1) O documento discute três perspectivas sobre o signo linguístico: Saussure, Hjelmslev e Peirce. 2) Saussure via o signo como uma associação bilateral entre significante e significado determinada pela estrutura linguística. Hjelmslev criticou aspectos desta visão. 3) Peirce propôs uma nova bilateralidade entre representamen e interpretant, vendo o signo como produto da comunicação e não pré-requisito dela.
Mediacao semiotica vygotsky cida e ernani v.6 de 23.11
Signos Linguísticos Saussure Hjelmslev Peirce
1. O signo linguístico sob três
perspectivas: Saussure,
Hjelmslev e Peirce
Aproximações ao “terceiro elemento”
2. Percurso...
1. Contextualização: Teoria do Signo, Ontologia e Epistemologia
2. O signo linguístico no Estruturalismo: o signo bilateral
2.1 Como reconhecer o Estruturalismo? (Gilles Deleuze)
2.2 O signo linguístico em Saussure
2.3 Crítica ao signo linguístico saussuriano em Hjelmslev
3. O signo linguístico em Peirce: outro tipo de bilateralidade
4. Considerações finais: síntese do percurso e questões em aberto
3. 1. Contextualização: Teoria do Signo,
Ontologia e Epistemologia
Toda teoria do signo pressupõe e atualiza e/ou propõe uma determinada
noção de realidade (dimensão ontológica) e uma noção de como o
sujeito constrói conhecimentos na interação com essa realidade
(dimensão epistemológica).
Ontologia e Epistemologia condicionam, em grande medida, o que pode
ser ‘exigido’ do signo, a sua essência e a sua funcionalidade. Assim, por
exemplo, dependerá do nosso ponto de partida ontológico e
epistemológico que o signo ‘represente’ um aspecto da realidade ou que,
pelo contrário, contribua para a sua ‘construção’.
Diante desse estado de coisas, optar, por exemplo, por definir uma
unidade terminológica com base na fórmula “para que serve” é algo que
transcende o nível puramente técnico e que se insere em um conjunto de
pressupostos teóricos específicos (em detrimento de outros possíveis).
4. 2. O signo linguístico no Estruturalismo.
2.1 Como reconhecer o Estruturalismo? (Gilles Deleuze)
Ponto de partida do Estruturalismo: reconhecimento de um terceiro nível,
de um terceiro “reino”:
(i) o real
(ii) o imaginário (= mental, conceitual)
(iii) o simbólico
“Além da palavra, na sua realidade e nas suas partes sonoras, além das
imagens e conceitos associados à palavra, o linguista estrutural descobre um
elemento de natureza completamente diferente, um objeto estrutural”
5. 2. O signo linguístico no Estruturalismo.
2.1 Como reconhecer o Estruturalismo? (Gilles Deleuze)
O nível simbólico (o objeto estrutural) possui caráter genético. A estrutura
se sobrepõe (ou: subjaz) à realidade e ao mundo conceitual, seguindo
uma lógica e umas regras próprias. É “o subsolo de todas as terras da
realidade e de todos os céus da imaginação”.
O que a estrutura não é:
Não é uma forma sensível
Não é uma figura da imaginação (um conceito ou uma rede conceitual)
Não é uma Gestalt: uma forma ou figura geral que ordena as suas partes.
Os elementos estruturais não possuem, por si mesmos, nem forma, nem
significado, nem referência, nem conteúdo, nem realidade, nem
funcionalidade (gramatical, lexical, etc.).
6. 2. O signo linguístico no Estruturalismo.
2.1 Como reconhecer o Estruturalismo? (Gilles Deleuze)
O que a estrutura é:
Os elementos estruturais são posições relativas, posições definidas pela
vizinhança.
Trata-se de posições vazias, anteriores às coisas, aos seres reais e aos conceitos
que virão a ocupá-los.
As posições não possuem em si e por si sentido, mas geram o sentido dos
elementos reais e conceituais que virão a ocupá-los.
“Há um profundo sem sentido do sentido, do qual procede o sentido mesmo”
7. 2. O signo linguístico no Estruturalismo.
2.1 Como reconhecer o Estruturalismo? (Gilles Deleuze)
8. 2. O signo linguístico no Estruturalismo.
