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LIBERDADE
DE
IMPRENSA
03/05/2021
MIRAGEM
Da autoria de: Olímpio Fernandes e de Luiz Pessoa
2
Liberdade de Imprensa
O lápis azul dos tempos
modernos.
“Para marcar Dia Mundial da
Liberdade de Imprensa
convidamos o Jornalista Aldo
de Aveiro a dar-nos o seu
ponto de vista.”
Hoje, agradecemos aos media por fornecerem
factos e análises; por responsabilizarem os
líderes – em todos os setores; e por dizerem a
verdade ao poder.
Reconhecemos particularmente aqueles que
estão a desempenhar um papel que salva-
vidas ao informar sobre saúde pública.
E apelamos aos governos para que protejam
os trabalhadores dos media e que fortaleçam
e mantenham a liberdade de imprensa, que é
essencial para um futuro de paz, justiça e
direitos humanos para todos.
3
Introdução
A invenção da imprensa constituiu um divisor de águas para os debates sobre
liberdade de expressão. Não bastava mais garantir o direito de cada indivíduo
procurar, difundir ou receber informações, livremente, na interação com os demais
indivíduos. Era preciso ir além, garantindo esse direito na relação com um
intermediário que potencializava radicalmente o alcance de opiniões, informações e
ideias: os meios de comunicação de massa ®
® MENDEL, Toby; SALOMON, Eve. O ambiente regulatório para a radiodifusão: uma pesquisa de melhores práticas para os atores-chave
brasileiros. Série Debates CI, UNESCO, 2011., p. 5.
Aldo Aveiro jornalista com Carteira Profissional desde 1998, tem um percurso ao
longo da sua “vida de jornalista” na qualidade de colaborador da imprensa regional
em diversos jornais do Distrito de Coimbra, tendo sido diretor de um desses órgãos
de informação
.
Aldo Aveiro (AA)
Olímpio Fernandes (OF)
Luiz Pessoa (LP)
4
(LP)
1. Onde e quando iniciou a sua carreira?
…AA – Ainda estudante liceal em Coimbra, comecei a escrever
apontamentos para a imprensa nos finais 1973, como “correspondente”:
Gazeta de Coimbra, Diário Popular, O Primeiro de Janeiro, A Bola…Em 1984
fui convidado a escrever, como colaborador, para o Diário de Coimbra; O
Figueirense; Entre Rios (Alfarelos) onde fui Diretor-Adjunto; Jornal de
Montemor-II Série (Diretor); Expresso do Centro (Diretor Concelhio em
Montemor-o-Velho); fundador e 1.º diretor do Ecos do Mondego (Lacam);
Correio da Figueira; Folha do Mondego (onde iniciei o Estágio Profissional);
Correio de Coimbra (onde terminei o Estágio Profissional; atualmente
também escrevo para o Notícias da Sua Terra (Louriçal), onde já fui
orientador de um Estágio Profissional, cuja jornalista obteve a Carteira
Profissional, com excelente aproveitamento. (…)
2. Não existindo o chamado (Lápis Azul) do Estado Novo, há rumores que haja
uma grande influência dos partidos no poder de tentar controlar a imprensa a
seu belo prazer, é assim mesmo?
… Os “partidos” poderão, eventualmente, exercer a sua pressão junto dos
grande mídia!...Na imprensa regional ou local, apesar de poder existir essa
pressão, penso que “uma possível falta de isenção” se pode traduzir na falta
de recursos humanos por escassez de recursos económicos. Ou seja, os
jornais não têm capacidade financeira para custear os profissionais de
informação…e assim, não têm jornalistas suficientes para a cobertura dos
diferentes eventos na sua área de intervenção…
Daí, “tacitamente”…aceitarem “as notícias” enviadas pelos Gabinetes de
Comunicação Social… Assim, o que sai na imprensa (ressalvando honrosas
exceções) não é mais do que essas entidades enviam para as redações…sem
direito ao contraditório…e quando é possível fazer o contraditório já vem
tarde…sendo entendido como uma retaliação… Uma notícia sobre um
evento em que há plena apreciação e discussão tem de ser veiculada como
resumo verídico do que se passou e não apenas o que uma das partes quer e
veicula para os jornais…Aqui reina a “conveniência”: quer da parte que
envia a notícia quer dos jornais que não têm custos para disseminar a
notícia….
