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Universidades Lusíada
Gomes, Sérgio Monteiro, 1985-
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e
30 do século XX na Avenida da Liberdade em
Lisboa
http://hdl.handle.net/11067/3084
Metadados
Data de Publicação 2017-03-28
Resumo A seguinte dissertação, incide no estudo das antigas grandes salas de
espectáculo existentes numa das mais eloquentes avenidas de Lisboa, a
Avenida da Liberdade. Para tal concretização, em primeiro lugar, foi feito
um paralelismo entre: sociedade, cidade, arquitectura e espectáculo, com
base no entendimento das razões do surgimento deste tipo de edifícios,
que de certo modo, nos ajudou também a perceber as influências que os
seus projectos acarretam. Destarte, por fim, é feito uma análise incisi...
Palavras Chave Cinema e arquitectura, Cinemas - Portugal - Lisboa, Avenida da
Liberdade (Lisboa, Portugal) - Edifícios, estruturas, etc.
Tipo masterThesis
Revisão de Pares Não
Coleções [ULL-FAA] Dissertações
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U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A
F a c u l d a d e d e A r q u i t e c t u r a e A r t e s
Mestrado Integrado em Arquitectura
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na
Avenida da Liberdade em Lisboa
Realizado por:
Sérgio Monteiro Gomes
Orientado por:
Prof.ª Doutora Arqt.ª Maria João dos Reis Moreira Soares
Constituição do Júri:
Presidente: Prof. Doutor Horácio Manuel Pereira Bonifácio
Orientadora: Prof.ª Doutora Arqt.ª Maria João dos Reis Moreira Soares
Arguente: Prof.ª Doutora Arqt.ª Susana Maria Tavares dos Santos Henriques
Dissertação aprovada em: 17 de Março de 2017
Lisboa
2016
U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A
Faculdade de Arquitectura e Artes
Mestrado Integrado em Arquitectura
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30
do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes
Lisboa
Novembro 2016
U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A
Faculdade de Arquitectura e Artes
Mestrado Integrado em Arquitectura
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30
do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes
Lisboa
Novembro 2016
Sérgio Monteiro Gomes
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30
do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitectura e
Artes da Universidade Lusíada de Lisboa para a
obtenção do grau de Mestre em Arquitectura.
Orientadora: Prof.ª Doutora Arqt.ª Maria João dos Reis
Moreira Soares
Lisboa
Novembro 2016
Ficha Técnica
Autor Sérgio Monteiro Gomes
Orientadora Prof.ª Doutora Arqt.ª Maria João dos Reis Moreira Soares
Título As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na
Avenida da Liberdade em Lisboa
Local Lisboa
Ano 2016
Mediateca da Universidade Lusíada de Lisboa - Catalogação na Publicação
GOMES, Sérgio Monteiro, 1985-
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em
Lisboa / Sérgio Monteiro Gomes ; orientado por Maria João dos Reis Moreira Soares. - Lisboa : [s.n.],
2016. - Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura e Artes da
Universidade Lusíada de Lisboa.
I - SOARES, Maria João dos Reis Moreira, 1964-
LCSH
1. Cinema e arquitectura
2. Cinemas - Portugal - Lisboa
3. Avenida da Liberdade (Lisboa, Portugal) - Edifícios, estruturas, etc.
4. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Teses
5. Teses - Portugal - Lisboa
1. Motion pictures and architecture
2. Motion picture theaters - Portugal - Lisbon
3. Avenida da Liberdade (Lisbon, Portugal) - Buildings, structures, etc.
4. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Dissertations
5. Dissertations, Academic - Portugal - Lisbon
LCC
1. NA2588.G66 2016
Ao meu Pai e à minha Mãe pela
perseverança, e todo o apoio incondicional.
Sem eles nada era possível.
A eles dedico este trabalho.
AGRADECIMENTOS
À minha família por todo o apoio, perseverança e esforço que fez para que eu me
tornasse naquilo que sou hoje.
À minha namorada e amiga, por todos os momentos de incentivo, dedicação,
compreensão e suporte.
Ao atelier Arsuna, em especial ao arquitecto Flávio Tirone pelo prestável fornecimento
de documentação complementar e orientação, que me ajudaram na conclusão deste
trabalho.
À Fundação Calouste Gulbenkian, por prontamente dispor online todos os desenhos e
imagens, que nos ajudaram a fundamentar melhor, o nosso trabalho.
À Câmara Municipal de Lisboa, pela disponibilidade dos seus funcionários, em
fornecer todo o tipo de documentação possível e necessária para a execução deste
trabalho.
Por fim, um especial agradecimento à professora Maria João Soares, por toda a
orientação, dedicação e sobretudo compreensão, que foram essenciais para a
resolução deste trabalho.
Um enorme obrigado a todos.
APRESENTAÇÃO
As grandes salas de espectáculos nos anos 20 e 30 do século XX na
Avenida da Liberdade de Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes
A seguinte dissertação, incide no estudo das antigas grandes salas de espectáculo
existentes numa das mais eloquentes avenidas de Lisboa, a Avenida da Liberdade.
Para tal concretização, em primeiro lugar, foi feito um paralelismo entre: sociedade,
cidade, arquitectura e espectáculo, com base no entendimento das razões do
surgimento deste tipo de edifícios, que de certo modo, nos ajudou também a perceber
as influências que os seus projectos acarretam.
Destarte, por fim, é feito uma análise incisiva, a três casos de estudo existentes na
designada Avenida da Liberdade, ou na sua imediata periferia. Assim incidimos a
escolha de estudo no cinema Tivoli, no cineteatro Capitólio e no cineteatro Eden. Em
cada análise, é feita uma divisão de três partes: a primeira tem como base a tentativa
de um entendimento do porquê da sua construção; a segunda, incide no conhecimento
de um pouco da vida do seu autor/arquitecto; por último, é feita uma análise ao
edifício, que tenta perceber as influências do seu projecto e um melhor entendimento
do espaço em si.
Palavras-chave: Lisboa, Avenida da Liberdade, Sociedade, Cidade, Arquitectura,
Espectáculo.
PRESENTATION
The biggest showrooms at the years 20 and 30 of the twentieth century at
Avenida da Liberdade in Lisbon
Sérgio Monteiro Gomes
The following dissertation focuses on the study of the former large showrooms on one
of the most elegant avenues of Lisbon, Avenida da Liberdade. In order to accomplish
this, in the first place, a parallelism was made between: society, city, architecture and
spectacle, based on the understanding of the reasons for the emergence of this type of
buildings, which, in a way, also helped us to perceive the influences that its projects
entail.
Finally, an incisive analysis was made, to three cases of study existing in the
designated Avenida da Liberdade, or in its immediate periphery. Thus we focus on the
choice of study in the Tivoli cinema, the Capitólio and Eden cinema theatres. In each
analysis, a division of three parts was made: the first one is based on the attempt of an
understanding of the reason of its construction; the second, focuses on the knowledge
of the life of its author / architect; finally, an analysis was made to the building, which
tries to perceive the influences of its project and a better understanding of the space
itself.
Keywords: Lisboa, Avenida da Liberdade, Society, City, Architecture, Spectacle.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 – A proclamação da República, o povo em frente da Câmara Municipal de
Lisboa. (Benoliel, 1910)................................................................................................22
Ilustração 2 - Preparativos para o embarque das tropas que vão combater na Primeira
Guerra Mundial. (Benoliel, 1916)..................................................................................24
Ilustração 3 - Bernardino Machado, Presidente da República, na varanda da Câmara
Municipal. (Benoliel, 1915) ...........................................................................................25
Ilustração 4 - Revolução de Sidónio Pais, o povo assiste à partida do automóvel que
leva Bernardino Machado, presidente da República, para o exílio. (Benoliel, 1917) ... 27
Ilustração 5 - Funeral do presidente Sidónio Pais. A urna funerária sai dos Paços do
Concelho. (Franco, 1918).............................................................................................28
Ilustração 6 – Segundo aniversário da Revolução de 28 de Maio de 1926, formatura da
Legião Portuguesa. (Notícias, 1928) ............................................................................29
Ilustração 7 – Vila Sousa, Largo da Graça, Lisboa. (Machado; Souza, 1896-1908).... 32
Ilustração 8 – Gravura da “Ilha” do Cabo de Secção, 1888. (Branco, 1888)................ 34
Ilustração 9 – Bairro Social do Arco do Cego, 1930. (Novais, 1930) ........................... 35
Ilustração 10 – Fotografia da nave central do Palácio de Cristal no Porto, 1864. (Porto,
2016).............................................................................................................................39
Ilustração 11 – Desenho da fachada da Fábrica de Moagens Caramujo, na Cova da
Piedade. (Toscano, 2012) ............................................................................................41
Ilustração 12 – Fotografia do Mestre José Luís Monteiro. (Novais, 1925-85).............. 43
Ilustração 13 – A Estação do Rossio, José Luís Monteiro, 1890. (Novais, 1933-83)... 43
Ilustração 14 – Maternidade Alfredo Costa, Ventura Terra, 1932. (Novais, 1933-83).. 45
Ilustração 15 – O Arquitecto Miguel Ventura Terra. Pintura de Veloso Salgado, 1866-
1918. ([Adaptado a partir de:] Leite, 2016)...................................................................45
Ilustração 16 – Retracto do Arquitecto Raul Lino. Moldura da autoria de Raul Lino e
desenho pela mão de Columbano Bordallo Pinheiro, 1907. ([Adaptado a partir de:]
Gulbenkian, 1970) ........................................................................................................45
Ilustração 17 – Casa do Cipreste, Raul Lino, 1914. ([Adaptado a partir de:] Cultura,
2016).............................................................................................................................45
Ilustração 18 – Estação dos Caminhos-de-ferro, Pardal Monteiro, 1928. (Pinto, 1953)
......................................................................................................................................47
Ilustração 19 – Edifício da Agência Havas, Carlos Ramos, 1922. (Kurt, 1940-1950). . 47
Ilustração 20 – Estação Fluvial Sul e Sueste, Cotinnelli Telmo, 1929. (Matias, 1959). 48
Ilustração 21 – Vista interior do Cineteatro Capitólio. (Leite, 2011) ............................. 50
Ilustração 22 – Antigo Hotel Vitória. (Leite, 2012) ........................................................51
Ilustração 23 – Vista interior do hall de entrada do Cineteatro Eden. (Novais, 1930-
1980).............................................................................................................................51
Ilustração 24 – A máquina do animatógrafo de Robert W. Paul. (Leite, 2012) ............ 53
Ilustração 25 – Garagem Auto-Lis. (Ilustração nossa, 2016) ....................................... 54
Ilustração 26 – O Real Coliseu de Lisboa. (Cunha, 1987-1929) .................................. 54
Ilustração 27 – O interior do Coliseu dos Recreios. (Portugal, 1900-1958) ................. 57
Ilustração 28 – Plano de prolongamento da Avenida da Liberdade. (Silva, 1932-1971)
......................................................................................................................................59
Ilustração 29 – Fotografia exterior do Cineteatro Tivoli. (Cunha, 1929)....................... 60
Ilustração 30 – Fotografia exterior do Cineteatro Capitólio. (Madureira, 1960)............ 60
Ilustração 31 – Fotografia exterior do cinema Imperial. (Madureira, 1960).................. 62
Ilustração 32 – Fotografia exterior do Royal-Cine. (Vasques, 1977)............................ 62
Ilustração 33 – Fotografia exterior do Cine-Lys. (Madureira, 1960) ............................. 62
Ilustração 34 – Fotografia exterior do Cinema Paris. (Madureira, 1960)...................... 62
Ilustração 35 – Fotografia exterior do Cinema São Jorge. (Serôdio, 1959) ................. 63
Ilustração 36 – Fotografia exterior do Cinema Império. (Madureira, 1959).................. 63
Ilustração 37 – Fotografia do Teatro Tivoli à noite. (Cunha, 1901-1970) ..................... 65
Ilustração 38 – Proposta para a fachada de frente para Avenida da Liberdade (Lino,
1918-1956). ..................................................................................................................72
Ilustração 39 - Proposta de fachada de frente para Rua Manuel de J. Coelho. (Lino,
1918-1956) ...................................................................................................................72
Ilustração 40 – Proposta de fachada de frente para Av. da Liberdade, com introdução
de um segundo andar. (Lino, 1918-1956) ....................................................................73
Ilustração 41 – Proposta final para a fachada de frente para a Avenida da Liberdade.
(Lino, 1918-1956) .........................................................................................................74
Ilustração 42 – Proposta final para a fachada de frente para a R. Manuel de Jesus
Coelho. (Lino, 1918-1956)............................................................................................74
Ilustração 43 - Projecto de modificações no edifício do cinema Tivoli; Planta do
restaurante. (Lino, 1918-1956) .....................................................................................76
Ilustração 44 - Planta do Tivoli quando desaparecimento da 2ª plateia e das frisas
laterais ([Adaptado de:] Ribeiro, 1978).........................................................................76
Ilustração 45 - Planta primitiva do Tivoli ([Adaptado de:] Ribeiro, 1978)...................... 76
Ilustração 46 - Fotografia do primeiro projecto para a boca de cena. (Serôdio, 1970) 77
Ilustração 47 - Desenho do alargamento da boca de cena. (Lino, 1918-1956)............ 78
Ilustração 48 - Desenho das guardas das escadas interiores (Lino. (Lino, 1918-1956)
......................................................................................................................................79
Ilustração 49 - Desenho de guarda ventos do vestíbulo. (Lino, 1918-1956)................ 79
Ilustração 50 - Desenho das cadeiras de plateia. (Lino, 1918-1956) ........................... 80
Ilustração 51 - Desenho da platibanda em balaustrada com jarrões, situada no torreão.
(Lino, 1918-1956) .........................................................................................................80
Ilustração 52 - Fotografia da entrada principal do Cineteatro Capitólio. (Novais, s.d.) 83
Ilustração 53 - Alçado Lateral. (Silva, 1925-1929)........................................................95
Ilustração 54 - Alçado Principal; Zona da entrada do recinto. (Silva, 1925-1929)........ 96
Ilustração 55 - Planta do terraço. ([Adaptado a partir de:] Silva, 1925-1929)............... 98
Ilustração 56 - Planta do rés-do-chão. ([Adaptado a partir de:] Silva, 1925-1929)....... 98
Ilustração 57 - Alçado Lateral com indicação dos vãos a vermelho. ([Adaptado a partir
de:] Silva, 1925-1929)...................................................................................................99
Ilustração 58 - Alçado Frontal com indicação dos diferentes “corpos”. ([Adaptado a
partir de:] Silva, 1925-1929) .........................................................................................99
Ilustração 59 - Perspectiva do salão de espectáculos. (Silva, 1974) ......................... 100
Ilustração 60 - Alçado Lateral, com a indicação dos vidros que abrem no sentido
vertical a vermelho. ([Adaptado a partir de:] Silva, 1925-1929).................................. 100
Ilustração 61 - Corte Transversal de frente para o palco. Indicação a vermelho da
iluminação artificial. ([Adaptado a partir de:] Silva, 1928)........................................... 101
Ilustração 62 - Planta do rés-do-chão. Com a introdução dos foyers e o recuo do palco
indicados a azul. ([Adaptado a partir de :] Silva, 1934-1935)..................................... 102
Ilustração 63 - Segundo legenda do desenho: “Projecto de um balcão camarotes e
respectivos foyers laterais que a Sociedade Avenida Parque pretende mandar
construir no seu teatro Capitólio situado no Parque Mayer”. ([Adaptado a partir
de:]Silva, 1935)...........................................................................................................103
Ilustração 64 - Planta da sala de espectáculos no ano de 1953. (Leite, 2011).......... 104
Ilustração 65 – Fotografia da Fachada principal do Cineteatro Eden. (Madureira, 1960)
....................................................................................................................................107
Ilustração 66 - Fachada principal de frente para a Praça dos Restauradores do Eden-
Teatro. Sem data. (Pinto, 2008) .................................................................................117
Ilustração 67 - Primeira proposta de remodelação de Cassiano Branco. Fachada
principal de frente para a Praça dos Restauradores. 1929. (Branco, 1929) .............. 118
Ilustração 68 - Planta do antigo Eden Teatro, já com as alterações de fachada
(rectângulo azul) e um sistema de rampas de emergência para utilização em caso de
sinistro (rectângulo verde). 1929. ([Adaptado de:] Branco, 1929).............................. 119
Ilustração 69 - Planta do antigo Eden Teatro. Restruturação dos acessos e desenho de
camarins. 1929. (Branco, 1929) .................................................................................120
Ilustração 70 - Segunda proposta de aumento e ampliação de Cassiano Branco.
Fachada principal de frente para a Praça dos Restauradores. 1930. (Branco, 1930)120
Ilustração 71 - Corte Longitudinal da proposta de Cassiano Branco. 1930. ([Adaptado a
partir de:] Acciaiuoli, 2012) .........................................................................................121
Ilustração 72 - Corte Transversal da proposta de Cassiano Branco. 1930. ([Adaptado a
partir de:] Acciaiuoli, 2012) .........................................................................................122
Ilustração 73 - Terceira proposta de 1931, de alteração e ampliação da autoria de
Cassiano Branco. Fachada principal de frente para a Praça dos Restauradores. 1931.
([Adaptado a partir de :] Branco, 1931) ......................................................................123
Ilustração 74 - Perspectiva da terceira proposta apresentada por Cassiano Branco.
1931. (Branco, 1931)..................................................................................................124
Ilustração 75 – Obra final, da autoria do Arquitecto Carlos Dias. (Cunha, 1937)....... 126
Ilustração 76 - Planta da proposta final do Cineteatro Eden da autoria do arquitecto
Carlos Dias. 1938. (Pinto, 2008).................................................................................127
Ilustração 77 - Corte longitudinal da proposta final do Cineteatro Eden da autoria do
arquitecto Carlos Dias. 1938. (Pinto,2008).................................................................128
Ilustração 78 - Fotografia do hall de entrada do Cineteatro Éden. (Lisboa, 2016)..... 129
Ilustração 79 - Desenho representativo da disposição das escadarias de acesso aos
vários sectores da sala de espectáculo (Ilustração nossa, 2016) .............................. 130
Ilustração 80 - Cena do filme Until the End of the World de Wim Wenders em que
figura as escadarias do Cineteatro Eden. (Pinto, 2008)............................................. 132
SUMÁRIO
1. Introdução ................................................................................................................17
2. Sociedade, arquitectura e programa........................................................................21
2.1. Portugal no início do século XX ........................................................................21
2.2. Breve alusão à Arquitectura Modernista em Portugal....................................... 36
2.2.1. A importância dos materiais para uma nova Arquitectura ......................... 37
2.2.2. Percursores do Movimento Moderno na Arquitectura Portuguesa ............ 42
2.2.3. O “efémero” Modernismo Português..........................................................46
2.3. O cinema como paradigma de mudança ..........................................................52
3. Cidade e espectáculo ..............................................................................................65
3.1. O cinema Tivoli de Raul Lino ............................................................................65
3.1.1. Origem .......................................................................................................66
3.1.2. O arquitecto................................................................................................70
3.1.3. O edifício....................................................................................................71
3.2. O cineteatro Capitólio de Cristino da Silva........................................................83
3.2.1. Origem .......................................................................................................84
3.2.2. O arquitecto................................................................................................89
3.2.3. O edifício....................................................................................................94
3.3. O cineteatro Eden de Cassiano Branco..........................................................107
3.3.1. Origem .....................................................................................................108
3.3.2. O arquitecto..............................................................................................113
3.3.3. O edifício..................................................................................................116
4. Considerações finais..............................................................................................133
Referências.................................................................................................................135
Bibliografia..................................................................................................................151
Anexos
Lista de Anexos
Anexo A – Cinema Tivoli
Anexo B – Cineteatro Capitólio
Anexo C – Cineteatro Eden
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 17
1. INTRODUÇÃO
A presente dissertação aborda o tema das grandes salas de espectáculos dos anos
vinte e trinta do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa. A escolha deste tema
prende-se, antes de mais, com um manifesto e intrínseco interesse pessoal pela
matéria, traduzido numa procura – que se pretende rigorosa – associada ao respectivo
tema. Para além disso, pesou na referida escolha o facto de ser um tema, pese
embora com notório interesse, muito pouco abordado ao longo de vários anos de
formação. Sentimos, por isso, a necessidade e a vontade de colmatarmos tal lacuna
cognitiva percorrendo alguns trilhos diversos que desenham a Arquitectura Moderna
Portuguesa das indicadas décadas. Por fim, sentimo-nos verdadeiramente inspirados
pelo tema do último trabalho de curso, o qual foi realizado em plena Avenida de
Liberdade, potenciando a curiosidade e um contacto mais próximo perante aquelas
que eram, antigamente, consideradas as grandes salas de espectáculo da Lisboa
Modernista.
Deste modo, com o desenvolvimento do seguinte trabalho, pretender-se-á: entender o
contexto político-social, da cidade de Lisboa nos inícios do século XX; perceber a
importância que a Arquitectura Moderna teve no desenvolvimento da cidade; fazer um
paralelismo entre cidade e cinema, e compreender como a evolução de ambos se
encontra interligada; analisar três das mais importantes salas de espectáculos da
Avenida da Liberdade.
Este trabalho foi organizado em duas partes. A primeira está relacionada com os três
primeiros pontos que enunciamos anteriormente. A segunda e última parte será uma
análise detalhada de três casos de estudo, situados na Avenida da Liberdade, em
Lisboa.
A primeira parte correspondente ao segundo capítulo, traçaremos um perfil geral da
sociedade portuguesa desde a 1ª República (1910) até à aprovação da Constituição
de 1933 que expunha os ideais do sucedâneo Estado Novo. Uma abordagem, do
tempo breve que foi a Arquitectura Modernista em Portugal, fazendo uma alusão ao
mesmo, abordando temáticas que vão desde a importância dos materiais, aos
arquitectos percursores, finalizando com uma explicação daquilo que foi o tempo
efémero da Arquitectura Moderna em Portugal. Por fim, abordaremos o percurso do
cinema em Portugal e a importância que ele teve no afirmar de novos perspectivas
para a sociedade e cidade de Lisboa.
