Este plano de aula descreve uma lição sobre figuras de linguagem que tem como objetivo fazer com que os alunos criem jogos identificando figuras de linguagem em sonetos. Os alunos receberão materiais e realizarão pesquisas sobre figuras de linguagem como metáfora e hipérbole antes de dividirem-se em grupos para projetar e construir jogos.
9. ROTEIRO DE PESQUISA
1. Pesquise o que são as figuras de linguagem, incluindo sua finalidade no
texto.
2. Com suas palavras, construa um conceito para as seguintes figuras de
linguagem:
● Antítese
● Paradoxo
● Metáfora
● Metonímia
● Comparação
● Hipérbole
● Prosopopeia
3. Inclua exemplos de cada figura de linguagem pesquisada.
10. SUGESTÃO DE SONETOS
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Camões
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
11. Alma minha gentil, que te partiste
Camões
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te;
Roga a Deus que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
12. Soneto XIII
Olavo Bilac
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."
13. Soneto XII
William Shakespeare (Tradução de Ivo Barroso)
Quando a hora dobra em triste e tardo toque
E em noite horrenda vejo escoar-se o dia,
Quando vejo esvair-se a violeta, ou que
A prata a preta têmpora assedia;
Quando vejo sem folha o tronco antigo
Que ao rebanho estendia a sombra franca
E em feixe atado agora o verde trigo
Seguir no carro, a barba hirsuta e branca;
Sobre tua beleza então questiono
Que há de sofrer do Tempo a dura prova,
Pois as graças do mundo em abandono
Morrem ao ver nascendo a graça nova.
Contra a foice do Tempo é vão combate,
Salvo a prole, que o enfrenta se te abate.
14. Rio verde
Lenilde Freitas
Para melhor compor as madrugadas
também os galos acordavam cedo.
O vento ao passar pela varanda
contava à folhagem um segredo.
A hora era imensa e tão pouca
ó rastro da manhã que já desanda
no tempo, despetalando sim cada
palavra frágil flor de nossa boca.
Os colibris voavam bailarinos
sobre as sépalas verdes do futuro.
A brisa prenuncia assim os finos
dedos da chuva fria sobre o muro.
Então o relógio para, a vida zera.
Desfaz-se a neblina de quimera.
15. De joelhos
Florbela espanca
‘Bendita seja a Mãe que te gerou’.
Bendito o leite que te fez crescer.
Bendito o berço aonde te embalou
A tua ama, pra te adormecer!
Bendita essa canção que acalentou
Da tua vida o doce alvorecer...
Bendita seja a lua que inundou
De luz, a terra, só para te ver...
Benditos sejam todos que te amarem,
As que em volta de ti ajoelharem
Numa grande paixão fervente e louca!
E se mais que eu, um dia, te quiser
Alguém, bendita seja essa Mulher,
Bendito seja o beijo dessa boca! !
16. Vidas
Mário Quintana
Nós vivemos num mundo de espelhos,
mas os espelhos roubam nossa imagem...
Quando eles se partirem numa infinidade de estilhas
seremos apenas pó tapetando a paisagem.
Homens virão, porém, de algum mundo selvagem
e, com estes brilhantes destroços de vidro,
nossas mulheres se adornarão, seus filhos
inventarão um jogo com o que sobrar dos ossos.
E não posso terminar a visão
porque ainda não terminou o soneto
e o tempo é uma tela que precisa ser tecida...
Mas quem foi que tomou agora o fio da minha vida?
Que outro lábio canta, com a minha voz perdida,
nossa eterna primeira canção?!
17. Amor Fiel
Gregório de Matos
Ó tu do meu amor fiel traslado
Mariposa entre as chamas consumida,
Pois se à força do ardor perdes a vida,
A violência do fogo me há prostrado.
Tu de amante o teu fim hás encontrado,
Essa flama girando apetecida;
Eu girando uma penha endurecida,
No fogo que exalou, morro abrasado.
Ambos de firmes anelando chamas,
Tu a vida deixas, eu a morte imploro
Nas constâncias iguais, iguais nas chamas.
Mas ai! que a diferença entre nós choro,
Pois acabando tu ao fogo, que amas,
Eu morro, sem chegar à luz, que adoro.
