicular não substitui a agenda de busca por combustíveis alternativos ao petróleo. No caso dos modelos híbridos, por exemplo, eles alimentariam motores a combustão dos próprios veículos. Já em veículos puramente elétricos, esses podem ser usados na geração de energia elétrica. Sem o avanço das baterias, o renascimento dos veículos elétricos não seria possível. Ele foi iniciado nos setores de informática e telecomunicações, impulsionado pelas vendas de laptops e telefones celulares. Por isso, a maior parte dos modelos que vem sendo lançados são equipados com baterias de íon-lítio, similares às usadas em eletrônicos portáteis. Conforme será discutido, o desenvolvimento de baterias é o principal desafio tecnológico enfrentado atualmente.                                                              9 Cotações obtidas no sítio http://www.edmunds.com, em 8/4/2010, que desconsideram os benefícios concedidos pelo governo. 33   
  • 34. MODELOS DE VEÍCULOS ELÉTRICOS De modo simplificado, podemos classificar os veículos elétricos em duas categorias: os veículos elétricos puros e os híbridos. Os veículos híbridos Os veículos híbridos são assim chamados por combinarem um motor de combustão interna com um gerador, uma bateria e um ou mais motores elétricos. Sua função é reduzir o gasto de energia associado à ineficiência dos processos mecânicos se comparados aos sistemas eletrônicos10. Boa parte da ineficiência energética vem da geração de calor causada principalmente pelo atrito entre as partes móveis do motor de combustão interna. Estima-se que apenas 15% da energia potencial de um combustível em um automóvel é efetivamente utilizada para movimentá-lo. Em um veículo híbrido, há quatro fatores que ajudam a aumentar sua eficiência: • Assistência do Motor Elétrico ao de Combustão Interna: a menor variação em sua operação permite atingir um nível de eficiência muito mais elevado pela adoção de motores com menor perda, como os do ciclo Atkinson-Miller ao invés do difundido ciclo Otto. • Desligamento Automático: sistema híbrido pode desligar automaticamente o motor em caso de parada, enquanto no veículo convencional o motor a combustão continua funcionando. • Tecnologias de Recarga da Bateria, como frenagem regenerativa: no caso dos motores a combustão, embora a aplicação seja possível, a armazenagem da energia gerada para fins de movimentação não é, ficando restrita ao consumo de periféricos (como o ar condicionado, luzes etc.).                                                              10 Raskin & Shah (2006). 34   
  • 35. Otimização da Transmissão: o paradigma mecânico permite apenas um número limitado de combinações de rotação e potência, que limitam a eficiência do conjunto. Já, com sistemas eletrônicos, as possibilidades de combinações são muito maiores. A Toyota, por exemplo, desenvolveu um sistema de transmissão eletrônica, que permite um número infinito de combinações. Seu sistema é extensivamente patenteado, o que leva os competidores a licenciar essa tecnologia ou a utilizar sistemas menos eficientes, baseados em combinações amplas, mas não infinitas. Há duas formas básicas de arranjo dos componentes de um sistema híbrido, que resultam em arquiteturas diferentes dos automóveis. Nos sistemas em série, o motor a combustão interna é ligado a um gerador e não diretamente ao trem de acionamento. O motor elétrico é que movimenta as rodas. Já no sistema em paralelo, tanto o motor elétrico quanto o motor a combustão podem movimentar as rodas, conjunta ou independentemente.         Motor a Motor a Motor     Figura 1 – Motor a  Figura 2 – Sistema Híbrido  Combustão Interna  Paralelo  35   
  • 36.             Motor a Motor Motor a Motor             Figura 3 – Sistema Híbrido  Figura 4 – Sistema Híbrido  em Série  Combinado Série‐Paralelo      Há ainda um terceiro sistema que conjuga os dois anteriores, incorporando a possibilidade de recarga da bateria pelo motor a combustão mesmo quando ele estiver tracionando o veículo. As Figuras 1 a 4 trazem, de forma simplificada, um desenho esquemático da arquitetura dos sistemas apresentados, bem como do sistema tradicional. Um exemplo de veículo com sistema híbrido é o Toyota Prius, lançado em 1997 no Japão e em 2000 em outros mercados como os EUA e a Europa. Atualmente em sua quarta geração, é considerado o primeiro veículo híbrido produzido em massa e lançado mundialmente. Foi lançado com um sistema híbrido paralelo, tendo evoluído para o combinado. Em 2009, atingiu um acumulado de dois milhões de veículos vendidos desde o seu lançamento11.                                                              11 Toyota (2010). 36   