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 18
No terceiro e último capítulo, analisaremos três das mais importantes salas de
espectáculos existentes na Avenida da Liberdade, o Cinema Tivoli (1924), o Cineteatro
Capitólio (1929) e o Cineteatro Eden (1933). Cada caso de estudo está dividido em
três partes. A primeira explica as razões do aparecimento do edifício em questão. A
segunda faz uma pequena abordagem da vida do arquitecto autor do projecto. A
terceira e última falam do edifício em si, fundamentando as suas tendências
arquitectónicas, através da visita, investigação, e observação de imagens feitas pelo
autor. No fim, foram colocadas em anexo, algumas fichas técnicas referentes a cada
caso de estudo, que ajudam a complementar a informação desenvolvida em cada
tema.
Para o desenvolvimento do seguinte trabalho, foi essencial a consulta de bibliografia
que ajudou de certo modo, a fundamentar todos os assuntos descritos tanto no
capítulo dois como no capítulo três. Para o capítulo três, o autor para além da
pesquisa da bibliografia referida, teve a oportunidade de efectuar uma visita guiada a
pelo menos dois dos casos de estudo (Tivoli e Capitólio), isto porque, o terceiro se
encontra parcialmente demolido e em utilização programática diferente (Eden). No
caso do Cinema Tivoli tivemos a oportunidade de o visitar, aquando das obras de
requalificação do espaço, onde mantivemos o contacto com o arquitecto Flávio Tirone
(autor do projecto de requalificação), que prontamente nos disponibilizou alguns
desenhos explicativos das mudanças que estavam a efectuar no espaço. No caso do
Cineteatro Capitólio, também tivemos a oportunidade de uma visita guiada, no último
ano de curso, efectuada pelo arquitecto Souza Oliveira (autor do projecto de
requalificação). Relativamente ao Cineteatro Eden, para infelicidade nossa, o edifício
encontra-se parcialmente alterado, e já com uma outra função, a de hotelaria, que
desvirtuou, por completo a ambiência que a sala outrora tinha. Ressalvamos que se
mantiveram intactas as escadarias de acesso
Para o desenvolvimento da seguinte dissertação, destacamos quatro referências que
foram de extrema importância para este trabalho, na medida em que não se
encontram muitos livros, que abordem a biografia do cinema na cidade de Lisboa.
Nessa conformidade, indicamos os seguintes livros e arquivos que proporcionam essa
abordagem global sobre o espectáculo e as subsequentes salas construída para esse
efeito (cinematográfico) na capital:
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 19
Os mais antigos cinemas de Lisboa, de M. Félix Ribeiro. Este foi um livro essencial
para a execução do seguinte trabalho, isto porque, não exuberam os livros que falem
acerca da história do cinema em Portugal, e os que existem, grande parte deles,
basearam-se na informação prestada por este livro.
Os cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, de Margarida Acciaiuoli.
Um pouco à semelhança com o livro anterior, traça a história do cinema na cidade de
Lisboa, desde a visualização das primeiras “fitas” até ao cinema de hoje em dia, e
onde é feita também, uma caracterização do modo em como o espectáculo se
processava na capital portuguesa.
Arquivo da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian, um arquivo de arte,
histórico e documental que dispõe ao público em geral, os mais diversos espólios de
alguns arquitectos. No nosso caso foram fundamentais, os espólios de Raul Lino e de
Cristino da Silva, que contêm uma série de imagens e desenhos, que proporcionaram
um estudo mais aprofundado das salas desenhadas por ambos o Cinema Tivoli e
Cineteatro Capitólio, sucessivamente.
Arquivo Municipal da Câmara Municipal de Lisboa, um arquivo histórico e documental,
que dispõe dos mais diversos desenhos e imagens, que nos ajudaram, a fundamentar
de um modo mais aprofundado possível, os mais diversos temas, que nesta
dissertação foram falados. Em especial, referimos o espólio do arquitecto Cassiano
Branco, onde são expostos os vários projectos que foram efectuados por este, para
um dos nossos casos de estudo o Cineteatro Eden.
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 20
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 21
2. SOCIEDADE, ARQUITECTURA E PROGRAMA
2.1. PORTUGAL NO INÍCIO DO SÉCULO XX
Segundo António Barreto1
“[…] uma das melhores maneiras de conhecer alguém
(pessoa ou país) consiste em percorrer as suas mudanças […]” (Barreto, 2007), e
como tal, seguindo essa premissa, o nosso objectivo enquanto dissertantes será de ir
ao encontro do estudo daquilo que foi Portugal no inicio do século XX, porque, só
assim, achamos ter as bases que nos possam justificar a razão dos acontecimentos
até à data da época em estudo, a designada era Moderna (nomeadamente os anos
vinte e trinta do século XX).
Tendo a arquitectura as implicações sociais que tem, inevitavelmente o
estabelecimento das suas linhas estruturais e mesmo a compreensão da sua evolução
formal têm estreitamente a ver com a própria evolução social, económica e política do
seu tempo. Daí que a demarcação de uma periodização para o estudo da arquitectura
moderna não possa deixar de ter em conta o aparecimento das forças sociais,
económicas e politicas que, em conjunto com os próprios dados culturais, vão constituir
um tecido interpretativo possível. (Almeida, et al., 1986 p. 10)
Volvamos então, ao início do século XX, que, deixando para trás um século XIX,
passado, ecléctico2
e industrial3
, se torna num símbolo de revoluções4
sociais,
económicas, culturais, profissionais e técnicas, “[…] factores que vão determinar o
progressivo surgir de uma nova consciência […]” (Almeida, et al., 1986 p. 9),
consciência que viria a delinear o caminho a seguir pelas gerações vindouras, a
consciência do “viver em sociedade”.
Situação política portuguesa
Portugal encontrava-se numa fase decisiva da sua história, falamos do fim da primeira
década do século XX, mais concretamente em 1910, ano que dita a queda da
1
(1942) António Miguel de Morais Barreto é um sociólogo e cronista português.
2
Especialmente no campo da arquitectura. O século XIX é percorrido por uma corrente de mistura onde
cabem todas as diferentes tendências – Eclectismo Historicista – todos os estilos eram válidos, desde que
tivessem um aval histórico, posto isto, construía-se à maneira grega, romana, renascentista, barroca,
árabe, oriental, gótica, românica, pitoresca, ou seja, construía-se de todas as maneiras, menos à maneira
do século XIX. (Simões, 2010)
3
O século XIX foi marcado por uma revolução que viria a mudar o rumo da história da humanidade em
geral, falamos da revolução industrial, um acontecimento que trouxe uma profunda alteração da maneira
de vida e de viver das pessoas enquanto parte integrante de uma sociedade. A revolução industrial,
define-se assim, pelo conjunto de transformações técnicas, económicas e sociais, caracterizadas pela
substituição da energia física pela mecânica, ou seja, da manufactura pela nasmaquinofactura. (Simões,
2010)
4
Não só, no sentido lato da palavra revolucionar, mas também no sentido de inovação e novidade que
esta viragem de século proporcionaria na vida das pessoas e das sociedades.
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 22
Monarquia Constitucional e a subsequente instauração da República Portuguesa, a 5
de Outubro (Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República,
2011).
Conquistado o poder, o Partido Republicano nomeou um governo provisório,
simbolicamente presidido pelo idoso e respeitado professor do Curso Superior de
Letras, Teófilo Braga, mas cujos verdadeiros chefes eram: António José de Almeida,
Afonso Costa, Bernardino Machado e, um pouco mais tarde, Brito Camacho. (Marques,
1995 p. 561)
Este primeiro governo provisório era contra a monarquia e contra a igreja5
, mas, como
interino que era, não tinha ainda projectos concretos. Mais tarde, a 28 de Maio de
1911, fazem-se as primeiras eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, nas
quais só o Partido Republicano (PRP) apresentou candidatos (Marques, 1995 p. 562).
A Assembleia Nacional Constituinte foi eleita num sufrágio em que só houve eleições
em cerca de metade dos círculos eleitorais. Não havendo mais candidatos do que
lugares a preencher em determinada circunscrição eleitoral, aqueles eram proclamados
"eleitos" sem votação. (República, 2016)
As eleições acabaram por submeter o governo ao apoio de uma maioria absoluta que
parecia muito sólida, mas a verdade é que essa solidez se desfez rapidamente,
porque dentro do partido republicano havia uma ala esquerda, uma ala direita e um
5
Sabemos que parte dos motivos para a implantação da república, residiram tanto nos gastos de capital
efectuados pela última família real, como pelo poder que a igreja detinha perante os órgãos soberanos
(Rei), sendo por isso espectável que a primeira governação pós monarquia, apresentasse medidas
reformadoras anti igreja e anti monárquicas. (Wheeler, 1978)
Ilustração 1 – A proclamação da República, o povo em frente da
Câmara Municipal de Lisboa. (Benoliel, 1910)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 23
centro. À esquerda, tínhamos como cabeça de cartaz Afonso Costa6
, ao centro
tínhamos como líder Brito Camacho7
, e a direita era liderada por José de Almeida8
(Marques, 1995 p. 563). Resumindo, as divergências foram-se acentuando, e o clima
de instabilidade foi-se instalando dentro do partido republicano, e, inevitavelmente,
também no país.
No entanto, é com a subida da república ao poder em 1910, na altura do governo
provisório, que são tomadas decisões muito importantes para a sociedade portuguesa.
Isto porque, esse governo não tinha de enfrentar uma oposição parlamentar por não
haver ainda uma Assembleia definida, logo, estava livre de criar novos regulamentos
de regência do país, que serviram de base para a nova Constituição de 1911, feita
aquando das eleições de 28 de Maio de 1911. Legislações, como por exemplo, a
criação da Lei do Registo Civil, da Lei do Divórcio, da Lei da Separação da Igreja do
Estado (Portuguesa, 1911), enfim, leis que acabariam por servir de estrutura base
para a construção de uma sociedade que se queria Moderna.
Foi bastante evidente a inimizade que o novo governo demonstrou perante a religião,
a qual apoiava o antigo regime vigente (monarquia), e, para o Ministro da Justiça
Afonso Costa, a razão do atraso do país em relação às outras potências europeias, foi,
precisamente, a influência da religião na governação do país. Posto isso, os padres e
freiras ficaram impedidos de usar os seus hábitos religiosos comuns em público
(Wheeler, 1978 p. 85), o que fez com que, em 1913, o Vaticano quebrasse relações
com o governo português (Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário
da República, 2011). Todo este conflito foi negativo para o novíssimo governo que se
tinha acabado de implantar, porquanto a população portuguesa era maioritariamente
6
(1871-1937) Afonso Augusto da Costa foi um advogado, professor universitário, político republicano e
estadista português. Foi um dos principais obreiros da implantação da República em Portugal e uma das
figuras dominantes da Primeira República. Depois da separação do Partido Republicano após as eleições
para a Assembleia Constituinte de 1911, este criou o partido o Partido Democrático, um partido radical
com ideais de esquerda e que era o partido com o maior número de apoiantes. (República e Laicidade,
2006)
7
(1862-1934) Manuel de Brito Camacho foi um médico, militar, escritor, publicista e político que, entre
outros cargos de relevo, exerceu as funções de Ministro do Fomento (1910-1911) e de Alto-comissário da
República em Moçambique (1921 a 1923). Depois da separação do Partido Republicano após as
primeiras eleições para a Assembleia Constituinte de 1911, fundou e liderou o partido da União
Republicana. Foi fundador e director do jornal "A Luta", órgão oficioso do Partido Unionista. (Comissão
Nacional para as Comemorações do Centenário da República, 2011)
8
(1866-1929) António José de Almeida foi um político republicano português, sexto presidente da
República Portuguesa (1919-1923). Depois da separação do Partido Republicano após as primeiras
eleições para a Assembleia Constituinte de 1911, António José de Almeida foi o fundador do partido
Evolucionista, um partido com ideias assentes na evolução ao invés de uma revolução com uma
característica de esquerda. Foi o único presidente da Primeira República Portuguesa a cumprir
integralmente e sem interrupções o seu mandato de 4 anos, tendo com ele Portugal retornado a uma
presidência civil. (Portuguesa, 2016)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 24
católica. Como tal, este novo regime precisava da adesão de todos os portugueses, e,
se este (governo) se encontrava em litígio com a religião, era um motivo para dar força
aos oponentes da república, os monárquicos, que viam nesse conflito um meio de
arranjar militantes (Wheeler, 1978 p. 86).
Porém, é em 1914 que este governo republicano encontra a sua maior adversidade,
com a entrada de Portugal na 1ª Guerra Mundial – pelo lado dos Aliados (França,
Inglaterra e Império Russo) que se opunham aos Impérios Centrais (Alemanha,
Império Austro-húngaro e Itália) em prol da disputa da hegemonia na Europa – o que
levou a um esforço económico externo elevado, resultando em consequências
económicas internas desastrosas.
Havia escassez de géneros, de primeira e de segunda necessidade, até ao extremo da
fome entre as classes inferiores urbanas. Muitos artigos passaram a ser racionados. O
crescente número de tropas que partiam para os campos de batalha da França e de
Moçambique suscitava descontentamento cada vez maior num povo que, em geral,
não compreendia a razão do combate e da participação portuguesa. (Marques, 1995 p.
568)
Ilustração 2 - Preparativos para o embarque das tropas que vão combater na Primeira
Guerra Mundial. (Benoliel, 1916)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 25
Ora vejamos, Bernardino Machado9
era nesta altura Presidente do Ministério vigente
(1914) (Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República,
2011). Foi, aliás, do próprio, que partiu a decisão da intervenção de Portugal na
guerra, sucede que, no entretanto, a situação política portuguesa alterar-se-ia,
considerando que no espaço de um ano, o sistema político português mudou de uma
república para uma ditadura militar, e novamente para uma república (Marques, 1995
p. 565). A primeira mudança deu-se em Janeiro de 1915, quando o Presidente da
República vigente (Manuel de Arriaga10
) provocou a demissão11
do governo de
Bernardino Machado e convocou o seu amigo pessoal, General de Pimenta Machado
a formar um conselho de ministros e a restabelecer a ordem no país (Wheeler, 1978 p.
135). Dito, feito: a ordem acabou por ser restabelecida, as perseguições12
aos
monárquicos e à igreja que existiam desde 1910 foram interrompidas, no entanto, a
9
(1851-1944) Bernardino Luís Machado Guimarães foi um político, filósofo e matemático Luso-brasileiro,
militante do Partido Democrático e foi o terceiro (1915-1917) e o oitavo (1925-1926) presidente eleito da
República Portuguesa. (Portuguesa, 2016)
10
(1840-1917) Manuel José de Arriaga Brum da Silveira e Peyrelongue foi um advogado, professor,
escritor e político de origem açoriana. Grande orador e membro destacado da geração doutrinária do
republicanismo português, foi dirigente e um dos principais ideólogos do Partido Republicano Português.
A 24 de Agosto de 1911 tornou-se no primeiro presidente eleito da República Portuguesa, sucedendo na
chefia do Estado ao Governo Provisório presidido por Teófilo Braga. Exerceu aquelas funções até 29 de
Maio de 1915, data em que foi obrigado a demitir-se, sendo substituído no cargo pelo mesmo Teófilo
Braga, que como substituto completou o tempo restante do mandato. (Portuguesa, 2016)
11
A demissão do governo de Bernardino Machado acontece devido ao facto deste, ter decidido que
Portugal só entraria na guerra caso a Inglaterra pedisse expressamente o apoio a Portugal, no entanto, a
opinião dos partidos da oposição seria a da intervenção de Portugal na guerra sem pedir a autorização a
Inglaterra. Posto isto, o clima de instabilidade política acentuou-se, daí a opção tomada pelo Presidente
da República Manuel de Arriaga. (Marques, 1995)
12
Perseguições por parte dos radicais de esquerda.
Ilustração 3 - Bernardino Machado, Presidente da República, na varanda da Câmara
Municipal. (Benoliel, 1915)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 26
persecução passou a ser efectuada aos Democráticos, que eram liderados por Afonso
Costa (Marques, 1995 p. 566). Destarte, acabou por se instaurar um clima ditatorial.
Acontece que, a 14 de Maio de 1915, uma revolução armada ocorre em Lisboa (com
vista a depor o governo vigente), e foi bem sucedida, instaurando novamente um
governo republicano (Marques, 1995 p. 566 e 567). Manuel de Arriaga demite-se e
Teófilo de Braga assume o seu lugar para concluir o tempo que restava de presidência
(Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, 2011), até
Junho de 1915, altura em que são efectuadas eleições que dão como vencido o
Partido Democrático e Bernardino Machado é eleito Presidente da República e Afonso
Costa Presidente do Conselho de Ministros (Marques, 1995 p. 567).
Acontece que, depois de todos os problemas políticos serenados dentro do país,
Afonso Costa (herdando a pasta da resolução da entrada de Portugal na Primeira
Grande Guerra Mundial) acaba por passar mais tempo a resolver problemas externos
do que internos, esquecendo a desgraça em que o país se encontrava, e, mais uma
vez, a instabilidade civil e política estava instalada (Marques, 1995 p. 568). As
medidas repressivas impostas pelo governo de Afonso Costa em prol de calar os
descontentes com a situação do país, vão criando um dissabor perante as classes
urbanas e militares (Wheeler, 1978 p. 151), e, a 5 de Dezembro de 1917, acontece
outra revolta armada chefiada pelo major Sidónio Pais, que depõe o governo vigente
(Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, 2011),
manda prender Afonso Costa, intima Bernardino Machado a sair do país, dissolve o
Congresso, e decreta alterações na Constituição introduzindo um regime
presidencialista (ao estilo americano) e fazendo-se eleger Presidente da República.
Assim se dava entrada numa República Nova13
ou na era do Sidonismo14
por assim
dizer (Marques, 1995 p. 569).
13
A República Nova era apoiada pelos grandes sectores da maioria conservadora do país.
14
Designa o regime vigente em Portugal durante o governo de Sidónio Pais (Dezembro de 1917 a
Dezembro de 1918). As suas medidas tornaram-se o ideário do Partido Sidonista, de direita. (Marques,
1995)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 27
O certo é que o mais adequado seria de designar esta República Nova de República
Efémera, isto porque, passado um ano da sua instauração, Sidónio Pais é
assassinado em Lisboa, a 11 de Dezembro (Comissão Nacional para as
Comemorações do Centenário da República, 2011), e assim acaba a era do
Sidonismo o que foi mote para um escalar de degradação interna do país. Voltou-se à
vigência da Constituição de 1911, e foi eleito Canto e Castro15
como Presidente da
República (Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República,
2011). A 11 de Novembro de 1918, dá-se o Armistício de Compiègne16
(Comissão
Nacional para as Comemorações do Centenário da República, 2011), que determina o
fim da Primeira Grande Guerra. O que se sucede no pós guerra teve consequências
muito graves na economia do país, levando o país a uma das maiores crises da sua
história moderna “[…] novas dívidas de guerra, inflação, falta de géneros alimentícios
e depreciação do valor da moeda.” (Wheeler, 1978 p. 175). Claro está que, com estes
acontecimentos, vieram também os tumultos militares e civis, os atentados, as greves,
enfim, um sem fim de problemas que agravam a estabilidade geral do país.
Poderemos dizer que Portugal do pós Primeira Grande Guerra, se perdeu nos seus
problemas, e como tal, uma intervenção que contrariasse esta situação era de
tamanha importância.
15
(1862-1934) João do Canto e Castro da Silva Antunes Júnior foi um oficial da Marinha e o quinto
Presidente da República Portuguesa (16 de Dezembro de 1918 a 5 de Outubro de 1919). (Portuguesa,
2016)
16
O Armistício de Compiègne foi um tratado assinado em 11 de Novembro de 1918 entre os Aliados e a
Alemanha, com o objectivo de encerrar as hostilidades na frente ocidental da Primeira Guerra Mundial.
Ilustração 4 - Revolução de Sidónio Pais, o povo assiste à partida do automóvel que leva
Bernardino Machado, presidente da República, para o exílio. (Benoliel, 1917)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 28
Passados quase oito anos, surge finalmente uma resposta à situação de crise sentida
na totalidade do país, a Revolução de 28 de Maio de 192617
um golpe militar que
instaurou uma Ditadura Militar (Comissão Nacional para as Comemorações do
Centenário da República, 2011), que se manteve até à aprovação da nova
Constituição de 1933, que acabaria por alterar o seu nome para Estado Novo, um
regime político autoritário, autocrata e corporativista (Marques, 1995 p. 627),
considerado por alguns de Segunda República Portuguesa. O Estado Novo vir-se-ia
instalar em Portugal até à Revolução de 25 de Abril de 1975, que depunha o governo
fascista que governou o país durante quarenta e um anos, tendo sido substituído por
uma designada Terceira República Portuguesa, que rege até aos dias de hoje o nosso
país.
Voltando ao tema inicial (Primeira República):
Apesar das intenções e dos ideais generosos e do entusiasmo inicial, os republicanos
foram incapazes de criar um sistema estável e plenamente progressista. A República
foi prejudicada pela frequente violência pública, pela instabilidade política, pela falta de
continuidade administrativa e pela impotência governamental. Com um total de
quarenta e cinco governos, oito eleições gerais e oito presidentes em quinze anos e
oito meses, a República Portuguesa foi o regime parlamentar mais instável da Europa
ocidental. (Wheeler, 1978 p. 865)
17
Uma revolução militar de cariz nacionalista e antiparlamentar, estabelecendo o fim e a deposição da
Primeira República Portuguesa, em detrimento de uma Ditadura Militar. (Marques, 1995)
Ilustração 5 - Funeral do presidente Sidónio Pais. A urna funerária sai dos Paços do
Concelho. (Franco, 1918)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 29
Concluímos que foram tempos difíceis de instabilidade civil e política (entre 1911 a
1926). Alguns historiadores consideram que a Primeira República, não foi o “[…]
começo de algo estruturalmente novo, mas antes a última fase de algo que começara
muito antes, em 1820.” (Marques apud Wheeler, 1978, p. 867) – liberalismo18
monárquico – assumindo que a inicial república foi o clímax de um conceito liberalista
nascido no século XIX, e como tal, não tinha futuro, tendo de ser substituído por outra
coisa totalmente diferente – como, mais tarde, em 1926, aconteceu – o fascismo
(Marques apud Wheeler, 1978, p. 867). Por outro lado, e digamos que oposto, o autor
Vasco Pulido Valente19
(1999 p. 251), afirma que a razão da decadência da primeira
república, é precisamente a morte do liberalismo monárquico no intervalo de 1910 a
1912, uma vez que segundo o autor sugere “[…] o PRP destruíra o inegável
liberalismo da Monarquia.”, e com isso destruiu também a única esperança de um
governo estável em Portugal.
