O documento discute os conceitos de cultura, humanização e as diferentes perspectivas sobre o tema. Resume as principais ideias de que a cultura é um processo dinâmico e plural que envolve a herança cultural e sua renovação constante, e a educação é fundamental para a socialização e emancipação humana.
5. “As crianças na Índia não tiveram oportunidade de se
humanizar enquanto viveram com os lobos,
permanecendo, portanto, ‘animais’. ... O processo de
humanização só foi iniciado quando começaram a
participar do convívio humano e foram introduzidas no
mundo do símbolo pela aprendizagem da linguagem.”
Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins,
Filosofando: Introdução à Filosofia, p. 2.
Esses relatos nos levam a refletir sobre as diferenças entre
o homem e o animal.
6. Homem Animal
Para M. de Lúcia Arruda Aranha, o
homem é um ser cultural, capaz de
transformar a natureza em seu próprio
benefício tornando possível a cultura. A
sociedade não é estática e o homem
tende a modificar aquilo que herda de
seus antepassados – recriando a
cultura. Diferentemente do animal, que
é movido por instintos naturais da sua
espécie.
7. Cultura
M. Lúcia de Arruda Aranha aponta para a
polêmica em se conceituar Cultura mediante as
inúmeras interpretações que já foram dadas ao
longo do tempo e o dinamismo da sociedade.
Ainda assim propõe sobre CULTURA:
O sentido ANTROPOLÓGICO
O sentido RESTRITO
8. Conceito
Antropológico
de cultura
Refere-se a toda produção humana de caráter
tangível e imaterial. É tudo o que o homem produz
desde as artes e das letras aos modos de vida,
direitos fundamentais, crenças e tradições.
As invenções, a língua, a política, a estética, a sua
legislação, os costumes e os comportamentos
estabelecem relações entre os indivíduos, e isso é
uma manifestação cultural.
10. Sentido Restrito de cultura
A produção intelectual de um povo. Essa
produção pode ser filosófica, científica, artística,
literária, religiosa, em resumo, espiritual. Está
voltada para a universidade, onde o
conhecimento é mais elaborado.
Essas manifestações não estão disponíveis a todos,
visto que há uma separação entre trabalhadores
intelectuais e manuais onde predominam relações
de dominação. Essas relações impedem as pessoas
do povo de organizar sua própria produção
intelectual e, consequentemente, são excluídas do
ingresso a esse tipo de cultura.
12. A ideia de ter cultura, cultura como algo que pode ser
possuído deixa ignorar o próprio dinamismo da cultura
em construir-se como também de se “corromper”.
Contudo, segundo Luís Milanesi “[...] há um processo
contínuo na esfera cultural, tornando o ter e o ser uma
unidade com duas faces: a segunda (ser) é a que leva à
invenção do discurso e a ser sujeito da própria vida, e a
primeira (ter) permite a alimentação contínua desse
processo através da posse possível de todos os registros
do discurso dos homens de todos os tempos.”
A Casa da Invenção. São Paulo, Siciliano, 1991, p. 139. – os parênteses
foram adicionados.
13. Um indivíduo culto não é aquele que tem apenas
informações superficiais duma área específica, um
“verniz” que simula erudição, mas aquele “que domina
os vários códigos das manifestações artísticas e sabe
atribuir valores e significados mais profundos às obras de
arte. Lembramos aqui que, para dominar os códigos,
não basta apenas saber o nome dos artistas,
curiosidades [...]. É necessário saber interpretar a
importância da sua obra para a construção do mundo
humano e analisar os significados dos valores propostos.”
14. “
”
Para quem permanecia em estado irresoluto
sobre a minha sapiência: beijinho na
articulação complexa superior do braço.
Valesca Popozuda, Pensadora Contemporânea.
15. Tipos de cultura
Não vivemos numa sociedade homogênea, o que
torna difícil estabelecer uma categorização. Não
podemos identificar a cultura de elite (ou erudita)
como dominante e a cultura popular como inferior
a esta. Não existem níveis de importância. Mesmo
assim, Aranha faz a seguinte classificação:
Cultura erudita
Cultura popular
Cultura de massa
Cultura popular individualizada
16. Cultura erudita
É a produção elaborada, acadêmica,
centrada no sistema educacional,
sobretudo na universidade, produzida
por uma minoria de intelectuais das
mais diversas especialidades. É
chamada erudita por exigir maior
austeridade na sua elaboração e, por
isso, torna-se acessível a um público
minoritário. Supõe-se que a maioria
não está apta à produção elitizada,
pois exige longo preparo e o exercício
contínuo dessas obras.
17. Cultura popular
Complexa, consiste na produção anônima, seja do
campo, do interior ou do subúrbio. No sentido mais
amplamente difundido, ela é identificada como folclore:
lendas, contos, ditos populares e a tradição transmitida
oralmente. O risco desse ponto de vista está em
categorizar a cultura popular como acabada, sem
dinamismo e transformação, quando na verdade toda e
qualquer cultura não é assim.
18. Há os que ignoram e desprezam tal
cultura, vendo-a extravagante e
manifestação do pitoresco. Ainda
assim, tornam-na ajustável para o
consumo: o folclore para o turismo.
Contudo, tentar preservar e
estimular essa produção pode
tornar a cultura popular infantil,
frágil e que precisa de proteção.
Isso atribui imaturidade e falta de
autonomia aos seus produtores,
como se precisassem ser
conduzidos.
19. Cultura de massa
Brota dos meios de comunicação de
massa, que alcançam rapidamente um
enorme número de pessoas de diferentes
classes sociais e formações: TV, jornal,
meios eletrônicos de comunicação, etc.