  • 37. Um outro exemplo, o GM Volt, funciona com um sistema híbrido em série, com recarga feita por sistema plug-in12 e baterias de íon lítio. Com o conceito apresentado em 2007, tem previsão de lançamento comercial em 2011. Os veículos elétricos puros Já os veículos puramente elétricos não possuem um motor a combustão. São integralmente movidos por energia elétrica, seja provida por baterias, por células combustível13, por placas fotovoltaicas (energia solar) ou ligados à rede elétrica, como os trolebus. A maioria dos lançamentos das grandes montadoras tem se concentrado em veículos movidos a bateria. Para ilustração, são veículos elétricos puros o Nissan Leaf, com lançamento previsto para 2010, e o Mitsubishi iMiEV, já lançado. Ambos utilizam baterias de íon lítio, sendo que o iMiEV possui três motores elétricos ao invés de um, sendo um para cada roda dianteira e um para o conjunto traseiro. No Brasil, há alguns projetos em desenvolvimento, dentre os quais podemos citar o Projeto VE, iniciado em 2006, da Itaipu Binacional, em cooperação com a empresa suíça Kraftwerke Oberhasli (KWO), controladora de hidrelétricas suíças, e a montadora Fiat, além de outras empresas e instituições de pesquisa. São dois veículos em desenvolvimento, o Palio Weekend Elétrico e o caminhão leve Iveco Daily Elétrico. Ambos são veículos elétricos puros, sendo                                                              12 A denominação plug-in indica que a bateria do veículo pode ser recarregada por um plug conectado a uma fonte externa de energia elétrica. 13 Células combustível (fuel cells) são células eletroquímicas (como as pilhas) que convertem combustível em eletricidade. Apesar da possibilidade de se utilizar diferentes combustíveis, há um forte apelo pelo uso do hidrogênio, que resultaria em veículos praticamente não-poluentes.. 37   
  • 38. que o Palio utiliza uma bateria de níquel e o Daily, três baterias, de sódio, níquel e cádmio. Do Palio, são produzidos, em caráter experimental, quatro unidades por mês atualmente. Há também projetos em fase mais embrionária, como o do Triciclo Pompéo, em desenvolvimento por uma empresa na incubadora tecnológica da Itaipu Binacional, que utiliza baterias de íon lítio e motor elétrico fornecido pela empresa Weg. Tem lançamento previsto para 2011. Já em escala comercial, encontra-se no Brasil as motocicletas do tipo scooter elétricas, produzidas pelas empresas Motor Z (em São Bernardo do Campo/SP), Bramont (em Manaus/AM) e GPS Electric Movement (em Natal/RN)14, e ônibus urbanos com tração elétrica fornecida pelas empresas Eletra e a célula de hidrogênio fabricados pela Tutto Transporti. A Eletra afirma ter 300 trolebus e 45 ônibus híbridos em operação na Grande São Paulo15. Além disso, há veículos elétricos fabricados no Brasil para transporte em áreas particulares (ambientes fabris, centros de distribuição, campos de golfe etc.) por algumas empresas como Jacto e Agix. A Tabela 1 traz um breve comparativo de alguns modelos citados. Percebe-se uma clara distinção entre os veículos elétricos puros e os híbridos em relação a dois aspectos: a autonomia, que é maior nos híbridos justamente pela utilização acessória de um motor a combustão, e o peso do conjunto de baterias. Os demais parâmetros são similares para os modelos estudados.                                                              14 Scooters (2009). 15 Eletra (2010). 38   
  • 39.   Tabela 1 – Comparativo de alguns modelos de veículos elétricos. Híbridos Puros Toyota Prius (Itaipu/Fiat)  Nissan Leaf  Mitsubishi  GM Volt  Elétrico  iMiEV  Palio    Geração  Geração  Geração  Geração I  II  III  IV  1997‐ 2000‐ 2003‐ Lançamento  2009  2011  2010  2010  n.d.  1999  2003  2009  Potência do motor a combustão  Não  Não  Não  58  70  76  98  n.d.  (HP)  possui  possui  possui  Potência do motor elétrico (HP) 40  44 67 80 71 63 107 20  Aceleração 0‐96 km/h (s) 14,1 12,5 10,1 9,8 n.d. n.d. 9 28*** Peso das baterias (kg) 57 52 45 44 180 165 200 165 Peso do veículo (kg) n.d. 1254 1317 1380 1580 1080 n.d. 1029 64* / Autonomia (km)  n.d. 579** 547** n.d. 160 160 120 483** Velocidade máxima (km/h) n.d. 159 178 n.d. 160 130 140 110 Fontes: Zapata & Nieuwenhuis (2007), GM (2010), Mitsubishi (2010), Nissan (2010), Toyota (2010). Elaboração própria. Obs.: * Usando exclusivamente a bateria. / ** Utilizando também o motor a combustão. / *** 0-100 km/h. n.d. = não disponível