2.1 Como reconhecer o Estruturalismo? (Gilles Deleuze)
1ª sing nom (yo, ich..) 1ª sing ac (me, mich) 1ª sing dat
2ª sing nom (tú, du..) 2ª sing ac (te, dich) 2ª sing dat
3ª sing nom (él, er..) 3ª sing ac (...) 3ª sing dat
1ª pl nom (nosotros, wir..) 1ª pl ac 1ª pl dat
2ª pl nom (vosotros, ihr..) 2ª pl ac 2ª pl dat
3ª pl nom (ellos, sie..) 3ª pl ac 3ª pl dat
9. 2.2 O signo linguístico em Saussure
Saussure concebe a língua (langue) como estrutura (ou, na terminologia
dele: como um sistema), formada por posições ordenadas em séries
(subsistemas). Tanto a forma quanto o sentido (conteúdo) de um signo
linguístico são determinados pela posição (relativa, isto é, de vizinhança)
que ocupam numa estrutura (ou subestrutura da langue). Assim, um /m/
que não esteja em oposição (em vizinhança) a um /n/ ou a um /ɱ/ não é
uma labial nasal, mas apenas uma nasal; um que não esteja em
oposição a um ou a um não é um smiley, mas simplesmente um rosto.
A identidade formal, bem como a identidade semântica são constituídas
no sistema, na estrutura, a partir da posição que ocupa um elemento e as
relações que contrai com os elementos vizinhos (= valor).
10. 2.2 O signo linguístico em Saussure
O sistema (a estrutura linguística e a suas substruturas) fragmenta e parcela
o fluxo continuo e difuso das nossas impressões e pensamentos em
unidades conceituais (significados) delimitadas por certas caraterísticas
opositivas. Da mesma forma, secciona o fluxo continuo e difuso do
espectro sonoro em unidades formais definidas (significantes).
O signo linguístico em Saussure é binário (bilateral): o signo se constitui pela
associação entre um significado e um significante. Essa associação, o ato
da semiose, se estabelece de forma arbitrária (e, a princípio, em cada
língua natural de forma particular).
11. 2.3 Crítica ao signo linguístico saussuriano em
Hjelmslev (Prolegômenos a uma teoria da linguagem)
(1) A afirmação de que cada signo tem duas partes, um significado e um
significante, que se associam uma à outra no ato da semiose, gera o
seguinte paradoxo teórico: que uma coisa se associe a uma outra
pressupõe a existência de ambas antes do processo de associação.
Saussure nega essa existência pré-semiótica de significado e significante.
Contudo, não se incomoda com a inconsistência lógica que deriva de
falar da associação de duas entidades que separadas não existem.
(2) Hjelmslev tenta desfazer esse paradoxo propondo uma diferenciação
entre sentido (ou substância do conteúdo) e forma do conteúdo. A
substância tem caráter pré-linguístico, enquanto que a forma do
conteúdo é imposta pela língua.
12. 2.3 Crítica ao signo linguístico saussuriano em
Hjelmslev
Exemplo:
I do not know.
Je ne sais pas.
Eu não sei.
A presidente da República inaugura o Estádio Nacional.
O estádio nacional foi inaugurado pela presidente da República.
A substância do conteúdo é a mesma, muda, porém, a forma do conteúdo.
13. 2.3 Crítica ao signo linguístico saussuriano em
Hjelmslev
(3) Finalmente, cabe destacar que o conceito de arbitrariedade também
gera uma incongruência lógica significativa no modelo de Saussure. Uma
associação arbitrária (entre significado e significante) pressupõe um
processo de convencionalização entre os usuários duma língua. A
convencionalização e, conseguintemente, a associação arbitrária não
podem ser geradas dentro do sistema, da estrutura, mas fora dela, na
comunicação.
14. 3. O signo linguístico em Peirce: outro tipo de
bilateralidade
Peirce abandona a noção estruturalista da bilateralidade do signo,
retirando dele o conceito como parte imanente. O objeto conceitual
passa agora a ser algo externo.
O signo peirciano substitui o objeto conceitual pelo significado
(interpretant, signification). Nasce, assim, uma nova bilateralidade,
constituída agora por um aspecto formal do signo (representamen) e o seu
significado.
O representamen é definido em Peirce como aquele aspecto do signo
que permite que seja percebido: a sua perceptibilidade. Algo
imperceptível ou dificilmente perceptível não pode ser utilizado como
signo.
15. 3. O signo linguístico em Peirce: outro tipo de
bilateralidade
O interpretant, significado, corresponde a aquele aspecto do signo que
possibilita a sua interpretação: a sua interpretabilidade.
É importante observar que a semiose em Peirce é algo externo ao próprio
signo, enquanto depende de um ato de percepção e de um processo de
interpretação, isto é, de atividades desenvolvidas pelos usuários em um
processo de comunicação. O signo passa a ser um produto de processos
comunicativos e não mais um pré-requisito para que eles aconteçam. Essa
primazia da comunicação sobre o signo e a sua semiose significa também
que o signo é dependente de diasistemas: o signo é diatópico, diastrático,
diafásico, diageracional, etc. O signo é um produto de práticas sociais, se
apresenta como um sócio-signo (ou um etno-signo).