Na minha opinião, a Primeira República, não obstante algumas conexões estruturais
com o liberalismo do século XIX, constitui um fenómeno complexo e singular que
tentou, apesar dos seus falhanços, pôr em prática os seus ideais e de que,
diferentemente de qualquer outro regime português, foi forçada a pagar os respectivos
custos humanos e não humanos. (Wheeler, 1978 p. 868)
18
O Liberalismo foi um conceito que ganhou forte expressão a partir da Revolução Francesa do final do
século XVIII, assente em ideais de liberdade individual e de igualdade para todos. Para a aplicação de
tais ideais na sociedade Portuguesa, o sistema vigente de monarquia absolutista não se adequava, e em
1820 assiste-se a uma revolução liberalista, que destrona uma monarquia absolutista em detrimento de
uma monarquia constitucional mais virada para os interesses do cidadão.
19
(1941) Vasco Valente Correia Guedes utilizando o pseudónimo de Vasco Pulido Valente, é um
ensaísta, escritor e comentador político português.
Ilustração 6 – Segundo aniversário da Revolução de 28 de Maio de 1926, formatura da
Legião Portuguesa. (Notícias, 1928)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 30
Em suma, a Primeira República para Douglas L. Wheeler20
(1978 p. 868) constitui um
fenómeno novo, onde foi estabelecido um maior número de reformas nos direitos do
cidadão comum, tendo sido criada uma sociedade “[…] mais aberta e auto-suficiente e
de um sistema de governo mais representativo, [onde] os dirigentes republicanos [se
esforçaram] para pôr em prática os seus ideais de justiça social e democratização.”,
ideais baseados na reformulação da educação, na política de contribuição e impostos,
no bem estar social, na reforma agrária, nas obras públicas e na reforma do exército,
tudo em prol da formação de um povo moderno (Wheeler, 1978 p. 868). Por último,
nesta altura de primeira república assiste-se a uma “[…] explosão de energias que,
embora tivessem levado a conflitos e tensões sem precedentes deram igualmente
lugar a uma mobilização ímpar da sociedade, a qual foi parte integrante de um
processo geral de modernização e mudança.” (Wheeler, 1978 p. 868).
Sociedade e cidade
A sociedade portuguesa de fins de oitocentos e inícios de novecentos, caracterizou-se
pelas insistentes tensões sociais entre duas classes: a Burguesa e a Proletária
(Almeida, et al., 1986 p. 35). A primeira, com interesses capitalistas, explorava a mão-
de-obra da segunda a baixo preço. Sucessivamente, esta segunda, sentindo-se
injustiçada, desperta e começa a lutar pelos seus direitos, dando origem a inúmeras
manifestações, greves, e criação de diversos sindicatos, tudo em prol da defesa do
trabalhador.
Portugal em 1911, tinha uma densidade populacional de cerca de cinco milhões de
pessoas (Estatística, 2014), na sua maioria camponeses pobres em que a sua fonte
de subsistência era a agricultura. A taxa de analfabetismo rondava os oitenta por
cento, a pobreza atingia níveis inimagináveis e as últimas décadas da monarquia
deixaram uma dívida externa de cerca de quarenta e sete milhões de euros21
, e uma
dívida interna de cerca de vinte e dois milhões de euros22
(Wheeler, 1978 p. 78). A
economia portuguesa era, sobretudo, agrária. Cinquenta e sete por cento dos
trabalhadores activos, dedicavam-se à agricultura, e apenas vinte por cento à indústria
(Wheeler, 1978 p. 78), que era vagarosa (considerando as grandes potências
europeias), arrancando “[…] timidamente a partir de meados do século XIX, [e] vai-se
20
(n.1937) Douglas L. Wheeler é um professor de História da Universidade de New Hampshire.
21
O autor colocou a referência monetária em libras inglesas, ou seja, 41.490.000 libras inglesas que
convertido em euros é igual ao valor (47.220.118 euros) por nós apresentado no texto. (Wheeler, 1978)
22
O autor colocou a referência monetária em libras inglesas, ou seja, 20.120.346 libras inglesas que
convertido em euros é igual ao valor (22.899.135 euros) por nós apresentado no texto. (Wheeler, 1978)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 31
mantendo como expressão muitíssimo reduzida, localizada em três ou quatro zonas,
Lisboa-Barreiro-Setúbal, Porto-Braga, Covilhã-Tortosendo […]” (Almeida, et al., 1986
p. 37). Mas, embora em Portugal se vivesse principalmente da agricultura:
O desequilíbrio da estrutura fundiária, com a concentração das grandes propriedades e
dos melhores terrenos nas mãos de reduzido número de latifundiários, e a dispersão do
resto do território em parcelas muitas vezes insuficientes para garantir um rendimento
bastante mesmo para uma família reduzida – metade dos proprietários disporia de
menos de um hectare de terreno – configuram um quadro de atraso económico e social
que em parte justifica o lento desenvolvimento da agricultura entre nós. (Almeida, et al.,
1986 p. 36 e 37)
Claro está que esta situação de desequilíbrio fundiário dá origem a um êxodo rural em
massa dos trabalhadores campestres e das suas famílias, que passariam a procurar
na cidade melhores perspectivas de vida e de trabalho. Por outro lado, a emigração
era também uma solução. Visto que a mudança do campo para a cidade, por vezes,
não se tornava vantajosa, as pessoas optavam por ir para fora do país, para países
com melhores perspectivas laborais e de vida. O historiador Douglas L. Wheeler (1978
p. 83) defende que não foi somente este desequilíbrio fundiário a razão da emigração
em massa, foi também a incerteza e instabilidade do novo regime político; a repressão
do Governo sobre as classes operárias (impedindo a realização de greves e
manifestações que afectavam a firmeza do novo regime); e o recrutamento militar (mal
remunerado e com más condições), o que pressionava as pessoas a, inevitavelmente,
emigrarem, em busca de melhores condições de vida, trabalho e prosperidade.
Destarte, este movimento populacional (êxodo rural) acaba por ter efeitos nefastos no
perfil da cidade, que, não estando preparada, abarca uma quantidade considerável de
pessoas que vinham em busca de novas oportunidades, isso faz com que:
Em torno dos centros urbanos, sobretudo naqueles em que tinham sido implantadas as
actividades industriais, vai-se progressivamente acumular toda uma massa de
trabalhadores indiferenciados, presa facílima para os interesses da indústria,
produzindo um excedente de mão-de-obra, sempre disponível, o que permitia reduzir
ao mínimo os salários23
praticados e levar ao máximo a exigência e a rudeza das
condições de trabalho. (Almeida, et al., 1986 p. 37)
Entre 1890 e 1911 a população das duas principais cidades (Lisboa e Porto) aumentou
em cerca de 50% (Wheeler, 1978 p. 55) e a extensão das cidades que se verificou no
23
O salário dos operários não acompanhavam o aumento do custo de vida e o dia de trabalho eram de
doze a vinte horas laborais seguidas. As mulheres e as crianças eram as mais injustiçadas, trabalhando
tantas horas como um homem, e recebendo por vezes, nem metade dos honorários do homem. (Almeida,
et al., 1986)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 32
final do século XIX24
, veio apenas resolver problemas habitacionais nas classes
pequena e média burguesa (Almeida, et al., 1986 p. 35). Resumindo, com o afluxo de
pessoas (provindas do campo) aumentando de ano para ano, o governo ficou sem
mãos a medir, e a habitação das classes laboriosas começam a ficar para segundo
plano:
[…] As famílias operárias vêem-se obrigadas a procurar alojamento em espaços
desocupados ou em velhos pardieiros arruinados, onde improvisam elas próprias
precárias habitações ou se acomodam de qualquer maneira, sempre mediante o
pagamento de uma renda ao proprietário. (Pereira, 1994 p. 511)
E assim surgem os “pátios” em Lisboa, que eram, nem mais nem menos, que o
aproveitamento de espaços vazios existentes. Senhorios dinâmicos e cientes da
procura de habitação, fazem construir nas traseiras dos seus prédios casas
abarracadas para colocarem em aluguer, ao mesmo tempo que são aproveitadas
caves insalubres para o mesmo efeito, em que o acesso se efectuava pelas traseiras
dos prédios; os conventos de extintas ordens religiosas, comprados em hasta pública
24
A seguir à abertura da Avenida da Liberdade em 1886, seguiram-se a abertura da Rua Fontes Pereira
de Melo que levou a expansão da cidade desde o Parque da Liberdade (hoje Eduardo VII) até ao Campo
Grande, passando pela Rotunda de Picoas, Avenida Ressano Garcia (Av. República) e toda a
planificação das ruas adjacentes, paralelas e perpendiculares num desenvolvimento ortogonal, falamos
do plano de Ressano Garcia. Nascem as designadas "Avenidas Novas", que definem o grande desafogo
urbanístico da cidade de hoje. (Lisboa, 2016)
Ilustração 7 – Vila Sousa, Largo da Graça, Lisboa. (Machado; Souza, 1896-1908)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 33
e até palácios arruinados, são utilizados para esse fim. Mais tarde os “pátios”,
adquirem o nome de “vilas”25
(Pereira, 1994 p. 511).
No Porto, a situação era idêntica, mas não se chamavam de “pátios”, ou “vilas”, mas
sim de “ilhas” (ilustração 8), que segundo Manuel Teixeira26
, Jorge Pinto27
(2015 p. 5 e
6) escreve:
As ilhas eram filas de casas, em regra pequenas e térreas, construídas na parte
traseira dos lotes usualmente profundos, das habitações burguesas ou pequeno
burguesas da cidade do Porto (todavia, com exemplos noutros aglomerados urbanos,
sobretudo no norte do país e no Brasil) e, por vezes também, em lotes livres de
qualquer ocupação. Em muitos casos, a ligação dessa correnteza de casas ao espaço
público era realizada através de um túnel, criado sob um edifício com fachada voltada à
rua e aberto num dos três vãos da fachada do imóvel que, esporadicamente, era
habitado pelo proprietário do lote. Esta definição encaixa num modelo com muitas
variações, podendo a ilha ter mais de um piso assim como ocupar toda a parcela e,
quando construída em dois lotes contíguos, pode dar lugar a um corredor alargado ou à
construção de casas costas com costas. Perante o desequilíbrio entre a oferta e a
procura de habitação, as ilhas foram uma das soluções melhor adaptadas à morfologia
da cidade, para um aproveitamento intensivo dos longos lotes de muitas das ruas,
grande parte das quais abertas na primeira metade do século XIX.
A insalubridade destas tipologias habitacionais, rapidamente se tornou um perigo para
a saúde pública, por serem centros de propagação de doenças. Em 1881 é feito um
inquérito industrial que dava conta da deficitária habitação dos operários industriais, o
que chamou a atenção para o assunto, lançando o alarme para a população. Isto
porque, não era somente a saúde dos operários moradores destes bairros que estava
em causa, era a saúde da população urbana em geral, derivado do perigo de
contaminação que as pestes acarretavam (Pereira, 1994 p. 509), e “[…] A tuberculose
começava a atingir as várias classes sociais. Daqui que o combate ao flagelo se
tornasse uma questão de sobrevivência para o conjunto da sociedade.” (Pereira, 1994
p. 509).
25
As Vilas eram edifícios ou conjuntos com um ou mais pisos, expressamente construídos para habitação
de famílias operárias. (Pereira, 1994)
26
(n.1953) Manuel António Correia Teixeira é um Arquitecto Português.
27
Jorge Ricardo Pinto é licenciado em geografia e mestre em geografia urbana.
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 34
O Estado encontraria aqui um novo problema por ser resolvido, o problema de
solucionar a habitação operária, acontece que, “[…] o Estado vivia em endémica
situação deficitária […]” (Pereira, 1994 p. 510), e a iniciativa da resolução destes
problemas muitas vezes partia dos próprios proprietários fabris e investidores
burgueses, que, cientes da oportunidade de negócio que era construir e arrendar,
movimentam-se em prol da resolução dessa lacuna. Acontece que, a legislação era
pouca ou até mesmo nenhuma, e rapidamente se foi percebendo que a falta de
planeamento das construções acabara por se tornar num risco de saúde pública, e
também de “vírus” para a imagem da cidade. Somente perto dos finais da primeira
República é que o estado começa a agir perante estas deficiências: um exemplo disso
é o Bairro Social do Arco do Cego que após “[…] várias tentativas goradas de fazer
aprovar pela Câmara de Deputados leis tendentes à construção de casas económicas,
o Bairro Social do Arco do Cego é iniciado em 1919, demorando a sua execução até
aos primeiros anos do Estado Novo.” (Almeida, et al., 1986 p. 39).
Ilustração 8 – Gravura da “Ilha” do Cabo de Secção, 1888. (Branco, 1888)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 35
Em suma, o despertar do proletariado nos finais do século XIX, foi-se acentuando no
século XX. Foi também o despertar de uma consciência de luta pelos direitos
humanos, que activaram a sociedade em geral a reagir perante as insuficiências de
um sistema precário, que era o mundo do trabalho. Aqui se começa a definir uma
sociedade moderna que se caracterizava pela capacidade de resposta do povo
perante as adversidades que vão sucedendo no perfil dela (sociedade) mesmo. É a
contestação do povo que pressiona os governos vigentes a melhorarem as condições
da totalidade das coisas, e é o diálogo existente entre o poder e o povo, que constrói
as bases para a implantação de uma sociedade moderna, ou seja, é o confronto do
povo perante as medidas tomadas pelo poder, diante de uma determinada situação,
que atribui à sociedade um carácter progressista e hodierno, contagiando todos os
outros sectores, nomeadamente, a arquitectura que é o nosso objecto de estudo.
A pobreza extrema e o analfabetismo que se sentia na maioria da população, são os
principais factores do atraso cultural existente em Portugal de finais do século XIX até
1925. A Cultura era um tema afecto, somente, a uma ínfima parte da população
portuguesa, especialmente aquela situada nos grandes centros urbanos que eram
Lisboa e Porto. A taxa de analfabetismo rondava dos sessenta a oitenta por cento nas
zonas rurais, especialmente, as do norte do país (Wheeler, 1978 p. 79). As sucessivas
alternâncias de poder que aconteceram em Portugal entre 1910 e 1925, tornaram
impossível a introdução de novas leis e reformas que combatessem as deficiências
existentes dentro do país, que, por entre problemas económicos internos graves,
greves, manifestações, motins, enfim, um sem fim de problemas, foi evoluindo
Ilustração 9 – Bairro Social do Arco do Cego, 1930. (Novais, 1930)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 36
formalmente (descontrolada), mas socialmente foi ficando para trás, e isso justifica
praticamente o atraso sentido em todos os sectores, claro está, tendo como referência
as grandes nações europeias (Inglaterra, Itália, França e Alemanha).
Será neste contexto que vai nascer uma nova geração de arquitectos, nas décadas de
vinte e trinta, dispostos a “romper” com o sistema de ensino – tradicional e preso ao
passado –, mediante estágios efectuados em países (França, Alemanha e Inglaterra)
culturalmente mais avançados que Portugal, retornam ao seu país de origem com
novas ideias, similares àquilo que de novo se fazia no panorama internacional da
arquitectura, e, posto isto, alteraram definitivamente o modo de entendimento dos
edifícios, e darão aso à introdução de novos movimentos no paradigma da arquitectura
portuguesa.
2.2. BREVE ALUSÃO À ARQUITECTURA MODERNISTA EM PORTUGAL
O título deste subcapítulo, pretende indicar aquilo que foi a Arquitectura Moderna em
Portugal: um movimento breve e fugaz, inserido entre finais da Primeira República e
inícios do Estado Novo - um sistema político fascista que proliferou os seus ideais por
entre todas as áreas basilares da formação do país, e, como tal, a arquitectura
subverteu-se em prol da representação duma imagem nacionalista (Portas, 1973 p.
711), uma arquitectura que de Estilo Português Suave.
Posto isto, cremos que, segundo o nosso tema de dissertação, devamos expor aquilo
que foi o tempo efémero da Arquitectura Moderna em Portugal, para assim
conseguirmos de maneira objectiva perceber o porquê das tendências arquitecturais
que os nossos casos de estudo, em capítulos posteriores, acarretam. É importante
também frisar que o nosso objecto de estudo – as mais importantes salas de
espectáculo da boulevard lisboeta, a Avenida da Liberdade – está incluído num
intervalo temporal que vai desde 1925 (data do inicio da construção do Cinema
Capitólio) a 1933 (data da inauguração do Cineteatro Eden), ano da aprovação da
nova constituição do Estado Novo (República, 1933) e o subsequente “fim” da
Arquitectura Moderna em Portugal.
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 37
2.2.1. A IMPORTÂNCIA DOS MATERIAIS PARA UMA NOVA ARQUITECTURA
O aparecimento de uma nova arquitectura, e de um novo estilo de “construção”, ao
longo dos tempos, são descritos por alguns arquitectos, como possíveis, devido ao
aparecimento de novos materiais, que possibilitam ultrapassar certos limites impostos
pela incapacidade dos elementos materiais das construções anteriores. Uma pergunta
pertinente é feita ao arquitecto Luís Cristino da Silva28
(1971 p. 4), numa entrevista
efectuada ao mesmo, e publicada pela Revista Arquitectura no mês de Janeiro de
1971, que citamos de seguida:
[Revista Arquitectura] - Sr. Professor, em seu entender o que é que se pretendia
essencialmente com a arquitectura moderna?
[Cristino da Silva] - Digas antes, porque é que ela apareceu! Apareceu apenas por isto:
por causa dos materiais! É que, na história de Arte, nós vamos sempre verificar que a
arquitectura aparece com características determinadas, a dada altura, porque
aparecem materiais novos ou maneiras diferentes de construír. Por exemplo, os gregos
não tinham o arco e volta, a arquitectura grega é sempre horizontal. Pedras enormes,
gigantescas, algumas com sete metros de comprido. E ainda antes deles, os egípcios.
Na arquitectura egípcia era tudo com arquitraves. Mas depois apareceu o romano com
o tijolo, o que deu ocasião ao aparecimento do arco. E assim a arquitectura romana é
completamente diferente da grega.
Pois bem, o século XVIII e século XIX ficaram reservados para o aparecimento de dois
novos materiais na construção, pelo menos, no que toca à arquitectura ocidental. No
século XVIII aparece o ferro, que conjugado com o vidro – que já existia há longos
séculos –, introduzem na arquitectura uma nova dialéctica. Na segunda metade do
século XIX, aparece o betão armado. Ambos estes novos materiais vão atribuir uma
nova dimensão plástica às construções, nunca vista, até então. Deste modo pode-se
afirmar que as “[…] transformações que decorrem no século XX decorrem
fundamentalmente da influência dos progressos técnicos quer sobre o universo dos
materiais de construção, quer sobre o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos
sistemas.” (Tostões, 2013 p. 1).
O Ferro e Vidro
O ferro é um material que surge com a Revolução Industrial Inglesa do século XVIII.
No imediato este material foi aproveitado por uma classe de novos construtores – os
engenheiros – que surgiam no panorama arquitectónico de meados do século XVIII,
28
(1896-1976) Luís Ribeiro Carvalhosa Cristino da Silva foi um arquitecto português.
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 38
nomeadamente a 1750, quando a Fundação da École des ponts et Chausées29
inicia
um curso de formação especializada em engenharia (Tostões, 2013 p. 1). Posto isto, o
panorama da construção passa a abarcar dois estilos “arquitectónicos”: a arquitectura
feita pelo arquitecto, e a “arquitectura” feita pelo engenheiro. A arquitectura feita pelo
arquitecto era assente em ordens clássicas renascentistas, rígidas e por vezes
excessivamente decoradas e cépticas face à utilização do novo material, o ferro. Por
outro lado, a arquitectura do engenheiro, ávida de progresso, era prática e assente
numa concepção estrutural determinada pela matéria e pela finalidade (Tostões, 2013
p. 1) – cedo percebeu as potencialidades deste novo material, o ferro. No entanto,
devido a uma forte condicionante tradicionalista operante no mundo da construção, o
tipo de arquitectura feita pelos engenheiros actuava num campo restrito e puramente
prático, ficando a cargo de obras de cariz funcional, tais como fábricas, pontes,
caminhos-de-ferro, etc., obras que exigiam um cálculo matemático, que só a formação
do engenheiro compreendia (Fernandes, 1993 p. 11). Posto isto, abre-se um
precedente de conflito entre duas profissões ligadas à construção.
[…] arquitectos e engenheiros descobriam que o campo artístico e o campo técnico
deixavam de se identificar, como habitualmente, no mesmo autor e que, pelo contrário
esses campos eram agora contraditórios, pois as necessidades de novas funções e
espaços urbanos eram cada vez mais da competência do “homem do cálculo”, fugindo
ao entendimento e ao domínio do “arquitecto-artista”; mas, se àquele [engenheiro]
faltava naturalmente uma preparação estética para este [arquitecto] essa preparação
era agora manifestamente insuficiente, sendo o seu trabalho muitas vezes relegado
apenas para o tratamento das fachadas. (Fernandes, 1993 p. 11)
Relativamente ao vidro30
, com as novas possibilidades geradas pelo novo material, o
ferro (nomeadamente a construção de grandes vãos), fazem, com que este (vidro)
ganhe uma nova dimensão, tanto em termos de tamanho – em prol de colmatar o
vazio deixando entre vãos da fachada –, como em termos de significado para a
arquitectura em si, porque abre uma nova dialéctica de relação de espaço interior e
exterior. Atribuindo esta última característica a uma palavra, diríamos “transparência”,
que por sua vez transpõe o edifício que anteriormente “ocultava”, aquilo que se
passava no seu interior, com a construção de paredes grossas com limitadas
aberturas de vãos, para uma afirmação “honesta” e “desnudada” da realidade interior.
Um novo sentido de entendimento que posteriormente no século XX, terá uma
29
A École Nationale des Ponts et Chaussées (ENPC) (Escola Nacional de Pontes e Calçadas) é a mais
antiga escola de engenharia civil do mundo, mantendo-se como uma das mais prestigiadas escolas de
engenharia da Europa. Fica situada em Paris, França. (ParisTech, 2012)
30
Tenhamos em conta que o vidro é um material mais antigo que o betão ou o ferro.