3. Passou por um Jornal, que atualmente não está a ser publicado. Falo do Jornal
de Montemor (fundado por Santiago Pinto e cuja propriedade vendeu, mais
5
tarde, à então Rádio Beira Litoral) do qual foi diretor. Como foi essa
experiência no que diz respeito à liberdade de imprensa, sempre escreveu pela
sua pena ou tentaram orientá-lo?
…Colaborei com o Santiago Pinto (I Série do Jornal de Montemor) e fui
diretor da II Série, quando propriedade da Radio Beira Litoral, onde também
era diretor. Em 2012 surgiu um “novo” Jornal de Montemor (foi a III Série),
que a princípio pareceu “independente”, mas, julgo, que por falta de poder
económico (publicidade, venda de jornais) acabou por interromper a
publicação. O poder local, julga-se, também não se interessou, pois tinha
outros veículos de comunicação mais abrangentes…. À época que eu dirigi o
Jornal de Montemor, se havia pressões, não me senti afrontado, sempre
escrevendo com liberdade de expressão.
4. Um dos problemas que hoje as pessoas que se querem manter informadas
têm é as notícias contraditórias e algumas falsas que são veiculadas pelos
meios de comunicação. Que conselhos dá aos seus leitores para distinguir a
verdade da falsidade.
…Apenas se distingue quando há contraditório, ou seja, quando a notícia é
transversal às diferentes opiniões que lhe deram origem.
(OF)
1. Os primeiros e os últimos jornais em Montemor, quais os títulos? Que
freguesias tiveram ou têm jornais?
A Comunicação Social escrita, no concelho de Montemor-o-Velho, segundo
documentos que conseguimos coligir, remonta ao final do séc. XIX e primórdios do
séc. XX. Embora o analfabetismo, de acordo com dados estatísticos da época,
atingisse significativa parte da população, a leitura de jornais, folhetos e outras
publicações proporcionava uma pertinente divulgação cultural, cívica, política e
social.
Embora podendo cometer qualquer imprecisão, deixamos aqui alguns elementos
sobre a imprensa que se publicou no concelho de Montemor-o-Velho ou a ele
referente.
A Crença Popular - semanário político, noticioso e recreativo - iniciou a sua
publicação a 19 de outubro de 1890, terminando a 22 de março de 1891, com o
número 23, sendo a sua propriedade e edição de J. Pires Ferreira Júnior.
6
Editado por Alfredo Barjona, o Boletim do Sindicato Agrícola de Montemor-o-
Velho, impresso em Lisboa, parece ser a segunda publicação do concelho,
distribuída aos sócios da instituição, no ano de 1896.
No 1.º dia de janeiro de 1903, surge o Correio de Montemor, em conjunto com a
Correspondência da Figueira, como semanário independente, sendo seu editor
Adriano Crispim de Carvalho, terminando com o n.º 196, a 11 de Outubro de 1906.
Dirigido por Humberto de Carvalho até ao n.º 13 e depois por Jerónimo de
Carvalho, apareceu na vila de Pereira, a 14 de janeiro de 1912, A União, órgão do
partido republicano português, sendo extinto com o n.º 16, em 11 de agosto de
1912.
Propondo-se defender a verdade e educar o povo na consciência dos seus deveres
sociais, iniciou a sua publicação a 25 de Fevereiro de 1912, em Arazede, O Dever,
semanário que, dirigido sucessivamente por Manuel de Melo e José de Almeida
Júnior, mudou a sua redação para a vila de Montemor-o-Velho, onde terminou em
28 de maio de 1917.
Filiado no partido democrático, surgiu o semanário A Verdade, a 17 de outubro de
1913, na vila de Pereira, dirigido por Jerónimo de Carvalho, vindo a terminar com
o n.º 18, em 15 de maio de 1914.
O À Rasca, quinzenário humorístico, recreativo, literário, noticioso e sportivo,
dirigido e editado por Calixto A. Ferreira, publicou 14 números em 1916.
Em 1919, é publicado A Portuguesa, semanário republicano, com direção de
Agostinho José Ferreira Ramos de Carvalho e Jaime Lopes Brejo e edição de
António Grão, conhecendo-se 13 números.
O n.º 1 do Boletim do Sindicato Agrícola de Abrunheira publicou-se em março de
1922, com direção de António Teles de Meneses.
Em Formoselha, o periódico quinzenal Mocidade nasceu em 22 de setembro de
1929 e terminou com o n.º 47, em 27 de setembro de 1931, sendo seu diretor João
Amaro Júnior.