  • 40. DESAFIOS E GARGALOS A adoção em massa dos veículos elétricos enfrenta diversos desafios. Dentre os principais entraves, pode-se listar o preço elevado, a autonomia da bateria e a necessidade de constituição de uma infraestrutura específica. A bateria é o componente crucial, sendo seu desenvolvimento responsável tanto pela elevação da autonomia, quanto pela redução do preço do veículo. Atualmente, o padrão adotado é o de íon lítio. No entanto, essa tecnologia não necessariamente será dominante por conta de seu elevado custo e de questões relacionadas à oferta de matéria-prima. Outros padrões despontam como potenciais concorrentes como níquel hidreto metálico e zebra (à base de sódio, níquel e cádmio). O desenvolvimento da bateria é mais premente em um cenário de transição, em que fatores culturais – como a tradição dos veículos a combustão, por exemplo – e a ausência de infraestrutura reduzem a predisposição dos consumidores em adquirirem veículos elétricos. Os veículos elétricos demandam modificações na infraestrutura existente, estando o ponto chave relacionado à nova forma de alimentação energética, que será realizada através da rede elétrica. Essas modificações abrangem da necessidade de tomadas de força nas garagens das residências à existência de estações de carregamento rápido ao longo das vias de transporte. Apenas para exemplificar a complexidade envolvida, a simples colocação de tomadas nas garagens de edifícios precisa atender alguns requisitos, como voltagem adequada e mecanismo de tarifação individual do proprietário do veículo. A grande energia acumulada na bateria abre novas possibilidades ao automóvel. Ele pode exercer a função de um no-break residencial ou devolver energia à rede, arbitrando seu fluxo com a concessionária de energia elétrica de acordo com o preço das tarifas. As expectativas otimistas apontam para o domínio de mercado pelos veículos híbridos ou puramente elétricos em 2030. Após um período de pelo menos 10 anos de penetração mais lenta, essa velocidade deverá sofrer uma aceleração
  • 41. robusta, conforme os principais entraves (sobrepreço, autonomia da bateria e infraestrutura) forem sendo superados. Nesse período, também deverá ser definido o padrão vencedor. A inexistência de resistência técnica à produção de um híbrido que utiliza etanol e energia elétrica pode ser aproveitada para consolidar a posição de vanguarda do Brasil na utilização de energia limpa para o transporte. Tabela 2 – Projeção de Penetração de Veículos Híbridos/Elétricos Híbridos / Elétricos como % das Vendas Totais 2010 2015  2020  2030  EUA  4,2% 10,2% 26,7%  75,8%  China  0,4% 7,7%  25,8%  78,3%  Global  1,7% 6,2%  19,9%  66,0%  Híbridos / Elétricos como % da Frota  2010 2015  2020  2030  EUA  0,9% 3,0%  8,8%  39,8%  China  0,1% 3,5%  15,4%  63,1%  Global  0,3% 1,8%  6,6%  35,6%  Fonte: Deutsche Bank (2009). IMPACTO NA CADEIA DE FORNECEDORES A introdução de veículos elétricos promoverá uma profunda reestruturação na indústria automotiva. As modificações não atingem somente o powertrain, principal sistema veicular, que abarca o motor e a transmissão. Novos componentes, como regeneradores de energia dispersada na frenagem, serão incorporados aos veículos. A energia acumulada na bateria, tradicionalmente utilizada para partida do automóvel e para os itens de eletrônica embarcada (injeção eletrônica, ABS, airbag, trio elétrico, ar condicionado, alarme etc.), terá que alimentar o motor de tração, exercendo função realizada pelo tanque de combustível nos modelos convencionais. Fabricantes de bateria, portanto, precisarão se transformar em fabricantes de sistemas, aproximando-se dos 41   
  • 42. sistemistas16. Poderá haver também desdobramentos relacionados ao mercado de minério, tendo em vista que o lítio está presente na maior parte das baterias veiculares já desenvolvidas. Estima-se que, até 2020, o consumo subirá de 24 mil toneladas em 2010 para 54 mil17. Sendo o lítio um minério não abundante e com reservas concentradas em poucos países (65% estão na Bolívia e no Chile), é possível vislumbrar um incentivo para a pesquisa de alternativas. Por ser reciclável, pode-se esperar também o crescimento da indústria de reciclagem. Naturalmente, o principal sistema atingido pela eletrificação veicular será o powertrain. Mesmo nos modelos em que o motor a combustão não é eliminado, as mudanças são diversas. De responsável pela tração, o motor a combustão assume papel de gerador de energia para alimentação da bateria nos modelos híbridos, representando uma alternativa à rede elétrica. Nessa configuração, a necessidade de potência e o modo de funcionamento são diferentes. A transmissão também sofre profundas modificações, tornando-se um componente eletrônico. Assim, espera-se uma aceleração da mudança de paradigma da indústria de autopeças, com a utilização cada vez maior de sistemas eletrônicos em substituição aos mecânicos. Os mercados de reposição também podem sofrer mudanças, tendo em vista que, por serem mais simples e com menos partes móveis, os motores elétricos provavelmente necessitarão de menor manutenção. Sistemas de diagnóstico à distância podem se tornar mais presentes no mercado automobilístico.                                                              16 Book et al. (2009). 17 Gonçalves (2010). 42   