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 39
importância, digamos que considerável, para os exercícios da Arquitectura Moderna
Internacional.
Mas voltando ao ferro, em Portugal, a introdução do ferro no processo construtivo,
surge com um natural atraso, tomando sempre como referência as potências
industriais Europeias (Inglaterra, França e Alemanha); desfasamento que se justifica
pela dependência em relação à importação do próprio material desses mesmos países
(Fernandes, 1993 p. 12). No entanto, os primeiros exemplos da arquitectura do ferro
em Portugal, foram precisamente para fins práticos, falamos da ponte de Xabregas,
em Lisboa, que apesar de a sua base ser constituída em pedra, o seu corpo principal
foi executado em ferro para servir a linha de cintura ferroviária, em 1854 (Fernandes,
1993 p. 12), e encontra-se em funcionamento até aos dias de hoje. No Porto foram
construídas duas pontes, também em ferro, sobre o rio Douro – a ponte de D. Maria
em 1877, e nove anos mais tarde a ponte de D. Luís (1888) –, que se tornaram “[…]
ex-libris não só portuenses mas de amplitude internacional como modelo de resolução
de grandes e profundos vãos.” (Tostões, 2013 p. 4). Mas a revelação mediática do
ferro como material de construção hodierno no nosso país, deu-se justamente no
Porto “[…] por ocasião da exposição Universal de 1865 que justificou o Palácio de
Cristal portuense.” (Tostões, 2013 p. 4).
Lisboa recebia só duas décadas depois o seu Coliseu (1890) construído em esqueleto
de ferro e integrando na parte norte a Sociedade de Geografia com a Sala Portugal
(1897). Projectada por arquitecto (Mestre José Luís Monteiro) para ser construída em
ferro, tratava-se da primeira sala nobre erguida entre nós para congressos e
Ilustração 10 – Fotografia da nave central do Palácio de Cristal no Porto, 1864. (Porto, 2016)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 40
conferências. O espaço, entendido para além da sua imediata funcionalidade,
desenvolve-se em três níveis que circundam o amplo espaço central que pode
simbolizar, muito justamente, a primeira utilização arquitectónica do novo material.
(Tostões, 2013 p. 4 e 5)
Em suma, o ferro, para além de vir atribuir à arquitectura uma nova plasticidade, abre
também um debate que irá perdurar, cremos, até aos dias de hoje. Um debate entre
técnica e estética, a primeira defendida pelo engenheiro que via no ferro a sua
principal “arma” de utilização perante uma sociedade industrial ávida de resposta
imediata, contrapondo a arquitectura que se mantinha defensora da estética, e da
utilização de materiais nobres nas suas construções. Esta “guerra” aberta entre
arquitectos e engenheiros veio questionar as metodologias usadas no método de
construir, em especial para o lado dos arquitectos, que “Acantonados nos princípios
clássicos […] posicionaram-se do lado da resistência à inovação.” (Tostões, 2013 p.
5). Claro se torna que esta disputa de terreno, traria vantagens em prol de uma atitude
progressista no panorama arquitectónico ocidental.
O Betão Armado
Tal como o ferro, o betão armado foi começado a ser utilizado somente em situações
de índole prática, limitando-se a substituir “[…] materiais nobres como a pedra […] Só
que ao contrário do ferro, a tecnologia do betão “cresceu” mais depressa e maturou
em poucos decénios.” (Fernandes, 1993 p. 25). Volvamos a 1896 – quase meio século
depois das primeiras utilizações deste material noutros países da Europa (meados do
século XIX) –, altura da primeira construção em betão armado em Portugal (Tostões,
2013 p. 5). Falamos da Fábrica de Moagens do Caramujo situado na Cova da
Piedade, em Almada, que, depois de um incêndio, que devastou as antigas
instalações, fora reconstruída já com o uso do novo material (Fernandes, 1993 p. 25).
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 41
A escolha deste [material] poderá relacionar-se directamente com os riscos das
construções tradicionais, nomeadamente a sua fragilidade ao fogo, sentidos pelos
industriais [porque] permitia uma concepção estrutural de grandes espaços apenas
pontuados pela rede de finos pilares que se conjugavam com lajes armadas capazes
de suportar grandes sobrecargas, solução que respondia claramente aos requisitos
funcionais de uma grande laboração industrial. Para além disso, era ainda possível
encontrar soluções inovadoras que aliavam a funcionalidade à técnica construtiva e à
manutenção do edifício: por exemplo a cobertura em terraço adoptada servia
simultaneamente de reservatório de água (com capacidade para 20 m3), de isolamento
térmico e atrevemo-nos a pensar que também funcionando como neutralizador das
dilatações provocadas ao material pelas diferenças de temperatura. (Tostões, 2013 p. 5
e 6)
Tanto em Portugal como nos outros países europeus, as potencialidades deste novo
material, não foram totalmente entendíveis pela classe de arquitectos, que afastados
das inovações tecnológicas, e presos a produções oitocentistas, apenas utilizavam
este novo material pontualmente, como por exemplo, em elementos horizontais (lajes),
continuando a recorrer, verticalmente, a elementos maciços de alvenaria como explica
a autora Ana Tostões31
(2013 p. 7):
Ao contrário do que se passava nas construções eminentemente utilitárias, onde os
arquitectos pouco intervinham, a “grande” arquitectura prolongava no tempo as práticas
europeias oitocentistas dominadas hegemonicamente pelas Beaux-Arts parisienses. E,
nessa medida dos arquitectos portugueses de 1900 foram artisticamente eclécticos.
Arredados de uma inovação tecnológica, recorrem modestamente aos processos
tradicionais de construção usando paredes resistentes em alvenaria e pavimentos de
madeira, que o atraso e a debilidade da industrialização em Portugal podem explicar se
31
(n.1959) Ana Tostões é uma arquitecta e investigadora portuguesa.
Ilustração 11 – Desenho da fachada da Fábrica de Moagens Caramujo, na Cova
da Piedade. (Toscano, 2012)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 42
comparadas com a produção arquitectónica ocorrida nos países pioneiros da revolução
industrial. As inovações concentram-se sobretudo na organização espacial doméstica
da casa burguesa que reflectia novos costumes potenciados pelos novos dispositivos
(da água corrente à campainha eléctrica, ou do telefone ao ascensor), conjugando-se
com o agenciamento de fachadas exuberantes que assinalavam o desejo de
ornamentar os bairros novos.
Ficaria então reservado para os anos vinte do século XX32
, as primeiras obras de
declarada aceitação deste novo material, de modo discreto33
, com a construção do
Cinema Tivoli de Raul Lino, na Avenida da Liberdade, “[…] com complexa rede de
vigas no suporte dos balcões da sala [de espectáculos] […]” (Fernandes, 1993 p. 27).
No entanto, o ano de 1925 estaria reservado para propostas bastante mais arrojadas
que transpareciam já para o exterior, como acontecia no Salão Capitólio, de Cristino
da Silva (Fernandes, 1993 p. 27), obra que marca um assumir racional da própria
estrutura como elemento decorativo, e subsequentemente a entrada do Modernismo
em Portugal.
2.2.2. PERCURSORES DO MOVIMENTO MODERNO NA ARQUITECTURA
PORTUGUESA
Segundo Pedro Vieira de Almeida34
e José Manuel Fernandes35
, no livro escrito por
ambos, intitulado de História da Arte em Portugal – A Arquitectura Moderna36
, existiu
uma figura proeminente para que a Arquitectura Moderna se pudesse instalar em
Portugal, porque, apesar de a não ter praticado, abre os horizontes de um sistema de
ensino arquitectónico desactualizado. Falamos de José Luís Monteiro (1848-1942), um
arquitecto que foi director da Escola de Belas-Artes de Lisboa (1912-1920). Um
homem de formação beauxartiana37
, que “[…] introduz, de alguma maneira, em
Portugal o entendimento das recentes técnicas do ferro enquanto material legitimando
32
Em 1927 o Regulamento de Teatros e Outras Casas de Espectáculos obrigava pela primeira vez à
construção de edifícios com materiais incombustíveis, e sendo o betão um material com bom
comportamento à exposição do fogo, este (betão) foi-se impondo em obras cada vez mais urbanas e
prestigiadas, já com a traça de arquitectos, o que contribuiu para uma declarada aceitação deste novo
material na construção. (Fernandes, 1993)
33
Entenda-se “modo discreto”, como que a utilização do betão somente para elementos estruturais
interiores, disfarçando-o com outros elementos decorativos e não o mostrando descaradamente.
34
(1933-2011) Pedro Vieira de Almeida foi um arquitecto português, teórico, crítico e historiador de
arquitectura.
35
(n.1953) José Manuel da Cruz Fernandes é um arquitecto português, teórico, crítico e historiador de
arquitectura.
36
O livro História da Arte em Portugal – A Arquitectura Moderna, volume 14 foi uma edição de 1986 e foi
publicado pela Editora Alfa.
37
Em 1871 José Luís Monteiro decide concorrer a uma vaga de estudante pensionista no estrangeiro, na
qual consegue ganhar, embarcando em 1873, sendo admitido na École dês Beaux-Arts de Paris, onde se
torna no primeiro arquitecto português a obter diploma nessa instituição. (Almeida, et al., 1986)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 43
uma expressão arquitectónica própria.” (Almeida, et al., 1986 p. 25 ). Monteiro foi o
verdadeiro reformador do sistema de ensino arquitectónico da Faculdade Belas-Artes
de Lisboa, visto ali leccionar-se um estilo de ensino fundamentado nas noções de
“modelo”, característica da tradição romana, que Monteiro contrapõe com as noções
de “tipologia” que estava em voga na tradição francesa (Almeida, et al., 1986 p. 32).
José Luís Monteiro foi mentor de nomes sonantes na arquitectura portuguesa, tais
como Luís Cristino da Silva, Pardal Monteiro38
, Cotinelli Telmo39
, Carlos Ramos40
e
Cassiano Branco41
etc… arquitectos precursores do Movimento Moderno na
arquitectura portuguesa. No entanto, a sua metodologia de ensino acabou por ser
tornar inflexível, visto ser uma linha bastante conservadora, objectora dos impulsos
inovadores que o século XX traria para o mundo da arquitectura (Portas, 1973 p. 690),
tornando-se decano para uma geração ávida e cheia de novas ideias. Resultado: essa
geração acabaria por se tornar na maior crítica das suas capacidades pedagogas,
como podemos evidenciar por palavras de Luís Cristino da Silva (1971 p. 3):
[…] ele passava muito lentamente pela carteira ou pelo estirador do aluno, e dirigia-lhe
meia dúzia de palavras. Não nos ensinava, era mais um corpo presente, prestígio do
professor que vinha, que olhava. E nós estávamos sempre ansiosos por um conselho…
mas o nosso mestre Monteiro era um excelente homem, muito digno, mas não tinha
nenhumas qualidades pedagógicas.
38
(1897-1957) Porfírio Pardal Monteiro foi um dos mais prolíferos arquitectos portugueses.
39
(1897-1948) José Ângelo Cottinelli Telmo foi um arquitecto e cineasta português.
40
(1897-1969) Carlos João Chambers de Oliveira Ramos foi um arquitecto, urbanista e pedagogo
português.
41
(1897-1970) Cassiano Viriato Branco foi um arquitecto português.
Ilustração 12 – Fotografia do Mestre José
Luís Monteiro. (Novais, 1925-85)
Ilustração 13 – A Estação do Rossio, José Luís Monteiro, 1890. (Novais, 1933-83)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 44
Não obstante, José Luís Monteiro abre um precedente evolucionista na Arquitectura
Portuguesa e, como tal, cremos dever ser incluso na razão do aparecimento da
Arquitectura Moderna. Acontece que, por volta de 1900, o destino da arquitectura em
Portugal ia mudar por completo, porquanto surgem no panorama nacional dois
arquitectos – Miguel Ventura Terra42
e Raul Lino43
– que dividiram em dois modelos
diferentes o sector arquitectónico nacional: o modelo progressista e um modelo
culturalista. Ventura Terra, depois dos seus estudos em Paris, traz consigo “[…] todo
um espírito francês num modelo progressista, prático, objectivo, proudhoniano, uma
arquitectura que respondia cabalmente aos objectivos e preocupações da sociedade
dominante da época.” (Almeida, et al., 1986 p. 74). Por outro lado, Raul Lino mostrava
em Portugal “[…] a tentativa de introdução de um modelo culturalista com
preocupações espaciais, embora hesitantemente formuladas, mas muito lucidamente
expressas, atitude que teria pouca ou nenhuma audiência, a não ser em alguns
círculos mais restritos […]” (Almeida, et al., 1986 p. 74). Destarte, enquanto um (Raul
Lino) procurava uma imagem mais tradicionalista para a arquitectura, assente em
valores nacionalistas, e de procura incessante por um sistema expressivo de carácter
romântico, outro (Ventura Terra), procurava um sentido prático e objectivo na
arquitectura em que a utilização dos materiais dependia de um sistema de carácter
lógico menos sentimentalista e mais racionalista.
42
(1866-1919) Miguel Ventura Terra foi um arquitecto português de formação portuguesa e francesa, cuja
a imagem está associada à construção da Lisboa republicana. Ventura Terra personificou a evolução na
arquitectura portuguesa o modelo progressista, prático e objectivo, que respondia cabalmente aos gostos
e preocupações da sociedade dominante da época. Procurando uma linguagem própria, Terra irá fazer
uma arquitectura de composição em que se busca uma maior racionalidade no emprego dos materiais e
em que, rejeitando todo o eclectismo na época dominante, se privilegia a noção de função prática,
deixando de atender e entender a noção de função simbólica. Assim, ele será para as gerações futuras
de arquitectos o exemplo de um espírito anti-românico, racionalizado e moderno. (Almeida, et al., 1986)
43
(1879-1974) Raul Lino da Silva foi um arquitecto português, que desde muito cedo imigrou para
Inglaterra onde fez os seus estudos e de seguida para a Alemanha, onde trabalhou no atelier do
arquitecto e historiador Albrecht Haupt. Em 1897 com 17 anos regressa a Portugal. Projectou mais de 700
obras, entre as quais, a Casa dos Patudos, para José Relvas (1904), a Casa do Cipreste, em Sintra
(1912), a loja Gardénia no Chiado (1917), o cinema Tivoli (1925), o Pavilhão do Brasil na Exposição do
Mundo Português (1940). Foi ainda autor de numerosos textos teóricos sobre a problemática da
arquitectura doméstica popular, como A casa portuguesa (1929), Casas portuguesas (1933) e L’évolution
de l’architecture domestique au Portugal (1937). (Lino, 2014)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 45
A Arquitectura de Ventura Terra, ao contrário da de Raul Lino, é uma arquitectura de
composição, numa representação de espaço referido a um esquema de valores
exteriores, tomado como objectivo, mas não é, de forma alguma, uma arquitectura de
instauração dos seus próprios valores expressivos, uma arquitectura de determinação
formal e espacial. […] Daí que os materiais sejam em Ventura Terra, embora
objectivamente os mesmos que Raul Lino emprega, completamente diferentes no seu
significado plástico. […] O vidro, o azulejo, a madeira, pertencem em Ventura Terra a
um sistema lógico, enquanto em Raul Lino pertencem a um sistema expressivo […].
(Almeida, et al., 1986 p. 74)
A dialéctica criada entre estes dois movimentos são o espelho de uma evolução da
arquitectura nacional. É este diálogo que criará as bases para a introdução do
Ilustração 15 – O Arquitecto Miguel
Ventura Terra. Pintura de Veloso Salgado,
1866-1918. ([Adaptado a partir de:] Leite,
2016)
Ilustração 14 – Maternidade Alfredo Costa, Ventura Terra, 1932. (Novais,
1933-83)
Ilustração 17 – Casa do Cipreste, Raul Lino, 1914. ([Adaptado a partir
de:] Cultura, 2016)
Ilustração 16 – Retracto do Arquitecto Raul Lino. Moldura
da autoria de Raul Lino e desenho pela mão de
Columbano Bordallo Pinheiro, 1907. ([Adaptado a partir
de:] Gulbenkian, 1970)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 46
Movimento Moderno na arquitectura portuguesa da década de 1920, que começará
com uma geração que contava com nomes como Luís Cristino da Silva, Porfírio Pardal
Monteiro, José Ângelo Cottinelli Telmo, Cassiano Branco, Carlos Ramos, Rogério
Azevedo44
, Jorge Segurado45
, etc., aquela geração que “[…] Carlos Ramos viria a
considerar a “geração de transição e do compromisso”, a geração que acompanha o
modernismo e inicia em Portugal uma linguagem racionalista.” (Almeida, et al., 1986 p.
33).
2.2.3. O “EFÉMERO” MODERNISMO PORTUGUÊS
O título deste subcapítulo foi baseado num texto escrito pelo arquitecto Nuno Portas,
aquando da publicação da versão portuguesa do livro História da Arquitectura
Moderna46
de Bruno Zevi47
. Voltamos a reforçar a ideia que os nossos objectos de
estudo (em capítulos posteriores) se encontram por entre os anos vinte e inícios dos
anos trinta do século XX, e, como tal, a nossa intenção será a de escrutinar esse
intervalo temporal, que nos ajudará a perceber, as origens do Movimento Moderno na
arquitectura do nosso país.
Os primeiros indícios de mudança no paradigma da arquitectura nacional, segundo
Ana Tostões (2009 p. 22), surgem nos anos vinte, pela mão de dois48
arquitectos
acabados de formar, falamos de Carlos Ramos (1922 - Agência Havas, Rua do Ouro,
Lisboa) e Pardal Monteiro (1928 – Estação dos Caminhos-de-Ferro do Cais do Sodré,
Lisboa). O projecto para a Agência Havas, “[…] adopta a fachada plana com as
pilastras verticais interrompendo vãos mais generosos: era o prédio de escritórios que
emergia, exprimindo-se como objecto mais funcional do que redundante […]” (Portas,
1973 p. 706). Relativamente à Estação do Cais do Sodré, Pardal Monteiro desenvolve
uma “linguagem” geometrizada tendo como referência as Artes Déco, assente na
desvalorização e localização específica da ornamentação, em detrimento de uma
articulação “[…] volumétrica que assumia um claro sentido tectónico na utilização
desapaixonada do betão armado na construção para resolver os grandes vãos ou
realizar consolas balançadas.” (Tostões, 2009 p. 22). Ambos os edifícios constituíam
44
(1898-1983) Rogério dos Santos de Azevedo foi um arquitecto português.
45
(1898-1990) Jorge de Almeida Segurado foi um arquitecto português.
46
A edição de 1973 da Editora Arcádia, incluiu um capítulo dedicado ao Modernismo Português.
Podemos encontrar o designado capítulo das páginas 705 a 729, com o título de Efémero Modernismo.
47
(1918-2000) Bruno Zevi foi um arquitecto e urbanista italiano, conhecido sobretudo como historiador e
crítico da arquitectura modernista.
48
Nuno Portas, inclui também, o arquitecto Marques da Silva com o seu projecto para os Armazéns
Nascimento na Rua de Santa Catarina no Porto, inaugurados a 1927. (Portas, 1973)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 47
uma verdadeira inovação à data, e marcavam já uma clara percepção de um dos
objectivos perenes da arquitectura moderna, o da depuração decorativa, em prol da
valorização da forma. Deste modo, inicia-se um novo ciclo da Arquitectura
“Modernista” em Portugal que, segundo Nuno Portas49
(1973 p. 706), embora seja de
modo pouco consciente, não deixa de ser importante a sua referência para a
introdução de uma ideologia internacional no panorama arquitectónico nacional.
Neste caso, e pela primeira vez desde há muito no nosso panorama, há que tratar uma
boa dúzia de autores como grupo ou escola50
: os seus primeiros trabalhos surgem num
curto período de tempo, afirmando-se por uma linguagem comum, de facto nova ou se
ruptura com a generalidade do que se construía até então. E não deixa de ser
surpreendente este surto se tivermos em conta que a formação que tiveram nas Belas-
Artes se encontrava totalmente desfasada da “revolução cultural” da arquitectura
europeia, que a vanguarda artística em Portugal era marginal em relação ao mundo
económico e da política […]. (Portas, 1973 p. 707)
Neste panorama de renovação é obrigatório, a inclusão de um equipamento público de
Cotinelli Telmo, falamos da Estação Fluvial Sul e Sueste inaugurada em 1929, no
Terreiro do Paço em Lisboa, um edifício que marca novamente, a abertura “[…] a um
modo de pensar construtivamente que já aceitava a revelação da estrutura e que,
nessa medida, se podia aproximar do Modernismo internacional.” (Tostões, 2004 p.
108).
As possibilidades construtivas do betão armado, cuja estrutura projectada pelo
engenheiro Espregueira Mendes tornou livres planta e fachada, eram assumidas
49
(n.1934) Nuno Rodrigo Martins Portas é um arquitecto, professor e urbanista português.
50
A arquitectura portuguesa que se desenvolveu em Portugal nas décadas de vinte e trinta tem uma
expressão geracional. Nuno Portas chama a essa geração de arquitectos “grupo ou escola”, Pedro Vieira
de Almeida chama-lhes de “geração de 27”. (Tostões, 2015)
Ilustração 19 – Edifício da Agência Havas,
Carlos Ramos, 1922. (Kurt, 1940-1950).
Ilustração 18 – Estação dos Caminhos-de-ferro, Pardal Monteiro,
1928. (Pinto, 1953)
As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa
Sérgio Monteiro Gomes 48
plenamente através de uma composição de volumes elementares, da cobertura plana e
das grandes superfícies zenitais de vidro que evidenciaram a quadrícula rigorosa da
estrutura da cobertura. Uma relação directa entre estrutura e forma surgia pela primeira
vez num programa público, criando-se um amplo espaço, pontuado apenas no eixo
central por uma sequência de pilares que venciam um vão de 17,00 m, que era
unificado por uma caixa cristalina e iluminada por todas as faces. (Tostões, 2004 p.