16. 3. O signo linguístico em Peirce: outro tipo de
bilateralidade
Inserido em e decorrente de práticas comunicativas reais, o signo
linguístico se caracteriza por uma “abertura multidimensional” (Umberto
Eco), que torna metodologicamente inadequado o uso de modelos de
equivalência na descrição semiótica ou terminológica (mãe = mulher que
tem filhos). Privilegiam-se agora modelos que descrevem o signo como
instrução para a execução de processos de interpretação inferencial em
contextos comunicativos reais.
Pierce propõe uma taxonomia dos signos de acordo com a natureza do
seu significado, isto é, daquilo que possibilita a interpretabilidade do signo
e, portanto, a sua participação em processos de inferência. Os signos
podem ser sintomas, ícones ou símbolos.
17. 3. O signo linguístico em Peirce: outro tipo de
bilateralidade
(1) Sintomas: algo perceptível é (ou se converte em) um sintoma se
permite a realização de inferências causais. Dizemos que a febre é um
sintoma de infeção num organismo, porque somos capazes de reconstruir
uma causa (infeção) a partir do seu efeito (febre); a inferência causal
converte a fumaça em sintoma do fogo, o barulho da agua em sintoma
da proximidade do rio, etc. Também podemos dizer que a febre, a
fumaça e o barulho da agua indicam a existência, respectivamente, da
infeção, do fogo e do rio. Sintomas têm, portanto, caráter indexical. Outra
caraterística importante dos sintomas reside em que eles são produzidos
apenas no ato da interpretação: as suas olheiras se convertem em um
sintoma só no momento em que eu as percebo e interpreto como um
efeito do seu cansaço. O sintoma não é apto para a comunicação
intencional. E, finalmente, cabe destacar que, sob uma perspectiva
sintomática, é impossível não comunicar.
18. 3. O signo linguístico em Peirce: outro tipo de
bilateralidade
(2) Ícones: algo perceptível é (ou se converte em) um ícone quando é utilizado
para provocar no outro um determinado processo de inferência por
associação (ou semelhança). Ícones são ‘verdadeiros signos’, no sentido de
que são usados em processos comunicativos completos, isto é, processos que
compreendem a expressão de uma intenção comunicativa, por parte de um
emissor, e um processo de compreensão por inferência, por parte de um
receptor do signo. Ícones são, portanto, signos intencionais. Quando durante a
nossa conversa pelo whatsapp te mando um ,tenho a intenção de que você
compreenda que eu estou furioso, mediante a identificação de que existe
uma semelhança entre esse emoticon e o rosto que habitualmente tem uma
pessoa furiosa. A princípio, um ícone não precisa de regras ou convenções.
Basta a existência de uma semelhança entre a forma e o que pretende ser
comunicado. Ícones podem, porem, sofrer processos de convencionalização e
transformar-se em símbolos.
19. 3. O signo linguístico em Peirce: outro tipo de
bilateralidade
(3) Símbolos: o que converte algo perceptível num símbolo? A resposta
não pode ser a “arbitrariedade” da relação entre a forma do perceptível
e o que se pretende comunicar. Se esse vínculo for arbitrário - ou sempre
arbitrário – seria impossível inferir de uma forma o que o emissor pretende
nos comunicar. Isto é, ‘arbitrário’ não pode ser interpretado neste contexto
como ‘o que resulta do arbítrio ou capricho de alguém”. O que converte
algo perceptível num símbolo é o seguimento de regras no seu uso, ou
seja, a convencionalidade do uso. Eu profiro a palavra ‘fumar’ para iniciar
no meu interlocutor um processo de inferência que tenha como resultado
a atualização, na sua mente, do conceito de FUMAR, baseado na regra ‘a
palavra fumar serve, na nossa comunidade de fala, para designar o
conceito FUMAR’. Nesse sentido, o símbolo peirciano se aproxima à ideia
de significado de Wittgenstein: “O significado de uma palavra é o seu uso
na língua”.
20. Considerações finais: síntese do percurso e
questões em aberto
(i) Da estrutura à comunicação.
(ii) Do valor ao significado.
(iii) Da primazia do signo à primazia da comunicação.
(iv) Do signo estático ao signo em transformação (metamorfoses do signo).
(v) O signo no contexto social do seu uso.
(vi)...