  • 43. Uma alteração dessa ordem gera naturalmente espaço para novos entrantes. Os exemplos citados neste artigo, sobre as experiências brasileiras de desenvolvimento de veículos elétricos, dão uma amostra disso. Empresas geradoras de energia elétrica têm se interessado pelo tema, assim como empresas fornecedoras de equipamentos elétricos. Segundo Vian (2009), “o sistema elétrico brasileiro não deverá ter maiores problemas para atender à demanda dos carros elétricos”. No entanto, embora haja energia disponível, há dois fatores a considerar. O primeiro diz respeito à infraestrutura para recarga dos veículos elétricos. O argumento mais frequente é que as distâncias médias percorridas pelos automóveis nas cidades é menor que a autonomia do carro, o que permitiria que a recarga fosse feita apenas na residência do motorista. Porém, é um ponto que causa uma restrição a seu uso e, portanto, dificulta sua difusão. É possível vislumbrar uma proliferação de pontos de recarga em estacionamentos, por exemplo, e outros locais. Figura 5 – Triciclo Pompéo (Fonte: Pompéo, 2010) 43   
  • 44.   O segundo fator refere-se ao tempo de recarga, que pode ser considerado elevado em alguns casos. Algumas empresas estão pesquisando formas de fazer uma recarga rápida, com a disponibilização de tensões mais elevadas e consequente redução do tempo. Outra solução é a possibilidade de implantação de postos para troca das baterias18, como tem sido testado em países de menor extensão territorial, como Israel e Dinamarca. É importante notar que esses problemas afetam mais os veículos elétricos puros que os híbridos, que normalmente possuem autonomia estendida pelo uso do motor a combustão. Outra solução é a possibilidade de implantação de postos para troca das baterias19, como tem sido testado em países de menor extensão territorial, como Israel e Dinamarca. É importante notar que esses problemas afetam mais os veículos elétricos puros que os híbridos, que normalmente possuem autonomia estendida pelo uso do motor a combustão. Por fim, é possível que tanto o design quanto os materiais utilizados na fabricação do carro sofram alguma alteração, já que o peso do veículo influencia sua autonomia, a bateria é um conjunto relativamente pesado e a motorização do veículo elétrico difere substancialmente do veículo a gasolina. Veículos como o Pompéo, citado anteriormente neste artigo, tem um design que foge do padrão atual dos veículos. Na questão dos materiais, a título de ilustração, em abril de 2010, uma joint venture entre a montadora BMW e o SGL Group divulgou a intenção de construir duas plantas para fabricação de materiais compósitos de fibra de carbono, que são mais                                                              18 Better Place (2010). 19 Better Place (2010). 44   
  • 45. leves e mais resistentes que o aço, para utilização nos veículos elétricos a serem lançados20. O que se pode concluir é que a proliferação de veículos elétricos parece ser uma interessante oportunidade para a entrada de outros players na indústria automotiva mundial. O BNDES Principal provedor de crédito de longo prazo e agente relevante no mercado de capitais brasileiro, o BNDES deverá desempenhar papel de destaque na introdução dos veículos elétricos no Brasil. Um paralelo pode ser traçado com a atuação do Banco no apoio aos combustíveis alternativos. No campo industrial, ele financiou do desenvolvimento do sistema flex fuel à implantação de linhas de montagem dos modelos que incorporaram esta tecnologia. O BNDES também tem financiado toda a cadeia sucroalcooleira, atuando junto às usinas e aos fornecedores de equipamentos. Mais do que um provedor de crédito ou investidor em ativos, o BNDES atua como um interlocutor presente, empreendendo ações de fomento. A longa relação com o setor automotivo, com vários financiamentos concedidos, coloca o Banco em posição privilegiada para identificar as necessidades e potencialidades relacionadas a essa mudança paradigmática. Além disso, a abrangência do tema requer a adoção de políticas transversais com o envolvimento de diversos agentes na construção deste projeto. Nesse sentido, cabe ao BNDES ser um dos principais articuladores de um apoio estruturante, que viabilize a produção de veículos elétricos no Brasil. A divulgação dessa solução tecnológica constitui um dos principais focos de ação do BNDES nesse estágio inicial. Um exemplo foi o apoio institucional ao VE 2009, o maior evento de veículos elétricos do País, realizado em Campinas. No primeiro semestre de 2010, o Banco organizou Oficina de                                                              20 Shields (2010). 45   