108)
Estas seriam as obras impulsionadoras de um surto de novas ideias que tomavam
forma em novas propostas, tais como: o cinema Capitólio de Cristino da Silva (1926); a
garagem do Comércio do Porto de Rogério de Azevedo (1928); o Pavilhão de Rádio
do Instituto de Oncologia de Lisboa, de Carlos Ramos (1930); o projecto para o
cinema Eden de Cassiano Branco (1930); os novos liceus de Beja, Coimbra e Lisboa,
que consolidavam a afirmação de Cristino, Ramos e Jorge Segurado (1930); os novos
edifícios dos CTT, de Adelino Nunes (1927); e por fim aquele que seria como que o
consolidar da Arquitectura Moderna em Portugal, o Instituto Superior Técnico de
Pardal Monteiro (1927) (Portas, 1973 p. 707).51
É este o começo do ciclo dos “caixotes-envidraçados”, que será encerrado, em glória,
já a meio dos anos 30, com a Igreja de Fátima e o I. Superior Técnico, de Pardal
51
Entenda-se que a referência temporal destes exemplos, que o autor Nuno Portas faz, seja o ano de
início dos projectos, porque o fim da sua construção e sucessiva inauguração, foram em anos posteriores.
Ilustração 20 – Estação Fluvial Sul e Sueste, Cotinnelli Telmo, 1929. (Matias,
1959)
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Grandes salas de espectáculo Avenida Liberdade

  • 1. http://repositorio.ulusiada.pt Universidades Lusíada Gomes, Sérgio Monteiro, 1985- As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa http://hdl.handle.net/11067/3084 Metadados Data de Publicação 2017-03-28 Resumo A seguinte dissertação, incide no estudo das antigas grandes salas de espectáculo existentes numa das mais eloquentes avenidas de Lisboa, a Avenida da Liberdade. Para tal concretização, em primeiro lugar, foi feito um paralelismo entre: sociedade, cidade, arquitectura e espectáculo, com base no entendimento das razões do surgimento deste tipo de edifícios, que de certo modo, nos ajudou também a perceber as influências que os seus projectos acarretam. Destarte, por fim, é feito uma análise incisi... Palavras Chave Cinema e arquitectura, Cinemas - Portugal - Lisboa, Avenida da Liberdade (Lisboa, Portugal) - Edifícios, estruturas, etc. Tipo masterThesis Revisão de Pares Não Coleções [ULL-FAA] Dissertações Esta página foi gerada automaticamente em 2018-09-20T18:13:07Z com informação proveniente do Repositório
  • 2. U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A F a c u l d a d e d e A r q u i t e c t u r a e A r t e s Mestrado Integrado em Arquitectura As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Realizado por: Sérgio Monteiro Gomes Orientado por: Prof.ª Doutora Arqt.ª Maria João dos Reis Moreira Soares Constituição do Júri: Presidente: Prof. Doutor Horácio Manuel Pereira Bonifácio Orientadora: Prof.ª Doutora Arqt.ª Maria João dos Reis Moreira Soares Arguente: Prof.ª Doutora Arqt.ª Susana Maria Tavares dos Santos Henriques Dissertação aprovada em: 17 de Março de 2017 Lisboa 2016
  • 3. U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A Faculdade de Arquitectura e Artes Mestrado Integrado em Arquitectura As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes Lisboa Novembro 2016
  • 4. U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A Faculdade de Arquitectura e Artes Mestrado Integrado em Arquitectura As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes Lisboa Novembro 2016
  • 5. Sérgio Monteiro Gomes As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa para a obtenção do grau de Mestre em Arquitectura. Orientadora: Prof.ª Doutora Arqt.ª Maria João dos Reis Moreira Soares Lisboa Novembro 2016
  • 6. Ficha Técnica Autor Sérgio Monteiro Gomes Orientadora Prof.ª Doutora Arqt.ª Maria João dos Reis Moreira Soares Título As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Local Lisboa Ano 2016 Mediateca da Universidade Lusíada de Lisboa - Catalogação na Publicação GOMES, Sérgio Monteiro, 1985- As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa / Sérgio Monteiro Gomes ; orientado por Maria João dos Reis Moreira Soares. - Lisboa : [s.n.], 2016. - Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa. I - SOARES, Maria João dos Reis Moreira, 1964- LCSH 1. Cinema e arquitectura 2. Cinemas - Portugal - Lisboa 3. Avenida da Liberdade (Lisboa, Portugal) - Edifícios, estruturas, etc. 4. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Teses 5. Teses - Portugal - Lisboa 1. Motion pictures and architecture 2. Motion picture theaters - Portugal - Lisbon 3. Avenida da Liberdade (Lisbon, Portugal) - Buildings, structures, etc. 4. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Dissertations 5. Dissertations, Academic - Portugal - Lisbon LCC 1. NA2588.G66 2016
  • 7. Ao meu Pai e à minha Mãe pela perseverança, e todo o apoio incondicional. Sem eles nada era possível. A eles dedico este trabalho.
  • 8.
  • 9. AGRADECIMENTOS À minha família por todo o apoio, perseverança e esforço que fez para que eu me tornasse naquilo que sou hoje. À minha namorada e amiga, por todos os momentos de incentivo, dedicação, compreensão e suporte. Ao atelier Arsuna, em especial ao arquitecto Flávio Tirone pelo prestável fornecimento de documentação complementar e orientação, que me ajudaram na conclusão deste trabalho. À Fundação Calouste Gulbenkian, por prontamente dispor online todos os desenhos e imagens, que nos ajudaram a fundamentar melhor, o nosso trabalho. À Câmara Municipal de Lisboa, pela disponibilidade dos seus funcionários, em fornecer todo o tipo de documentação possível e necessária para a execução deste trabalho. Por fim, um especial agradecimento à professora Maria João Soares, por toda a orientação, dedicação e sobretudo compreensão, que foram essenciais para a resolução deste trabalho. Um enorme obrigado a todos.
  • 10.
  • 11. APRESENTAÇÃO As grandes salas de espectáculos nos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade de Lisboa Sérgio Monteiro Gomes A seguinte dissertação, incide no estudo das antigas grandes salas de espectáculo existentes numa das mais eloquentes avenidas de Lisboa, a Avenida da Liberdade. Para tal concretização, em primeiro lugar, foi feito um paralelismo entre: sociedade, cidade, arquitectura e espectáculo, com base no entendimento das razões do surgimento deste tipo de edifícios, que de certo modo, nos ajudou também a perceber as influências que os seus projectos acarretam. Destarte, por fim, é feito uma análise incisiva, a três casos de estudo existentes na designada Avenida da Liberdade, ou na sua imediata periferia. Assim incidimos a escolha de estudo no cinema Tivoli, no cineteatro Capitólio e no cineteatro Eden. Em cada análise, é feita uma divisão de três partes: a primeira tem como base a tentativa de um entendimento do porquê da sua construção; a segunda, incide no conhecimento de um pouco da vida do seu autor/arquitecto; por último, é feita uma análise ao edifício, que tenta perceber as influências do seu projecto e um melhor entendimento do espaço em si. Palavras-chave: Lisboa, Avenida da Liberdade, Sociedade, Cidade, Arquitectura, Espectáculo.
  • 12.
  • 13. PRESENTATION The biggest showrooms at the years 20 and 30 of the twentieth century at Avenida da Liberdade in Lisbon Sérgio Monteiro Gomes The following dissertation focuses on the study of the former large showrooms on one of the most elegant avenues of Lisbon, Avenida da Liberdade. In order to accomplish this, in the first place, a parallelism was made between: society, city, architecture and spectacle, based on the understanding of the reasons for the emergence of this type of buildings, which, in a way, also helped us to perceive the influences that its projects entail. Finally, an incisive analysis was made, to three cases of study existing in the designated Avenida da Liberdade, or in its immediate periphery. Thus we focus on the choice of study in the Tivoli cinema, the Capitólio and Eden cinema theatres. In each analysis, a division of three parts was made: the first one is based on the attempt of an understanding of the reason of its construction; the second, focuses on the knowledge of the life of its author / architect; finally, an analysis was made to the building, which tries to perceive the influences of its project and a better understanding of the space itself. Keywords: Lisboa, Avenida da Liberdade, Society, City, Architecture, Spectacle.
  • 14.
  • 15. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1 – A proclamação da República, o povo em frente da Câmara Municipal de Lisboa. (Benoliel, 1910)................................................................................................22 Ilustração 2 - Preparativos para o embarque das tropas que vão combater na Primeira Guerra Mundial. (Benoliel, 1916)..................................................................................24 Ilustração 3 - Bernardino Machado, Presidente da República, na varanda da Câmara Municipal. (Benoliel, 1915) ...........................................................................................25 Ilustração 4 - Revolução de Sidónio Pais, o povo assiste à partida do automóvel que leva Bernardino Machado, presidente da República, para o exílio. (Benoliel, 1917) ... 27 Ilustração 5 - Funeral do presidente Sidónio Pais. A urna funerária sai dos Paços do Concelho. (Franco, 1918).............................................................................................28 Ilustração 6 – Segundo aniversário da Revolução de 28 de Maio de 1926, formatura da Legião Portuguesa. (Notícias, 1928) ............................................................................29 Ilustração 7 – Vila Sousa, Largo da Graça, Lisboa. (Machado; Souza, 1896-1908).... 32 Ilustração 8 – Gravura da “Ilha” do Cabo de Secção, 1888. (Branco, 1888)................ 34 Ilustração 9 – Bairro Social do Arco do Cego, 1930. (Novais, 1930) ........................... 35 Ilustração 10 – Fotografia da nave central do Palácio de Cristal no Porto, 1864. (Porto, 2016).............................................................................................................................39 Ilustração 11 – Desenho da fachada da Fábrica de Moagens Caramujo, na Cova da Piedade. (Toscano, 2012) ............................................................................................41 Ilustração 12 – Fotografia do Mestre José Luís Monteiro. (Novais, 1925-85).............. 43 Ilustração 13 – A Estação do Rossio, José Luís Monteiro, 1890. (Novais, 1933-83)... 43 Ilustração 14 – Maternidade Alfredo Costa, Ventura Terra, 1932. (Novais, 1933-83).. 45 Ilustração 15 – O Arquitecto Miguel Ventura Terra. Pintura de Veloso Salgado, 1866- 1918. ([Adaptado a partir de:] Leite, 2016)...................................................................45 Ilustração 16 – Retracto do Arquitecto Raul Lino. Moldura da autoria de Raul Lino e desenho pela mão de Columbano Bordallo Pinheiro, 1907. ([Adaptado a partir de:] Gulbenkian, 1970) ........................................................................................................45 Ilustração 17 – Casa do Cipreste, Raul Lino, 1914. ([Adaptado a partir de:] Cultura, 2016).............................................................................................................................45 Ilustração 18 – Estação dos Caminhos-de-ferro, Pardal Monteiro, 1928. (Pinto, 1953) ......................................................................................................................................47 Ilustração 19 – Edifício da Agência Havas, Carlos Ramos, 1922. (Kurt, 1940-1950). . 47 Ilustração 20 – Estação Fluvial Sul e Sueste, Cotinnelli Telmo, 1929. (Matias, 1959). 48 Ilustração 21 – Vista interior do Cineteatro Capitólio. (Leite, 2011) ............................. 50 Ilustração 22 – Antigo Hotel Vitória. (Leite, 2012) ........................................................51 Ilustração 23 – Vista interior do hall de entrada do Cineteatro Eden. (Novais, 1930- 1980).............................................................................................................................51 Ilustração 24 – A máquina do animatógrafo de Robert W. Paul. (Leite, 2012) ............ 53 Ilustração 25 – Garagem Auto-Lis. (Ilustração nossa, 2016) ....................................... 54
  • 16. Ilustração 26 – O Real Coliseu de Lisboa. (Cunha, 1987-1929) .................................. 54 Ilustração 27 – O interior do Coliseu dos Recreios. (Portugal, 1900-1958) ................. 57 Ilustração 28 – Plano de prolongamento da Avenida da Liberdade. (Silva, 1932-1971) ......................................................................................................................................59 Ilustração 29 – Fotografia exterior do Cineteatro Tivoli. (Cunha, 1929)....................... 60 Ilustração 30 – Fotografia exterior do Cineteatro Capitólio. (Madureira, 1960)............ 60 Ilustração 31 – Fotografia exterior do cinema Imperial. (Madureira, 1960).................. 62 Ilustração 32 – Fotografia exterior do Royal-Cine. (Vasques, 1977)............................ 62 Ilustração 33 – Fotografia exterior do Cine-Lys. (Madureira, 1960) ............................. 62 Ilustração 34 – Fotografia exterior do Cinema Paris. (Madureira, 1960)...................... 62 Ilustração 35 – Fotografia exterior do Cinema São Jorge. (Serôdio, 1959) ................. 63 Ilustração 36 – Fotografia exterior do Cinema Império. (Madureira, 1959).................. 63 Ilustração 37 – Fotografia do Teatro Tivoli à noite. (Cunha, 1901-1970) ..................... 65 Ilustração 38 – Proposta para a fachada de frente para Avenida da Liberdade (Lino, 1918-1956). ..................................................................................................................72 Ilustração 39 - Proposta de fachada de frente para Rua Manuel de J. Coelho. (Lino, 1918-1956) ...................................................................................................................72 Ilustração 40 – Proposta de fachada de frente para Av. da Liberdade, com introdução de um segundo andar. (Lino, 1918-1956) ....................................................................73 Ilustração 41 – Proposta final para a fachada de frente para a Avenida da Liberdade. (Lino, 1918-1956) .........................................................................................................74 Ilustração 42 – Proposta final para a fachada de frente para a R. Manuel de Jesus Coelho. (Lino, 1918-1956)............................................................................................74 Ilustração 43 - Projecto de modificações no edifício do cinema Tivoli; Planta do restaurante. (Lino, 1918-1956) .....................................................................................76 Ilustração 44 - Planta do Tivoli quando desaparecimento da 2ª plateia e das frisas laterais ([Adaptado de:] Ribeiro, 1978).........................................................................76 Ilustração 45 - Planta primitiva do Tivoli ([Adaptado de:] Ribeiro, 1978)...................... 76 Ilustração 46 - Fotografia do primeiro projecto para a boca de cena. (Serôdio, 1970) 77 Ilustração 47 - Desenho do alargamento da boca de cena. (Lino, 1918-1956)............ 78 Ilustração 48 - Desenho das guardas das escadas interiores (Lino. (Lino, 1918-1956) ......................................................................................................................................79 Ilustração 49 - Desenho de guarda ventos do vestíbulo. (Lino, 1918-1956)................ 79 Ilustração 50 - Desenho das cadeiras de plateia. (Lino, 1918-1956) ........................... 80 Ilustração 51 - Desenho da platibanda em balaustrada com jarrões, situada no torreão. (Lino, 1918-1956) .........................................................................................................80 Ilustração 52 - Fotografia da entrada principal do Cineteatro Capitólio. (Novais, s.d.) 83 Ilustração 53 - Alçado Lateral. (Silva, 1925-1929)........................................................95 Ilustração 54 - Alçado Principal; Zona da entrada do recinto. (Silva, 1925-1929)........ 96
  • 17. Ilustração 55 - Planta do terraço. ([Adaptado a partir de:] Silva, 1925-1929)............... 98 Ilustração 56 - Planta do rés-do-chão. ([Adaptado a partir de:] Silva, 1925-1929)....... 98 Ilustração 57 - Alçado Lateral com indicação dos vãos a vermelho. ([Adaptado a partir de:] Silva, 1925-1929)...................................................................................................99 Ilustração 58 - Alçado Frontal com indicação dos diferentes “corpos”. ([Adaptado a partir de:] Silva, 1925-1929) .........................................................................................99 Ilustração 59 - Perspectiva do salão de espectáculos. (Silva, 1974) ......................... 100 Ilustração 60 - Alçado Lateral, com a indicação dos vidros que abrem no sentido vertical a vermelho. ([Adaptado a partir de:] Silva, 1925-1929).................................. 100 Ilustração 61 - Corte Transversal de frente para o palco. Indicação a vermelho da iluminação artificial. ([Adaptado a partir de:] Silva, 1928)........................................... 101 Ilustração 62 - Planta do rés-do-chão. Com a introdução dos foyers e o recuo do palco indicados a azul. ([Adaptado a partir de :] Silva, 1934-1935)..................................... 102 Ilustração 63 - Segundo legenda do desenho: “Projecto de um balcão camarotes e respectivos foyers laterais que a Sociedade Avenida Parque pretende mandar construir no seu teatro Capitólio situado no Parque Mayer”. ([Adaptado a partir de:]Silva, 1935)...........................................................................................................103 Ilustração 64 - Planta da sala de espectáculos no ano de 1953. (Leite, 2011).......... 104 Ilustração 65 – Fotografia da Fachada principal do Cineteatro Eden. (Madureira, 1960) ....................................................................................................................................107 Ilustração 66 - Fachada principal de frente para a Praça dos Restauradores do Eden- Teatro. Sem data. (Pinto, 2008) .................................................................................117 Ilustração 67 - Primeira proposta de remodelação de Cassiano Branco. Fachada principal de frente para a Praça dos Restauradores. 1929. (Branco, 1929) .............. 118 Ilustração 68 - Planta do antigo Eden Teatro, já com as alterações de fachada (rectângulo azul) e um sistema de rampas de emergência para utilização em caso de sinistro (rectângulo verde). 1929. ([Adaptado de:] Branco, 1929).............................. 119 Ilustração 69 - Planta do antigo Eden Teatro. Restruturação dos acessos e desenho de camarins. 1929. (Branco, 1929) .................................................................................120 Ilustração 70 - Segunda proposta de aumento e ampliação de Cassiano Branco. Fachada principal de frente para a Praça dos Restauradores. 1930. (Branco, 1930)120 Ilustração 71 - Corte Longitudinal da proposta de Cassiano Branco. 1930. ([Adaptado a partir de:] Acciaiuoli, 2012) .........................................................................................121 Ilustração 72 - Corte Transversal da proposta de Cassiano Branco. 1930. ([Adaptado a partir de:] Acciaiuoli, 2012) .........................................................................................122 Ilustração 73 - Terceira proposta de 1931, de alteração e ampliação da autoria de Cassiano Branco. Fachada principal de frente para a Praça dos Restauradores. 1931. ([Adaptado a partir de :] Branco, 1931) ......................................................................123 Ilustração 74 - Perspectiva da terceira proposta apresentada por Cassiano Branco. 1931. (Branco, 1931)..................................................................................................124 Ilustração 75 – Obra final, da autoria do Arquitecto Carlos Dias. (Cunha, 1937)....... 126 Ilustração 76 - Planta da proposta final do Cineteatro Eden da autoria do arquitecto Carlos Dias. 1938. (Pinto, 2008).................................................................................127
  • 18. Ilustração 77 - Corte longitudinal da proposta final do Cineteatro Eden da autoria do arquitecto Carlos Dias. 1938. (Pinto,2008).................................................................128 Ilustração 78 - Fotografia do hall de entrada do Cineteatro Éden. (Lisboa, 2016)..... 129 Ilustração 79 - Desenho representativo da disposição das escadarias de acesso aos vários sectores da sala de espectáculo (Ilustração nossa, 2016) .............................. 130 Ilustração 80 - Cena do filme Until the End of the World de Wim Wenders em que figura as escadarias do Cineteatro Eden. (Pinto, 2008)............................................. 132
  • 19. SUMÁRIO 1. Introdução ................................................................................................................17 2. Sociedade, arquitectura e programa........................................................................21 2.1. Portugal no início do século XX ........................................................................21 2.2. Breve alusão à Arquitectura Modernista em Portugal....................................... 36 2.2.1. A importância dos materiais para uma nova Arquitectura ......................... 37 2.2.2. Percursores do Movimento Moderno na Arquitectura Portuguesa ............ 42 2.2.3. O “efémero” Modernismo Português..........................................................46 2.3. O cinema como paradigma de mudança ..........................................................52 3. Cidade e espectáculo ..............................................................................................65 3.1. O cinema Tivoli de Raul Lino ............................................................................65 3.1.1. Origem .......................................................................................................66 3.1.2. O arquitecto................................................................................................70 3.1.3. O edifício....................................................................................................71 3.2. O cineteatro Capitólio de Cristino da Silva........................................................83 3.2.1. Origem .......................................................................................................84 3.2.2. O arquitecto................................................................................................89 3.2.3. O edifício....................................................................................................94 3.3. O cineteatro Eden de Cassiano Branco..........................................................107 3.3.1. Origem .....................................................................................................108 3.3.2. O arquitecto..............................................................................................113 3.3.3. O edifício..................................................................................................116 4. Considerações finais..............................................................................................133 Referências.................................................................................................................135 Bibliografia..................................................................................................................151 Anexos Lista de Anexos Anexo A – Cinema Tivoli Anexo B – Cineteatro Capitólio Anexo C – Cineteatro Eden
  • 20.
  • 21. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 17 1. INTRODUÇÃO A presente dissertação aborda o tema das grandes salas de espectáculos dos anos vinte e trinta do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa. A escolha deste tema prende-se, antes de mais, com um manifesto e intrínseco interesse pessoal pela matéria, traduzido numa procura – que se pretende rigorosa – associada ao respectivo tema. Para além disso, pesou na referida escolha o facto de ser um tema, pese embora com notório interesse, muito pouco abordado ao longo de vários anos de formação. Sentimos, por isso, a necessidade e a vontade de colmatarmos tal lacuna cognitiva percorrendo alguns trilhos diversos que desenham a Arquitectura Moderna Portuguesa das indicadas décadas. Por fim, sentimo-nos verdadeiramente inspirados pelo tema do último trabalho de curso, o qual foi realizado em plena Avenida de Liberdade, potenciando a curiosidade e um contacto mais próximo perante aquelas que eram, antigamente, consideradas as grandes salas de espectáculo da Lisboa Modernista. Deste modo, com o desenvolvimento do seguinte trabalho, pretender-se-á: entender o contexto político-social, da cidade de Lisboa nos inícios do século XX; perceber a importância que a Arquitectura Moderna teve no desenvolvimento da cidade; fazer um paralelismo entre cidade e cinema, e compreender como a evolução de ambos se encontra interligada; analisar três das mais importantes salas de espectáculos da Avenida da Liberdade. Este trabalho foi organizado em duas partes. A primeira está relacionada com os três primeiros pontos que enunciamos anteriormente. A segunda e última parte será uma análise detalhada de três casos de estudo, situados na Avenida da Liberdade, em Lisboa. A primeira parte correspondente ao segundo capítulo, traçaremos um perfil geral da sociedade portuguesa desde a 1ª República (1910) até à aprovação da Constituição de 1933 que expunha os ideais do sucedâneo Estado Novo. Uma abordagem, do tempo breve que foi a Arquitectura Modernista em Portugal, fazendo uma alusão ao mesmo, abordando temáticas que vão desde a importância dos materiais, aos arquitectos percursores, finalizando com uma explicação daquilo que foi o tempo efémero da Arquitectura Moderna em Portugal. Por fim, abordaremos o percurso do cinema em Portugal e a importância que ele teve no afirmar de novos perspectivas para a sociedade e cidade de Lisboa.