Em maio de 1935, em Arazede, surge um único número, com o título do anterior
periódico O Dever, do qual foi diretor José de Almeida Júnior e redatores António
Ismael da Cruz, Soveral da Rocha, Cruz Gonçalves e Humberto Beirão.
Vida Regional é o título do semanário regionalista (passando, mais tarde, a
quinzenário) que iniciou a sua publicação em Arazede, a 15 de abril de 1946, como
defensor dos interesses do concelho de Montemor-o-Velho, dirigido por César
Vieira de Matos, sendo seu redator principal Joaquim Soveral da Rocha Júnior.
7
Após significativo interregno na publicação de jornais, surge, em 1985, o Jornal de
Montemor (I Série), propriedade e direção de Santiago Pinto, passando mais
tarde, em II Série, a ser propriedade da Radio Beira Litoral, CRL, com sede em
Arazede, e sendo seu diretor Aldo Aveiro, de setembro de 1996 a 1999, quando
terminou.
Em 1989, surge O Montemorense, sob a direção de Olímpio Fernandes, do qual
apenas conhecemos o primeiro número.
Editado pela Liga dos Amigos dos Campos do Mondego, na Carapinheira, inicia a
sua publicação e distribuição gratuita, em 1993, o periódico bimestral Ecos do
Mondego, sendo seu fundador e primeiro diretor Aldo Aveiro, e cujo editorial
indica que é um órgão de informação e defesa do ambiente e do património.
Propriedade da Associação Fernão Mendes Pinto, de Montemor-o-Velho, o jornal
Baixo Mondego e Gândaras teve início com o diretor José Cardoso, em fevereiro
de 2002 e terminou em novembro de 2005.
Terras de Montemor foi uma publicação que surgiu em maio de 2002, com
propriedade e direção de Olímpio Fernandes, terminando um ano depois.
De cariz religioso e cultural, publica-se o mensário Comunidades a Caminho desde
1999, com sede na vila de Verride, sendo seu diretor o padre António Domingues,
“propriedade” das comunidades paroquiais confiadas aos presbíteros do Instituto
do Preciosíssimo Sangue, sendo pioneiras desta publicação as comunidades de
Abrunheira, Ereira, Reveles, Verride e Vila Nova da Barca, incorporando-se, mais
tarde, as paróquias de Carapinheira, Montemor-o-Velho e Samuel, terminando
em 2015.
A 3 de outubro de 2012, surge nas bancas o Jornal de Montemor, terceiro no
título, com sede em Formoselha, propriedade de O Pulso da Notícia, Unipessoal
Lda e dirigido por Ana Maria Coelho, que hoje está sem publicação.
2. Um jornal quinzenário ou mensário pode sobreviver na sua gestão sem o
apoio do pode local?
…Um jornal local, quinzenário ou mensal, é difícil sobreviver…. Para isso, teria
de ganhar um número significativo de assinantes e publicidade e, claro, o apoio
do poder local… Os tempos atuais não são propícios, em qualquer destas
dimensões…
3. São publicáveis jornais em Montemor, sem o apoio do Poder local?
8
…Na minha modesta opinião, não é possível. Para publicar um jornal é preciso
apoio do poder local. E hoje, “quem” está disposto a apoiar a publicação de um
sem jornal, sem interesse político-partidário?...
4. Como analisa o tecido comercial face ao apoio dos jornais?
… O tecido comercial está muito debilitado economicamente. Não tem
capacidade financeira. Também não tenho a perceção de qualquer
sensibilidade ou “entusiasmo bairrista” para apoiar a publicação de jornais.
5. Em 2020 foram mortos 50 jornalistas. Comente?
…Foram “autênticos mártires” que defendiam a liberdade de expressão, a
liberdade de religião, a liberdade de opinião, a liberdade de informar….
6. Acredita na independência dos jornais?
…Difícil resposta…A nível internacional surgem veículos de informação
completamente “aparelhados” com sistemas políticos vigentes ou em vias de
usurpação de poderes…A nível nacional, ainda prevalece uma maioria de jornais
éticos, responsáveis, isentos, havendo também os que professam o
sensacionalismo…Os regionais e locais, com muitas dificuldades económicas,
limitam-se a noticiar “o que, “gratuitamente” lhes enviam para as redações (…).