Impõe padrões e unifica o gosto por meio
do poder de difusão de seus produtos. É
inevitável que a nossa maneira de pensar
se altere sob a influência desses meios e
muitas áreas são influenciadas por eles.
20. A cultura de massa também procura
se apropriar da cultura erudita, o que
é um fenômeno típico da indústria
comercial quando procura satisfazer
determinados seguimentos sociais. A
exemplo temos as ¹imitações de
produtos de marca inacessíveis às
posses de indivíduos menos
favorecidos; ²o leitor de versões
adaptadas de grandes clássicos da
literatura; o ³ouvinte de música
popular que aprecia uma música
clássica em ritmo de dança de salão.
21. O Fortuna – Carmina Burana
Remix Wizzy Noise
CARMINA
BURANA
Textos e poemas dramáticos
datados dos séculos XI, XII e XIII.
Picantes, irreverentes e satíricos,
foram escritos por monges e
clérigos pobres desamparados
pela Igreja (goliardos). Línguas:
latim medieval, médio-alto-
alemão, francês antigo
(provençal) e macarrônicas (latim
vernáculo, alemão ou francês). 24
poemas musicalizados por Carl
Orff em 1936.
23. “Os meios de comunicação de massa são o oposto da
obra de pensamento, que é a obra cultural - ela leva a
pensar, a ver, a refletir. As imagens publicitárias,
televisivas e outras, em seu acúmulo acrítico, nos
impedem de imaginar. Elas tudo convertem em
entretenimento: guerras, genocídios, greves, cerimônias
religiosas, catástrofes naturais e das cidades, obras de
arte, obras de pensamento. (...) Cultura é pensamento e
reflexão. Pensar é o contrário de obedecer. A indústria
cultural cria um simulacro de participação na cultura
quando, por exemplo, desfigura a Sinfonia nº 40 de
Mozart em chorinho. Assim adulterada, não é Mozart,
tampouco ritmo popular. Tanto a sinfonia quanto o
samba vêem-se privados de sua força própria de bens
culturais considerados em sua autonomia.”
Olgária Matos, A Escola de Frankfurt: luzes e sombras do Iluminismo. São
Paulo, Moderna, 2006, p. 64.
24. Cultura
popular individualizada
É aquela produzida por “intelectuais
que não vivem dentro da universidade
(e, portanto, não produzem cultura
erudita) nem são típicos representantes
da cultura popular, tampouco da
cultura de massa (que resulta do
trabalho de equipe)”: Zeca Baleiro,
Caetano Veloso, Guarnieri, etc. O
criador individual sofre a influência de
todas as expressões culturais.
25. Cuidar da educação popular não é vulgarizar a cultura
erudita tornando-a superficial e aguada, tampouco
significa dirigir de forma paternalista a produção cultural
popular. Com isso seria evitado o produto resultante de
imitação, típico de uma cultura envergonhada de si
mesma.
26. Pluralidade cultural
É errôneo compreender a própria
cultura como a correta,
considerando esdrúxula as
demais. Aceitar as diferenças
entre culturas é importante para
evitar o etnocentrismo, o
julgamento de outros padrões a
partir de valores de seu próprio
meio. Esse comportamento
geralmente leva a xenofobia. Às
vezes busca-se unificar as culturas
sem respeitar as diferenças, como
ocorre nos processos que têm em
vista a assimilação do diferente
por incutir a cultura dominante
como fizeram os jesuítas durante
a colonização. Hoje, o que deve
dirigir o convívio com as
diferenças é o respeito à
pluralidade das tradições
culturais.
27. Cultura, direitos humanos
e globalização
Desde 1948 a Declaração Universal dos Direitos Humanos
garante que todo homem tem direito a usufruir das
manifestações culturais da comunidade, bem como a
proteção de qualquer produção que seja autor. (Art. 27, I, II)
Desde então muitos têm sido os debates em defesa desses
direitos, incluindo o de acesso igualitário à educação.
O consumismo cultural tornou-se mais complexo com o
processo acelerado da globalização.
Se a globalização acontecesse de igual para igual entre as
culturas dos povos, haveria predominância positiva da
divulgação da diversidade. Mas as relações entre os países
são marcadas pelas hegemonias de alguns –
principalmente norte-americana –, o que leva à
predominância de algumas culturas sobre outras – as
periféricas. E as expressões culturais que permanecem
muitas vezes se desestruturam para uso turístico.
28. Educação e Cultura
O aperfeiçoamento das atividades humanas só é
possível pela transmissão dos conhecimento adquiridos
de uma geração para outra, por meio da educação. “A
educação é, portanto, fundamental para a socialização
e a humanização, com vistas à autonomia e à
emancipação. Trata-se de um processo que dirá a vida
toda e não se restringe à mera continuidade da
tradição, pois supõe a possibilidade de rupturas, pelas
quais a cultura se renova e o ser humano faz a história.”
29. Luís Milanesi caracteriza um centro cultural como o
resultado da conjugação de três verbos:
Informar
Discutir
Criar
Assim:
Informa-se, discute-se a informação e assim cria-se a
cultura.
30. “
”
O que vale, afinal, é conceber a
cultura como manifestação plural, um
processo dinâmico, e a educação
como o momento em que a herança e
renovação se completam, a fim de
criar o espaço possível de exercício da
liberdade.
M. Lúcia de Arruda Aranha.
31. Faculdade Frassinetti do Recife – FAFIRE
Licenciatura em Letras (Português/Inglês), 1º Período 2014.1
Fundamentos Filosóficos da Educação
Prof. Ms. Fábio Medeiros
Wendell Batista dos Santos
sbwendell@gmail.com
http://wendellbatista.blogspot.com
Dhyanna Lays Ramos Neves
dhyanna_hta@hotmail.com
Recife, 22 de maio de 2014