  • 22. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 18 No terceiro e último capítulo, analisaremos três das mais importantes salas de espectáculos existentes na Avenida da Liberdade, o Cinema Tivoli (1924), o Cineteatro Capitólio (1929) e o Cineteatro Eden (1933). Cada caso de estudo está dividido em três partes. A primeira explica as razões do aparecimento do edifício em questão. A segunda faz uma pequena abordagem da vida do arquitecto autor do projecto. A terceira e última falam do edifício em si, fundamentando as suas tendências arquitectónicas, através da visita, investigação, e observação de imagens feitas pelo autor. No fim, foram colocadas em anexo, algumas fichas técnicas referentes a cada caso de estudo, que ajudam a complementar a informação desenvolvida em cada tema. Para o desenvolvimento do seguinte trabalho, foi essencial a consulta de bibliografia que ajudou de certo modo, a fundamentar todos os assuntos descritos tanto no capítulo dois como no capítulo três. Para o capítulo três, o autor para além da pesquisa da bibliografia referida, teve a oportunidade de efectuar uma visita guiada a pelo menos dois dos casos de estudo (Tivoli e Capitólio), isto porque, o terceiro se encontra parcialmente demolido e em utilização programática diferente (Eden). No caso do Cinema Tivoli tivemos a oportunidade de o visitar, aquando das obras de requalificação do espaço, onde mantivemos o contacto com o arquitecto Flávio Tirone (autor do projecto de requalificação), que prontamente nos disponibilizou alguns desenhos explicativos das mudanças que estavam a efectuar no espaço. No caso do Cineteatro Capitólio, também tivemos a oportunidade de uma visita guiada, no último ano de curso, efectuada pelo arquitecto Souza Oliveira (autor do projecto de requalificação). Relativamente ao Cineteatro Eden, para infelicidade nossa, o edifício encontra-se parcialmente alterado, e já com uma outra função, a de hotelaria, que desvirtuou, por completo a ambiência que a sala outrora tinha. Ressalvamos que se mantiveram intactas as escadarias de acesso Para o desenvolvimento da seguinte dissertação, destacamos quatro referências que foram de extrema importância para este trabalho, na medida em que não se encontram muitos livros, que abordem a biografia do cinema na cidade de Lisboa. Nessa conformidade, indicamos os seguintes livros e arquivos que proporcionam essa abordagem global sobre o espectáculo e as subsequentes salas construída para esse efeito (cinematográfico) na capital:
  • 23. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 19 Os mais antigos cinemas de Lisboa, de M. Félix Ribeiro. Este foi um livro essencial para a execução do seguinte trabalho, isto porque, não exuberam os livros que falem acerca da história do cinema em Portugal, e os que existem, grande parte deles, basearam-se na informação prestada por este livro. Os cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, de Margarida Acciaiuoli. Um pouco à semelhança com o livro anterior, traça a história do cinema na cidade de Lisboa, desde a visualização das primeiras “fitas” até ao cinema de hoje em dia, e onde é feita também, uma caracterização do modo em como o espectáculo se processava na capital portuguesa. Arquivo da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian, um arquivo de arte, histórico e documental que dispõe ao público em geral, os mais diversos espólios de alguns arquitectos. No nosso caso foram fundamentais, os espólios de Raul Lino e de Cristino da Silva, que contêm uma série de imagens e desenhos, que proporcionaram um estudo mais aprofundado das salas desenhadas por ambos o Cinema Tivoli e Cineteatro Capitólio, sucessivamente. Arquivo Municipal da Câmara Municipal de Lisboa, um arquivo histórico e documental, que dispõe dos mais diversos desenhos e imagens, que nos ajudaram, a fundamentar de um modo mais aprofundado possível, os mais diversos temas, que nesta dissertação foram falados. Em especial, referimos o espólio do arquitecto Cassiano Branco, onde são expostos os vários projectos que foram efectuados por este, para um dos nossos casos de estudo o Cineteatro Eden.
  • 24. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 20
  • 25. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 21 2. SOCIEDADE, ARQUITECTURA E PROGRAMA 2.1. PORTUGAL NO INÍCIO DO SÉCULO XX Segundo António Barreto1 “[…] uma das melhores maneiras de conhecer alguém (pessoa ou país) consiste em percorrer as suas mudanças […]” (Barreto, 2007), e como tal, seguindo essa premissa, o nosso objectivo enquanto dissertantes será de ir ao encontro do estudo daquilo que foi Portugal no inicio do século XX, porque, só assim, achamos ter as bases que nos possam justificar a razão dos acontecimentos até à data da época em estudo, a designada era Moderna (nomeadamente os anos vinte e trinta do século XX). Tendo a arquitectura as implicações sociais que tem, inevitavelmente o estabelecimento das suas linhas estruturais e mesmo a compreensão da sua evolução formal têm estreitamente a ver com a própria evolução social, económica e política do seu tempo. Daí que a demarcação de uma periodização para o estudo da arquitectura moderna não possa deixar de ter em conta o aparecimento das forças sociais, económicas e politicas que, em conjunto com os próprios dados culturais, vão constituir um tecido interpretativo possível. (Almeida, et al., 1986 p. 10) Volvamos então, ao início do século XX, que, deixando para trás um século XIX, passado, ecléctico2 e industrial3 , se torna num símbolo de revoluções4 sociais, económicas, culturais, profissionais e técnicas, “[…] factores que vão determinar o progressivo surgir de uma nova consciência […]” (Almeida, et al., 1986 p. 9), consciência que viria a delinear o caminho a seguir pelas gerações vindouras, a consciência do “viver em sociedade”. Situação política portuguesa Portugal encontrava-se numa fase decisiva da sua história, falamos do fim da primeira década do século XX, mais concretamente em 1910, ano que dita a queda da 1 (1942) António Miguel de Morais Barreto é um sociólogo e cronista português. 2 Especialmente no campo da arquitectura. O século XIX é percorrido por uma corrente de mistura onde cabem todas as diferentes tendências – Eclectismo Historicista – todos os estilos eram válidos, desde que tivessem um aval histórico, posto isto, construía-se à maneira grega, romana, renascentista, barroca, árabe, oriental, gótica, românica, pitoresca, ou seja, construía-se de todas as maneiras, menos à maneira do século XIX. (Simões, 2010) 3 O século XIX foi marcado por uma revolução que viria a mudar o rumo da história da humanidade em geral, falamos da revolução industrial, um acontecimento que trouxe uma profunda alteração da maneira de vida e de viver das pessoas enquanto parte integrante de uma sociedade. A revolução industrial, define-se assim, pelo conjunto de transformações técnicas, económicas e sociais, caracterizadas pela substituição da energia física pela mecânica, ou seja, da manufactura pela nasmaquinofactura. (Simões, 2010) 4 Não só, no sentido lato da palavra revolucionar, mas também no sentido de inovação e novidade que esta viragem de século proporcionaria na vida das pessoas e das sociedades.
  • 26. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 22 Monarquia Constitucional e a subsequente instauração da República Portuguesa, a 5 de Outubro (Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, 2011). Conquistado o poder, o Partido Republicano nomeou um governo provisório, simbolicamente presidido pelo idoso e respeitado professor do Curso Superior de Letras, Teófilo Braga, mas cujos verdadeiros chefes eram: António José de Almeida, Afonso Costa, Bernardino Machado e, um pouco mais tarde, Brito Camacho. (Marques, 1995 p. 561) Este primeiro governo provisório era contra a monarquia e contra a igreja5 , mas, como interino que era, não tinha ainda projectos concretos. Mais tarde, a 28 de Maio de 1911, fazem-se as primeiras eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, nas quais só o Partido Republicano (PRP) apresentou candidatos (Marques, 1995 p. 562). A Assembleia Nacional Constituinte foi eleita num sufrágio em que só houve eleições em cerca de metade dos círculos eleitorais. Não havendo mais candidatos do que lugares a preencher em determinada circunscrição eleitoral, aqueles eram proclamados "eleitos" sem votação. (República, 2016) As eleições acabaram por submeter o governo ao apoio de uma maioria absoluta que parecia muito sólida, mas a verdade é que essa solidez se desfez rapidamente, porque dentro do partido republicano havia uma ala esquerda, uma ala direita e um 5 Sabemos que parte dos motivos para a implantação da república, residiram tanto nos gastos de capital efectuados pela última família real, como pelo poder que a igreja detinha perante os órgãos soberanos (Rei), sendo por isso espectável que a primeira governação pós monarquia, apresentasse medidas reformadoras anti igreja e anti monárquicas. (Wheeler, 1978) Ilustração 1 – A proclamação da República, o povo em frente da Câmara Municipal de Lisboa. (Benoliel, 1910)
  • 27. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 23 centro. À esquerda, tínhamos como cabeça de cartaz Afonso Costa6 , ao centro tínhamos como líder Brito Camacho7 , e a direita era liderada por José de Almeida8 (Marques, 1995 p. 563). Resumindo, as divergências foram-se acentuando, e o clima de instabilidade foi-se instalando dentro do partido republicano, e, inevitavelmente, também no país. No entanto, é com a subida da república ao poder em 1910, na altura do governo provisório, que são tomadas decisões muito importantes para a sociedade portuguesa. Isto porque, esse governo não tinha de enfrentar uma oposição parlamentar por não haver ainda uma Assembleia definida, logo, estava livre de criar novos regulamentos de regência do país, que serviram de base para a nova Constituição de 1911, feita aquando das eleições de 28 de Maio de 1911. Legislações, como por exemplo, a criação da Lei do Registo Civil, da Lei do Divórcio, da Lei da Separação da Igreja do Estado (Portuguesa, 1911), enfim, leis que acabariam por servir de estrutura base para a construção de uma sociedade que se queria Moderna. Foi bastante evidente a inimizade que o novo governo demonstrou perante a religião, a qual apoiava o antigo regime vigente (monarquia), e, para o Ministro da Justiça Afonso Costa, a razão do atraso do país em relação às outras potências europeias, foi, precisamente, a influência da religião na governação do país. Posto isso, os padres e freiras ficaram impedidos de usar os seus hábitos religiosos comuns em público (Wheeler, 1978 p. 85), o que fez com que, em 1913, o Vaticano quebrasse relações com o governo português (Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, 2011). Todo este conflito foi negativo para o novíssimo governo que se tinha acabado de implantar, porquanto a população portuguesa era maioritariamente 6 (1871-1937) Afonso Augusto da Costa foi um advogado, professor universitário, político republicano e estadista português. Foi um dos principais obreiros da implantação da República em Portugal e uma das figuras dominantes da Primeira República. Depois da separação do Partido Republicano após as eleições para a Assembleia Constituinte de 1911, este criou o partido o Partido Democrático, um partido radical com ideais de esquerda e que era o partido com o maior número de apoiantes. (República e Laicidade, 2006) 7 (1862-1934) Manuel de Brito Camacho foi um médico, militar, escritor, publicista e político que, entre outros cargos de relevo, exerceu as funções de Ministro do Fomento (1910-1911) e de Alto-comissário da República em Moçambique (1921 a 1923). Depois da separação do Partido Republicano após as primeiras eleições para a Assembleia Constituinte de 1911, fundou e liderou o partido da União Republicana. Foi fundador e director do jornal "A Luta", órgão oficioso do Partido Unionista. (Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, 2011) 8 (1866-1929) António José de Almeida foi um político republicano português, sexto presidente da República Portuguesa (1919-1923). Depois da separação do Partido Republicano após as primeiras eleições para a Assembleia Constituinte de 1911, António José de Almeida foi o fundador do partido Evolucionista, um partido com ideias assentes na evolução ao invés de uma revolução com uma característica de esquerda. Foi o único presidente da Primeira República Portuguesa a cumprir integralmente e sem interrupções o seu mandato de 4 anos, tendo com ele Portugal retornado a uma presidência civil. (Portuguesa, 2016)
  • 28. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 24 católica. Como tal, este novo regime precisava da adesão de todos os portugueses, e, se este (governo) se encontrava em litígio com a religião, era um motivo para dar força aos oponentes da república, os monárquicos, que viam nesse conflito um meio de arranjar militantes (Wheeler, 1978 p. 86). Porém, é em 1914 que este governo republicano encontra a sua maior adversidade, com a entrada de Portugal na 1ª Guerra Mundial – pelo lado dos Aliados (França, Inglaterra e Império Russo) que se opunham aos Impérios Centrais (Alemanha, Império Austro-húngaro e Itália) em prol da disputa da hegemonia na Europa – o que levou a um esforço económico externo elevado, resultando em consequências económicas internas desastrosas. Havia escassez de géneros, de primeira e de segunda necessidade, até ao extremo da fome entre as classes inferiores urbanas. Muitos artigos passaram a ser racionados. O crescente número de tropas que partiam para os campos de batalha da França e de Moçambique suscitava descontentamento cada vez maior num povo que, em geral, não compreendia a razão do combate e da participação portuguesa. (Marques, 1995 p. 568) Ilustração 2 - Preparativos para o embarque das tropas que vão combater na Primeira Guerra Mundial. (Benoliel, 1916)
  • 29. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 25 Ora vejamos, Bernardino Machado9 era nesta altura Presidente do Ministério vigente (1914) (Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, 2011). Foi, aliás, do próprio, que partiu a decisão da intervenção de Portugal na guerra, sucede que, no entretanto, a situação política portuguesa alterar-se-ia, considerando que no espaço de um ano, o sistema político português mudou de uma república para uma ditadura militar, e novamente para uma república (Marques, 1995 p. 565). A primeira mudança deu-se em Janeiro de 1915, quando o Presidente da República vigente (Manuel de Arriaga10 ) provocou a demissão11 do governo de Bernardino Machado e convocou o seu amigo pessoal, General de Pimenta Machado a formar um conselho de ministros e a restabelecer a ordem no país (Wheeler, 1978 p. 135). Dito, feito: a ordem acabou por ser restabelecida, as perseguições12 aos monárquicos e à igreja que existiam desde 1910 foram interrompidas, no entanto, a 9 (1851-1944) Bernardino Luís Machado Guimarães foi um político, filósofo e matemático Luso-brasileiro, militante do Partido Democrático e foi o terceiro (1915-1917) e o oitavo (1925-1926) presidente eleito da República Portuguesa. (Portuguesa, 2016) 10 (1840-1917) Manuel José de Arriaga Brum da Silveira e Peyrelongue foi um advogado, professor, escritor e político de origem açoriana. Grande orador e membro destacado da geração doutrinária do republicanismo português, foi dirigente e um dos principais ideólogos do Partido Republicano Português. A 24 de Agosto de 1911 tornou-se no primeiro presidente eleito da República Portuguesa, sucedendo na chefia do Estado ao Governo Provisório presidido por Teófilo Braga. Exerceu aquelas funções até 29 de Maio de 1915, data em que foi obrigado a demitir-se, sendo substituído no cargo pelo mesmo Teófilo Braga, que como substituto completou o tempo restante do mandato. (Portuguesa, 2016) 11 A demissão do governo de Bernardino Machado acontece devido ao facto deste, ter decidido que Portugal só entraria na guerra caso a Inglaterra pedisse expressamente o apoio a Portugal, no entanto, a opinião dos partidos da oposição seria a da intervenção de Portugal na guerra sem pedir a autorização a Inglaterra. Posto isto, o clima de instabilidade política acentuou-se, daí a opção tomada pelo Presidente da República Manuel de Arriaga. (Marques, 1995) 12 Perseguições por parte dos radicais de esquerda. Ilustração 3 - Bernardino Machado, Presidente da República, na varanda da Câmara Municipal. (Benoliel, 1915)
  • 30. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 26 persecução passou a ser efectuada aos Democráticos, que eram liderados por Afonso Costa (Marques, 1995 p. 566). Destarte, acabou por se instaurar um clima ditatorial. Acontece que, a 14 de Maio de 1915, uma revolução armada ocorre em Lisboa (com vista a depor o governo vigente), e foi bem sucedida, instaurando novamente um governo republicano (Marques, 1995 p. 566 e 567). Manuel de Arriaga demite-se e Teófilo de Braga assume o seu lugar para concluir o tempo que restava de presidência (Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, 2011), até Junho de 1915, altura em que são efectuadas eleições que dão como vencido o Partido Democrático e Bernardino Machado é eleito Presidente da República e Afonso Costa Presidente do Conselho de Ministros (Marques, 1995 p. 567). Acontece que, depois de todos os problemas políticos serenados dentro do país, Afonso Costa (herdando a pasta da resolução da entrada de Portugal na Primeira Grande Guerra Mundial) acaba por passar mais tempo a resolver problemas externos do que internos, esquecendo a desgraça em que o país se encontrava, e, mais uma vez, a instabilidade civil e política estava instalada (Marques, 1995 p. 568). As medidas repressivas impostas pelo governo de Afonso Costa em prol de calar os descontentes com a situação do país, vão criando um dissabor perante as classes urbanas e militares (Wheeler, 1978 p. 151), e, a 5 de Dezembro de 1917, acontece outra revolta armada chefiada pelo major Sidónio Pais, que depõe o governo vigente (Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, 2011), manda prender Afonso Costa, intima Bernardino Machado a sair do país, dissolve o Congresso, e decreta alterações na Constituição introduzindo um regime presidencialista (ao estilo americano) e fazendo-se eleger Presidente da República. Assim se dava entrada numa República Nova13 ou na era do Sidonismo14 por assim dizer (Marques, 1995 p. 569). 13 A República Nova era apoiada pelos grandes sectores da maioria conservadora do país. 14 Designa o regime vigente em Portugal durante o governo de Sidónio Pais (Dezembro de 1917 a Dezembro de 1918). As suas medidas tornaram-se o ideário do Partido Sidonista, de direita. (Marques, 1995)
  • 31. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 27 O certo é que o mais adequado seria de designar esta República Nova de República Efémera, isto porque, passado um ano da sua instauração, Sidónio Pais é assassinado em Lisboa, a 11 de Dezembro (Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, 2011), e assim acaba a era do Sidonismo o que foi mote para um escalar de degradação interna do país. Voltou-se à vigência da Constituição de 1911, e foi eleito Canto e Castro15 como Presidente da República (Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, 2011). A 11 de Novembro de 1918, dá-se o Armistício de Compiègne16 (Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, 2011), que determina o fim da Primeira Grande Guerra. O que se sucede no pós guerra teve consequências muito graves na economia do país, levando o país a uma das maiores crises da sua história moderna “[…] novas dívidas de guerra, inflação, falta de géneros alimentícios e depreciação do valor da moeda.” (Wheeler, 1978 p. 175). Claro está que, com estes acontecimentos, vieram também os tumultos militares e civis, os atentados, as greves, enfim, um sem fim de problemas que agravam a estabilidade geral do país. Poderemos dizer que Portugal do pós Primeira Grande Guerra, se perdeu nos seus problemas, e como tal, uma intervenção que contrariasse esta situação era de tamanha importância. 15 (1862-1934) João do Canto e Castro da Silva Antunes Júnior foi um oficial da Marinha e o quinto Presidente da República Portuguesa (16 de Dezembro de 1918 a 5 de Outubro de 1919). (Portuguesa, 2016) 16 O Armistício de Compiègne foi um tratado assinado em 11 de Novembro de 1918 entre os Aliados e a Alemanha, com o objectivo de encerrar as hostilidades na frente ocidental da Primeira Guerra Mundial. Ilustração 4 - Revolução de Sidónio Pais, o povo assiste à partida do automóvel que leva Bernardino Machado, presidente da República, para o exílio. (Benoliel, 1917)
  • 32. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 28 Passados quase oito anos, surge finalmente uma resposta à situação de crise sentida na totalidade do país, a Revolução de 28 de Maio de 192617 um golpe militar que instaurou uma Ditadura Militar (Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, 2011), que se manteve até à aprovação da nova Constituição de 1933, que acabaria por alterar o seu nome para Estado Novo, um regime político autoritário, autocrata e corporativista (Marques, 1995 p. 627), considerado por alguns de Segunda República Portuguesa. O Estado Novo vir-se-ia instalar em Portugal até à Revolução de 25 de Abril de 1975, que depunha o governo fascista que governou o país durante quarenta e um anos, tendo sido substituído por uma designada Terceira República Portuguesa, que rege até aos dias de hoje o nosso país. Voltando ao tema inicial (Primeira República): Apesar das intenções e dos ideais generosos e do entusiasmo inicial, os republicanos foram incapazes de criar um sistema estável e plenamente progressista. A República foi prejudicada pela frequente violência pública, pela instabilidade política, pela falta de continuidade administrativa e pela impotência governamental. Com um total de quarenta e cinco governos, oito eleições gerais e oito presidentes em quinze anos e oito meses, a República Portuguesa foi o regime parlamentar mais instável da Europa ocidental. (Wheeler, 1978 p. 865) 17 Uma revolução militar de cariz nacionalista e antiparlamentar, estabelecendo o fim e a deposição da Primeira República Portuguesa, em detrimento de uma Ditadura Militar. (Marques, 1995) Ilustração 5 - Funeral do presidente Sidónio Pais. A urna funerária sai dos Paços do Concelho. (Franco, 1918)