  • 46. Trabalho, que procurou ampliar a integração dos agentes relevantes. Ainda na esfera não financeira, o BNDES está presente nos principais debates, participando de grupos de trabalho no setor público e de reuniões com organizações que congregam as empresas do setor automotivo. Em decorrência dessas ações, procura-se identificar oportunidades para o desenvolvimento da indústria nacional. Em termos mais tradicionais, para apoiar a introdução dos veículos elétricos no País, o Banco dispõe de diversos instrumentos, disponíveis para pronta aplicação. Os esforços iniciais de desenvolvimento de tecnologia não existente no Brasil são elegíveis para a Linha de Inovação Tecnológica do BNDES, que com o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), está, até dezembro de 2010, com o custo financeiro de taxa fixa de 3,5% aa. Os produtores de bateria são potenciais usuários dessa linha, que visa ampliar o conteúdo tecnológico da produção local. Novos componentes, como regeneradores de energia de frenagem, também merecem especial atenção. Uma alternativa é a Linha de Capital Inovador, que apoia empresas no desenvolvimento de capacidade para empreender atividades inovativas em caráter sistemático, por meio de investimentos tanto nos capitais intangíveis quanto nos tangíveis, incluindo a implementação de centros de pesquisa e desenvolvimento. Depois, quando a tecnologia atingir certo estágio de maturidade, as pesquisas passam a envolver adaptações à realidade regional, melhorias marginais nos sistemas ou modernização da capacidade produtiva necessária à absorção dos resultados do processo de pesquisa e desenvolvimento ou inovação. Complementarmente, as montadoras iniciarão a concepção de modelos. Nessa etapa, o apoio do Banco pode ocorrer através de linhas e programas, como o Programa BNDES Proengenharia e a Linha de Inovação Produção. O auxílio à implantação ou modernização de unidades produtivas, a forma mais tradicional de atuação do BNDES, é realizado através do Produto BNDES Finem. Idealmente, a etapa de produção leva ao mercado produtos que incorporam 46   
  • 47. tecnologias desenvolvidas localmente. O produto permite o apoio à entrada de novos players, o que, em alguns casos, pode assegurar a produção de certos componentes localmente. Naturalmente, os veículos elétricos comerciais – comerciais leves, caminhões e ônibus – contarão com o apoio à comercialização através do BNDES Finame e do Cartão BNDES, desde que atingido o índice de nacionalização mínimo de 60%. Adicionalmente, as linhas do BNDES Exim podem ser utilizadas para financiar exportação de veículos e componentes. Além dos pesados investimentos em desenvolvimento tecnológico e implantação de unidades produtivas, são esperadas operações de consolidação de empresas e entrada de novos players, que podem contar com a participação do Banco, através da BNDESPar, subsidiária do BNDES responsável pelas operações da instituição no mercado de capitais. CONCLUSÕES O sucesso do veículo elétrico exige a superação de obstáculos, como logística, infraestrutura e resistência dos consumidores. A superação desses entraves na difusão de veículos movidos a etanol no Brasil fundamenta a assunção de perspectivas otimistas sobre o futuro da indústria automotiva local. Perpassando todo o processo, conforme apontado nas seções anteriores, a introdução de veículos elétricos será responsável por um profundo rearranjo na indústria automotiva, promovendo transformações na indústria. O setor precisará acompanhar esse movimento, a fim de manter sua posição como um dos principais produtores mundiais de veículos. Na presença de diversas oportunidades para ampliar o conteúdo tecnológico da produção local, as montadoras de veículos têm função decisiva na inserção do Brasil neste novo paradigma. O ritmo de difusão do veículo elétrico, acelerado recentemente por preocupações com segurança energética e 47   
