[1] O documento discute microcefalia e alterações no sistema nervoso central e sua possível relação com o vírus Zika. [2] É fornecida uma explicação detalhada sobre anomalias congênitas, incluindo causas, riscos e períodos de desenvolvimento mais vulneráveis no útero. [3] Imagens de crianças com microcefalia na região metropolitana de Recife são apresentadas, juntamente com gráficos de referência para medir o perímetro cefálico.
1. Microcefalia e/ou alterações do
Sistema Nervoso Central e a
relação com vírus Zika
Wanderson K. Oliveira
Epidemiologista
j.mp/blog-epilibertas
2. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
ALTERAÇÕES CONGÊNITAS
São alterações morfológicas e/ou funcionais detectáveis na gestação e ao
nascer e que exibem manifestações clínicas muito diversificadas, de dismorfias
leves até defeitos complexos de órgãos que podem apresentar-se isolados ou
associados.
Algumas anomalias importantes podem ser diagnosticadas antes do
nascimento, podendo ser leves ou graves e muitas podem ser tratadas ou
reparadas. Apesar disso, a maioria trata-se depois do parto ou mais adiante.
Malformações congênitas constituem a principal causa de mortalidade infantil.
Aproximadamente 3-4 % dos recém-nascidos têm algum defeito congênito.
3. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
ANOMALIAS CONGÊNITAS OU DEFEITOS CONGÊNITOS
Aproximadamente 50% de todas as anomalias congênitas não podem
ser relacionadas a causas específicas, há apenas algumas causas e
fatores de risco conhecidos;
Alguns casos somente são descobertos quando a criança cresce.
Aproximadamente 7,5% das crianças com <5 anos diagnostica-se um
defeito deste tipo, embora muitos deles sejam insignificantes;
As anomalias congênitas mais comuns são graves defeitos cardíacos,
defeitos do tubo neural e síndrome de Down;
Apesar de anomalias congênitas pode ser genética, infecciosa,
nutricional e ambiental na origem, na maioria das vezes é difícil
identificar as causas exatas;
4. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
ANOMALIAS CONGÊNITAS OU DEFEITOS CONGÊNITOS
Algumas anomalias não necessitam de nenhum tratamento. Outras não podem ser
tratadas e, em consequência, a criança poderá apresentar algum tipo de incapacidade
permanente.
Até a década de 1940, acreditava-se que os embriões humanos estavam protegidos de
agentes ambientais, tais como drogas e vírus, pelas membranas extraembrionárias/fetais
(âmnio e córion) e pelas paredes abdominal e do útero da mãe.
A identificação da síndrome da rubéola congênita, em 1941, derrubou a ideia de que a
placenta seria uma barreira eficaz de proteção contra organismos exógenos.
Na década de 1960 a tragédia da talidomida, provocada pelo uso de fármacos durante a
gravidez, trouxe maior atenção.
5. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
FISIOPATOGENIA DAS ANOMALIAS CONGÊNITAS
Malformação: Defeito morfológico de um órgão, parte de um órgão ou região
maior do corpo resultante de um processo de desenvolvimento
intrinsecamente anormal. Exemplos: alterações cromossômicas e gênicas como
fator intrínseco.
Deformidade: Uma estrutura deformada intrauterina, que originariamente
(geneticamente) estava definida para se desenvolver normalmente e cujo
processo de desenvolvimento foi alterado por agentes mecânicos. Exemplo: Pé
torto por miopatia.
6. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
FISIOPATOGENIA DAS ANOMALIAS CONGÊNITAS
Disrupção ou ruptura: é um defeito morfológico de um órgão, parte de um
órgão, ou uma região maior do corpo resultante do desarranjo do processo de
desenvolvimento originalmente normal que fica comprometido por
interferência de um:
Fator extrínseco: infecções congênitas (sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus e herpes
símplex), isquemia intrauterina, radiações ionizantes, outras agressões teratogênicas (drogas
como talidomida, aspirina, tetraciclina, calmantes, amino glicosídeos, quinolonas, hidantoína,
warfarina), alcoolismo materno, drogadição (cocaína). Exemplo: microcefalia.
Displasia: anormalidade da organização das células ao formarem tecidos e seus
resultados morfológicos. Exemplo: displasias esqueléticas – acondroplasia.
7. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
ANOMALIAS CONGÊNITAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
As malformações congênitas das estruturas que recobrem o sistema nervoso central
(meninges, arcos vertebrais, músculos e pele) são chamadas de defeitos de
fechamento do tubo neural (DFTN)
Defeitos do tubo neural afetam o cérebro e a medula espinhal, e estão entre as
anomalias congênitas mais comuns (em geral 10/10.000 nascidos vivos no mundo)
Os tipos mais prevalentes de defeitos no tubo neural são anencefalia, inencefalia,
espinha bífida e encefalocele
Source: adapted, with permsiion from the publisher, from Botto et al. N. Engl. J. Med. 1999;341:1509–19.
8. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
ANOMALIAS CONGÊNITAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
Source: adapted, with permsiion from the publisher, from Botto et al. N. Engl. J. Med. 1999;341:1509–19.
Inencefalia
Cranioraquisquis
e
Espinha Bífida
Aberta
Anencefalia
Encefalocele
Espinha
Bífida
Fechada
9. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
ANENCEFALIA
Fonte: OMS – World Atlas of Birth Defects - 2003
A anencefalia é definida como a ausência
completa (holo) ou parcial (mero) do cérebro,
causada por uma falha no fechamento do tubo
neural cefálico, resultando na protrusão de
tecido cerebral através do defeito na calvária
(exencefalia) e na sua degeneração
10. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
CAUSAS E RISCOS
Apesar de se desconhecer a causa das anomalias congênitas, sabe-se que
certos fatores aumentam o risco de desenvolvê-las, como: as deficiências
nutricionais, a radiação, certos fármacos e outras drogas, como o consumo de
álcool e tabaco, certos tipos de infecções e outras doenças da mãe,
traumatismos e outros transtornos hereditários.
Alguns riscos podem ser evitados, enquanto outros não. Assim, uma gestante
pode seguir estritamente todos os conselhos (dieta apropriada, descansar o
suficiente e evitar tomar medicamentos) e mesmo assim ter um neonato com
defeito congênito. Por outro lado, outra mulher pode fazer muitas coisas
prejudiciais para o feto e, no entanto, ter um filho sem nenhum defeito congênito.
11. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
TERATOGÊNESE
Qualquer fator ou substância que possa induzir ou incrementar o risco de defeitos
congênitos, interferindo no desenvolvimento do embrião, recebe o nome de
teratógeno.
Esses elementos têm diferentes origens, como as substâncias químicas, tais como a
aspirina e a talidomida; agentes biológicos (infecciosos), tais como bactérias, vírus,
fungos, parasitos; e agentes físicos, tal como a radiação.
A ação de um agente teratogênico sobre o embrião ou feto em desenvolvimento
depende de diversos fatores, como: estágio de desenvolvimento do concepto,
relação entre dose e efeito, genótipo materno-fetal e mecanismo patogênico
específico de cada agente.
A fase fetal é menos atingida, porém estruturas como o cérebro, o cerebelo, o
sistema endócrino e o urogenital continuam se diferenciando, e, por isso, são
12. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
TERATOGÊNESE
A fase embrionária é a
mais prejudicada,
podendo afetar várias
estruturas.
Após a fecundação, entre
15 e 25 dias, o teratógeno
afeta o cérebro;
de 24 a 40 dias, os olhos;
de 20 a 40 dias, o coração;
de 24 a 36 dias, os
membros;
de 45 dias em diante, a
genitália.
13. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
TERATOGÊNESE
Fatores nutricionais: Uma das substâncias necessárias para um desenvolvimento apropriado é o fosfato (ácido
fólico). Uma quantidade insuficiente do mesmo na dieta aumenta o risco de o bebê sofrer de espinha bífida ou
outros defeitos do tubo neural.
Fatores físicos dentro do útero: Uma quantidade anormal de líquido amniótico pode indicar ou causar certos
defeitos congênitos. A acumulação de líquido amniótico pode acontecer quando o feto tem dificuldades em
engolir, um problema que pode ser causado por uma grave doença cerebral, como a anencefalia ou por uma
atresia esofágica.
Fatores genéticos e cromossômicos: Alguns defeitos congênitos são herdados de um ou de ambos os pais. Outros
são causados por mudanças espontâneas e inexplicáveis (mutações) nos genes. Outros ainda derivam de alguma
anomalia cromossômica, como um cromossoma a mais ou a falta dele. Quanto maior a idade da gestante
(principalmente se tem mais de 35 anos), maior é a probabilidade de que o feto tenha uma anomalia
cromossômica.
Fatores infecciosos: Sífilis, Toxoplasmose, Rubéola, Citomegalovírus e Herpes Simplex.
Fatores físicos: radiação ionizante
14. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
SOBRE A MICROCEFALIA
Cerca de 3% dos lactentes apresentam malformações estruturais significativas
detectáveis no nascimento e a maioria (65%) não tem etiologia conhecida.