  • 33. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 29 Concluímos que foram tempos difíceis de instabilidade civil e política (entre 1911 a 1926). Alguns historiadores consideram que a Primeira República, não foi o “[…] começo de algo estruturalmente novo, mas antes a última fase de algo que começara muito antes, em 1820.” (Marques apud Wheeler, 1978, p. 867) – liberalismo18 monárquico – assumindo que a inicial república foi o clímax de um conceito liberalista nascido no século XIX, e como tal, não tinha futuro, tendo de ser substituído por outra coisa totalmente diferente – como, mais tarde, em 1926, aconteceu – o fascismo (Marques apud Wheeler, 1978, p. 867). Por outro lado, e digamos que oposto, o autor Vasco Pulido Valente19 (1999 p. 251), afirma que a razão da decadência da primeira república, é precisamente a morte do liberalismo monárquico no intervalo de 1910 a 1912, uma vez que segundo o autor sugere “[…] o PRP destruíra o inegável liberalismo da Monarquia.”, e com isso destruiu também a única esperança de um governo estável em Portugal. Na minha opinião, a Primeira República, não obstante algumas conexões estruturais com o liberalismo do século XIX, constitui um fenómeno complexo e singular que tentou, apesar dos seus falhanços, pôr em prática os seus ideais e de que, diferentemente de qualquer outro regime português, foi forçada a pagar os respectivos custos humanos e não humanos. (Wheeler, 1978 p. 868) 18 O Liberalismo foi um conceito que ganhou forte expressão a partir da Revolução Francesa do final do século XVIII, assente em ideais de liberdade individual e de igualdade para todos. Para a aplicação de tais ideais na sociedade Portuguesa, o sistema vigente de monarquia absolutista não se adequava, e em 1820 assiste-se a uma revolução liberalista, que destrona uma monarquia absolutista em detrimento de uma monarquia constitucional mais virada para os interesses do cidadão. 19 (1941) Vasco Valente Correia Guedes utilizando o pseudónimo de Vasco Pulido Valente, é um ensaísta, escritor e comentador político português. Ilustração 6 – Segundo aniversário da Revolução de 28 de Maio de 1926, formatura da Legião Portuguesa. (Notícias, 1928)
  • 34. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 30 Em suma, a Primeira República para Douglas L. Wheeler20 (1978 p. 868) constitui um fenómeno novo, onde foi estabelecido um maior número de reformas nos direitos do cidadão comum, tendo sido criada uma sociedade “[…] mais aberta e auto-suficiente e de um sistema de governo mais representativo, [onde] os dirigentes republicanos [se esforçaram] para pôr em prática os seus ideais de justiça social e democratização.”, ideais baseados na reformulação da educação, na política de contribuição e impostos, no bem estar social, na reforma agrária, nas obras públicas e na reforma do exército, tudo em prol da formação de um povo moderno (Wheeler, 1978 p. 868). Por último, nesta altura de primeira república assiste-se a uma “[…] explosão de energias que, embora tivessem levado a conflitos e tensões sem precedentes deram igualmente lugar a uma mobilização ímpar da sociedade, a qual foi parte integrante de um processo geral de modernização e mudança.” (Wheeler, 1978 p. 868). Sociedade e cidade A sociedade portuguesa de fins de oitocentos e inícios de novecentos, caracterizou-se pelas insistentes tensões sociais entre duas classes: a Burguesa e a Proletária (Almeida, et al., 1986 p. 35). A primeira, com interesses capitalistas, explorava a mão- de-obra da segunda a baixo preço. Sucessivamente, esta segunda, sentindo-se injustiçada, desperta e começa a lutar pelos seus direitos, dando origem a inúmeras manifestações, greves, e criação de diversos sindicatos, tudo em prol da defesa do trabalhador. Portugal em 1911, tinha uma densidade populacional de cerca de cinco milhões de pessoas (Estatística, 2014), na sua maioria camponeses pobres em que a sua fonte de subsistência era a agricultura. A taxa de analfabetismo rondava os oitenta por cento, a pobreza atingia níveis inimagináveis e as últimas décadas da monarquia deixaram uma dívida externa de cerca de quarenta e sete milhões de euros21 , e uma dívida interna de cerca de vinte e dois milhões de euros22 (Wheeler, 1978 p. 78). A economia portuguesa era, sobretudo, agrária. Cinquenta e sete por cento dos trabalhadores activos, dedicavam-se à agricultura, e apenas vinte por cento à indústria (Wheeler, 1978 p. 78), que era vagarosa (considerando as grandes potências europeias), arrancando “[…] timidamente a partir de meados do século XIX, [e] vai-se 20 (n.1937) Douglas L. Wheeler é um professor de História da Universidade de New Hampshire. 21 O autor colocou a referência monetária em libras inglesas, ou seja, 41.490.000 libras inglesas que convertido em euros é igual ao valor (47.220.118 euros) por nós apresentado no texto. (Wheeler, 1978) 22 O autor colocou a referência monetária em libras inglesas, ou seja, 20.120.346 libras inglesas que convertido em euros é igual ao valor (22.899.135 euros) por nós apresentado no texto. (Wheeler, 1978)
  • 35. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 31 mantendo como expressão muitíssimo reduzida, localizada em três ou quatro zonas, Lisboa-Barreiro-Setúbal, Porto-Braga, Covilhã-Tortosendo […]” (Almeida, et al., 1986 p. 37). Mas, embora em Portugal se vivesse principalmente da agricultura: O desequilíbrio da estrutura fundiária, com a concentração das grandes propriedades e dos melhores terrenos nas mãos de reduzido número de latifundiários, e a dispersão do resto do território em parcelas muitas vezes insuficientes para garantir um rendimento bastante mesmo para uma família reduzida – metade dos proprietários disporia de menos de um hectare de terreno – configuram um quadro de atraso económico e social que em parte justifica o lento desenvolvimento da agricultura entre nós. (Almeida, et al., 1986 p. 36 e 37) Claro está que esta situação de desequilíbrio fundiário dá origem a um êxodo rural em massa dos trabalhadores campestres e das suas famílias, que passariam a procurar na cidade melhores perspectivas de vida e de trabalho. Por outro lado, a emigração era também uma solução. Visto que a mudança do campo para a cidade, por vezes, não se tornava vantajosa, as pessoas optavam por ir para fora do país, para países com melhores perspectivas laborais e de vida. O historiador Douglas L. Wheeler (1978 p. 83) defende que não foi somente este desequilíbrio fundiário a razão da emigração em massa, foi também a incerteza e instabilidade do novo regime político; a repressão do Governo sobre as classes operárias (impedindo a realização de greves e manifestações que afectavam a firmeza do novo regime); e o recrutamento militar (mal remunerado e com más condições), o que pressionava as pessoas a, inevitavelmente, emigrarem, em busca de melhores condições de vida, trabalho e prosperidade. Destarte, este movimento populacional (êxodo rural) acaba por ter efeitos nefastos no perfil da cidade, que, não estando preparada, abarca uma quantidade considerável de pessoas que vinham em busca de novas oportunidades, isso faz com que: Em torno dos centros urbanos, sobretudo naqueles em que tinham sido implantadas as actividades industriais, vai-se progressivamente acumular toda uma massa de trabalhadores indiferenciados, presa facílima para os interesses da indústria, produzindo um excedente de mão-de-obra, sempre disponível, o que permitia reduzir ao mínimo os salários23 praticados e levar ao máximo a exigência e a rudeza das condições de trabalho. (Almeida, et al., 1986 p. 37) Entre 1890 e 1911 a população das duas principais cidades (Lisboa e Porto) aumentou em cerca de 50% (Wheeler, 1978 p. 55) e a extensão das cidades que se verificou no 23 O salário dos operários não acompanhavam o aumento do custo de vida e o dia de trabalho eram de doze a vinte horas laborais seguidas. As mulheres e as crianças eram as mais injustiçadas, trabalhando tantas horas como um homem, e recebendo por vezes, nem metade dos honorários do homem. (Almeida, et al., 1986)
  • 36. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 32 final do século XIX24 , veio apenas resolver problemas habitacionais nas classes pequena e média burguesa (Almeida, et al., 1986 p. 35). Resumindo, com o afluxo de pessoas (provindas do campo) aumentando de ano para ano, o governo ficou sem mãos a medir, e a habitação das classes laboriosas começam a ficar para segundo plano: […] As famílias operárias vêem-se obrigadas a procurar alojamento em espaços desocupados ou em velhos pardieiros arruinados, onde improvisam elas próprias precárias habitações ou se acomodam de qualquer maneira, sempre mediante o pagamento de uma renda ao proprietário. (Pereira, 1994 p. 511) E assim surgem os “pátios” em Lisboa, que eram, nem mais nem menos, que o aproveitamento de espaços vazios existentes. Senhorios dinâmicos e cientes da procura de habitação, fazem construir nas traseiras dos seus prédios casas abarracadas para colocarem em aluguer, ao mesmo tempo que são aproveitadas caves insalubres para o mesmo efeito, em que o acesso se efectuava pelas traseiras dos prédios; os conventos de extintas ordens religiosas, comprados em hasta pública 24 A seguir à abertura da Avenida da Liberdade em 1886, seguiram-se a abertura da Rua Fontes Pereira de Melo que levou a expansão da cidade desde o Parque da Liberdade (hoje Eduardo VII) até ao Campo Grande, passando pela Rotunda de Picoas, Avenida Ressano Garcia (Av. República) e toda a planificação das ruas adjacentes, paralelas e perpendiculares num desenvolvimento ortogonal, falamos do plano de Ressano Garcia. Nascem as designadas "Avenidas Novas", que definem o grande desafogo urbanístico da cidade de hoje. (Lisboa, 2016) Ilustração 7 – Vila Sousa, Largo da Graça, Lisboa. (Machado; Souza, 1896-1908)
  • 37. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 33 e até palácios arruinados, são utilizados para esse fim. Mais tarde os “pátios”, adquirem o nome de “vilas”25 (Pereira, 1994 p. 511). No Porto, a situação era idêntica, mas não se chamavam de “pátios”, ou “vilas”, mas sim de “ilhas” (ilustração 8), que segundo Manuel Teixeira26 , Jorge Pinto27 (2015 p. 5 e 6) escreve: As ilhas eram filas de casas, em regra pequenas e térreas, construídas na parte traseira dos lotes usualmente profundos, das habitações burguesas ou pequeno burguesas da cidade do Porto (todavia, com exemplos noutros aglomerados urbanos, sobretudo no norte do país e no Brasil) e, por vezes também, em lotes livres de qualquer ocupação. Em muitos casos, a ligação dessa correnteza de casas ao espaço público era realizada através de um túnel, criado sob um edifício com fachada voltada à rua e aberto num dos três vãos da fachada do imóvel que, esporadicamente, era habitado pelo proprietário do lote. Esta definição encaixa num modelo com muitas variações, podendo a ilha ter mais de um piso assim como ocupar toda a parcela e, quando construída em dois lotes contíguos, pode dar lugar a um corredor alargado ou à construção de casas costas com costas. Perante o desequilíbrio entre a oferta e a procura de habitação, as ilhas foram uma das soluções melhor adaptadas à morfologia da cidade, para um aproveitamento intensivo dos longos lotes de muitas das ruas, grande parte das quais abertas na primeira metade do século XIX. A insalubridade destas tipologias habitacionais, rapidamente se tornou um perigo para a saúde pública, por serem centros de propagação de doenças. Em 1881 é feito um inquérito industrial que dava conta da deficitária habitação dos operários industriais, o que chamou a atenção para o assunto, lançando o alarme para a população. Isto porque, não era somente a saúde dos operários moradores destes bairros que estava em causa, era a saúde da população urbana em geral, derivado do perigo de contaminação que as pestes acarretavam (Pereira, 1994 p. 509), e “[…] A tuberculose começava a atingir as várias classes sociais. Daqui que o combate ao flagelo se tornasse uma questão de sobrevivência para o conjunto da sociedade.” (Pereira, 1994 p. 509). 25 As Vilas eram edifícios ou conjuntos com um ou mais pisos, expressamente construídos para habitação de famílias operárias. (Pereira, 1994) 26 (n.1953) Manuel António Correia Teixeira é um Arquitecto Português. 27 Jorge Ricardo Pinto é licenciado em geografia e mestre em geografia urbana.
  • 38. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 34 O Estado encontraria aqui um novo problema por ser resolvido, o problema de solucionar a habitação operária, acontece que, “[…] o Estado vivia em endémica situação deficitária […]” (Pereira, 1994 p. 510), e a iniciativa da resolução destes problemas muitas vezes partia dos próprios proprietários fabris e investidores burgueses, que, cientes da oportunidade de negócio que era construir e arrendar, movimentam-se em prol da resolução dessa lacuna. Acontece que, a legislação era pouca ou até mesmo nenhuma, e rapidamente se foi percebendo que a falta de planeamento das construções acabara por se tornar num risco de saúde pública, e também de “vírus” para a imagem da cidade. Somente perto dos finais da primeira República é que o estado começa a agir perante estas deficiências: um exemplo disso é o Bairro Social do Arco do Cego que após “[…] várias tentativas goradas de fazer aprovar pela Câmara de Deputados leis tendentes à construção de casas económicas, o Bairro Social do Arco do Cego é iniciado em 1919, demorando a sua execução até aos primeiros anos do Estado Novo.” (Almeida, et al., 1986 p. 39). Ilustração 8 – Gravura da “Ilha” do Cabo de Secção, 1888. (Branco, 1888)
  • 39. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 35 Em suma, o despertar do proletariado nos finais do século XIX, foi-se acentuando no século XX. Foi também o despertar de uma consciência de luta pelos direitos humanos, que activaram a sociedade em geral a reagir perante as insuficiências de um sistema precário, que era o mundo do trabalho. Aqui se começa a definir uma sociedade moderna que se caracterizava pela capacidade de resposta do povo perante as adversidades que vão sucedendo no perfil dela (sociedade) mesmo. É a contestação do povo que pressiona os governos vigentes a melhorarem as condições da totalidade das coisas, e é o diálogo existente entre o poder e o povo, que constrói as bases para a implantação de uma sociedade moderna, ou seja, é o confronto do povo perante as medidas tomadas pelo poder, diante de uma determinada situação, que atribui à sociedade um carácter progressista e hodierno, contagiando todos os outros sectores, nomeadamente, a arquitectura que é o nosso objecto de estudo. A pobreza extrema e o analfabetismo que se sentia na maioria da população, são os principais factores do atraso cultural existente em Portugal de finais do século XIX até 1925. A Cultura era um tema afecto, somente, a uma ínfima parte da população portuguesa, especialmente aquela situada nos grandes centros urbanos que eram Lisboa e Porto. A taxa de analfabetismo rondava dos sessenta a oitenta por cento nas zonas rurais, especialmente, as do norte do país (Wheeler, 1978 p. 79). As sucessivas alternâncias de poder que aconteceram em Portugal entre 1910 e 1925, tornaram impossível a introdução de novas leis e reformas que combatessem as deficiências existentes dentro do país, que, por entre problemas económicos internos graves, greves, manifestações, motins, enfim, um sem fim de problemas, foi evoluindo Ilustração 9 – Bairro Social do Arco do Cego, 1930. (Novais, 1930)
  • 40. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 36 formalmente (descontrolada), mas socialmente foi ficando para trás, e isso justifica praticamente o atraso sentido em todos os sectores, claro está, tendo como referência as grandes nações europeias (Inglaterra, Itália, França e Alemanha). Será neste contexto que vai nascer uma nova geração de arquitectos, nas décadas de vinte e trinta, dispostos a “romper” com o sistema de ensino – tradicional e preso ao passado –, mediante estágios efectuados em países (França, Alemanha e Inglaterra) culturalmente mais avançados que Portugal, retornam ao seu país de origem com novas ideias, similares àquilo que de novo se fazia no panorama internacional da arquitectura, e, posto isto, alteraram definitivamente o modo de entendimento dos edifícios, e darão aso à introdução de novos movimentos no paradigma da arquitectura portuguesa. 2.2. BREVE ALUSÃO À ARQUITECTURA MODERNISTA EM PORTUGAL O título deste subcapítulo, pretende indicar aquilo que foi a Arquitectura Moderna em Portugal: um movimento breve e fugaz, inserido entre finais da Primeira República e inícios do Estado Novo - um sistema político fascista que proliferou os seus ideais por entre todas as áreas basilares da formação do país, e, como tal, a arquitectura subverteu-se em prol da representação duma imagem nacionalista (Portas, 1973 p. 711), uma arquitectura que de Estilo Português Suave. Posto isto, cremos que, segundo o nosso tema de dissertação, devamos expor aquilo que foi o tempo efémero da Arquitectura Moderna em Portugal, para assim conseguirmos de maneira objectiva perceber o porquê das tendências arquitecturais que os nossos casos de estudo, em capítulos posteriores, acarretam. É importante também frisar que o nosso objecto de estudo – as mais importantes salas de espectáculo da boulevard lisboeta, a Avenida da Liberdade – está incluído num intervalo temporal que vai desde 1925 (data do inicio da construção do Cinema Capitólio) a 1933 (data da inauguração do Cineteatro Eden), ano da aprovação da nova constituição do Estado Novo (República, 1933) e o subsequente “fim” da Arquitectura Moderna em Portugal.
  • 41. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 37 2.2.1. A IMPORTÂNCIA DOS MATERIAIS PARA UMA NOVA ARQUITECTURA O aparecimento de uma nova arquitectura, e de um novo estilo de “construção”, ao longo dos tempos, são descritos por alguns arquitectos, como possíveis, devido ao aparecimento de novos materiais, que possibilitam ultrapassar certos limites impostos pela incapacidade dos elementos materiais das construções anteriores. Uma pergunta pertinente é feita ao arquitecto Luís Cristino da Silva28 (1971 p. 4), numa entrevista efectuada ao mesmo, e publicada pela Revista Arquitectura no mês de Janeiro de 1971, que citamos de seguida: [Revista Arquitectura] - Sr. Professor, em seu entender o que é que se pretendia essencialmente com a arquitectura moderna? [Cristino da Silva] - Digas antes, porque é que ela apareceu! Apareceu apenas por isto: por causa dos materiais! É que, na história de Arte, nós vamos sempre verificar que a arquitectura aparece com características determinadas, a dada altura, porque aparecem materiais novos ou maneiras diferentes de construír. Por exemplo, os gregos não tinham o arco e volta, a arquitectura grega é sempre horizontal. Pedras enormes, gigantescas, algumas com sete metros de comprido. E ainda antes deles, os egípcios. Na arquitectura egípcia era tudo com arquitraves. Mas depois apareceu o romano com o tijolo, o que deu ocasião ao aparecimento do arco. E assim a arquitectura romana é completamente diferente da grega. Pois bem, o século XVIII e século XIX ficaram reservados para o aparecimento de dois novos materiais na construção, pelo menos, no que toca à arquitectura ocidental. No século XVIII aparece o ferro, que conjugado com o vidro – que já existia há longos séculos –, introduzem na arquitectura uma nova dialéctica. Na segunda metade do século XIX, aparece o betão armado. Ambos estes novos materiais vão atribuir uma nova dimensão plástica às construções, nunca vista, até então. Deste modo pode-se afirmar que as “[…] transformações que decorrem no século XX decorrem fundamentalmente da influência dos progressos técnicos quer sobre o universo dos materiais de construção, quer sobre o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos sistemas.” (Tostões, 2013 p. 1). O Ferro e Vidro O ferro é um material que surge com a Revolução Industrial Inglesa do século XVIII. No imediato este material foi aproveitado por uma classe de novos construtores – os engenheiros – que surgiam no panorama arquitectónico de meados do século XVIII, 28 (1896-1976) Luís Ribeiro Carvalhosa Cristino da Silva foi um arquitecto português.
  • 42. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 38 nomeadamente a 1750, quando a Fundação da École des ponts et Chausées29 inicia um curso de formação especializada em engenharia (Tostões, 2013 p. 1). Posto isto, o panorama da construção passa a abarcar dois estilos “arquitectónicos”: a arquitectura feita pelo arquitecto, e a “arquitectura” feita pelo engenheiro. A arquitectura feita pelo arquitecto era assente em ordens clássicas renascentistas, rígidas e por vezes excessivamente decoradas e cépticas face à utilização do novo material, o ferro. Por outro lado, a arquitectura do engenheiro, ávida de progresso, era prática e assente numa concepção estrutural determinada pela matéria e pela finalidade (Tostões, 2013 p. 1) – cedo percebeu as potencialidades deste novo material, o ferro. No entanto, devido a uma forte condicionante tradicionalista operante no mundo da construção, o tipo de arquitectura feita pelos engenheiros actuava num campo restrito e puramente prático, ficando a cargo de obras de cariz funcional, tais como fábricas, pontes, caminhos-de-ferro, etc., obras que exigiam um cálculo matemático, que só a formação do engenheiro compreendia (Fernandes, 1993 p. 11). Posto isto, abre-se um precedente de conflito entre duas profissões ligadas à construção. […] arquitectos e engenheiros descobriam que o campo artístico e o campo técnico deixavam de se identificar, como habitualmente, no mesmo autor e que, pelo contrário esses campos eram agora contraditórios, pois as necessidades de novas funções e espaços urbanos eram cada vez mais da competência do “homem do cálculo”, fugindo ao entendimento e ao domínio do “arquitecto-artista”; mas, se àquele [engenheiro] faltava naturalmente uma preparação estética para este [arquitecto] essa preparação era agora manifestamente insuficiente, sendo o seu trabalho muitas vezes relegado apenas para o tratamento das fachadas. (Fernandes, 1993 p. 11) Relativamente ao vidro30 , com as novas possibilidades geradas pelo novo material, o ferro (nomeadamente a construção de grandes vãos), fazem, com que este (vidro) ganhe uma nova dimensão, tanto em termos de tamanho – em prol de colmatar o vazio deixando entre vãos da fachada –, como em termos de significado para a arquitectura em si, porque abre uma nova dialéctica de relação de espaço interior e exterior. Atribuindo esta última característica a uma palavra, diríamos “transparência”, que por sua vez transpõe o edifício que anteriormente “ocultava”, aquilo que se passava no seu interior, com a construção de paredes grossas com limitadas aberturas de vãos, para uma afirmação “honesta” e “desnudada” da realidade interior. Um novo sentido de entendimento que posteriormente no século XX, terá uma 29 A École Nationale des Ponts et Chaussées (ENPC) (Escola Nacional de Pontes e Calçadas) é a mais antiga escola de engenharia civil do mundo, mantendo-se como uma das mais prestigiadas escolas de engenharia da Europa. Fica situada em Paris, França. (ParisTech, 2012) 30 Tenhamos em conta que o vidro é um material mais antigo que o betão ou o ferro.