  • 48. meio ambiente, dependerá, além de fatores técnicos, como o desenvolvimento tecnológico das baterias, de políticas públicas de incentivo, já adotadas em diversos países. O BNDES assume, portanto, papel central na articulação dos diversos atores e no fomento a iniciativas visando à geração e a difusão das novas tecnologias. A identificação de novas possibilidades, com consequentes ações de fomento, será essencial. Os esforços governamentais devem almejar que o Brasil, mais do que um simples produtor, consolide-se como um polo desenvolvedor e exportador de tecnologia, como foi alcançado no caso dos veículos a etanol. O leque de instrumentos do BNDES está disponível para este objetivo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BETTER PLACE. Charging electric vehicles (EVs) (site). Disponível em: http://www.betterplace.com/solution/charging/. Acessado em: 10 abr.2010. BOOK, M., GROLL, M., MOSQUET, X., RIZOULIS, D., STICHER, G. The comeback of the electric car? How real, how soon, and what must happen next. BCG, 2009. DEUTSCHE BANK. The Peak Oil Market. Price dynamics at the end of the oil age. Global Markets Research, out.2009. ELETRA. Empresa (site). Disponível em: http://www.eletrabus.com.br. Acessado em: 9 abr.2010. GONÇALVES, J.A. Carro verde? Só se a Bolívia deixar. Revista Exame, n.965, 31 mar.2010. GM. 2011 Volt – electric car (site). Disponível em: http://www.chevrolet.com/pages/open/default/future/volt.do. Acessado em: 9 abr.2010 IEA. World Energy Outlook. Paris, 2009. IPEADATA – http://www.ipeatada.gov.br. Acessado em: 9 abr.2009 ITAIPU. VE – Projeto veículo elétrico (site). Disponível em: http://www2.itaipu.gov.br/ve/. Acessado em: 9 abr.2010. 48   
  • 49. IVECO. Programa de desenvolvimento do Daily Elétrico (site). Disponível em: http://www.iveco.com/Brasil/PressRoom/PressRelease/Pages/dailyele trico.aspx. Acessado em: 9 abr.2010 MITSUBISHI. About iMiEV (site). Disponível em: http://www.mitsubishi-motors.com/special/ev/index.html. Acessado em: 9 abr.2010. NISSAN. Nissan leaf electric car (site). Disponível em: http://www.nissanusa.com/leaf-electric-car/index.jsp. Acessado em: 9 abr.2010. POMPÉO (site). Disponível em: http://www.triciclopompeo.com.br. Acessado em: 9 abr.2010. RASKIN, A., SHAH, S. The emergence of hybrid vehicles: ending oil’s stranglehold on transportation and the economy. AllianceBernstein Research on Strategy Change, jun.2006. Disponível em: http://www.evworld.com/library/PHEV_AllianceBernstein.pdf. SCOOTERS: motos movidas a combustível verde. Revista Híbrida, n.0, 2009?. SHIELDS, M. SGL, BMW to spend $100 mln on US carbon fibre plant. Reuters, 6 abr. 2010. Disponível em: http://www.reuters.com/article/idUSN0613702120100406. Acessado em: 6 abr.2010. TOYOTA. Why hybrid? (site). Disponível em: http://www.toyota.co.jp/en/tech/hybrid/index.html. Acessado em: 9 abr.2010. VIAN, A. Veículos elétricos: impactos sobre a rede de distribuição (apresentação). In: VE 2009 - 6º Seminário e Exposição de Veículos Elétricos. Campinas, 2009 ZAPATA, C., NIEUWENHUIS, P. Disrupting the business of producing automobiles: technologies for cleaner production. In: 1st International Workshop Advances in Cleaner Production. Anais... São Paulo: UNIP, 2007. 49   
  • 50. MOBILIDADE ELÉTRICA NO BRASIL, UMA OPÇÃO DE FUTURO Eletrobras investe em pesquisa e parcerias estratégicas para apoio ao desenvolvimento do tema José Antonio Muniz Lopes* Orientada pela visão de ser referência mundial no negócio de energia elétrica limpa e renovável, com eficiência, rentabilidade e responsabilidade socioambiental, a Eletrobras vem participando ativamente do projeto de desenvolvimento de veículos elétricos (VEs), com apoio a pesquisas e ao desenvolvimento do tema. A concretização do veículo elétrico como uma opção para o transporte urbano nas grandes cidades brasileiras é uma idéia totalmente em sintonia com a missão e os objetivos das empresas Eletrobras. Devido à alta eficiência dos motores elétricos, eles propiciam o uso racional dos recursos naturais, além de não emitirem gás carbônico. A utilização desses veículos representará, ainda, a uma maior eficiência no uso da infraestrutura construída para atendimento ao mercado de energia elétrica. Além dessas vantagens mais evidentes, uma análise um pouco mais cuidadosa traz à tona outros aspectos que justificam plenamente os investimentos no projeto do veículo elétrico. Os benefícios ao meio ambiente e ao desenvolvimento são indiscutíveis, assim como a necessidade da criação de políticas adequadas e de tarifas diferenciadas. No que diz respeito aos interesses do setor de energia, o fato de os veículos serem utilizados essencialmente durante o dia constitui-se uma importante vantagem. Dessa forma, o período noturno poderá ser usualmente utilizado para a recarga das                                                              * Presidente da Eletrobras.