Há pouco jornalismo “presencial”, com possibilidade de contraditório, isto é,
abrangente, e muito menos “investigativo”.
Portugal, 03 de Maio de 2021

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Liberdade de imprensa

  • 1. LIBERDADE DE IMPRENSA 03/05/2021 MIRAGEM Da autoria de: Olímpio Fernandes e de Luiz Pessoa
  • 2. 2 Liberdade de Imprensa O lápis azul dos tempos modernos. “Para marcar Dia Mundial da Liberdade de Imprensa convidamos o Jornalista Aldo de Aveiro a dar-nos o seu ponto de vista.” Hoje, agradecemos aos media por fornecerem factos e análises; por responsabilizarem os líderes – em todos os setores; e por dizerem a verdade ao poder. Reconhecemos particularmente aqueles que estão a desempenhar um papel que salva- vidas ao informar sobre saúde pública. E apelamos aos governos para que protejam os trabalhadores dos media e que fortaleçam e mantenham a liberdade de imprensa, que é essencial para um futuro de paz, justiça e direitos humanos para todos.
  • 3. 3 Introdução A invenção da imprensa constituiu um divisor de águas para os debates sobre liberdade de expressão. Não bastava mais garantir o direito de cada indivíduo procurar, difundir ou receber informações, livremente, na interação com os demais indivíduos. Era preciso ir além, garantindo esse direito na relação com um intermediário que potencializava radicalmente o alcance de opiniões, informações e ideias: os meios de comunicação de massa ® ® MENDEL, Toby; SALOMON, Eve. O ambiente regulatório para a radiodifusão: uma pesquisa de melhores práticas para os atores-chave brasileiros. Série Debates CI, UNESCO, 2011., p. 5. Aldo Aveiro jornalista com Carteira Profissional desde 1998, tem um percurso ao longo da sua “vida de jornalista” na qualidade de colaborador da imprensa regional em diversos jornais do Distrito de Coimbra, tendo sido diretor de um desses órgãos de informação . Aldo Aveiro (AA) Olímpio Fernandes (OF) Luiz Pessoa (LP)
  • 4. 4 (LP) 1. Onde e quando iniciou a sua carreira? …AA – Ainda estudante liceal em Coimbra, comecei a escrever apontamentos para a imprensa nos finais 1973, como “correspondente”: Gazeta de Coimbra, Diário Popular, O Primeiro de Janeiro, A Bola…Em 1984 fui convidado a escrever, como colaborador, para o Diário de Coimbra; O Figueirense; Entre Rios (Alfarelos) onde fui Diretor-Adjunto; Jornal de Montemor-II Série (Diretor); Expresso do Centro (Diretor Concelhio em Montemor-o-Velho); fundador e 1.º diretor do Ecos do Mondego (Lacam); Correio da Figueira; Folha do Mondego (onde iniciei o Estágio Profissional); Correio de Coimbra (onde terminei o Estágio Profissional; atualmente também escrevo para o Notícias da Sua Terra (Louriçal), onde já fui orientador de um Estágio Profissional, cuja jornalista obteve a Carteira Profissional, com excelente aproveitamento. (…) 2. Não existindo o chamado (Lápis Azul) do Estado Novo, há rumores que haja uma grande influência dos partidos no poder de tentar controlar a imprensa a seu belo prazer, é assim mesmo? … Os “partidos” poderão, eventualmente, exercer a sua pressão junto dos grande mídia!...Na imprensa regional ou local, apesar de poder existir essa pressão, penso que “uma possível falta de isenção” se pode traduzir na falta de recursos humanos por escassez de recursos económicos. Ou seja, os jornais não têm capacidade financeira para custear os profissionais de informação…e assim, não têm jornalistas suficientes para a cobertura dos diferentes eventos na sua área de intervenção… Daí, “tacitamente”…aceitarem “as notícias” enviadas pelos Gabinetes de Comunicação Social… Assim, o que sai na imprensa (ressalvando honrosas exceções) não é mais do que essas entidades enviam para as redações…sem direito ao contraditório…e quando é possível fazer o contraditório já vem tarde…sendo entendido como uma retaliação… Uma notícia sobre um evento em que há plena apreciação e discussão tem de ser veiculada como resumo verídico do que se passou e não apenas o que uma das partes quer e veicula para os jornais…Aqui reina a “conveniência”: quer da parte que envia a notícia quer dos jornais que não têm custos para disseminar a notícia…. 3. Passou por um Jornal, que atualmente não está a ser publicado. Falo do Jornal de Montemor (fundado por Santiago Pinto e cuja propriedade vendeu, mais