A microcefalia é frequentemente está associada com atraso no
desenvolvimento intelectual, motor e alterações neurológicas;
A definição de microcefalia após o nascimento não é padronizada. Geralmente
considera-se o perímetro cefálico (PC) com mais de 2 desvios padrão (DP)
abaixo da média para idade e sexo. Outros autores utilizam 3 DP como
referência;
Para o PC menor que 2 DP abaixo da média, estima-se entre 0,56% a 0,54% das
crianças e para 3 DP e somente 0,1% das crianças diagnosticadas com
microcefalia;
A incidência de atraso no desenvolvimento, correlacionado com o PC menor
que a média é de 11% para 2 DP e 51% para 3 DP;
Fonte: Leibovitz, Z., et al. "Microcephaly at birth‐the accuracy of three references for fetal head circumference. How can we improve
prediction?." Ultrasound in Obstetrics & Gynecology (2015) e Manual de Obstetrícia de Williams - 23ed: Complicações na Gestação
15. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
A microcefalia se define como a presença de um Perímetro Cefálico (PC)
menor que dois desvios padrão abaixo da média para a idade, sexo,
raça e tempo de gestação.
Um PC baixo (microcefalia) indica, de modo geral, um cérebro pequeno
(microencefalia), seja de causa primária ou adquirida.
Cerca de 90% das microcefalias estão associadas com retardo mental,
exceto nas de origem familiar que podem ter o desenvolvimento
cognitivo normal. Ou seja, crianças que apresentam PC proporcional ao
corpo, mesmo que pequeno, são normais. Portanto, Microcefalia não
significa doença e sim um sinal clínico.
Os três modelos etiopatogênicos se associam com os diversos graus de
atrofia cerebral identificados em tomografia e ressonância cerebral.
SOBRE A MICROCEFALIA
16. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
MICROCEFALIA
http://es.atlaseclamc.org/cabeza/10-microcefalia-Q02.-#.Vjw1gvmrQdU
17. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
PERÍODO DA ORGANOGÊNESE DURANTE O PERÍODO EMBRIONÁRIO
Fonte: Manual de Obstetrícia de Williams - 23ed: Complicações na Gestação
Causas de malformações:
o Substâncias químicas (ex.:
drogas, agrotóxicos, etc);
o Biológicos (ex.: bactérias,
vírus, fungos, etc.);
o Agentes físicos (ex.:
radiação, etc);
Fatores relacionados:
o Estágio de
desenvolvimento do
concepto,
o Relação entre dose e efeito,
o Genótipo materno-fetal e
o Mecanismo patogênico
específico de cada agente.
O cérebro fica suscetível a complicações durante toda a gestação
18. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
IMAGENS AUTORIZADAS DE CRIANÇAS COM MICROCEFALIA.
REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE, 01/08 A 31/10/2015.
19. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
GRÁFICOS DE REFERÊNCIA PARA MEDIDA DO PERÍMETRO CEFÁLICO
Para crianças pré-termo
(<37 semanas de gestação)
Exemplo: meninas
Para crianças a termo
(37 a 42 semanas de gestação)
Exemplo: meninas
Fonte: Fenton, Tanis R and Kim, Jae H. A systematic review and meta-analysis to revise the Fenton
growth chart for preterm infants. BMC Pediatr. 2013; 13: 59. Published online 2013 April 20. doi:
10.1186/1471-2431-13-59. http://www.biomedcentral.com/content/pdf/1471-2431-13-59.pdf
Fonte: OMS. Curvas de circuferência da cabeça por idade.
http://www.who.int/childgrowth/standards/hc_for_age/en/
20. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
GRÁFICOS DE REFERÊNCIA DO PERÍMETRO CEFÁLICO NO BRASIL
21. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
MORFOGÊNESE DO CÉREBRO HUMANO ENTRE 4 E 7 SEMANAS DE GESTAÇÃO.
22. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
22
Fonte: Ministério da Saúde e Secretarias Estaduais de Saúde
Atualização: 16 de janeiro de 2016
Norte
Roraima
Rondônia
Pará
Amazonas
Tocantins
Nordeste
Maranhão
Piauí
Ceará
Rio Grande do Norte
Paraíba
Pernambuco
Alagoas
Bahia
Sudeste
Rio de Janeiro
São Paulo
Espírito Santo
Minas Gerais
Centro-oeste
Mato Grosso
Mato Grosso do Sul
Distrito Federal
Sul
Paraná
CASOS AUTÓCTONES DE ZIKA VÍRUS, BRASIL
23. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
POSSÍVEL RELAÇÃO ENTRE MICROCEFALIA E ZIKA VÍRUS
23
Aumento de síndrome exantemática antes da
ocorrência de microcefalia no nordeste do Brasil
Mães de bebês com microcefalia informarem presença
de exantema durante gravidez
Amostras positivas para Zika vírus em líquido
amniótico, tecidos e amostras de sangue
24. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
POSSÍVEL RELAÇÃO ENTRE MICROCEFALIA E ZIKA VÍRUS
24
Recém-nascidos com microcefalia
Aborto sugestivo de infecção congênita
Natimorto com microcefalia e/ou malformação sugestiva
de infecção congênita
Feto com microcefalia e/ou comprometimento do
sistema nervoso central sugestiva de infecção congênita
25. Wanderson Kleber de Oliveira – Epidemiologista
HTTP://COMBATEAEDES.SAUDE.GOV.BR/