18. Amar!
Florbela Espanca
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
19. Fanatismo
Florbela Espanca
Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver.
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No mist'rioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!...
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."
20. Vandalismo
Augusto dos Anjos
Meu coração tem catedrais imensas,
templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.
Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas,
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.
Como os velhos templários medievais,
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos...
E erguendo os gládios e brandindo as hastas
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!
21. Buscando a Cristo
Gregório de Matos
A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.
A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.
A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
22. DOMINÓ – FIGURAS DE LINGUAGEM (EXEMPLOS)
28 PEÇAS COM 7 CATEGORIAS: METÁFORA, COMPARAÇÃO, METONÍMIA,
ANTÍTESE, PARADOXO, HIPÉRBOLE E PROSOPOPEIA.
METÁFORA
Ser Poeta
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Florbela Espanca
METÁFORA “Gosto da Noite imensa, triste e preta,
Como esta estranha borboleta”
Florbela Espanca
“Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é
chama”
Vinícius de Moraes
ANTÍTESE
“Amor é fogo que arde sem se ver,
Camões PARADOXO
METÁFORA
“Os ratos já devoram toda história,
e avançam contra os cacos do presente,”
Antônio Carlos Secchin
METÁFORA
“Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida”!
Florbela Espanca
“É a vaidade, Fábio, nesta vida,
Rosa, que da manhã lisonjeada,”
Gregório de Matos
PROSOPOPEIA
COMPARAÇÃO
“Que seja a tua mão branda como a neve”
Florbela Espanca
23. COMPARAÇÃO
“Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?...”
Florbela Espanca
“que seja a tua boca rubra como o
sangue”
Florbela Espanca
PARADOXO
COMPARAÇÃO
“A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos”.
Gregório de Matos
COMPARAÇÃO
“Ela só viu as lágrimas em fio,
Que de uns e de outros olhos derivadas,
Juntando-se formaram largo rio”.
Camões
“Sobe-me à boca uma ânsia análoga à
ansia
Que escapa da boca de um cardíaco”.
Augusto dos Anjos
PROSOPOPEIA
“De repente do riso fez-se o pranto”
Vinícius de Moraes ANTÍTESE
“Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste”.
Camões
PARADOXO
ANTÍTESE
“E das bocas unidas fez-se a espuma E das
mãos espalmadas fez-se o espanto”.
Vinícius de Moraes
24. “E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento”.
Vinícius de Moraes
HIPÉRBOLE
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,”
Augusto dos Anjos
PROSOPOPEIA
PARADOXO
“É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;”
Camões
“Mas que seja infinito enquanto dure”.
Vinícius de Moraes METONÍMIA
“é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer”.
Camões
HIPÉRBOLE
PARADOXO
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros”
Florbela Espanca
METONÍMIA
“Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura”
Bocage
“E em mim converte em choro o doce
canto”.
Camões
HIPÉRBOLE
“A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me”
Gregório de Matos
PROSOPOPEIA
25. HIPÉRBOLE
“Foste o beijo melhor da minha vida,
Ou talvez o pior... Glória e tormento,”
Olavo Bilac
HIPÉRBOLE
“mas os espelhos roubam nossa imagem”
Mário Quintana
PROSOPOPEIA
“Deixa que o olhar do mundo enfim
devasse
Teu grande amor que é teu maior
segredo!”
Olavo Bilac
26. FICHA DE AVALIAÇÃO
Nome:
1. Design do jogo (aparências das peças e/ou cartas, visibilidade das
informações etc.)
( ) Regular
( ) Bom
( ) Muito bom
( ) Excelente
2. Clareza e a objetividade das regras do jogo
( ) Regular
( ) Bom
( ) Muito bom
( ) Excelente
3. Atendimento ao tema (aborda todas as figuras de linguagem propostas)
( ) Regular
( ) Bom
( ) Muito bom
( ) Excelente
4. Desafio e diversão (se a proposta é adequada para o público-alvo e
apresentada de forma interessante)
( ) Regular
( ) Bom
28. SUGESTÃO DE SONETOS
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Camões
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem* (se algum houve) as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto*.
E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
*Antítese.