  • 5. 5 tarde, à então Rádio Beira Litoral) do qual foi diretor. Como foi essa experiência no que diz respeito à liberdade de imprensa, sempre escreveu pela sua pena ou tentaram orientá-lo? …Colaborei com o Santiago Pinto (I Série do Jornal de Montemor) e fui diretor da II Série, quando propriedade da Radio Beira Litoral, onde também era diretor. Em 2012 surgiu um “novo” Jornal de Montemor (foi a III Série), que a princípio pareceu “independente”, mas, julgo, que por falta de poder económico (publicidade, venda de jornais) acabou por interromper a publicação. O poder local, julga-se, também não se interessou, pois tinha outros veículos de comunicação mais abrangentes…. À época que eu dirigi o Jornal de Montemor, se havia pressões, não me senti afrontado, sempre escrevendo com liberdade de expressão. 4. Um dos problemas que hoje as pessoas que se querem manter informadas têm é as notícias contraditórias e algumas falsas que são veiculadas pelos meios de comunicação. Que conselhos dá aos seus leitores para distinguir a verdade da falsidade. …Apenas se distingue quando há contraditório, ou seja, quando a notícia é transversal às diferentes opiniões que lhe deram origem. (OF) 1. Os primeiros e os últimos jornais em Montemor, quais os títulos? Que freguesias tiveram ou têm jornais? A Comunicação Social escrita, no concelho de Montemor-o-Velho, segundo documentos que conseguimos coligir, remonta ao final do séc. XIX e primórdios do séc. XX. Embora o analfabetismo, de acordo com dados estatísticos da época, atingisse significativa parte da população, a leitura de jornais, folhetos e outras publicações proporcionava uma pertinente divulgação cultural, cívica, política e social. Embora podendo cometer qualquer imprecisão, deixamos aqui alguns elementos sobre a imprensa que se publicou no concelho de Montemor-o-Velho ou a ele referente. A Crença Popular - semanário político, noticioso e recreativo - iniciou a sua publicação a 19 de outubro de 1890, terminando a 22 de março de 1891, com o número 23, sendo a sua propriedade e edição de J. Pires Ferreira Júnior.
  • 6. 6 Editado por Alfredo Barjona, o Boletim do Sindicato Agrícola de Montemor-o- Velho, impresso em Lisboa, parece ser a segunda publicação do concelho, distribuída aos sócios da instituição, no ano de 1896. No 1.º dia de janeiro de 1903, surge o Correio de Montemor, em conjunto com a Correspondência da Figueira, como semanário independente, sendo seu editor Adriano Crispim de Carvalho, terminando com o n.º 196, a 11 de Outubro de 1906. Dirigido por Humberto de Carvalho até ao n.º 13 e depois por Jerónimo de Carvalho, apareceu na vila de Pereira, a 14 de janeiro de 1912, A União, órgão do partido republicano português, sendo extinto com o n.º 16, em 11 de agosto de 1912. Propondo-se defender a verdade e educar o povo na consciência dos seus deveres sociais, iniciou a sua publicação a 25 de Fevereiro de 1912, em Arazede, O Dever, semanário que, dirigido sucessivamente por Manuel de Melo e José de Almeida Júnior, mudou a sua redação para a vila de Montemor-o-Velho, onde terminou em 28 de maio de 1917. Filiado no partido democrático, surgiu o semanário A Verdade, a 17 de outubro de 1913, na vila de Pereira, dirigido por Jerónimo de Carvalho, vindo a terminar com o n.º 18, em 15 de maio de 1914. O À Rasca, quinzenário humorístico, recreativo, literário, noticioso e sportivo, dirigido e editado por Calixto A. Ferreira, publicou 14 números em 1916. Em 1919, é publicado A Portuguesa, semanário republicano, com direção de Agostinho José Ferreira Ramos de Carvalho e Jaime Lopes Brejo e edição de António Grão, conhecendo-se 13 números. O n.º 1 do Boletim do Sindicato Agrícola de Abrunheira publicou-se em março de 1922, com direção de António Teles de Meneses. Em Formoselha, o periódico quinzenal Mocidade nasceu em 22 de setembro de 1929 e terminou com o n.º 47, em 27 de setembro de 1931, sendo seu diretor João Amaro Júnior. Em maio de 1935, em Arazede, surge um único número, com o título do anterior periódico O Dever, do qual foi diretor José de Almeida Júnior e redatores António Ismael da Cruz, Soveral da Rocha, Cruz Gonçalves e Humberto Beirão. Vida Regional é o título do semanário regionalista (passando, mais tarde, a quinzenário) que iniciou a sua publicação em Arazede, a 15 de abril de 1946, como defensor dos interesses do concelho de Montemor-o-Velho, dirigido por César Vieira de Matos, sendo seu redator principal Joaquim Soveral da Rocha Júnior.