  • 51. baterias, incentivando o deslocamento da carga para este horário, fora do período de pico de consumo. Outra perspectiva vislumbrada é a futura integração dos veículos elétricos com o setor de energia, no âmbito do conceito conhecido mundialmente como smart grid. Esse conceito considera a possibilidade de utilização da energia armazenada nas baterias dos veículos conectados à rede, que podem atuar, então, como fonte de energia distribuída. A energia armazenada nas baterias pode ser devolvida à rede nos horários de maior demanda, aliviando o sistema elétrico. Imaginando-se um cenário futuro em que a quantidade de veículos elétricos seja significativa, tal perspectiva torna-se bastante interessante para o setor elétrico. Da mesma forma que a utilização do veículo elétrico como opção em nossas grandes cidades ainda exigirá a criação de políticas públicas adequadas, também a concretização plena desse conceito depende de inúmeros aprimoramentos tecnológicos. Atenta a essas perspectivas e consciente da importância do desenvolvimento dos veículos elétricos para a sociedade brasileira, a Eletrobras vem incentivando os estudos dessas tecnologias em seu conjunto de empresas. Além disso, convidou outras companhias de energia da iniciativa publica e privada interessadas no assunto, unindo forças e criando a massa crítica necessária ao desenvolvimento do projeto, com ações sinérgicas e aproveitamento do que cada instituição possui de melhor. Nesse sentido, a Itaipu Binacional vem tendo um papel fundamental. Por intermédio de acordos de cooperação tecnológica com a empresa KWO (Kraftwerke Oberhasli AG), do ramo de hidrelétricas, a empresa viabilizou um projeto de pesquisa para o desenvolvimento de veículos elétricos. Denominado “Veículo Elétrico”, o projeto visa à transferência 51   
  • 52. de know-how e à nacionalização dos componentes necessários à produção de veículos elétricos no Brasil. O projeto teve início em 2005, durante visita do presidente do conselho da KWO, Peter Schmid, a Itaipu, decorrente do acordo de cooperação tecnológica previamente existente. O objetivo inicial foi reunir esforços para o desenvolvimento de um veículo elétrico, viável técnica e economicamente, a partir de tecnologia existente e em uso em caráter experimental nas instalações da empresa na Suíça. Considerando a conformidade da proposta com as premissas de preservação do meio ambiente e os benefícios da transferência de tecnologia, a Eletrobras, em conjunto com a Itaipu Binacional, firmou o convênio 8226/2006. Em função da abrangência e da complexidade tecnológica exigidas pelo projeto, o convênio previu a inclusão de entidades parceiras, ligadas tanto à Eletrobras e à Itaipu quanto à KWO. Diversos ramos de atividades foram identificados como essenciais ao projeto, tais como baterias, acessórios eletrônicos, montadoras automotivas, motores elétricos e sistemas de controle, concessionárias de energia elétrica, institutos de pesquisa e universidades. Atualmente, o grupo de empresas envolvidas no projeto inclui: Eletrobras, Itaipu Binacional, Fiat, Iveco, Eletrobras Cepel, Copel, Lactec, Ande, Cemig, CPFL, Ampla, Light, WEG, Correios, Eletrobras Furnas, FPTE e Petrobras, além das empresas associadas à KWO. Por meio de pesquisas, realizadas de forma coordenada e sinérgica e com a parceria entre estas empresas e instituições de ensino envolvidos, o grupo pretende desenvolver tecnologia nacional para veículos movidos a eletricidade, com vistas a uma série de benefícios diretos e indiretos, dentre os quais se pode destacar: a preservação do meio ambiente; a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologia 52   
  • 53. nacional; a capacitação de profissionais; a aquisição de know- how; a geração de emprego e renda; a utilização do veículo elétrico em frotas próprias, reduzindo custos de combustível; a otimização da curva de carga, ampliando o consumo fora do horário de ponta para recarga das baterias (smart grid); a indução à produção de componentes nacionais; e o fomento à produção de veículos elétricos pelas indústrias brasileiras. Para condução do projeto, foram criados dois comitês, com a participação de representantes de todas as empresas envolvidas. Ao Comitê Gestor cabem as definições globais sobre o projeto, as deliberações sobre propostas do Comitê Técnico, o apoio à produção de componentes em território nacional, e ações governamentais visando à obtenção de recursos para P&D e de benefícios fiscais, com incentivo pela preservação do meio ambiente. Já o Comitê Técnico tem como atribuições o acompanhamento e a execução das pesquisas, a avaliação e análise dos resultados, a proposição de novas linhas de pesquisa e o subsídio ao Comitê Gestor nos aspectos técnicos. A parceria com a Fiat e a Iveco foram fundamentais para a montagem dos primeiros protótipos produzidos no Brasil. Utilizando sua engenharia e conhecimentos na área automotiva, as empresas integraram os componentes eletrônicos da MES-DEA, parceira da KWO no projeto “Veículo Elétrico”. Os protótipos, montados no Centro de Pesquisas e Desenvolvimento de Veículos Elétricos (localizado nas instalações da Itaipu Binacional), destinam-se à realização de ensaios reais, com utilização, na prática, das inovações desenvolvidas pelo projeto. Após uma série de ações, que incluíram a transformação do Fiat Palio Weekend em protótipo de veículo elétrico, a homologação do protótipo junto ao Denatran, a criação de infraestrutura básica para recarga dos veículos 53   