29. Alma minha gentil, que te partiste
Camões
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu* eternamente,
E viva eu cá na terra* sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te;
Roga a Deus que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
*Antítese (lá/cá; céu/terra)
30. Soneto XIII
Olavo Bilac
"Ora (direis) ouvir estrelas*! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto*,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."
*Prosopopeia.
31. Soneto XII
William Shakespeare (Tradução de Ivo Barroso)
Quando a hora dobra em triste e tardo toque
E em noite horrenda vejo escoar-se o dia*,
Quando vejo esvair-se a violeta, ou que
A prata a preta têmpora assedia**;
Quando vejo sem folha o tronco antigo
Que ao rebanho estendia a sombra franca
E em feixe atado agora o verde trigo
Seguir no carro, a barba hirsuta e branca;
Sobre tua beleza então questiono
Que há de sofrer do Tempo a dura prova,
Pois as graças do mundo em abandono
Morrem ao ver nascendo a graça nova.
Contra a foice do Tempo** é vão combate,
Salvo a prole, que o enfrenta se te abate.
*Antítese
**Metáfora
32. Vidas
Mário Quintana
Nós vivemos num mundo de espelhos,
mas os espelhos roubam nossa imagem*...
Quando eles se partirem numa infinidade de estilhas
seremos apenas pó tapetando a paisagem**.
Homens virão, porém, de algum mundo selvagem
e, com estes brilhantes destroços de vidro,
nossas mulheres se adornarão, seus filhos
inventarão um jogo com o que sobrar dos ossos.
E não posso terminar a visão
porque ainda não terminou o soneto
e o tempo é uma tela que precisa ser tecida**...
Mas quem foi que tomou agora o fio da minha vida**?
Que outro lábio canta, com a minha voz perdida,
nossa eterna primeira canção?!
*Prosopopeia.
**Metáfora.
33. Amor Fiel
Gregório de Matos
Ó tu do meu amor fiel traslado
Mariposa entre as chamas consumida**,
Pois se à força do ardor perdes a vida,
A violência do fogo me há prostrado.
Tu de amante o teu fim hás encontrado,
Essa flama girando apetecida;
Eu girando uma penha endurecida,
No fogo que exalou, morro abrasado.
Ambos de firmes anelando chamas,
Tu a vida deixas, eu a morte* imploro
Nas constâncias iguais, iguais nas chamas.
Mas ai! que a diferença entre nós choro,
Pois acabando tu ao fogo, que amas,
Eu morro, sem chegar à luz, que adoro.
*Antítese
**Metáfora.
34. Amar!
Florbela Espanca
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem*?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma primavera em cada vida**:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada***
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar*...
*Antítese
**Metáfora.
***Metonímia (para morte)
35. Fanatismo
Florbela Espanca
Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver*.
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!**
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No mist'rioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!...
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina**** fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! podem voar mundos****, morrer astros,
Que tu és como Deus*****: princípio e fim**!..."
*Paradoxo
**Hipérbole
***Metáfora
****Prosopopeia
*****Comparação
36. Vandalismo
Augusto dos Anjos
Meu coração tem catedrais imensas*,
templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.
Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas,
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.
Como os velhos templários medievais,
Entrei um dia nessas catedrais**
E nesses templos claros e risonhos...
E erguendo os gládios e brandindo as hastas
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!
*Metáfora e hipérbole.
** Comparação
37. Amor é fogo que arde sem se ver
Camões
Amor é fogo que arde sem se ver*,
é ferida que dói, e não se sente**;
é um contentamento descontente**,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente**;
é nunca contentar-se de contente**;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor
*Metáfora
**Paradoxo
38. A Carolina
Machado de Assis
Querida, ao pé do leito derradeiro*
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro**.
Trago-te flores, - restos arrancados
Da terra que nos viu*** passar unidos
E ora mortos nos deixa separados****.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
*Metáfora: Amor é fogo que arde sem se ver
** Hipérbole
***Prosopopeia
**** Antítese (unidos/separados)
39. Buscando a Cristo
Gregório de Matos
A vós correndo vou, braços* sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.
A vós, divinos olhos*, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me**, estais despertos,
E, por não condenar-me**, estais fechados.
A vós, pregados pés*, por não deixar-me,
A vós, sangue* vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça* baixa, p'ra chamar-me
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
*Metonímia
**Antítese