  • 7. 7 Após significativo interregno na publicação de jornais, surge, em 1985, o Jornal de Montemor (I Série), propriedade e direção de Santiago Pinto, passando mais tarde, em II Série, a ser propriedade da Radio Beira Litoral, CRL, com sede em Arazede, e sendo seu diretor Aldo Aveiro, de setembro de 1996 a 1999, quando terminou. Em 1989, surge O Montemorense, sob a direção de Olímpio Fernandes, do qual apenas conhecemos o primeiro número. Editado pela Liga dos Amigos dos Campos do Mondego, na Carapinheira, inicia a sua publicação e distribuição gratuita, em 1993, o periódico bimestral Ecos do Mondego, sendo seu fundador e primeiro diretor Aldo Aveiro, e cujo editorial indica que é um órgão de informação e defesa do ambiente e do património. Propriedade da Associação Fernão Mendes Pinto, de Montemor-o-Velho, o jornal Baixo Mondego e Gândaras teve início com o diretor José Cardoso, em fevereiro de 2002 e terminou em novembro de 2005. Terras de Montemor foi uma publicação que surgiu em maio de 2002, com propriedade e direção de Olímpio Fernandes, terminando um ano depois. De cariz religioso e cultural, publica-se o mensário Comunidades a Caminho desde 1999, com sede na vila de Verride, sendo seu diretor o padre António Domingues, “propriedade” das comunidades paroquiais confiadas aos presbíteros do Instituto do Preciosíssimo Sangue, sendo pioneiras desta publicação as comunidades de Abrunheira, Ereira, Reveles, Verride e Vila Nova da Barca, incorporando-se, mais tarde, as paróquias de Carapinheira, Montemor-o-Velho e Samuel, terminando em 2015. A 3 de outubro de 2012, surge nas bancas o Jornal de Montemor, terceiro no título, com sede em Formoselha, propriedade de O Pulso da Notícia, Unipessoal Lda e dirigido por Ana Maria Coelho, que hoje está sem publicação. 2. Um jornal quinzenário ou mensário pode sobreviver na sua gestão sem o apoio do pode local? …Um jornal local, quinzenário ou mensal, é difícil sobreviver…. Para isso, teria de ganhar um número significativo de assinantes e publicidade e, claro, o apoio do poder local… Os tempos atuais não são propícios, em qualquer destas dimensões… 3. São publicáveis jornais em Montemor, sem o apoio do Poder local?
  • 8. 8 …Na minha modesta opinião, não é possível. Para publicar um jornal é preciso apoio do poder local. E hoje, “quem” está disposto a apoiar a publicação de um sem jornal, sem interesse político-partidário?... 4. Como analisa o tecido comercial face ao apoio dos jornais? … O tecido comercial está muito debilitado economicamente. Não tem capacidade financeira. Também não tenho a perceção de qualquer sensibilidade ou “entusiasmo bairrista” para apoiar a publicação de jornais. 5. Em 2020 foram mortos 50 jornalistas. Comente? …Foram “autênticos mártires” que defendiam a liberdade de expressão, a liberdade de religião, a liberdade de opinião, a liberdade de informar…. 6. Acredita na independência dos jornais? …Difícil resposta…A nível internacional surgem veículos de informação completamente “aparelhados” com sistemas políticos vigentes ou em vias de usurpação de poderes…A nível nacional, ainda prevalece uma maioria de jornais éticos, responsáveis, isentos, havendo também os que professam o sensacionalismo…Os regionais e locais, com muitas dificuldades económicas, limitam-se a noticiar “o que, “gratuitamente” lhes enviam para as redações (…). Há pouco jornalismo “presencial”, com possibilidade de contraditório, isto é, abrangente, e muito menos “investigativo”. Portugal, 03 de Maio de 2021