  • 43. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 39 importância, digamos que considerável, para os exercícios da Arquitectura Moderna Internacional. Mas voltando ao ferro, em Portugal, a introdução do ferro no processo construtivo, surge com um natural atraso, tomando sempre como referência as potências industriais Europeias (Inglaterra, França e Alemanha); desfasamento que se justifica pela dependência em relação à importação do próprio material desses mesmos países (Fernandes, 1993 p. 12). No entanto, os primeiros exemplos da arquitectura do ferro em Portugal, foram precisamente para fins práticos, falamos da ponte de Xabregas, em Lisboa, que apesar de a sua base ser constituída em pedra, o seu corpo principal foi executado em ferro para servir a linha de cintura ferroviária, em 1854 (Fernandes, 1993 p. 12), e encontra-se em funcionamento até aos dias de hoje. No Porto foram construídas duas pontes, também em ferro, sobre o rio Douro – a ponte de D. Maria em 1877, e nove anos mais tarde a ponte de D. Luís (1888) –, que se tornaram “[…] ex-libris não só portuenses mas de amplitude internacional como modelo de resolução de grandes e profundos vãos.” (Tostões, 2013 p. 4). Mas a revelação mediática do ferro como material de construção hodierno no nosso país, deu-se justamente no Porto “[…] por ocasião da exposição Universal de 1865 que justificou o Palácio de Cristal portuense.” (Tostões, 2013 p. 4). Lisboa recebia só duas décadas depois o seu Coliseu (1890) construído em esqueleto de ferro e integrando na parte norte a Sociedade de Geografia com a Sala Portugal (1897). Projectada por arquitecto (Mestre José Luís Monteiro) para ser construída em ferro, tratava-se da primeira sala nobre erguida entre nós para congressos e Ilustração 10 – Fotografia da nave central do Palácio de Cristal no Porto, 1864. (Porto, 2016)
  • 44. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 40 conferências. O espaço, entendido para além da sua imediata funcionalidade, desenvolve-se em três níveis que circundam o amplo espaço central que pode simbolizar, muito justamente, a primeira utilização arquitectónica do novo material. (Tostões, 2013 p. 4 e 5) Em suma, o ferro, para além de vir atribuir à arquitectura uma nova plasticidade, abre também um debate que irá perdurar, cremos, até aos dias de hoje. Um debate entre técnica e estética, a primeira defendida pelo engenheiro que via no ferro a sua principal “arma” de utilização perante uma sociedade industrial ávida de resposta imediata, contrapondo a arquitectura que se mantinha defensora da estética, e da utilização de materiais nobres nas suas construções. Esta “guerra” aberta entre arquitectos e engenheiros veio questionar as metodologias usadas no método de construir, em especial para o lado dos arquitectos, que “Acantonados nos princípios clássicos […] posicionaram-se do lado da resistência à inovação.” (Tostões, 2013 p. 5). Claro se torna que esta disputa de terreno, traria vantagens em prol de uma atitude progressista no panorama arquitectónico ocidental. O Betão Armado Tal como o ferro, o betão armado foi começado a ser utilizado somente em situações de índole prática, limitando-se a substituir “[…] materiais nobres como a pedra […] Só que ao contrário do ferro, a tecnologia do betão “cresceu” mais depressa e maturou em poucos decénios.” (Fernandes, 1993 p. 25). Volvamos a 1896 – quase meio século depois das primeiras utilizações deste material noutros países da Europa (meados do século XIX) –, altura da primeira construção em betão armado em Portugal (Tostões, 2013 p. 5). Falamos da Fábrica de Moagens do Caramujo situado na Cova da Piedade, em Almada, que, depois de um incêndio, que devastou as antigas instalações, fora reconstruída já com o uso do novo material (Fernandes, 1993 p. 25).
  • 45. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 41 A escolha deste [material] poderá relacionar-se directamente com os riscos das construções tradicionais, nomeadamente a sua fragilidade ao fogo, sentidos pelos industriais [porque] permitia uma concepção estrutural de grandes espaços apenas pontuados pela rede de finos pilares que se conjugavam com lajes armadas capazes de suportar grandes sobrecargas, solução que respondia claramente aos requisitos funcionais de uma grande laboração industrial. Para além disso, era ainda possível encontrar soluções inovadoras que aliavam a funcionalidade à técnica construtiva e à manutenção do edifício: por exemplo a cobertura em terraço adoptada servia simultaneamente de reservatório de água (com capacidade para 20 m3), de isolamento térmico e atrevemo-nos a pensar que também funcionando como neutralizador das dilatações provocadas ao material pelas diferenças de temperatura. (Tostões, 2013 p. 5 e 6) Tanto em Portugal como nos outros países europeus, as potencialidades deste novo material, não foram totalmente entendíveis pela classe de arquitectos, que afastados das inovações tecnológicas, e presos a produções oitocentistas, apenas utilizavam este novo material pontualmente, como por exemplo, em elementos horizontais (lajes), continuando a recorrer, verticalmente, a elementos maciços de alvenaria como explica a autora Ana Tostões31 (2013 p. 7): Ao contrário do que se passava nas construções eminentemente utilitárias, onde os arquitectos pouco intervinham, a “grande” arquitectura prolongava no tempo as práticas europeias oitocentistas dominadas hegemonicamente pelas Beaux-Arts parisienses. E, nessa medida dos arquitectos portugueses de 1900 foram artisticamente eclécticos. Arredados de uma inovação tecnológica, recorrem modestamente aos processos tradicionais de construção usando paredes resistentes em alvenaria e pavimentos de madeira, que o atraso e a debilidade da industrialização em Portugal podem explicar se 31 (n.1959) Ana Tostões é uma arquitecta e investigadora portuguesa. Ilustração 11 – Desenho da fachada da Fábrica de Moagens Caramujo, na Cova da Piedade. (Toscano, 2012)
  • 46. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 42 comparadas com a produção arquitectónica ocorrida nos países pioneiros da revolução industrial. As inovações concentram-se sobretudo na organização espacial doméstica da casa burguesa que reflectia novos costumes potenciados pelos novos dispositivos (da água corrente à campainha eléctrica, ou do telefone ao ascensor), conjugando-se com o agenciamento de fachadas exuberantes que assinalavam o desejo de ornamentar os bairros novos. Ficaria então reservado para os anos vinte do século XX32 , as primeiras obras de declarada aceitação deste novo material, de modo discreto33 , com a construção do Cinema Tivoli de Raul Lino, na Avenida da Liberdade, “[…] com complexa rede de vigas no suporte dos balcões da sala [de espectáculos] […]” (Fernandes, 1993 p. 27). No entanto, o ano de 1925 estaria reservado para propostas bastante mais arrojadas que transpareciam já para o exterior, como acontecia no Salão Capitólio, de Cristino da Silva (Fernandes, 1993 p. 27), obra que marca um assumir racional da própria estrutura como elemento decorativo, e subsequentemente a entrada do Modernismo em Portugal. 2.2.2. PERCURSORES DO MOVIMENTO MODERNO NA ARQUITECTURA PORTUGUESA Segundo Pedro Vieira de Almeida34 e José Manuel Fernandes35 , no livro escrito por ambos, intitulado de História da Arte em Portugal – A Arquitectura Moderna36 , existiu uma figura proeminente para que a Arquitectura Moderna se pudesse instalar em Portugal, porque, apesar de a não ter praticado, abre os horizontes de um sistema de ensino arquitectónico desactualizado. Falamos de José Luís Monteiro (1848-1942), um arquitecto que foi director da Escola de Belas-Artes de Lisboa (1912-1920). Um homem de formação beauxartiana37 , que “[…] introduz, de alguma maneira, em Portugal o entendimento das recentes técnicas do ferro enquanto material legitimando 32 Em 1927 o Regulamento de Teatros e Outras Casas de Espectáculos obrigava pela primeira vez à construção de edifícios com materiais incombustíveis, e sendo o betão um material com bom comportamento à exposição do fogo, este (betão) foi-se impondo em obras cada vez mais urbanas e prestigiadas, já com a traça de arquitectos, o que contribuiu para uma declarada aceitação deste novo material na construção. (Fernandes, 1993) 33 Entenda-se “modo discreto”, como que a utilização do betão somente para elementos estruturais interiores, disfarçando-o com outros elementos decorativos e não o mostrando descaradamente. 34 (1933-2011) Pedro Vieira de Almeida foi um arquitecto português, teórico, crítico e historiador de arquitectura. 35 (n.1953) José Manuel da Cruz Fernandes é um arquitecto português, teórico, crítico e historiador de arquitectura. 36 O livro História da Arte em Portugal – A Arquitectura Moderna, volume 14 foi uma edição de 1986 e foi publicado pela Editora Alfa. 37 Em 1871 José Luís Monteiro decide concorrer a uma vaga de estudante pensionista no estrangeiro, na qual consegue ganhar, embarcando em 1873, sendo admitido na École dês Beaux-Arts de Paris, onde se torna no primeiro arquitecto português a obter diploma nessa instituição. (Almeida, et al., 1986)
  • 47. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 43 uma expressão arquitectónica própria.” (Almeida, et al., 1986 p. 25 ). Monteiro foi o verdadeiro reformador do sistema de ensino arquitectónico da Faculdade Belas-Artes de Lisboa, visto ali leccionar-se um estilo de ensino fundamentado nas noções de “modelo”, característica da tradição romana, que Monteiro contrapõe com as noções de “tipologia” que estava em voga na tradição francesa (Almeida, et al., 1986 p. 32). José Luís Monteiro foi mentor de nomes sonantes na arquitectura portuguesa, tais como Luís Cristino da Silva, Pardal Monteiro38 , Cotinelli Telmo39 , Carlos Ramos40 e Cassiano Branco41 etc… arquitectos precursores do Movimento Moderno na arquitectura portuguesa. No entanto, a sua metodologia de ensino acabou por ser tornar inflexível, visto ser uma linha bastante conservadora, objectora dos impulsos inovadores que o século XX traria para o mundo da arquitectura (Portas, 1973 p. 690), tornando-se decano para uma geração ávida e cheia de novas ideias. Resultado: essa geração acabaria por se tornar na maior crítica das suas capacidades pedagogas, como podemos evidenciar por palavras de Luís Cristino da Silva (1971 p. 3): […] ele passava muito lentamente pela carteira ou pelo estirador do aluno, e dirigia-lhe meia dúzia de palavras. Não nos ensinava, era mais um corpo presente, prestígio do professor que vinha, que olhava. E nós estávamos sempre ansiosos por um conselho… mas o nosso mestre Monteiro era um excelente homem, muito digno, mas não tinha nenhumas qualidades pedagógicas. 38 (1897-1957) Porfírio Pardal Monteiro foi um dos mais prolíferos arquitectos portugueses. 39 (1897-1948) José Ângelo Cottinelli Telmo foi um arquitecto e cineasta português. 40 (1897-1969) Carlos João Chambers de Oliveira Ramos foi um arquitecto, urbanista e pedagogo português. 41 (1897-1970) Cassiano Viriato Branco foi um arquitecto português. Ilustração 12 – Fotografia do Mestre José Luís Monteiro. (Novais, 1925-85) Ilustração 13 – A Estação do Rossio, José Luís Monteiro, 1890. (Novais, 1933-83)
  • 48. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 44 Não obstante, José Luís Monteiro abre um precedente evolucionista na Arquitectura Portuguesa e, como tal, cremos dever ser incluso na razão do aparecimento da Arquitectura Moderna. Acontece que, por volta de 1900, o destino da arquitectura em Portugal ia mudar por completo, porquanto surgem no panorama nacional dois arquitectos – Miguel Ventura Terra42 e Raul Lino43 – que dividiram em dois modelos diferentes o sector arquitectónico nacional: o modelo progressista e um modelo culturalista. Ventura Terra, depois dos seus estudos em Paris, traz consigo “[…] todo um espírito francês num modelo progressista, prático, objectivo, proudhoniano, uma arquitectura que respondia cabalmente aos objectivos e preocupações da sociedade dominante da época.” (Almeida, et al., 1986 p. 74). Por outro lado, Raul Lino mostrava em Portugal “[…] a tentativa de introdução de um modelo culturalista com preocupações espaciais, embora hesitantemente formuladas, mas muito lucidamente expressas, atitude que teria pouca ou nenhuma audiência, a não ser em alguns círculos mais restritos […]” (Almeida, et al., 1986 p. 74). Destarte, enquanto um (Raul Lino) procurava uma imagem mais tradicionalista para a arquitectura, assente em valores nacionalistas, e de procura incessante por um sistema expressivo de carácter romântico, outro (Ventura Terra), procurava um sentido prático e objectivo na arquitectura em que a utilização dos materiais dependia de um sistema de carácter lógico menos sentimentalista e mais racionalista. 42 (1866-1919) Miguel Ventura Terra foi um arquitecto português de formação portuguesa e francesa, cuja a imagem está associada à construção da Lisboa republicana. Ventura Terra personificou a evolução na arquitectura portuguesa o modelo progressista, prático e objectivo, que respondia cabalmente aos gostos e preocupações da sociedade dominante da época. Procurando uma linguagem própria, Terra irá fazer uma arquitectura de composição em que se busca uma maior racionalidade no emprego dos materiais e em que, rejeitando todo o eclectismo na época dominante, se privilegia a noção de função prática, deixando de atender e entender a noção de função simbólica. Assim, ele será para as gerações futuras de arquitectos o exemplo de um espírito anti-românico, racionalizado e moderno. (Almeida, et al., 1986) 43 (1879-1974) Raul Lino da Silva foi um arquitecto português, que desde muito cedo imigrou para Inglaterra onde fez os seus estudos e de seguida para a Alemanha, onde trabalhou no atelier do arquitecto e historiador Albrecht Haupt. Em 1897 com 17 anos regressa a Portugal. Projectou mais de 700 obras, entre as quais, a Casa dos Patudos, para José Relvas (1904), a Casa do Cipreste, em Sintra (1912), a loja Gardénia no Chiado (1917), o cinema Tivoli (1925), o Pavilhão do Brasil na Exposição do Mundo Português (1940). Foi ainda autor de numerosos textos teóricos sobre a problemática da arquitectura doméstica popular, como A casa portuguesa (1929), Casas portuguesas (1933) e L’évolution de l’architecture domestique au Portugal (1937). (Lino, 2014)
  • 49. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 45 A Arquitectura de Ventura Terra, ao contrário da de Raul Lino, é uma arquitectura de composição, numa representação de espaço referido a um esquema de valores exteriores, tomado como objectivo, mas não é, de forma alguma, uma arquitectura de instauração dos seus próprios valores expressivos, uma arquitectura de determinação formal e espacial. […] Daí que os materiais sejam em Ventura Terra, embora objectivamente os mesmos que Raul Lino emprega, completamente diferentes no seu significado plástico. […] O vidro, o azulejo, a madeira, pertencem em Ventura Terra a um sistema lógico, enquanto em Raul Lino pertencem a um sistema expressivo […]. (Almeida, et al., 1986 p. 74) A dialéctica criada entre estes dois movimentos são o espelho de uma evolução da arquitectura nacional. É este diálogo que criará as bases para a introdução do Ilustração 15 – O Arquitecto Miguel Ventura Terra. Pintura de Veloso Salgado, 1866-1918. ([Adaptado a partir de:] Leite, 2016) Ilustração 14 – Maternidade Alfredo Costa, Ventura Terra, 1932. (Novais, 1933-83) Ilustração 17 – Casa do Cipreste, Raul Lino, 1914. ([Adaptado a partir de:] Cultura, 2016) Ilustração 16 – Retracto do Arquitecto Raul Lino. Moldura da autoria de Raul Lino e desenho pela mão de Columbano Bordallo Pinheiro, 1907. ([Adaptado a partir de:] Gulbenkian, 1970)
  • 50. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 46 Movimento Moderno na arquitectura portuguesa da década de 1920, que começará com uma geração que contava com nomes como Luís Cristino da Silva, Porfírio Pardal Monteiro, José Ângelo Cottinelli Telmo, Cassiano Branco, Carlos Ramos, Rogério Azevedo44 , Jorge Segurado45 , etc., aquela geração que “[…] Carlos Ramos viria a considerar a “geração de transição e do compromisso”, a geração que acompanha o modernismo e inicia em Portugal uma linguagem racionalista.” (Almeida, et al., 1986 p. 33). 2.2.3. O “EFÉMERO” MODERNISMO PORTUGUÊS O título deste subcapítulo foi baseado num texto escrito pelo arquitecto Nuno Portas, aquando da publicação da versão portuguesa do livro História da Arquitectura Moderna46 de Bruno Zevi47 . Voltamos a reforçar a ideia que os nossos objectos de estudo (em capítulos posteriores) se encontram por entre os anos vinte e inícios dos anos trinta do século XX, e, como tal, a nossa intenção será a de escrutinar esse intervalo temporal, que nos ajudará a perceber, as origens do Movimento Moderno na arquitectura do nosso país. Os primeiros indícios de mudança no paradigma da arquitectura nacional, segundo Ana Tostões (2009 p. 22), surgem nos anos vinte, pela mão de dois48 arquitectos acabados de formar, falamos de Carlos Ramos (1922 - Agência Havas, Rua do Ouro, Lisboa) e Pardal Monteiro (1928 – Estação dos Caminhos-de-Ferro do Cais do Sodré, Lisboa). O projecto para a Agência Havas, “[…] adopta a fachada plana com as pilastras verticais interrompendo vãos mais generosos: era o prédio de escritórios que emergia, exprimindo-se como objecto mais funcional do que redundante […]” (Portas, 1973 p. 706). Relativamente à Estação do Cais do Sodré, Pardal Monteiro desenvolve uma “linguagem” geometrizada tendo como referência as Artes Déco, assente na desvalorização e localização específica da ornamentação, em detrimento de uma articulação “[…] volumétrica que assumia um claro sentido tectónico na utilização desapaixonada do betão armado na construção para resolver os grandes vãos ou realizar consolas balançadas.” (Tostões, 2009 p. 22). Ambos os edifícios constituíam 44 (1898-1983) Rogério dos Santos de Azevedo foi um arquitecto português. 45 (1898-1990) Jorge de Almeida Segurado foi um arquitecto português. 46 A edição de 1973 da Editora Arcádia, incluiu um capítulo dedicado ao Modernismo Português. Podemos encontrar o designado capítulo das páginas 705 a 729, com o título de Efémero Modernismo. 47 (1918-2000) Bruno Zevi foi um arquitecto e urbanista italiano, conhecido sobretudo como historiador e crítico da arquitectura modernista. 48 Nuno Portas, inclui também, o arquitecto Marques da Silva com o seu projecto para os Armazéns Nascimento na Rua de Santa Catarina no Porto, inaugurados a 1927. (Portas, 1973)
  • 51. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 47 uma verdadeira inovação à data, e marcavam já uma clara percepção de um dos objectivos perenes da arquitectura moderna, o da depuração decorativa, em prol da valorização da forma. Deste modo, inicia-se um novo ciclo da Arquitectura “Modernista” em Portugal que, segundo Nuno Portas49 (1973 p. 706), embora seja de modo pouco consciente, não deixa de ser importante a sua referência para a introdução de uma ideologia internacional no panorama arquitectónico nacional. Neste caso, e pela primeira vez desde há muito no nosso panorama, há que tratar uma boa dúzia de autores como grupo ou escola50 : os seus primeiros trabalhos surgem num curto período de tempo, afirmando-se por uma linguagem comum, de facto nova ou se ruptura com a generalidade do que se construía até então. E não deixa de ser surpreendente este surto se tivermos em conta que a formação que tiveram nas Belas- Artes se encontrava totalmente desfasada da “revolução cultural” da arquitectura europeia, que a vanguarda artística em Portugal era marginal em relação ao mundo económico e da política […]. (Portas, 1973 p. 707) Neste panorama de renovação é obrigatório, a inclusão de um equipamento público de Cotinelli Telmo, falamos da Estação Fluvial Sul e Sueste inaugurada em 1929, no Terreiro do Paço em Lisboa, um edifício que marca novamente, a abertura “[…] a um modo de pensar construtivamente que já aceitava a revelação da estrutura e que, nessa medida, se podia aproximar do Modernismo internacional.” (Tostões, 2004 p. 108). As possibilidades construtivas do betão armado, cuja estrutura projectada pelo engenheiro Espregueira Mendes tornou livres planta e fachada, eram assumidas 49 (n.1934) Nuno Rodrigo Martins Portas é um arquitecto, professor e urbanista português. 50 A arquitectura portuguesa que se desenvolveu em Portugal nas décadas de vinte e trinta tem uma expressão geracional. Nuno Portas chama a essa geração de arquitectos “grupo ou escola”, Pedro Vieira de Almeida chama-lhes de “geração de 27”. (Tostões, 2015) Ilustração 19 – Edifício da Agência Havas, Carlos Ramos, 1922. (Kurt, 1940-1950). Ilustração 18 – Estação dos Caminhos-de-ferro, Pardal Monteiro, 1928. (Pinto, 1953)
  • 52. As grandes salas de espectáculos dos anos 20 e 30 do século XX na Avenida da Liberdade em Lisboa Sérgio Monteiro Gomes 48 plenamente através de uma composição de volumes elementares, da cobertura plana e das grandes superfícies zenitais de vidro que evidenciaram a quadrícula rigorosa da estrutura da cobertura. Uma relação directa entre estrutura e forma surgia pela primeira vez num programa público, criando-se um amplo espaço, pontuado apenas no eixo central por uma sequência de pilares que venciam um vão de 17,00 m, que era unificado por uma caixa cristalina e iluminada por todas as faces. (Tostões, 2004 p. 108) Estas seriam as obras impulsionadoras de um surto de novas ideias que tomavam forma em novas propostas, tais como: o cinema Capitólio de Cristino da Silva (1926); a garagem do Comércio do Porto de Rogério de Azevedo (1928); o Pavilhão de Rádio do Instituto de Oncologia de Lisboa, de Carlos Ramos (1930); o projecto para o cinema Eden de Cassiano Branco (1930); os novos liceus de Beja, Coimbra e Lisboa, que consolidavam a afirmação de Cristino, Ramos e Jorge Segurado (1930); os novos edifícios dos CTT, de Adelino Nunes (1927); e por fim aquele que seria como que o consolidar da Arquitectura Moderna em Portugal, o Instituto Superior Técnico de Pardal Monteiro (1927) (Portas, 1973 p. 707).51 É este o começo do ciclo dos “caixotes-envidraçados”, que será encerrado, em glória, já a meio dos anos 30, com a Igreja de Fátima e o I. Superior Técnico, de Pardal 51 Entenda-se que a referência temporal destes exemplos, que o autor Nuno Portas faz, seja o ano de início dos projectos, porque o fim da sua construção e sucessiva inauguração, foram em anos posteriores. Ilustração 20 – Estação Fluvial Sul e Sueste, Cotinnelli Telmo, 1929. (Matias, 1959)