  • 54. elétricos, o treinamento básico para as empresas parceiras, ações junto ao governo para propiciar a redução de impostos para veículos não-poluentes e o desenvolvimento de protótipos de veículos elétricos para pequenas cargas e miniônibus elétricos, o projeto pode ser considerado um sucesso. Atualmente, mais de 30 unidades do protótipo, tendo como base o Fiat Palio Weekend, já estão nas ruas, integrando a frota das empresas parceiras (Eletrobras, Itaipu Binacional, Fiat, Copel, CPFL, Ampla e Light). Os protótipos do caminhão para pequenas cargas (tendo por base o Daily, da Iveco) e do miniônibus (com chassi do Daily e carroçaria da Mascarello) já foram desenvolvidos e estão em fase de avaliação. Foram desenvolvidos, ainda, sistemas de condicionamento de ar para utilização em veículos elétricos – nos quais os compressores tradicionais, acionados por motores a explosão, não são aplicáveis – e protótipos nacionais de power trains (sistemas de tração formados por conjuntos motor e inversor) para uso nos veículos em desenvolvimento. Estão em versão preliminar eletropostos que já permitem o reabastecimento e, futuramente, permitirão a tarifação da energia utilizada. E foram iniciados os estudos para verificar a adequação do uso dos veículos elétricos no conceito smart grid, com a integração à rede elétrica e a fontes alternativas. Ao mesmo tempo em que os avanços já alcançados apontam o sucesso da iniciativa, colocam no horizonte novos desafios, exigindo novas pesquisas e orientando, assim, os próximos passos da fecunda parceria criada. Ao longo do desenvolvimento do projeto, a Eletrobras identificou, por exemplo, que o ponto crucial do veículo elétrico está no acumulador de energia, o que requer o uso de baterias com tecnologia avançada. O desenvolvimento dessas baterias será extremamente benéfico, já que elas se prestam não apenas aos veículos elétricos, mas também à armazenagem de 54   
  • 55. energia de qualquer fonte, beneficiando, particularmente, a geração eólica e a fotovoltaica, além de outras fontes de energia alternativa. O projeto desenvolvido constitui, por outro lado, uma significativa análise de contexto sobre os desafios tecnológicos a serem vencidos para transformar o Brasil num importante player no segmento de veículos elétricos. O que se constatou é que a indústria nacional encontra-se alinhada a boa parte das modernas soluções utilizadas nos Estados Unidos e na Europa, requerendo esforços complexos, porém compatíveis com o cronograma projetado para este segmento. No que tange às baterias modernas, aplicadas à tração elétrica, existe uma grande lacuna na indústria nacional, consequência sobretudo dos altos investimentos requeridos, das incertezas relativas à produção e da inexistência de mercado. Para fazer frente a esta fraqueza, a Eletrobras e a Itaipu Binacional realizaram gestões junto ao Ministério de Ciência e Tecnologia e à Finep para o desenvolvimento de baterias modernas, utilizando o know how das parcerias internacionais e criando infraestrutura e recursos humanos necessários para o desenvolvimento e a produção, no Brasil, de baterias de sódio. Embora tenham sido pesquisadas outras baterias, as de sódio, similares à Zebra, do fabricante MES-DEA, apresentam vantagens insuperáveis frente a outros modelos: são recicláveis, os materiais são facilmente utilizados na indústria, apresentam peso reduzido quando comparadas às baterias de chumbo ácido de mesma capacidade de armazenamento (um terço do peso), não possuem efeito memória e usam matéria- prima abundante. Utilizando-se de mecanismos de transferência de tecnologia, o projeto está em fase inicial de desenvolvimento e é mais uma prova dos benefícios que podem advir da 55   
  • 56. importante parceria entre empresas públicas e privadas e instituições de ensino. As empresas Eletrobras têm absoluta crença na validade do projeto dos veículos elétricos e continuarão investindo em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias, incentivando a formação de parcerias em benefício do futuro de nosso país e do planeta. Além das iniciativas com projetos desta natureza, tem se verificado em outras partes do mundo para a fabricação de carros elétricos, que dependem de investimentos no seu desenvolvimento, mercado consumidor que viabilize a fabricação e outros tipos de incentivos. Estudos iniciais indicam que no Brasil um programa que tenha uma abrangência para o desenvolvimento e a utilização do carro elétrico, contribuiria com uma redução de cerca de 20 Mt de gás carbônico em veículos de passageiros e comerciais, considerando-se uma frota de cerca de 10% utilizando esta tecnologia. O tamanho do mercado automobilístico brasileiro, as metas de redução previstas, a infraestrutura do sistema elétrico nacional já disponível e a possibilidade da competitividade das tarifas a serem praticadas seriam fatores motivadores para que grandes montadoras instalassem seu parque fabril no país. A participação de entidades do governo e da iniciativa privada na elaboração do plano, nas diversas vertentes do conhecimento, é fator critico de sucesso, e uma empresa no setor elétrico junto de outros catalisadores para o setor automobilístico pode levar ao sucesso do programa. As empresas Eletrobras têm absoluta crença na validade do projeto dos veículos elétricos e continuarão investindo em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias, incentivando a formação de parcerias em benefício do futuro de nosso país e do planeta. 56