O documento resume um livro que analisa como o Exército Brasileiro selecionava sua elite entre 1905-1946, excluindo negros, pobres, judeus e estrangeiros considerados raças inferiores. O livro usa fontes históricas para mostrar como o regime autoritário de Vargas influenciou a formação discriminatória da elite militar durante o Estado Novo.
1. RESENHA CRÍTICA
ZELMA ALZARETH ALMEIDA
RODRIGUES, Fernando. Indesejáveis: Instituição, Pensamento Político e Formação
Profissional dos Oficiais do Exército Brasileiro (1905-1946). Fernando Rodrigues- Paco
Editorial: 2010.
A Obra em análise tem por objetivo mostrar como era realizado o critério de seleção da
formação da elite do exército Brasileiro naquele período, levando-se em consideração o
contexto político deste período, de transição do regime liberal para o regime autoritário,
e que a partir desse fato necessitavam de uma criteriosa seleção dos perfis dos
candidatos tendo cuidado para não trazer para a instituição pessoas adeptas ao
Comunismo, dado a isso, usavam formas discriminatórias de classificar negros, Judeus
e pobres e Islâmicos como incapazes de fazerem parte desta elite militar, eram os
Indesejáveis considerados na época como uma raça inferior. Denunciando a forma
discriminatória o autor nos mostra a necessidade da construção da nacionalidade e da
integração do país no contexto daquela época, para melhor nos aproximarmos da
formação Européia considerada na época como a ideal para a constituição da nossa
nação brasileira.
A obra apresenta abordagem com métodos qualitativos e quantitativos com a leitura de
diversificadas fontes como revistas correspondências oficiais e relatórios pessoais dos
militares, também com uma variedade de inúmeros gráficos e fichas que nos mostram
como eram feitos os processos de seleção dos militares. Apresenta cinco capítulos, onde
de uma forma linear apresenta cada período em seus variados momentos, facilitando a
compreensão do leitor para as várias mudanças ocorridas no processo de ensino militar.
Cada capítulo aborda os períodos com linearidade, que tem como corte temporal o
período de 1905 a 1946, com suas características, no que tange a formação prevista pela
escola militar, Apresenta um texto com requinte acadêmico, porém de forma clara que
nos permite compreender os diferentes momentos da história da formação da elite
militar.
Um dos destaques desta obra consiste na contribuição historiográfica mais detalhada e
inovadora ao apresentar questões discriminatórias fundamentais á análise do acesso as
Escolas de Formação de Oficiais, no contexto histórico do Exército Brasileiro durante o
2. Estado Novo, contribuindo para a compreensão da formação social brasileira. O Estado
novo com sua estrutura de intolerância e de força coercitiva com seu regime autoritário
defendia os ideais fascistas e o racismo, influenciaram diretamente na seleção desta elite
militar, pois conviviam com o terror eminente das idéias revolucionárias de direita, pelo
movimento radical dos trabalhadores urbanos e pelo medo do comunismo nacional e
internacional, a busca da construção de uma elite de militares excluía negros, pobres,
judeus e estrangeiros considerados raça inferior; neste clima de elitização social através
da raça branca, crescia o interesse da construção da identidade nacional. O contexto
internacional identificava-se com ás tradições brasileiras racistas e religiosas que,
impregnadas pelo nacionalismo crescente apoiaram as classes discriminatórias. Os
ideais liberais foram substituídos pelo positivismo pelo culto a força, á ordem, a
disciplina a personificação do chefe político, a raça pura e aos heróis nacionais, que
estimulavam a população a aderirem a essa forma de governo bloqueando qualquer
crítica contra o sistema estabelecido. A elite militar Brasileira tornou a produzir o
mesmo padrão da elite política econômica e social daquela época, as classes burguesas
deveriam guiar o país tanto civil como militarmente, no seu objeto de pesquisa
Fernando Rodrigues, nos mostra que o perfil econômico e social era um fator irrelevante
para admissão ou rejeição do candidato, os candidatos de famílias pobres eram logo
eliminados. Ou seja, a elite Brasileira se mantinha no poder tanto no campo civil como
militar como padrão existente na sociedade Brasileira da época.
Concordo com o autor quando ele utiliza o conceito de governo autoritário referindo-se
ao governo de Vargas, onde houve o predomínio do regime centralizado e fascista e
discriminatório no perfil de seu governo, tendo o exército sofrido grande influencia
deste regime autoritário da Era Vargas, onde a seleção da elite militar era totalmente
discriminatória com os negros pobres e judeus, e que o fator intelectual não era por si só
relevante para que os candidatos fossem selecionados, pois deveriam ser candidatos de
uma família burguesa, pois deveria manter-se no poder somente a elite, como na forma
civil assim também deveria ser na forma militar, para perpetuar o poder da elite.
Recomendo esta obra para todos os que, assim como eu, possuem um enorme fascínio
pela História militar no Brasil e sua trajetória. Para estudantes acadêmicos que se
interessam pelo tema abordado, para que possamos compreender sua importante
contribuição para a formação Brasileira como nação, e de conhecer a historiografia
dessa elite de militares formados pelo Exército Brasileiro que em meio às variadas
3. mudanças ocorridas no Estado Novo sofreu grande influência direta dessa forma de
governo autoritário influenciando diretamente em sua formação política nacional.
Fernando da Silva Rodrigues é Graduado em história pela universidade do Rio de
Janeiro (1997) especialista em história do século XX pela universidade Candido
Mendes (2002) mestre em história pela universidade Severino Sobra (2005), Doutor em
história política pela universidade do Estado do Rio de Janeiro (2008), desenvolve
pesquisa relativa aos militares desde a graduação. É autor do livro Indesejável;
Instituição, Pensamento Político e Formação Profissional dos Oficiais do Exército
Brasileiro (1905-1946) publicado pelo Paco Editorial. Tem experiência na área de
História, com ênfase em História social dos Militares, História Institucional e Historia
Social das Fronteiras. Atuando principalmente nos seguintes temas: Instituições,
Política, Estado, Militares, Fronteiras, Fotografia e Relações de Poder. Também é
professor de graduação do Centro Universitário Uniabeu, além de ser Pesquisador
Bolsista do Proape (Programa de Apoio a Pesquisa e Extensão) com o projeto: Guerra
do Paraguai: História, Memória, Identidade, Historiografia e Ensino de História.
Zelma A. Almeida é Acadêmica do Curso de Licenciatura em História, pela Uniabeu.